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"O PORN�GRAFO"

Quero sentir voc�.

� simples: Deixe eu ver seu rabo.

Isso me excita.

Vira. Quero sentir sua
bunda no meu pinto.

Jacques Laurent nasceu
em 1950, em Lyon.

Nos anos 70, em Paris, come�a a
exercer a carreira de porn�grafo...

isto �, dirige filmes pornogr�ficos.

Dirige uns 40 at� 1984.
Depois p�ra.

O �ltimo projeto de
Jacques era "0 Animal".

O tema do filme era
uma grande ca�ada

em que o animal era substitu�do
por uma garota.

O final do filme seria uma s�rie de
cenas curtas, violentas e din�micas

no limite da abstra��o.

Jacques nunca conseguiu
financiamento para o projeto.

- Foi agrad�vel?
- Muito.

A tempestade estragou
duas macieiras e uma pereira.

Parab�ns. Gostaria de ter uma casa
como esta.

Sim, gosto muito dela.

Vimos um castelo perto daqui. Mas
um castelo n�o se compra, herda-se.

- Leve-o, se quiser.
- N�o, eu...

Vamos fazer o espaguete?

- E o molho?
- Molho � f�cil, basta azeite.

- E os tomates?
- S�o para a salada.

- Sejamos simples.
- Sim, sejamos simples.

- Quer ajuda?
- N�o, tudo bem.

- T�m mesmo de partir hoje?
- Sim, amanh� Jacques trabalha.

Infelizmente.

- Quando vai receber?
- 5 mil hoje, 7 mil no final.

- 12 mil?
- Por quatro dias de filmagem.

N�o paga o que devemos,
mas, enfim!

- N�o ser� um drama, se fizer outros.
- N�o, eu sei.

- Est� preocupado?
- N�o.

- Divirta-se, j� que est� nisso.
- N�o, tenho algumas ideias.

N�o vai ficar mal, de verdade.
J� que estou nisso.

O cara est� sentado na cama,
todo vestido.

Ele se apresenta, diz seu nome.

Pode falar na sua l�ngua, em russo.
N�o precisa traduzir.

E come�a a se acariciar
por cima da cal�a.

Depois tira a roupa.

Um cara se masturbando.
N�o funciona.

N�o concordo. Cria tens�o.

Estou meio perdido.
N�o entendi o papel de lgor.

� um pouco abstrato. Olha a�.
De todo jeito, a hist�ria faz sentido.

Afinal � uma homenagem aos filmes
que voc� fez h� 20 anos.

Falta alguma coisa no cen�rio.
N�o sei o qu�, mas falta.

Talvez

a cena de sexo.

- Com quem?
- N�o sei.

Estava pensando,

o filme s� funciona se acreditamos
no amor de Victoria por lgor.

Sem d�vida, voc� tem raz�o.

� o �nico jeito de ficar
excitado at� o fim do filme.

Ningu�m pode reconhecer a casa.

� pena. Logo agora que
conseguimos uma mans�o.

- Desculpe. � voc� a atriz?
- N�o.

- Sou a maquiadora.
- Desculpe.

Bom dia.

- Jo�o.
- Jacques.

Sou o primeiro assistente.
Enfim, o �nico.

- Vem a calhar, esqueci meu roteiro.
- Pegue o meu.

Bom dia. Xavier.

Ser� o motorista da minha filha.
Ter� de lev�-la � escola, busc�-la,

lev�-la � aula de piano
e traz�-la para casa.

- Sim, madame.
- Como � mesmo seu nome?

Igor.

Voc� ver�, ela � muito gentil.
Chama-se Victoria. Tem 16 anos.

Muito bem, madame.

Victoria.

Obrigada.

- Ent�o voc� � um cronista mundano?
- Pode-se dizer que sim.

Na verdade, quero que finja ser
o motorista da minha filha,

que a acompanhe por toda a parte.
Que fique com ela

e me fa�a, por escrito e com fotos,
um relat�rio de sua vida noturna,

para que da� eu possa
escrever um livro.

Ser� um prazer, gosto da ideia.

- Desculpe, esqueci seu nome.
- Igor.

Voc� ver�, lgor, ela � ador�vel.

Chama-se Victoria.

Tem 16 anos.

Victoria.

- Bom dia.
- Bom dia.

Trouxe dois vestidos.
Qual deles prefere? O azul ou

- o preto?
- O azul.

- O azul. E os cabelos?
- Assim mesmo, est� bom.

- Est� bem.
- Desculpe.

Sem esmalte, por favor. N�o gosto.
Me faz vomitar. Tire, por favor.

- Estou quase pronta.
- Podemos come�ar.

- Vamos.
- S� temos um homem para amanh�.

O encanador vai virar um fantasma
e Mathias vai fazer os dois pap�is.

Sim, � uma boa ideia.

� uma ideia or�ament�ria.

N�o posso ir dormir sem trepar
mais uma vez. O que acha, lgor?

- Com certeza.
- E quem voc� quer?

Escolha, lgor. Estou muito cansada.

- Pode me emprestar esse neg�cio?
- Ligo depois. Tome.

- Como isso funciona?
- Tecle o n�mero e aperte aqui.

Isso n�o d� c�ncer no c�rebro, d�?

- O qu�?
- Nada. � o diabo.

Al�, Jeanne?

Nada de especial.

S� queria ouvir sua voz.

Um beijo.

- Ent�o, eles estavam nus.
- Sim, madame.

Mostre-me, conte-me,
n�o tenho nenhuma imagina��o.

- Os rapazes se acariciaram...
- Chega, n�o consigo visualizar.

Tenho fotos, madame,
se quiser realmente ver.

- Ent�o estavam todos nus. � isso?
- Sim, madame.

Mostre-me, conte-me.

N�o tenho nenhuma imagina��o.

- Os rapazes estavam se acariciando...
- Chega, n�o consigo visualizar.

- Tirei fotos, se quiser ver.
- Estou sem �culos. Mostre-me.

Como quiser, mas eu a previno:
tenho uma pica de cavalo.

O sujeito entra sem saber de nada.
Obviamente, n�o t�nhamos autoriza��o.

Ele v� aquilo,
vira-se para mim e diz:

"Puxa, que legal, todo mundo
come todo mundo. Estou nessa".

E tira a roupa.
N�s n�o sab�amos quem era.

N�o sab�amos que era do governo.

E a ideia do acidente de carro
de Perverse Ni�oise, como teve?

Essas ideias me v�m � noite.
Eu acordo e...

O problema � que durmo
de novo e esque�o tudo.

Agora tenho um caderno onde
anoto as ideias que v�m � noite.

Certo.

Tenho uma m� not�cia. O �ltimo
dia de filmagem foi cancelado.

Receber�o meio cach�.
Sinto muito, n�o tem outro jeito.

Vamos rever as fitas do cat�logo.

Podemos pegar umas cenas
de penetra��o e edit�-las.

Diga, me tranquilize.
N�o est� filmando besteiras?

N�o, n�o se preocupe.

- Est� com problema de dinheiro?
- Estou devendo.

N�o pague.

- J� levaram meu carro uma vez.
- Uma raz�o a mais. N�o pague.

- E Alban, por onde anda?
- Alban?

N�o sei.
Faz um temp�o que n�o o vejo.

Gosto muito de "Hotel das
Garotas". Acho muito bom.

- Obrigado.
- Foi bastante inovador.

- Inovador, n�o sei, mas obrigado.
- Em todo caso, revolucionou o g�nero.

O g�nero...

Aonde voc� vai?

- Preparar o carro.
- Agora?

- N�o pretende sair esta noite?
- Sim.

- Sabe aonde ir?
- N�o, ainda n�o.

- Antes tenho de lev�-la para a aula.
- Sim, claro.

- Avisou minha m�e que vou sair?
- Sim.

- Ela concordou?
- Sim. Ali�s, ela tamb�m vai sair.

- Bom. Ent�o at� j�.
- At� j�.

Desculpe.

- Fui meio bruto agora, h� pouco.
- N�o, tudo bem.

- De todo jeito, me sinto feia.
- N�o, � a luz.

- N�o est� boa.
- N�o, sou eu.

Quando meu filho era pequeno,
sempre me perguntava o que eu fazia.

Como todos os pais fazem alguma
coisa, eu dizia que era cineasta.

Todos os anos eu me dizia: "Ele ainda
� pequeno, ano que vem eu conto".

E isso durou anos.

Um dia ele descobriu sozinho

e foi embora de casa.

Nunca mais o vi.

Meus pais n�o sabem.
Enfim, acho que n�o.

- Sim?
- Vamos rodar a cena de Jenny e lgor.

� a cena final.

� a cena em que voc� est� muito,
muito apaixonada.

- Sim, a cena final.
- A cena final.

Precisamos andar mais r�pido.
Ele fica bebendo caf�, fumando.

- Pensando.
- Vamos andar mais r�pido.

O problema � que n�o sei o que est�
filmando. Viu um cara de vestido?

Vi.

Se vejo voc� gozando,
n�o preciso ouvir.

O mesmo com os gritos.

Segure. Algo quase mec�nico.

N�o tente ser aut�ntica,
n�o tente criar uma emo��o.

- A emo��o sou eu que procuro.
- Certo.

- N�o.
- Por que n�o?

- Porque n�o.
- Fique com elas, ent�o.

Outra coisa.

Na fela��o final, quando ele gozar,

- engula o esperma.
- Tem certeza?

Sim. N�o sobre o rosto.

- Como voc� quiser.
- Eu quero.

- Voc� � muito bonita.
- Obrigada.

Ficaria bonito se no final,
na �ltima sequ�ncia,

mostr�ssemos um parto. Como se essa
rela��o, que � a principal do filme,

desse origem a uma crian�a.
Ou ent�o, simplesmente,

- a imagem de um rec�m-nascido.
- Voc� enlouqueceu?

- Estou com frio.
- J� vamos.

Um segundo.

Pinte as unhas, vamos rodar.

- Tem certeza?
- Sim, v�.

Est� frio mesmo. Ligue o aquecedor.
Eles est�o nus, precisamos ver isso.

Sim, � s� o que se v�.

Bom, esta c�mera,

de um rosto para o outro.
Mais nada.

Esta c�mera, plano aberto.

Mostre tudo, n�o se aproxime nunca.

Em seguida,

s� as partes do corpo.

Siga os p�s, as axilas,
os rostos e volte para o sexo.

- Mas o quadro, assim.
- Conhe�o seu enquadramento.

- Nunca se move, � fixo.
- Que babaca!

- Que m�sica � essa?
- Achei que ficaria boa nessa cena.

- Voc� pensa demais. Sem m�sica.
- Bom.

Vai.

N�o � mais meu motorista.
N�o vou � aula.

N�o quero mais passar
a noite com cretinos.

- Continuo ao seu servi�o?
- N�o, eu estou ao seu.

- Ao meu servi�o?
- Sou sua depois dessas aulas todas.

- Agora estou a seu servi�o.
- Acho que isso me agrada.

- Tem certeza?
- Sim.

Diga.

Isso me agrada.
Tire a roupa.

- Desde o in�cio eu queria isso.
- Acaricie-se.

Desde o in�cio eu
queria isso tamb�m.

Eu amo voc�.

- Vou possuir voc�.
- Sim.

Eu amo voc�.

Eu amo voc�.

- N�o vai dirigir?
- N�o, j� disse a eles o que fazer.

Acho que est� muito velho para isso.

N�o estou ouvindo, Jenny.

Mais alto, n�o estou ouvindo.

Voc� est� morta, Jenny.

N�o estou ouvindo, Jenny.
Mais alto.

Vai, agora lamba.
Voc� a�, aproxime-se, por favor.

N�o estou ouvindo, Jenny.

M�sica.

N�o estou ouvindo, Jenny.

Agora a fela��o.

Corta!

Cortado!

� isso. N�o ficou mau.

Ele teve de segurar os bra�os dela.
N�o � f�cil.

N�o?

- Podemos conversar?
- Sim.

Tudo bem?

Sim, tudo bem.

� como andar de bicicleta:
nunca se esquece.

Amanh� vamos acordar cedo. Estamos
atrasados. N�o quero acordar voc�.

- Vou deixar o dinheiro aqui.
- Jacques.

- Sim?
- Joseph telefonou.

- Est� feliz?
- � claro que estou. � meu filho.

Revista feminina � muito besta. Quem
acredita que se emagrece dormindo?

- Por que compra isso, Jean-Luc?
- Porque sou uma garota.

Ah, o hor�scopo.

Maravilha.

O que acha?

Os meios n�o est�o claros. Precisa
dizer que n�o existe mais troca.

Tem de come�ar por:

"Vivemos uma era sem alegria
e contribu�mos para isso".

- Coloque no in�cio.
- Talvez.

- Boa tarde.
- Boa tarde.

Quer beber alguma coisa?

N�o, estou bem.

Como quiser.

- Voc� mora aqui?
- N�o, vou ver algu�m.

- Podemos nos ver amanh�, se quiser.
- Tudo bem. At� amanh�.

- Jeanne vai bem?
- Sim, vai bem.

N�o tem trabalhado muito,
mas est� bem.

Ficou contente por voc�
ter ligado. Eu tamb�m.

- Tudo bem? Algum problema?
- E voc�? Continua filmando?

Tinha parado, agora recomecei.

- Ent�o continua.
- Sim, continuo.

- Ainda gosta?
- Ou�a.

Voc� precisa me desculpar.
Eu disse que fazia filmes.

N�o fazia mais. Mas eu n�o
podia dizer que n�o trabalhava.

E, depois, voc� tinha 5 anos,
era dif�cil explicar.

Al�m disso,
sua m�e tinha acabado de morrer.

- Depois nunca soube quando contar.
- J� entendi.

- � por isso que mud�vamos tanto?
- Entre outras coisas.

Nunca imaginou que um dia eu
descobriria que fazia filmes porn�s?

- Por que n�o usou um pseud�nimo?
- N�o pensei nisso.

- Usei um quando voc� nasceu.
- Laurent Jacquet.

- Podia arranjar um melhor.
- Eu sei, � rid�culo.

N�o � esse o problema.
Mas � rid�culo mesmo.

Ou�a.

N�o sei como dizer, mas

� importante para mim
que voc� seja feliz.

Voc� � muito solicitada?

Sim.

E o que voc� faz?

Nada.

- Por qu�?
- Porque sim.

Pode deitar na mesa, por favor?

- Finja que est� nadando.
- E voc�, o que faz?

Eu dan�o, e venero voc�.

- Monika.
- O qu�?

Monika.

Monika Laurent.

Monika Laurent.

Pode esquecer.
N�o quero me casar.

� uma pena.

Olhe esse a�.

- J� n�o se interessa por arquitetura?
- N�o muito.

� Monika que
me interessa.

Dizem que estamos aqui para
constatar um fracasso.

O que foi feito n�o funciona,
e n�s pagamos pelo passado.

Pedem para assistirmos � fal�ncia
geral, da qual ser�amos os atores.

- Estou cheio de ouvir isso.
- N�o vejo o que nos reprovam.

Acabamos de chegar,
a culpa � dos mais velhos.

Dizem que n�s somos
uma gera��o privilegiada.

- Os ecologistas n�o s�o uns nojentos?
- � um saco essa nostalgia deles.

Hoje � 30 de junho.

N�o tenho opini�o, mas discordo.
Simplesmente porque tem alternativa.

Precisamos ser l�cidos e vigilantes.

Vou ler o texto: "Vivemos uma era
sem alegria e contribu�mos para isso.

"Precisamos refletir longamente e
tomar decis�es radicais e finais.

"Como falar ao governo se n�o fala
a n�s, mas � ideia que tem de n�s?"

A quest�o � o amor. Sou amado?
Sou bom o bastante para ser amado?

O mesmo vale para a sociedade. Somos
bons o bastante para que ela nos ame?

Hoje s� existem grupos isolados,
aut�nomos e violentos.

A ci�ncia � uma bela ideia. Um cara
se operou para ser s�sia da esposa.

Pol�tica s�o propostas,
n�o den�ncias. Precisamos t�-las.

- O Estado me interessa. O governo...
- Calar. � o protesto final.

- Como, completamente?
- Sim. Calar.

Ent�o calemos.

Quando as pessoas iam para
as ruas em 68, era rom�ntico.

Porque recusavam
a sociedade tal como era.

Os velhos s�mbolos, o trabalho.

N�s protestamos pelo contr�rio.
Para trabalhar,

ser reconhecido pela sociedade

e tamb�m para ser invis�vel.

� individualista, � terr�vel.

Isso me aborrece.

O capitalismo gera a crise,
a crise gera a guerra.

Eu, como sou pacifista,

escolhi a revolu��o, porque n�o
acredito numa terceira solu��o.

Fiz isso � minha maneira.
N�o sei se foi bom, mas fiz.

Voc�, fa�a o que puder.

De qualquer forma,
voc� nunca me obedeceu.

Tamb�m nunca desobedeceu, ali�s.

Quando voc� era pequeno,
achava isso aqui bonito.

Eu achava horr�vel.
Agora gosto muito.

Seu av� morreu no ano passado.

- Qual deles?
- O pai da sua m�e.

- Como?
- Muito bem.

Estava vendo tev�, o cora��o parou,
mal teve tempo de chamar sua av�

e caiu morto.

E voc� tem dois priminhos. G�meos.

Foi dali que sua m�e se jogou.

A babaca!

Por que me chamou de Joseph?
� um nome pesado.

� bonito: Joseph.

- Talvez um dia lhe agrade.
- Duvido.

- Estou sem dinheiro. Tudo bem?
- Tudo bem. Eu me viro.

Est� trabalhando?

- Quer tomar um trago?
- Sim, se quiser.

Eu quero.

- Preferia que eu fosse industrial?
- N�o � esse o problema.

Meu pai era m�dico.

Eu tamb�m achava obsceno
o que ele fazia.

- O obsceno n�o precisa ser vil.
- J� disse que n�o � esse o problema.

Como ele est�?

Acho que bem. Ele n�o fala muito.

Talvez eu devesse lhe ligar.

- Al�?
- Boa noite.

- O Sr. Jacques Laurent, por favor.
- � ele.

Desculpe incomodar. Meu nome
� Olivia Riochet, sou jornalista.

- Procuro Jacques Laurent, cineasta.
- Sinto muito, n�o sou eu.

- Como h� v�rios Jacques Laurent...
- Exato. Deve ser outro.

- Desculpe pelo inc�modo. At� logo.
- At� logo.

Uma chata qualquer.

N�o � com ideias po�ticas
que se faz uma revolu��o.

N�o sei.

- Poesia n�o mata.
- Isso n�o � engajamento.

Dane-se. Estou cansado disso.

- Posso dormir aqui?
- Se quiser.

Onde fico?

No sof�.

N�o, a moreninha.

Sim.

Ela deixou o telefone?

Um e-mail?

Est� bem.

� terr�vel.

Bill, venha ver.

Estou vendo.

E me d� uma ideia.
A garota parece decidida.

J� vamos ver.

Com licen�a, perdi meu cavalo.
Podem me ajudar?

- Acho que sim, mas...
- O que podemos fazer?

Estou cansada, quero voltar
� cidade para descansar.

- Quer se deitar, � isso?
- Entendi, voc� quer se deitar.

Sim, estou exausta.

- N�s tamb�m, n�o �, Bill?
- Isso mesmo, acabados.

- Ali�s, dev�amos deitar na grama.
- Saia, o que est� fazendo?

- Vamos, estamos cansados.
- Quer dizer que...

Entendi. Afinal, por que n�o?
Dois garanh�es como voc�s,

devem ter belas pistolas.

"Vivemos uma era sem alegria
e contribu�mos para isso.

"Precisamos refletir longamente e
tomar decis�es radicais e finais.

"Como falar ao governo, se n�o fala
a n�s, mas � ideia que tem de n�s?

"Diante de tantas propostas, � preciso
uma amea�a, um grupo de interven��o.

"H� sintomas de uma guerra mundial,
mas ela n�o ser� como as anteriores.

"Ser� substitu�da por guerras civis
dentro de cada pa�s consciente.

"Essa guerra ser� travada
com as armas do poss�vel.

"Usaremos as palavras de forma
radical. Seremos impenetr�veis.

"Nada de greves, manifesta��es,
contraproposta ou aceita��o.

"Somente o sil�ncio como �ltima
contesta��o. Calemo-nos."

Oi.

Joseph.

Joseph.

Al�, Jeanne? Sou eu.

Sim, ainda estou no
hotel em Auvergne.

No hotel. Tudo bem?

E voc�? O que tem feito?

N�o aguento mais, Jeanne.
Para mim chega. Estou cheio.

N�o aguento mais.

Al�, Jeanne? Sou eu.
Ainda estou no hotel, em Auvergne.

No hotel tudo bem, tudo bem.

N�o aguento mais, estou cheio,
n�o aguento mais, estou cheio.

N�o achei outras garotas.

- S�o menores com documento falso.
- Nos �ltimos tempos,

ando gozando mais no trabalho
do que na minha vida privada.

Porque na vida profissional as
garotas s�o bonitas e colaboram

e na vida privada o desempenho nem
sempre � bom, �s vezes falha. � isso.

- Vou dan�ar.
- Os jovens s� querem fazer clip.

Limpo, com c�meras para todo lado.

- O mercado europeu � deles.
- Posso beber seu caf�?

- Gosto de caf� morno.
- Vai em frente.

Bom, eu vou me deitar.

- Vamos tomar um digestivo.
- N�o, estou exausto.

- Vamos, Jacquot.
- Escute.

Nunca me chame de Jacquot.
Entendeu? Nunca.

Joseph?

� o seu pai.
Estou incomodando?

N�o, n�o tenho nada
de especial a dizer.

Estou contente por
termos nos reencontrado.

O que voc� tem feito?
Isso � bom.

N�o, estou em Auvergne,
relaxando.

Bem, � isso. Sim.

At� breve.

Um abra�o.

Sim?

Sim?

CORAGEM. JEANNE.

Pensei bem.

Vou lhe pedir uma coisa muito s�ria.

O qu�?

Quero que case comigo.

Aceita?

Est� aqui o aluguel do m�s.

Entendeu, mongoloide?

VOC� � UM FRACO.

Isso � a revolu��o de burgu�s
que quer lutar? Ouviu, mongoloide?

E a�, Jorge, quando seu pai ligar pra
avisar do cheque, n�o vai atender?

N�o sendo sem camisa e sem colh�es
evidentemente n�o lhe interessam.

Jeanne.

Vem aqui,
tenho uma coisa para lhe dizer.

Acho que � melhor nos separarmos.

Sejamos racionais.
N�o estamos bem.

Eu sei, mas n�o tenho culpa.

� verdade, sinto muito.
J� fiz voc� passar maus momentos.

- N�o me importa.
- Sim, mas a mim importa.

N�o digo que terminou.

S� acho que � melhor nesse momento.

Voc� fica no apartamento e eu saio.

� isso.

Agora estamos separados.

Nunca saberei por que
deixei Jeanne.

� a teoria de Moore,
uma teoria dos anos 60.

Ele dizia que na tecnologia tudo dobra.

O avan�o � exponencial, n�o gradual.

Pense: se voc� tem um
computador de 40 MHz,

um ano depois, o mesmo modelo
pelo mesmo pre�o ter� 80.

Um ano depois, 160 etc.

Depende da capacidade dos chips.
E Moore percebeu isso.

- � excitante porque avan�amos.
- E os computadores velhos?

Jogo fora. � mais barato.

No in�cio foi duro. Mas os pre�os
ca�ram e repassamos aos clientes.

Temos cada vez mais lucro
com cada vez mais material.

N�o pode manter o computador
e aumentar a mem�ria?

N�o. O processador,
a ess�ncia do computador evolui.

Gente mais forte,
com c�rebro n�o t�o forte,

se n�o entende que anda mais
r�pido, n�o anda mais r�pido.

� preciso trocar o c�rebro tamb�m.
E Moore

percebeu isso.

Nunca terei uma casa assim.

- � pena.
- N�o temos filhos. Nunca se tem tudo.

A menos que eu mesmo construa.
Quanto tempo levaria? 6 meses?

Depende de quantas pessoas
trabalharem com voc�.

N�o, sozinho.
Vou fazer tudo sozinho.

Sei l�. Um ano e meio, dois.

Dois anos est� �timo.
D� tempo de v�-la subir.

Tenho sa�do pouco.

S� para comer e trabalhar.

De vez em quando visito Louis.
Fa�o bem?

N�s nos apegamos �s pessoas
por h�bito e de tanto v�-las

elas acabam nos comovendo.

� noite, penso voltar � cervejaria
da Rua Al�sia e assistir TV.

Boa noite. Meu nome �
Olivia Riochet. Sou jornalista.

Liguei porque estou escrevendo
um artigo sobre pornografia.

N�o tenho nada com isso.

� dif�cil encontrar cineastas
porn�s. Pode me ajudar?

- J� lhe disse, n�o vejo como.
- Sei que � o diretor Jacques Laurent.

Liguei para seu apartamento e
sua esposa me deu esse n�mero.

Escute, sinto muito,
mas n�o tenho vontade.

Primeiro, porque n�o
filmo mais pornografia

e n�o � coisa que se fale.
� indecente falar de si mesmo.

Adeus.

Eles est�o perdidos,
mas eu serei feliz.

As janelas ser�o aqui.
Assim, terei essa vista.

Aqui uma mesa,
bem longa, bem fina.

Ali uma pia que sirva tamb�m
de lavabo. De alum�nio.

Aqui um sof�-cama com gavetas,
ali mais gavetas.

- Ali uma porta. Acho que s�.
- E n�o tem ducha?

Esqueci. Sim, uma ducha.
Mas n�o sei onde.

Ent�o � verdade.

- Est� me dando este terreno?
- � claro que estou dando.

Acho que farei algo bonito.

Joseph est�?

Posso entrar?

Liguei, mas ningu�m atendeu.

Joseph lhes falou de mim?

O que �, droga?

Estou um pouco velho para isso,
mas entendo. Joseph tamb�m?

Bom.

Vou deixar um bilhete,
caso ele apare�a.

"Joseph, n�o sei onde est�,
mas gostaria de ter falado com voc�.

"Est� um dia bonito,
e pod�amos ter ido tomar um caf�.

"Queria lhe contar umas coisas.
Jeanne e eu nos separamos.

"Acho que ela est� bem.
Talvez j� esteja sabendo.

"Tamb�m queria dizer que
n�o sou mais porn�grafo.

Seu pai."

Em maio de 68, rodei meus
primeiros porn�s em Paris.

Em 58, foi a guerra da Arg�lia.
Eu era um pouco jovem.

Bom. Adeus.

- Est� feliz? Gostou?
- N�o sei, talvez. Diga voc�.

- Realmente n�o ficou bom.
- Ent�o repetimos.

Isso. Vamos repetir.

- Mas sabe o que est� fazendo ou n�o?
- N�o, eu sei.

Pe�o duas coisas.

Primeiro, pare com essa entona��o
rid�cula das palavras. Baixe a voz.

� dif�cil, exige humildade.

Segundo, fique ereta.
Mantenha a postura. Entendeu?

Sim, entendi.

Vi voc� num filme.
Estava muito mal.

Mas isto � muito pior.
� desesperador.

Faz isso pelo dinheiro?

- Vai chorar?
- N�o.

- Vai, sim, d� para ver.
- N�o, n�o vou chorar.

� um filme de charme, e voc� est�
com os olhos vermelhos. N�o d�.

- J� disse que n�o vou chorar.
- Bom.

Nessa cena, fica claro que Laurent
n�o vai resistir a Julie dessa vez.

Mesmo sua mulher e Julie sendo
amigas, o desejo � forte demais.

E, como na cena anterior sua
mulher o trai com outro,

n�o ser� imoral.
Pode ir fundo.

Al�m disso,
Julie tem uma boca linda.

Vem ver, Jacques,
preciso lhe mostrar uma coisa.

Jacques.

Tenho um terreno a 30 km daqui.
Podemos filmar alguma coisa l�.

- Tipo o qu�?
- Com ela, por exemplo. � bonita.

- Roteiro?
- N�o.

S� precisamos da floresta.
Pomos Julie sozinha na floresta

e soltamos um bando de homens atr�s
dela. Quem a pegar fica com ela.

N�o acredito que arranjou
um apartamento.

Estou construindo uma casa. Vai
ver, estou construindo uma casa.

Amo voc� como �.

Eu n�o.

Uma mulher alta, loira ou morena.

"N�o ousarei pedir a Jeanne
que venha me ver.

Quanto a Joseph,
mesmo que tenha me perdoado..."

Pronto,
agora dei para chorar.

"N�o conhe�o meu filho e
provavelmente jamais conhecerei.

"Poderia lhe dar esta casa ou
dinheiro, n�o mudaria nada.

"Continuo trabalhando, por qu�?
Para viver, claro.

"E isso Jeanne entende.

"Os outros me odeiam, eu sei.

"Nada pode me abater,
a n�o ser a doen�a."

Vejo isso no trabalho,
com homens da nossa idade.

Estavam t�o convencidos
de que precisavam de

excita��o, diversidade
sexual, novidades.

Mas tiveram de trabalhar muito
para assumir a vida sozinhos.

Depois dos 40, vem a depress�o.

Percebem que felicidade � uma mulher,
um apartamento, um ou dois filhos

e menos trabalho, porque n�o �
gratificante, apesar de todo o esfor�o.

E a� n�o � f�cil ach�-la,
porque � tarde.

Finalmente, acham uma mulher.

Tem 45 anos, solteira, sem filhos

porque ela tamb�m quis
viver intensamente.

Se juntam, � a felicidade.

Um ano depois se separam,
porque n�o conseguem viver juntos

ou, pior, ela descobre
um c�ncer na mama

ou no �tero,
justamente, porque n�o teve filhos

mas � tarde,
porque ela se achava invenc�vel.

Come�a a quimio, n�o funciona,
ela se joga pela janela.

Ou toma son�feros.

E a vida passa, � o fim,
porque aparecem as doen�as.

V� como, afinal,
n�s dois tivemos sorte?

Bom, estou indo.

At� mais.

Vim pegar um pouco de ar.

Este lugar � bonito mesmo.

Tudo bem? Vai conseguir?

- N�o tenho pressa.
- Isso, v� com calma.

Vai gostar daqui.

Diga, essas garotas com
quem voc� trabalhou,

� uma profiss�o estranha, n�o?

Um pouco.

- No fundo, elas gostam muito de sexo.
- Isso ajuda.

Elas se entregam f�cil?

- Por que est� me perguntando isso?
- Por nada, s� para saber.

Enfim.

- Enfim, o qu�?
- Nada.

V� para casa, por favor.

"Tempo pesado, c�u r�seo. Acima
de tudo, devo sentir pena de Louis.

"Ontem pensei em ir � cervejaria
da Rua Al�sia,

"da qual gosto muito.

"Acabei ficando aqui.
Sinto-me bem, apesar da noite ruim.

"Agora sempre me pergunto quando
uma gripe vai se tornar algo fatal.

"N�o se deixar abater, principalmente.

"Nunca sabemos por que
algu�m se joga pela janela.

"A casa parece n�o avan�ar,
mas avan�a. Est� na minha cabe�a.

"Aqui, n�o consigo me livrar
da poeira no apartamento.

"Quanto mais limpo, mais aparece.
Estou com dor no bra�o, preciso sair."

Ol�, deixe recado,
n�o estou em casa.

Al�?

Sim.

N�o, tudo bem.
Como vai?

E com voc�?

Acabei de chegar.

Um pouco cansada.

Podia ter sido pior,
mesmo assim foi bem dif�cil. Sim.

Ningu�m sabe.

N�o sei, quando cheguei
n�o estava l�.

N�o, n�o.

� um pouco dif�cil para mim.

Mas tudo bem.

E voc�?

Sim, recebi sua mensagem.

Ajudou muito, especialmente,
nestas circunst�ncias.

Estava muito sozinha.

Era normal. Foi muito importante.

Foi mesmo muito importante
eu estar presente.

Desculpe, n�o sei o que
me deu. Perdi a cabe�a.

O ANIMAL

Estou enjoada.

Estou enjoada e
a menstrua��o n�o veio.

- Nunca atrasou. Entende?
- Sim, claro.

- � s� isso que vai dizer?
- � maravilhoso, n�o sei.

- Bom dia.
- Bom dia.

- Se importa se eu gravar?
- N�o.

Nasci em Lyon,

numa fam�lia burguesa.
Tive uma inf�ncia

nem triste nem alegre. Uma inf�ncia
normal. Sem irm�os nem irm�s.

Gostava dos meus pais,
mas eles n�o eram muito interessados.

N�o sei mais o que posso
lhe contar, al�m disso.

Cheguei em Paris em 67.

Vim ajudar um amigo. N�o precisava
de dinheiro, meus pais me mandavam.

Naquela �poca as coisas eram f�ceis.
�amos a um bar, conhecia-se algu�m,

faz�amos uma sociedade e
logo mud�vamos de profiss�o.

Foi uma �poca muito politizada.

Trabalhar com porn� tamb�m
era um ato pol�tico.

Come�amos a fazer filmes com
garotas que conhec�amos nos bares,

com amigos ou gente desconhecida
que preferia aquilo aos bacanais.

"Quando eu me excito,
eu gozo, eu canto".

As pessoas vinham nos ver no set.
Logo depois, est�vamos filmando.

Havia cenas impressionantes,
muito an�rquicas.

Criamos uma produtora e foi isso.

- Ent�o, logo depois ficou s�rio.
- Fomos obrigados.

Para continuar,
t�nhamos de ser profissionais.

� claro que vou ao cinema.
N�o sou ignorante.

Sei que existe Bergman, Antonioni
e at� uma certa modernidade.

Mas eu

fa�o porn�.

Eu poderia ter filmados mulheres nuas
em f�bricas, mas n�o seria excitante.

E as pessoas gostavam
do que eu fazia.

E, para ser franco,
eu tamb�m.

Qual � o seu filme preferido?

"O Di�rio �ntimo de uma Vadia".

� uma hist�ria real,
quase autobiogr�fica.

Expus meus fantasmas,
como representa��o religiosa

ou a rela��o com minha m�e.

Um per�odo de luto pode substituir
o h�bito religioso.

Foi um filme dif�cil de fazer.

- Foi bem-sucessido?
- N�o muito.

Sabe, quando se perde o
caminhoneiro, acabou-se.

- O que quer dizer?
- � preciso ser simples.

Por que "Exhibition" teve 400 mil
espectadores? Porque � direto.

� a hist�ria de uma inf�ncia infeliz.

Voc� se fixa limites?

Uso todas as penetra��es
autorizadas pela censura.

Nunca fiz nada proibido:
Menores, zoofilia, escatofilia.

Nem sadomasoquismo real,
s� sugerido.

O que prefere filmar,
cenas dram�ticas ou de sexo?

A fela��o. � o centro do porn�.

Pelo menos � o mais estimulante.
Sempre me pertubou.

Porque n�o s�o s� dois �rg�os,
h� tamb�m um rosto. E a�,

o rosto da atriz � a �ltima
fortaleza humana.

E as atrizes, precisamente.

A maioria tem 2� grau e fala v�rias
l�nguas. S� que fazem porn�

em vez de serem
secret�rias ou caixas.

Como as escolhe?

Fa�o um casting e pergunto
o que elas est�o dispostas a fazer:

Sodomia, urologia, fist-fucking.

Sabe que 10% delas aceitam
filmar com um cachorro?

No fim, tiram a roupa
e fazemos os testes.

Mas que tipo de atriz voc� prefere?

Garotas bonitas com porte burgu�s,
distintas, inacess�veis

e que se revelam
verdadeiras sacanas.

� isso, se quer mesmo saber.
� banal, mas � isso.

No entanto,

�s vezes,

certas atrizes deixam transparecer
algo completamente louco,

algo violento e muito po�tico.

Em geral � involunt�rio, mas ocorre.

Sandra Martin, por exemplo,

em "Hotel de Petites Filles",
quando ela goza no final,

eu quase chorei.

Em meus filmes

h� sempre alguns segundos de beleza,
mesmo que o resto seja horr�vel.

Por qu�?
Porque � sexo em estado puro.

Consequentemente,
h� neles algo humano.

H� tamb�m algo doloroso
nesses filmes.

Quer falar de dor?

- Se quiser.
- N�o.

- Quase n�o filmou depois de 84.
- N�o. Faltava dinheiro

e ficou chato. E eu n�o conseguia
fazer os filmes que queria.

Por exemplo?

O �ltimo que n�o consegui fazer

era uma ca�ada, em que o animal
era subst�tuido por uma garota.

- Realmente...
- Realmente, o qu�?

- Acha isso imoral?
- N�o.

Disse isso porque n�o deve ser
f�cil fazer um filme como esse.

N�o, tanto que n�o fiz.

Neste momento h� uma renova��o
no porn�. At� voc� est� filmando.

Mas eu s� sei fazer isso.
E precisava de dinheiro.

Do que viveu desde 1984?

Um pouco de direitos de autor
e a minha mulher trabalhava.

- Com os porn�s?
- N�o. Num escrit�rio de arquitetura.

Ela trabalhava como arquiteta e voc�,
o que fez nesse per�odo?

Nada demais. Pensava.

N�o � paradoxal um pornogr�fo
ser sustentado pela mulher?

E como ela lidava com o fato de
seu marido fazer filmes porn�s?

N�o s�o meus filmes
que s�o obscenos.

S�o suas perguntas.
Mas vou responder assim mesmo.

Minha mulher nunca disse nada.
Ela sempre tolerou.

Mesmo que talvez preferisse
que eu fizesse outra coisa.

PROIBIDO COLAR CARTAZES
N�o deve ter sido f�cil, mas assumiu.

Ela sempre esteve presente.

Fui eu que n�o aguentei.
Fui embora.

Porque tenho 50 anos
e sinto o corpo pesado, entende?

Sinto dores nas costas,
porque estou envelhecendo.

E filmo pessoas trepando.
E continuo porque sei como fazer

e porque � uma profiss�o,
acredite ou n�o.

At� meu filho me perdoou.

E isso � terr�vel. � terr�vel porque
virei o filho do meu filho

e, olhando para ele,
vejo meu pai e quero chorar.

N�o tenha medo, bebi um pouco, mas
isso me faz ser educado com voc�.

Minha mulher se chama Jeanne.

A �nica pergunta que me fez
foi se eu transava com as atrizes. S�.

Fui buscar minhas coisas
na casa dela h� uma hora.

Como disse, fui embora.
Ela n�o disse nada, s� esperou

que eu falasse, decidisse alguma
coisa. Mas n�o consegui.

N�o tenho vergonha do que fiz,
mas n�o consegui.

N�o abri a boca.
Peguei meu casaco e sa�.

Nem sei como vim at� aqui.

Ou melhor, sei. Se n�o tivesse com
quem conversar, eu teria me matado.

Ent�o, eu vim.

N�o fa�o ideia do que lhe contei
e n�o estou nem a�.

N�o lhe agrade�o.
Estou me lixando.

Voc� fala de carreira,
eu falo da minha vida.

Por isso suas perguntas
s�o obscenas.

Por isso voc� � obscena, n�o eu.

- Vou pegar meu casaco.
- Sim, claro.

- Sentiu o cheiro do meu cabelo?
- N�o.

Sim, voc� sentiu.

Deixe-me em paz.
Voc� est� ficando louca.

Eu tento, mas n�o � f�cil.

O que esperar do amanh�?

Para mim, fraqueza f�sica.