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A OCTOPUS
DE DANIEL CASOLARO

Nos últimos meses,

a situação financeira de Danny demonstrava
que ele sentia estar com os dias contados.

Ele morava em uma casinha ótima.
Eu adorava aquele lugar.

E ele realizou diversos empréstimos
colocando a casa dele como garantia.

Empréstimos balão, nos quais a maior parte
da dívida só era devida ao fim do prazo.

GEORGE MASON HIPOTECAS

Ele estava devendo mais de cem mil dólares
em empréstimos balão vencidos.

9 DE AGOSTO DE 1991
EMPRÉSTIMO NO VALOR DE US$ 178.790

Ele ficava falando
que precisava terminar aquele livro

para publicá-lo.

Ele viajou a Nova York para se encontrar
com um agente ou uma editora

para convencer essas pessoas
a adquirir os direitos do livro.

Ele queria que comprassem a ideia
para que recebesse um adiantamento.

Na cabeça dele, era uma forma de resolver
os problemas financeiros de então.

Só que as editoras acharam
que o livro tinha que ter mais provas.

Eles pensaram: "Será que o conteúdo
desse livro é realmente verdadeiro?"

Se você acha que vai conseguir
um contrato de quarenta mil dólares

pela história mais explosiva dos EUA,
chamada de A Octopus,

vai precisar se munir de provas,
porque ninguém vai querer publicar.

Afinal, sobre o que é o livro?
Qual é a história?

O que esse livro,
chamado A Octopus, contava?

Então, existem umas oito pessoas
que ele afirma serem A Octopus.

Começando por John Nichols,
que já conhecemos da Cabazon.

George Pender, que trabalhava
em conjunto com Robert Booth Nichols

num projeto de reconstrução do Líbano.

Thomas Clines e Ted Shackley,
ambos agentes da inteligência americana

envolvidos no bombardeio secreto de Laos
durante a Guerra do Vietnã.

Em outro momento, eles acabaram
se envolvendo no Irã-Contras.

Howard Hunt era agente da CIA
havia muito tempo.

Ele ficou mais conhecido na mídia
pelo escândalo de Watergate.

Richard Helms era diretor da CIA
na década de 1970

e destruiu os arquivos do MKUltra.

Ray Cline,
outro agente de alto nível da CIA.

E a última pessoa envolvida nisso,
mas não menos importante,

George Bush, que era o presidente
quando o Danny elaborou essa lista

e foi vice-presidente de Reagan

e também foi diretor da CIA
antes desse período.

A teoria do Danny era a seguinte:

todas essas pessoas
faziam parte de uma rede.

A história tinha muitos tentáculos,
várias teorias da conspiração.

Será que tudo isso tinha uma relação?

Para se fazer uma pesquisa

da magnitude que você deseja,

você teria que ter muito dinheiro,

poder viajar pra caramba

e ter uma paciência de Jó.

Eu acho que era nisso
que ele estava tentando trabalhar

nas semanas que precederam a morte dele,
tentando encontrar mais provas.

CONSPIRAÇÃO AMERICANA:
OS CRIMES DA OCTOPUS

ESCRITÓRIO DE CAMPO DO FBI
LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

Certo dia, recebi um telefonema
de um cara chamado Danny Casolaro…

EX-AGENTE ESPECIAL DO FBI

Ele se apresentou para mim
como repórter investigativo.

Ele queria conversar comigo
a respeito de Robert Booth Nichols.

Naquela época, eu estava trabalhando
no Esquadrão de Crime Organizado do FBI.

Conheço Robert Booth Nichols muito bem.

A gente estava fazendo uma investigação
em Los Angeles.

E esse babaca do Robert Booth Nichols
ficava tentando meter o nariz em tudo.

Ele tinha sido o faz-tudo de uma gangue
no Havaí na época que era mais jovem.

Ele supostamente tinha algum tipo
de ligação com as áreas de inteligência.

Ele afirmava ter realizado
muitas missões como agente disfarçado,

operações secretas e tudo mais,
pelo mundo inteiro.

Tire a Marinha e a Força Aérea de Pearl!
Faça isso agora!

Até conseguiu um papel num filme.

Quais serão consequências?

Mais ou menos um milhão de pessoas
chegarão a 5.500°C.

O nome era A Força em Alerta,
de Steven Seagal.

Mas a gente achava que ele não passava
de um vigarista internacional incrível

com ligações com a máfia.

Ele realmente conta
com alguns contatos da máfia de Gotti.

O Danny estava analisando
informações fornecidas por fontes.

Robert Booth Nichols era responsável
por fazer o meio de campo

entre os serviços de inteligência
e o crime organizado.

O Nichols gosta de brincar nesse submundo.

Ele afirma que tem contatos
na Receita Federal e na Casa Branca.

Também encontramos ligações entre ele
e a Casa Branca na gestão Reagan.

E ele supostamente também tinha contatos
no Departamento de Justiça.

O Danny queria saber o seguinte:
o Nichols oferecia perigo?

Eu disse a ele…

Segundo os relatos
de dois informantes diferentes,

ele teve durante seis anos
um contrato para me matar.

Eu acho que o Nichols ficou irritado
por estar sendo investigado

e ameaçou me matar.

Ele disse a seguinte frase:
"Vou matá-lo quando ele menos esperar."

Mas devo tirar o chapéu para o Danny,
pois ele seguiu investigando.

Thomas Gates, do FBI,
deu várias declarações sobre mim.

Sabe aquele desgraçado mentiroso?

Robert Booth Nichols não é uma pessoa
por quem eu tenha muito apreço.

Se a gente puder tirar esse homem de cena,
de alguma forma ou outra,

talvez consiga alguma informação
sobre isso.

O Danny estava tentando mostrar
se existia algum tipo de conexão

entre drogas, crime organizado
e Departamento de Justiça.

Como tudo isso se encaixava.

Existem várias provas fragmentadas
de que a verdadeira função

de pessoas como Robert Booth Nichols
e Michael Riconosciuto,

sendo que os dois parecem ter tido
um pé no crime organizado

e o outro pé
na inteligência norte-americana,

era lavar toda a receita do narcotráfico,
que acontecia com a anuência da CIA,

para financiar projetos secretos
não autorizados pelo Congresso.

CIA ACUSADA
DE ESQUEMA DE NARCOTRÁFICO

Eu considerava o Danny uma fonte.

E, enquanto o Danny estivesse confortável
para seguir adiante com a investigação,

não tínhamos motivo
para impedir que ele fizesse isso.

Ele era um agente extra para nós.

Não tinha motivo para impedi-lo.

Nos últimos dias de vida dele,

tinha muita coisa acontecendo com o Danny.

E foi naquele mesmo período de tempo

que Bill Hamilton sugeriu ao Danny

que ele fosse atrás de uma pessoa
do Departamento de Justiça.

Por acaso, você já ouviu falar
no nome Michael Abbell?

Abbell era o diretor
do Escritório de Relações Internacionais

na Divisão Criminal
no começo do governo Reagan.

Riconosciuto telefonou para mim

e quis saber se eu tinha como descobrir

o que houve quando Michael Abbell
tentou extraditar Gilberto Rodríguez.

Eu não fazia ideia de que Rodríguez
era líder do Cartel de Cali.

O Cartel de Cali,

maior organização exportadora
de cocaína da Colômbia,

responsável por 70% da cocaína
que entra nos Estados Unidos.

Riconosciuto alegou estar presente
com Robert Booth Nichols e Michael Abbell

num restaurante de Georgetown.

A versão dos fatos de Mike Riconosciuto

foi que Robert Booth Nichols entregou
a quantia de US$ 50 mil a Mike Abbell.

E o objetivo do dinheiro
era fazer com que Mike Abbell

impedisse a extradição dos líderes
do Cartel de Cali para os Estados Unidos.

COFUNDADOR: CARTEL DE CALI

Riconosciuto queria provas

de que acabaram encerrando o caso
ou coisa parecida.

E ele disse:

"A investigação pode ser perigosa.
Procure tomar cuidado."

O Nichols parecia ser a conexão
entre essas diferentes organizações.

O Danny se debruçou
sobre a investigação do Dep. de Justiça,

focando especificamente
em Mike Abbell e o Cartel de Cali.

DEP. DE JUSTIÇA, MIKE ABBELL
CARTEL DE CALI, ROBERT BOOTH NICHOLS, CIA

E o Danny disse que ia entrar em contato
com o Robert Booth Nichols

e ver qual era a opinião dele sobre isso.

Se ele perguntasse a opinião Nichols,
o Nichols ficaria simplesmente apavorado.

Se alguém está informando o Casolaro,
o Nichols pode acabar correndo perigo.

Os Hamilton disseram: "O Danny
já está investigando um monte de coisa.

Se perguntarmos mais uma coisa,
não vai ter problema nenhum."

Eu perdi as estribeiras com eles.

Eu disse a eles que o Danny
não tinha como investigar mais isso,

porque o Nichols poderia ter um troço.

Eu disse: "O Danny vai acabar morto."

Antes da morte do Danny,

ele me telefonou querendo sair
para tomarmos umas.

VOZ DE LYNN KNOWLES
AMIGA DE DANNY

Era pra gente se encontrar
no Sign of the Whale.

O Danny tinha o costume
de marcar encontros lá.

O Danny se atrasou,
era um hábito que ele tinha.

Quando o Danny entrou no bar,

ele deu de cara com um homem
de uniforme militar sentado.

Como era típico da personalidade dele,
o Danny puxou papo com o homem.

E o cara disse que o nome dele era Joe.

Ele disse que tinha voltado
da Guerra do Golfo naquele mesmo dia.

O homem se chamava Joe Cuellar,
e ele pertencia à inteligência militar.

O curioso é que ele estava ciente
de tudo que o Danny estava investigando.

Os dois começaram a conversar
sobre pessoas e organizações

que não faziam nenhum sentido para mim.

A situação parecia coincidência.

Porém, como a gente sabe,
a cidade não é grande.

Muitas pessoas têm cargos
dentro do governo.

Não seria nenhuma surpresa
você simplesmente conhecer alguém

que esteja ciente das coisas
que anda fazendo por aí.

EXÉRCITO DOS EUA

Os dois conversaram
sobre Nigéria, heroína,

e também falaram sobre armas.

O Danny fazia algum comentário,
e o Joe dava mais detalhes.

Eles ficaram nesse troca-troca.

E aí, começaram a falar sobre a Inslaw.

O Cuellar disse que ele podia
ajudar a ligar os pontos.

AMIGO DE DANNY

Ele tinha um amigo no Dep. de Justiça
e ia ver o que dava para fazer.

O Joe disse que o amigo dele
era um cara legal, que eram próximos

e que falaria com o Danny se ele pedisse.

Eu percebi que o Danny
tinha ficado empolgado pra caramba.

O Danny achou que aquela conexão
poderia oferecer respostas definitivas.

Lá pelas tantas, eu acabei perguntando
se era da inteligência militar ou da CIA.

Ele me respondeu que não era fácil
dar uma resposta definitiva.

O Joe disse que os amigos dele
achavam que ele bebia demais.

Ele disse que exagerava na bebida
porque tinha que fazer umas coisas

que ele não queria fazer.

Naquelas últimas semanas, me lembro

que ele recebeu ameaças de morte
enquanto eu estava na casa dele.

Sempre diziam a mesma coisa
naquelas ligações.

"É melhor você parar,
senão vai acabar morrendo."

"Você vai morrer."

Eu perguntei a ele
que diabos estava acontecendo.

E aí, eu vi a expressão
que o rosto dele tomou.

O Danny sabia que estava chegando
cada vez mais perto.

Aquele telefonema só confirmou a teoria
de que ele estava no caminho certo.

Quando ele estava sofrendo ameaças,

ele não sabia muito bem com quem
e em qual vespeiro tinha mexido.

REPRODUZIR

Colby?

- O que foi?
- Qual a sua idade?

Três.

Quantos anos?

Três.

Que coisa boa. Feliz aniversário!

E aí, Danny!

Eu acho que ele não te ouviu.
Grite mais alto.

E aí, Danny!

Encontrei o Danny duas ou três semanas
antes da morte dele.

Danny!

Ele esteve no aniversário de três anos
do meu filho, Colby.

Olha só, te achei.

Ele parecia numa boa.

Quem é que está de aniversário?

- É o Colby!
- Não, não é o Colby que está.

- É ele, sim.
- Quem é que está?

Ele inclusive ficou lá até tarde.

Depois que todo mundo foi embora da festa,
eu e ele ficamos na cozinha

e conversamos bastante
sobre as coisas que estavam rolando.

Naquela ocasião, ele me disse o seguinte:

"Escute. Se acontecer algum acidente,
não vai ter sido acidente."

- Vamos logo.
- Isso mesmo!

É isso mesmo! Luzes.

Conversei com ele na noite anterior,
antes da viagem dele a Martinsburg.

O Danny disse que o Robert Booth Nichols
tinha marcado de encontrar uma pessoa

que sabia de algumas informações
sobre a Receita Federal.

Ela tinha alguns documentos.

O que o Danny me disse na ocasião

foi que finalmente tinha descoberto
quem sabia o paradeiro do dinheiro

e como o dinheiro tinha chegado
até os seus destinatários.

Ele ia conseguir algumas respostas.

A história parecia bem plausível,

porque a gente sabia que o Nichols
tinha conexões dentro da Receita Federal.

E, lá em Martinsburg, o governo tinha
um escritório da Receita Federal.

Este é o Centro Nacional
de Computação da Receita Federal

em Martinsburg, Virgínia Ocidental.

É onde fica o covil do monstro
de Martinsburg, o computador-mestre.

Aqui está armazenado todo o conhecimento
da Receita sobre nós.

O senhor entende que o motivo
pelo qual não queriam que pagasse impostos

era porque o senhor queria
que a Receita Federal não estivesse a par

de que estava prestando serviços
para a inteligência militar?

Eles disseram que não queriam
que ninguém jamais soubesse

da existência desses documentos,
de jeito nenhum.

De jeito nenhum,
sob nenhuma circunstância.

O Danny veio perguntar para mim

se ele deveria ficar alerta ou ter cuidado
por causa do encontro com o Nichols.

Eu respondi a ele: "Não ouvimos nada

sobre alguém querer te prejudicar,
então não se precisa se preocupar."

A gente achava que não tinha ninguém.

A gente achava que estava tudo bem.

A culpa foi provavelmente minha,
porque eu não tomei nenhuma atitude

para vigiar o local do encontro.

"Chegou a minha última semana

da maratona investigativa
desses últimos 12 meses."

O Danny chegou ao meu escritório
e me disse o seguinte: "Olha…"

VOZ DE PATRICK CLAWSON

"…estou passando por muita coisa."

JORNALISTA E AMIGO DE DANNY

Ele queria saber quais precauções
poderia tomar para conseguir se proteger.

Eu disse para ele verificar a existência
de explosivos dentro do carro.

Só encontrar pessoas em lugares públicos,
como em restaurantes ou hotéis.

Também disse
para sempre tentar levar alguém com ele.

Eu me fiquei me perguntando
por que ele foi sozinho.

Se tenho um grande arrependimento,
é justamente esse.

Ele perguntou a mim
se eu gostaria de ir com ele.

Mas eu não tinha como ir.

"Enfrentar essa odisseia,
encará-la com toda a minha vida,

é lidar com uma coisa pessoal,
uma vez que eu arrisquei tudo.

Até sexta-feira, eu tenho
que dar um jeito de conseguir US$ 5 mil

só para poder pagar a minha hipoteca
e os meus impostos imobiliários."

O que eu sei é que ele viajou
para a Virgínia Ocidental,

mas eu não sei quem ele foi encontrar lá.

No fim, acho que ele ficou preocupado
e imaginou que, se eu não soubesse,

eu não correria nenhum risco.

Ele me disse que estava viajando
para Martinsburg junto com o Cuellar.

O Danny contava com um informante
no centro de dados da Receita Federal.

Essa pessoa oferecia a ele informações
sobre alvos específicos.

"Em setembro,

vou encarar um trem que está vindo
na minha direção.

Meu Deus, o que eu vou fazer?"

Achei que ele estava numa situação
que piorava cada vez mais.

E que tudo isso levaria o Danny
a lugares onde não deveria estar.

E as pessoas que o prejudicaram
representavam um perigo.

Não interessava se o que elas diziam
era verdade ou mentira.

Essas pessoas continuavam
sendo muito perigosas.

MARTINSBURG, VIRGÍNIA OCIDENTAL
8 DE AGOSTO DE 1991

"Ainda assim, sinto a mesma felicidade
que um esquimó deve sentir

quando encontra
pegadas frescas de urso na neve,

quando está à frente dos outros trenós.

As coisas caminharam para esse destino."

Ele me disse: "Ann, é o Tony."
Eu respondi pra ele: "Oi."

E ele prosseguiu: "Achamos o Danny."

Eu disse: "Tá, pode falar."
E ele me respondeu: "O Danny morreu."

O que foi que aconteceu?

O que foi que aconteceu para aquele homem
que eu conheci em 1979

ter virado o homem que foi encontrar
a própria morte na Virgínia Ocidental?

Disseram que ele estava passando
por problemas financeiros?

Problemas financeiros nada.

Isso…

Isso está errado.

Está errado.

Algumas pessoas afirmaram que era
apenas um homem triste que se suicidou,

só que isso…

não é verdade.

Eu acho que não superamos algumas perdas,
é só o tempo que passa.

A questão não é que a perda
se torna menos dolorosa. É que…

o tempo passa.

Eu tive sonhos durante muitas noites
depois que o Danny morreu.

Nesses sonhos, eu o chamava novamente.

Eu falava que ele tinha que voltar
para me contar o que aconteceu.

Mas ele só sorria e ria.

Na última conversa
que eu e o Joe Cuellar tivemos,

eu liguei para saber se ele estava a par
do que tinha acontecido com o Danny.

Só que ele ficou muito…

Ele me disse: "Não me faça
mais nenhuma pergunta.

São nada mais do que negócios, entendeu?

São negócios.

Você tem dois filhos. Pense neles.

Trate de ir tomar um chocolate quente
e pare de ficar me perguntando coisas."

Durante a investigação da morte do Danny,
eu e Tony viajamos pra Virgínia Ocidental.

E os policiais nos contaram
muitas coisas daquela noite.

Eu acho que nós passamos uma hora e meia

repassando do que estavam a par
em relação aos últimos dias de Danny.

CHECK-IN
BAR STONE CRAB INN

Ele ficou fazendo hora
no restaurante do Sheraton.

Ele foi a um lugar chamado Stone Crab Inn

e a uma Pizza Hut.

E aí, disseram o seguinte:

"Parecia que o Danny estava fazendo hora,
à espera que alguma pessoa chegasse."

Só que ninguém apareceu no restaurante.

Ele nunca encontrou ninguém.

E existe uma janela de tempo
da qual não nós temos nenhuma informação.

E a polícia criou uma hipótese
daquilo que teria acontecido com o Danny.

Ele teria bebido,

tomado remédio,

enfiado a cabeça em um saco plástico
e cortado os pulsos.

A polícia reabriu a investigação

sobre a morte misteriosa
de um repórter investigativo de Fairfax.

A princípio, a polícia achou
que era suicídio,

mas parentes e amigos de Casolaro
suspeitam que ele foi vítima de um crime.

Na primeira semana
depois da morte do Danny,

eu recebi um telefonema
de Michael Riconosciuto,

e ele começou a falar
como aquele negócio era perigoso

e que tinha avisado o Danny.

Ele me disse que Robert Booth Nichols
poderia estar por trás daquele crime.

E então Robert Booth Nichols me ligou,
disse que queria me oferecer condolências.

"O seu irmão estava mexendo
com pessoas perigosas.

Eu avisei a ele para que tomasse cuidado
e sugiro que você faça a mesma coisa."

Eu fiquei pensando: será que ele achava
que eu tinha provas comprometedoras?

Será que ele estava tentando descobrir
se eu estava a par de alguma coisa?

E aí, ele fez questão de dizer para mim
que estava em Londres quando Danny morreu.

Por que ele me disse uma coisa dessas?

A autópsia de Casolaro será divulgada
amanhã à tarde em Martinsburg.

POLÍCIA DE MARTINSBURG

Olá a todos, meu nome é Cynthia Gaither.
Sou assistente da promotoria.

Por conta da grande quantidade
de denúncias que nós recebemos,

pela natureza do trabalho do falecido,

decidimos fazer uma investigação
mais aprofundada dessa morte.

No entanto, a polícia não encontrou

nenhuma informação que questione
a teoria original de suicídio.

Qualquer pessoa pode cometer suicídio.

Eu acredito nisso.

Por isso mesmo, eu…

Escutei a declaração.

EXAME NECROSCÓPICO

A causa da morte
é hemorragia exsanguinante

por conta de uma série de cortes no pulso.

Eu pensei: "Eu acho
que essa teoria faz algum sentido."

CAUSA DA MORTE
SUICÍDIO

Pra mim, funciona como um diagnóstico.
Se eu acho que você tem X,

vai demorar muito para provar que tem Y,
porque parto do pressuposto de que tem X.

Será que nós podemos falar
com o chefe? Talvez…

Como os policiais de vocês
ficaram de olho na cena do crime?

E por quanto tempo fizeram isso?

- A cena do crime foi…
- Nós podemos ouvir o chefe?

Com todo o respeito,
ele é um chefe de polícia, não um enfeite.

A coletiva de imprensa bastante incomum
sobre a autópsia acabou de terminou. Jack?

A assistente, o chefe de polícia
e o investigador simplesmente saíram.

Ali, naquele momento,
a situação começou a parecer um possível…

Odeio ter que usar essa palavra,
mas um possível acobertamento.

Queriam dar um fim a toda aquela situação.

RICHARDSON PEDE
QUE INVESTIGUEM A MORTE DO REPÓRTER

Deve haver uma investigação completa,
minuciosa, imparcial e contundente.

MORTE MISTERIOSA

Elliot Richardson,
funcionário que trabalha para a Inslaw,

pediu ao FBI que fizessem uma investigação
sobre a morte de Casolaro.

CAPITÓLIO DOS EUA

Quando Janet Reno estava passando
por toda a sabatina,

antes de se tornar procuradora-geral
no governo Clinton, perguntaram a ela:

"A senhora vai investigar
a morte de Danny Casolaro?"

A senhora conhece o caso Danny Casolaro?

Não conheço, senhor.

Bem, é um caso que eu acho
que deveria ser investigado a fundo

pelo Departamento de Justiça.

E ela disse que faria a investigação.

PROCURADORIA-GERAL

DEPARTAMENTO DE JUSTIÇA
FBI

Eu recebi uma ligação de um agente do FBI
e contei tudo o que eu sabia para ele.

QUARTA-FEIRA À NOITE
7/8/91

Um agente do FBI telefonou para mim.

E eles queriam saber

com quem ele tinha falado.

TOM GATES (FBI)

Certo dia, eu recebi um telefonema
e contei sobre Robert Booth Nichols.

EU O ENTREVISTEI
ELE INFORMAVA CASOLARO, DO MAL

Eu conversei com um agente do FBI

e disse que eles precisavam ir falar
com o Michael.

O que aconteceu está bem claro
na minha cabeça.

Porque o Bob começou a ter um surto.

O FBI só estava interessado
em saber sobre Joe Cuellar.

Não discutiram outras questões.
O assunto só foi Joe Cuellar.

DIVERSAS PESSOAS ESPECULARAM
QUE CUELLAR TERIA TIDO ENVOLVIMENTO

NA MORTE DE CASOLARO

A Procuradoria-Geral me ligou
alguns meses depois

e disse que tinha concluído
a investigação deles.

Alguns dos agentes não se convenceram
de que o Danny tinha se suicidado.

Eles se baseavam em provas físicas

como principal meio
de determinar a causa da morte.

Por isso, acabaram concluindo
que ele tinha se suicidado.

DANNY CASOLARO COMETEU SUICÍDIO

De alguma forma, eu acredito de verdade
em nosso sistema judicial.

Então, quando o sistema te diz
que alguém parece que se suicidou, ,

a gente pensa: "Deve ser mesmo,
se é o que eles concluíram."

O que aconteceu desde que você voltou
para a cadeia?

Eu fui transportado para Seattle,
para SeaTac,

onde tem um centro de detenção.

E as coisas foram resolvidas, é óbvio,
porque, na minha audiência final,

meu juiz de sentença
decidiu anular a minha sentença,

anular a condicional,
e foi simplesmente assim.

Esse é o resumo da ópera.

O que o FBI afirmou ter acontecido
entre você e o Danny?

Teoria da conspiração.

A posição do governo no meu julgamento
foi que eu passei a perna no Danny.

Quando ele não conseguiu provar
o que eu estava dizendo,

ele ficou tão deprimido
que acabou cometendo suicídio.

Esse foi um dos fatores agravantes
da sentença do meu caso.

Eu teria manipulado essas pessoas,

o que simplesmente não é verdade.

NOVA YORK, NOVA YORK

A versão oficial
sobre o que aconteceu com o Danny

é que ele foi enganado
por pessoas como Michael Riconosciuto

e Robert Booth Nichols.

Os dois o convenceram
de que essa história falsa era verdade.

Não aconteceu nenhum encontro
em Martinsburg,

o Danny estava falido,
investiu muito dinheiro nessa empreitada.

E, quando ele percebeu
que tinham passado a perna nele,

ele acabou tirando a própria vida.

Mas, quando vejo todo o contexto
e tudo o que eu sei desse caso,

eu acho que é bem possível
que ele tenha sido assassinado.

Então como nós podemos resolver um crime
que aconteceu 30 anos atrás?

Há dez anos, eu comecei a entrar
com pedidos com base na LAI.

Pode explicar o que é?

É uma solicitação baseada
na Lei de Acesso à Informação.

É um pedido de arquivos do governo
sobre qualquer investigação que fizeram.

Meu primeiro pedido da LAI
foi à Polícia de Martinsburg.

Eu solicitei arquivos relacionados
ao caso Danny Casolaro.

Mas eles recusaram.

Porque o caso está em sigilo
a pedido do Departamento de Justiça.

Mas, e aí? Como você investiga?

Hoje em dia, costumo sair e me encontrar
com quem possa me dar informações do caso.

- Olá.
- Oi.

Quer bater na porta?

Olá.

Podemos colocar microfone na gente.

Me parece meio coisa de louco
ir até a casa de um mafioso com escuta.

Oi.

Alguma coisa acontecendo?

Como é que é?

Está batendo na porta das pessoas?

Batendo na porta do…

Ele sacou o que está tentando fazer.

Ele não quer saber sobre isso.
Então, por favor, pare de importuná-lo.

Tudo bem, entendi.

Existem documentos em todo o país
de pesquisadores particulares,

detetives particulares

e jornalistas que escreveram
sobre algum tentáculo dessa coisa.

Nós precisamos abrir caminho
pelas catacumbas.

JORNALISTA INVESTIGATIVO

Muito bem, aqui temos um monte de coisas.
Entrevistas com…

Ai, meu Deus… Casolaro.

Hamilton.

- Christian?
- Diga.

É o Michael. Como você anda?

O Michael tem um monte de informações
que ele quer que eu encontre.

Eu quero impedir
que outras pessoas se machuquem.

Entendeu? Não parou
depois de todos esses anos.

Christian, quem fala é Bill Hamilton.

Eu fui atrás de todas as pistas
que o Bill me forneceu.

Tratam-se de informações financeiras
sobre o uso do PROMIS na inteligência.

O Bill tem o que ele chama de fontes
muito bem-posicionadas na inteligência.

Uma das principais fontes

era conhecida como a "garota da Aetna",

uma referência à Aetna Life & Casualty,
o lugar onde ela trabalhava.

Norma DiGiacinto era
uma informante muito confiável, entende?

O marido dela tinha sido
funcionário da CIA anos anteriormente.

VÍNCULOS COM A CIA

Ele disse: "Tem outra aplicação do PROMIS
sobre a qual você não ficou sabendo.

É mais delicada do que todas
que estou autorizado a te contar."

Então eu passei as informações
para o Casolaro.

CONWAY, CAROLINA DO SUL

Acho que o Danny descobriu todo o esquema

e foi morto por conta disso.

Eu sempre quis conversar com essa mulher
porque ela era uma conexão direta

com o lado da CIA.

- Olá.
- Olá.

- Oi.
- No que posso ajudar vocês, rapazes?

Sabe quem é Norma DiGiacinto?

- Não ouvi o que disse.
- Sabe quem é Norma DiGiacinto?

- Olá. A senhora é a Norma?
- Sim, sou eu mesma.

A senhora trabalhava
na Aetna Life & Casualty?

Claro que trabalhei.

É mesmo?

A senhora se lembra de Bill Hamilton?

Me lembro.

EX-GERENTE DO ESCRITÓRIO DA AETNA

Aetna me mandou para uma reunião
de usuários do PROMIS.

Eu fui e conheci o Bill por lá.

E aí eu ouvi a história do Bill.

Não sei bem por quê,
mas eu fiquei impactada, sabe?

Eu disse:
"Posso ver o que consigo descobrir."

A gente sempre pode falar com as pessoas
e ver no que vai dar.

Eu morava pertinho de Washington, D.C.

Então a gente via funcionários do governo
em tudo quanto era canto.

Eu comecei a perguntar por lá, sabe.

Eu consegui algumas informações.

Eu comecei a receber algumas pistas.

Olhe embaixo do limpador de para-brisa.
Talvez tente olhar na mesa.

Alguém passando.

Geralmente costumavam
apenas me apontar uma direção.

Um exemplo: "Submarino.
Por que não verifica os submarinos?"

Ela disse que o primeiro uso do software

é numa aplicação de inteligência

nos submarinos nucleares
dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

Eu fui atrás dessa informação
e contei ao Bill o que eu tinha ouvido.

Qual foi a reação de Bill e Nancy
quando eles souberam de tudo isso?

Bem, os dois ficaram surpresos
com as informações estranhas que dei.

Ela disse que não acreditava
em toda aquela história.

Eles ficaram surpresos com o tanto
de informação que eu conseguia no boliche.

A senhora estava conseguindo
todas essas informações no boliche?

Eu jogava boliche quase quatro noites
por semana, durante dois anos.

Eu dizia aos frequentadores:

"Se alguma pessoa souber de alguma coisa
sobre o software PROMIS,

podem me contar o que ouviram."

Gente aleatória?

Gente aleatória que eu via.

A senhora perguntava às pessoas…
Chegava e perguntava…

Isso, se tinham ouvido alguma coisa
sobre o software PROMIS.

- Nunca ouvi nada parecido com isso.
- Exatamente. Nem o Bill.

Ele ficava me perguntando:
"Quem é que você conhece?"

Eu não conheço ninguém.

Ela disse: "Eu posso te dar
uma ajudinha com a CIA."

O Bill disse que a senhora se relacionava
com uma pessoa da CIA.

Não. Nunca.

A senhora não teve nada a ver com a CIA?

Não. Nada.

O marido dela tinha trabalhado
como oficial de serviços clandestinos

na CIA, anos antes.

- Seu marido da senhora era da CIA?
- Não.

E o que ele fazia da vida?

Ele é mecânico.

PRESIDENTE, INSLAW

O Bill está fora da casinha.

Você concorda comigo?

Então, você não acredita que havia pessoas

que eram simpáticas à causa,
tinham informações em primeira mão

e estavam repassando
essas informações para ela?

- Em um boliche?
- Pois é.

- Ao longo de quatro anos?
- Pois é.

Nós temos que falar com ele
sobre esse assunto.

BILL HAMILTON CELULAR
CHAMANDO…

Oi, Bill, quem fala é o Christian.

Eu estou te ligando porque tenho
algumas perguntas para fazer.

Me retorne assim que você puder.
Obrigado mesmo. Tchau.

Talvez o Bill tenha ouvido
o que queria ouvir e acreditou.

A gente tinha informações
de fontes secretas da inteligência.

Esse é Michael Riconosciuto.

Nós recebemos cópias do próprio software,

assim como a documentação.

E, com o Michael,
nunca dá pra saber é verdade ou não é.

Eu tive que entrar no software
e fazer uma lista de todos os códigos.

Ele realmente esteve na Cabazon,
trabalhando com John Philip Nichols.

É uma história muito louca, mas, tipo,

isso é só uma pequena demonstração
das histórias que ele conta.

Existe uma categoria de pessoas
que alguns chamam de web spinners.

O Riconosciuto se encaixa em um padrão
que costuma contar histórias às pessoas

que são apenas parcialmente verdadeiras,

que confundem, no máximo.

Pra começar,
o envolvimento na Surpresa de Outubro.

Então, quem estava envolvido
na distribuição desse software

também estava envolvido
em operações secretas…

Uma das estratégias conhecidas
de um serviço de inteligência

é ter várias camadas de mito

que têm a função de proteger
alguma verdade que possa estar por baixo.

CORPORAÇÃO WACKENHUT

Dessa forma, criamos a confusão.

E a confusão tem um propósito definido,

porque ela cria dúvida
e, para terminar, paralisia.

Algumas pessoas acabam
sendo sugadas por isso.

Elas acreditam que acharam a resposta,
que descobriram a verdade.

Mas, infelizmente, é uma coisa
que não costuma acontecer com frequência.

Onde descobriu essa informação?
Você tem uma fonte confiável?

Tenho.

DEPOIS DE REPETIDOS PEDIDOS,

BILL HAMILTON SE RECUSOU A SER
ENTREVISTADO PARA ESTE DOCUMENTÁRIO

A questão que está ficando bem clara
na minha cabeça

é que toda essa história,
tipo, todas essas pessoas…

são simplesmente doidas.

Meu Deus!

Puxa, mas que tristeza!

É um negócio triste e fodido pra caralho.

Meu Deus…

DEPARTAMENTO DO XERIFE
CONDADO DE PIERCE

Sabe, talvez o Danny tenha ficado
completamente confuso e perdido.

Sei de uma pessoa que estava
naquele quarto de hotel

e poderia ter matado o Danny.

Quem é?

O próprio Danny.

Ele é a única pessoa
que eu sei que estava lá.

É meio difícil de entender porque…

o Danny estava certo sobre muitas coisas.

Por exemplo, olhe o John Philip Nichols.

John Philip Nichols,

o forasteiro que estabeleceu
a operação de jogo ilegal na Cabazon,

foi condenado por ter sido o mandante
de cinco homicídios tentados

quatro anos depois da morte de Fred.

O Dr. Nichols foi pra cadeia por conspirar
para cometer homicídio.

E é um caso totalmente diferente,
pessoas bem diferentes.

Mas isso não deu credibilidade ou peso
aos homicídios de Fred Alvarez.

Por mais que, depois dos assassinatos,

Jimmy Hughes, o chefe de segurança
dos empreendimentos Cabazon,

tenha entrado na promotoria e dito:

"O Dr. Nichols me disse
que ele mandou matar Fred Alvarez.

Ele me deu um envelope
com cinco mil dólares."

Jimmy Hughes afirma que fez
um pagamento a John Nichols

para pagar pela morte de Alvarez.

Nichols disse que foi uma ação autorizada,
apoiada e secreta do governo.

Depois de tudo isso
que aconteceu nos anos 1980,

ele fugiu para Honduras
e se tornou ministro.

Então peguei toda a minha investigação,

e as autoridades emitiram um mandado
para Jimmy Hughes.

E prendemos Jimmy no aeroporto.

Ele foi mandado para a prisão.

Um dia recebi um telefonema,
e o procurador-geral adjunto disse:

"Nós vamos arquivar o caso
e liberar Jimmy Hughes."

A justificativa
que ele deu no tribunal foi a seguinte:

"Depois de conseguirmos mais provas,

não temos mais confiança

de que sermos capazes
de julgar o caso com sucesso."

Eu discordo da decisão que tomaram hoje,
de arquivar o caso.

Era novidade para mim.
Sou o investigador-chefe.

Ninguém me falou de novas provas
ou informações que levariam a isso.

CASO ARQUIVADO

A pergunta que não queria calar era:
quem estava orquestrando tudo aquilo?

Porque algum superior
em algum lugar estava mandando,

e eu nunca consegui descobrir
quem era essa pessoa.

Ninguém conseguiu me dizer.

E, quatro anos depois da morte de Danny,
prenderam o Mike Abbell.

Um ex-oficial do Departamento de Justiça
que declarou guerra

contra o cartel colombiano

foi indiciado hoje
como membro da organização.

Ele lavava dinheiro para o Cartel de Cali.

Ele é acusado de obstrução de justiça
e lavagem de dinheiro.

ELE LAVOU O DINHEIRO DO CARTEL

E aí, a gente tem Robert Booth Nichols
envolvido em um grande esquema de pirâmide

junto com um cara de Wall Street
chamado Sam Israel.

Ações alegam que Israel pagou US$ 10 mi
para Nichols localizar algo valioso.

O senhor recebeu cerca de US$ 10 milhões
de Israel em julho de 2004, correto?

Correto.

Tratava-se uma nota do tesouro
no valor de US$ 250 bilhões.

Ele foi dar aquele depoimento

e morreu dois meses depois.

Certo dia,
recebi um telefonema de Nova York.

Fiquei sabendo que ele tinha morrido
de ataque cardíaco na Suíça.

Eu perguntei: "É isso mesmo?"

Eu disse: "E o corpo?"
"Foi cremado", me responderam.

Eu perguntei:
"Quando foi? Na mesma noite?"

Me perguntaram: "Como adivinhou?"
Eu disse: "Só estou seguindo a mentira."

Ele ainda está vivo.

Onde ele está?

Eu sei onde ele está, mas não quero dizer.
Sabe como é.

Ele está no país ou…

Não, claro que não está.

Embora ele já tenha voltado
aos Estados Unidos..

Quando comecei essa investigação,

eu tinha 25 anos.

Eu não me importava muito com política

e não me importava nem um pouco
com teorias da conspiração.

Mas tudo isso me fez mudar.

Também mudou a forma
como eu enxergo a realidade,

como eu enxergo o mundo e a História.

Eu sou uma pessoa muito mais cética
em relação a tudo na vida.

Isso está acontecendo na superfície,
mas e por baixo dos panos?

Você acaba mudando pra sempre.

Não dá pra gente saber de tudo isso
e depois guardar numa caixinha.

Uma coisa assim acaba contagiando
o jeito como você pensa.

É como se o monstro embaixo da cama
não fosse mais uma invenção.

Saber que ele existe muda
como você dorme à noite.

Então, sim,

acho que era importante, mesmo assim.

Sabe, se o Danny fez a escolha
de acabar com a vida dele daquele jeito,

não acho que isso simplesmente anule
tudo que o Danny descobriu

ou que eu descobri depois.

É só diferente.

E não tem problema algum.

É assim que as coisas funcionam.

Alô?

Zachary Treitz, por favor.

Sim.

Eu recebi uma mensagem hoje
do chefe Swartwood.

Era sobre o relatório Casolaro.

VOZ DE KIN SAYRE

Ele indica que tem um pedido da LAI aí?

Então, me disseram que vocês têm tudo
guardado no armário de provas.

É a isso que gostaríamos de ter acesso.

O chefe de polícia juntou todas as coisas,

guardou-as e disse
que era para nós não divulgarmos.

Trata-se de um caso de 30 anos atrás…

Um caso que está encerrado.

É um caso encerrado,
então não tem nada realmente confidencial

ou informações privilegiadas.

Por isso, eu acho que a cidade
é obrigada a disponibilizar.

É o governo a serviço do cidadão.

MARTINSBURG, VIRGÍNIA OCIDENTAL

Christian, se lembra de quando você abriu
esse pedido da LAI originalmente?

Há quanto tempo fez isso?

Eu acredito que foi em 2013.

CIDADE DE MARTINSBURG
VIRGÍNIA OCIDENTAL

Olá?

Então, vamos para a sala número 3.

Vocês são as primeiras pessoas
em mais ou menos 20 anos

a abrir a caixa.

Esses são os arquivos em papel.

Não existem bitucas de cigarro,
nenhuma prova física.

Isso é tudo que temos.

São relatórios escritos por policiais.

Aqui temos o bilhete.

A MEUS AMADOS

Temos um relatório do médico legista.

Aqui são registros telefônicos.

Tem muita coisa aqui. Meu Deus…

Eu nunca vi isso.

Merda.

Está é uma lista de coisas que ele tinha.

Jesus…

Meu Deus…

Aqui temos depoimentos de testemunhas.

O que é esse desenho? Um retrato falado?

"Contatei Kim Waters na casa dela.

Eu marquei um encontro com ela
no meu gabinete no dia seguinte

para completar um retrato falado
de quem ela alega ter visto com Casolaro

no Sheraton na quinta-feira."

Eita.

A polícia disse que o Danny
não viu nenhuma pessoa o tempo todo.

CABELO: PRETO

COMPLEIÇÃO FÍSICA: MÉDIA

"Prezado senhor,

esta é a carta que solicitou
da nossa conversa telefônica.

Nós chegamos dia 9 de abril,
às 18h, quarto 515.

Mais tarde da noite,

eu vi um senhor entrando,
com chave, no quarto 517.

Caucasiano, entre 1,75m e 1,80m de altura,
e também tinha cabelo escuro."

- Que estranho!
- O que foi?

O Danny tinha cabelo loiro.
Estava quase ficando grisalho.

Sim, e o que quer dizer?

Quer dizer…

que mais alguém tinha
a chave do quarto dele?

É possível? Ou será que talvez ele…

- Isso estava no relatório do FBI?
- Não estava.

Nem em nenhuma reportagem.

É uma coisa estranha de esconder.
Ou de passar despercebida.

CORDIALMENTE,
MARY LEHNERT

A senhora pode ler a última parte
que sua mãe escreveu?

"Ele usava bermuda azul-escura,
camisa branca,

e tinha cabelo escuro.

Eu não vi o rosto dele
porque ele estava de costas para mim.

Na quinta-feira, dia 15 de agosto,
no Ten O'Clock News, Filadélfia…"

Sou Peter Ford.

"…nós vimos uma foto do Sr. Casolaro
pela primeira vez."

Será que o repórter Danny Casolaro
foi morto porque sabia demais?

"Não era o homem que eu e Sr. Springfield
vimos no corredor sexta à noite.

Nós nunca mais vimos
o Sr. Casolaro e o outro senhor.

Cordialmente, Mary Lehnert."

Minha mãe ficou hospedada no quarto
ao lado do Sr. Casolaro naqueles dias.

Ela disse à polícia
que viu um homem entrando no quarto,

mas não se tratava da mesma pessoa
que estava no jornal.

A polícia pediu
que ela escrevesse uma carta,

e ela colocou uma descrição
do homem que viu nesse relato.

E o que aconteceu depois?

Nada.

Nada.

- Eles não…
- Ninguém nunca…

Ela escreveu uma carta,
e nada mais que isso.

Nós nunca mais soubemos de nada.

É, sei lá.

Será que é o Joe?

Ou é um retrato vago o bastante
para parecer com qualquer pessoa?

Sabe? É um retrato falado…

Não sei, mas o que é estranho
é que Cuellar tem dois álibis diferentes.

Na investigação inicial do FBI
da morte do Danny…

ELE FOI PARA O PANAMÁ

…o Cuellar relatou ao FBI
que se encontrava no Panamá.

E, no relatório
que esses agentes produziram,

diz que ele estava em Washington
quando o Danny morreu.

CUELLAR ESTAVA EM WASHINGTON, D.C.

Nunca me pareceu um álibi legítimo,

porque Washington, D.C.
e Martinsburg são muito próximas.

A distância é só de uma hora e meia.

O Danny morreu na manhã de 10 de agosto,
de acordo com o instituto médico-legal.

Daria tranquilamente para matar o Danny
e depois dirigir até a capital.

Quando passou da declaração inicial
de Cuellar para o relatório,

mudou.

Drasticamente.

- Alô?
- Christian?

Oi, como você está?

Jeff Cuellar. Como você está?

Ótimo. E você?

- Boa sexta-feira.
- Boa sexta-feira.

Então, seu pai
parece uma pessoa interessante,

e seria útil saber
um pouco mais sobre ele.

Olha, contanto que a gente fale
coisas boas a respeito dele…

Sim.

Ele com certeza é…

Sabe, eu diria que ele é um herói.

Algumas táticas dele
podem ser questionáveis,

mas ele sempre trabalhou
em prol do governo dos Estados Unidos,

seja durante o período
em que ele trabalhou com a CIA,

Forças Especiais…

JEFF CUELLAR CELULAR

Ele era um indivíduo muito carismático
e se misturava facilmente.

Ele era extremamente atlético,
boxeador Golden Glove,

paraquedista.

Ele falava 26 idiomas
em algum momento da vida dele.

Muitas missões dele foram
na América do Sul e no Oriente Médio.

Não era à toa
que o Danny era tão fascinado por ele.

Pois é.

Eles se conheceram por acaso

num bar na Virgínia
chamado The Sign of the Whale.

O rapaz estava escrevendo um livro
sobre um escândalo político em Washington,

e a reação do seu pai foi:
"Sei tudo sobre isso."

Olha, acho que uma coisa
com que se deve ter cuidado é

a questão de o meu pai trabalhar
com contrainteligência

e ter lá suas competências.

Chamavam de guerra psicológica.

Era a especialidade dele.

Ele… O escritor pode ter sido enganado.

Pode ter sido o quê?

Enganado.
Ninguém sabe quem era o alvo dele.

Parte da especialidade dele

era conseguir se infiltrar,

recolher informações,

descobrir o que alguém sabe
e o que não sabe.

Olá.

Oi, Zachary.
É o Scott Erskine. Tudo bem com você?

- Tudo bem?
- Tudo.

EX-AGENTE ESPECIAL DO FBI

Eu estou trabalhando na história
de Danny Casolaro.

FEZ O RELATÓRIO DO DEP. DE JUSTIÇA
SOBRE DANNY CASOLARO

- Sim.
- Certo.

Eu sei que houve teorias de conspiração.

Mas, depois de entrevistar
todas as pessoas a que tivemos acesso,

nós chegamos à conclusão definitiva
de que ele se suicidou.

- Não foi assassinato.
- Certo.

E, não querendo falar mal do Danny,

mas ele parecia se misturar
com vários indivíduos

que estavam envolvidos em conspirações

ou que gostavam
de se envolver em conspirações.

É por isso que nos esforçamos
para chegar à verdade real do assunto.

Certo. Eu ia te perguntar
sobre algumas coisas específicas

que eu estava analisando.

Você se lembra de um cara
chamado Joseph Cuellar?

- Conhece esse nome?
- Conheço.

- Cuellar?
- Sim.

Eu falei com a mulher que estava lá no bar
quando Danny o conheceu e…

- Zachary, posso te retornar?
- Claro.

Certo, já volto.

É a NSA do caralho ligando
para mandá-lo ficar de bico fechado.

ELE NUNCA RETORNOU NOSSAS LIGAÇÕES

Eu sei que Joe Cuellar
mentiu às autoridades

onde estava na hora da morte de Danny.

Sei que Joseph Cuellar
e Robert Booth Nichols

também mentiram sobre a natureza
da relação deles com o Danny.

No entanto, por alguma razão,

eu acho que os investigadores
não os levaram a sério o suficiente

para tentar descobrir
o que estava acontecendo com eles.

Mas, por outro lado, se eles sabiam
o que realmente estava acontecendo,

estavam encobrindo de forma ativa.

E, se for o caso,
o trabalho deles é garantir que eu

ou qualquer outra pessoa
não descubra o motivo.

Não encontre as respostas.

Quando a gente começa a jogar,

a história é sempre a mesma.

A pessoa não quer
sair do tabuleiro até ganhar.

Acho que tenho todo o material necessário
para conseguir terminar o livro do Danny.

E seguir em frente.

Eu fui atrás de toda pista
que consegui encontrar.

Terminei com Bill, terminei com Michael.
Só preciso terminar essa coisa.

Me lembro de tudo isso como:
"O Christian está mesmo enlouquecendo?"

Se lembra quando isso aconteceu?

Lembro, acho que passou
pela cabeça de todo mundo.

É.

Eu comecei a mostrar a ela
um gráfico que fiz

de intrigas. Foi de…

Ele começava com Enron aqui e…

A pessoa tem que tomar uma decisão,
e eu tomei a minha.

Eu escolhi entre descobrir
o segredo de tudo,

o que percebi que nunca conseguiria,

e ser feliz e me divertir.

Vai voltar à sua vida normal e chata

e curtir as pequenas coisas como filmes

e, sei lá, churrascos

em vez de telefonemas do submundo?

Vai se desprogramar

e voltar a ser uma pessoa comum?

Ele não deixava o David pôr a roupa suja…

Depois que tudo chega ao fim,

a gente passa por uma abstinência.

E uma tentação

de voltar ao caos.

Oi. Michael?

- Como você está?
- Bem, e você?

Não estou nada bem.

O que está havendo?

Não quero falar desse assunto
por telefone.

Com toda a empolgação de…

"Fulano foi assassinado",
"Beltrano foi preso", e tudo mais.

Eu estou tentando ir até Maricopa

e, se eu conseguir,

gostaria que fosse me encontrar lá.

Os que ainda estão envolvidos
nunca largam o osso.

Eles nunca desprogramaram.

É uma escolha.
É uma escolha pessoal de cada pessoa.

É loucura, beleza?

Que loucura? O que está havendo?

Pessoas estão sendo assassinadas!

Está bem? Beleza?
Quero te mostrar a prova.

- Beleza.
- Preciso de ajuda! Pessoas morreram.

Certo.

O que vamos fazer?

Juntei todas as peças.

Eu só preciso que me ajudem
com algumas questões.

Estão com a câmera ligada?

- Sim.
- Não. Não…

- Está falando coisas vagas.
- Não. Quero que desligue a câmera.

Eu quero ver
o que vocês conseguem tirar disso,

das pistas que eu der para vocês.

E, quando finalizarem o documentário,

vou contar o que aconteceu
de verdade, certo?

Porque nunca daria
pra pôr num documentário.

Vão entender por quê.

E o que vou pôr no documentário?

As pistas, o que aconteceu.

As outras coisas,
você levaria um tiro das…

De quem?

Das mesmas pessoas que mataram o Danny.

Legendas: Gabriel Ponomarenko