All language subtitles for Los Angeles Plays Itself.2003.720p.BluRay.AVC-MKO

Essa � a cidade:
Los Angeles, Calif�rnia.

Eles fazem filmes aqui.

� onde eu vivo.

O que pode me permitir criticar como os
filmes descrevem a minha cidade.

N�o � tarefa f�cil.
A cidade � grande.

A vista � limitada.

Os filmes s�o verticais.
Ao menos quando projetados.

A cidade � horizontal, exceto pelo o
que chamamos de "centro da cidade".

Talvez por isso os filmes adoram
o centro mais do que n�s.

Quando n�o escolhem filmar l�,

tentam enquadrar os
arranha-c�us como fundo.

Mas os filmes tem vantagens sobre n�s.

Eles podem voar no c�u.
N�s ficamos limitados ao solo.

Eles habitam o espa�o.

N�s somos limitados ao tempo.

Ent�o por que devo ser generoso?

Claro que os filmes n�o retratam
os lugares, mas hist�rias.

Se olharmos para a loca��o,
estamos perdendo o filme.

Por isso o frontal � importante.

Os filmes escondem os seus tra�os,
escolhendo por n�s o que olhar,

at� trocar de assunto.

Eles assumem nossa aten��o volunt�ria,

algo que devemos abandonar ao assistir.

Nossa aten��o involunt�ria
� que deve vir � tona.

E se assistirmos de forma volunt�ria,
ao inv�s de nos deixar guiar?

Se podemos reconhecer as qualidades
dram�ticas em document�rios,

talvez tamb�m seja poss�vel apreciar
as revela��es documentais nas fic��es.

E se o suspense n�o passa
de um efeito alienante.

N�o foi o que Hitchcock nos ensinou?

Para ele, o suspense era uma forma
de dinamizar seus trajetos tur�sticos.

Ent�o eu posso achar outro meio de animar
ao contr�rio essa sinfonia da cidade.

Talvez esse esfor�o de ver como
os filmes retratam Los Angeles

seja mais do que algo
insensato ou de m� f�.

Los Angeles, eles dizem, � a cidade
mais fotografada do mundo.

Se der uma boa volta,

ir� notar as misteriosas placas tempor�rias
que guiam as equipes de produ��o.

Se caminhar pelos bairros corretos,
ver� a longa fila de caminh�es brancos,

que marcam e cercam
o local de filmagem.

Los Angeles � onde realidade
e representa��o se confundem.

2 ASSASSINOS SUSPEITOS COMO
NO FILME EM QUE PRODUZIRAM

Seu filme � sobre a morte
de um magnata de boate.

Seis anos antes, o produtor e a
atriz planejaram o assassinato

do real dono da boate onde o filme foi
rodado e assumiram o seu imp�rio.

Eles ficaram ricos com a boate,
mas o filme fracassou.

Uma grava��o real pode criar um
melhor espet�culo ao p�blico

do que uma visita
guiada ao est�dio.

Em uma cidade onde poucos
edif�cios tem mais de cem anos,

onde a maioria de seus tra�os
originais foram apagados,

um lugar pode se tornar hist�rico
por ter sido local de filmagem.

Assim ocorre com as pessoas,
e tamb�m com os lugares.

Participar dos filmes torna-se
o verdadeiro sucesso.

Atores ganham retratos,

edif�cios ganham
fotos arquitet�nicas.

Placas e letreiros marcam os
antigos est�dios de grava��o.

Ruas e parques ganham nomes
de estrelas de cinema.

E at� de roteiristas.

Um pequeno busto perto
do Planet�rio Griffith Park

marca o local onde James Dean atuou
como um rebelde sem causa.

A inscri��o alega que
Dean n�o era um rebelde:

Foram apenas interpreta��es.

Mas ele n�o era mais rebelde
na vida do que nos filmes?

Onde ele sempre interpretou
�dipos submissos,

tentando n�o matar, mas
agradar seu pai imperfeito,

sempre muito severo...

ou muito ameno?

Uma estreita escada urbana entre as ruas
Vendome e Descanso em Silver Lake,

foi batizada como "The Music Box"...

ap�s o cl�ssico com Laurel e Hardy,
filmado em 1932.

Alguns edif�cios que parecem funcionar,
s�o locais permanentes de filmagem

Um McDonald's em City of Industry
nunca abriu ao p�blico.

Aqui os atores s�o pagos para serem
vistos comendo seus Big Macs.

Um albergue na esquina da avenida Q
com a 145, em Palmdale,

nunca acolheu um cliente real,

mas aparece como destaque
em 'Swordfish' e 'Brother'.

E outras constru��es que perderam o uso,
ainda servem para filmagem,

Como o Hotel Ambassador,

famoso desde 1968, onde Sirhan Sirhan
assassinou Robert Kennedy.

�s vezes funciona de forma inversa:

Uma constru��o feita para ser filmada,
permanece no tempo.

A casa dos sonhos do Sr. Blandings,

com local fict�cio em Connecticut,

foi mantida como um pr�dio administrativo
em Malibu Creek State Park.

Los Angeles pode ser a cidade mais fotografada,
mas � uma das menos fotog�nicas.

Nenhuma Paris ou Nova Iorque.

Em Nova Iorque,
tudo � n�tido e focado,

como se visto por uma
lente grande angular.

Em cidades nebulosas
como Los Angeles,

tudo se dissolve na dist�ncia,

e mesmo o que est� perto
parece distante.

Nova Iorque parece imediatamente
acess�vel � c�mera.

Qualquer imagem em
qualquer canto da cidade

� imediatamente reconhecida
como parte de Nova Iorque.

Los Angeles � dif�cil de reconhecer,

talvez devido aos
espa�os p�blicos originais

estarem em boa parte ocupados pelos
espa�os semiprivados dos ve�culos.

� evasivo, al�m do alcance
de uma imagem.

N�o � como uma cidade que
se espalha para fora do n�cleo,

� medida que os ve�culos
substituem os pedestres.

Mas uma s�rie de aldeias que cresceram juntas,
conectadas por ferrovias e estradas.

As aldeias se tornaram bairros
e seus limites se confundiram,

mas permanecem prov�ncias separadas,

unidas principalmente pela m�tua
hostilidade e desd�m pelo Centro Hist�rico.

Talvez por isso os filmes deram as costas
para a origem da cidade, desde o in�cio.

Alegam ter vindo de Hollywood,
e n�o de Los Angeles,

apesar dos primeiros est�dios do sul da
Calif�rnia nem serem em Hollywood,

mas em outro sub�rbio com
um nome ainda mais id�lico:

Edendale...

A norte de Echo Park Lake, onde Jake Gittes
espiaria Hollis Mulwray em 'Chinatown'.

Mack Sennett teve um est�dio l�,
e quando o lago foi drenado em 1913,

ele improvisou um filme sobre isso.

Os filmes foram para o oeste,
e Edendale n�o existe mais.

Ficou perdido entre
Echo Park e Silver Lake.

Os filmes alegam ter
vindo de Hollywood,

mesmo havendo mais
est�dios em Culver City,

um dos pequenos munic�pios independentes
escondidos a oeste de Los Angeles.

Na era de ouro da com�dia, quando precisavam
de uma loca��o urbana, era em Culver City.

Mas Culver City s� era "O cora��o dos filmes"
aos olhos de seus cidad�os.

A grande fama de Hollywood
os frustrou tanto,

que certa vez propuseram
se apropriar do nome.

Culver City teria o nome Hollywood.

Por que n�o?

Afinal Hollywood
n�o � apenas um lugar,

mas uma meton�mia para a pr�pria
ind�stria cinematogr�fica.

Mas, se como eu, identifica-se mais
com a cidade de Los Angeles

do que com a
ind�stria cinematogr�fica,

� f�cil lamentar a
ideia de Hollywood,

a ideia de que os filmes s�o
separados e acima das cidades.

As pessoas culpam os
filmes por v�rias coisas.

Para mim, a pior � o abandono
de sua cidade natal.

Posso estar errado, mas eu os culpo
pela abrevia��o do nome para L.A.

Preciso encontrar algu�m em L.A.

Talvez nem esteja em L.A.

Para onde estamos indo?

Los Angeles.

L.A.?

L.A. � suficiente para mim.

Voc�s n�o podem fazer isso.
Aqui � a Am�rica.

Aqui n�o � a Am�rica Jack...

Aqui � L.A.

L.A. foi a capital criminosa dos EUA.

Ol�, L.A!

Ol�, Plissken.

Bem-vindo � L.A!

O acr�nimo aqui funciona quase
como um diminutivo pejorativo.

Agora se tornou algo espont�neo,
at� para quem vive aqui.

Talvez aderimos a isso como uma forma
de se proteger do desd�m impl�cito,

mas � algo que
ainda me incomoda.

Apenas uma cidade com complexo
de inferioridade permitiria isso.

Quando dizem "L.A.", geralmente
significa "show business."

Sou uma atriz...

J� assistiu 'Massacre in Blood City'?

Essa � outra suposi��o dos filmes:

Que todos em Los Angeles s�o ou
querem fazer parte da "ind�stria".

Na verdade, apenas 1/4 dos moradores
trabalha na ind�stria do entretenimento.

Os outros simplesmente
n�o existem.

Podemos at� questionar se os filmes
j� retrataram de fato Los Angeles.

A CIDADE COMO PANO DE FUNDO

Inicialmente, Los Angeles era
apenas um destino, n�o um local.

Visitados pelos personagens,
que n�o viviam aqui.

Estamos mesmo nos EUA?

Eu acho que � Los Angeles.

Era um balne�rio, n�o uma cidade.

Quando suas ruas e pr�dios
apareciam nos filmes,

eram apenas cen�rios an�nimos.

Ningu�m a chamava
de capital do Pac�fico

ou atentava como se equiparava
�s grandes cidades do mundo.

A geografia variada
e arquitetura ecl�tica

permitia � Los Angeles e seus arredores,
retratar quase todos os lugares.

O Lago Arrowhead,
a 124 km do Centro de Los Angeles,

podia retratar a Su��a.

E Calabasas no Vale de S�o Fernando
seria o vale de Ling na China,

ap�s a MGM escavar alguns arrozais.

Quase sempre Los Angeles
retratava outra cidade...

O apogeu de Sinclair Lewis
em Babbitt.

Chicago em 'The Public Enemy'.

Pode me deixar aqui.
Encontrarei alguns amigos.

Jimmy Cagney deixa Jean Harlow em
frente � nova loja de Bullock Wilshire.

Nosso Art D�co Cathedral of Commerce
abriu em setembro de 1929,

17 meses antes da filmagem
de 'The Public Enemy'.

Foi um novo tipo
de estabelecimento,

nos sub�rbios para o
com�rcio de autom�veis.

Apenas moradores locais reconheceriam
esse marco de Los Angeles,

mas ao rodarem sem rumo em torno
do chamado distrito de Wilshire Center,

qualquer um que conhe�a Chicago poder�
achar a paisagem estranhamente rural.

� de Chicago?

N�o exatamente. Venho do Texas.

Em 'The Street with No Name',
Los Angeles retratou Center City.

Repetidamente, exerceu um
papel de cidade an�nima.

Seus marcos s�o t�o obscuros que
podem ser usados v�rias vezes.

O mais conhecido deles � o Pr�dio Bradbury
na Terceira com a Broadway, datado em 1893.

Foi descoberto pela historiadora de
arquitetura Esther McCoy em 1953.

Ela alegou que o arquiteto
George Herbert Wyman

se inspirou na vis�o ut�pica de arquitetura
socialista de Edward Bellamy em 2000:

Um amplo sal�o de luz,

iluminado n�o s� pelas janelas,
mas pelo domo.

Mas os filmes descobriram esse
lugar antes dos historiadores.

A primeira apari��o foi em 1943.

Em 'China Girl', retratou o Hotel Royale,
em Mandalay, Birm�nia.

No ano seguinte, em
'The White Cliffs of Dover',

serviu de hospital militar em Londres
carregado de feridos.

Sua primeira presen�a
memor�vel foi em 'D.O.A.':

Envenenado por uma toxina que caiu
em seu drinque num clube de jazz,

Frank Bigelow tem apenas um dia para
achar seu assassino antes de morrer,

e o encontra na Companhia
Exportadora Philips...

sala 427.

O Pr�dio Bradbury foi novamente palco de uma
vingan�a bizarra em 'Indestructible Man'.

Dessa vez, um prisioneiro
executado, volta � vida

adquirindo superpoderes em um
experimento cient�fico descontrolado,

e ca�a os tr�s respons�veis
pela sua morte.

Em 'Marlowe',
o estrago foi menos fatal.

Aqui o Pr�dio Bradbury abriga
o escrit�rio de Philip Marlowe,

que Raymond Chandler moveu para um
pr�dio velho em Hollywood Boulevard.

Sr. Marlowe?

Sim.

Como posso ajud�-lo?

O Pr�dio Bradbury se tornou apenas
mais um clich� em um filme de clich�s.

O filme mais misantropo de Marlowe.

O roteirista Hampton Fancher
e diretor Ridley Scott

se negaram a usar o Pr�dio
Bradbury em 'Blade Runner'.

Fancher disse que era muito
conhecido, ultrapassado.

Scott respondeu:
"N�o da forma que eu farei."

Ele deu um novo aspecto ao pr�dio
atrav�s do uso de montagens,

e transformou o �trio interior
em uma pitoresca ru�na.

Ap�s uma longa e atrasada restaura��o
nos anos 90, ele ficou valorizado.

Em 'Murder in the First',
um filme de �poca filmado em 1941,

abrigou os escrit�rios do famoso
advogado de S�o Francisco.

E em 'Wolf', uma importante
editora de Nova Iorque.

Agora parece ter achado um uso
compat�vel com sua carreira nos filmes.

DEPARTAMENTO DE POL�CIA DE LOS ANGELES
CORREGEDORIA

Outra loca��o de Blade Runner,
a casa Ennis de Frank Lloyd Wright,

tem uma carreira ainda maior nos filmes.

A casa mais maci�a desse per�odo, Wright a
projetou em volta de Los Angeles nos anos 1920.

Sua primeira apari��o
nos filmes foi em 1933

como a casa de uma
magnata dos autom�veis.

Os interiores foram feitos em est�dio,
t�pico do Art D�co na Warner Bros,

e tamb�m alguns exteriores.

Wright se negou a fazer piscina.

William Castle a redescobriu em 1958,
logo ap�s a morte de Wright.

Vincent Price ofereceu o pr�mio de
$10,000 para cinco pessoas

se conseguissem pernoitar na
centen�ria casa mal-assombrada.

Novamente, os interiores
n�o foram os de Wright.

Em 1968 Gus Brown comprou
e restaurou a casa Ennis.

Para ajudar nas despesas,
ele a promoveu como local de filmagem,

n�o apenas para filmes e programas de TV,
mas tamb�m comerciais e clipes.

Blade Runner foi
a mais bem sucedida,

mas meu favorito � em 'A Passion to Kill',
um Neo-noir de baixo or�amento.

Serve de cl�nica psiquiatra onde um
paciente seduz sua terapeuta.

Mas o diretor Rick King permite
que a arquitetura roube a cena.

A casa Ennis parece
transcender o tempo e espa�o.

Pode se situar hipoteticamente
em Washington...

...ou Osaka.

Pode servir como uma
casa ancestral...

uma casa mal-assombrada
do s�culo 19...

uma mans�o contempor�nea...

um apartamento do s�culo 21...

ou um laborat�rio cient�fico do s�culo 26,
onde Klaus Kinski inventa a viagem no tempo.

Eu dei o meu sangue por isso...

E agora o tem...
Bem na palma da minha m�o!

Tempo!

Podemos voltar ao passado
e alter�-lo como quisermos.

A Union Station � um marco
mais reconhec�vel.

Como a principal entrada de
Los Angeles nos anos 40 e 50,

tem servido de loca��o
para v�rios filmes,

e um lugar favorito para
filmes de sequestros.

Ei, senhora.

Voc� roubou isso.

Sabe o que � isso?

- � um jogo.
- N�o � um jogo, apenas ande.

- Por qu�?
- Se n�o eu explodo sua cabe�a.

Atrav�s de seus corredores e do grande
sal�o, j� passaram gangsteres...

traficantes de drogas...

protestantes pol�ticos...

An�es...

at� mesmo um alien�gena
disfar�ado de maquinista.

Mesmo assim, a Union Station
ainda n�o atuou como si mesma.

Durante seus per�odos de
esquecimento no in�cio dos anos 80,

antes de ressurgir como um
centro ferrovi�rio interurbano,

foi uma delegacia de pol�cia
em Blade Runner.

No filme de 1950, 'Union Station',
o �nico em que � retratada,

n�o se localizava em Los Angeles.

Na verdade, nunca teve
uma loca��o exata.

A esta��o serve apenas de
passagem para Westhampton,

que se localiza em Nova Iorque...

ainda que um dos vil�es
pegue um trem elevado,

sugerindo Chicago.

A pol�cia o persegue
entre os currais.

S� pode ser Chicago.

Mas e essas palmeiras?

Em 'Replacement Killers',

Union Station encenou o Aeroporto
Internacional de Los Angeles, LAX.

Nosso aeroporto �
certamente substitu�vel.

O melhor que podem dizer �
que se parece com os outros,

talvez um pouco pior.

O terminal ferrovi�rio foi projetado
como um espa�o p�blico.

O aeroporto foi projetado
para controle de multid�es.

Tem sido uma loca��o inevit�vel e sem
inspira��o para filmes em Los Angeles,

mas alguns diretores
tentaram animar o terminal.

Clint Eastwood locou
'The Rookie' em Los Angeles,

mas ele filmou a en�rgica persegui��o
no terminal no Aeroporto de San Jose.

Em 'Why Do Fools Fall in Love',

o restaurante tem�tico no meio
do estacionamento do aeroporto,

projetado como uma
torre de controle,

retratou um terminal de passageiros.

� claro que os filmes
mentem sobre Los Angeles,

mas �s vezes nos fazem desejar
que a cidade seja como mostram.

Em 'Miracle Mile',

a cafeteria de Johnie na
Wilshire com Fairfax...

tem um fant�stico letreiro girat�rio,
e fica aberto toda a noite.

Quando o filme foi gravado,
n�o havia um letreiro girat�rio,

e fechava antes do jantar.

Agora est� fechado
completamente.

Outras mentiras s�o favor�veis.

Ag�ncias governamentais
�s vezes t�m nomes fict�cios.

Dra. Stevens, conhe�a o Agente Especial Pomeroy
do "National Bureau of Investigation".

N.B.I.?

Voc� n�o se parece com N.B.I.,
Sr. Pomeroy.

E voc� n�o se parece
com um m�dico, doutora.

Pessoas com falsos endere�os.

Stark, Jim Stark. Aqui est�,
1753 Angelo.

Ou telefones falsos.

Lexington 0-5-5-4-9.

- Qual o n�mero?
- 5-5-5-7-6-0-5

5-5-5-4-4-8-7

5-5-5-6-9-6-9

Escreva o meu n�mero:
5-5-5-6-3-2-1

Espere um pouco,

5-5-5 n�o existe.
Eles s� usam nos filmes.

Jura, querida? O que voc�
acha que isso �? A vida real?

Outras mentiras s�o irritantes.

Algu�m que s� conhece
Los Angeles pelos filmes,

vai achar que todos os trabalhadores
moram nas colinas ou � beira-mar.

A triste plan�cie entre eles,

� uma prov�ncia exclusiva
para os prolet�rios.

E quase todos vivem pr�ximo
a uma refinaria de petr�leo.

E ao morrerem, descansar�o perto
de uma torre de petr�leo.

Uma casa nas colinas pode
servir a um compositor...

ou um traficante em ascens�o.

- Onde conseguiu essa mob�lia?
- A gentil italiana que escolheu.

�timo, Gianni Versace, certo?
Mike Tyson usa Versace.

David, tire os p�s do sof�.
Voc� faz isso na casa da sua m�e?

Acho que se chama "Nouveau anal",
mas tudo bem.

Ou um agente de m�sica em decl�nio.

Terry Valentine.

Prazer com conhec�-lo.

Quando puder compre
uma casa dessas.

Sabe...

d� para ver o mar daquele lado.

Mas na realidade, uma balconista de livraria
n�o poderia alugar nada acima do Sunset Plaza,

mesmo se, como ela diz,
� pequeno e meio acabado.

Um lugar com uma vista dessas,
no ramo imobili�rio local,

n�o sairia por menos de 2 ou 3 mil
d�lares por m�s em 1995,

independente do seu estado.

Seu namorado assaltante de
banco deve viver em Malibu.

E nos anos 60, os jovens bo�mios
viviam na praia em Venice,

Podemos considerar o loft de Venice em
'Cobra' como uma rel�quia dos anos 80,

quando o marketing indireto
suplantou os roteiros,

e os policiais dos filmes abandaram os
sub�rbios para se tornarem gentrificadores.

E o que dizer de um decadente
escritor de crimes

e uma fot�grafa desempregada,
com t�o pouco dinheiro

que precisam cobrar pelas caronas
para ir Pittsburgh a Calif�rnia?

Mas quando chegam em Los Angeles,

se instalam imediatamente em um
espa�oso chal� na praia de Malibu.

E eu n�o gosto de permiss�o geogr�fica.

Mas � dif�cil argumentar contra isso.

Pois em um filme de fic��o,
um espa�o real se torna ficcional.

Por que uma persegui��o de carros
n�o pode pular dos canais de Venice

ao porto de Los Angeles
a 48 km de dist�ncia?

Por que a sa�da de uma
pista de gelo em Westwood

n�o pode se abrir na Pra�a Fletcher Bowron
no centro de Los Angeles, a 24km � leste?

Mas uma fic��o nem sempre
� t�o boa quanto a outra.

E assim como a permiss�o dram�tica,

permiss�o geogr�fica � geralmente
uma desculpa para a pregui�a.

Geografia absurda
para filmes bobos.

Eu te avisei que a mataria.

E a melhor persegui��o de carros
em um filme de Los Angeles

� teimosa, ou at�
perversamente realista.

Aten��o, todas as unidades:
bloqueio armado na ag�ncia Torrance Mazda,

na 190 com a Hawthorne.

Tenham cuidado.

O diretor Toby Halicki realizou
o sonho de Dziga Vertov:

Um cinema anti-humanista de corpos
e m�quinas em movimento.

Sua obra-prima materialista
foi o primeiro manifesto

para um cinema de destrui��es.

Tamb�m foi o primeiro filme do sul da
Calif�rnia centrado em South Bay,

a regi�o costeira menos atraente
da bacia de Los Angeles

indo de Long Beach at� El Segundo

que mais tarde se tornaria
alvo de William Friedkin...

Quentin Tarantino...

...e Michael Mann,

que acidentalmente renomeou o �cone mais
conhecido dos filmes em South Bay,

a Ponte Vincent Thomas.

A ponte de "S�o" Vincent Thomas,
� o escape n�mero 1.

Vincent Thomas foi o representante de
San Pedro na assembleia por muitos anos,

mas ainda n�o foi canonizado...

nem mesmo Pedro.

Acidentes acontecem,
mas algumas mentiras s�o maldosas.

Eles empobrecem ou
banalizam a cidade real.

Um dos orgulhos de Los Angeles � sua
arquitetura modernista residencial,

mas os filmes hollywoodianos quase
sempre denigrem essa heran�a

usando muitas dessas casas
como resid�ncias de vil�es.

Isso come�a com
'The Damned Don't Cry', em 1950.

O ref�gio de Frank Sinatra em Palm Springs,

projetado por Stewart Williams,

serve de resid�ncia para
um chefe de gangue local.

Ent�o em 1955, um bando de psicopatas
sequestradores por John Cassavetes,

escondem-se em uma resid�ncia
proto-moderna nas colinas de Hollywood.

E sempre h� algo sinistro
sobre a casa Ennis.

Seu papel mais frequente � de mans�o
para algum chefe de gangue,

quase sempre representando
a "amea�a oriental".

O epis�dio mais conhecido de guerra de
Hollywood contra a arquitetura moderna

� em 'L.A. Confidential'.

A casa Lovell de Richard Neutra,

o primeiro grande exemplo do
Estilo Internacional no sul da Calif�rnia,

serve de lar para Pierce Patchett,

porn�grafo, cafet�o,
pr�ncipe das noites,

onde tudo est� � venda.

Na verdade o diretor Curtis Hanson
admira muito a casa Lovell.

At� a menciona nos cr�ditos finais,

de acordo com seu t�tulo dado
pelo propriet�rio real:

Casa de Repouso Lovell.

Ent�o � apenas uma conven��o?

O monumento arquitet�nico

� o equivalente moderno
do chap�u preto ou bigode?

N�o � nada para se levar a s�rio.

Mas o cr�tico de arquitetura do
Los Angeles Times levou a s�rio.

Ele citou 'L.A. Confidential'
como a prova de que

as aspira��es da arquitetura
modernista eram falsas.

Escreveu: "a casa � impec�vel,"

"suas formas meticulosas parecem molduras
perfeitas para esse tipo de poder."

"Os pain�is de vidro de Neutra se abrem
para expor o lado negro de nossas vidas..."

"sugerindo o er�tico, o quebrado,
o psicologicamente impuro."

Ent�o agora sabemos...
Como mostram os filmes,

essas m�quinas t�o modernas
de moradia eram antros de v�cio.

Na verdade, essa fic��o n�o apenas contradiz
o esp�rito original da casa Lovell,

como toda a sua hist�ria.

Foi projetada como um manifesto
para uma vida natural,

e se tornou um centro de reuni�es pol�ticas
para a extrema esquerda nos anos 30.

H� um arquiteto modernista
que Hollywood perdoou:

Pierre Koenig.

Talvez por sua habilidade em
transformar cubos de a�o e vidro

em pequenas mans�es no
Estilo Hollywood Regency.

Sua casa Stahl � um �cone
da arquitetura moderna

e mais tarde uma estrela de cinema.

Em 'The Marrying Man',

serve como casa de f�rias de
um playboy multimilion�rio,

apesar do filme se passar vinte
anos antes de sua constru��o.

Em 'The First Power',

atua como a casa
de um policial ps�quico.

E em 'Why Do Fools Fall in Love'?

� o ref�gio de Zola Taylor,
vocalista do the Platters.

Nos sentimos mal quando
Frankie Lymon a danifica.

Por outro lado, o arquiteto mais odiado
de Hollywood � John Lautner.

Em 'Twilight',

uma casa Lautner com vista
para o Vale de San Fernando

� a recompensa pela
corrup��o de um policial.

Belo lugar voc� tem aqui.

Melhor que Los Feliz.

Estamos acima da fuma�a.

Que bela casa voc� tem.

Uma casa de Lautner mais elaborada
nas colinas de Beverly

serve como casa de praia em Malibu para
o rei da pornografia Jackie Treehorn...

em 'The Big Lebowski'.

Como v�o os neg�cios, Jackie?

N�o sei dizer, Dude.
Eu lido com publica��o.

A casa mais famosa de Lautner � a Chemosphere,
um hex�gono de madeira, a�o e vidro,

erguida acima da encosta sobre
um �nico pilar de concreto.

ela aparece em 'Body Double'

como o apartamento de
um assassino lun�tico.

Os interiores de Lautner
podem �s vezes ser vulgar,

ou excessivamente ostentadores,

mas ele n�o pode ser
culpado dessa vez:

uma exagerada dire��o de arte para
parodiar os excessos dos anos 80.

- A Hollywood!
- Sim, a Hollywood.

O �ltimo insulto ao trabalho de
Lautner foi em 'Lethal Weapon 2'.

A casa Garcia em Mulholland

abriga uma rede de tr�fico organizado
pelo consulado africano.

Irritado com sua imunidade diplom�tica,

Mel Gibson derruba a sua casa
com uma caminhonete.

Lautner n�o � apenas
apelativo e superficial,

mas tamb�m incompetente.

'Lethal Weapon 2' tamb�m foi feito
por um f� da arquitetura moderna.

O produtor Joel Silver � conhecido por sua
restaura��o na casa de Frank Lloyd Wright,

em Hollywood, e uma planta��o
de Wright em South Carolina.

Ainda que Lautner fosse
disc�pulo de Wright,

a ideologia de Hollywood mais uma
vez sobrep�e a convic��o pessoal.

Ao menos Silver tamb�m destruiu
arquitetura p�s-moderna.

O pr�dio Fox Plaza de 34 andares
em Century City,

com Bruce Willis em 'Die Hard'.

Quando uma gangue de assaltantes

se fazendo de terroristas assumem
o pr�dio, capturando 30 ref�ns,

o FBI sacrificaria v�rios
ref�ns para salvar o pr�dio.

Como imagina o ataque?

Eu imagino que iremos tirar os terroristas
e perder no m�ximo 25% dos ref�ns.

Para mim est� bom.

Mas o valente policial dentro
tem outra ideia.

Entre v�rias autoridades em cena, apenas ele
valoriza as pessoas acima da propriedade.

Abaixem-se!
Abaixem-se!

Acabe com aquele imbecil.

O Fox Plaza encenou o Nakatomi Plaza,

filial de uma multinacional
japonesa em Los Angeles.

No final dos anos 80, as empresas japonesas
possu�am v�rias torres empresariais.

Nos filmes, eles possu�am todas.

Jesus, se um elevador vai falar,
melhor que seja em ingl�s.

H� poucos marcos de Los Angeles que
quase sempre retratavam a si pr�prios:

A Prefeitura...

O teatro chin�s de Grauman...

O Planet�rio Griffith...

O cruzamento de rodovias
com quatro n�veis...

O canal de concreto do Rio Los Angeles...

O Edif�cio Eastern Columbia
na oitava, em Broadway...

O hotel Bonaventure
na quinta, em Figueroa...

O hotel Beverly Hills Hotel
na Sunset, em Rodeo...

O motel Paradise Motel
na Sunset, em Beaudry...

Clayton Plumbers
na LaGrange, em Westwood...

Circus Liquor
na Vineland, em Burbank...

Pink's Hot Dogs
na Melrose, em La Brea...

O Memorial Coliseum
em Exposition Park.

Com assentos duros de madeira
para todos,

o Coliseum � o est�dio
mais democr�tico dos EUA,

e o �ltimo remanescente do seu tipo.

Como um lugar de encontro
de milhares de pessoas,

ele � um im� para terroristas
e invasores alien�genas...

como o sniper enigm�tico
em 'Two-Minute Warning',

com uma mira perfeita
para idosos.

Ou em 'Invisible invaders' no filme
de Edward L. Cahn feito em 1959,

que usa um zumbi para
comandar os alto-falantes

e lan�ar um dos seus
ultimatos lac�nicos.

Pessoas da Terra,

esse � o �ltimo aviso.

Ao menos que as na��es do seu
planeta se rendam completamente,

toda a humanidade ser� destru�da.

E � claro,
h� o letreiro de Hollywood.

J� que marca literalmente o dom�nio de
Hollywood sobre o resto de Los Angeles,

eu devo desprez�-lo, como
desprezo a Cal�ada da Fama,

onde cada estrela custa
uma aluguel de $15,000.

Onde a Lista Negra de
Hollywood ainda existe.

H� estrelas para os executores,

e para os informantes,

mas nenhuma para
os informados.

Deveria se chamar
A Cal�ada da Vergonha.

Mas na verdade, eu acho o letreiro
de Hollywood reconfortante.

Eu podia achar triste que uma propaganda
falida para o desenvolvimento imobili�rio

se tornasse um marco c�vico.

Ou quem sabe temos que am�-lo por ser
um grande alvo para estrangeiros.

Como aquele ingl�s expatriado
David Thomson,

que ama tudo da Am�rica,
menos o que merece ser amado.

Ele ama Hollywood,
mas n�o o seu letreiro.

Uma vez escreveu:

"Aquele letreiro de Hollywood
� t�o rid�culo e horr�vel,"

"e L.A. ainda se orgulha dele."

Esses s�o os marcos que s�o
destru�dos nos filmes de desastre.

Sempre que a legitimidade
da autoridade vem � tona,

Hollywood responde
com filmes de desastre.

E sempre que tiver
um filme de desastre,

haver� George Kennedy.

Rosa, vamos l�.
Melhor n�o.

Vamos, Rosa. Acalme-se.

Terremotos trazem o
pior de algumas pessoas.

Filmes de desastre nos lembram o qu�o tolos
e desamparados n�s realmente somos,

e portanto mostram nossa
necessidade de profissionais

e especialistas para nos
salvar de n�s mesmos.

Eles definem as fontes
da autoridade leg�tima.

Dependemos de especialistas,
mas em quais podemos confiar?

Eu atravessei.

Pode me dar uma britadeira
e um alicate?

Use uma britadeira
e o teto ir� desabar.

H� pessoas com vida ali,
e eu vou tentar tir�-las.

Pois ter� que fazer sozinho.

N�o vou sozinho,
ele vai comigo.

Um padre pode ser �til.

Vamos bater, vamos morrer
e todos ir�o...

Mas n�o um pol�tico.

Como o poderoso punho de Deus,
o Armagedom descer� sobre Los Angeles,

a cidade do pecado,
de Gomorra e Sodoma.

E �guas subiram para separar essa
cidade pecaminosa do nosso pa�s.

Mike Davis alegou que Hollywood
sente prazer em destruir Los Angeles,

um prazer culposo
compartilhado pela audi�ncia.

Todo o mundo parece torcer para
Los Angeles afundar no Pac�fico

ou ser engolida pela falha
geogr�fica de San Andreas.

Em 'Independence Day', quem se
identificaria com a multid�o idiota,

dan�ando extasiada para
receber os extraterrestres?

H� um tom c�mico de "boa viagem"

quando idiotas assim s�o vaporizados
pelos convidados mal�gnos.

Mas para mim o sacrif�cio casual de Paris em
'Armageddon' parece ainda mais grosseiro.

Os franceses devem ser punidos
porque admiram tanto Jerry Lewis?

Ou porque resistiram com tanta for�a
ao imperialismo cultural de Hollywood?

De certa forma, a frequente destrui��o
de Los Angeles � apenas uma grosseria,

por�m � mais um caso
econ�mico que ideol�gico.

Hollywood destr�i Los Angeles
porque j� est� l�.

Nosso cineastas n�o acham
que a Prefeitura de Los Angeles

� um s�mbolo c�vico mais importante
do que o Empire State Building.

Mas eles sabem
que � mais perto.

Essa era uma grande cidade, oficial.

Em filmes de desastres, ao menos
Los Angeles est� l� como ela mesma,

ou mesmo como um tema.

A CIDADE COMO PERSONAGEM
PARTE 1

James M. Cain e Raymond Chandler...

fizeram de Los Angeles um
personagem em seus romances,

assim como nos filmes, quando Chandler e
Billy Wilder adaptaram o romance de Cain,

'Double Indemnity'.

O sentido de lugar era t�o preciso
que Richard Schickel depois diria:

"Pode acusar L.A. como inspira��o para
os crimes que esse filme mostra."

Afastando-se do texto de Cain,

Chandler e Wilder criaram um
narrador protagonista

com ideias ou opini�es sobre
a cidade em sua volta,

e seus coment�rios em voz over se dirigem
a um estimado colega cuja opini�es

e intelig�ncia ele tenta emular.

Memorandum...

Walter Neff para Barton
Keyes, agente de seguros...

Los Angeles. 16 de julho, 1938.

Caro Keyes,

acredito que chamar� isso
de confiss�o quando ouvir.

Eu n�o gosto da palavra "confiss�o".

S� quero inform�-lo sobre algo que n�o
pode ver pois est� debaixo do seu nariz.

Tudo come�ou no �ltimo m�s de maio.

Perto do fim do m�s.

Lembro dessa oficina
perto da Avenida Los Feliz.

Ent�o dirigi at� l�.

Era uma daquelas casas espanholas
que faziam sucesso h� uns 15 anos.

Essa deve ter custado uns $30.000,

isso �, se ele
acabou de pagar.

Sou Walter Neff, Pacific All-Risk.

Como Chandler e Wilder,

Walter Neff � um esnobe sabich�o.

Posso ajud�-lo em algo?

O seguro venceu no dia 15, seria uma pena
se sofresse um acidente sem cobertura.

Acho que sei o que quer dizer, Mr. Neff.

Eu estava tomando um banho de sol.

Nenhum pombo voando, eu espero.

E um pouco canalha.

Embora menos do que o
homem que ele mata.

S� falta dizer que preciso de um seguro
para terremotos, rel�mpagos, trens...

Se comprarmos todos esse seguros
ficar�amos falidos, n�o � querido?

O que nos mant�m falidos �
voc� comprando cinco chap�us.

Quem precisa de
chap�us na Calif�rnia?

E menos monstruoso que
sua parceira no crime.

Certo, ter� que ser r�pido.

Pegue o chap�u e as muletas dele.

O crime que inspirou o romance de Cain
ocorreu 15 anos antes em Queens Village, NY.

Mas o crime parece se encaixar na corrup��o
moral da classe m�dia do sul da Calif�rnia.

'Double Indemnity' e as
posteriores adapta��es de Cain,

convenceram a todos que Los Angeles � a
capital mundial do adult�rio e assassinato.

Certo, querida. � isso.

N�o vai me beijar?

Foi direto na mosca, n�o foi?

Eu te amo, Walter.

Eu te amo, querida.

Em lugar algum a maldade � t�o banal.

Double Indemnity retrata Los Angeles com
poucas loca��es, mas todas s�o memor�veis:

A esta��o ferrovi�ria de Glendale � noite...

Uma esquina identificada entre
Vermont e Franklin...

Apesar de ser entre
Hollywood e Western.

O exterior do Supermercado
Jerry em Melrose...

E as casas de estilo colonial espanhol onde
moram Phyllis Dietrichson, seu marido e enteada.

A voz over de Neff localiza essa
casa em Los Feliz, o que parece correto,

apesar da casa real ficar a
alguns quil�metros a oeste,

logo acima do limite
de Vine Street,

perto de Hollywoodland
onde Cain a tinha situado.

Devem ter procurado por uma
casa mais parecida poss�vel:

Foi constru�da de uma
forma absurda.

A garagem ficava embaixo da casa,

o primeiro piso acima dela,

e o resto espalhado pela
colina de qualquer jeito.

Embora todas as cenas interiores
serem filmadas em est�dio,

Wilder se aproximou
da realidade aqui,

inspirando-se na dram�tica
escadaria da entrada.

Ele apenas moveu a sala de estar
do lado esquerdo para o direito.

Para Wilder, um modernista convicto,

os falsos hist�ricos da arquitetura
e da decora��o interior

refletem a desonestidade
de quem vive nele.

Mas os gostos mudaram.

Agora todos amamos aqueles telhados
cer�micos e as churrasqueiras met�licas,

e far�amos de tudo
para preserv�-los.

Assim como a arquitetura
modernista remete � vilania,

o estilo colonial espanhol sugere o
bom gosto do pequeno burgu�s.

� uma casa ideal para uma garota
de programa pronta para uma mudan�a

ou um her�i vigilante
procurando vingan�a.

Uma honra aristocrata � a
mensagem em 'Mildred Pierce',

segunda vers�o Hollywoodiana
do romance de James M. Cain,

em que os sub�rbios de Los Angeles
t�m um pequeno papel.

Vivemos em Corvallis Street,
onde todas as casas se parecem.

A nossa era o n�mero 1143.

� uma observa��o estranha, j� que
as casas que vemos n�o se parecem,

mas uma t�pica cr�tica � Los Angeles.

Se n�o gosta de algo,
reclame tamb�m do seu oposto.

A arquitetura � muito ecl�tica,
mas tamb�m muito uniforme.

Mais uma vez, o drama
acaba em assassinato.

Assim como em
'The Postman Always Rings Twice',

o �ltimo romance da trilogia
de Cain sobre o sul californiano.

Hollywood o filmou duas vezes,
em 1946 e 1981.

Os romances de Cain foram
escritos na d�cada de 30,

e refletem os medos de uma classe
m�dia baixa, assolada ap�s a Depress�o.

Explicitamente ou n�o, os filmes adaptados
da metade de 1940 s�o de �poca.

O mundo contempor�neo do
p�s-guerra parecia melhor.

Segundo o papai o futuro
est� na Calif�rnia.

Diz que 6 entre 10 veteranos
vir�o para c� ap�s a guerra.

Ele disse...

Esque�a o seu pai.
N�o tem suas pr�prias ideias?

Para um fuzileiro,
tenho algumas ideias �timas.

Um novo sub�rbio foi criado
para os que voltavam da guerra.

Eles poderiam achar emprego na
crescente ind�stria aerodin�mica...

uma casa separada pra cada fam�lia...

um incinerador de lixo no quintal...

e v�rios banheiros sem vasos.

ao menos para os personagens.

Nos filmes h� v�rios
percursores do baby boom,

ainda que essa crian�as ador�veis
se tornariam, em poucos anos,

os jovens problem�ticos
de 'Rebel Without a Cause',

o primeiro noir adolescente.

Que comportamento!

Voc� sabe a quem ele puxou.

Voc� est�o acabando comigo!

O diretor Nicholas Ray filmou
em volta de Los Angeles

para se parecer com
um est�dio musical.

A m�sica divide os mundos paralelos,
exatamente a fa�anha de Ray.

Os adolescentes vivem em um mundo
paralelo ao dos adultos, normal e est�vel.

Vivem em um mundo que
criaram para si mesmos

sendo quase uma
par�dia do filme noir.

O mundo deles � mais
perigoso que o dos pais...

e mais atraente.

Acendam as luzes!

E tamb�m privilegiado no filme.

Vemos o mundo dos adultos
atrav�s de seus olhos.

Mas nenhuma perspectiva
para ver o deles.

Os adolescente criam
o seu mundo isolado

apenas por terem f�cil
acesso aos autom�veis.

Foram os primeiros adolescentes
com carros, ao menos nos filmes.

E talvez por isso 'Rebel Without a Cause'
pare�a t�o prof�tico

e remeta tanto � Los Angeles.

Os filmes noir comuns filmavam
pouco a cidade.

Aquelas ruas escuras e
misteriosas � noite,

ainda eram quase
todas cenogr�ficas.

Filmes noir geralmente trocavam as ruas
sujas pelos esgotos ainda mais sujos.

As ruas verdadeiras aparecem
em 'Kiss Me Deadly',

apesar do filme n�o se considerar
um retrato de Los Angeles.

� um filme de detetive particular.
Uma vers�o revisionista de Mickey Spillane

que tenta reverter sua vers�o
hiper-facista do Macartismo

ao dar a Mike Hammer corda
suficiente para se enforcar.

Meu caro senhor.

Agora conte-me sobre a chave.

S� um momento, senhor.

� quase um retrato definitivo
da cidade dos anos 50.

'Kiss Me Deadly' � um filme literalista.

Mike Hammer tem um endere�o real:
10401 Wilshire Boulevard.

E quando ele sai do pr�dio
em seu novo Corvette,

o que vemos realmente existia.

Meu bigode, o bigode do meu pai...

Vamos para a autoestrada.

Quero ver como esse p�ssaro voa.

A saga de Mike Hammer, toda filmada
no local, revela uma cidade dividida.

Entre o rico... e o pobre.

O velho... e o novo.

O que era novo ainda existe.

Aqui � Crestview
5-4-1-2-4

Sr. Hammer, quem voc� chama,
n�o est� dispon�vel no momento.

Se desejar gravar um recado,
favor falar ap�s o bipe.

Ol�, Mike, apenas checando
se chegou em casa.

Por favor, ligue-me quando...

Velda?

O que era velho j� foi destru�do.

Imagens de coisas que
j� n�o existem mais

significam muito para n�s
que vivemos em Los Angeles,

e praticamente nada
para todos os outros,

exceto, talvez, quando representam coisas
que desaparecem de todos os centros urbanos,

como restaurantes "drive-in"...

ou cinemas "drive-in".

Claro que certos edif�cios
n�o nasceram para durar.

Devem ser reconstru�dos
a cada cinco ou dez anos,

para se adaptarem
aos padr�es de consumo.

Ent�o a imagem de um posto de gasolina
ou conveni�ncias obsoletos,

podem despertar a mesma nostalgia
que sentimos pelo o que j� sumiu.

Filmes antigos nos permitem
redescobrir esses �cones,

at� para construir um document�rio
hist�rico sobre sua evolu��o.

- Diga que temos que ir.
- Posso ajud�-lo, senhor?

- Cinco gal�es de comum.
- Comum?

Achei que �amos dan�ar...

Venham aqui,
quero falar com voc�s.

Pode dar uma olhada no motor,
por favor?

Claro

Ol�. Vai completar?

Dois d�lares, nada mais.

Sim, senhor.

L� vai Williams. Ele desliza,
est� l�, a salvo.

Mas quem se importa com
velhos campos de beisebol,

Wrigley Field, sede dos Angels,

e Gilmore Field, sede dos Hollywood Stars,

ou Twinks, como nossos
comentaristas locais o chamam?

Almofadas por uma moeda. Conforto por
apenas dez centavos. Peguem aqui.

Quem se lembra de Steve Bilko,
Bobby Bragan e Carlos Bernier?

A cena da multid�o em 'The Atomic City'
s�o de verdadeiros f�s de beisebol,

n�o figurantes profissionais,

que ainda foram escolhidos de acordo
com o c�digo de produ��o, que proibia

qualquer cena mostrando contato
entre brancos e pretos.

Sugerem que Los Angeles era mais integrada
socialmente em 1952 do que hoje em dia.

E quem lamenta o Audit�rio de Pan Pacific,
nosso pal�cio racional moderno,

um dos mais famosos
marcos da cidade,

onde os times de beisebol
colegiais jogavam,

onde Robert Frank fotografou
o Motorama em 1956.

Atuou como uma pista de corrida
de c�es em 'Johnny Eager'

e uma arena de gelo em 'Suspense'.

Em 1980, ap�s a Pan Pacific ser abandonada,
Lawrence Gordon produziu uma infeliz fantasia

do que os preservacionistas
chamam de "re�so adaptativo".

Uma musa inspira jovens artistas a
convencer um clarinetista de idade

que esse � o lugar ideal
para abrir uma boate.

Acha mesmo que dar�
certo para Danny?

Esse lugar pode ser tudo
o que se desejar.

Certo, mas como diabos
chamaremos isso?

Kubla Kahn construiu em Xanadu
uma c�pula maravilhosa.

Infelizmente, seu sonho se tornou...

uma boate de patina��o.

O filme falhou, e o que sobrou da Pan
Pacific foi queimado nove anos depois.

Merecia algo melhor, tanto nos
filmes como na realidade.

Um lugar onde ningu�m
nunca ousou de aproximar.

Um amor que descobrimos.

Chamado Xanadu.

Assim como o Pr�dio Richfield, que precisou abrir
espa�o para arranha-c�us mais altos e feios.

H� v�rias fotografias,
mas poucos filmes.

Gra�as a Antonioni.

E quanto a Ship's Westwood? Uma
cafeteria aberta durante toda a noite.

Era uma institui��o,

mas n�o teve chance quando quiseram
levantar um arranha-c�u no lugar.

Obrigado, Amy.

Ao menos o Caf� Far East ainda est� l�.

Fechou ap�s o terremoto de 1994,

mas deve abrir em breve.

Assim como o Angel's Flight.

Nosso amado funicular,
"a menor ferrovia do mundo",

constru�da em 1901,

arrancada em 1969 pela
Secretaria de Desenvolvimento,

reconstru�da em 1996,

uma quadra a norte
de seu local original,

e fechado ap�s um acidente em 2001,

poucos dias ap�s a minha filmagem.

Mas ainda est� l�...

mais ou menos.

O Angel's Flight reconstru�do
foi um passeio tur�stico,

a simula��o,

pois havia perdido
seu prop�sito original.

Bunker Hill,

o bairro residencial no
topo do Angel's Flight,

desapareceu.

Os filmes amavam Bunker Hill.

Os senhores da cidade o odiavam.

Os alugu�is baixos traziam as
pessoas erradas para perto do centro.

Bunker Hill foi alvo de remo��o
de favelas e renova��o urbana.

Precisavam destru�-lo para salv�-lo.

E assim o fizeram, embora tenha
levado mais que dez anos.

Bunker Hill foi o distrito mais
fotografado de Los Angeles,

ent�o os filmes inevitavelmente registraram
sua destrui��o e esvaziamento.

No final dos anos 40,

era um bom exemplo de
bairro para classe oper�ria,

Um lugar onde se podia levar a
namorada para visitar a m�e.

Buena sera, mamma mia.

Buena sera.

Era um territ�rio de filme noir,

mas tamb�m um ref�gio
das ruas violentas.

Nos anos 50, se tornara
um bairro residencial,

onde um homem que sabe
demais poderia se esconder.

Hollywood aceitou a vis�o de
Raymond Chandler sobre Bunker Hill.

Como um bairro velho, italiano,
criminoso, art�stico

onde se pode achar qualquer coisa,
desde bandidos em fuga, prostitutas,

a clientes da County Relief se
metendo com velhas propriet�rias

em casas antigas com
varandas enfeitadas.

D� para ter um enfarto
subindo at� aqui.

Quem te convidou?

O melhor filme em Bunker Hill
se chama 'The Exiles',

produ��o independente de baixo
or�amento de Kent MacKenzie,

sobre �ndios do Arizona
exilados em Los Angeles,

filmado em 1958,

e finalizado em 1961.

Revela a cidade com
uma realidade opaca,

onde diferentes classes sociais ocupam
o mesmo lugar sem se tocarem.

Melhor do que qualquer outro filme,
ele prova que ali existiu uma cidade,

antes de ser destru�da e
dar lugar a uma imita��o.

O fim de Bunker Hill aparece
em 'The Omega Man'.

Em 1971 serviu como boa loca��o
de uma fantasia p�s-apocal�ptica.

Charlton Heston atua como um sobrevivente em
uma cidade devastada por uma amea�a biol�gica.

Ele aprende a ser
totalmente independente.

Se quisesse ver um filme
ele mesmo projetava.

Isso � lindo, cara.

Como podemos viver juntos e felizes?

Se tem medo de andar na rua
ou sorrir para algu�m, certo?

Que tipo de vida � essa?

Todas as sess�es s�o de dia,

porque � noite deve combater um
bando de vampiros hippies ludistas,

suas �nicas companhias na cidade.

Trinta anos depois, o mesmo roteiro e loca��o
reaparecem em 'Night of the Comet.'

Logo ap�s um desastre
trazido por um cometa,

um pequeno bando de sobreviventes
luta novamente com mutantes zumbis,

mas o centro do a��o, Bunker Hill,
estava totalmente transformada.

A nova Bunker Hill parece uma simula��o,
e assim atuou em 'Virtuosity'.

Mas os diretores que mais se esfor�aram
para estrelar Los Angeles nos filmes,

eram forasteiros, como Wilder,
ou estrangeiros.

N�o se interessavam no que
fez de Los Angeles uma cidade,

mas o que fazia de Los Angeles
um lugar �nico.

INTERVALO

A CIDADE COMO PERSONAGEM
PARTE 2

Assim como existem pessoas
mais cultas e menos cultas,

existem aquelas mais
tur�sticas e menos tur�sticas.

Assim como h� diretores
mais cultos e menos cultos,

existem aqueles diretores
mais tur�sticos e menos tur�sticos.

Diretores menos tur�sticos
geralmente desprezam Los Angeles.

Preferem San Francisco e o
litoral do norte da Calif�rnia.

Mais pitorescos.

O maior, dentre os diretores menos
tur�sticos, obviamente � Alfred Hitchcock,

e fez quatro filmes not�veis
na ba�a de San Francisco.

Mas apenas um de seus
30 filmes americanos

se passam, ainda que parcialmente,
em Los Angeles.

Os primeiros dez minutos de 'Saboteur'
situam-se dentro ou ao redor de Los Angeles,

mas poderia ser qualquer lugar nos
EUA com uma f�brica de avi�es.

As cenas foram filmadas em est�dio,
onde n�o h� nada caracter�stico do local.

Hitchcock ainda fez Marion
Crane passar por Los Angeles

em sua viagem fatal de Phoenix ao
Motel Bates no sul da Calif�rnia.

Mas ele nunca difamou sua cidade adotiva,
ao menos nos filmes.

Outro diretor menos tur�stico,
Woody Allen,

expressou abertamente seu desprezo
por Los Angeles em seu filme mais popular.

Voc� insiste mas eu n�o posso
viver em uma cidade

onde a �nica vantagem cultural �
poder dobrar no sinal vermelho.

Como um cronista de filmes da
classe-m�dia em Nova Iorque,

pessoas que acreditam no
que leem no New York Times,

Allen raramente foge do
seu comportamento nativo.

Mas seus melhores amigos se mudam
para Los Angeles, e Woody vai junto,

ainda que apenas visitando.

N�o acredito que aqui
realmente � Beverly Hills.

A arquitetura � bem coerente, n�o �?

Francesa, depois espanhola,
Tudor, depois japonesa.

Como � limpo por aqui!

� porque eles n�o jogam o lixo fora,
mas usam nos programas de TV.

Seu conto de duas cidades vira
um conto de duas marquises.

Na verdade, 'The Sorrow and the Pity'
foi exibido em Los Angeles.

Eu assisti aqui.

E at� onde eu sei,

'The House of Exorcism' e 'Messiah of Evil'
foram exibidos em Nova Iorque.

Mas se Nova Iorque
tem Woody Allen

n�o somos superiores.

Temos o nosso Henry Jaglom,

ainda mais careca,

mais narcisista,
mais solipsista,

Aprendi a valorizar os riscos.

Tudo � bom e estimulante. Tanto nos
filmes como na vida, tudo vem dos riscos.

Risco � o meu sobrenome.

Enquanto os Nova Iorquinos
s�o geralmente hostis,

os Brit�nicos ficam fascinados.

Em 'The Loved One', Tony Richardson
se d� conta de sua ambiguidade.

A arquitetura local � brega,

mas de uma forma transcendente.

Um est�dio de grava��o
� um tribunal cruel

onde todos se submetem aos
piores caprichos de seu magnata,

mas nos fundos h� um vilarejo
encantado de surrealismo involunt�rio.

O clima aqui est� �timo para mim e as
pessoas s�o t�o educadas e generosas.

Eles falam por conta pr�pria e
nunca esperam ser escutados.

Quem odeia Los Angeles
adora 'Point Blank'.

O diretor brit�nico John Boorman

fez a cidade parecer tanto
agrad�vel como trai�oeira,

como a organiza��o criminosa
de que Lee Marvin derruba,

que atende pelo nome
Multiplex Products Company.

Para mim, os destaques do filme s�o as
cenas incr�veis dos interiores grotescos.

S�o suficientes para acreditar que a
d�cada de 70 come�ou na metade de 60.

Um filme de LSD � menos
ou mais tur�stico?

Roger Corman, que dirigiu 'The Trip',
n�o � um turista em Los Angeles,

mas deve ter usado um guia
tur�stico para abrir sua percep��o.

Felizmente tinha Jack Nicholson
para escrever o roteiro,

Peter Fonda e Bruce Dern
como companhias de viagem,

e Dennis Jakob para
criar as montagens.

Diretores experimentais mais tur�sticos
como Corman...

Maya Deren...

Andy Warhol...

e Fred Halsted...

descobriram um ref�gio buc�lico
no cora��o de Los Angeles.

Deren e seu colaborador Alexander Hammid

podiam achar um �den privado s� olhando
atrav�s da janela de seu duplex colonial

acima de Sunset Strip.

Para Warhol, as f�rmulas
de Hollywood representavam

uma inoc�ncia que s� podia ser
recuperada "mais ou menos".

Mas as torres Sam Rodia em Watts era
um para�so que ainda n�o se perdeu.

No come�o dos anos 60,

as Torres Watts eram o monumento
c�vico mais acess�vel e amig�vel do mundo.

A obra-prima porn� gay de Fred Halsted
recapitula a perda do �den.

Indo dos desfiladeiros id�licos
�s ruas violentas de Hollywood.

� medida que a paisagem se torna urbana,
o sexo fica mais violento.

Diretores europeus s�o
geralmente mais tur�sticos,

logo apreciam Los Angeles,

mesmo aquilo que odiamos,
como a Sunset Strip.

Em 'The Outside Man' de Jacques Deray,

um matador parisiense
abandonado em Los Angeles

descobre uma cidade
de estacionamentos...

mot�is...

esta��es rodovi�rias...

cafeterias...

clubes noturnos...

e oportunidades imobili�rias.

Tudo horroroso, eu imagino.

Mas ajuda no retrato preciso da
cidade em 1973, como eu lembro.

Como a maioria dos europeus
no sul da Calif�rnia,

Antonioni tinha mais interesse
no deserto do que na cidade.

Quem for ao Vale da Morte em agosto,
ouvir� mais alem�o do que ingl�s.

Mas antes de Zabriskie Point,

Antonioni fez seu protagonista dar
uma volta tur�stica em Los Angeles,

come�ando pelo agora famoso mural na
fazenda agropecu�ria John em Vernon,

mais tarde retratado em
'Carrie' de Brian De Palma

e 'Angel City' de Jon Jost.

Seu passeio pela Los Angeles industrial
acabou inesperadamente em Sunset e Rodeo.

O amor de Jacques Demy por Los Angeles
s� podia ser de um turista.

Ou devo dizer:
de um turista franc�s.

Eu n�o gostei quando 'Model Shop'
foi lan�ado porque era um filme do oeste.

Sua vis�o da cidade n�o
passava de Vine Street.

Mas agora aprecio essa tentativa prematura
de defender Los Angeles como uma cidade.

� totalmente incoerente, mas
quem mora aqui deve se mudar.

Eu dirigia por Sunset e virei numa
daquelas ruas para as colinas.

E parei em um lugar que
se v� toda a cidade.

Foi fant�stico.
De repente me senti exaltado.

Fiquei tocado pela geometria do local,
sua concep��o, sua harmonia barroca.

� uma cidade fabulosa.

Pensar que chamam de cidade feia
algo que � pura poesia, me deixa louco.

De repente eu quis
construir ou criar algo.

- Voc� me entende?
- Sim.

A opini�o de Raquel Welch em
'Flareup' � ainda mais simb�lica.

� melhor aqui do que l� embaixo.

Roman Polanski depois roubou
sua fala, aperfei�oando-a:

"N�o h� cidade mais bonita no mundo..."

"quando vista � noite e � dist�ncia."

A CIDADE COMO TEMA

Foi o forasteiro Polanski que fez
de Los Angeles um tema nos filmes,

junto com o roteirista
nativo Robert Towne.

A cidade finalmente se torna um tema nos anos
70 porque finalmente se tornou autoconsciente.

N�o ser� mais confundida
com qualquer cidade do sul.

Tem problemas de metr�pole,
como racismo e protestos raciais.

A Revolta de 1965 em Watts revelou
o verdadeiro racismo em Los Angeles.

Os absurdos da brutalidade policial e
segrega��o n�o poderiam mais ser ignorados.

As revoltas s� podiam ser retratadas nos
filmes ap�s um certo intervalo de seguran�a,

e ainda assim precisavam
de uma trilha de �poca.

No entanto, Watts ainda estaria
presente em filmes sobre Los Angeles.

N�o seria a vis�o em �Chinatown�, de um inferno
de neglig�ncia civil, uma vers�o de Watts?

O eterno boom estava acabando,

e a nova depress�o atacou o
sul da Calif�rnia com muita for�a.

Como David Gebhard e Robert Winter escreveram
em seu guia arquitet�nico sobre Los Angeles:

"Ningu�m mais tinha certeza do futuro."

"A fuma�a..."

"o ac�mulo populacional e sua
extens�o: os autom�veis..."

"a cont�nua destrui��o do solo..."

"a alarmante escassez de �gua..."

"criaram incertezas de tal magnitude, que
at� a forte propaganda do sul da Calif�rnia"

"teve grandes dificuldades
de convencimento."

As perguntas come�aram.

Em que erramos?

Quando erramos?

Apesar de Los Angeles
ser uma cidade sem hist�ria,

a nostalgia sempre esteve
presente na autoimagem da cidade.

Em qualquer momento de sua hist�ria,

Los Angeles sempre foi um lugar melhor
no passado do que no presente.

A novidade nos anos 70

foi uma nostalgia por uma sensa��o de que tudo
poderia ser diferente, exceto por um evento.

Come�amos a procurar por
um pecado original.

Robert Towne usou uma lenda urbana sobre
o desvio de �gua do rio em Owens Valley,

e a fez repercutir.

'Chinatown' n�o � um docudrama,
mas uma fic��o.

O projeto de �gua que retrata n�o � a
constru��o de um aqueduto em Los Angeles,

projetado por William Mulholland
antes da Primeira Guerra.

'Chinatown' se passa em 1938,
e n�o 1905.

O sujeito tipo Mulholland, Hollis Mulwray,
� o arquiteto-chefe do projeto.

Mas como um oponente em
potencial, deve descartado.

Mulwray � contra a Represa de
Alto Vallejo porque � insegura,

n�o porque est� roubando
�gua de algum lugar.

Caso tenham esquecido, senhores,

perdemos mais de 500 vidas
quando a Represa Van der Lip cedeu.

E agora prop�em outra represa similar

com uma boa declividade, 36 metros de
profundidade, e 48km� de superf�cie de �gua.

N�o vai aguentar.

Eu n�o construirei, simples assim.

Mas h� vest�gios do aqueduto
de Mulholland em 'Chinatown'.

- Aquela represa � uma farsa.
- Que represa?

A que o seu marido se op�e.

Querem persuadi-los a construir, mas
a �gua n�o vai para L.A., vem para c�.

Para o Vale?

Tudo o que pode ver.
Tudo � nossa volta.

Est�o chantageando os fazendeiros a
vender suas terras a pre�o de banana.

Tem ideia do pre�o do solo quando
tiver abastecimento de �gua?

Em torno de trinta milh�es
a mais do que pagam hoje.

O projeto de Mulholland
enriqueceu seus apoiadores

atrav�s de negociadores infiltrados
no Vale de S�o Francisco,

assim como o projeto da
represa em 'Chinatown'.

Os fazendeiros descontentes
de San Fernando em 'Chinatown',

for�ados a vender as
terras a um pre�o baixo

por conta de uma seca artificial,

remetem aos colonos de Owens Valley,
que perderam suas casas para a seca

quando Los Angeles cortou
seu sistema de irriga��o.

O desastre da Represa Van Der Lip,

que Hollis Mulwray cita ao
se opor ao novo projeto,

� uma �bvia refer�ncia ao colapso
da Represa de St. Francis, em 1928.

Mulholland construiu essa represa
ap�s completar o aqueduto,

e sua falha causou o maior desastre
humano da hist�ria da Calif�rnia.

Esses ind�cios levaram muitos
espectadores a ver Chinatown

n�o apenas como um docudrama,
mas como a verdade,

a real hist�ria secreta de como
Los Angeles roubou suas �guas,

e se tornou uma met�fora dominante

para cr�ticos n�o-ficcionais da
administra��o de Los Angeles.

"Chinatown Revisitada"

foi a frase que Mike Davis usou

para o boom de arranha-c�us
no centro em 1973 a 1986,

e ele cita o futuro prefeito, Richard
Riordan, como o principal respons�vel.

Um projeto civil de
financiamento p�blico

novamente gerou enormes
lucros para alguns privilegiados.

'Chinatown' promoveu um padr�o.

Filmes sobre Los Angeles seriam de �poca,
situados no passado ou no futuro.

Eles substituiriam um hist�rico p�blico
por um segredo hist�rico.

Jake Gittes tenta revelar uma fraude,
mas ele falha.

Esse � Noah Cross.
O pai de Evelyn, caso n�o saiba.

Ele � quem voc� procura, Lou...
Posso explicar tudo em cinco minutos.

� tudo o que preciso.
Ele � rico! Entende?

- Cale-se!
- n�o vai se safar com nada!

Eu sou rico. Sou Noah Cross...

- Evelyn Mulray � a minha filha.
- Ele � louco, Lou!

Ele matou Mulray
por causa da �gua.

Apenas me ou�a por cinco minutos.

Noah Cross � muito poderoso.

Ele pode matar seu ex-parceiro
incorrupt�vel e sair ileso.

Ele pode estuprar o solo,
figuradamente.

Estuprar sua pr�pria filha,
literalmente,

e manter os filhos dessa
rela��o incestuosa.

A verdade nunca aparecer�.

Eu poderia citar David Thomson
novamente:

"Conhe�o a corrup��o
sobre as �guas em L.A."

"J� assisti Chinatown
e sei que n�o adianta protestar."

Esque�a, Jake, � Chinatown.

'Chinatown' ensina que essas
boas inten��es s�o in�teis

� melhor n�o agir,
ou at� mesmo nem saber.

De alguma forma essa vis�o
sombria n�o atingiu ningu�m.

Vamos, evacuem o local.

Na cal�ada.

Na cal�ada!

Saiam das ruas.

Essa � a hist�ria escrita
pelos vencedores,

e como sempre,
as l�grimas s�o de crocodilos.

De fato, a verdade
j� estava l� fora.

O hist�rico p�blico
� a real hist�ria.

Os negociantes infiltrados foram expostos
pela imprensa de Hearst em 1905,

duas semanas antes da vota��o p�blica
para a emiss�o da licen�a.

A licen�a ainda ganhou
por 14 votos a 1,

e n�o foi preciso nenhuma seca
artificial para enganar o p�blico.

O Aqueduto de Los Angeles
n�o foi uma fraude,

e foi menos destrutivo que os projetos
hidr�ulicos em Nova Iorque e S�o Francisco,

constru�dos na mesma �poca.

Los Angeles � mais generosa com o
genoc�dio ind�gena do Vale Owens,

mas se n�o houvesse um aqueduto,

hoje nossa cidade seria
mais uma Santa Barbara,

um complacente recanto tur�stico onde os
ricos n�o precisam reconhecer os pobres.

Para moradores como eu

o que d� esse toque especial a
'Chinatown' � o seu tema secund�rio:

A dificuldade de percorrer
Los Angeles sem um carro.

Jake Gittes perde seu
ve�culo no meio do filme.

Um suspeito fazendeiro de San Fernando
atira no seu radiador e no pneu.

Na segunda metade do filme, ele depende dos
outros, e seu senso de dom�nio desaparece.

Curly onde est� o seu carro?

- Na garagem.
- Onde fica?

- L� fora.
- Pode me dar uma carona?

- Claro, assim que comermos.
- Agora Curly, � urgente.

- Avisarei � minha esposa.
- Avise depois, Curly.

Ele est� sempre a um passo atr�s,
e nunca alcan�a.

A perda do carro � uma
castra��o simb�lica,

nos filmes e na vida.

Os melhores filmes sobre Los Angeles s�o,
ao menos parcialmente,

sobre como se transportar.

Deslocar-se n�o � algo garantido.

Os carros quebram...

furam os pneus...

s�o rebocados...

O que est� havendo aqui?

Ou ent�o n�o tem carro.

E precisa pegar um �nibus.
Ou ir andando.

Em 'Sunset Blvd.', a a��o se passa quando
dois agentes de cobran�a visitam Joe Gillis.

- Joseph C. Gillis?
- Correto.

Viemos pelo carro.

Em breve est�o perseguindo o seu
Plymouth '46 convers�vel por Sunset,

e um estouro o desvia para
a casa da atriz Norma Desmond.

Sem um carro, ele morrer�.

Em 'Falling Down', um engarrafamento infernal
induz William Fisher a abandonar o seu carro

e come�ar uma longa caminhada
atrav�s de Los Angeles.

Ele se tornaria um terrorista
urbano por um dia,

enfurecido contra a
degrada��o do espa�o p�blico.

Um homem n�o pode se sentar
aqui por cinco minutos

e descansar na sua colina
preciosa de merda?

Certo. Querem minha maleta?
Eu pego para voc�s, podem ficar.

Querem minha maleta?
Ent�o vai ela!

Onde est�o indo?
Esqueceram a maleta!

Esqueceram a porra da maleta!

Mas sua atitude � t�o violenta que
simpatizamos com suas v�timas.

Drinque, 80 centavos.
Pague ou v� embora!

O que � um "cico"?
Tem um 'n' na palavra. � cinco!

Voc�s n�o t�m 'n' na China?

N�o sou chin�s, sou coreano.

Tanto faz. Voc� vem ao meu pa�s, pega o meu
dinheiro, e nem aprende a minha l�ngua?

Meios de transporte s�o o tema principal
em 'Who Framed Roger Rabbit',

que se apresenta como uma
vers�o caricata de 'Chinatown'.

Ele adianta a queda de
Los Angeles para 1947,

com o decl�nio dos bondes e
nascimento das autoestradas.

Senhor, n�o tem um carro?

Quem precisa de carro em L.A.?
Temos o melhor transporte p�blico do mundo.

Em 1947, muitos discordariam
de Eddie Valiant

sobre os vag�es vermelhos
da Pacific Electric

e os amarelos do
Los Angeles Railway.

Reclama��es sobre
superlota��es, lentid�o...

pre�os abusivos
e p�ssimo atendimento

foram constantes durante
mais de 30 anos.

Mas ap�s a guerra, havia na
verdade outro tipo de problema.

H� v�rios meses eu tive a sorte de
me deparar com um plano urbano

de uma constru��o
com propor��es �pica.

Est�o a chamando de...
autoestrada.

Autoestrada?

O que diabos � uma autoestrada?

Oito faixas cimentadas
ligando daqui � Pasadena.

Suave, seguro, r�pido.

Engarrafamento ser�
uma coisa do passado.

Eu vi um lugar onde as pessoas
entram e saem da autoestrada

entram, saem...
todo o dia, toda a noite.

Em breve, onde ficava Toontown,
ter� uma s�rie de postos de gasolina,

mot�is econ�micos, restaurantes
de r�pido atendimento,

borracharias...

concession�rias de autom�veis...

e maravilhosos...

maravilhosos letreiros at�
onde os olhos podem alcan�ar.

Meu deus, ser� lindo!

Por favor, ningu�m usar�
essa autoestrada idiota

quando podem pegar um
Red Car por uns trocados.

Ir�o dirigir.
Ser�o obrigados.

Eu comprei o Red Car
ent�o posso destrui-lo.

As maquinarias fict�cias
do diab�lico Judge Doom

foram fabricadas pela
National City Lines,

a companhia de transporte p�blico
controlada pela General Motors e outras.

Nos anos 40, ela cruzou o pa�s
com as ferrovias interurbanas,

e substituiu os bondes por �nibus, uma
expl�cita sabotagem do transporte p�blico.

Outra conspira��o para destruir o �den.

Mas nesse filme,
h� um final feliz fict�cio.

N�o h� necessidade de consolos.

Ningu�m precisa dizer
ao detetive her�i:

"Esque�a, Eddie, isso � Toontown."

Valiant mata o Judge Doom
ap�s um longo duelo,

e pensamos que o Red Cars estaria
a salvo, assim como Toontown.

Mas novamente,
as pessoas s�o exclu�das,

apesar dos personagens animados
gozarem de um final feliz.

Na verdade, os bondes estavam na
mira da extin��o desde os anos 20

quando propostas de privatiza��o
foram rejeitadas.

O pr�prio Eddie Valiant circula
pela cidade de carro

ap�s descer do Red Car
no in�cio do filme.

O verdadeiro esfor�o a favor
dos transportes p�blico

atingiu um cl�max em 1949

quando uma proposta para uma nova rede
de trilhos leves foi derrotada na C�mara.

Uma alternativa aos carros e �nibus

foi derrotada, n�o pela
General Motors e companhia,

mas pelos apoiadores dos
sub�rbios descentralizados.

O Centro foi condenado.

Nos anos 80 se verticalizou...

e houve uma tentativa de promover
pequenas habita��es na margem leste,

um esfor�o anunciado
em alguns filmes.

Mas nem os artistas aprovaram
esse novo urbanismo.

Para cineastas, um Centro real s�
existe no passado ou no futuro.

O Centro em tempos de guerra retratado por
Edward James Olmos em 'American Me'

era um lugar perigoso para
um Mexicano-americano.

Olmos n�o precisou de um �libi art�stico

para apontar onde e quando
Los Angeles deu errado:

Junho de 1943,
o Zoot Suit Riots.

Estimulado por propagandas
racistas na imprensa local,

gangues de marinheiros em
tumulto de uma semana,

batiam e despiam pachucos
caracterizados

porque seus ternos desafiavam
a identidade �tnica.

Olmos retrata esses ataques
como uma derrota humilhante,

que desonrou e desarmou a
maior gera��o de Chicanos,

e produziu uma cultura doentia
de resist�ncia masoquista amoral

como uma forma��o reacion�ria.

Qual delas?

N�o importa.

Foda-se.

La Primera vive!

O centro da cidade do futuro surge
com uma vingan�a em 'Blade Runner',

um filme que se passa em 2019.

Os sub�rbios sumiram do planeta.

As usinas sat�nicas das grandiosas
ind�strias em eterna erup��o,

e a fuma�a que se tornou
uma chuva �cida.

'Blade Runner' tem sido chamado de
"O Pesadelo Oficial" de Los Angeles,

ainda que sua vis�o dist�pica seja,
em muitos aspectos,

a realiza��o de um planejamento
sonhado para a cidade.

Finalmente, uma vibrante
vitalidade nas ruas.

O centro lotado de
transeuntes noturnos.

Um Neon que vai al�m dos sonhos.

Apenas um Unabomber
acharia tudo isso repulsivo.

As ruas repletas de
parqu�metros eletr�nicos,

mas sem carros estacionados.

O VTO substituiu o SUV,

mas n�o h� engarrafamentos no c�u.

O her�i Deckard dirige
do trabalho para casa.

Mas quando chega ao pr�dio onde mora,
encontra uma vaga logo na entrada.

Aparentemente, ele � o �nico
inquilino com um carro.

'Blade Runner' � f�cil de criticar.

Pauline Kael notou que falta
o menor interesse

sobre como o mundo chegou a
esse ponto em apenas 40 anos.

Harrison Ford reclamou da
sua narrativa deficiente:

"Eu fiz um detetive
que n�o investigava."

Ningu�m parece concordar com o significado
do filme, nem mesmo os pr�prios criadores.

O diretor Ridley Scott
e seus colaboradores

nem mesmo concordavam se o protagonista
� humano ou um replicante.

Uma pena que ela n�o viver�...

mas quem ir� mesmo?

Ainda assim, Blade Runner
continua fascinando.

Talvez ao expressar nostalgia por
uma obsoleta vis�o dist�pica do futuro,

essa vis�o servia de consolo
porque era, ao menos, sublime.

Agora o futuro se parece mais
brilhante, quente e agrad�vel..

Buffalo se tornaria Miami,

e Los Angeles se tornaria o Vale da Morte,
antes de ser varrido pela mar�.

Computadores ser�o mais r�pidos,
e n�s mais lentos.

Haver� muito progresso, mas poucos
ter�o uma vida melhor ou mais feliz.

Androides n�o ser�o sexy e perigosos.

Ser�o est�pidos e eficientes,

e ir�o assumir nossos trabalhos.

Como 'Blade Runner' � "o" filme
de Los Angeles dos anos 80,

outro filme de �poca,
'L.A. Confidential',

� "o" filme de Los Angeles
dos anos 90.

A �poca � o in�cio dos anos 50, e a retrata
bem, ao n�o tentar adequar tudo.

Na verdade, vivemos no passado.
O mundo � nossa volta n�o � novo.

Os seus objetos
como nossas casas,

nossos locais de trabalho,
at� nossas roupas e carros,

n�o se renovam diariamente.

Ent�o qualquer �poca � uma combina��o
de v�rios tempos diferentes.

E 'L.A. Confidential' est�
ciente dessa condi��o.

Como em 'Chinatown', 'L.A. Confidential'
evoca eventos e esc�ndalos reais,

A revista sensacionalista Hush-Hush �
baseada no tabloide pioneiro Confidential.

E a s�rie de TV Badge of Honor
� baseada na Dragnet.

Com licen�a, senhora.
Apenas os fatos.

Dragnet estreou no r�dio em 1949,
e foi para a televis�o em 1952.

Algumas personalidades reais
apareciam no elenco sem nome fict�cios.

Johnny Stompanato.

Uma prostituta que se parece com
Lana Turner ainda � uma prostituta.

- Ela se parece com Lana Turner.
- Ela � Lana Turner.

- Como?
- Ela � a Lana Turner.

Um esc�ndalo real:
Nas primeiras horas do Natal de 1951,

policiais embriagados espancaram
sete prisioneiros de uma briga de bar.

Essa � pelos os nossos, Poncho.

E o Daily News batizou como:
"Natal Sangrento"

Outros esc�ndalos s�o fict�cios.

Pode surpreender que um oficial
p�blico admita ter cometido um erro,

mas ap�s pensar no caso, estou
mudando de posi��o diante do tribunal.

N�o era necess�rio chantagens
para construir autoestradas.

Do centro � praia em 20 minutos.

E n�o havia conspira��o dentro
da Pol�cia de Los Angeles

para controlar os neg�cios ilegais
de Mickey Cohen nos anos 50.

- O que Exley acha disso?
- Eu ainda n�o falei para ele.

Acabei de chegar do Registros.

'L.A. Confidential' sugere
outro segredo da cidade.

A conspira��o policial � desfeita
e o seu mentor assassinado.

Mas os bons mo�os alcan�am
uma vit�ria bem pessoal.

A partir da pris�o de Mickey Cohen,

o Capit�o Smith assume o controle do
crime organizado de Los Angeles.

O que inclui a execu��o de um n�mero
desconhecido de tenentes de Mickey Cohen,

a extors�o sistem�tica dos oficiais...

Capit�o Smith o confessou
diante de mim...

antes de eu atirar nele no
Victory Motel.

H� um disfarce, e o p�blico
nunca saber� da real hist�ria.

Se fizermos o garoto jogar a bola...

quem sabe o que acontecer�?

Talvez Dudley Smith tenha
morrido como um her�i.

O cinismo se tornou o mito
dominante dos nossos tempos,

e 'L.A. Confidential' prega essa ideia.

� com grande prazer que entrego esse
pr�mio ao Detetive Edmund Exley,

duas medalhas de honra.

O cinismo diz que somos
ignorantes e impotentes,

e 'L.A. Confidential' confirma isso

Na verdade o real esc�ndalo do dia
estava na primeira p�gina dos jornais

quase diariamente desde
dezembro de 1951 a maio de 1953.

Isso levou � uma batalha p�blica
para destruir a habita��o social,

uma trag�dia da qual Los Angeles
ainda n�o se recuperou.

A queda da habita��o social n�o
prova que o povo � impotente.

Pelo contr�rio.

Ap�s seus opositores a denunciarem
como "socialismo sorrateiro",

a popula��o vetou.

A Pol�cia de Los Angeles e seu chefe William
Parker lideraram a campanha de oposi��o.

Parker vazou informa��es sigilosas para
difamar o secret�rio de habita��o

Frank Wilkinson como comunista.

�s v�speras da elei��o municipal de 1953,

Parker ajudou a acusar o
atual prefeito Fletcher Bowron,

apoiador da habita��o social,
de compactuar com Wilkinson.

Bowron perdeu por 30,000 votos, e o novo
prefeito exterminou a habita��o social.

A LAPD n�o controlava as extors�es
nos anos 50... mas toda a cidade.

A corrup��o policial em 'L.A. Confidential'
nem se compara � realidade.

O principal problema da pol�cia
durante a era de Parker

� revelado de forma precisa,
e talvez acidental, pela 'Dragnet',

a s�rie de TV parodiada
em 'L.A. Confidential'.

Parker introduziu a pr�tica
paranoica na pol�cia americana,

ao tentar criar uma for�a policial
temida e odiada pelos malfeitores.

E o Sgt. Joe Friday, o Super-Homem da
Organiza��o, personificou isso perfeitamente.

- M�os na parede.
- Dessa vez n�o.

- Prefere fazer isso no centro?
- Largue de mim, eu estou limpo.

� mesmo? M�os na parede.

Esvazie os bolsos.

- E onde devo colocar?
- No ch�o.

Joe Friday pensa
como uma m�quina.

Ele anda e fala como um rob�.

Na verdade, eu adoro Dragnet,

especialmente sua reencarna��o
no fim dos anos 60,

quando Friday ganha um novo
parceiro e adere � cultura jovem.

- Encontrar� o meu pai ap�s sair?
- Claro.

Pe�a para ele ler a b�blia.

A carta de Paulo aos Ef�sios.

- Talvez ele entender�
- Por qu�?

Pelo o que diz sobre
a nossa gera��o.

Diga para ler o cap�tulo 6:

"Pais, n�o provoqueis
� ira vossos filhos."

"Os velhos modos n�o s�o os deles."

"Seu crep�sculo � o alvorecer deles.
Eles possuem o futuro"

Tente o cap�tulo 5, garota.

- O ap�stolo Paulo tamb�m disse isso.
- E o que seria?

"Portanto, vede prudentemente como andais,
n�o como n�scios, e sim como s�bios"

Seu criador e astro Jack Webb

dirigiu cada epis�dio com um rigor
equiparado apenas a Ozu e Bresson,

os mestres cinematogr�ficos da
simplicidade transcendental.

'Dragnet' expressava admiravelmente
o desprezo da LAPD

pelos cidad�os de bem que
jurava "servir e proteger".

Ela nos protegia de n�s mesmos,

e nos servia apesar do nosso grande
esfor�o em dificultar seu trabalho.

Quinn, queremos que
apare�a no centro.

Sr. Friday, como bem sabe,
eu n�o farei isso.

- Teme testemunhar, Quinn?
- Apenas n�o me lembro.

O que �? Sua fam�lia,
esposa, crian�as?

N�o tenho fam�lia, sou sozinho.

Mas n�o vou ao centro
e me meter em algo.

Ter� que se apresentar ao j�ri,
ser� intimado.

Sr. Friday, quero te
perguntar uma coisa...

se fosse eu, voc� faria isso?

- Posso esperar um pouco?
- Como?

Antes que eu seja voc�?

Friday nunca larga
a sua ironia pesada.

E nem as pessoas que ele questiona
rompem sua barreira de superioridade.

- N�o acredita no que eu digo?
- Est� dificultando, senhorita.

Por qu�? Eu disse a verdade.

Claro que disse, em tr�s vers�es.

Como eu dizia, eu s� mexo
com ideias, nada mais.

Posso at� te vender algumas.

Voc� nem me venderia o
caminho do banheiro masculino.

As figuras grotescas que ele
se deparava semanalmente

devem ter contribu�do bastante
para consolidar a cidade

como a capital mundial do bizarro.

O poder das flores os trouxe aqui.

- N�o, somos policiais.
- Que ador�vel.

Voc� � a Srta. Deleon?

Noradella DeLeone � o meu nome de registro,
mas eu mudei h� uma hora atr�s.

� t�o artificial, t�o deslocado.
Apenas me chamem de Agnes Hickey.

N�o sou como alguns.
Eu puxo as penas.

Al�m do que, voc�s s�o as pr�prias flores.
Tamb�m precisam viver.

A senhora alegou ter a bolsa
roubada por um c�o?

Obviamente 'Dragnet' n�o � um
retrato documental da LAPD,

e seus detetives n�o
eram como Joe Friday.

O assustador � que ele representa
o ideal da corpora��o.

�s vezes me pergunto se somos mais obcecados
com a pol�cia do que em outras cidades.

H� outro lugar em que a pol�cia
escreve seu lema entre aspas?

Est�o tentando ser ir�nicos?

Pode haver um filme em Los Angeles
que n�o aborde sua pol�cia?

Apenas se for um filme sobre
a ind�stria cinematogr�fica,

e ainda assim, a pol�cia
costuma aparecer,

apesar de serem geralmente
dos sub�rbios, e n�o a LAPD.

Sr. Mill, sou o detetive DeLongpre,
Pol�cia de Pasadena."

Est� me colocando em
uma posi��o dif�cil aqui.

Odiaria que prendessem a pessoa errada.

Por favor, aqui � Pasadena.
N�o prendemos a pessoa errada.

Isso s� em L.A.

A imagem da Dragnet abriu caminho para
o realismo existencial de Joseph Wambaugh,

sargento da LAPD,
que virou escritor e roteirista.

Nos filmes de Wambaugh, o trabalho tornava
os policiais alco�latras e neur�ticos.

N�s, policiais, �s vezes vimos
coisas que os outros n�o veem.

Deixa marcas.

Quando est� investigando
e coletando pistas?

N�o coletamos pistas, mas apenas lixo,
e rezamos para algu�m confessar.

Eles se comportavam mal...

perdiam brigas...

eram humilhados...

eles morriam.

Durante a histeria das gangues nos anos 80,
o estoico policial her�i volta � tona,

e os filmes de viol�ncia urbana
aderiram ao apocalipse.

Uma m�quina da matar policial surgiu:

'The Terminator', de James Cameron.

Eu voltarei.

Cameron gostava de matar policiais,

e todos que odiavam a pol�cia se
surpreenderam com seus massacres.

Ao mesmo tempo, a imagem do policial
de Los Angeles foi se fragmentando.

Sylvester Stallone ensaiou duas
vers�es de policiais estilosos.

Mel Gibson fez um policial suicida...

e Richard Gere um policial homicida.

Andy Garcia e Al Pacino fizeram
policiais com esposas art�sticas

que os faziam viver em
casas de n�o policiais.

Esse � o meu amigo Ralph.

- Voc� n�o me disse que era...
- Sente-se.

- Nunca fica com raiva?
- Estou com raiva.

Estou furioso, Ralph...

Voc� pode comer minha
esposa se quiser.

Pode se deitar no sof� dela.

na casa dead-tech, p�s-modernista de
merda do seu ex-marido se quiser.

Mas voc� nunca assista a
porra da minha televis�o!

Pelo amor de deus.

Ap�s a divulga��o do espancamento
de Rodney King em 1991,

os policiais nos filmes de Los Angeles
ficaram ainda mais bizarros.

Havia o policial psicopata...

Chegarei em breve, querida.

o policial dominado pela esposa...

Diga.

- Certo.
- Diga.

Chego em breve.

N�o, diga!

Chego em breve...
e eu te amo. Certo?

e um policial com tes�o incontrol�vel,
escravo do seu p�nis.

Voc� � uma prostituta?

Talvez.

Tenho algo para te dizer...

- Eu gosto de prostitutas.
- � mesmo?

Eu adoro!

- Aposto que conhece v�rias.
- Com certeza.

Eu vou foder at� estourar
os seus miolos por $50.

Esque�a aquele hamb�rguer.

Que tes�o!
Para voc� tamb�m?

Havia at� um detetive de
homic�dios 'New Age',

geralmente usando uma jaqueta sem colarinho
e um ros�rio Tibetano no pesco�o.

Qual � a desse colar?

Chama-se mhala,
� um ros�rio tibetano.

Para que usa?

Para acalmar a mente
e purificar as ideias.

E eu uso Jack Daniels.

- Cale-se!
- Qual o perigo nisso?

Havia tamb�m um policial
motociclista que odiava cachorros

no show de miser�veis
de Robert Altman,

vivendo vidas desesperadas...

vindos do Pac�fico norte
de Raymond Carver

para o sul da Calif�rnia.

Pode ir embora.
N�o te queremos mais.

V�, n�o te queremos mais.

Olhe isso.

� um osso.

V� buscar.

Introduzindo uma s�rie de
hist�rias adaptadas de Carver,

Altman escreveu:

"O local � a Los Angeles inexplorada,
que tamb�m � o lugar de Carver"

"e n�o Hollywood ou Beverly Hills,
mas Downey, Watts"

"Compton, Pomona, Glendale..."

"sub�rbios americanos."

"Os nomes que ouvem
nos relat�rios rodovi�rios."

"Em outras palavras:"

"Se voc� realmente mora
em um desses lugares,"

"ao inv�s de apenas ouvi-los
anunciados no r�dio,"

"voc� n�o estaria
lendo esse livro."

Mas as paisagens urbanas no seu filme
n�o se parecem com Watts, nem Glendale,

e elas n�o s�o.

Apenas um casal vive nas
colinas de Hollywood,

mas os outros vivem mais perto
de Hollywood do que Downey.

A omiss�o de Altman
pelos outros sub�rbios

sugerem as dificuldades que os
diretores de Hollywood enfrentam

ao tentar fazer um filme contempor�neo
sobre Los Angeles.

Eles conhecem apenas um
pequeno peda�o da cidade,

o qual j� foi excessivamente filmado.

Um filme de g�nero ou adapta��o
� a melhor sa�da.

O melhor filme de Altman
atende a ambos.

Sua vers�o de Philip Marlowe

fez o cavaleiro anglo-sax�nico
Raymond Chandler

virar um Don Quixote
judeu viciado em cigarro,

um nobre tolo.

Ol� garotas.
Viram o meu gato?

No outro dia ele fugiu...

Estou viajando por alguns dias...

Seria �timo se ele aparecesse
se puderem cuidar dele, dar leite.

Elas nem est�o aqui!
Tudo bem.

Ent�o voc� matou
sua esposa, Terry?

Ela n�o me deu escolhas.

Ent�o n�o teve chance?

Voc� me usou.

Para isso s�o os amigos.
Eu estava em um engarrafamento.

E da�, ningu�m se importa.

Ningu�m se importa, exceto eu.

� um problema seu, Marlowe.

Nunca aprender�.
� um perdedor nato.

Marlowe n�o tem nenhuma chance
de pegar a garota suspeita no final.

Ele nem acha o seu gato perdido.

� dif�cil fazer um filme pessoal,
baseado na pr�pria experi�ncia,

quando se � t�o superprivilegiado.

A tend�ncia � evitar
os menos favorecidos,

o que � quase todo mundo.

Se ridiculariza seu c�rculo de amigos,
o filme parecer� amargo e f�til.

Se faz de seus problemas um melodrama,

o filme parecer� pat�tico
e autocomplacente.

Em 'L.A. Story',

Steve Martin atinge o rid�culo

e cria uma respeit�vel
com�dia fracassada.

Claro que � L.A., e n�o Los Angeles.

A L.A. de Martin � quase t�o branca
como a Manhattan de Woody Allen.

H� dois pap�is negros com di�logos...

Foram os primeiros a chegar.

Por aqui, por favor.

Ambos funcion�rios de restaurante.

Vou te dizer o que vamos comer.

Temos macarr�o primavera
e v�rios tipos de carne.

Pode cham�-los de
estere�tipos racistas,

mas todo o filme � feito
desses estere�tipos.

Eu j� acabei e nem
lembro de comer.

As com�dias de John Cassavetes
v�o mais a fundo

porque ele tem uma percep��o
da loucura ordin�ria.

Que horas s�o?

Esses lampejos de loucura que
nos separa dos outros.

Estou esperando meus
filhos na escola.

Importa-se em dizer as horas?

Qual o seu problema?

Suas com�dias se deparam
com a trag�dia e a rejeita.

O sofrimento basta por si s�, e a sua
promessa de sabedoria � uma ilus�o.

Para Cassavetes,
a felicidade � a �nica verdade.

Ent�o ele bebeu at� morrer.

'Hanging Up' de Diane Keaton segue
pelo caminho do melodrama.

Uma m�e ausente
e um velho pai ranzinza,

produzem uma intensa
rivalidade entre tr�s irm�s.

Eve, n�o vai falar comigo?
� isso mesmo?

E por que n�o est� falando comigo?
Eu n�o fiz nada.

Mas a morte do pai
restaura a harmonia,

ao menos o suficiente
para um final feliz.

As tr�s dram�ticas tagarelam
nos tr�s telefonemas que se cruzam,

transformando qualquer espa�o
em uma festa de pijama.

Keaton insiste que 'Hanging Up'
� um filme sobre Los Angeles,

mas o espa�o p�blico
� quase reduzido

a um t�nel e uma ponte, que cruzam
uma cidade sem popula��o.

Em 'Hanging Up',
as pessoas n�o existem.

Lawrence Kasdan tentou achar
um meio-termo em 'Grand Canyon',

uma vers�o liberal do pesadelo urbano.

Coisas ruins acontecem
com pessoas boas,

e eles come�am a se
perguntar o significado.

O mundo n�o faz mais
sentido para mim...

Digo, o que est� havendo?

H� beb�s abandonados nas ruas.
Pessoas vivendo em caixas.

H� pessoas que te d�o
um tiro se olhar para elas.

E estamos nos acostumando a isso.

Mas sua reviravolta
metaf�sica � complacente,

e o filme de Kasdan afunda
na pr�pria incoer�ncia.

Um assalto t�o inexplic�vel
quando um milagre.

Por que tentar, irm�o?
Fique com o beb�.

Voc�s se precisam
mutuamente.

Se o tecido social se desintegrou,

n�o podemos ao menos
entender como aconteceu?

Ao inv�s disso, Kasdan procura consolo nos
pequenos triunfos e epifanias do cotidiano,

como uma aula de dire��o.

Desculpe, pai.

Isso � algo dif�cil.

Virar � esquerda em L.A. � uma das coisas
mais dif�ceis a se aprender na vida.

H� uma certa ironia aqui,

mas � imposs�vel ignorar que seu
desafio particular � um privilegio.

Mas h� uma outra cidade.

O real Centro da cidade cheio de
pessoas aparentemente invis�veis

para os que alegam ser
deserta ap�s o expediente.

Onde est�o os gringos?

Olhe para a rua...
� igual ao M�xico.

Voc� acha mesmo que os gringos
querem morar com o mexicanos?

Eles vivem nos seus
pr�prios bairros.

E um outro cinema.

Uma cidade de transeuntes...
um cinema do caminhar.

Come�a com 'The Exiles'
de Kent MacKenzie.

Pode cham�-lo de neorrealista.

J� que fica fora dos
est�dios de Hollywood,

pode cham�-lo de independente,

mas n�o � Pulp Fiction.

Eu rezava todas as
noites antes de dormir

e pedia por algo que desejava,

mas nunca consegui.

� como se minhas preces
nunca foram atendidas

Ent�o eu desisti.

E agora eu mal vou
� igreja ou rezo.

MacKenzie, que morreu prematuramente
ap�s fazer apenas outro filme

foi o pioneiro.

Quinze anos depois,

finalmente houve um movimento
neorrealista em Los Angeles,

guiado por jovens
cineastas negros do sul:

Haile Gerima da Eti�pia...

Charles Burnett do Mississippi...

Billy Woodberry do Texas.

'Bush Mama' de Haile Gerima �
mais um filme sobre a pol�cia,

mas � um dos primeiros a mostrar
os policiais atrav�s do outro lado,

do ponto de vista do brutalizado:
os negros do sul de Los Angeles,

que s�o levados a crer que vivem
em um territ�rio ocupado.

O Neorrealismo retrata uma outra realidade,
e cria um novo tipo de protagonista:

Dorothy, a bush mama,
� uma vidente, n�o uma atriz.

H� uma fenda no
mundo das apar�ncias,

e ela � indefesa diante da vis�o
cotidiana da realidade

que � insuport�vel.

Quem conhece a cidade?

Apenas os que caminham,

apenas os que andam de �nibus.

Esque�a o falat�rio m�stico de Joan Didion e
companhia, sobre autom�veis e rodovias.

Eles dizem que ningu�m caminha.

Significa que nenhum branco
rico como n�s caminha.

Alegam que ningu�m
pega �nibus,

at� que um dia descobrimos que Los Angeles
tem os �nibus mais lotados dos EUA.

O homem branco que
administra o tr�nsito

respondeu � novidade,
n�o melhorando o servi�o,

mas desencorajando o seu uso.

Aumentaram os pre�os,

Pararam de imprimir mapas
do sistema de �nibus.

Eles se recusaram a anexar as rotas
e hor�rios nas paradas de �nibus.

Investiram o dinheiro em projetos
mais glamorosos como metr� e VLT.

Processados por discrimina��o,

aceitaram um acordo...
cancelando os investimentos.

O neorrealismo tamb�m assume
um outro tipo de tempo.

Um tempo especializado, n�o
cronol�gico de medita��o e mem�ria.

O beb� morreu. Entendeu?
O beb� morreu.

Ela est� morta.

O que est� fazendo a�, mulher?

Em Bush Mama, tudo � filtrado
atrav�s da consci�ncia de Dorothy,

e assim segue o filme, passando
livremente da percep��o � mem�ria.

'Killer of Sheep' de Charles Burnett
parece suspenso fora do tempo.

Burnett mesclava as d�cadas de
sua inf�ncia, juventude, e vida adulta,

adicionando um panorama idiossincr�tico
de m�sica negra cl�ssica,

desde Paul Robeson a Lowell Fulsom.

Ent�o um retrato de
uma fam�lia e seu bairro

se tornava um �pico de uma
heroica resist�ncia negra.

A pol�cia n�o aparece
em 'Killer of Sheep',

e todos tinham um carro
ou caminhonete,

embora fossem mais
problem�ticos que �teis.

O protagonista tem um emprego.

Ele � um abatedor de ovelhas.

Mas um trabalho tamb�m
pode quebrar seu cora��o.

Os americanos brancos declararam
uma crise nas fam�lias negras,

como pretexto para sua campanha
de genoc�dio gradativo

contra sua popula��o
descart�vel de ex-escravos,

que ficou obsoleta com a chegada
dos trabalhadores imigrantes.

Ent�o os cineastas negros responderam
enfatizando fam�lias e crian�as.

Embora Hollywood d�
credibilidade � investida

ao imaginar "South Central"
como um parque dist�pico

de putas, drogados e bandidos,

independente dos cineastas mostrarem
que a real crise da fam�lia negra

� apenas uma crise
da classe oper�ria,

branca ou preta,

onde os valores familiares
est�o sempre em risco

porque a amea�a de desemprego
� sempre iminente.

V�o logo para n�o
atrasar na igreja.

Tantos homens sem
utilidade, indesejados,

em um mundo com
tanto a se fazer.

'Bless Their Little Hearts'
de Billy Woodberry,

d� uma volta por um
marco invertido,

em uma das ind�strias fechadas
que j� forneceu empregos

para a classe oper�ria
negra de Los Angeles.

Constru�da em 1919,
e fechada em 1980,

a f�brica da Good Year em
South Central Avenue

foi a primeira e maior
ind�stria de pneus

at� ent�o instalada
em Los Angeles.

H� muito tempo,

as pessoas visitavam as f�bricas
para ver como os pneus eram feitos,

assim como hoje,

eles podem visitar um est�dio

e ver como os filmes s�o feitos.

Tradu��o PT-BR: gooz
makingoff.org