All language subtitles for Daughter of the Lake (2015)

A �gua � o sangue da Terra.

Sem o seu sangue,
a Terra n�o teria vida...

... e nenhum ser vivo
conseguiria viver na Terra.

E eu pergunto-me e digo:
�Quando destroem as lagoas...

... onde v�o viver os donos das lagoas?�

N�o as pessoas...

... mas os seus esp�ritos.

Porque eles est�o ali a cuidar de ti,
M�e �gua.

E n�o pedem nada.

N�o nos pedem nada.

N�o nos dizem:
�Ouve, quero que cuides de mim.�

Simplesmente, est�o ali.

E se as destru�rem, onde ir�o eles viver?

N�o sei.

CAJAMARCA
ANDES, PERU

Sim, amiga, s�o trutas,

h� patos, quilinas.

O que � uma quilina?

A quilina � uma pequena ave branca.

Quando percebe que a �gua est� baixa,
voa e pia muito alto.

A quilina?

Sim, e quando a lagoa est� normal...

... n�o a deixa.

Fica dia e noite nas lagoas.

Sim.

Os patos tamb�m.

Quando n�o h� �gua,
v�o procur�-la, saem a voar.

Partem em busca de �gua.

Ca�am patos aqui?

Sim, apanhamo-los com fisgas.

- Para comer?
- Sim, para comer.

J� n�o temos muitas batatas destas,
em Porc�n.

Plantamos essencialmente as amarelas
e as de cor de azeitona.

Ainda temos esta batata aqui.

T�m a semente?

Sim.

Est� muito bom, Sra. M�xima.

Pastora!

Pastora!

Meu Deus.

Ali v�m eles.

Sra. M�xima, pode falar-me um pouco
do problema que est�o a passar aqui?

A mineira n�o me deixa viver em paz.

Dizem que h� ouro no meu terreno.

Aqui est�o todos os documentos.

Est� a� tudo.

N�o sei porque a autoridade n�o me ouve,

quando os mostro.

- � uma c�pia do certificado?
- Sim.

Est� legalizado.

�Certificado de Posse,
Comunidade Ind�gena de Sorochuco.

Sr. Jaime Chaupe Lozano

e Maximina Acu�a Atalaya,

inscrito no padr�o geral da comunidade,
sob o n�mero 143171,

t�m em sua posse a parcela de terreno
p�blico conhecida por Tragadero Grande.�

- Chama-se Tragadero Grande?
- Sim, Tragadero Grande, Las Posadas.

�Localizada no setor denominado:
zona de Chugurmayo.�

Eles aproveitam-se do facto
de eu n�o saber ler nem escrever.

Sra. M�xima.

N�o o podem tirar assim t�o facilmente...

... porque causam danos,
ao tirar-lhe o terreno.

Se n�o o vendeu, ainda � a propriet�ria.

� a ambi��o pelo ouro que os faz
querer tirar-me a terra � for�a.

Guarde os documentos,
especialmente os originais.

A Yanacocha n�o o pode tirar
para este projeto Conga.

Voc� � a dona do terreno.

TOTORAL
ANDES, BOL�VIA

Havia aqui uma refinaria
que processava os min�rios.

Deixaram todos os desperd�cios,
assim, ao ar livre.

Tudo o que deixaram aqui
� levantado pelo vento

e contamina-nos a terra.

Tudo o que nos resta s�o os s�tios
sem estanho. A�, n�o mexeram.

Antigamente, consegu�amos colher
batatas deste tamanho.

Era as que t�nhamos.
Consegu�amos t�-las deste tamanho.

Agora, j� n�o.

J� n�o s�o assim. S�o pequeninas.

Totoral era o �Rei do Estanho�.

Aqui em baixo,
cresciam totoras muito grandes.

� por isso que se chama Totoral.

Ningu�m pensou
que deixariam a terra assim.

� um desastre.

Nada.

Ajuda-me com a �gua
e eu ajudo-te com o guano.

Est� bem.

Esta � a �nica fonte de �gua
que nos abastece.

Por isso, levamo-la para beber, cozinhar,

para consumo di�rio e nada mais.

Quando era pequena, assomei-me a um po�o.

Bebi um pouco da sua �gua.

Depois fiquei muito doente.

Chamaram a senhora curandeira.

Quando ela chegou, disse: �Est� com susto.

O que estava ela a ver?
O po�o deve ter-lhe ficado com a alma.�

M�e �gua...

... temos sempre de te levar uma fruta,

mel ou um pouco de a��car.

Porque gostas, M�e �gua.

Porque sen�o, depois...

... roubas-nos as almas

at� te pagarmos.

CAJAMARCA
ANDES, PERU

N�o me acostumo...

... aos carros, � az�fama.

� duro, estar aqui.

M�e �gua...

... porqu� tanta injusti�a contra ti?

N�o compreender�o que �s um ser vivo?

Quando me disseram que me iam apoiar,
duvidei.

Foi-me dif�cil decidir.

Est� aqui. Emprestas-me isso, Daisy?

H� cinco anos que estudo Direito.

- Aqui, Daisy.
- Onde o encontraste?

N�o tem sido f�cil.

Mas assim, um dia,
havemos de fazer justi�a.

ORURO
ANDES, BOL�VIA

Liga a luz.

Cuidado. N�o caias.

Os homens n�o nos queriam nas minas.

As mulheres tiveram de insistir.

Dizem: �As mulheres n�o podem entrar,
ou os min�rios desaparecem.�

Mas n�o desapareceram.

Tamb�m h� algumas sinaliza��es.

Um ref�gio.

Pass�mos por qualquer coisa.

Estamos a falar de...

� um ref�gio.

Esta mulher vai subir para dizer ao filho
que demorar� mais um pouco.

Ela trabalha aqui, a companheira.

A companheira.

Ela s� lhes vai dizer
que vamos demorar mais um pouco.

- Ela volta a descer.
- Ela volta.

Isto � o El T�o.

A primeira coisa que fazemos
� pedir ao El T�o que nos proteja,

que nos proteja de acidentes.

Tamb�m lhe pedimos mineral,
que apare�a o fil�o,

para que o possamos recolher
e ganhar algum dinheiro.

Essa � a primeira coisa.

Depois damos-lhe uma oferenda,
uma oferenda ao El T�o.

Sacrificamos os nossos filhos,
a nossa fam�lia.

Deixamo-los sozinhos, por necessidade.

Ningu�m est� aqui porque gosta,

mas pela necessidade
que cada uma de n�s tem.

Mais que tudo, por um bem-estar
e uma vida modesta para os nossos filhos.

Sempre disse aos meus filhos

que queria que estudassem para n�o
acabarem como eu, a esgaravatar a terra.

Trouxe-os aqui e eles perceberam
que o trabalho aqui � duro.

Trabalho aqui pela fam�lia.

Sou pai e m�e, em casa,
o meu marido � doente.

H� dez anos, o meu marido trabalhou
para a mineira San Jose.

Tamb�m quero que os meus filhos
tenham uma vida melhor.

Somos umas sacrificadas aqui dentro.

Ainda assim, fomo-nos habituando.

Aqui na cooperativa, quem trabalha ganha.

Quem trabalha come.

� assim que funciona.

Isto � min�rio puro. Pesa muito.

Exatamente.

Parece sa�do de
Sonho de uma Noite de Ver�o. Irreal.

- Acha?
- Sim, muito.

Este tem um pequeno ninho
com pequenos ovos de p�rolas.

� lindo. � maravilhoso com o morganite.

- E tem um pequeno p�ssaro.
- Sim.

- Puxa-se isto.
- E abre.

- Abre-se assim.
- Ena.

� uma mulher a segurar numa pedra. Lindo.

Tem aqui um pequeno esquilo.

Deixe-me ver.

- Tem um pouco de...
- � mesmo bonito.

A mulher que segura o anel,
a pedra. Lindo.

- Maravilhoso.
- E isto �...

� incr�vel.

- Simplesmente, incr�vel.
- Pois �.

E aqui temos...

... um caracol que deixa
um rasto de pequenos diamantes.

AMESTERD�O
HOLANDA

Para mim,
uma joia � algo que tem de ser precioso

porque isso � uma joia,
� essa a defini��o de joia.

E tamb�m porque � algo
que deve sobreviver ao tempo.

Isto � algo muito relacionado
com cerim�nias.

Quando nos casamos, quando temos um beb�,

quando algo especial acontece,
o ouro � uma forma direta de simboliz�-lo.

Tenho de esperar que estabilize.

Tem algo m�gico.

Creio que tamb�m tem...
� tamb�m como uma promessa.

Promete algo
relacionado com momentos bonitos.

Tentei canalizar isso na minha cria��o.

� uma maneira de realmente
transpor a energia

e as ideias que tenho em algo f�sico

e isso � algo
que queremos que seja partilhado.

Gosto de usar materiais invulgares,
vindos diretamente da natureza.

J� fiz desfiles em que usei muitas penas

e aves taxid�rmicas, conchas... pedras.

At� mesmo os espinhos de um ouri�o.

Portanto, a natureza � sempre algo
que me d� uma grande inspira��o.

CAJAMARCA
ANDES, PERU

Vim � festa. Como est�?

J� n�o vives aqui?

Vivo. Quem disse isso?

Chegaste naquele autocarro. Como est�s?

Estou bem. E voc�?

Como est� a festa? J� come�ou?

N�o o trouxe, certamente.

N�o, olha, tens de ver para tr�s.

Que lagoa � essa?

� a Azul.

Temos em linha
a Sra. M�xima Acu�a de Chaupe.

Parece que ela sofreu uma agress�o,

das pol�cias especiais
ou dos seguran�as da mina.

A Sra. M�xima contar�.
Boa tarde, estamos a ouvi-la.

�s 10h30, ligaram para o meu telem�vel

e mandaram-me sair da minha terra
ou matavam-me.

J� est�vamos cercados pelos bandidos
que a empresa mineira mandara.

Felizmente,
o meu genro e a minha filha estavam c�.

O que teria feito, se estivesse sozinha?

Que origem teve e como aconteceu isto?

Entraram no meu terreno
com as metralhadoras, bem armados,

depois de me ligarem
a dizer que me iam matar.

Estamos a denunciar isto agora
para garantirmos a nossa seguran�a aqui.

Eles continuam a n�o nos deixar em paz.

Obrigada, Sra. M�xima.

Esperamos que a situa��o se acalme,
de uma vez por todas,

e que n�o voltem a cometer
esse tipo de abusos e de agress�es.

Padre Marco, h� alguns dias, tive medo.

Quando est�vamos no cimo de Conga,
apareceu a pol�cia.

E n�o consigo parar de imaginar,
n�o sei...

... o que vai acontecer
comigo e com a minha fam�lia?

O medo � eficaz,
quando ataca os nossos pontos fracos.

O teu ponto fraco n�o �s tu.

O teu ponto fraco s�o as pessoas que amas.

O medo � algo que nos d� uma dimens�o
de fragilidade e de advert�ncia.

Como um rio, por exemplo.

Se o vires muito cheio, ficas assustada.
Ele pode levar-te.

Por isso,
algo essencial para vencer o medo

� n�o pensar apenas
no que nos acontece no momento...

... e pensar no que aconteceria

se deixasses de fazer o que � justo.

Se deixasses de defender a vida e a �gua.

N�o seria pior?

Claro.

Sim, tem raz�o.

Quando estava em Conga, nas lagoas,

pedi-lhes que me ajudassem
a acabar os meus estudos.

Para que, um dia, eu possa ser...

... uma advogada que os defenda.

� o que estou a pedir agora.

LIMA, PERU

M�e �gua, sabes uma coisa?

H� tantas pessoas.

S�o como formigas, aqui na cidade de Lima.

Tantas casas...

... tantos carros.

Assustam-me.

Onde v�o buscar a comida?

Aqui s� h� cimento.

Estamos com o Juan, o Mart�n,
o Santos e o Padre Marco.

Hoje, march�mos mais de mil quil�metros
sobre esta terra...

... das Lagoas de Conga at� aqui.

Iremos todos juntos
caminhar em tua defesa.

Viva a Marcha Nacional pela �gua!

OLLANTA TRAIDOR
CONGA N�O AVAN�A!

CONGA N�O AVAN�A

�GUA SIM! OURO N�O!

A �gua tem de ser defendida!
A �gua n�o est� � venda!

A �gua � do povo
e n�o das empresas mineiras!

A �gua � do povo
e n�o das empresas mineiras!

A �gua � um tesouro
que vale mais que ouro!

O meu sangue e a minha vida
darei pela �gua!

A �gua � do povo
e n�o das empresas mineiras!

A MINA CONTAMINA

MINA = MORTE

E falhar�,

o projeto Conga falhar�!

RESIST�NCIA

Aqui estamos,
os que nunca deixam de lutar!

O povo est� a lutar!

Basta de minas transnacionais!

Produ��o nacional!

Ollanta e Garc�a, a mesma porcaria!

REFERENDO J�!

CONGA N�O AVAN�A

A Frente de Defesa da Regi�o de Cajamarca!

PROJETO CONGA

CONGA � A TUA M�E

CONGA � A TUA M�E

Conga n�o avan�a!

Fa�am-se ouvir...

... at� Conga...

... por todo o pa�s!

Aplaudam com for�a!

Pe�o aos companheiros aqui no palco que,
por favor, sejam breves.

Todos querem subir ao palco,
todos querem manifestar-se,

todos querem falar.

Quero dizer ao Presidente da Rep�blica...

... que, na nossa Pra�a de Armas,
em Bambamarca,

ele comprometeu-se a defender a �gua.

E n�o queremos mais Congas pelo Peru,
companheiros.

N�o queremos.

Estamos aqui a lutar pela �gua, pela vida,

e ningu�m nos vai tirar isso. Ningu�m.

As decis�es n�o podem ser tomadas
atr�s de uma secret�ria.

As decis�es t�m de ser tomadas
pelos povos, organizados,

nos s�tios que s�o afetados,
de onde n�s viemos.

Porque o povo, organizado, provou hoje

que sentiu a dor da M�e Terra,

da M�e �gua e dos Apus Sagrados,

e quer parar a sua destrui��o.

Muito obrigada.

MADRE DE DIOS
AMAZ�NIA, PERU

Com peneira? Ouro?

Sim. Tamb�m o tiramos aqui.

Vamos l� abaixo ver como o tiram.

Tiramo-lo de...

De ali.

Para qu� tantas cervejas, senhor?

Para beberem.

Para que trabalhem.

Sem cervejas, n�o fazem nada.

Depois de florestas e rios intermin�veis,

cheg�mos a uma esp�cie de bairro de lata
chamado Delta Uno.

HOSPEDARIA - TR�S ESTRELAS

HOSTEL

� como o Faroeste.

Est� cheia de bord�is e discotecas.

N�o sei. Acho que eles s� mineram,
fazem sexo e bebem.

At� h� uns anos,

n�o sabia exatamente...
Claro que sabia como mineravam ouro,

mas n�o sabia em que circunst�ncias.

Este � o produto de 24 horas de trabalho.
Quinze gramas.

Cinco ou seis pessoas
a trabalhar sem parar.

� t�o grande.

Nunca vi uma explora��o deste tamanho.

S�o quil�metros e quil�metros
de destrui��o.

� tanta terra.

� como se fossem pequenos pa�ses...

... que est�o a ser cortados.

Vamos.

- Podemos passar por aqui?
- N�o.

A joalharia tem um grande valor emocional.

� dar algo
pelo casamento ou pelo nascimento,

que � uma liga��o para toda a vida,

um s�mbolo para a vida.

De certa forma, todos temos sangue

nos nossos dedos, nos pulsos e no pesco�o.

CAJAMARCA
ANDES, PERU

Mam�, sabes de que sinto falta,
quando estou na cidade?

Sinto falta da terra,
do canto dos p�ssaros.

Sinto falta dos meus animais.

A vida na cidade n�o � boa.

Vamos para a rua e s� vemos carros.

S� se v� cimento.

Aqui, h� as �rvores,
os campos e voc�s, a minha fam�lia.

Aquela gente � muito indelicada.

N�o sabem dar valor a uma pessoa do campo.

�s vezes, sinto-me triste.

Quero tanto regressar.
Espero acabar os meus estudos para voltar.

Sinto falta dos campos, de colher batatas,

da planta��o, dos animais.

Shirley, n�o toques, n�o mexas.

Est� a cair.

Pap�, o que se passou na mina?

Estava a trabalhar e chamaram-me...

... para Cajamarca.

Disseram que n�o h� trabalho para mim,
que o meu contrato acabou.

Que fomos �s manifesta��es
e n�o h� trabalho para mim.

Que n�o devo fazer isso.

E que te mandei estudar.

Enfureceu-me, n�o era verdade.

Achas que foi por minha culpa?

Ou por outra coisa?

N�o, por tua culpa, foi o que me disseram.

Que foste �s manifesta��es, para Lima.

E acreditaste neles?

Sim.

TOTORAL
ANDES, BOL�VIA

Amanh� n�o h� �gua.
Temos de aproveitar agora.

- Est� fria ou quente?
- Quente.

Quando temos �gua, aproveitamo-la.

Tem de durar uma semana, at� termos mais.

N�o h� �gua em lado nenhum.

Os po�os n�o t�m sempre �gua.

A fonte j� n�o d� nada, � s� decorativa.

Ter�amos batatas secas, este ano, mas...

... as nossas terras
j� n�o d�o como antes.

Esta batata seca que vamos comer
estava guardada h� cinco anos.

Estamos a acabar o que temos guardado.

Despacha-te, Andrea.

O calor deu-te pregui�a.

Tr�s carros, tr�s que subiam,

mas agora s�o s� dois,

porque com o lago...

Todas as pessoas daqui v�o desaparecendo.

Imagine-se.

Com bombas e tecnologias
que n�o compreendemos

est�o a usar a �gua toda.

Que havemos de fazer?

O que ser� das nossas terras?

Est�o a matar-nos de fome
e a levar-nos a �gua.

M�e �gua...

... nas tuas entranhas, guardas ouro.

Sabes por que te tiram o ouro?

Para o guardar outra vez nos bancos.

O ouro n�o se bebe. O ouro n�o se come.

Pelo ouro, derrama-se sangue.

Se o ouro � assim t�o �til
aos grandes e poderosos...

... eles que o tirem
das reservas dos bancos e o utilizem.

Mas que te deixem em paz.

Se te cuid�ssemos bem,
alimentavas-nos para sempre.

LAGOAS DE CONGA
ANDES, PERU

Pronto, podes ir.

- Eu levo-a.
- A tampa.

Leva-o tu.

H� tr�s dias consecutivos que duram
as manifesta��es em Cajamarca.

O Presidente Ollanta Humala
falar� brevemente � na��o.

Sra. M�xima, vim visit�-la.

Que simp�tica, obrigada.

No outro dia, eu e a minha amiga Lourdes
apanh�mos 14 trutas.

De que cor, laranja ou brancas?

Brancas, com riscas pretas.

- Trutas deliciosas.
- Sim.

Aqui tamb�m h� trutas?

Sim, na grande lagoa,
mas s�o dif�ceis de apanhar.

Temos de usar anzol ou rede...

... ou n�o as apanhamos.

� muito profunda?

Sim, � profunda.

E se a escoarem?

Se a escoarem,
tiram a m�e que produz a �gua

e ela seca.

� isso que as empresas mineiras fazem.

L� est� aquela carrinha. Olha ali.

- � a mesma?
- N�o, � outra.

V�m � vez.

Sim, v�m � vez.

V�m � vez.

Se as lagoas tivessem fome...

Se tiver de ser.

Quanto � que d�o por ela?

O que d�o? A��car?

Caso contr�rio,
a lagoa n�o os deixa saquear facilmente.

Dizem que a lagoa El Perol
tentou engolir uma camioneta.

Conseguiram tir�-la e disseram
que era ele que n�o sabia conduzir.

Vamos.

Vamos preparar o nosso almo�o.

Com prazer.

J� � uma hora.

� preocupante.

Quando vem esta neblina, come�a a chover.

O governo tem a obriga��o

de garantir a vida e a tranquilidade
do povo...

... e fazer respeitar a liberdade,

salvaguardando
a propriedade p�blica e privada.

Atualmente, n�o existem

condi��es para que estas garantias
sejam respeitadas em Cajamarca.

Declaro estado de emerg�ncia

na regi�o de Cajamarca,
por um per�odo de 60 dias.

Pedimos � popula��o de Cajamarca
que mantenha a calma.

Asseguramos que esta medida tempor�ria

servir� para permitir que a paz
regresse novamente a Cajamarca.

As pessoas que est�o a passar...

N�o me bata!

N�o me bata!

Maldito assassino!

Sim, est�o a atacar o Padre Marco Arana.

Padre!

Deixem-me em paz!

N�o me batam. Cobardes.

N�o me batam.

Porque � que me est�o a bater?

Afaste-se!

Afaste-se!

Abusadores!

Venha c�!

Passe.

Porque � que nos tratam assim?

Porque voc�s s�o uns c�es!

M�e �gua...

... morreram cinco pessoas
para te defender...

... para te salvar da destrui��o
que te querem fazer.

Paulino Eleuterio Garc�a Rojas,

Joselito V�squez Jambo.

C�sar Medina Aguilar.

Antonio Joselito S�nchez Huaman,

Jos� Faustino Silva Ch�vez.

AMESTERD�O, HOLANDA

Estou?

Sim, ol�. � holand�s, parece-me. Ou n�o?

Sim, podemos falar holand�s.

Quando temos filhos, pensamos

no legado que deixamos,

no mundo que criamos
ou no mundo em que vivemos.

Porque este � o s�tio que lhes deixamos.

P�e isso no carrinho.

Deixa-me...

� importante
n�o ser hip�crita no que fa�o...

... no que estou a fazer.

Por isso, quero ser muito clara
quanto ao modo como trabalho agora.

Tamb�m � um longo processo para mim.

Tenho algumas cole��es
que fazemos apenas com ouro sustent�vel.

Tivemos de compr�-lo a tr�s comerciantes,

de Inglaterra, da Col�mbia e do Peru.

Ainda � muito dif�cil
utilizar apenas ouro bom.

N�o � poss�vel, por enquanto.

CAJAMARCA
ANDES, PERU

O problema fundamental n�o � n�o ter medo.

O medo humaniza-nos.

A verdade � que...

... o medo lembra-nos
que somos humanos e fracos.

Que somos criaturas.

Sim.

Quantas pessoas,
que ficaram l� em cima nas lagoas,

tentaram eles matar ou receberam amea�as,
como a M�xima?

Mas isto continua.

O que vai acontecer, Padre?

Da nossa parte,
temos de dar o nosso melhor

para n�o haver mais injusti�as
e n�o causarem mais danos.

� o que temos de fazer.

Quanto ao que eles v�o fazer,
n�o sabemos muito bem.

S� sabemos que s�o motivados pelo lucro.

Se te deixas assustar
e se vais fugir e desistir,

ou se lutas ainda mais, � contigo...

... a forma como queres prosseguir
daqui para a frente.

Estou a falar do tipo de mundo
que queres deixar. Melhor ou pior?

� como o velho ditado ind�gena...

�O mundo n�o te pertence,
tu � que pertences ao mundo.�

O que � que queres deixar?

CAJAMARCA
ANDES, PERU

O que est� a acontecer
nas lagoas Conga agora?

Juntos novamente.

Todos n�s, guardi�es da �gua,
subimos para defender as nossas lagoas.

Vamos receb�-los.

Onde est�o os foguetes?

O povo j� sabe que o Conga n�o � vi�vel.

O povo j� sabe que o Conga n�o � vi�vel.

A �gua � do povo,
n�o das empresas mineiras.

A �gua � do povo,
n�o das empresas mineiras.

Batam palmas pela luta, companheiros!

- O Conga anda?
- O Conga n�o avan�a!

- O Conga anda?
- Conga n�o avan�a!

- Nem hoje!
- Nem nunca!

Batam palmas pela luta, companheiros!

Aten��o, venham buscar um pouco de comida.

O que vai fazer o procurador?

Senhores, pe�o-lhes um momento.

A Dra. Sandra Bringas quer inform�-los

do que o advogado
da Mineira Yanacocha nos disse.

Eles dizem ser propriet�rios deste espa�o,
onde est�o a cozinhar e a reunir-se.

O que nos disseram, enquanto procuradores,

� que far�o uso da defesa da posse
porque estas terras s�o deles.

Isto n�o � propriedade da Yanacocha.

� de um dos propriet�rios comunit�rios
desta �rea.

O procurador de Celend�n sabe-o.

Porque � que arquivou as minhas queixas

do que a Pol�cia
e as empresas mineiras fizeram?

Viemos inform�-los, para que...

Ordem, por favor.

N�s, guardas rurais, somos tranquilos.

Oi�am-nos, por favor.

Em nome da Procuradoria,

dado n�o haver certezas
de quem � o propriet�rio,

pedimos-lhes que v�o para um lugar seguro,

em que ningu�m os possa expulsar.

J� que vieram aqui dizer-nos

que a Yanacocha diz que � propriedade
privada e que Pol�cia pode intervir,

digam � Yanacocha para retirar
as cancelas das nossas estradas p�blicas.

N�o viemos como mensageiros de ningu�m.

Estamos a defender a nossa �gua
que eles querem destruir.

A �gua n�o � deles, � nossa.

- Fui claro?
- Sim.

Para concluir, o nosso trabalho
� de preven��o e concilia��o.

MINIST�RIO P�BLICO

Mantemo-nos longe de qualquer influ�ncia
das minas ou da Pol�cia nacional.

Vamos ent�o retirar.

Obrigado pelo vosso tempo.

�gua sim, ouro n�o!

O povo, unido, jamais ser� vencido!

O povo, unido, jamais ser� vencido!

O povo, unido, jamais ser� vencido!

O meu sangue, a minha vida,
tudo pela �gua!

Se a Pol�cia de Conga protege a Yanacocha,

n�o devia ter uniforme.

Estes uniformes � nossa frente,
estas armas,

s�o de todos os peruanos!

H� duas pessoas com bin�culos,
ao lado da carrinha.

Est�o a olhar para aqui.

- N�lida, n�o v�s.
- Vem outro carro da Pol�cia.

N�lida, concord�mos em ficar.
Ningu�m vai fugir.

Se quiseres ficar, fica.

Ningu�m foge.
Fa�am um c�rculo em volta das panelas.

V�o tentar derrub�-las
e entornar a nossa comida.

Est� bem, entendido.

Vamos estar no ar.

Estou? Estamos nas Lagoas Conga,
em frente � Lagoa Azul.

H� um grupo de pol�cias, cerca de 200.

Est�o em forma��o,
com capacetes e prote��es.

Est�o preparados para nos atacar
e nos expulsar.

Por favor, pedimos que divulguem isto.

Eles est�o prontos para atacar
e est�o a chegar mais pol�cias.

Obrigada.

N�o consegui ouvir nada.

M�e �gua, ouve as minhas preces.

Faz a Pol�cia ir embora.

Que os teus rios e os teus ventos...

... lhes levem entendimento.

Que os teus esp�ritos lhes sussurrem
que n�o queremos sangue.

Obrigada por me ouvires.

Obrigada.

M�e �gua, hoje partiram...

... mas eles voltam sempre.

Que havemos de fazer para te proteger?

Para que te deixem em paz?

M�e �gua...

M�e �gua...

Receio pela minha vida.

M�e �gua...

... pe�o-te que me d�s for�a,

que me d�s poder...

... para continuar a defender-te.

DEDICADO �S PESSOAS QUE PERDERAM A VIDA

A DEFENDER A �GUA E A TERRA

Legendas: Ana Ferreira