All language subtitles for Murder at the Cottage S01 E05 - Episode 5.WEBRip.pt

Passou quase um quarto de século

desde que Sophie du Plantier foi
assassinada em Toormore, Cork.

Ian Bailey, o suspeito principal,
nunca foi acusado.

O Procurador do MP
impediu a polícia de o acusar

devido a provas insuficientes.

Em resposta, em 2007,

os franceses lançaram a sua própria
campanha contra Ian Bailey.

Tentaram extraditá-lo com um mandado
de Detenção Europeu, mas falharam.

Agora, será aberto um processo
à revelia contra ele em Paris,

enquanto ele permanece em West Cork.

Chama-se Torre Martello.

Foi construída pelos britânicos para
que os franceses não chegassem cá,

trazendo o Código Napoleónico.

Ian Bailey será julgado
segundo esse código,

que o próprio Napoleão
declarou ser o seu maior feito.

Na Irlanda, desejávamos que tivessem
trazido o código da revolução.

Porque sofríamos sob as leis penais,

leis de apartheid, não contra a raça,
mas contra a religião.

Não foi a primeira vez que ouvimos
falar do Código Napoleónico.

É um conflito muitíssimo
interessante de culturas.

O caso Bailey levou a um confronto
entre dois sistemas legais.

Eu preferia que houvesse um sistema
legal em toda a Europa

a que todos pudéssemos aderir,
mas não é o caso.

Este conflito vai mostrar as
fraquezas e as forças dos sistemas.

PARIS, MAIO DE 2019

Ian Bailey negou
qualquer envolvimento

na morte de Toscan du Plantier
ou mesmo ter confessado a sua culpa.

Ele está a ser julgado à revelia.

Não está a ser representado
por uma equipa legal e não há júri.

O caso será decidido
por três magistrados.

Queremos a verdade.
É a nossa filha

e não lhe demos vida
para a abandonar.

Espero que ele reaja a tudo isto,
que admita o homicídio,

se não dorme de noite,
eu também não durmo.

Ele dorme.

Deve estar assustado
com o julgamento.

Acho que não tem muito medo.

Eu gostava que ele admitisse
que é culpado.

Isso não aliviava a dor,

mas deixar-nos-ia a acreditar
que há justiça no mundo.

Mas como disse, não alivia a dor.

Mas, se for bem feito, conseguiremos
provar que ele é culpado.

Mas já tivemos tantas desilusões.

Estão presos numa posição
em que não podem fazer o luto,

em que não se podem despedir
de Sophie.

Suponho que, ao falar com eles,
havia o horror

do pesadelo contínuo pela forma
brutal como ela morreu.

Há tantos elementos
que conduzem a uma sociedade

que precisa de ser examinada.

Chegam à Polícia,
à equipa forense na Irlanda,

ao coração do sistema

que não teve empatia suficiente
pela família, quando ela morreu.

JULGAMENTO
PRIMEIRO DIA

Pierre Louis Baudey-Vignaud
chega ao tribunal de Paris,

onde o homem acusado de matar
a mãe vai ser julgado à revelia.

Só quero que se faça justiça.

Este julgamento não é apenas
o julgamento da morte da minha mãe,

é também o julgamento da verdade,
porque todos precisamos dela,

todos precisamos disto
para voltarmos a ter paz.

O jornalista e escritor Nick
Foster vai estar em tribunal comigo.

Sabia que escrevia um livro

e ele fala melhor francês do que eu

e queria entender todos
os pequenos detalhes.

Reuniram todo o caso,
toda a lista de acusações,

e durante uma hora e meia foi tudo
lido como um monólogo.

Por agora, deram uma visão
geral de 50 ou 60 declarações,

e foram passando por todas elas.

Não houve interrogatório,
não ganhou vida,

mas dizem que querem lá o Ian Bailey.

Querem que ele seja julgado
e querem uma resolução.

Ele pode ler os jornais,
pode ligar a televisão

mas eles querem-no aqui.

Seja inocente ou não,

sentirá a pressão
de qualquer forma.

WEST CORK, IRLANDA

Cabrões! Cabrões!

- Olá. Olá.
- Olá.

As galinhas estão na estufa lateral.

- Desculpa.
- A causar o caos.

- Esquece.
- Desculpa.

- Não é muito mau, pois não?
- Bem...

Eu não preciso destas
coisinhas stressantes.

Não preciso disso.
Não preciso delas.

Serei atirado ao fogo,

constroem forcas e ressuscitam
a guilhotina em Paris.

Vai haver uma loucura
com a minha condenação.

Boa noite.

- Ian, boa noite.
- Boa noite. Olá.

- É o Nick, como estás?
- Estou bem.

Vou contar-te o que aconteceu hoje.

Foi um dia longo, acabámos de sair.

Disseram como a Sophie Toscan du
Plantier foi morta.

Disseram que lhe esmagaste a cabeça.

Disseram que esmaguei a cabeça?

Depois, com um molde,
analisaram tudo,

disseram que foram 40 a 50 golpes

e por isso é que tinhas
as mãos arranhadas pelas silvas.

Ouvimos sobre o casamento
de Sophie,

que não foi feliz no primeiro
nem no segundo casamento.

- Sim.
- Sim.

Acho que foi comovente,
muito comovente.

Quando vimos as fotos
do local com o corpo,

quer dizer, foi triste,
mas deixou-me também zangado,

porque, até agora,
alguém escapou impune, até agora.

A mãe foi numa cadeira de rodas.

O pai estava lá, com um
fato lindíssimo, a ouvir cada palavra

e deve ser difícil
e desolador para eles,

deve ser angustiante.

Estavam tão dignos... como o filho
de Sophie e Pierre Louis.

É o culminar de um grande esforço,
de um enorme esforço emocional.

Temos pena deles,
não conseguimos evitar.

PAIS QUEREM SABER
QUEM MATOU A FILHA E COMO

Esperamos...

Esperamos do fundo do coração
por um julgamento

e que ele pague pelo seu crime.

A família passou 22 anos à espera
que se fizesse justiça por Sophie.

Mas pergunto, este julgamento
consegue fazê-lo?

Hoje, ouvimos os principais
pontos da investigação.

Como Ian Bailey não tinha advogados,
não foram contestados.

Hoje falaram muito de Marie Farrell.

Certo.

Estavam a colocar-te na Ponte
Kealfadda na noite do homicídio

e isso foi de acordo com o seu
primeiro telefonema à Polícia.

Declaração de Marie Farrell
14 de fevereiro de 1997.

Ao aproximar-me
da loja de Sylvia O'Connell

vi um homem a andar na estrada.

O homem tinha um casaco
preto até aos joelhos.

Sei agora que esse homem
era Ian Bailey.

Que absoluta treta.
Não faz mal.

O MEU DEPOIMENTO
ERA FALSO

Marie disse aos solicitadores que
os depoimentos eram falsos,

foi persuadida a fazê-los
porque a Garda disse:

"Ian Bailey é o assassino",
e isto está tudo registado.

QUE DEUS ME CONCEDA LIBERDADE

Seria de pensar que, ou recolhes o
último depoimento, ou então nenhum.

Marie Farrell ofereceu-se
para ir a França

dizer que alterou o que disse,

mas a procuradoria francesa
rejeitou a proposta.

Só levariam em conta
o depoimento inicial dela

a implicar Ian Bailey,
onde diz que o viu

na Ponte Kealfadda,
na noite do homicídio.

As contradições nas declarações
de Marie Farrell foram ignoradas.

Mas as mudanças de declarações
de Ian e Jules são o trampolim

na construção do caso contra ele
por parte do tribunal.

Os seus movimentos na noite
do homicídio estão sob escrutínio.

Estavam a falar de muitas coisas.

Mas a questão é o que se passou
naquela noite em que saíste de casa.

E teu álibi não se confirma.

Na tua primeira declaração,
ficaste na cama a noite toda,

isso levanta questões.
Temos de voltar, Ian.

Devias falar com Colm sobre o álibi.

Estamos a dar-lhe a oportunidade

para reagir
ao que se passa no julgamento.

Acho que foi a única vez que foi
pressionado para dar uma resposta

ao que dizem no julgamento, pelo
menos ficamos com um registo.

Perguntaram-me sobre o álibi
e a questão é esta,

estava farto de falar
com os guardas...

Desculpe, tem de...

porque isto vai voltar
ao banco de memórias. Podemos...

É o álibi da noite em si.

Não é um álibi,
porque pode ser posto de lado.

Podemos fazer uma pausa

para descansar?

Vou voltar a isso,
se não se importam.

Certo, isto vai ser muito visceral.
Isto vai ser visceral.

Enquanto Ian enfrenta
um processo criminal

por causa do homicídio
de Sophie Toscan du Plantier,

o solicitador diz-nos porque acha
que deve ser importante para todos.

Bem-vindos ao Claire Byrne Live.

Corta, já podes, foi a tempo.

Não, pré-gravado.

Perguntou-me sobre o álibi.

Um álibi é uma expressão
em latim, significa que tens

uma desculpa plausível e provada.

Tecnicamente, sou advogado,
sei que não tenho álibi

porque a deixei,
ela ressonava, desci a rua

e escrevi aquilo e voltei de manhã

e fiz-te um café.
- Fizeste.

Não quero fazer isto agora.

Fazemo-lo amanhã.

- Está fora de sequência.
- Sim.

- Olá, querida, queres alguma coisa?
- O quê?

Disse, querida,
queres alguma coisa?

Não.

Queres festinhas no joelho?
Um abraço? Um abraço carinhoso?

Posso dar-te. Estás exausta.
Posso dar-te um abraço?

Está bem.

O solicitador dele, Frank Buttimer,
falou há pouco comigo.

Perguntei-lhe porque Ian Bailey
não veio, nem preparou uma defesa.

Simplesmente porque ele
não reconhece a validade

ou a justiça
do que se passa em França.

O nosso sistema de justiça criminal
determinou, durante muito tempo,

que não pode e não será
julgado nesta jurisdição

em relação às provas
que foram recolhidas.

Entretanto, as mesmas provas,
nada novo, nada de diferente.

Os franceses pensavam
que tinham criticado a polícia

ao recolherem novas provas,
pensando que eram boas provas,

para o julgar no sistema deles.

Mas a ideia básica aqui,
é a falta de respeito

que os franceses tiveram pelo
sistema judicial criminal irlandês

e devo dizer, com pena, auxiliados
pelo Departamento de Justiça

pela provisão aos franceses
da chamada assistência mútua.

Ian Bailey, sabemos
que não tem saído desta jurisdição

há cerca de nove anos.
Como está ele a lidar com isto?

Ele está devastado, desde o início.

Ele sabia que isto estava pendente
em França, fora do seu controlo.

A vida dele foi destruída,
sempre protestou a sua inocência,

a posição dele
foi sustentada pelo MP

e é uma situação grotesca.

E você, Frank Buttimer,

está convencido da sua inocência?
- Sem dúvida.

O caso prossegue
e podem saber mais

na RTE News, toda a semana.

Desliga a televisão.

Desliga.

Reação imediata,
Estou calmo no centro do furacão.

Estou calmo no centro do furacão.

Sim.

Alguma pergunta?

Frank parecia muito cansado,
está com o cabelo grisalho.

Foda-se.
Aquele homem, todos nós, ela.

É uma forma de tortura,
mas aguentaste-te.

Vinte e dois anos.

Não vou deixar que me destruam,
mas devo dizer

que o meu sono está destruído,
o meu descanso, a minha paz.

A paz está destruída.
- Tranquilidade.

- Sim. Sim.
- Serenidade.

Se não fizeste nada,
isso torna-te mais forte.

É estranho.

É como alimentar a chama
da resiliência, ser acusado de algo.

Que a verdade e os prados emerjam.
Que surja a verdade.

JULGAMENTO, SEGUNDO DIA
PARIS

Segundo dia de provas para a família
de Sophie Toscan du Plantier.

O tribunal também ouviu Agnes Thomas,
que era a melhor amiga da vítima,

disse que Sophie lhe contou que um
homem na Irlanda a contactara

nas semanas antes de ela ser morta.

Ela disse que ele
se descreveu como poeta

e queria falar com Sophie
sobre projetos culturais.

Thomas disse que a amiga
planeava encontrar-se com ele

quando estava em Cork.

Era apenas uma prova emocional.

não há registos telefónicos,

mas era apenas uma prova emocional.

Acho que teve impacto nos jurados.

São provas que não foram logo dadas

e a senhora disse que,
depois do assassinato,

sentiu-se mal por não ter ido
com Sophie na viagem final

e que teve um apagão.

Esqueceu muitos detalhes
do que tinha acontecido.

Mas eles voltaram mais tarde.

Sim, claro que voltaram.

Ian, fizeste aquela chamada?

Não, nem pensar. De todo. Não,
é um perfeito e absoluto monte de...

Se isso implicar que fui eu, como eu
disse, isso são muitos disparates.

Não te esqueças,
o único conhecimento que tinha

foi que Alf Lyons disse
que tinha uma vizinha francesa.

Nunca houve nenhuma apresentação
e eu não sabia...

Nunca ma apresentaram.

- Não, é um disparate completo.
- Está bem.

É difícil conduzir um julgamento
criminal à distância.

Leram uma lista de testemunhas
irlandesas que tentaram contactar,

mas não insistiram quando as cartas
vieram devolvidas como "desconhecido"

"ausente", "falecido".

E até os guardas que enviaram
a pasta de Bailey aos franceses

não apareceram,
o que é extraordinário.

Não consigo entender.

O juiz presidente
tem de ler em voz alta

os depoimentos feitos
pelos guardas naquela altura.

Surgiram questões a que só
a polícia irlandesa pode responder.

O portão tinha marcas de sangue.

Nós sabemos, porque vimos as fotos.
Mas onde está o portão? Desapareceu.

Seria bom descobrir
mais dos guardas,

sobre a falta de provas de ADN.

Não me parece bem, fico a pensar se
pode ser complicado para a acusação.

Quando a primeira
testemunha da Irlanda chegou,

isso foi, só por si,
uma audiência pouco ortodoxa.

Parece surpreendente termos
a mãe de uma testemunha chave.

a testemunhar em nome dele.

Amanda Reed disse que o filho
Malachi, na altura com 14 anos,

apanhou boleia do Sr. Bailey
a quatro de fevereiro de 1997.

Disse-lhe que tinha ido
a casa da vítima

e lhe esmagou
os miolos com uma pedra.

- Disseste isso?
- Não.

Isso são mesmo indícios de boato.

Fui buscá-lo, dei-lhe boleia e ele
perguntou-me como estavam as coisas.

Disse que estava bem,
até as pessoas começarem a dizer

que tinha subido a colina e lhe tinha
esmagado o cérebro, foi o que disse.

O que disseste às pessoas,
como Helen Callanan,

dizem que foram confissões.

Certo.

Se estivesses aqui gostarias
de dizer algo?

Não.

Uma das coisas interessantes

é o sarcasmo negro
da classe alta britânica,

onde devemos saber que o
oposto do que se diz é a verdade,

e isso pode ter sido a ruína dele.

Depois disse:
"Matei-a pela minha carreira."

Viste-a em Spar, ela excitou-te.
A subir a ilha de rabo firme.

Foste ver o que conseguias,
perseguiste-a.

Enfiaste algo na sua cabeça,
foste mais longe do que querias.

Ian estava a virar
quando disse:

"Subi com uma pedra
e esmaguei-lhe os miolos."

Claro que sim.
Precisava de uma história.

Comecei a ouvir rumores sobre isso.

O rumor começou a espalhar-se.
Helen Callanan, a editora

do Sunday Tribune,
tinha-me contratado.

Ela disse-me: "Ian,
andam a dizer que a mataste."

Perguntei: "Quem está a dizer isso?"
Ela disse: "Não posso dizer."

Disse algo como: "Claro que o fiz,
precisava de uma história."

Alguém tem
de estar numa posição

onde foi feita uma alegação
escandalosa contra si

para saber como
é estar nessa posição.

É uma das coisas de que me arrependo
e que foi insensata,

mas foram os meus impulsos. Não,
não foram. Porque não sou impulsivo.

Foi a minha resposta defensiva.

Poderá ser isto Pedro e o Lobo?

Ele continua a colocar-se no
enquadramento e acabam por acreditar.

Olho para estes dois velhotes

e são mais pequenos que eu.

Imagino que a filha
deles é mais pequena do que isso

e estou enraivecido.

Quem matou Sophie du Plantier?

Só me interessa por raiva.

E tens a fúria por
descobrir quem foi?

Rezo a oração do Senhor
há muito tempo.

A linha mais difícil na oração
do Senhor é perdoar a quem ofendeu.

Fiz isso durante anos,

isso significa que não guardo raiva
ou negatividade.

Se me perguntas
como consegui fazê-lo,

- Não sei ao certo. Mas já o fiz.
- Ian, tu tens raiva.

Tens tanta como eu,
se não mais.

- Não, espera um segundo.
- És explosivo.

Explodiste com a Jules!
Não podes dizer que não sentes raiva.

Isso foi até agora.
Quero dizer, agora...

- Sim.
- Não sei.

Vou dizer algo sobre Bailey,
colocou-se no centro da história

e tornou tudo pior para a família.

Se ele não é culpado,
se não o fez,

é pelo menos responsável por isso.

O ambiente no tribunal
estava sombrio. Primeiro,

o juiz leu um perfil de Ian Bailey

não baseado nele,
mas com base em documentos.

O seu diário, arte, poemas...

depoimentos dos guardas.

ESTA NOITE
POESIA DE IAN BAILEY

A masturbação é uma agitação ligeira,
para muita irritação.

Aparentemente,
são pedaços de informação,

e fragmentos
que se transformam em provas,

nunca ninguém viu nada assim.

Escrevi muitos livros e
foram todos levados ilegalmente,

seria certamente o caso neste país,

que teria tornado tudo inadmissível

e tudo o que seria
inadmissível aqui, adivinhem...

torna-se admissível
no sistema francês,

e é classificado como prova.

Ninguém o defende, ninguém apresenta
um ponto de vista diferente.

Têm como ponto de partida,
o ataque de Bailey a Jules Thomas.

O álcool pode torná-lo violento.
O que eles queriam saber,

é ele um homem capaz de um ato
tão violento?

Disseram que Ian Bailey
era narcisista, impulsivo, egoísta

e que precisa de reconhecimento.

Gosta de ser o centro das atenções
e gosta de provocar

e concluíram que que tem um distúrbio
psicológico borderline

sem ser psicótico.

Dizem que tens sempre o pénis na mão.
Estava escrito no diário.

Claro que escrevo poesia com a pila,
percebem? Sabem?

No fundo, disseram
que Sophie era a perfeita...

Eras loucamente atraído por ela.

Era a mulher perfeita
para te sentires atraído.

Basicamente, eras um tarado.

Eu sabia
que eles me iam atacar hoje.

E sabia que eles iam
tornar-me num demónio, uma besta,

fazendo-me parecer um tarado,
um viciado em sexo ou isso.

Sempre me interessei
por esse assunto,

mas não me parece que seja um tarado.

Parte foi baseado nos diários,
e acho que partiram daí.

- Certo.
- Foi o que escreveste, não foi?

É tudo uma treta.

Não sou um tarado,
nem um assassino.

Posso ser um pouco excêntrico.

E se isso é um crime,
todos deviam ter cuidado.

Está bem. Está bem, Ian.

Mais alguma coisa?
Falamos amanhã, está bem?

Parece que sexta à noite,

as placas tectónicas
da minha vida vão mover-se

e eu posso ser um
assassino em França,

e vou tornar-me no centro
de uma grande confusão de merda,

para usar a expressão.

PARIS
DIA DO VEREDICTO

Hoje é o dia do julgamento,
ouvimos as conclusões.

Os três magistrados estão
em sala fechada a tomar a decisão.

Para a família de Sophie,
que esperou mais de duas décadas,

estas poucas horas podem ser
as mais longas das suas vidas

Podemos ter esperança

que eventualmente teremos justiça.

Não me sinto bem.

PIERRE VIGNAUD
FILHO DE SOPHIE

Estou muito...

... emocionado pela minha mãe

e a verdade é muito importante
para nós, para ela.

Esta manhã é dia 30...
Sexta-feira, 30 de maio.

República de França vs.
Ian Bailey.

E devia saber há muito tempo
que este dia ia chegar.

Esperava que houvesse
uma intervenção.

Esperava que alguém
se chegasse à frente e dissesse:

"Não foi o Ian Bailey,
isso não aconteceu."

Ótimo.

Vamos livrar-nos do galo.

Imagina que me apanham com 62 anos.

Passarei 30 anos
numa prisão francesa,

disseram-me que se muda de prisão,

estão sempre a mudar-te,
por isso não sabem onde estás.

e quem te queira contactar
não sabe onde estás.

Tenho de viver
com essa possibilidade.

Estamos a fazer um filme
sobre um galo.

Tornou-se a estrela deste filme.
Não sei como aconteceu.

Sei que é porque lhe
chamámos John Wayne.

Não quero que, se o soltar,
ele fuja

e haverá alguma coisa a dizer:

"Ian Bailey persegue o galo em Bantry
Square". Não queremos isso.

Cabrão, entra ali.

Está bem? Não, feri-o.

Magoei-te, foi?
Não? Olá.

Ali está ele, é todo teu.
Nada pior para a provação.

Devo dizer que me sinto muito normal
e calmo para este dia.

Também fui informado
pelas minhas fontes,

tenho uma rede de informadores
como Michael Collins,

que há pessoas hoje em Bantry
a tentarem fotografar-me.

- Bom dia, como está?
- Bom dia, como está?

Olá, cavalheiros, como estão?

Para de me cheirar aí em baixo. Estou
bem, de uma forma estranha.

É o Dia D para mim,
ou o Dia P, ou o Dia de Paris.

Olá, pode dar-nos
alguns euros das pequenas?

Não sei do que se trata.

Parece uma competição, mas não se
preocupe, eles não a levam.

Ian, aceitaria uma atitude à John
Wayne no julgamento em França?

- Pode crer que sim.
- E você?

E como o afeta? Isso afeta-o?

Para onde isto vai?
Tenho instruções rigorosas.

Posso fazer uma ou duas fotos
da tua cabeça?

Olhe para mim e
nós deixamo-lo em paz.

- Pode ser?
- Vai para a prisão?

Entregue-se, homem, desista.

Faça o que está certo.
Faça o que está certo.

O ANÚNCIO DO VEREDICTO

O Supremo Tribunal fez o
seu trabalho. Foi declarado culpado.

Ian Bailey é culpado do homicídio
de Sophie Toscan du Plantier.

Foi condenado a 25 anos de prisão.
Estava na hora

e agora não poderá jogar noutro campo
que não no campo judicial.

O julgamento é muito claro,

com todos os elementos de prova.

Ian Bailey matou
a minha mãe há 22 anos.

É uma vitória pela justiça,
pela verdade.

Por isso estamos felizes.

Estamos...

... felizes.
Muito obrigado.

Vamos relembrar o assassinato
de Sophie du Plantier, em 1996.

O Tribunal Criminal de Paris condenou
Ian Bailey a 25 anos de prisão.

Parece que saiu um peso
dos ombros da família francesa

e tenho de usá-lo noutra pessoa,

antes que o oiça na rádio.

Olá, Bailey.

- Sim.
- Fogo.

Era o que esperavas, culpado.
Acho que falaram em 25 anos.

Desculpe, estou desiludido, estava à
espera de 40, mas não faz mal.

Sim, eu dá-lo-ia ao Nick,
que anotou muitos dos detalhes.

Se os quiseres ouvir.

Não quero, Jim.
Não quero saber pormenores agora.

Deste-me o resumo
e isso basta-me.

A Jules vem aí.

Puxa uma cadeira ou
organiza-as.

E acho que se conseguiste
dizer-lhe o que...

Queres uma almofada ou duas?
Tens a certeza? Está bem.

- Alta voz, certo?
- Sim.

- Olá, Frank.
- Não, é...

Jim. Desculpa, Jim.

- É o Jim. Jules, como estás?
- Estou bem, Jim.

É um resumo muito longo

em que aceitaram
a prova de Marie Farrell,

toda a declaração,
a sua prova,

todos os depoimentos
que Ian fez como confissão.

Já estávamos à espera.

Esperávamos que fosse previsível.
Não nos surpreende.

Não é estranho eu não estar a chorar
nem a bater no peito?

- Sim.
- Mas penso...

Mas vamos dizer ao mundo
que ainda apoias o Ian

- E dizer que é tudo mentira?
- Sim, vou.

- Vou. Sempre o apoiei. Sim.
- Sim.

- É...
- Está bem.

O que gostaria de dizer é
que tudo o que conseguiram fazer

foi condenar uma pessoa inocente por
um crime com o qual nada teve a ver.

Olha, lamento a dor deles,
lamento o sofrimento deles,

lamento as mentiras
em que acreditaram

e lamento o seu sofrimento,

mas não há vencedores,

só vencidos numa guerra de
palavras perversa e corrupta,

e sei que escolheram acreditar numa
teia tecida por demónios.

Lamento por eles,
somos duros e cá estamos.

Está bem.

Contei-te isto há muito tempo,
o que pensava que ia acontecer.

Eu sei, tudo o que disseste
foi cumprido, sem dúvida.

- Não é surpresa.
- Tu sabes... meu Deus.

Há pessoas por aí
que sabem quem matou aquela mulher

e nem acredito que conseguem
viver com o que se passa.

Este homem nunca desiste.
Por amor de Deus. Estou condenado.

A França vai tentar a extradição de
Ian Bailey pela terceira vez.

Hoje, todos devem saber, compreender,

que Ian Bailey é um assassino.

O rótulo não é novo para Bailey,
mas tem um novo poder.

O que quer que aconteça agora,
Ian Bailey será considerado

o homem que matou
Sophie Toscan du Plantier.

Mas será que alguma vez
ia livrar-se desse título?

A forma como criamos histórias, como
a justiça cria casos, fascina-me.

Sem provas científicas,
com testemunhos retratados,

sem testemunhas e sem interrogatório.

Os franceses provaram
que era culpado.

Ele é capaz de matar?
Não seremos todos?

Ele é culpado? Não sei.
Não podemos dizer ao certo.

É possível que Ian Bailey nunca
cá tenha vindo?

A este retiro na encosta
de uma colina solitária

sob o olhar a piscar do farol
Fastnet?

É possível que, em breve,
esteja num avião,

ao encontro de um destino
que nunca foi dele por direito?

Se não foi Ian Bailey aqui
naquela noite,

ninguém anda à procura do homem
que não deixou rasto.

Vá lá, toca a sair. Olá.

É como esperar pela onda do tsunami
que sabíamos que vinha.

Hoje de manhã e ontem,
acordei ansioso.

Vou presumir
que no futuro

provavelmente no próximo ano
e mais tarde, talvez,

serei entregue aos franceses,
está tudo muito escuro.

A 16 de dezembro,

o Mandado de Detenção de Ian
foi aprovado pela Irlanda.

Foi preso. Conseguiu pagar a fiança.

Enquanto estava sob fiança, instruiu
o seu advogado, Frank Buttimer,

para recorrer da extradição.

Com o seu destino iminente,
nos últimos oito meses,

tem estado à espera que seja ouvido
no recurso de extradição,

nos tribunais criminais
por um juiz do Supremo.

12 DE OUTUBRO DE 2020 AUDIÊNCIA
DE RECURSO DE EXTRADIÇÃO

Ian Bailey não deve ser extraditado
para França para cumprir prisão

pelo homicídio de Sophie Toscan
du Plantier, decidiu o Supremo.

Boa tarde, senhoras e senhores.

Quero dizer umas palavrinhas
em nome de Bailey.

O Sr. Bailey está muito aliviado

pela decisão tomada hoje.

O impacto na vida dele
desta situação toda,

tem sido um desafio enorme
para ele nos últimos 24 anos.

Ele expressa sempre tristeza
e solidariedade

com a família da falecida
Madame Toscan du Plantier,

enquanto, ao mesmo tempo,
mantêm sempre a sua inocência,

em relação a algo ou qualquer
ligação com aquele crime horrível.

Bailey pretende regressar a West Cork

para tentar viver o resto
da vida da melhor forma possível,

sujeito a qualquer
decisão tomada pelo estado,

em relação a qualquer direito
de recurso. Muito obrigado a todos.

O Sr. Bailey decidiu
reservar a sua posição nesta altura

mas pode comentar numa data
futura. Obrigado a todos.

A minha reação, é de tristeza.

Nos últimos 25 anos, a justiça
irlandesa tem estado desorganizada.

Não dizem, "Está errado,
ele não é culpado",

dizem que, na nossa lei irlandesa,

não temos capacidade para aceitar
o mandado de extradição.

Partimos em busca de justiça
e o que nos resta?

Corações partidos,
pessoas e comunidades perturbadas,

sofrimento sem resposta,
perguntas sem resposta.

É como uma tragédia de Shakespeare,

em que não há vencedores,
apenas conchas partidas de pessoas.

A família de Sophie...

Está consumida pela raiva e tristeza.

Não encontram saída.

A morte da filha por vingar.

Uma sentença proferida,
mas não endossada.

Continuam convictos de que o
assassino da sua filha está livre,

não interessa como o olhamos,
é a verdade.

E Ian Bailey, inocente ou culpado?

Tem um quarto de século
de pena perpétua

em prisão preventiva,
incapaz de sair do país.

Como podes ser culpado em França
e livre na Irlanda?

Alguém pode explicar-me isso?

Há aqui dois crimes:

há o assassínio
e há a falta de justiça.

Há 24 ou 25 anos,
perdi o rasto aos anos.

É quase metade da minha vida,
desde que fizeram uma acusação falsa

que mudou a minha vida
e o que poderia ter sido.

Não sei, tenho estado
mesmo sem emoções.

Não tenho a sensação de vitória.

Não há uma grande
sensação de alívio.

Porque será?

Porque durante tantos anos,

a minha vida, o meu trabalho foi
lutar o melhor que podia.

Foi um misto de medo e determinação
que me mantiveram firme.

De repente,

tenho de me reinventar.

Enquanto a pessoa que matou a minha
mãe não estiver presa,

é uma ferida que nunca irá sarar.

O ESTADO IRLANDÊS DECIDIU NÃO
RECORRER DA DECISÃO DO SUPREMO

APÓS 24 ANOS, IAN BAILEY JÁ NÃO TEM
QUALQUER AMEAÇA LEGAL

SOBRE ELE NO CASO DE
SOPHIE TOSCAN, NA IRLANDA.

EM FEVEREIRO DE 2021, IAN BAILEY E
JULES THOMAS TERMINARAM A RELAÇÃO.

(Credit Line)