All language subtitles for Be.Water.2020.720p.WEBRip.x264.AAC-[YTS.MX]-

Teste X-2, tomada um.

Olhe diretamente para a câmera, Bruce.

Diretamente.

Agora vire levemente para cá. Segure.

Agora, de perfil. Bom. Segure.

Agora de perfil para o outro lado.

Segure. Fique levemente
virado para este lado.

Agora olhe direto para a câmera de novo.

Certo. Agora a câmera vai recuar.

Bruce, mostre-nos
alguns movimentos de kung fu.

É difícil fazer isso sozinho,
mas farei o melhor que puder.

Está bem. Talvez alguém possa ajudar.

- Sim, isso seria...
- Pode ir.

- Pode ir.
- Vá.

- Vá você.
- Tudo bem.

- Certo.
- Se não se importa...

Embora acidentes aconteçam...

Há vários tipos de golpes.

Depende de onde você bate
e que arma vai usar.

Nos olhos, você usa os dedos.

Não se preocupe.

Nos olhos. Ou direto no rosto,

da cintura para cima.

Um minuto.

Vamos virá-lo para cá,
para ficar na direção da câmera.

Muito bom.

Tenho certeza de que meu pai
não compreendia totalmente

o gigante que ele estava enfrentando,

como estava entranhado no sistema.

Dito isso, acho que ele não era ingênuo.

Ele acreditava muito em si mesmo.

Há o jab de dedo.

O soco.

Parte de trás do punho e o golpe embaixo.

Claro, posso usar a perna,
direto na virilha ou em cima.

Ele sabia que tinha algo
a compartilhar que valia a pena.

E ele sabia o quanto estava
disposto a se esforçar.

Ele está preocupado.

É, mas ele não tem de que se preocupar.

SEJA ÁGUA

EM 1971, DEPOIS DE PASSAR 12 ANOS NOS EUA,

BRUCE LEE RETORNOU À TERRA NATAL

DE SEUS PAIS, HONG KONG.

NOS DOIS ANOS SEGUINTES,

FEZ QUATRO LONGAS-METRAGENS.

Ele foi rejeitado por Hollywood.

VOZ DE LINDA LEE CADWELL - ESPOSA

Então, ele tinha de mostrar a eles

que um asiático poderia
ser um protagonista forte.

Quando surgiu a oferta

para Bruce fazer
o primeiro filme em Hong Kong,

ele decidiu que iria,

para ver como seria
e se ele seria bem aceito.

Então, ele foi à estreia
da meia-noite de O Dragão Chinês,

a primeira exibição do filme.

Bruce ainda não tinha visto.

Bruce sempre me disse
que as pessoas de Hong Kong

realmente reagiam a um filme.
Se eles não gostassem,

você sairia vaiado do cinema.

O DRAGÃO CHINÊS

O roteiro de O Dragão Chinês
não foi muito bem escrito.

VOZ DE SAM HO - CRÍTICO DE CINEMA

A qualidade da produção era muito baixa,

mas Bruce Lee estava arrasando.

Aquela persona e aquela energia,

aquele caso de amor
com a câmera era muito imediato

e muito poderoso.

A arte marcial tem
um significado muito profundo,

no que diz respeito à minha vida,

porque como ator, como artista marcial,

como ser humano, aprendi
tudo com as artes marciais.

Estávamos sentados no fundo
e o cinema estava cheio.

Quando acabou, o cinema
ficou em silêncio absoluto.

Nada.

De repente, todos começaram a aplaudir,

gritar, bater palmas e ficar de pé.

Enlouqueceram com o filme.

Aplaudiram Bruce. Já sabiam
que ele estava na plateia.

Eles o carregaram para fora do cinema.

Foi incrível, foi maravilhoso.

Então, ele soube
que estava no caminho certo.

Quando sucesso foi
além de todas as suas expectativas,

ele ficou tão surpreso
quanto qualquer outro.

VOZ DE JEFF CHANG
CRÍTICO CULTURAL E ESCRITOR

Foi a primeira vez em que ele
se sentiu uma estrela do cinema.

Para se ter uma ideia, naquele tempo,

se um filme rendesse US$ 1 milhão
de dólares de Hong Kong,

cerca de US$ 120 mil,

era excelente em Hong Kong.

Você seria uma estrela de cinema.

E se seu filme rendesse US$ 2 milhões,

você seria uma superestrela.

O que achou do kung fu de Bruce Lee?

Muito rápido e poderoso.

Técnica incrível.

Está em uma categoria à parte.

O DRAGÃO CHINÊS TEM LUCRO RECORDE

Bruce Lee é incrível.

Bruce Lee não gostava de perder tempo.

Ele não enrolava, era muito direto.

FÃS SE AGLOMERAM
PARA VER BRUCE LEE EM AÇÃO

Bruce Lee é seu herói?

Sim.

Diga-me do que gosta nele.

Ele sempre ganha dos bandidos
e ele se move muito rápido.

Ele não é um homem de ação
como Eastwood ou Bronson.

Ele está mais para Nureyev.

VOZ DE ANDRE MORGAN - PRODUTOR DE CINEMA

Hong Kong, na década de 1970,

era uma cidade muito dinâmica
e muito agitada.

Havia muitas comunidades diferentes.

Era um centro de descanso

para os militares dos EUA
durante a Guerra do Vietnã.

Era uma cidade que festejava
24 horas por dia.

Era uma parte divertida do Oriente,
onde tudo valia.

A China tinha sido dominada e humilhada

pelo Ocidente por cerca de cem anos.

Então, havia muitas lembranças,
muita raiva.

Era uma Hong Kong

que estava tendo
sua própria revolução jovem.

Protestos estudantis nas ruas,

muita tensão
entre a autoridade colonial britânica

e os nativos de Hong Kong.

A polícia está passando.
Estão jogando coisas em nós.

Esta é uma demonstração antibritânica.

Bruce achava que o governo
colonial britânico era corrupto.

VOZ DE KAREEM ABDUL-JABBAR
ALUNO E AMIGO

Ele era um grande nacionalista,
no sentido em que queria

que o povo chinês
fosse livre e independente.

Quando O Dragão Chinês deu certo,

ele quis fazer de novo.

Mas ele queria que o filme seguinte

fosse maior e melhor. E foi.

A FÚRIA DO DRAGÃO

A Fúria do Dragão
foi uma produção muito maior.

A Fúria do Dragão
foi uma oportunidade para Bruce

mostrar como ele achava
que um protagonista

deveria atuar e se vestir

e como as sequências de luta
deveriam ser coreografadas.

Mestre!

Era ambientado em Xangai,
durante a era colonial.

Garoto, o que faz aqui?

Xangai foi ocupada, humilhada,

dominada e insultada por estrangeiros.

Aja como nosso cão japonês
e eu o levo para dentro.

Bruce Lee destilava muitas emoções

em uma explosão muito apaixonada.

Era 1972 em Hong Kong.

Foi um momento em uma colônia

onde as pessoas diziam:

"Os dias em que fomos cidadãos
de segunda classe acabaram.

E já era tempo."

A Fúria do Dragão não era dirigida

só contra os colonos japoneses,

mas também contra o povo ocidental.

É extremamente catártico.

HOMEM DOENTE DO LESTE ASIÁTICO

As pessoas começaram a reagir fortemente

contra o racismo do Ocidente.

Desta vez, você comerá papel.
Da próxima vez será vidro.

Então, Bruce entendeu

que, mesmo não tendo feito
grande sucesso em Hollywood,

ele sabia que Hollywood era o ápice.

Era a atração principal, o centro do palco

e que Hong Kong sempre
seria um espetáculo paralelo.

Então, a pergunta era:

"Acha que podemos vender
nossos filmes para o mundo?"

Este é The Pierre Berton Show.

Bruce Lee, superestrela da China,

gravado em 9 de dezembro
de 1971, em Hong Kong.

Bruce Lee enfrenta um verdadeiro dilema.

Ele está à beira do estrelato nos EUA,

mas acabou de alcançar estrelato

como ator de cinema, aqui em Hong Kong.

Então, o que ele escolhe,
o Ocidente ou o Oriente?

O que vai fazer?
Vai viver nos dois mundos?

Vai tentar ter tudo?

Eu escolherei os dois,
porque, veja, eu já decidi

que nos EUA, algo sobre o oriental,

o verdadeiro oriental, deve ser mostrado.

- Hollywood não acha.
- Pode acreditar, cara.

Só tenho lembranças muito abstratas dele.

VOZ DE SHANNON LEE - FILHA

Eu me lembro da nossa casa,
de ir ao Golden Harvest Studio.

Tenho vislumbres dele.

Mas eu me lembro claramente
da energia dele.

Como era estar na presença dele,

ser amada por ele, brincar
com ele, todas essas coisas.

E a outra forma pela qual o conheço
é por suas próprias palavras.

12 ANOS ANTES

"Dia 16 de maio de 1960.

Querido Hawkins,
agora estou por minha conta.

Desde o dia em que cheguei a este país,

não gastei nenhum dinheiro do meu pai.

Agora estou trabalhando como garçom,

um trabalho de meio período
depois da escola.

Vou lhe dizer, é difícil.

É sempre muito duro.

Bem, meu amigo, melhore logo.
Seu amigo, Bruce."

Quando Bruce veio para Seattle,

ele tinha saído de Hong Kong aos 18 anos

porque estava com muitos problemas lá

e sua família achou que ele
precisava de um novo começo.

Ele era um jovem muito bonito

e muito engenhoso.

VOZ DE RUBY CHOW - AMIGA DA FAMÍLIA

Ele me disse que queria provar ao pai

que poderia ir
para a universidade sem ele.

Quando conheci Bruce,
ele era um homem magro.

Acho que na época,
ele pesava cerca de 60kg.

Ele me chamava de "Woy".

Quando Bruce veio para os EUA,

sua identidade,
de repente, era de minoria,

uma minoria chinesa em um país branco.

Ele teve de enfrentar o enigma

que todos os imigrantes enfrentam.

"Quem serei? Qual é a minha identidade?

Como eu me expresso?

E como, na sociedade americana,
posso ser visto?"

Então, meu pai trabalhava
no restaurante de Ruby Chow.

E ao mesmo tempo, ele estudava
Wing Chun, por conta própria.

Ele sempre se interessou
por outras artes marciais

que estivessem presentes na área.

Muitas das artes marciais japonesas

eram bastante populares,
como caratê ou judô,

mas não o kung fu chinês.

Então, ele viu que havia
uma oportunidade, digamos assim,

e ele conseguiu pessoas
para fazer aulas com ele

em um estacionamento e outros locais.

Era uma abordagem
pouco tradicional das artes marciais.

Muitos chineses, naquela época,
não davam aula para os ocidentais.

VOZ DE DAN INOSANTO - AMIGO ÍNTIMO

Era meio malvisto pela comunidade.

E ele quebrou uma barreira.

Bruce abriu sua escola
para qualquer um que quisesse.

Ele não se importava
se você era chinês ou não.

Por um período, acho que fui
a pessoa mais próxima dele.

Ele começava a falar cantonês,

e eu tinha de puxá-lo e dizer:

"Não tenho ideia do que está dizendo."

Ele teve de descobrir formas
de mascarar seu sotaque.

Ele ficou em sintonia com o ritmo
da vida jovem americana.

Ele estava vendo pessoas
da classe trabalhadora,

pessoas negras, e isso moldou sua ideia

de quem ele se tornaria.

Uma das coisas com que eu o ajudei

foi como se comportar na rua,

como interpretar as pessoas
e coisas assim.

Atitudes. O que era um comportamento legal

e o que não era.

Bruce estava acostumado
com as ruas de Hong Kong e não daqui.

Ele aprendeu muito sobre os EUA

com os dez caras que ele ensinava.

Para o bem ou para o mal,
ensinamos o jeito americano.

"Quem sou eu?

Essa é a velha pergunta
feita por todos os homens

em um momento ou outro.

Embora ele olhe para um espelho

e reconheça seu próprio rosto,

embora saiba seu próprio nome,
idade e história,

ainda assim ele se pergunta,
no fundo: 'Quem sou eu?'"

Acho que nunca nos esquecemos
do que somos.

Por causa da nossa aparência,
nunca podemos fugir disso.

VOZ DE AMY SANBO - EX-NAMORADA

Eu ensinei a ele a importância
do orgulho racial.

Ele achava atraente

o fato de eu não aturar nenhuma bobagem,

e isso também existia nele,

porque ele era muito etnocêntrico.

Eu sentia que não devia
desculpas a ninguém, por nada,

especialmente sendo nipo-americana,

por causa da Segunda Guerra Mundial.

Ele conhecia minhas experiências

nos campos de realocação.

Mais de cem mil homens,
mulheres e crianças,

todos de ascendência japonesa,

foram retirados de suas casas
para reduzir o perigo militar

em um momento em que o perigo
de invasão era grande.

Cada família, ao chegar nos campos...

Os japoneses foram presos.

Você pode chamar
de campos de concentração,

mas eles os chamavam
de campos de realocação.

O GOVERNO DOS EUA APRESENTA

NOSSOS INIMIGOS: OS JAPONESES

Para enfrentar os japoneses

e fazer o trabalho de forma completa,

temos de entendê-los completamente.

O cenário asiático nos EUA,

para um americano branco,
era uma coisa muito confusa.

Porque os japoneses eram os vilões, certo?

Eram os de olhos puxados

que lutaram contra os americanos
na Segunda Guerra.

Eles eram terríveis e inescrutáveis.

Causando destruição
em cidades desarmadas e seu povo.

Por outro lado, os vietnamitas

eram cruéis e muito maus
porque eram comunistas.

E os chineses eram a grande anomalia.

A China era um herói ou um vilão?

Os chineses foram trazidos
na década de 1830,

por uma razão, para servir
de mão de obra barata

na construção do Oeste.

O estereótipo é que eles são submissos,

silenciosos, incrivelmente trabalhadores.

O que vimos foi a ascensão

de um movimento branco
da classe trabalhadora

liderado por trabalhadores
americanos irlandeses.

Conseguiram criar um frenesi
contra sino-americanos.

Por isso, a Lei de Exclusão
Chinesa foi aprovada em 1882.

Foi a primeira vez
que houve um banimento explícito

de um grupo de pessoas.

Literalmente, os chineses
não eram vistos como humanos.

Eu lhes peço para se erguerem

e lutarem comigo para restaurar
os EUA para os americanos!

Fomos como uma vítima de estupro.

ESCRITOR E ATIVISTA

Uma vítima de quem tiraram
direitos constitucionais

não gosta de falar sobre isso,

nem aponta o dedo
para aquele que é culpado,

mas olha para si mesma como responsável

por esse crime indescritível.

Através das experiências
e histórias dessas pessoas,

Bruce passou a entender

como era sua imagem
para os americanos brancos.

Os asiáticos foram
completamente discriminados.

Jesse, Bruce e eu saíamos.

Trocávamos namoradas.

Todos eram de raça diferente.

Saíamos e víamos se alguém
diria algo sobre isso.

Todos íamos aos bailes da igreja budista.

Havia rhythm and blues,
e as músicas populares também.

Eu o chamava de gênio cinético.

Quando o ensinei
a fazer uma pirueta dupla,

ele só precisou olhar.

Ele reproduziu com perfeição
e aquilo foi incrível. Nossa!

Um dançarino fantástico e tudo mais.

Mas romanticamente, estranho.

Nós nos afastamos.

Bruce tinha muitas coisas boas,

mas não era o suficiente para mim.

"Setembro de 1962.

Querida Pearl,
esta carta contém meus sonhos

e minhas formas de pensar.

Como um todo, você pode
dizer que é meu modo de vida.

Os EUA estão procurando por ideias.

Ideias fizeram dos EUA o que eles são.

E uma boa ideia fará de um homem
o que ele quiser ser.

Quando você solta uma pedra
em uma poça de água,

a pedra inicia uma série de ondulações

que se expandem até
que elas alcancem a poça toda.

Isso é exatamente o que vai acontecer

quando eu der às minhas ideias
um plano de ação definitivo.

Lembranças calorosas, Bruce."

Meu pai abriu sua primeira escola oficial,

chamada Jun Fan Gung Fu Institute,
em Seattle, em 1963.

Foi uma época de transição.
Quando ele descobriu

que poderia ganhar dinheiro com aquilo,

todo o pessoal original simplesmente saiu.

Pensando bem, Bruce sempre teve um plano.

Ele era um produto agora,
não um amigo e um professor.

Então, ele abriu aquele estúdio

e foi lá que conheceu Linda.

Seu objetivo, toda a sua vida,

era mostrar a beleza
de sua cultura chinesa para o mundo.

Então, ele começou comigo.

Nós dois estávamos
na Universidade de Washington.

Íamos para uma área onde havia
colunas brancas altas,

uma grande área gramada
e nós praticávamos kung fu.

Ele era muito extrovertido, muito amável,

muito prático em mostrar
como ficar e o que fazer.

"Linda, deixe seus braços assim."

Ele me jogou sobre o ombro
e eu acabei deitada no chão.

Ele se inclinou e disse:

"Gostaria de ir ao Space Needle?"

"Claro, eu adoraria."
Foi a primeira vez que saímos juntos.

Ele adorava o estilo de vida
que se poderia ter nos EUA.

E naquela época

ele queria abrir escolas
de kung fu em todo o país.

Ele tinha grandes sonhos,
grandes aspirações.

Ele queria que eu
experimentasse comida chinesa

e visse filmes chineses.

Ele juntou um grupo de alunos de kung fu

e fomos ao cinema

para assistir ao filme chamado O Órfão.

Quando ele apareceu na tela,
e ele era a estrela do filme,

eu fiquei totalmente chocada,
muito surpresa.

Ele era uma estrela de cinema.

Fiquei olhando para ele
e pensando: "É você?"

E ele disse: "Sim."

Mas ele não achava
que isso fosse algo especial.

Para ele, era seu trabalho
quando era garoto.

Quero perguntar de sua vida, primeiro.

Você nasceu em São Francisco?

ENTREVISTA POR TELEFONE COM ALEX BEN BLOCK

Certo. Em 27 de novembro de 1940.
Sou Sagitário.

Um diplomata.

Bruce Lee nasceu
na Chinatown de São Francisco,

a coisa mais próxima de Hong Kong nos EUA.

É a maior Chinatown, de longe,

devido à imigração
de trabalhadores chineses

por causa da corrida do ouro.

Soube que seu pai era muito
famoso na ópera chinesa.

Era, sim.

Qual era o nome dele?

Lee Hoi Chuen.

O motivo pelo qual o Lee Hoi-chuen

e sua trupe de ópera acabaram em Chinatown

porque achavam que ganhariam
dinheiro em turnê pelos EUA.

Minha avó veio
nessa viagem, em particular.

Ela estava grávida do meu pai, na época.

Por isso meu pai nasceu em São Francisco.

Ele era um cidadão americano.

Bruce Lee atuou em filmes
desde que era um bebê.

Ele literalmente cresceu
no set do cinema de Hong Kong,

nos bastidores da ópera cantonesa.

Durante a década 1940,
depois que Bruce nasceu,

minha avó estava falando
com meu pai ao telefone,

e disse: "Haverá uma guerra
em breve em Hong Kong,

com os japoneses."

Mas meu pai era chinês tradicional,

e a família era tudo,

tínhamos de trazer Bruce para casa.

Se algo acontecesse,
a família estaria junta.

E você se mudou
para Hong Kong pouco depois?

Sim, quando eu tinha três meses.

Meu pai era de uma família
muito pobre de pescadores.

O tio da minha mãe

foi o primeiro milionário de Hong Kong.

Seu nome era Sir Robert Ho Tung.

A mãe de Bruce, Grace Lee,

era descendente de europeus.

Tínhamos uma vida muito boa.

Tínhamos duas empregadas, um chofer.

Meu pai também cuidou
da família do irmão mais velho.

Então, havia cerca
de 15, 16 pessoas o tempo todo.

Bruce era um espírito livre.

Ele sempre foi do tipo valentão.

Não era bom na escola,
mas era bom de briga.

Lembro que muitas celebridades
vinham à casa do meu pai.

Um produtor notou que Bruce
era uma pessoa muito ativa.

Ele disse: "Talvez devêssemos
dar a ele um pequeno papel."

Parecia que ele tinha nascido
com o talento para ser ator.

Então, meu pai o deixou atuar
em papéis pequenos, primeiro.

Garota, deixe-me dizer,
sou um homem importante agora.

Meu professor é Lee Lâmina Voadora.

No filme The Kid,

que ele estrelou aos nove anos de idade,

ele retratou alguém que veio
de um sofrimento profundo.

Tio, aqui tem dinheiro para comida.

Não quero seu dinheiro sujo!

Há uma frase chinesa:

"Saboreando o doce enquanto
se lembra do amargo."

Nostalgia pelo sofrimento.

Não quero esfaquear você.

Como se atreve? Seus pais morreram!

Trabalho tanto para sustentá-lo!

De que me adianta?

Quer me esfaquear?

Meu pai, no começo,

não queria que ele estivesse
no mundo artístico.

Mas os filmes que ele estava fazendo

estavam indo muito bem.

Ele era um dos melhores atores mirins

então, ele permitiu.

Quando começou a estudar artes marciais?

- Com que idade?
- Treze anos.

Estudou com algum instrutor famoso?

Estudei com Yipman,

nas artes chinesas.
O estilo se chama Wing Chun.

Na escola, algumas pessoas
olharam para ele e disseram:

"Quem pensa que é?"

Então, alguns caras
se juntaram e bateram nele.

Então, ele disse: "Preciso
aprender algo para me defender

quando eu precisar."

O homem está sempre
em processo de aprendizado.

Yipman tinha uma noção ampla
do que eram as artes marciais.

Ele não tinha uma visão restrita.

Bruce Lee realmente foi seu aluno ideal.

"Meu instrutor, na época,
chegava até mim e dizia:

'Relaxe e acalme sua mente.

Esqueça de si mesmo
e siga o movimento do oponente.

Deixe sua mente
fazer o movimento contrário

sem qualquer interferência.

Acima de tudo, aprenda a arte
do desprendimento.'

Depois de muitas horas
de meditação e prática, desisti

e fui velejar sozinho no junco.

No mar, pensei
em todo o meu treinamento passado,

fiquei com raiva
de mim mesmo e dei socos na água.

E naquele momento
me ocorreu um pensamento:

essa água não era a essência do kung fu?

Esta água, a substância
mais mole do mundo,

só parecia fraca. Na realidade,

poderia penetrar a substância
mais dura do mundo.

Era isso! Eu queria
ser como a natureza da água."

Naquele ponto, ele já era
muito bom em Wing Chun.

E havia outro estilo chamado Choy Li Fut

e um sempre lutava contra o outro.

Eles sempre lutavam em telhados.

Bruce voltava com hematomas
ou com um olho roxo.

Meu pai não tolerava esse tipo de luta.

O ÓRFÃO

Em seu filme de 1960, O Órfão,

basicamente Bruce Lee estava
interpretando a si mesmo,

um delinquente juvenil.

A última gota

foi quando um policial disfarçado
falou com minha mãe:

"Seu filho tem lutado. Estamos preocupados

que ele se envolva com gangues depois.

Se ele não parar o que está
fazendo, teremos de prendê-lo."

Meu pai disse: "Já que ele nasceu nos EUA

e nós temos bons amigos lá
que podem cuidar dele,

por que não o mandamos para lá

e o deixamos tentar
viver por conta própria,

para ver o que acontece?"

Sam, desde pequeno
não foi cuidado por seus pais.

Lembro do dia antes de ele ir embora.

Eu estava dormindo, ele me acordou.

"Robert, vou embora de Hong Kong amanhã

sem saber no que estou me metendo."

Nunca o tinha visto
tão pouco à vontade antes.

Ele estava perturbado.

Ele não sabia o que esperar,
estava com medo.

Ele tinha apenas 18 anos. E foi isso.

Meu pai o mandou para os EUA
com US$ 100 no bolso.

Quando estávamos namorando,
fomos assistir a muitos filmes.

Um deles foi Bonequinha de Luxo.

Srta. Golightly? Como pode?

Mickey Rooney estava ridículo.

Bruce ficou com vergonha

de sua cultura asiática
ser representada daquela forma.

Se não parar
com esse fonógrafo agora mesmo,

vou chamar a polícia!

Quando você via
americanos asiáticos na tela,

eram geralmente loucos, maníacos,

estereótipos robóticos
ou serviam a pessoas brancas.

O carregador ganha US$ 0,10 por dia.

Nobre e gentil cavalheiro,
gostaria de me apresentar.

Hollywood sempre tratou os asiáticos

de maneira descaradamente racista.

Viu os pauzinhos?

Não, estão empilhados como em um pagode.

Hollywood pegava uma pessoa branca

e a fazia interpretar um chinês,

em vez de colocar um chinês no papel.

Fale com Nancy Kwan.

Fale com os atores
que viveram naqueles dias.

Sim, quem é?

Não lembro de nenhum ator
principal asiático, na época.

VOZ DE NANCY KWAN - ATRIZ E AMIGA

Todos eram interpretados por caucasianos.

John Wayne interpretou Genghis Khan.

Quem é essa mulher cruzando minhas terras?

Sinto que devo ficar com ela.

A comunidade chinesa
não criava caso com isso,

mesmo sendo ultrajante.
Contratar atores brancos?

A vida, mesmo em bons momentos,
não é tão boa.

Como pode ser tão insensível?
Que tipo de homem é você?

Dentuços, de óculos, com porte pequeno,

sem musculatura.
Para a maioria dos homens asiáticos,

ficou gravado em seus cérebros
que eles eram assim.

Atores principais asiáticos,
se fossem homens,

não podiam beijar mulheres brancas,

só podiam beijar
mulheres asiáticas, quando muito.

Você inclina a cabeça
para um lado e eu, para o outro.

Que bom que falo chinês.

Não havia um papel
para um americano asiático

expressar outro lado de sua humanidade.

"Dia 20 de outubro de 1963.

À garota mais doce,
do homem que a aprecia.

Linda, viver satisfeito com poucos meios,

suportar tudo alegremente,
fazer tudo com coragem,

esperar ocasiões, nunca se apressar.

Em outras palavras, deixar o espiritual,

livre e sem consciência,

crescer através do comum, Bruce."

O fato de Bruce ter escolhido
se casar com uma pessoa branca

já era uma expressão
de como ele se sentia sobre os EUA.

Ainda havia vários estados

que proibiam o casamento interracial.

Era malvisto.

Minha mãe teve mais dificuldade em aceitar

que Bruce e eu nos casaríamos.

Minha mãe tentou nos fazer esperar.

Mas já tínhamos feito planos.

Depois que ela o conheceu,
ela o adorou e o achava ótimo.

Conheci Bruce Lee em julho de 1964,

em uma exibição no campeonato
internacional de caratê

em Long Beach.

Foi a primeira exposição
real de Bruce Lee às massas.

Kung fu é originário da China.

É o ancestral do caratê e do jiu-jitsu.

É um sistema mais completo
e é mais fluido.

Com isso, quero dizer que há
continuidade no movimento

em vez de fazer um movimento,
dois movimentos e depois parar.

O melhor exemplo seria um copo d'água.

Por quê? Porque a água é
a substância mais mole do mundo.

Mas ainda assim pode penetrar
na rocha mais dura,

granito, o que seja.

Você não pode segurar a água.

Você não pode socá-la e machucá-la.

Então, todo lutador de kung fu
tenta ser mole como água

e flexível e ter profundidade
própria conforme o oponente.

O Bruce Lee daquela época
estava procurando

pelo que ele chamava de verdade.

Basicamente, ele destrinchou
os diferentes estilos

e promovia a simplicidade

e a ausência de tradição.

Ninguém pensou assim.
Ele pensou de forma diferente.

Eu me apaixonei
pelas coisas que ele me mostrou.

Os anos de 1964 e 1965 foram cruciais.

Havia muita coisa acontecendo.

"Para Taki Kamura,

Dia 1 de fevereiro de 1965.
Nosso bebê chegou,

seu nome, Brandon B. Lee.

Um menino grande e saudável, é claro."

Uma semana depois que Brandon nasceu,

o pai de Bruce faleceu
e isso foi inesperado.

Bruce ficou arrasado.

Foi uma perda terrível para ele.

Ele chorou muito.

Porque naquele momento ele sabia

que, apesar de o pai tê-lo mandado aos EUA

com apenas US$ 100 no bolso,

ele era bom para ele.

Antes de ir para os EUA,

ele procurava coisas externas.

Ele tinha sua aparência,
roupas chamativas.

Ele achava que era assim
que um ser humano deveria ser.

Mas quando ele chegou aos EUA,

ele entendeu o significado da vida.

Ser independente,
ser responsável por si mesmo.

Não só por si mesmo, mas por sua família.

Eu estava em casa, o telefone tocou

e era do escritório de William Dozier.

Não fazia ideia de quem era.
Disseram que ele era produtor.

Um assento no corredor...

Como sabemos agora,

naquele torneio de Long Beach em 1964,

havia um homem na plateia
chamado Jay Sebring,

um cabeleireiro das estrelas de Hollywood.

Jay viu meu pai
fazendo aquela demonstração

e ficou muito impressionado.

E ele sabia que seu cliente,

William Dozier, que era
um produtor de Hollywood,

estava procurando um ator asiático

para um programa
que ele estava produzindo.

Então, quando Bruce chegou em casa,

eu disse: "Você não vai acreditar nisso!

Recebemos uma ligação
de um produtor de Hollywood

que quer que você vá
fazer um teste de câmera."

Ele ficou chocado, ficou tão surpreso.

Bruce nunca havia expressado para mim

nenhum desejo de se tornar ator novamente.

Ele ainda estava concentrado
em seu objetivo

de abrir escolas
de artes marciais em todo o país.

Teste, X-2, tomada um.

Bruce, olhe direto para a câmera

e nos diga seu nome,
sua idade e onde nasceu.

Meu sobrenome é Lee, Bruce Lee.

Nasci em São Francisco em 1940.
No momento tenho 24 anos.

Soube que acabou de ter um filho.

Sim.

E que não tem dormido muito.

Há três noites.

Aquele teste de câmera mostra
exatamente como Bruce era.

Ele era uma pessoa
muito extrovertida e confiante.

Ele sabia o que fazer.

Ele estava se apresentando
do jeito que era.

Certo, agora a câmera vai recuar.

E, Bruce, mostre alguns
movimentos de kung fu.

Esta é a forma da garça.

Começo.

O tigre, que começa como um tigre,

usando a garra para arranhar o rosto

ou o movimento do bico da garça nos olhos.

- Estes são alguns movimentos.
- Muito obrigado.

Isto é o que queremos
dizer com simplicidade.

Ficaram tão impressionados
com o teste de câmera do Bruce

que queriam encontrar
um trabalho adequado para ele.

Então, pagaram ao Bruce US$ 1.800,

que foi a maior quantia
que já tínhamos visto,

para segurar Bruce por 18 meses.

A violência que vimos foi grande.

Vimos negros sendo molhados e espancados,

molhados com mangueira como cães e gado.

A década de 1960
foi uma época de grande revolta

e mudança social. Porque foi o ápice

do movimento dos direitos
civis com Martin Luther King,

os protestos em Washington.

Quem o ensinou a odiar
a textura do seu cabelo?

Quem o ensinou a odiar a cor da sua pele

a tal ponto que você quer
clareá-la, para ficar branco?

Houve tragédias naquela época,

como quando o presidente Kennedy

e Martin Luther King foram mortos.

Martin Luther King foi baleado
e morto esta noite.

Bruce sentiu que o país
estava com problemas na época,

por causa de todos
esses confrontos raciais.

Meu inimigo são os brancos,

não os vietnamitas, chineses ou japoneses.

Você fica contra mim
quando eu quero liberdade.

Você fica contra mim quando quero justiça.

Você fica contra mim
quando quero igualdade.

Você não me defende nos EUA
por minhas crenças religiosas

e quer que eu vá para outro lugar lutar,

mas você não me defende aqui no meu país!

Bruce sabia do movimento
de libertação negra.

Ele esperava que os negros americanos

defendessem seus direitos.

Como os afro-americanos

estavam consolidando um apoio maciço

para defender
os direitos civis e os direitos humanos

de todos os americanos,

a opinião era de que afro-americanos

eram muito barulhentos.
"Vejam os americanos asiáticos.

Se eles fossem silenciosos e dóceis

como americanos asiáticos,
talvez tivessem mais sucesso."

Como um americano

cujos ancestrais vieram do Japão...

PRIMEIRO SENADOR NIPO-AMERICANO

eu me acostumei a uma pergunta.

"Por que os negros
não podem ser como vocês?"

Nessa vergonhosa
hierarquia de raça, nos EUA,

os asiáticos eram tratados
melhor do que os negros.

O mito da "minoria modelo"

é um estereótipo dos americanos asiáticos,

representados como pessoas obedientes
que se assimilavam,

nunca faziam alarde sobre discriminação,

pobreza ou exclusão.

Eles apenas abaixavam
a cabeça, trabalhavam duro,

seguiam as regras
que a sociedade branca estabelecia.

Nós, os asiáticos, nunca fomos tratados

como seres humanos completos,

mas como uma dimensão
muito estreita da humanidade.

E isso é racismo descarado.

Então, Bruce ainda estava esperando

pelo que ia acontecer em Hollywood.

Finalmente, quando disseram
que filmariam O Besouro Verde,

nós nos estabelecemos em Los Angeles.

Aí vêm os dois. Aqui está Bruce Lee,

que interpretará Kato, e Ben Williams,

que interpretará o Besouro Verde.

A maneira como Bruce
conseguiu entrar em Hollywood

foi interpretando um ajudante,
literalmente, o servo oriental.

Bem, vou dizer do jeito chinês...

Muito obrigado.

E O Besouro Verde
é onde ele começa a romper

o mito da "minoria modelo".

É mais fácil dizer
o que O Besouro Verde não será.

Não será uma imitação de Batman.

O Besouro Verde será totalmente original.

Vamos lá, Kato.

Ele era Kato,

a pessoa cujo trabalho era
só dirigir para o Besouro Verde.

Eles viram Bruce
e a destreza dos seus movimentos.

Disseram: "Deve haver algum
jeito de usar isso na tela."

Quando ele estava em O Besouro Verde,

eles o mandaram
para um professor de teatro,

mas o professor disse: "Não há diálogo."

"Caro Sr. Dozier,

Kato é um parceiro ativo do Besouro Verde

e não um seguidor mudo.
Não estou reclamando,

mas sinto que uma parceria ativa
com o Besouro Verde

definitivamente trará um Kato
mais eficaz e eficiente.

Meu objetivo é melhorar o filme."

Então, lhe deram mais falas.

Sabe, se encontrarmos de novo
o lutador de kung fu mascarado,

eu o quero.

Ele lutava com tudo

por cada centímetro
de espaço que pudesse ter.

Eu era o número dois.

Talvez com a ideia
de se tornar o número um?

Bruce foi tratado
como se fosse um figurante.

Essa questão da diferença salarial

é um exemplo perfeito
do tratamento de segunda classe

que atores que não fossem
brancos enfrentaram na época.

Quem é esse estranho na bicicleta?

Acho que o nome dele é Bruce Lee.

Parece muito com Kato.

Precisam de ajuda?

Sim, vai lutar kung fu?

O que é o kung fu, Bruce?

Bem, kung fu é uma forma
chinesa de combate.

Artes como caratê ou jiu-jitsu
derivam do kung fu.

Você é de São Francisco...

Quando ele entrou na cena de Hollywood,

ele me disse: "Posso ensinar
as pessoas mais rápido com filmes

do que escrevendo um livro
ou abrindo cem escolas nos EUA."

Você não tem escolas de caratê
ou algo assim em São Francisco?

- Não sei exatamente.
- Em Oakland, na verdade.

- Em Oakland?
- Sim.

Já abriu uma escola aqui?

Ainda não, pois temos filmado
todos os dias e estou ocupado.

ABC, onde eu verei você
em O Besouro Verde.

Sou Bruce Lee,

convidando você a juntar-se a mim
todas as sextas à noite

na maior parte dos canais da ABC.

Quando Bruce estava na tela,
ele a iluminava.

Ele foi uma inspiração
para pessoas de todo o mundo.

Sua presença na tela
era um protesto em si.

O BESOURO VERDE

Como americanos asiáticos,
como pessoas de cor,

nós nos afirmamos através da cultura
ao nosso redor.

Ver outra pessoa na tela
que se parece com você é animador.

Faz você sentir que seu lugar é aqui.

Faz você sentir que pode fazer coisas

que talvez não achasse que poderia antes.

Claro que ele descobriu

que o lugar certo
acabou sendo na hora errada.

Porque os EUA e Hollywood poderiam
estar prontos para a mudança,

mas não tanta mudança.

CARO BRUCE,

CONFÚCIO DISSE: "O ZUMBIDO
DO BESOURO VERDE CESSOU."

O Besouro Verde foi cancelado

porque não teve muita audiência.

Quando O Besouro Verde foi cancelado,

ele ficou muito vulnerável.

Ele ficou muito decepcionado,
muito triste,

mas redefiniu seus objetivos.

Durante esse tempo, ele leu livros

e também escreveu muito.

Então foi um momento
lucrativo para ele também.

Bruce fez uma série de coisas
para pagar as despesas.

Às vezes, ele conseguia um papel de ator,

o que não era muito frequente.

Às vezes, ele era coordenador de dublês.

Fizemos juntos o filme
A Arma Secreta Contra Matat Helm.

Ele era divertido,
era ótimo trabalhar com ele.

Bruce vinha até a casa, ficava lá.

Bruce tinha um plano:

ele se tornaria uma grande
estrela de cinema de kung fu.

Eu disse: "Vá em frente."

Ele se recusou a interpretar papeis

que fossem humilhantes para os chineses.

E nos anos seguintes,
ele teve poucos papéis.

Ele teria facilmente
ficado preso em um círculo vicioso

se fizesse do jeito que Hollywood queria.

Era incerto. Nunca sabíamos
de onde viria o próximo salário.

Passamos por momentos muito difíceis.

Mesmo tendo problemas,
passamos muito tempo juntos.

Shannon nasceu e digo uma coisa,

ela o tinha na palma da mão,
desde que nasceu.

Ele tinha adoração por ela.

Ele a amava muito.

Para mim, foram momentos muito felizes.

Nossa família estava unida,

Bruce estava disponível
para ficar com as crianças.

Foi uma época feliz.

Você abriu uma escola em Hollywood

- para pessoas como James Garner...
- Sim.

- Steve McQueen e os outros?
- Sim.

Por que iriam querer aprender
artes marciais chinesas?

- Por causa de um papel?
- Não exatamente.

A maioria deles, para mim,

pelo menos do jeito
que acontece quando ensino...

Todo conhecimento
significa autoconhecimento,

portanto, eles querem
aprender a se expressar

através do movimento. Seja raiva,

determinação, ou qualquer outra coisa.

Aqui está o instinto natural.

Aqui está o controle.

Você deve combinar os dois em harmonia.

- Ying Yang.
- Certo, é isso.

Agora vamos fazer correndo
e ver o que acontece.

- Pronto?
- Vamos.

- Chame o Brandon.
- Brandon, venha.

Está ligada?

Quero ficar, mamãe.

Bruce se encaixa bem na contracultura.

Como professor de artes marciais,

ele é um tipo de guru oriental
de certa forma,

trazendo sabedoria profunda
e antiga do Oriente

para esses brancos na Costa Oeste.

Steve McQueen estava no auge
de sua carreira, naquela época,

assim como James Coburn. Ted Ashley,

o presidente da Warner Brothers.

Acho que era moda,

pois Bruce tinha muitos
desses alunos brancos de Hollywood

que queriam ser conhecidos
por saírem com o chinês legal.

Uma das minhas lembranças mais antigas

é de estar na casa
do tio Bruce, em Bel Air.

VOZ DE DIANA LEE INOSANTO - AFILHADA

Brandon e eu corríamos
pelos corredores da casa,

então passávamos correndo pelas portas,

bem onde meu padrinho estava
falando sobre filosofia.

Ele tinha um círculo
de alunos ao seu redor.

Havia uma espécie de espírito boêmio.

Você deve se inclinar um pouco mais.

Havia todas essas pessoas
de diferentes estilos de vida.

Eu achei que o mundo seria
assim quando eu fosse adulta.

Conheci Bruce
através de um amigo em comum,

o editor da revista Black Belt.

Ele disse: "Bruce não ensina
o estilo tradicional,

mas é muito interessante e é inovador."

Com 2,10m de altura,
ele tem muito talento.

Da maneira como joga, ele é imbatível.

Bruce era interessado
em todos os esportes.

Ele sentia que todos no mundo

podiam contribuir um pouco
para as artes marciais.

Muitas pessoas
procuram instrutores e dizem:

"Cara, qual é a verdade?
Você vai me ensinar?"

Então, o cara diria:

"Posso ensinar a maneira
japonesa de fazer isso."

Outro cara diria: "Vou ensinar
o jeito chinês de fazer isso."

Para mim, isso é tudo bobagem.

Pessoalmente, eu não acredito
na palavra "estilo".

Por causa do estilo,
as pessoas se dividem.

Elas não estão unidas
porque estilos se tornaram lei.

Vamos para lá.

Depois do treino, Bruce
ficava no seu escritório.

Ele tinha um videocassete

onde assistia a gravações de Muhammad Ali.

Muhammad Ali, Sugar Ray Robinson,

Joe Lewis, campeões negros de boxe

eram o orgulho dos americanos negros.

Ele estava aberto a todas
essas diferentes influências.

Ele estudava de onde vinha a potência

e pensava no que funcionaria
melhor para seu próprio corpo.

- Devo dizer ao público...
- Sim.

Que Bruce Lee teve um papel pequeno
na série Longstreet

que teve um enorme efeito no público.
Como foi isso?

Acho que o ingrediente do sucesso

foi que eu estava sendo Bruce Lee.

- Como eu disse...
- Você mesmo.

Estava me expressando naquele momento.

O que foi isso?

Em cantonês, "jeet kune do",

"o caminho do punho que intercepta".

- O punho que intercepta?
- Ou o pé.

Viu? Para chegar a mim, deve vir até mim.

Seu ataque me dá a oportunidade
de interceptá-lo.

Neste caso, estou usando
minha arma mais longa,

meu chute lateral,
contra o alvo mais próximo,

seu joelho. Pode ser comparado
a um direto de esquerda no boxe,

mas causa muito mais estrago.

Ele vai me ensinar tudo isso.

Não posso ensiná-lo,

só ajudá-lo a desenvolver
isso em si mesmo, nada mais.

Tudo bem, vamos treinar
alguns desses chutes.

A década de 1960
influenciou muito Bruce Lee.

Uma era de experimentação, desilusão,

a angústia existencial estava muito alta.

Houve uma tentativa muito consciente

de desafiar a maneira
ocidental tradicional.

Eu moro aqui,

minha avó morava aqui, ela morreu aqui.

Então, é meu lugar, mas odeio este lugar!

ATIVISTA - DRAMATURGO

Se eu fosse de fora,
queimaria o lugar e diria:

"Dane-se" e iria embora.

Mas como este é meu lar,
ridiculamente, absurdamente,

cruelmente meu lar,

eu não quero queimá-lo.

Sou a quinta geração e a sexta
geração está crescendo agora.

Não quero ver outra geração
completamente destruída.

Não quero que cresçam nessa dúvida,

onde sintam que nasceram estrangeiros.

Antes de 1968, éramos orientais.

Oriente é o Leste, certo?

Leste em comparação com o quê?

Se olhar para a maneira
como as pessoas mudaram

e começaram a se chamar
de americanos asiáticos,

o que vê é a mudança em dizer:

"Não vamos nos definir
em relação ao Oeste,

onde quer que o Oeste seja.
Vamos nos definir de dentro."

Bruce, ao mesmo tempo,

estava lutando para colocar
suas filosofias

e suas ideias na tela.

Se for um ataque às cegas,
você deve escutar!

Escute!

- Não está ouvindo o pássaro?
- Não.

Se não ouve o pássaro,
não pode ouvir seu adversário!

Meu pai continuou tentando
conseguir papéis em Hollywood.

Só quero ser deixado em paz
para viver como um americano.

Você é arcaico.

E você é um tolo

em pensar que pode se afastar
de nós por escolha própria.

Ele conseguiu alguns papéis
em Marlowe e Longstreet

e alguns outros, mas muitos
que trabalhavam no estúdio

o viam como uma atração.

Ele percebeu rapidamente

que o impacto que queria causar

não seria possível
apenas fazendo testes para papéis.

Ele sentiu que a única maneira
de mostrar a si mesmo

era criando seus próprios papéis.

Quando vimos Bruce pela primeira vez

e vimos seus programas de TV,
percebemos que havia algo lá.

Então, criamos uma série
sobre um monge Shaolin

que veio aos EUA ajudar
os chineses nas ferrovias.

Bruce tinha concebido a ideia

que, finalmente, se tornou
a série de TV Kung Fu.

Ele a tinha apresentado à Warner Brothers.

Ele estava muito entusiasmado
por eles gostarem da ideia.

Eu disse: "Não sei, Bruce.

Não sei se estão prontos, em Hollywood,

para um protagonista asiático
em uma série de TV."

Ele disse: "Quer apostar?"
Eu disse: "Sim, aposto."

Então fizemos uma aposta.

VOZ DE TOM KUHN
EX-EXECUTIVO DA WARNER BROS

Foi uma reunião à tarde,

no meu lindo escritório
na Warner Brothers.

- Sr. Marlowe?
- Sim?

Ele fechou minha porta com o pé

e começou a balançar um nunchaku.

Estava muito perto do meu nariz
e eu pensei: "O que é isso?"

Bruce disse: "Sinta meu braço."

Foi como tocar uma pedra.

Quinhentos dólares.

E por quem farei isso?

Por mim, Winslow Wong.

Falamos sobre o papel em Kung Fu

e é claro que Bruce
adoraria interpretá-lo.

Mas o problema era que o sotaque de Bruce

seria meio complicado
para o público da TV dos EUA.

Tudo bem.

No mundo da televisão,
havia apenas três clientes.

Não havia razão comercial
para diversificar

só por uma questão de diversificação.

Nenhum deles poderia se arriscar

a se afastar demais do que era comum,

pois perderiam grande
audiência na televisão

e estariam ferrados.

Há preconceito
na indústria cinematográfica

contra pessoas que não são brancas.

Então, para Kung Fu,
que foi escrito para Bruce,

as pessoas no estúdio decidiram que os EUA

não estavam prontos
para um herói asiático.

Eles deram o papel para...

Esqueci o nome do cara agora.

A série Kung Fu com...

A série de TV acabou sendo Kung Fu

e David Carradine
era a estrela da série de TV.

A ABC recebeu muitas críticas,

eu recebi muitas críticas,

a Warner Brothers recebeu muitas críticas,

mas no fim das contas,
você precisa conseguir vender

o que está tentando vender.

Não encontrei um ator asiático

que achei que pudesse vender para a ABC.

Hollywood é racista
porque os EUA são racistas.

As imagens que Hollywood divulga

reforçam o racismo dos EUA.

É um ciclo vicioso, anda em círculos.

Então, ele disse: "Tudo bem,
é isso que está acontecendo.

Como contorno isso e mudo meu caminho?"

O importante é que ele não parou.

Ele não deixou que o parassem.

Ele disse: "Eu entendo e já decidi.

Vou fazer isso, então vou
continuar seguindo em frente."

Deixe-me perguntar

sobre os problemas que você enfrenta

como um herói chinês
em uma série americana.

As pessoas da indústria vieram e disseram:

"Não sabemos como o público
vai encarar um estrangeiro"?

Infelizmente tal coisa existe neste mundo,

e em certas partes do país,

onde pensam que, em termos
de negócios, é um risco.

E eu não os culpo.

Da mesma forma que em Hong Kong,

se um estrangeiro viesse
e se tornasse uma estrela,

se eu fosse o homem do dinheiro,

eu provavelmente ficaria
preocupado com a aceitação.

Mas, tudo bem.

Ainda se considera chinês?

Ou se considera norte-americano?

Sabe como quero me considerar?

Um ser humano.

Não quero soar muito filosófico,

mas sob o céu há apenas uma família.

Acontece que as pessoas são diferentes.

Ele sentiu a dor de ser rejeitado.

Bruce ficou arrasado,
ele não conseguia entender.

Ele disse: "Por quê?"

Ele ficou muito magoado
e enojado com todo o sistema.

Ele estava determinado
a fazer algo sobre isso

à sua maneira.

"Caro Ted, lamento saber
do resultado de O Guerreiro.

Não podemos ganhar todas,
mas, vou ganhar um dia desses."

Como descobriu Bruce Lee?

Eu o vi pela primeira vez
em uma entrevista

na televisão, em Hong Kong.

Ele fez coisas fantásticas.

Quando Brandon tinha cinco anos,

ele e Brandon fizeram
uma viagem a Hong Kong.

Foi quando ele foi reconhecido
por interpretar Kato

em O Besouro Verde.
Todos em Hong Kong sabiam

que ele tinha ido bem na TV americana.

Liguei para ele.

Peguei o telefone e liguei para ele.

Mas ele disse: "Se você quer fazer

bons filmes de ação, filmes de kung fu,

você deve fazer isso e aquilo."

Eu disse: "Sim, mas se você me ajudar,

sei que podemos construir algo juntos."

"A verdade é que sou
um chinês de cara amarela.

Eu não posso me tornar
um ídolo para os brancos,

sem contar que despertaria
as emoções dos meus compatriotas.

Por causa disso, decidi voltar

para servir à indústria
cinematográfica chinesa."

Ele era o filho pródigo que tinha voltado.

Era emocionante viver em Hong Kong.

É uma cidade empolgante.

É mais difícil morar lá
com uma estrela de cinema,

porque, como ele se tornou
muito popular lá,

ficou mais difícil para nós sairmos

sem que ele fosse abordado por fãs.

Primeiro de tudo,

a palavra "superestrela"
realmente me desanimou

e vou dizer por quê.

Porque a palavra estrela é uma ilusão.

Não me vejo como uma estrela.

Não mesmo. Acredite quando digo isso.

Quando Bruce Lee voltou para Hong Kong,

foi difícil para ele lidar
com a indústria do cinema.

Para começar, ele foi educado nos EUA.

Sim, parte dele era uma figura malvista.

"Acha que é um figurão
porque voltou dos EUA?"

Por ter dupla nacionalidade,

por definição, haveria
pessoas que o atacariam.

Dizer que Bruce tem dupla nacionalidade

é dizer que ele não é
nem chinês, nem americano.

Alguém que vive entre os dois mundos.

Às vezes, eu entrava
em uma loja ou algo assim

e ouvia os funcionários dizerem coisas

não muito boas sobre mim, em chinês.

Eles não sabiam que eu os entendia.

Acho que as pessoas olhavam para Bruce

como um magnífico modelo de homem chinês,

por que ele se casaria
com essa garota branca sem graça?

São várias coisas juntas.

Estigmatizado, odiado,
provocando ressentimento,

mas por outro lado, respeitado, invejado

e até adorado, às vezes.

Bruce era muito autoconfiante.

Ele pensava: "Se me despreza,
se não me valoriza,

azar o seu.

Vai concordar comigo no futuro."

Depois de O Dragão Chinês
e A Fúria do Dragão

Raymond estava disposto
a ouvir suas ideias

sobre direção e sobre histórias.

Ele queria que tudo
que se comprometesse a fazer

fosse da melhor qualidade possível.

Ele transformou a luta na tela em diálogo.

O que ele estava expressando
ficava subentendido.

A maneira como ele integrou
o Oriente e o Ocidente

foi introduzindo muito
do pensamento ocidental,

do cinema ocidental.

Por exemplo, o personagem de Chuck Norris

não era o vilão de desenho
animado de A Fúria do Dragão,

mas era um lutador de caratê respeitável.

Essa evolução é muito importante.

O sino soou, aqui é Wes Carter.

Cassius Clay
já começou com a mão esquerda.

Ele está usando o calção branco

e seu oponente está usando o calção preto.

A luta está apenas começando.

Muitas vezes as pessoas vêm e dizem:

"Bruce, você é realmente tão bom?"

Eu digo: "Se disser que sim,
dirão que estou me gabando."

O tempo está acabando.

Antes que o tempo acabe,

ele consegue encaixar uma sequência.

"Se eu disser que não sou bom,
sabe que estou mentindo."

Vamos dizer assim:

não tenho medo do adversário
na minha frente.

Quando estávamos filmando O Voo do Dragão

a Warner Brothers percebeu
que havia mais em Bruce Lee

do que eles imaginaram originalmente.

Na época, Bruce havia começado
a trabalhar em Jogo da Morte.

Bruce ligou para a minha casa e disse:
"Estamos fazendo um filme.

Você pode vir?" Era setembro.

Mas eu tinha dez dias
e pude ir a Hong Kong.

Ele disse:
"Veja, não posso lhe pagar ainda."

Ainda não tinham financiado o filme.

Filmamos nossas cenas
e eu tive que ir embora.

Bruce começou

uma espécie de projeto
dos sonhos chamado Jogo da Morte.

Foi exatamente naquele momento,

quando ele se estabeleceu
de forma independente,

não apenas como ator,
mas como roteirista e diretor,

que Hollywood começou a perceber

o que ele realmente tinha a oferecer.

Então, fui para Hong Kong.

Àquela altura, Bruce queria muito
fazer um filme internacional.

Raymond Chow era totalmente
contra a ideia de perder sua estrela.

Negociei com Raymond várias vezes,

mas parecia que não teria jeito.

Então, na noite anterior à minha partida,

Bruce, eu, Raymond e todos
saímos para jantar.

Na hora do jantar eu disse:
"Bruce, é uma pena

que você nunca se torne
uma estrela internacional

porque Raymond não quer fazer um acordo."

Raymond olhou para mim e ficou branco.

Ele disse: "Tudo bem, vou fazer o acordo."

Então, tornaram-se parceiros
meus e da Warner Brothers

em Operação Dragão.

OPERAÇÃO DRAGÃO

Levou um tempo para ser realizado

porque Bruce não estava
feliz com o roteiro.

Ele queria colocar algumas coisas nele

que dariam ao filme
um pouco mais de substância.

Bruce se recusou a começar.
Ele se recusou a ir ao set.

A equipe americana estava lá.

Tudo estava custando dinheiro,

mas Bruce não queria aparecer no set.

Tenho certeza de que às vezes ele era

uma pessoa muito difícil.

Ele era cheio de fogo e intensidade.

Às vezes, era um moleque.

Nem sempre era um cavalheiro.

Ele contava as histórias.
Era um idiota, às vezes.

Bruce tinha o mesmo tipo de inseguranças

que todos os atores de sucesso têm.

"Estão todos apoiando meu projeto?

Estão fazendo o que é melhor
para mim e para o filme?"

Finalmente,

ele conseguiu o que queria.

O que foi isso? Uma exibição?

Precisamos de conteúdo emocional.

Toda vez que havia
algo filosófico no filme,

era algo que Bruce havia
colocado no roteiro.

É isso!

Como se sentiu?

Deixe-me pensar.

Não pense! Sinta.

É como um dedo apontando para a Lua.

Não se concentre no dedo

ou não verá toda essa glória celestial.

Ele tentava

fazer o tipo de filmes
que ele queria fazer.

A visão dele...

Nunca tire os olhos do seu oponente,

mesmo quando se curvar.

Na década de 1970,
muito poucos filmes chineses

ou asiáticos chegavam a Hollywood.

Bruce queria que nossos filmes
chegassem a Hollywood.

Não pensávamos em fazer
sucesso com Operação Dragão,

só queríamos fazer o melhor
filme que pudéssemos com Bruce.

Quando começou, percebemos

que estávamos lidando
com algo espetacular.

Lá estava Bruce,

fazendo o que ele estava destinado a fazer

e foi maravilhoso.

Ele era elétrico.

Há algo muito único nas estrelas.

Há uma integridade em sua humanidade.

Eles são quem são

e estão muito confortáveis
em sua própria pele.

É, em grande parte, o que
encantava as pessoas em Bruce.

Acho que ele adorou ser famoso,
era o que ele queria,

era o objetivo dele. Mas não sei,

talvez quando chegou lá,
tenha dito: "Bem..."

Você se torna famoso,
mas precisa saber lidar.

A fama custa muito caro.

A única coisa de que me lembro

foi ele dizer: "Em Hong Kong,
não sei quem são meus amigos."

Eu disse: "Como assim?"

Ele disse: "Você não sabe
se querem um papel no filme,

e por isso estão sendo
amigáveis com você."

Acho que ele se sentiu muito solitário.

Eu não gostaria de ter a vida dele.

Não tem tempo para si,
não tem tempo para ser você mesmo.

Como sua vida mudou?

Você mudou desde que começou
a fazer sucesso?

Sei que é popular em Hong Kong
e é muito famoso lá.

Mudou no sentido de que é
como se eu estivesse na cadeia.

Sério? Como?

Sou como um macaco no zoológico, sabe?

As pessoas me cutucam e coisas assim.

Seu pai avisou sobre as coisas
ruins do mundo artístico.

Você enfrentou isso? Além da ilusão.

É claro.

Você parece ter se saído muito bem.

Deixe-me dizer,

para ser honesto e tudo isso,

não sou tão ruim quanto alguns deles.

Mas não estou dizendo que eu sou um santo.

Em maio de 1973, ele teve um colapso.

Foi uma época muito assustadora.

Ele veio fazer um exame
com Linda e Raymond Chow.

Um médico disse que ele tinha
o corpo de um jovem de 18 anos.

Fizemos alguns exercícios na academia.

Ele disse: "Estou em ótima forma."

Foi a última vez que o vi.

20 DE JULHO DE 1973

Lembro muito bem.

Fomos de manhã aos estúdios

para uma reunião com George Lazenby,

comigo e Raymond Chow.

Ele estava reclamando de dor de cabeça,

uma dor de cabeça forte.

Então George chegou
e conversamos por um tempo.

Ele estava de muito bom humor.

Estávamos ansiosos

para o lançamento de Operação Dragão.

E Bruce ia para Los Angeles

para participar do The Tonight Show.

Bruce, Linda e as crianças
estariam lá para a estreia.

Ele estava cheio de energia,
cheio de ideias, rindo,

mas tinha uma enxaqueca.

Betty Ting-Pei.

Estávamos conversando com Betty

sobre ela ter um papel
no filme Jogo da Morte.

Ele veio almoçar.

Ela deu Equagesic para ele.
Ele decidiu se deitar,

tirar um cochilo,
para ver se a dor passava.

Ela o deixou dormir.

Quando ela tentou acordá-lo,
não conseguiu.

Eu recebi uma ligação de Raymond Chow,
me dizendo para ir ao hospital.

Eu disse: "Por quê? O que aconteceu?"

Ele disse:
"Algo como o que aconteceu antes."

Então eu fui para o hospital.

Eles o trouxeram.

Na verdade, naquela hora,
ele já tinha morrido.

Foi inacreditável.

Claro que fiquei arrasada.

Mas eu estava lá. Eu o vi.

O telefone tocou.

Notei que minha mãe começou
a chorar. Disse: "O que houve?"

Uma amiga dela ligou,

dizendo que Bruce havia falecido
em Hong Kong.

Eu disse: "Não, qual é?
Isso é piada, certo?"

A amiga pediu para ela ligar
a TV no noticiário das 16h.

O povo de Hong Kong está abalado

com a morte do astro
de cinema de ação, Bruce Lee.

MORRE O ASTRO BRUCE LEE

MORRE ESTRELA INTERNACIONAL

DAS ARTES MARCIAIS

ELE DESMAIOU DEPOIS DE TOMAR

ANALGÉSICO PARA ENXAQUECA

A patologia forense chegou à conclusão

de que foi o Equagesic
que causou o edema cerebral,

do qual ele nunca acordou.

As pessoas se perguntaram
tanto sobre a morte dele

porque não acreditavam
que este homem de 32 anos,

muito forte, muito viril,
havia acabado de morrer.

Então, sim, continuaram questionando,
criando teorias e tudo mais.

Mas isso não importava, ele havia partido.

Lembro de certas coisas.

O funeral foi uma situação
tão louca, com tanta gente.

Foi um caos.

Se você visse do lado de fora
do funeral, em Hong Kong,

veria quanto as pessoas
de Hong Kong o amavam.

Eu fui levada através da multidão.

Era quase como estar anestesiada.

Linda estava dois passos à minha frente,

e Shannon estava no meu colo.

Brandon estava ao meu lado.

Havia mais duas pessoas
da Golden Harvest do outro lado.

Estávamos tentando entrar no funeral.

Meu mestre, uma pessoa
tão forte, um deus para mim.

Como pôde morrer tão jovem?

Foi um pesadelo.

Meus dois filhos estavam ao meu lado.

Aquilo foi estressante.

Senti que não tive a oportunidade

de dizer nada para ele.

Literalmente, dez dias depois, nos EUA,

Operação Dragão estreou.

A Warner Brothers
fez um grande lançamento.

Estreamos no Teatro Chinês.

Fecharam a Hollywood Boulevard
para um desfile de dragões.

Acabei olhando
para o lado de fora do cinema,

totalmente decorado
com pôsteres do Operação Dragão,

com uma fila que dava
a volta no quarteirão.

Jesus, este é Bruce Lee

e ele não viveu o bastante
para ver o resultado.

"Mesmo que eu, Bruce Lee,
possa morrer, algum dia,

sem realizar todas as minhas ambições,

não sinto tristeza.

Fiz o que queria.

O que eu fiz, fiz com sinceridade

e da melhor forma que pude.

Você não pode esperar muito mais da vida."

De pé no fundo do cinema,

assistindo ao seu filme na tela,

e sentindo que você tem
um público que está adorando.

Todos queríamos que ele tivesse visto

o que havia se tornado.

OPERAÇÃO DRAGÃO ARRECADOU

US$ 91 MILHÕES EM TODO O MUNDO.

O EQUIVALENTE A US$ 521 MILHÕES HOJE.

EM 2004 FOI SELECIONADO
PARA SER PRESERVADO

PELA BIBLIOTECA DO CONGRESSO

DOS EUA POR SER "CULTURALMENTE,

HISTORICAMENTE

OU ESTETICAMENTE SIGNIFICATIVO".

O fato de ele não ter vivido
o suficiente para ver o impacto

que ele e aqueles quatro filmes teriam

é sua tragédia pessoal.

Se ele não tivesse morrido tão jovem,

seu mito não seria tão interessante,

tão profundo e tão tocante.

Bruce teria tido um impacto
maior se tivesse vivido mais.

Mas isso não diminui de forma alguma

o que ele foi capaz de alcançar.

Ele forneceu um ambiente seguro para mim,

crescendo como uma criança mestiça,

e me fez ver o potencial do meu futuro,

do que o mundo poderia ser.

Ele era uma mistura de Oriente e Ocidente.

Mas ele entendeu como fazer a ponte.

Ele era um indivíduo único.

Ele é aquele homem que era quando morreu.

Ele sempre será lembrado assim.

Ele superou suas próprias expectativas,

e ele é uma luz que guia
pessoas em todo o mundo.

Não houve um dia na minha vida
em que não tenha pensado nele.

O que posso dizer? Eu o amava.

Decidi enterrá-lo em Seattle

porque ele amou a época em que morou lá.

Pelo menos, pude me aproximar
dele e me despedir.

Foi mais fácil.

Eu sabia o que ele queria.

Ele queria que eu cuidasse
dos filhos dele,

criasse os filhos dele.
Então seguimos em frente.

Não foi fácil.

Como artista marcial,

um dos conceitos mais importantes

é a noção de fazer a ponte,

fazer a ponte entre mim e meu oponente,

fazer a ponte entre mim e meus sonhos.

Vejo meu pai

como uma pessoa interessada
em criar essas pontes

e mantê-las abertas
para as pessoas cruzarem.

Vinte anos depois,
quando meu irmão faleceu,

os escritos do meu pai ficaram
comigo e comecei a lê-los.

Eu me lembro de me sentir libertada.

O remédio para meu sofrimento
estava em mim desde o início,

mas eu não tomei.

A doença vinha de dentro de mim,

mas não havia observado até este momento.

De repente, colocou
meu destino em minhas mãos.

Se estiver disposto a assumir
a responsabilidade de se curar,

sendo seu próprio combustível,
sendo sua própria luz,

então você pode mudar sua perspectiva

e pode fazer seu próprio caminho.

A filosofia dele era de autorrealização.

Não aceite que você
é essa imagem estereotipada

lançada sobre você pelos outros.

Encontre o que vale a pena
em si mesmo e expresse isso.

Eu disse: "Esvazie sua mente.

Seja sem forma, disforme, como a água.

Se colocar a água em um copo,
ela se torna o copo.

Se colocar água em uma garrafa,
ela se torna a garrafa.

Se colocar em um bule,
ela se torna o bule.

Agora, a água pode fluir ou pode quebrar.

Seja água, meu amigo."

Com muito orgulho, recebemos
na Calçada da Fama de Hollywood,

Bruce Lee.

Um, dois, três.

MOSTAR, BÓSNIA E HERZEGOVINA

Bruce Lee é um símbolo de luta
pelo povo simples e justiça.

Meu pai deixou um legado maravilhoso.

Conheço pessoas por todo o mundo
que o admiram muito,

admiram seu trabalho

e que foram influenciadas
de forma positiva por ele.

Como muitos de sua geração,

o colecionador Jeff Chin
enfrentou discriminação.

Aquele período em 1973 foi mágico.

Da noite para o dia, homens chineses

foram vistos como os maiorais do campus.

Mais de 700 pessoas apareceram
no estúdio da Warner Brothers

querendo ser sucessores
do falecido Bruce Lee.

Você viu alguém nos testes
que a lembrou de seu marido?

Ninguém tem a personalidade de Bruce.

SEJA ÁGUA

A mãe e o irmão dele estão conosco hoje

para falar mais sobre o homem
que peritos em caratê chamam

de Galileu das artes marciais.

Por que ele assumiu
uma proporção tão mítica

em vida e ainda mais após sua morte.

Ele tem uma personalidade dinâmica

e consegue projetar
essa personalidade nas câmeras

e na frente das pessoas.

Às vezes, quando você fala
de Bruce, você usa o verbo no presente.

Ainda faço isso e sempre farei.

Revisão e Sincronização de legendas por Sala Prestes