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N�o me beije.
Acabei de acordar.

N�o importa.
S�o beijos de boa sorte.

Cacete. A minha apresenta��o.
Que horas s�o?

Calma, calma.

- Estou nervosa pra caramba.
- Que nada!

N�o posso ferrar tudo.

Quer que eu v� com voc�?

Quero ir ouvindo m�sica,
pra espairecer.

Mas eu te amo.

Eu tamb�m te amo.

Vai! Vai!

Aconte�a o que acontecer,
estou orgulhosa de voc�.

Voc� acredita?
Isto � tudo que sonhamos.

- Eu te amo.
- Eu te amo.

Merda.

Ali, sei que voc� n�o acredita
em mim, mas estou muito bem.

- � mesmo?
- �.

Claro. Assim, ser� que as coisas
podem mudar e piorar?

Podem,

mas sinto que encontrei
um equil�brio incr�vel,

onde estou feliz, saud�vel

e n�o estou procurando
pela felicidade nos outros,

como na Jules.

Eu colocava muito
do meu bem-estar emocional

nas m�os dela, sem nem falar
disto, ou nem dizer isto,

especialmente
quando eu fazia planos

para os restos
das nossas vidas.

Olho para tr�s agora e penso:
"Nossa... Que loucura!

� estranho."

Sabe? Sei l�...

Transformei a Jules
no problema,

mas o problema n�o � ela,
o problema sou eu.

O problema � a sua sobriedade.

Isso. Claro.

E o meu bem-estar em geral.

Que come�a
com a sua sobriedade.

E com encontrar
um equil�brio emocional.

Voc� disse que encontrou
um equil�brio incr�vel.

Encontrei...

Encontrei...
N�o sou perfeita, sabe?

Mas estou s�.

Estou mais s�,
tomando decis�es s�s.

Rue. Voc� est� chapada.

Voc� n�o ouviu
o que eu disse.

Rue, nem voc� ouviu
o que voc� disse.

- Isso � fisicamente imposs�vel.
- O qu�? Falar besteira?

Sabe,

� isso que n�o entendo
no mundo.

Porque muitas pessoas bebem
e usam drogas

e �s vezes,
as vidas delas s�o boas

e �s vezes, ruins...

Elas t�m altos e baixos...

Voc� acreditando ou n�o,
estou bem.

Voc� j� disse isso.

N�o estou usando
um monte de coisas,

s� fumando uma maconha

e tomando uns comprimidos
com receita.

O que quero dizer
� que isto n�o vai durar.

O meu bom humor s�brio
tamb�m n�o.

Voc� n�o � um modelo
de sa�de mental,

voc� tem problemas

e vai lutar contra eles
pelo resto da vida.

O problema � que voc� v�
a sobriedade como fraqueza

frente a esses problemas
e s� estou dizendo

que a sobriedade
� a sua maior arma.

Ali, posso dizer algo?

- Pode.
- S�rio...

Se eu falar algo pesado,
voc� n�o vai me denunciar?

Rue, n�o sou conselheiro.

Sou um drogado
tentando fazer algo de bom

antes de morrer.

- Voc� � uma viagem, cara.
- O que voc� ia dizer?

- N�o importa. � idiota.
- Por favor.

- O que voc� ia dizer? Diga.
- N�o quero...

Diga.

Quando estou s�bria,

quando estou presente,

fazendo parte deste mundo,
n�o penso s� em ter reca�das.

� mais sombrio do que isso.

Voc� pode dizer que a sobriedade
� a minha maior arma,

mas as drogas s�o a �nica raz�o
de eu ainda n�o ter me matado.

Agora sim.

Agora voc� est� sendo
sincera e honesta,

pois esta palha�ada toda
de ser uma viciada funcional,

de encontrar equil�brio...

- N�o � verdade, � mentira.
- N�o � mentira.

� mentira, voc� querendo ou n�o,
mas n�o quero ouvir isto.

- Dane-se.
- Dane-se?

Escute, pirralhinha,

eu usava drogas antes do �vulo
da sua m�e descer.

Vivi uma vida inteira
para vir me sentar

neste restaurante
com algu�m arrogante como voc�.

N�o diga "dane-se"
para mim.

Voc� tem 17 anos.
Voc� n�o sabe porra nenhuma.

Voc� se acha valente? Sou mais.
Voc� se acha durona? Sou mais.

Voc� ficou s�bria
e quis se matar? Eu tamb�m.

Quer saber por qu�?

Vou dizer.
Voc� n�o sabe viver a vida.

Voc� n�o tem as ferramentas.
Voc� est� muito ocupada

tentando enganar todo mundo
dizendo que n�o est� nem a�,

mas voc� est� t�o a�
que voc� nem aguenta viver.

Ent�o, nova regra:
Chega de perder o meu tempo.

Quer usar? Use.
Mas pelo menos, seja honesta.

Entendeu?

Por que teve uma reca�da?

N�o sei, minha mente
n�o parava de acelerar.

- Por qu�?
- Por tudo.

Seja espec�fica.

Por tudo que eu me lembrava
e que eu n�o queria me lembrar.

Entendi.

Por que voc� n�o me ligou?

Porque eu n�o estava tentando
n�o ter uma reca�da.

Certo...

Onde voc� pegou as drogas?

Eu tinha uns comprimidos
para emerg�ncias.

Merda.

Voc� n�o tinha
nenhuma chance.

N�o.

Voc� quer ficar limpa?

N�o.

Voc� tem certeza?

Tenho.

Entendi...

Isso � muito errado?

Voc� n�o querer ficar limpa?
� claro que � errado.

Sou uma bosta, n�o sou?

�, voc� � uma bosta.
Mas tem um lado bom:

Voc� n�o � drogada
porque � uma bosta,

mas voc� � uma bosta
porque � drogada.

Estou dizendo
que voc� n�o nasceu sendo m�.

Voc�, Rue, nasceu
sendo uma menina linda,

que sem saber,
tinha uns fios soltos.

Quando voc� usou drogas
pela primeira vez,

algo disparou no seu c�rebro,
fora do seu controle.

N�o � quest�o de vontade,
nem de for�a,

mas est� em desvantagem
desde a primeira vez que chapou.

Voc� pode destruir a sua vida,
ferrar a cabe�a da sua irm�,

abusar e torturar a sua m�e
e ainda se sentar aqui

e me dizer, calma e friamente,
olhando no meus olhos:

"Vou continuar usando drogas."

Essa � a doen�a do v�cio.

� uma doen�a degenerativa.

Ela n�o tem cura. Ela � letal.
Ela � como o c�ncer.

Voc� pegou isso. Por qu�?
Por algum acaso.

Mas a parte mais dif�cil
de ter a doen�a do v�cio,

al�m da doen�a em si,

� que ningu�m no mundo
a v� como doen�a.

Todos veem voc�
como ego�sta, fraca, cruel,

destrutiva, e pensam:

"Por que me importar,
se ela mesmo n�o se importa

com ela ou os outros?

Por que ela merece
o meu tempo, minha paci�ncia

e a minha simpatia?

"Se ela quiser se matar,
deixe."

S�o perguntas e respostas
razo�veis,

mas por sorte, voc� n�o �
a �nica que tem esta doen�a.

Existem pessoas como eu,
que entendem

que voc� n�o � t�o ruim assim.

Que por baixo
desta energia ca�tica,

voc� pode ser uma boa menina,
quem sabe?

� por isso que estamos comendo
panquecas na v�spera de Natal,

mesmo com voc� n�o querendo
ficar s�bria.

Voc� tem filhas, n�o tem?

Onde elas est�o?

Em lugares diferentes,
com as fam�lias delas.

Voc� as v� sempre?

Nunca recusei um convite.

Mas voc� n�o est� limpo
h� 20 anos?

N�o...
Estou limpo h� sete anos.

� mesmo?

Fiquei 12 anos limpo antes,
mas fiquei arrogante

e comecei a achar
que eu era invenc�vel.

A�, agora s� tenho
sete anos.

- Droga.
- Pois �.

Como d� pra ter uma reca�da
ap�s 12 anos?

A gente esquece
como era ruim.

Quanto tempo durou a reca�da?

Um ano e meio.

- Puta merda.
- Pois �.

Que merda.

Achei que voc� fosse
falar um dia.

Quando voc� cai naquele ciclo
de usar e abusar,

n�o d� para escapar dele,

ainda mais estando
limpo h� 12 anos.

A doen�a come�a a falar
com voc�:

"Doze anos, Martin.
Voc� n�o vai conseguir de novo."

Espere a�... Martin?

�...

- Quem � Martin?
- Martin sou eu.

- Como �?
- � o meu nome.

- O seu nome � Martin?
- Era...

- Como?
- Antes de eu me converter.

- A qu�?
- Ao Isl�.

- Ali, fiquei confusa agora.
- Sou seu primeiro amigo negro?

N�o vim do Oriente M�dio.
Sou de Filad�lfia.

Voc� n�o parece um Martin.

N�o mesmo.

Eu tamb�m n�o achava.

Mulheres se convertem ao Isl�?

Muito poucas.

� interessante,

porque...

tenho dificuldades com isso.

- Como assim?
- Com o N.A. e tal.

Gosto do primeiro passo.

Eu consigo

concordar que sou impotente
perante as drogas

e que minha vida
� incontrol�vel.

- Isso n�o � inconceb�vel.
- Certo.

Por�m...
No segundo passo,

"acreditar que um poder maior
do que n�s

poderia nos devolver
� sanidade".

Nesse a�, eu...

Tenho umas dificuldades.

Certo. Entendi...

Agora, entendi.

Voc� n�o acredita que exista
um poder na Terra

maior do que a Rue.

- N�o � verdade.
- � mesmo?

H� muitas coisas
mais poderosas do que eu.

Diga uma.

Um caminh�o Mack.

- O que foi?
- Diga outra.

O oceano.

- Tente novamente.
- Merda. Acho que...

A m�sica de Otis Redding
� mais poderosa do que eu.

- Isso nem fez sentido.
- Fez sim.

- Fez sim.
- Como?

O impacto mundial
de "Try a Little Tenderness"

� algo que eu nunca
conseguiria.

Mais do que qualquer um de n�s
jamais conseguiria.

Certo... Espertinha.
Isso n�o vale.

- Ali, eu n�o acredito em Deus.
- Quer saber?

Ele n�o est� nem a�
se voc� acredita ou n�o.

Ele acredita em voc�.

Sei l�... � uma boa frase,
mas n�o significa nada.

Significa. Se Deus n�o acreditar
em voc�, voc� nem respira.

Ent�o, meu pai morreu
porque Deus n�o acreditou nele?

Eu n�o disse isso.

Nada me deixa mais brava
do que esse argumento.

- N�o foi o que eu disse.
- Toda vez que algu�m sobrevive

a um tiroteio, a um terremoto,
eles dizem:

"Sobrevivi. Deus me salvou.
Tenho um prop�sito."

Mas eu penso: "Voc� est� dizendo
que sua vida � mais importante"

do que o menino de seis anos
que morreu naquele dia,

do rec�m-nascido,
ou dos outros que morreram...

A sua vida tem
um prop�sito, certo?

"Por que a sua tem um prop�sito,
e a do meu pai n�o?"

Posso dizer que o prop�sito
do meu pai

era criar a mim e a minha irm�,

estar ao lado da minha m�e...

Esse era o prop�sito dele.
Eu acho...

Mas, voc� sabe...
ele est� morto.

- Veja...
- Ali, se voc� vai me dizer

que ele morreu por uma raz�o,

ou sei l�, eu vou embora,
literalmente...

Eu n�o ia...

Ele n�o morreu
para nos ensinar uma li��o.

Ele n�o morreu
para n�s nos unirmos

ou para qualquer coisa
que se diz

quando n�o se tem
nada para dizer.

Ele morreu porque ele morreu.

S� isso. Pela mesma raz�o

que nasci
com uns fios soltos.

Certo? Foi ao acaso.

Voc� mesmo disse.

� isso.

Escute...

N�o tenho todas as respostas,
nem vou fingir que tenho.

Por�m,

sei que nunca conseguimos

ver e compreender
o arco completo da vida humana.

Ningu�m consegue ver
as rea��es em cadeia

de como tudo acontece,
do in�cio ao fim...

Isso � um mist�rio,
e sempre vai continuar sendo.

O pai do Malcom Little,
de seis anos,

morreu em um acidente
com um bonde.

O boato era que tinha sido
a Legi�o Negra, a KKK.

O menino cresceu acreditando
que este mundo branco

n�o tinha espa�o
para um negro como ele.

Ele foi para o Harlem
e virou traficante,

um drogado,
come�ou a roubar e a assaltar,

at� ser preso

e descobrir o Isl�,
come�ar um movimento,

que amedrontou tanto
a Am�rica branca,

que ela abra�ou outro negro,

um que tinha um sonho,

de n�o cortar o mal pela raiz,
mesmo que ela merecesse isso,

mas de viver em harmonia.

Logo depois,
veio a Lei dos Direitos Civis.

Foram os primeiros passos
legislativos que deram o direito

de eu e voc� nos sentarmos
neste restaurante

e conversarmos sobre querermos
parar de usar drogas ou n�o,

as mesmas drogas dadas
aos seus antepassados

para mant�-los embriagados,
inoculados e escravizados...

Drogas que tiraram deles n�o s�
a habilidade de serem livres,

mas de imaginarem um mundo
onde eles seriam livres.

Por que o prop�sito
de uma pessoa � maior?

Por que alguns morrem
enquanto outros vivem?

Por que voc�, Rue Bennett,
est� aqui,

e outros jovens de 17 anos,
talvez melhores, mais gentis

e mais respeitosos n�o est�o?
N�o sei.

Este � o mist�rio.

Mas aqui estamos.

O que vamos fazer?

Sei l�...

Talvez eu

comece uma revolu��o
como o Malcolm X.

Seja l� o que voc� tenha ouvido,

revolu��es
n�o s�o mais radicais.

Como assim?

H� tantas revolu��es,
que todos s�o revolucion�rios.

Os ricos, os pobres,
a direita, a esquerda,

os jovens, os velhos,
os mendigos, os banqueiros...

Como � lindo!

Todos, ao mesmo tempo,
em uma revolu��o atr�s da outra.

Nunca achei que eu fosse ver
tantas revolu��es na minha vida.

As revolu��es s�o t�o r�pidas,

que as pessoas nem t�m tempo
de implementar mudan�as.

"Voc� n�o soube?
H� uma nova revolu��o."

Fui comprar um par de t�nis
na loja de Nike outro dia,

e vi na parede,
em letras garrafais:

"O nosso povo importa."

Pensei: "Puxa...
Que sentimento bom."

Estou na minha loja
de cal�ados predileta e ou�o:

"Sei que voc� viveu
uma vida longa

e que a vida
nem sempre foi f�cil,

mas nos seus 54 anos,
meu irm�o,

quero dizer que amo voc�."

Pensei: "Puxa...
Que sentimento bom."

Pensei: "Obrigado, Nike."

A�, peguei um par de t�nis

e o pre�o era US$139,99.

A�, pensei:

"Achei que a Nike me amasse,

que apreciasse a minha vida.
O que aconteceu?"

Olhei na loja e vi v�rios negros

se sentindo bem tamb�m.

Vi v�rios brancos,
tamb�m se sentindo bem.

Alguns at� pousando
e tirando fotos

com as letras garrafais
na parede.

� verdade.

Tive um sentimento e pensei:

"Vai se foder, Nike!"

Voc� est� pouco se fodendo
pra nada nem pra ningu�m.

Mu�ulmanos chineses costuram
esses t�nis

por sete centavos a hora
e o meu traseiro negro importa?

Se o rap n�o fosse popular,

se o Nirvana ainda fosse
a banda mais famosa dos EUA,

eles diriam "depress�o importa",
porque isso venderia mais t�nis.

Estes publicit�rios
s�o bons demais.

Eles foram mais espertos,

mas a sua gera��o tamb�m
est� toda comprometida,

porque eles invadiram
os celulares de voc�s.

Eles leram as suas curtidas,
previram as suas a��es

e enganaram voc�s.

Voc� acha que est� lutando
em uma revolu��o

e o Bank of America
est� do seu lado? Por favor!

Uma revolu��o de verdade
n�o tem aliados. Simples assim.

Uma revolu��o de verdade,
n�o uma r�pida, da moda,

mas uma revolu��o
de verdade mesmo

� espiritual na ess�ncia dela.

Ela � uma dizima��o
de prioridades, cren�as

e estilos de vida

e uma reconstru��o
no esp�rito de...

Voc� tem que criar
um novo deus,

ou deuses,

ou seja l� o que for,
mas � essencial

que voc� acredite em algo
maior do que voc�.

E n�o pode ser o oceano,
ou a sua m�sica predileta,

nem o movimento,
as pessoas ou as palavras.

Voc� tem que acreditar
na poesia.

Porque tudo na sua vida
vai deixar voc� na m�o.

Inclusive voc� mesma.

Voc� entendeu?

Esta � sua situa��o.

Voc� est� doente.

O seu sistema est�
� beira do colapso

e a viciada dentro de voc�
quer vender

a mesma coisa
que fez voc� ficar doente.

Se voc� continuar assim,

vai apodrecer por dentro
at� desistir e morrer.

A sua �nica esperan�a
� uma revolu��o,

mas uma revolu��o
de verdade mesmo,

por dentro e por fora.

Mas voc� tem
que ir com tudo.

Ela n�o pode ser meia boca.

Voc� tem que estar comprometida
todos os dias

e saber que voc� pode
agir melhor e ser melhor.

Porque, quem sabe?

Talvez um dia voc� consiga.

N�o subestimo ningu�m.

J� vi coisas mais estranhas.

Eu j� volto.

Tudo bem?

Eu n�o sabia
que voc� ia atender.

Achei que fosse cair
na caixa postal.

N�o...

N�o � para voc�
se sentir culpada.

� que...

� Natal.

Feliz Natal.

Sua irm� est� a�?

Que bom.

Diga a ela

"Feliz Natal" por mim.

E diga que eu a amo
e que sinto saudade.

N�o...

N�o tentei falar com ela
por meio de voc�, Imani.

N�o foi o que eu...

Certo.

Eu estou bem...
Acabei de sair de uma reuni�o.

Estou no estacionamento
de um restaurante.

N�o, n�o...

Comi panquecas
com uma menina que apadrinho.

Quem �?

Rashad?

Quem sou eu?

� o vov�!

Vov� Ali.
Fale de novo.

Sim, meu netinho.

Que bela voz a dele!
N�o �?

Qual � a altura dele?

Claro, eu entendo...
N�o tem problema.

Estou bem, mas parece
que estou num filme antigo.

"A Felicidade N�o Se Compra."

A felicidade n�o se compra.
Feliz Natal, Imani.

Ali, o que devo fazer
sobre a Jules?

Marsha.

Uma pergunta...

H� quanto tempo
voc� est� limpa?

Dezessete anos,

pela gra�a de Deus.

Dezessete anos.

Nunca achei
que fosse dizer isso,

mas digo
com muito orgulho.

Dezessete anos.

Por qu�?

O que aconteceria

se voc� pensasse em namorar
no in�cio da sobriedade?

Voc� quer saber se eu queria
namorar ou ficar limpa?

Pois a resposta � sim
para as duas perguntas.

Mas...

eu tinha que n�o estar
em um relacionamento

para focar na minha sobriedade,
pois era o que eu queria

e eu n�o tinha energia
para as duas coisas.

E eu queria ficar limpa.

Nem tudo que � bom para voc�
faz bem para voc�.

O que voc� diria para algu�m
que n�o tem muita esperan�a?

Quando eu era crian�a,

minha av� sempre dizia algo,

e nunca entendi o significado

at� eu estar pronta
para ficar limpa.

As palavras dela eram:
"Querida,

as dificuldades
n�o duram para sempre."

Elas n�o duram mesmo.

Se voc� quiser mudar,
a responsabilidade � sua.

Mais alguma pergunta,
enquanto conto minha gorjeta?

N�o, pode contar...

- Vou p�r mais um pouco a�.
- � bom mesmo, seu p�o duro.

� tudo verdade.

Sabe,

quando penso nisso tudo,
ainda culpo Jules.

Por qu�?

Porque
eu estava limpa.

Eu ia ficar limpa

e, na maior parte do tempo,
eu estava feliz.

- A�, a Jules...
- Espere a�.

Voc� ia ficar limpa?

- Ia.
- Com comprimidos no quarto?

- Eu n�o ia tomar.
- S� guardar?

Mas voc� disse
que ia ficar limpa

e que a reca�da
foi culpa da Jules.

Ali, voc� n�o sabe
o que ela fez comigo.

Verdade. N�o sei.

Ela me traiu.

Quando eu estava limpa,
ela me traiu.

- Eu n�o sabia.
- Exatamente.

Voc�s estavam
em um relacionamento?

Est�vamos.

- Pensei que fossem s� amigas.
- N�o...

Quando isso mudou?

Na noite do parque

ela veio para a minha casa
e nos beijamos muito.

Mas quando virou
um relacionamento?

Eu j� disse.
Naquela noite.

- Foi naquela noite?
- Foi.

Ent�o, n�o foram s� beijos?
Voc�s falaram de ficar juntas?

O qu�? Que estranho.

O qu�?

Por que falar�amos disso?

� assim que as pessoas entram
em relacionamentos.

Dissemos "eu te amo"
v�rias vezes.

Digo "eu te amo"
para o meu barbeiro.

Mas voc� n�o beija
o seu barbeiro.

Mesmo que eu o beijasse,
ele n�o veria como algo s�rio.

Falamos de fazer
tatuagens iguais nos l�bios.

Voc�s fizeram?

N�o, mas falamos de fazer.

Continue...

N�o h� mais o que dizer,
a n�o ser que eu a amava,

confiava nela

e agora,
vejo que ela mentiu para mim

- e me manipulou.
- Certo.

E aquilo tudo
na esta��o de trem...

Ela queria
que eu fugisse com ela,

mesmo eu estando com medo
e sem o meu rem�dio...

Aquilo foi errado e ego�sta.

N�o achei que ela fosse ir
de verdade.

Sabe, me deixar?

Aquilo disparou algo
na minha cabe�a...

Pensei na minha vida

e em como as pessoas
me prometem coisas.

Minha m�e me beijou na testa

e disse que meu pai ficaria bem.

Jules falou
que morar�amos juntas

quando ela fosse pra faculdade,
dormir�amos na mesma cama,

ficar�amos juntas pra sempre...

A�, ela me abandonou,

porque ela conheceu
outra menina.

Aquilo me fez pensar
como todo mundo mentem.

N�o s�o nem as mentiras
que doem,

mas � que voc� nunca est�
emocionalmente preparada

para algu�m deixar voc�.

Isso � p�ssimo.

Foi como uma avalanche,
mas talvez eu tenha merecido.

Talvez seja
a puni��o do universo

por eu ter sido
uma bosta a vida toda,

por eu ter roubado
da minha m�e,

por ter batido na cara dela...

J� fiz isto.
Ali, eu bati na minha m�e.

Na cara dela.

Peguei um caco de vidro,

apontei para ela
e ameacei mat�-la.

Isto � imperdo�vel.

Talvez eu mere�a
ser abandonada

na esta��o de trem � 1h.

As drogas mudam
quem voc� � como pessoa.

Eu n�o estava chapada
quando ataquei a minha m�e.

As drogas mudam
quem voc� � como pessoa.

Mesmo assim,
� imperdo�vel.

N�o � n�o.

- Como?
- Se eu acreditasse nisso,

eu n�o estaria aqui,
pois o que fiz na minha vida

� muito mais imperdo�vel.

At� parece.

J� falei uma vez
e vou falar de novo.

Voc� est� jogando sinuca
com o Minnesota Fats.

Se eu fosse um colega seu,
sem experi�ncia de vida,

e ouvisse que voc� amea�ou
sua m�e com um caco de vidro,

eu poderia dizer:
"� imperdo�vel!"

Quanto mais voc� acredita nisto,
mais doente voc� fica,

pois quando voc� faz
algo imperdo�vel,

voc� se pergunta:
"Por que mudar?

Sou uma bosta mesmo.
Melhor continuar assim.

Qual � a diferen�a?"

Voc� n�o percebe que o perd�o
� o segredo da mudan�a.

Julgamos as inten��es
e as motiva��es das pessoas,

como se soub�ssemos
o que se passa na alma humana.

"Voc� fez isso,
ent�o voc� � aquilo." Por favor.

Ali, peguei um caco de vidro,
apontei para a minha m�e

e disse que iria mat�-la.

Pois �.

Isso � terr�vel.

Mas o que significa?

- Que sou uma bosta.
- Vai mais a fundo.

- Sou sim.
- N�o. Vai mais a fundo.

Isto parece o complemento
do nome de um filme idiota.

S� porque n�o � descolado
o suficiente,

voc� aceita ser superficial?

Isso � imperdo�vel.

Vai mais a fundo.
O que significa?

Que sou violenta
com algu�m que amo.

Por qu�?

Porque eu sou assim.

N�o sei o que isso significa.

Que aceito isso.

Voc� aceita?

� o que parece...

Mas voc� aceita isso?

N�o.

Ent�o,
voc� n�o � assim.

Mas fiz aquilo,
mesmo assim.

Mas por que voc�
n�o aceita isso?

- Porque isso � horr�vel.
- Por qu�?

Porque � baixaria, cruel, ruim
e minha m�e n�o merece isto.

- Voc� acredita nessas coisas?
- Acredito.

Suas cren�as fazem parte
de voc�.

Fazem. Claro.

Ent�o, voc� pode fazer algo
e achar errado ao mesmo tempo.

Voc� fazer vale mais
do que suas inten��es.

Depende. Por que ignorou
tudo que voc� acredita?

Porque eu n�o estava
pensando.

Mas esta pode ser a luta
de todos os humanos.

- Como?
- Viver seguindo suas cren�as.

Todos os humanos n�o amea�am
matar a m�e.

Verdade, voc� fez algo
mais radical. Concordo.

- Mas por qu�?
- Por que foi mais radical?

N�o sei...
Por causa das drogas

e de alguns
dist�rbios emocionais.

� mesmo? Voc� n�o � s�
uma pessoa horr�vel,

ou s� uma bosta?

- N�o...
- Pois muitas pessoas

com problemas de drogas
e emocionais

n�o amea�am matar
a m�e delas.

- Eu sei...
- Mas voc� amea�ou.

E o seu castigo,

a senten�a que voc� se deu,
� que voc�, Rue Bennett,

est� al�m do perd�o.

Esta puni��o � muito severa,
mas tamb�m � muito f�cil.

Ela permite voc� agir sem mudar,
pois voc� merece mesmo.

N�o h� esperan�a.
Voc� est� al�m do perd�o.

Voc� manda tudo se ferrar
e morre na sarjeta,

pois � o que esta bosta
merece.

� por isto
que o mundo s� piora.

As pessoas fazem coisas
"imperdo�veis"

e decidem que n�o h� raz�o
para mudar.

A�, temos um monte de gente
que nem liga para a reden��o.

� assustador!

O que voc� fez de t�o horr�vel?

Muitas coisas.

- Falando s�rio?
- Muitas coisas.

- N�o � s� da boca pra fora?
- N�o.

Jura?

Por que voc� quer saber?

Porque acho
que voc� � uma boa pessoa

e n�o consigo imaginar
voc� fazendo algo terr�vel.

Cresci numa casa onde meu pai
batia na minha m�e.

Ele era um filho da m�e
b�bado e cruel.

Toda noite, eu sonhava
com como eu iria mat�-lo.

Mas finalmente
minha m�e o deixou,

levando minha irm� e eu com ela,
e a vida seguiu.

Por�m, eu sempre disse
a mim mesmo,

n�o importava
qu�o dif�ceis estavam as coisas,

mesmo injetando drogas
ou fumando crack,

que eu nunca seria
como o meu pai.

A�, eu me casei.

Tive duas meninas
e tudo ficou ca�tico.

Eu usava drogas
e minha mulher n�o aceitava.

Brig�vamos todas as noites.

E a coisa ficou violenta.

At� que...

uma noite, vi as minhas meninas
espiando a gente.

A�, pensei:

"Aqui estou eu,

um homem, com duas filhas,

e elas me viram
batendo na m�e delas."

Passei 30 anos da minha vida

pensando
em como matar meu pai

por ter feito a mesma merda
que fiz com a m�e delas.

Isso � o fundo do po�o.

N�o fica pior do que isso.

Mas precisei de mais cinco anos
para ficar limpo,

pois para alguns,
n�o existe fundo do po�o.

Ele n�o tem fundo.

A verdade �

que as drogas mudam
quem voc� � como pessoa.

Toda a moral,
todo o princ�pio,

tudo que voc� acredita
em seu cora��o

sai pela janela,
ou desce pelo ralo,

porque n�o h� for�a maior
no planeta Terra

do que aquela pr�xima dose.

Voc� pode at� ser funcional.

Talvez as coisas deem certo
e durem.

Ou talvez n�o.

Mas uma coisa � verdade:

Quanto mais tempo
voc� usar drogas,

mais voc� vai perder.

N�o s� as coisas
que voc� ama,

mas as coisas que voc� valoriza
em si mesmo.

Em qualquer �rea que voc� ceder,
qualquer linha que voc� cruzar,

voc� ir� mais e mais longe,
at� n�o se reconhecer mais.

E aquela lista
de pensamentos acelerados

e de coisas imperdo�veis
s� aumenta

e fica pior ainda.

Voc� ainda me acha
uma boa pessoa?

Acho.

A ideia de talvez ser
uma boa pessoa

� o que me mantem tentando
ser uma boa pessoa.

Mas algumas pessoas
discordam de voc�.

Minha fila mais nova,
por exemplo.

Qual � o nome dela?

Marie.

Ali...

N�o pretendo ficar por aqui
por tanto tempo assim.

E essa...

� a pior parte nisso tudo,
sabe?

Adoro conversar com voc�.
De verdade.

E concordo com quase tudo
que voc� diz.

E entendo...

Mas...

eu n�o pretendo ficar por aqui
por muito tempo.

Eu entendo.

Vivemos em tempos dif�ceis.

N�o h� muita esperan�a por a�.

O que sinto mais falta
de usar drogas

� a beleza.

N�o importa o que aconte�a
no mundo, ou na sua vida...

"tudo vai ficar bem."

O mundo � muito feio, sabe?

Feio demais

e todos parecem aceitar isso.

A raiva...

A quantidade de raiva...

Todo mundo quer fazer o outro
n�o parecer ser humano.

N�o quero tomar parte disso.

N�o quero nem presenciar isso.

Esta n�o � a raiz
dos meus problemas,

mas penso nisto... Muito.

Porque pensar nessas perguntas,
nessas ideias,

s�o uma grande parte

do que faz a vida valer a pena.

Certo?

Foi o que falei antes.

Voc� tem que acreditar
na poesia.

No valor de duas pessoas
sentadas em um restaurante

na v�spera de Natal,

conversando sobre a vida,

v�cio e perda.

Voc� n�o quer fazer parte
do mundo,

porque voc� se importa
com o que � grande na vida.

N�o sei se me importo
com o que � grande na vida.

� claro que voc� se importa.

Voc� n�o se importa
com o que � pequeno,

como estar certa
e ficar com raiva...

Tudo que destr�i a curiosidade

e nos previne

de olhar mais a fundo.

Voc� j� disse...

Adoro conversar com voc�.

Porque falamos
de coisas reais.

De coisas que importam.

Tipo...

sobre quem voc� quer ser
quando morrer.

N�o sei se entendi...

Voc� n�o quer ficar aqui
por muito tempo.

Ent�o,

como voc� quer sua m�e
e sua irm� se lembrem de voc�?

Como algu�m que tentou muito ser
o que n�o conseguiu ser.

Eu boto f� em voc�.

Por qu�?

N�o sei, mas boto.

Tudo bem que fui crist�o
antes de ser mu�ulmano.

Ent�o, j� errei antes.

Valeu.