All language subtitles for El abuelo 1998

O Av�

- Boa noite.
- Boa noite.

- Senhor...
- Boa noite.

- Boa noite, senhora.
- Ol�, Sen�n.

- Ministro...
- Boa noite.

- Gostou da pe�a?
- Tanto quanto uma dor de dente.

Mais ou menos. Esses autores modernos s�
s� felizes com dramas rurais

e camponeses cheirando vinho
e ovelha.

Sim, aqueles que conhecem dizem
que o teatro est� em crise.

- O que n�o est� em crise, hoje em dia?
- � uma grande verdade, senhor.

Eu ainda prefiro Echegary

embora seja muito criticado agora

pelos conspiradores do caf�,
que aplaudem Dicenta ou Guimer�.

Senhor, tomei a liberdade

de preparar-lhe um pouco de refresco,
como sempre.

- Bem, se n�o precisam de mim.
- Obrigada, Sen�n.

Obrigada, senhora.
Boa noite.

- Senhor...
- Boa noite.

N�o.

N�o traga a luz.

Gosto de v�-la desse jeito...

brilhando no escuro.

Como labaredas.

E o que � mais

esta noite voc� est�

particularmente atraente.

N�o posso ficar muito tempo.

Azc�rraga convocou uma reuni�o urgente
para as 8h da manh�.

Preciso passar a noite
verificando alguns papeis.

As coisas n�o v�o muito bem.

De fato, est�o indo de mal a pior.

H� rumores de v�rias demiss�es.

Como seria f�cil se tom�ssemos
a Inglaterra como exemplo!

Ela � o modelo pol�tico
para o mundo...

o padr�o que nossa sociedade deveria
seguir.

Mas...

A voc�.

Ao amor eterno.

Ao curto tempo que dura.

N�o seja c�ustica, Lucr�cia.

Voc� sabe que � a mulher
de minha vida

- mas em minha carreira...
- Pelo amor de Deus, Jaime.

Sem banalidades.

N�o tente se justificar com isso.

Eu sei que para sua carreira pol�tica

voc� n�o deve aborrecer o grande
banqueiro

cuja gorda e glutona filha �nica

voc� se casou por piedade.

Est� vendo?

Sou muito banal e caio na armadilha
rid�cula das reprova��es.

Aqui, queime-os voc� mesmo.

Voc� n�o ousa?

No cora��o de uma mulher, o amor pode
tornar-se �dio num �timo.

E quero estar livre da tenta��o.

Seria muito pedir-lhe que me visse
como um amigo?

Um bom amigo.

Claro que sim.

Embora uma amizade entre um homem
e uma mulher sempre parece

decente demais.

Esse foi um ato de um bom amigo?

Gostaria de saber o que h�
por detr�s dessa express�o,

bem ali, onde amor ou desejo

ou a carne

cconvergem em ambi��o.

Todos.

Todos os dias que passei
ao seu lado

foram os mais felizes de minha vida.

O m�s que vivemos juntos em Paris,
naquele pequeno hotel.

Qual era o nome dele?

Era na Boulevard...

Perto do La Concorde.

E a viagem a Genebra.

E tantas noites neste sal�o.

Mas eu sou um covarde.

� o que existe em minha express�o.

Paix�o e medo.

Hotel Rivoli.

Boulevard de la Madeleine.

Quarto 105.

Muito obrigada.

Dolly...

por que mam�e n�o quer que
moremos com ela?

Tenho certeza que aprender�amos
muito mais em Madri do que aqui.

Sabe o que mam�e diz.
Em Madri, as meninas crescem raqu�ticas.

Ela quer que engordemos
no campo.

Mas ela gosta de ser magra.

Acho que a moda agora � ser magra
para dar prazer aos homens.

- Repare, Dolly.
- O qu�?

- Voc� alguma vez j� pensou em...
- Em o qu�?

- Em ser uma freira?
- Idiota!

Eu sempre penso, quando vamos � missa
com as domnicanas.

Dominicanas.

Qual a diferen�a?

Elas t�m uma igreja t�o ador�vel.

Voc� se tornaria uma freira s� por
gostar da igreja delas?

Bem, por isso

mas tamb�m porque penso ser agrad�vel
do outro lado daquela clausura.

Mas elas n�o t�m nada.
N�o t�m mar, nem c�u, nem ningu�m.

Nada!

Eu sei disso

mas o que importa se voc� n�o v�
nada disso?

Voc� pode ver Deus,
que � muito melhor.

Mas Deus est� em toda parte, Nelly.
A catecismo diz isso.

Acha que Ele n�o est� aqui agora,
vendo-nos

e ouvindo tudo o que falamos?

Sim, mas n�o podemos v�-Lo
nem ouvi-Lo.

Vamos provar isso.
Voc� olha bem e eu escuto.

Est� bem.

- Est� ouvindo?
- Sim,

mas se n�o ficar quieta,
n�o ouvirei nada.

Est� bem, ficarei quieta!

Ouviu alguma coisa?

Sim.

O qu�?

Ouvi um tipo de respira��o profunda.

O que voc� v�?

Eu vejo...

Eu vejo...

Posso v�-lo, Dolly!
Posso v�-lo!

Ver quem? Deus?

E Ele est� nos olhando.
De l�.

Ele est� ali, Dolly!

Leonor, Doretea!

Voc� me conhece?

Sou seu av�.

Av�!

Av�!

Olhe.

Isto s�o tomates.

Colhi-os para mostrar �quele
cura falastr�o

se ele tentar contar vantagens sobre
os deles, como sempre faz.

Sim, � uma colheita ador�vel.

- Mas olhe para estes feij�es.
- O que h� com eles?

Eles n�o amadureceram bem.

O que voc� esperava com aquela
chuva de granizo que tivemos?

Ou�a.

Falando de tempestades,
o rumor � verdadeiro?

Vamos l�, diga-me.
A luta de foice est� se aproximando?

- Prossiga.
- Alguma vez m� not�cia esteve errada?

Parece que a condessa vr�

e ela ficar� na casa do prefeito.

Aposto que a sra. Lucr�cia
vem para pegar as meninas.

Voc� pode estar certa.

Elas est�o crescida.
S�o quase adolescentes.

Bem, � uma bobagem.

Claro, � poss�vel

apenas para v�-las, como antes,
e nos pagar

o devido por termos cuidado delas.

Se Deus quiser, Ven�ncio.

Quando ir�amos ter outro golpe de
sorte como esse?

Uma renda regular e s�lida.

E outra coisa.

O que acontecer� quando
o sr. Rodrigo aparecer?

N�o acredito que o le�o e
a pantera

estar�o ambos aqui por acaso.

Eu acho que eles est�o se encontrando

para que possam chegar a um acordo.

Isso � coisa deles, Greg�ria.
N�o temos nada com isso

se ele se arranharem e se morderem
pela honra?

N�s nos importamos
com o nosso pr�prio neg�cio.

Sim.

Quem imaginaria, Ven�ncio?

N�s, cuidando para que o Conde de Albrit
n�o passasse fome

quando h� menos de 20 anos

ele era o senhor e dono de Pol�n,
Jerusa e tudo mais.

E as pessoas dizem que nada
nunca muda.

Na noite passada,
o trem me deixou em La'in

e dei instru��es l�

para que enviassem minha meu ba�
para La Pardina.

Ent�o, fui visitar um pastor
dos velhos dias.

Mart�n Paz.

Imaginem como o homem deve
ser velho

pois quando eu era at� mais jovem
que voc�s duas

ele j� era adulto,
t�o grande quanto uma casa,

que me levou ca�ar nas montanhas.

Onde dormiu?

Com ele, em sua cabana,
em Pol�n.

Antes disso, ele me deu
um bom guisado para o jantar.

E essa manh�, bem cedinho,

fui visitar o t�mulo de sua
av� Adelaida.

Vov�, quanto tempo ficou na Am�rica?

Perdi a conta do tempo.

Seis anos, oito anos...
N�o posso mais me lembrar.

O tempo � uma coisa muito estranha.

- � mesmo?
- � mesmo?

Vou lhes...

Vou lhes contar um segredo.

Somos prisioneiros do tempo.

Ou�am. Ou�am atentamente.

Quando eu era uma crian�a,
vinha brincar nesses bosques

e subia nas �rvores para
ver os ninhos.

E querem saber o qu�?

Parece-me que isso foi ontem,
ontem pela manh�.

Ou�am, escutaram aquele p�ssaro?

Sim.

� um pintassilgo.

Como pode ser?

Aquela ave

� a mesma que cantou aqui

quando eu era um menininho.

Lembro-me muito bem.
Tenho certeza disso.

Est�o vendo?

Ele tamb�m � um prisioneiro
do tempo.

Ele � feito de tempo, tamb�m,
assim como n�s.

- Apoie-se em meu bra�o, vov�.
- E no meu tamb�m.

Ele n�o se parece em nada
com seu retrato.

Claro que n�o.

Aquilo foi pintado anos antes
de que partisse para a Am�rica.

�ramos muito mais bonitos
naquela �poca.

Voc� deveria ter me visto
quando eu tinha dezoito anos!

Todos os garotos ao meu redor
eram loucos por mim.

Que olhos eu tinha ent�o,
cheios de luz e de vida.

E que... tudo!

Voc� � t�o chorona!

E seu av�...

teve que conviver com muitos problemas
e tempo duro no Peru.

E o sofrimento

� o que envelhece mais a gente.

Procurando por sua mina de ouro.

Procurando por sua ru�na.

E, para culminar, a morte de seu pai,
Don Rafael.

Mas n�o vamos falar de coisas
tristes do passado.

Este � um dia feliz,
pois ir�o se encontrar com sua m�e.

Imagine, sua senhoria.

Eu servi ao Don Rafael

desde que ele se tornou um oficial na
cavalaria at� que se casou.

E durante mais alguns anos ap�s,
tamb�m.

E diga-me uma coisa, S�neca,

Zenon ou qualquer que seja seu nome.

Qual seu neg�cio agora?
Carpinteiro,

sapateiro, mercadinho?

Eu sou um funcion�rio p�blico
do Tesouro,

na capital, claro.

Sua senhoria arrumou-me o emprego

e eu tamb�m trabalho para ela,
como secret�rio.

Sim, sim. Ent�o, voc� abandonou
a servitude

de todos aqueles anos com meu filho

para ir com minha nora

porque, afinal das contas, o que
voc� quer � ganhar dinheiro.

Deixe-me explicar.

Sua senhoria, acredito que
� dever de cada homem

progredir na vida, ou, ao menos,
tentar

quer ele seja jovem,
ou esteja ficando um pouco...

como � meu caso!

N�o sei o que dizer, pois estamos
vivendo tempos estranhos

quando os senhores est�o arruinados
e os empregados, ficando ricos.

Voc� tem o exemplo

de Greg�ria e Ven�ncio,
para provar isso.

Vou lhe dar um conselho,
j� que � t�o aficcionado ao dinheiro.

Sou todo ouvidos, senhor.

Dinheiro � feito, Zenon...

Sen�n, senhor,
meu nome � Sen�n.

N�o me interrompa, homem!

Dinheiro � feito

por aqueles que, com paci�ncia e
observa��o

sempre seguem atr�s daqueles
que o perdem.

Se guardar isso,

voc� ser� bem sucedido, Sen�n.

Estamos indo agora, vov�.
Voc� vem ver mam�e?

N�o, n�o. Eu ainda estou um pouco
cansado, depois daquela longa caminhada.

Devemos lhe dar alguma mensagem
de sua parte?

N�o, nada.
Voc�s duas parecem ador�veis!

N�o � maravilhoso v�-las t�o lindas
e saud�veis, senhor?

Bem, se nos der licen�a, senhor,

iremos � casa do prefeito.

E quando eu digo casa,
quero dizer mans�o

pois foi isso que Monedero construiu.

Bem na entrada de Jerusa.

Ou bem na sa�da,

pois isso realmente depende
de onde voc� vem.

E ent�o eles dizem que gerenciar
uma f�brica de macarr�o

n�o � um neg�cio rent�vel!

N�o queria ser rude,

mas estou encantado
que voc� esteja de sa�da.

- � mesmo?
- Devo dizer por qu�?

Nada que me disser,
poder� me ofender, senhor conde.

� por voc� estar usando um perfume
que fede.

Desculpe-me por lhe dizer adeus
de maneira t�o impertinente, Zenon.

Bem, s�o apenas algumas gotinhas
de heliotrope.

Sen�n, senhor conde.

- � Sen�n.
- Muito bem.

Venham, garotas.
Vamos.

Adeus, vov�.

Adeus.

- Seu chap�u.
- Obrigado.

E sua bengala.

Esperem at� receberem os presentes
que sua m�e lhes trouxe.

- � mesmo?
- Ir�o v�-los logo.

Senhor conde...

- Sente-se, sente-se e continue comendo.
- Obrigado, senhor.

Ent�o voc� � o educador de minhas
netas, certo?

Sim, senhor conde,
a seu servi�o.

Sente-se, sente-se.

Obrigado.

Ouvi muito a seu respeito

e estava ansioso para conhec�-lo.

Todos falam que � um pouco simples

um miser�vel.

Mas n�o, eu n�o creio em nada
disso.

Embora seja verdade que basta
olhar sua face

para saer que voc� � um
cordeiro ilustre.

Ent�o, Deus o fez santo

e sua fam�lia, um m�rtir?

Menos do primeiro do que
do segundo, senhor conde.

Por que acha que eles escolheram

e por "eles" eu suponho a condessa,
o padre,

o prefeito, e outros ilustres de Jerusa

um professor aposentado para ser
o tutor das meninas?

Est� muito claro, conde.
Porque n�o havia mais ningu�m.

Eu nunca...

Eu nunca fui um professor

que gostasse de varetas
e tor��es de orelhas.

Nunca acreditei que se educa batendo.

Talvez seja por isso

que alguns alunos riram-se
de mim

e penduraram bonecas de papel em
minhas costas.

Mas

em outros tempos

eu fui um homem de estudos

e acumulei conhecimento.

Mas

infort�nios instabilizaram minha mente

e agora...

Agora sou um desastre, senhor.

Voc� tem todo o meu respeito.

O homem que n�o se engana
quando falando de si mesmo

� um s�bio,
e como s�bio

� tamb�m humilde.

O senhor conde me honra demais.

Reconhe�o, Don Rodrigo

que a honra que t�-lo em Jerusa

� devido ao fato de querer estar
com suas netas.

E n�o estou surpreso.

Essas duas garotinhas

podem alcan�ar seu cora��o.

Sim, elas s�o realmente duas
encantadoras crian�as.

Elas t�m o corpo sadio

e, sup�em-se,
o esp�rito tamb�m

E elas s�o t�o parecidas,
t�o similar

e n�o quero dizer em altura!

Similar, parecidas, voc� diz?

Talvez seja porque eu n�o
enxergue bem

mas acho que els s�o
muito parecidas

e o tom da voz delas � tamb�m
id�ntico.

E eu diria mesmo

que seus car�cteres

s�o tamb�m parecidos.

Absolutamente n�o, conde.

Nem suas caracter�sticas,
nem suas vozes s�o similares

e muito menos seus car�cteres.

Diga-me uma coisa.
Voc� est� com elas todos os dias.

Qual das duas � mais engenhosa,
mais alerta?

Ou qual das duas

tem o cora��o mais nobre,
mais generoso?

Responder isso

� muito dif�cil, senhor conde,

pois ambas

s�o inteligentes e brilhantes
como bot�es.

T�m o cora��o gentil
e s�o muito boas.

E um pouco maliciosas tamb�m,
tenho que dizer.

Mas ambas observam
a lei da mod�stia

e as duas s�o muito firmes em seus

princ�pios morais e temor a Deus,

mas n�o s�o santas.

Mas tudo isso � o que
elas t�m em comum.

O que eu quero que me diga

� o que as fazem diferentes,
Coronado.

Esse � seu nome, n�o �?

Sim, P�o Conorado,
a seu servi�o, senhor conde.

Deixe-me ver se consigo esclarecer
para voc�, pois n�o � f�cil.

Dolly � mais propensa
a ser obediente

e Nelly parece mais inclinada a estudar.

Mas n�o, n�o quero ser injusto,

elogiando mais uma o que a outra.
Voc� � o av� delas.

Quando estiver perto delas
por poucos dias

ir� conhec�-las melhor do que ningu�m.

Foi por isso que vim, Coronado.
Para conhec�-las melhor.

Que aneis bonitos.

E qu�o original us�-los em seus
pequenos dedos.

S�o seus, Sra. Consuelito.

Bem, bem. Voc� diz isso

porque sabe que a sra. Consuelito
n�o pode aceitar.

E por que n�o?

Ela � uma senhora solteira
e n�o est� comprometida,

pelo que sei.

Foi aterrador na esta��o
ontem � noite

e depois vir pelas ruas.

S� vim para ver minhas filhas e

O povo de Jerusa ama voc�,
condessa.

O que estou dizendo?
Eles a adoram!

E Jerusa n�o pode parecer
ser ingrato

Nem esquecer os benef�cios
que voc� prodigalizou.

Eles pondem mandar-me um
bonito ramalhete,

n�o um jardim de rosas inteiro.

Sra. Lucr�cia, sua beleza s� �
compar�vel � sua mod�stia.

Desculpe-me minha aud�cia,
mas quem entre n�s pode se esquecer

que voc� trouxe para Jesura

a estrada Forbes e a esta��o telegr�fica.

E o col�gio secund�rio

que os de Durante disputavam
para l�.

E se voc� conseguir que nos concedam
a Escola de Com�rcio

que os de Durante tamb�m querem

a apoteose que lhe daremos
ser� ouvida na China!

Bom Deus, Monedero,
chega de patacoadas.

Para al�m do mais, tudo se deve
� minha amizade com o ministro.

Voc�s sabem disso.

Quantas namoradas voc� tem,
Sen�n?

- Seja honesto.
- Ou�am isso!

- Pelo que eu sei, duas.
- S�rio?

Mas o que est� dizendo, Sra. Consuelito,
o que est� dizendo?

Se ao menos fosse verdade!

Embora na verdade,
eu teria me conformado com uma.

desde que essa uma

fosse igual a voc�.

Mas eu seu que voc� se corresponde
com a sra. Am�lia Ru�z.

E voc� foi visto no teatro

com a filha do tabeli�o.

Isso � fofoca, pelo amor de Deus.
Trata-se de uma simples amizade

como a nosso poderia ser,
se voc� assim o escolhesse

sra. Consuelito. Permitiria que
eu a chamasse

de Consuelito,
sra. Consuelito?

E quais as novidades sobre
o sr. Rodrigo?

Ele est� em La Pardina

e eu ordenei a Ven�ncio

que enquanto meu sogro estiver l�

eles cuidem com a maior delicadeza.

Quem, na sua idade, pensaria
em ir para a Am�rica

por mais que o p� amarelo
possa brilhar!

Ele disse que foi por causa
da quimera da fortuna

que seu av� deixou l�.

Sim, ele disse isso

h� 10 anos.

O pior � que

pelo que dizem, ele parece
um pouco desequilibrado.

N�o estou total mente surpreso.
Perd�o, sra. condessa,

a aventura no Eldorado

n�o consumiu o resto de sua fortuna?

Rafael, meu falecido marido,

Deus lhe d� paz.

Obrigada.

avisou-o que era insensato,
mas voc�s sabem como ele �.

E se h� algu�m que pudesse
convenc�-lo de alguma coisa,

essa pessoa era seu filho.

E agora suas netas, espero.

Queridos amigos,

gostaria de propor um brinde
� sra. Lucr�cia.

As raz�es s�o tantas que
nunca terminar�amos

este jantar em sua homenagem

mas gostaria de resumi-las assim.

Porque a amamos,
e Jerusa sabe como amar.

Porque a respeitamos

e Jerusa sabe como respeitar.

E porque nunca, jamais

poder�amos ser suficientemente
gratos a ela.

E agora algumas novidades

at� para os ouvidos de minha esposa.

N�o �, querida?

Essa manh�,

numa sess�o extraordin�ria na
C�mara dos Vereadores

foi decidido mudar o nome do que
era Rua Real

para Avenida Lucr�cia Richmond!

Muito obrigada.

� sra. Lucr�cia!

� sra. Lucr�cia!

E..

Voil�!

� extraordin�rio.

- Fant�stico!
- Que lindo!

Um toque excelente, Monedoro!

Lucr�cia Richmond � recebida em Jerusa

com mais pompas do que Cle�patra,
em Roma.

� dif�cil saber quem � pior, Adelaida.

Ela

ou aquele povo servil que
a aplaude e a bajula.

Senhora...

Agrade�o-lhe

por ter sido t�o gentil

e me concedido essa entrevista

neste lugar isolado e sagrado

onde n�o seremos perturbados
por testemunhas de esp�cie alguma.

Estou apenas fazendo minha obriga��o
em concordar com seu pedido.

Digo obriga��o, pois houve um tempo
em que me chamava de filha.

� verdade.

Voc� era o que podemos chamar

uma filha tempor�ria, transit�ria.

Penso que poderia cham�-la
de falecida filha.

- Voc� nunca acreditou em mim.
- Nunca.

Pode ver que sou sincero.

Estrangeira por nacionalidade

e mais ainda por sentimentos

embora n�o pelo seu sotaque

voc� nunca se identificou
com minha fam�lia

ou com a natureza espanhola.

Contra minha vontade, meu filho Rafael
tomou-a por esposa

e eu digo contra minha vontade

pois eu sabia desde o come�o

que voc� era uma mulher
caprichosa, fr�vola, inconstante

e gostava de flertes.

Se minhas previs�es estiveram
erradas em alguma coisa

foi porque voc� se revelou
pior do que eu temia.

Vejo que a fal�ncia na Am�rica
n�o domou o le�o de Albrit.

Pelo contr�rio, ele retornou
ainda mais feroz.

Deus me fez feroz e feroz
hei de morrer.

� da natureza espanhola encontrar-se
com algu�m apenas para ser insultada?

N�o.

A raz�o desta reuni�o

� dizer-lhe que voc� matou meu filho.

O que quer dizer?

Meu filho morreu de tristeza,

de pesar,

se solid�o

e de vergonha

por sua conduta.

No Peru, eu soube da
separa��o definitiva

de voc�s dois.

Sei que o amor � uma cat�strofe

uma loucura incontrol�vel,
um vendaval,

que pode atingir as pessoas e ent�o,
t�o facilmente, desaparecer.

Ent�o, n�o a culpo

se seus sentimentos por meu filho
desapareceram.

Fui informado que

ap�s a separa��o definitiva

meu filho foi viver numa
humilde pens�o

onde ficou doente

e n�o tinha desejo de se curar.

Morreu vestido, em sua cama,

mal assistido

por pessoas mercen�rias

sem afei��o alguma
para confort�-lo

porque eu estava ausente e voc�

que n�o o amava

apenas procurava por desculpas

para ficar afastada dele.

Sr. Rodrigo

a vida � cheia de complica��es
que n�o s�o t�o facilmente explicadas.

E menor ainda em poucas
palavras apressadas.

As afei��es,

as emo��es entre um homem
e uma mulher

s�o tudo, menos simples.

Nossas discrep�ncias come�aram
nos primeiros meses ap�s nosso casamento.

Rafael

que sempre fora muito am�vel
e amoroso comigo

era um homem sem curiosidade
ou alegria na vida.

Ele n�o gostava de viajar
ou de sair

ou se socializar com outras pessoas.

Eu estava sufocando ao seu lado.

Eu queria mud�-lo.

Mas foi um erro porque...

Por que sempre tentamos mudar
as pessoas a quem amamos?

Asseguro-lhe, tentei ajud�-lo do momento
em que adoeceu,

mas Rafael sempre rejeitou meu apoio
e afei��o.

Posso n�o t�-lo amado ent�o,

mas nem por um momento deixei
de me preocupar com ele.

Como seria bom

se pud�ssemos chorar agora

por aquele a quem amamos.

Mas, horr�vel como possa ser,

n�o posso me esquecer de que
o que realmente conta

� outro assunto.

Outro assunto?

N�o entendo. N�o sei o que quer dizer.

Sim.

Voc� sabe.

De fato, voc� � a �nica pessoa
no mundo que sabe.

H� uma carta.

De Rafael?

Para mim?

Ele a escreveu

na noite em que morreu.

Ele a deixou incompleta

na mesa de sua infeliz estalagem.

Ele n�o teve tempo de acab�-la.

Mandaram-na para mim,
junto com suas roupas

e seus outros pertences.

"Advirto-a que se n�o me mandar
minha filha logo para mim

deverei reivindic�-la.

A outra, aquela que voc� teve com
o pintor Carlos Era�l

deixo com voc�. N�o quero mais
saber de nada sobre ela.

Voc� tem que fazer.

Sabe que eu tenho provas

e que..."

Ele n�o pode escrever mais.

Apenas uma palavra ser�
o suficiente para mim.

O nome de minha verdadeira neta.

� tudo que lhe pe�o.

N�o posso impedir a lei

de passar meu nome

para minhas duas herdeiras

essas crian�as inocentes

mas por todos os santos

n�o me impe�a

de fazer uma transfer�ncia
moral exclusiva

em favor da verdadeira herdeira

daquela que tem meu sangue.

Ela dever� ser minha sucessora.

Ela dever� ser minha honra
para a posteridade.

A �nica descendente

do nome dos Albrits

dos reis e das princesas

guerreiros e mulheres
sem defeitos

que mantiveram inalteradas

A ascend�ncia e o esplendor
de nossa linhagem.

A honra,

a ascend�ncia

a posteridade, o esplendor
dos Albrits?

Uma tribo de lun�ticos

cavalheiros burlescos,
uma linhagem de fanfarr�es!

Ou�a atentamente,
Rodrigo de Arista-Podestad,

Conde de Albrit,

senhor de Jerusa e Pol�n.

Antes de prejudicar minhas filhas

juro que me mataria.

Voc� n�o � o �nico orgulhoso
que deve ser respeitado.

Est� entendido?

Acabamos.

Lucr�cia Richmond!

Talvez Deus possa perdo�-la

eu tamb�m o faria, se o perd�o
pudesse ir lado a lado

com o dresprezo.

Agora, Dolly, os principais eventos
na vida de Tem�stocles.

Tem�stocles?

Sim, Tem�stocles. Um dos maiores
homens da Gr�cia.

N�o espionamos a vida
de outras pessoas.

Vamos, agora. Tem�stocles,
nascido em Tebas

derrotou os Lacedemonianos.

N�o, meus �culos n�o!
Ir� quebr�-los!

Voc�s duas me deixam louco,
com o mal comportamento.

Ela n�o sabe.

Terei que falar com sua m�e,
com a condessa.

Minha consci�ncia n�o me deixar�
desapont�-la.

� terr�vel se ela pensar que estou
lhes ensinando alguma coisa

que voc�s realmente n�o querem
aprender.

Tudo que mam�e quer

� que estejamos sempre
fora de casa

e sejamos t�o resistentes
quanto as camponesas.

E seu av� quer que voc�s sejam
burras tamb�m?

Vov� nos ama,
rude ou polidas.

Dizer que seu av� ama voc�s
faz-lhe pouca justi�a.

Ele as adora.

Queridas Nelly e Dolly,

tenho que lhes pedir um favor.
Enquanto eles estiver aqui,

com voc�s, ter�o que passar muito
tempo com ele,

e conversar com ele,
e mim�-lo

pois ele � uma crian�a tamb�m.

Voc� � t�o bom, P�o.

N�s o amamos muito, tamb�m.

Eu sei.

Dolly,

o partic�pio.

O partic�pio

� uma coisa

que � parte do c�pio.

N�o tem a menor gra�a, senhorita Dolly.

- P�o, vamos l�, n�o fique bravo.
- N�o fique bravo?

N�o gostamos de saber o que h� nos livros.
Gostamos de saber coisas.

Voc�s t�m que saber de tudo,
no caso.

Apenas esperem,
quanto menos esperarem

ser�o aristocratas,
jovenzinhas

e quando sua m�e lev�-las
aos sal�es

voc�s ter�o que se superar.

Imagine se num sarau
forem falar de partic�pio.

Como nenhuma das duas sabe o que �,
as pessoas dir�o

"Mas de que mundo

trouxe a senhora condessa
esse par de burrinhas?"

Rir�o de voc�s e os jovens
n�o se apaixonar�o.

Eles nos amar�o, mesmo que
n�o saibamos o que partic�pio

- conjun��es ou outra coisas.
- � verdade.

E apenas jovens muito chatos
nos levar�o a saraus

para falar sobre partic�pios.

P�o...

quantas filhas t�m?

5 ou 6?

Muitas.

Elas s�o bonitas?

N�o t�o bonitas quanto
voc�s duas.

E...

elas o amam?

Bem,

De que fal�vamos?

� porque...

N�o fique bravo.

� que...

Bem, isso.

Ouvimos dizer que suas filhas
n�o o amam.

E que algumas vezes,
elas batem em voc�

e n�o lhe d�o nem a ceia.

Bem, bem.
Vamos continuar.

Vamos continuar com gram�tica.

Pessoas bem educadas

n�o se ocupam da vida alheia.

Se a vida de Tem�stocles
n�o as interessam

a minha deveria interessar
menos ainda.

Mas � que o amamos, P�o.

Dolly e eu amamos voc� muito.

Brincamos com voc�,

fazemos piadas,
porque � assim que somos

mas n�s o amamos verdadeiramente.

Tanto quanto amamos mam�e
ou vov�.

Sim?

O sr. Sen�n quer v�-la, condessa.

Traga-o aqui.

- Entre, por favor.
- Obrigado.

A condessa deu permiss�o?

- Dei, Sen�n.
- Obrigada, senhora.

Posso dizer � condessa que hoje
ela est� parecendo

realmente linda?

Obrigada.

N�o, n�o chegue mais perto,
Sen�n.

Sabe que eu n�o suporto
seus perfumes terr�veis.

Meu Deus, senhora,
s� estou usando uma gota.

E acabei de colocar estas roupas.

Eu as pendurei do lado de fora pelos
�ltimos dias, para tomar um pouco de ar.

Quer que eu abra a janela

caso minhas emana��es

possam perturb�-la?

N�o � necess�rio
para o momento.

O que foi?

Bem, o que se passa, senhora,

� que este seu humilde protegido

seu pobre...
sim, sim, sim.

Seu pobre Sen�n Corchado

ficaria muito agradecido
se voc� pudesse ajud�-lo

n�o ficar parado na metade do caminho
de sua carreira, porque

a verdade �, senhora, que em sua
pr�pria administra��o

n�o se vai � parte alguma.

Em que est� pensando?

Um arquebispado
ou na cruz de San Ferdinand?

N�o, n�o.

Eu apenas aspiro

uma obscura posi��o com
muito trabalho.

Tal como?

Agente executivo para a cole��o
de Direitos Reais.

� uma coisa simples.

Qu�o simples?

Para ser bem franco, senhora,

embora sua rela��o com o
sr. Jaime

n�o esteja em seu melhor momento
agora,

� bem �bvio a qualquer pessoa
que ele a adora

e eu penso que uma sutil
insinua��o

da condessa ao ministro
do La�n

ser� o mesmo que colocar
o cargo em minha m�o.

Falarei com o sr. Jaime
quando voltar para Madri.

Se pudesse ser por tel�grafo,
seria muito melhor, senhor.

Rumores dizem que ele ser�
removido

de uma hora para outra.

Aconteceu alguma coisa, senhora?

Sente-se, por favor.

Gostaria de lhe pedir uma coisa, Sen�n.

� um pouco delicado.

Sirvo � condessa desinteressadamente

em tudo o que ela quiser
me ordenar

o que quer que seja.

Sabe que n�o me dou muito
bem com o conde de Albrit

mas agora as coisas pioraram a um
grau que considero insustent�vel.

Tudo o que ele quer fazer
� revirar a esc�ria do passado.

Como os trapeiros nos mont�es de lixo.
Sim, senhora.

Algo deve ser feito, Sen�n,

para deter o sr. Rodrigo
de me perseguir.

O que eu quero

� mant�-lo afastado de mim

de minhas filhas

e, se poss�vel,

nunca mais v�-lo.

P�o � um nome que n�o tem
muito car�ter, n�o acha?

P�o, P�o.

Mas combina com voc�.
� um bom nome para voc�.

E depois, � um nome t�o curto
que voc� economiza tempo.

P�o, e pronto.

Que n�o � o caso de Nabucodonossor
por exemplo.

Voc� leu "La Vida Es Sue�o",
Coronado?

Muitas vezes, senhor conde.

E vi a pe�a tamb�m

pois devo lhe dizer que eu era
um grande aficionado ao teatro.

- O que pensa dela?
- Uma grande pe�a, senhor conde.

Calder�n reflete com muita precis�o
o mist�rio da vida.

E em algumas partes eu me vi
muito bem representado.

Por exemplo, em

"Ai, m�sero de mim!
Ai, infeliz.

Saber, � c�us, eu pretendo
j� que me tratais assim."

"Ai, m�sero de mim!"
Realmente, gosto muito.

N�o gosto de jeito algum, P�o.

Acho que � chato.

Para al�m do mais, aquele neg�cio
de "la vida es un sue�o" � bobagem.

A vida � tudo, menos sonho.

O que posso dizer, conde?

Certamente � um pouco aborrecido.

Sim, sim, voc� tem raz�o,
conde.

Calder�n perde a centelha a qual
Lope tem.

Um p� no saco, P�o.
Um p� no saco.

"Hamlet"... Essa � boa

Hamlet!

A d�vida!

Voc� disse bem, P�o.
A d�vida.

Aquele ingl�s sabia um coisa
ou outra.

"To be or not to be,
that is the question."

- Entendeu, P�o?
- Sim, conde.

O conhecimento escasso que tenho

inclu� alguma coisa do
idioma ingl�s.

"To be or not to be,

that is the thing."

Uma tradu��o original, P�o.

Mas sim, esse � o ponto.

William Shakespeare.
Que intelig�ncia.

Macbeth, Romeu e Julieta,
O Mercador de Veneza...

Vov�!

Dolly, � o vov�!

- Ol�, vov�!
- Vov�!

Ol�!

Vov�!

Vov�, est� mais feliz agora?

Eu? Por que me pergunta isso?

Porque essa manh�, quando fomos v�-lo,
voc� disse:

"V�o embora! Quero ficar sozinho!"

Parecia muito bravo.

Bem, eu explicarei.

A verdade � que Greg�ria me serviu
um caf� horroroso.

Pe�o desculpas, minhas queridas.
Estou ficando muito amargo esses dias.

Mas n�o � culpa das duas,
voc�s s�o inocentes disso

e de tudo mais.

Se n�o gosto do caf� de Greg�ria,
podemos faz�-lo para voc�.

- N�o pod�amos, Nelly?
- Sim.

N�o, n�o. N�o � s� o caf�

que � frio e fraco como a �gua,

ou o p�o, que � duro
como a rocha

ou o biscoito embolorado.
Isso n�o ir� me matar.

Mas eles retiraram as bonitas
x�caras de porcelana

e as pratos com meu bras�o

e a jarra de prata.

Aqueles miser�veis usaram as toalhas
de mesa e guardanapos mais sujos

para colocar em minha mesa

sabendo bem como eu gosto de
roupa de mesa limpa.

Mas escutem atentamente.

Sou m�e n�o �, de maneira alguma,
culpada disso

pois mesmo que n�o sejamos

muito apegados

ela n�o desconhece que
minha pessoa exige certa

aten��o e respeito

e ela sempre me deu isso.

Anotem isso, crian�as.

Vilania � perdo�vel.

Ingratid�o, nunca.

Voc�s amavam muito seu pai?

Muit�ssimo.

- Lembram-se muito dele?
- Como n�o lembrar�amos?

- O tempo todo.
- Papai nos adorava.

As duas igualmente

ou uma de voc�s um pouco mais?

N�o, ambas igualmente.

Ele nos escrevia quase todos os dias.

Separadamente?

N�o, para as duas,
numa folha de papel.

A prop�sito

quando vim dos penhascos,
procurando por voc�s

pensei ter visto na areia da praia

um lindo desenho de um le�o.

- Voc�s duas o desenharam?
- Nelly o desenhou, vov�.

Ela pinta como os anjos.

Est� me dizendo que Nelly pinta?

Maravilhosamente.

Voc� manteve isso em segredo, Nelly.

Voc� � uma pintora!

Gosto de fazer esbo�os tolos
de vez em quando, vov�.

N�o a escute. Ele � um artista.

Com suas caixas de pinc�is
e suas tintas

ela pode desenhar o que quer
que veja.

N�o sente essa voca��o, Dolly?

Eu n�o, vov�. Sou muito desajeitada.
N�o faria direito.

E quem lhe deu li��es.

Ningu�m, vov�.
Aprendi sozinha.

Como?

Bem, olhando as coisas.

A nuvem passar� logo, vov�.

N�o, pelo contr�rio.

As nuvens de tempestade
est�o se reunindo sem fim.

Sua Majestada est� muito quieto hoje.

Travado.
Como uma bota barata.

E nem veio jantar.

Ele tem um esquema.
Ele s� veio para agitar as coisas.

Se ao menos tivesse morrido
enquanto na Am�rica.

Mas enfim...

De acordo com Sen�n,
tudo terminar� amanh�.

Sim, sim.

Qu�o ador�vel, Adelaida!

A passagem do homem nunca sujar�
essa pintura magn�fica.

O c�u, o bosque em sil�ncio,

as nuvens, o mar azul.

O mar, Adelaida.

O amigo da nossa inf�ncia
e nosso namoro

� a �nica coisa que posso
ver bem agora.

Minha cegueira apenas me deixa
ver grandes coisas.

Pensar qu�o bem eu podia separar
trapaceiros de gente honesta, antes.

Mas para voltar �s crian�as,
repito que elas s�o anjos.

V�-las, estar com elas e n�o
am�-las � imposs�vel.

Elas trouxeram um grande senso de
j�bilo � minha vida

mas voc� sabe como eu sou.

Transformo alegrie em tristeza
muito rapidamente

perseguido como sou, em todas as horas,
por pensamentos terr�veis.

Ent�o, Adelaida,

aqui estou eu, trope�ando
no meio de s�rias d�vidas.

Oh, Adelaida!

Se ao menos estivesse aqui
para me apaziguar-me.

Sinto tanto sua falta.

e quanto desejo caminhar com voc�
outra vez, ao longo dos penhascos

e olhar o sol afundar se no mar

e as estrelas gradualmente aparecer.

Envelhecer

� completar a realidade tal como �

e minha �nica realidade era voc�.

Bem, agora voc� tem que me desculpar.

Porque tenho um banquete,
convidado por Carmelillo, o cura.

A prop�sito, n�o pode imaginar
como ele est� gordo.

Parece que tem por barriga o
p�lpito da igreja.

Quando tentei abra��-lo

n�o pude rode�-lo com
meus bra�os!

Conhecendo-o, a festa ser� como
o casamento de Camacho

e os festins de Lucullus,
tudo junto.

A verdade � que preciso colocar
algo s�lido dentro de mim

pois aqueles miser�veis est�o
me matando de fome.

E nem se preocupe.

O velho Albrit � mais do que capaz

de descobrir quando uma mentira
� enxertada numa verdade

e vilania em nobreza.

Falaremos mais tarde, Adelaida.

Aben�oada seja a vin�culo
que produziu este vinho.

Deve ser aquele que No� plantou.

Voc� n�o acha isso requintado,
sr. Rodrigo?

� bom que o sr. Rodrigo possa ver
as excel�ncias de Zaratay

do ponto de vista da vida org�nica
e dos confortos,

embora, como bom aristocrata,
suponho, possa imagin�-las.

Por que � uma boa ideia?

Assim pode ver como os monges
vivem aqui.

E eu digo isso com o maior respeito.

Quem n�o gostaria de viver aqui?

Todas as vezes que venho,
tenho vontade de colocar o h�bito e ficar.

Ent�o, por que n�o?

Iria lhe fazer bem familiarizar-se
com a enxada.

Sim, mas n�o sou livro.
Perten�o aos meus paroquianos.

Mas voc�, sr. Rodrigo,
por outro lado, poderia ser

o Carlos V deste monast�rio.

Essa � uma ideia muito sens�vel.

Realmente �.

Se eu fosse voc�, sr. Rodrigo,
n�o hesitaria.

e viria aqui

morar com esses santos homens.

� uma verdade.

Se voc� gostaria de viver conosco

ficar�amos extremamente honrados.

Esta seria a sua casa.

Realmente, este cordeiro est�

assombrosamente assombroso!

Se voc�s me perdoarem
a express�o.

Quer mais vinho?

Como est� protegido
pelas montanhas Verola...

h� uma temperatura sudeste aqui

a qual � excelente para qualquer um
at� mesmo as mais saud�veis pessoas.

Isto nos permite trabalhar
confortavelmente do amanhecer ao anoitecer.

Deus quer que cultivemos n�o s�
o para�so,

mas tamb�m a terra,

pois a terra � o complemento
da F�.

Padre, muito obrigado por sua oferta

em aceitar-me em Zaraty.

- Mas...
- Voc� viveria

na mais confort�vel e aquecida
cela que temos,

voltada para o sul.

"Cela" - voc� mesmo o disse.

A cela � apenas para o descanso.

Voc� poderia caminhar como lhe
desse prazer pelos pomares

e, claro, ser liberado de atender
os servi�os.

Servi�os

ou qualquer outra obriga��o,
excel�ncia.

N�o pense que lhe ser� pedido cultivar

os vegetais ou alimentar as galinhas!

Voc� tamb�m seria liberado
do jejum e da penit�ncia

pois o sr. Rodrigo como �...

Como � natural, ele comeria
o que quisesse.

Se essa n�o for uma vida boa,
excel�ncia

traga-me algu�m que pudesse
encontrar uma melhor.

� a vida de um padre, Zenon!

Sen�n, sr. Rodrigo.

� Sen�n

Aqui voc� encontra

a vida pac�fica que sua idade
requer.

Lembre-se da "Beatus ille".

Eu sei.

Eu sei.

Mas eu ainda tenho uma miss�o
a cumprir no mundo.

Depois disso, talvez,

quando o tempo vier, e eu n�o
estou dizendo sim ou n�o,

pensarei a respeito.

No momento,

n�o posso aceitar a santa caridade
deste monast�rio.

Mas talez outro copo desse
excelente vinho?

- Bem, voc� gostou?
- Sim, � maravilhoso.

Mam�e, eu sei que n�o tem nada
a ver com isso

mas como � Paris?

� muito diferente, mas tamb�m
� muito bonita.

Mais bonita do que Madri?

Mais bonita do que qualquer cidade.

Sr. P�o diz que � cheio de artistas,
pintores, m�sicos

- poetas.
- � verdade.

- Ir� nos levar l�?
- Claro.

Eu lhes mostrarei o Louvre e a �pera

e as lojas cheias de vestidos
e chapeus maravilhosos.

- Navegarenos no Sena.
- � mesmo?

E voc�s podem melhorar seu franc�s.

Sim, mam�e.

Claro, mam�e.

Com o que se parece?

Paris?

Sim, mam�e. Como �?

Rom�ntica.

Bo�mia.

Aberta, alegre.

Cheia de emo��o.

Com a alma exposta.

Pelo menos,
� assim que me lembro dela.

Sbe o qu�, Dolly?

As cidades s�o realmente
como voc� as ente.

A menor,

mais feia cidade

pode ser uma mem�ria indel�vel
em sua vida

se for compartilh�-la
com a pessoa certa.

Logo voc� entender�.

E voc� tamb�m.

Quantas vezes foi para l�?

Duas.

Uma vez,

h� muito tempo.

E a outra, no ano passado.

Qual preferiu?

A primeira vez.

Voc� foi com papai?

Sim, Dolly.

Padre Maroto.

Padre Maroto.

Eu cochilei.

� um h�bito que tenho
desde minha juventude.

Al�m disso,

o vinho foi abundante, n�o?

E diga-me.

Aonde foram os outros?

Bem...

Senhor conde,

aqueles senhores voltaram
para Jerusa.

Eles me enganaram,
trazendo-me aqui

e partiram.

Eles me trancaram como
um animal selvagem.

e voc� e a comunidade

consentiram em agir como carcereiros.

Eu pediria ao senhor conde
que, por favor, se acalmasse.

Aqueles senhores,
todos seus amigos

pensam como eu penso.

O senhor conde dever� ficar aqui
no monast�rio.

Ningu�m vai me trancar aqui e
cercear minha liberdade!

Meus votos obrigam-me
a acolher os destitu�dos

e praticar com eles

trabalho de caridade.

Pois a novena diz

que n�o encerrar� seu vizinho
contra sua vontade!

Pela �ltima vez

sr. Rodrigo

pe�o-lhe que reconsidere.
� uma loucura

opor-se a este santa reclus�o.

"Santa reclus�o".
Isso � uma blasf�mia.

Uma reclus�o arrumada pela fam�lia

e patrocinada pelos amigos.

Eu amaldi�oo a fam�lia!

E amaldi�oo os amigos e � faculdade.

E Zaratay pode ir ao inferno!

Cuidado com o que diz, Albrit!

Eu digo que o prior de Zaratay

� c�mplice e servo
da condessa Lucr�cia

e que a condessa comprou-o
para ser meu carcereiro.

� o que eu digo.

A sa�da, imediatamente!
A sa�da.

N�o pode brincar comigo, Albrit.

Voc� � uma crian�a e eu
o tratarei como tal.

Alto a�, seu padre endemoniado!

Pare ou quebrarei seu cr�nio!

E ordene a esses ossos moles
que fiquem parados

ou eu juro pelo sangue de
meus antepassados

que algu�m vai acabar
se dando mal!

Est� tudo bem, irm�os.

Deixaremos esse pobre maluco
ir embora daqui.

Pior para ele.

Volte ao mundo, Albrit

E continue a desenterrar
as esc�rias de sua fam�lia

se � o que voc� deseja.

Abra aquela porta, irm�o.

Ent�o, voc� n�o teve a coragem.

Matar-se!

Isso � loucura!

Voc� tem que lutar,
lutar firmemente.

Isso n�o � para mim.

Deixe aquele que pode, lutar.

Senhor conde

perdoe-me por me elogiar,

mas eu sou o homem mais gentil do mundo.

T�o gentil

que chego a me desprezar por isso.

Senhor conde,

� t�o terr�vel ser gentil.

Venha comigo.

Sei do que precisa agora.

E eu preciso tamb�m.

E sua morreu afinal?

J� faz quase um ano que
o inferno a recuperou.

E ela foi embora com Sat�

e deixou voc� com um lote sortido

de filhas, n�o?

Seis.

E todas ainda est�o em casa,
vivendo �s suas custas.

Sim, senhor, e essa � a causa
de todas as minhas desgra�as.

Prometa um bom dote a quem
quer que as leve embora.

Minha casa.

Esse � o dote que elas querem.

E as seis est�o brigando por isso,
especialmente Esperanza.

Ela gostaria de ficar com
a casa agora

assim ela poderia expulsar
todos n�s de l�

e estabelecer seu neg�cio l�.

Esperanza

� louca por homens.

Quer dizer que Esperan�a acabou sendo,
por assim dizer,

um pouco mais prostituta
do que as outras.

Sim, mas como ela faz isso por prazer

ela n�o ganha muito da profiss�o.

Ela � puta por v�cio,
como dizem,

uma puta por voca��o.

- Pegue outra garrafa.
- Sim, senhor.

Que bagun�a!

Tome.

Se me dissessem que existia no mundo
algu�m como voc�

eu n�o acreditaria.

Como isso � poss�vel
que em todos esses anos

voc� n�o foi capaz de encontrar
um dia

uma hora de for�a para livrar-se
de uma equipe como aquela?

Pedir isso a meu car�ter

� como pedir pedras
para aguentar ma��s.

Minha esposa

dominava-me.

S� de me olhar, eu j� tremia.

E eu nunca foi, o que voc� chama,
um homem de decis�o.

Agora eu entendo

a raz�o e a excelente l�gica

de sua inten��o de cometer
o suic�dio.

Mas o que continua inquestion�vel

� que seu comportamento
n�o � a de um crist�o.

Parece mais como o de um budista.

Sua filosofia, Coronado,
� destrutiva.

Est� certo, senhor conde,
pois onde quer que eu esteja

H� sempre bondade,
verdade e perd�o.

Tenho nojo de mim.

E � justo que
est� enjoado de voc� mesmo

porque o excesso de gentileza

mata tanto quanto
o excesso de �gua.

Ou de calor.

Tem alguma ideia do perigo
que voc� representa

para a humanidade?

Eu, um perigo, senhor?

Tive uma ideia

que poderia ser sua salva��o.

Que ideia, senhor?

Falta-lhe coragem de se atirar
no outro mundo.

� verdade. Muitas noites

eu subi nas escarpas

com a firme inten��o de
me atirar no mar.

Mas no �ltimo minuto

sempre perdi a coragem.

Mas � exatamente isso.

O que quero dizer � que a valentia
que lhe falta

eu tenho em abund�ncia.
Escute-me.

Eu agarro voc�,
atiro-o do penhasco

e antes que chegue ao fundo,
voc� estar� morto

e seu sofrimento ter� acabado.

O que pensa?

Bem, eu...

Eu penso que � uma excelente ideia,
senhor conde.

E n�o estou objetando.

O problema �

que hoje voc� me pegou
de guarda baixa.

Quem imaginaria

que o senhor conde se preocuparia
comigo a esse ponto?

Mas lhe sou muito agradecido.

Realmente estou.

N�o ir� encontrar uma
morte melhor

mesmo se usar armas,
veneno ou �cido carb�nico.

E estou lhe oferecendo
� morte instant�nea

uma s�bita entrada na felicidade.

Entendo.

Agora vamos escolher a parte do
penhasco

que tenha a fenda mais perfeita.

Se quiser, podemos ir agora
e eu lhe darei um empurr�o,

pois � uma boa hora para o mar.

Anoitecer,
quando est� rugindo

como se pedisse algo para ser jogado
l� dentro, para se divertir.

Mas h� um problema.

O conde ser� acusado de minha morte

e colocado na cadeia.

E n�o posso permitir isso.

E esta noite voc� me pegou quando
estou sentindo-me um pouco

mal-humorado.

Bem, � com voc�, Coronado.

Quando quiser, faremos isso.
E n�o se preocupe comigo.

A lei nunca suspeita
de pessoas respeit�veis.

Para al�m do mais, antes eu gostaria
de escrever uma nota

dizendo que morri por motu proprio.

Voc� est� certo. Essas coisas t�m
que ser feitas corretamente

e com toda a formalidade devida.

Nuria, acompanhe o irm�o.

E eu digo, qual � o ponto
de tanta luz � noite?

Podemos ver facilmente de dia
o que h� de ser visto no mundo.

Sr. Carmelo, � precisamente o que
a Espanha precisa. Mais luz.

Mais eletricidade, mais ind�stria,
mais modernismo.

E menos padres!

Ouvi isso!

Senhores,

novidades terr�veis.

O irm�o Deogracias, do monast�rio
em Zaratay,

acabou de vir me ver.

Voc�s nunca adivinhar�o.

Nunca adivinharemos?

O Conde de Albrit

voou.

N�o foi isso?

Ele quase chega �s vias de fato
com o prior.

Um esc�ndalo inacredit�vel.

Pelo que o enviado do padre Maroto
me disse,

quando o sr. Rodrigo acordou

ele come�ou a gritar e blasfemar

amea�ando

quebrar o aben�oado cr�nio
do monge com sua bengala

se eles n�o o deixassem partir.

O que fazemos agora?

Exatamente. O que fazemos agora?

Agora, apenas voc�,
meu querido m�dico

podem consertar essa situa��o.

Quem, eu?

Salvador Angulo

voc� deve ratificar o que
todos n�s j� sabemos.

Que o Conde de Albrit
est� perdendo a raz�o.

Ent�o, n�o tente pular fora disso,

que � o que estamos fazendo,

desde que come�amos
com esse maldito problema.

Ent�o, agora voc� sabe, dr. Angulo.

Um atestado para apoiar isso

no qual afirma claramente
que os desvarios do velho caqu�tico

n�o � apenas perigoso

mas extremamente perigoso

e que o melhor lugar
para o sr. Rodrigo

� em um hosp�cio.

Ou�am cuidadosamente.

Antes de permirtir-se encarcerar
naquele maldito convento

o conde de Albrit preferia
arrastar seus ossos

de porta em porta,
implorando por um peda�o de p�o

e um telhado para acolh�-lo.

A inten��o foi boa, sr. Rodrigo,

talvez tenhamos errado na
maneira como o fizemos,

no procedimento, mas a inten��o...

� verdade, sr. Rodrigo.

Pensamos que estaria melhor em Zaratay

que em La Pardina.

Voc�s s�o t�o mentirosos e covardes.

Meu Deus!

Depois de todas as vezes
que salvei voc�s da fome

porque todos voc�s e seus pais

vieram at� mim para um trabalho
e para favores,

e todos voc�s foram bem recebidos
em minha casa.

E eu resolvi todos os seus problemas.

Miser�veis!

Ou�a, sr. Rodrigo,
caso tenha se esquecido,

sou o prefeito de Jerusa.

Voc� n�o � ningu�m.

Voc�? Voc� nem sabe quem �,

maldito lambe botas.

Voc� � um ser vil e um ladr�o.

Voc� � o prefeito daqui,
porque certas coisas s�o inevit�veis.

Voc� vive de dar contratos
aos seus amigos

e de seus roubos.

E tem mais,

e isso � o pior de tudo,
voc� � uma nulidade

que envenenar� metade da humanidade
com seu macarr�o falso.

- SR. Rodrigo, n�o posso permitir...
- Voc� permitir� isso e mais!

Pode se lembrar?

Pode se lembrar quando
os duros invernos vieram?

Ou voc� perdeu sua mem�ria
juntamente com seu senso de vergonha?

O vinho que voc� roubou de mim
atrav�s dos anos

e que n�s deixamos que roube

para ajud�-lo a sair da bagun�a
que voc� estava

teria fornecido
um milh�o de bebedeiras

para esse cura, cuja barriga
n�o � mais do que

um por�o sem fundo.

Limite-se, sr. conde.

Mostre um pouco de respeito
a um ministro da igreja.

Respeito? � o que voc�s
me devem.

Quando seu pai morreu no bordel

e n�o digo que foi uma maneira
ruim de se morrer,

foi devido � minha generosidade
que voc� conseguiu acabar

seus estudos de Teologia e Direito.

O pequeno santo que queria ser
como Paulo de Tarso.

E aqui est� ele agora,
transformado em

um saco de l�!

A colher mais importante da Espanha!

H� rumores entre aqueles
de sua seita

que voc� pode engolir mais
torradas francesas no desjejum

do que distribuir h�stias
na comunh�o.

Ministro da igreja!

Parece mais ministro do p�o di�rio!

E voc�...

charlat�o de terceira categoria.

Quem pagou pelos seus estudos
em Valladolid?

Quem pagou pela pens�o durante
todos aqueles anos em que estudou?

N�o � verdade, empurrador de p�lula,
que voc� e seu pai

a quem salvei da pris�o,
infelizmente, por estupro

N�o � verdade

e eu pergunto isto olhando-o
em seus olhos,

que quando meu filho e eu passamos
por voc�,

voc� e seu pai ajoelharam-se

e tivemos que bater em voc�s
para que se levantassem?

Olhem um ao outro cuidadosamente,

filhos nascidos de minhas cozinheiras,

gerados pelos meninos de meus est�bulos

Quiseram aprisionar ao Conde de Albrit

que fundou Fraternidade dos Pescadores,

que lhes trouxe �gua de Santaorra,

que pavimentou a estrada de Verola

e a ponte sobre o rio Caudo.

Meus pais constru�ram o hospital

e a casa dos enjeitados
e a capela de Pardina

onde voc�s v�o

� missa do galo, em toda v�spera
do Natal

n�o por fevor religioso,

mas para receber a generosa cesta
de natal que oferec�amos a voc�s.

E como voc�s querem retribuir-me
por todos esses favores?

Lacrando-me, como um c�o raivoso,

vendendo suas consci�ncias

para o lance maior!

Olhem para voc�s.

chafurdando como porcos.

Ou�am cuidadosamente.

O pobre le�o de Albrit

que nunca pediu nada a voc�s

e n�o precisa de nada de voc�s

proclame seu desprezo por voc�s

com todas as gotas de sua alma.

Ele n�o quer nem mesmo uma polegada
de terra de sua cidade

para enterrar seus ossos cansados.

Certamente haver� um quarto
para ele no mar.

Fiquem com esse mundo seu,

o qual n�o entendo

onde est�o

inf�mia

e gan�ncia

agem ao bel prazer.

Aproveitem a refei��o.

Ou melhor...

que voc�s tenham uma indigest�o.

Sente-se, vov�.

Vov�,

� verdade que tentaram
prenderam em Zaratay?

- Ficamos muito preocupadas.
- Sim.

Exageros!

Alguns amigos levaram-me
para um passeio na carruagem deles

ao monast�rio

e eu tive vontade

de voltar a p�,
com o sr. P�o.

Vov�...

em poucos dias partiremos
a Madri com mam�e.

Ela nos disse ontem, quando nos levou
para ver Valdedi�s.

E voc�s, garotas, querem ir embora?

Por um lado, sim.

Iremos � escola e faremos
muitos amigos,

e ao teatro e a festas.

Por outro lado, n�o, porque
teremos que deixar voc�.

E queremos ficar com voc�.

A verdade real � que

preferimos ficar com voc�.

Pelo menos, eu prefiro.

Fico muito triste por ter
que deix�-lo.

Voc� superar�.

H� um mundo l�

com milhares de atra��es
e fascina��es.

Entendi queest�o feliz por sair
de Jerusa.

Para al�m do mais, voc�s devem
conhecer outros lugares,

morar numa sociedade.

Quer saber o qu�?

Eu ficarei com voc�.

O qu�?

Pedirei � mam�e que me deixe
ficar com voc�.

N�o quero que fique sozinho.

Nelly pode ir com a mam�e,
assim ele n�o fica s�.

- Est� bem
- E voc� e eu moraremos aqui.

N�o creio que sua ideia
ir� agradar muito ao Ven�ncio.

- nem � Greg�ria.
- N�o?

Por que n�o?

Porque, com grande respeito, Dolly,

a casa pertence a Venancio e a mim.

Est� me dizendo

que vov� e eu n�o podemos ficar aqui?

N�o, Dolly, n�o estou dizendo isso.

Bem, ent�o?

O que Greg�ria quer dizer,
minha querida Dolly

� que La Pardina � nossa.

Que n�s, Greg�ria e eu,
somos os donos.

Os �nicos propriet�rios.

Entendeu, Dolly?

"Senhorita" Dolly.
Entendeu, Ven�ncio?

N�o h� raz�o para tudo isso

N�o estou sendo de maneira alguma.

Sei que a casa � de voc�s

mas a terra que os alimenta est�
apenas arrendada a voc�s.

Quase de gra�a.

E essa terra � nossa.

Pertence � Casa de La�n,
� senhora condessa.

Exatamente.

E minha irm� e eu somos
as herdeiras.

Se voc� Greg�ria,
e voc�, Ven�ncio,

servem meu av� aqui

n�o � por caridade, pois obviamente
voc�s n�o t�m nenhuma

mas � porque minha m�e, sua patroa,
assim o quer.

E mesmo que ela n�o quisesse isto,
o que eu duvido,

minha irm� o quer, e eu quero tamb�m.

Bem, bem.

Vamos ficar calmos.

Ou�a-me, Greg�ria.

Eu quero o melhor caf�
para meu av�,

os melhores len��is,
a melhor mob�lia

o melhor jogo de copos
e a m�xima limpeza.

Vov�, voc� ter� um pouco de caf�
rec�m feito agora

bem amargo, da maneira como gosta,
hein?

Est� claro, Greg�ria?

Depois, limpe o quarto de meu av�.
Quero que ele fique brilhando,

como aquelas x�caras de prata que esconde
atr�s dos guarda-roupas.

Entendido?

Sim...

Srta. Dolly.

V� agora. Verificarei isso mais tarde.

Vamos Greg�ria.

E voc�, vov�,

n�o se preocupe.

Ningu�m nunca ir� expuls�-lo
desta casa.

Sim?

� Sen�n.

Entre.

O que quer?
Estou ocupada.

Presumo que sua condessa
saiba da cena

que o sr. Rodrigo causou
no clube.

Sim. V� em frente.

Lembra-se de que eu avisei

que uma mudan�a na reestrutura��o
do governo estava iminente?

Bem, como pode ver, aqui est�.

Nosso ministro foi deposto.

Ele lamentar� mais do que n�s,
n�o �?

Sem d�vida, senhora.
Sem d�vida.

Mas eu gostaria de saber

o que a senhora condessa pretende
fazer com minha indica��o

porque agora

est� no ar.

Voc� pensa sua promo��o
� tudo que tenho em minha mente?

Claro que n�o, senhora.

Como eu sei quanto � ocupada

permiti-me pensar
por n�s dois.

E dado que a condessa j� conhece
o novo ministro,

n�o se lembra, senhora?

Voc�s jantaram juntos na casa do
Marqu�s de Pescara.

Voc� � t�o ambicioso, Sen�n,

t�o persistente, t�o ego�sta

que parece ter perdido todo
senso de realidade.

Acha que falarei por voc� com algu�m
a quem eu apenas disse

"Boa noite"?

Eu sentiria muito, senhor,

se meu humilde pedido...

Voc� est� no limite.
Eu nunca vi tanta insol�ncia.

Entendo.

Sim, eu entendo.

Quem sou eu,

que a condessa pudesse
se incomodar comigo?

Quando estava em meu poder,
consegui-lhe todos os favores que pude.

E os servi�os que forneci
� condessa?

E a lealdade

que demonstrei durante tantos anos.
N�o vale a pena tampouco?

Repito, Sen�n.

Seus servi�os foram muito bem pagos.

Deixe-me sozinha,
por favor.

Tenho realmente muita coisa importante
para cuidar.

Deveria saber, senhora,

que durante o tempo em que
estive a seu servi�o

fui prejudicado por ser
t�o cavalheiresco.

T�o o qu�?

Voc�?
Um cavalheiro?

Sim, eu sou um cavalheiro.

Por silenciar aqueles que
falavam da condessa

e diziam coisas que n�o
deveria ouvir.

Basta!

Por guardar segredos que bem
sabe serem muito s�rios!

E o pagamento que eu recebi
por tudo aquilo, minha devo��o canina

� ouvir voc� dizer que
n�o me deve nada

e que devo deix�-la em paz.

Saia daqui.

Pense nisso.

Senhora, pense nisso.

Saia.

Se eu quiser, eu ainda posso
lhe causar dano.

Mais do que imagina.

Saia, Sen�n.

Mais do que imagina.

Simona!

Senhora?

Jogue �cido f�nico daqui
at� a porta da frente.

Sim, senhora.

Saia.

"Ai m�sero de mim!
Ai infeliz!

Saber, � c�us, eu pretendo

j� que me tratais assim

que delitos cometi
contra v�s outros nascendo.

Mas se nasci j� entendo
que crime foi cometido.

Grande raz�o ter� tido
vossa justi�a e rigor

pois o delito maior

do homem � ter nascido."

Cortina.

Perdoe-me a indiscri��o, conde,

mas onde ir� sozinho?

Em qualquer casa de Forbes
ou em Pol�n,

deverei encontrar melhor hospitalidade
do que em La Pardina.

H� ainda poucos velhos colonos l�

que ficar�o felizes vendo
o velho Albrit chegar

mesmo que ele tenha se tornado
um mendigo

pedindo por um pouco para comer
e alguma caridade.

Meu Deus, conde,

da maneira como colocou isso
ajusta meus dentes na borda!

Mas � como �.

Ao velho Albrit n�o restou nada agora
sen�o solid�o

e desespero.

Solid�o � terr�vel,

n�o �, Coronado?

Voc� me fala sobre solid�o,
conde,

bem quando acabo de enterrar
meu terceiro c�o?

Ent�o, o que tem a me dizer?
E n�o vamos usar da ret�rica.

A verdade, senhor.

A verdade?

Sobre o qu�?

Sobre o sujo segredo da
condessa Lucr�cia.

Uma de suas netas, sr. Rodrigo

n�o tem o sangue Albrit.

Sapo desprez�vel!

O que voc� sabe sobre isso?.
Conte-me!

Tenho prova, senhor.

Solte-me e eu lhe direi.

Prova de qu�?

Conheci o pintor Carlos Era�l.

Durante um tempo

enquanto eles eram amantes

trouxe para Carlos Era�l

as cartas que a condessa lhe escreveu
e vice versa.

Trouxe para a condessa

as ep�stolas apaixonadas
que ele comp�s para ela.

Tenho essas cartas, conde.

Seu cafet�o repugnante!

Voc� as roubou!

Digamos que quando o pintor morreu

eu as encontrei por acaso

entre seus pap�is particulares.

E o senhor conde sabe

como � a vida.

Os pobres nascem com apenas

um peda�o de terra para chamar
de seu.

Ent�o, somos for�ados a cuidar
de nosso futuro.

O fato � que, naquelas cartas,
a condessa deixa

claras evid�ncias de
sua ardente paix�o

por Carlos Era�l.

Mas h� uma

que � muito especil.

Naquela carta, a condessa

d� not�cias precisas

sobre o encanto e
a sa�de de suas filhas.

A honra da casa de Albrit

requer

a destrui��o daquela carta!

Honra, claro.

Honra, a honra dos Albrit!

Voc� se esqueceu que nasci
plebeu

e honra � algo que n�o
me emociona?

Fale comigo de algo material

mais substancial

se a mercadoria realmente
o interessar.

Voc� sabe muito bem que
eu sou pobre

e n�o posso lhe oferecer
coisa alguma.

Sim.

H� uma coisa.

A gota de sangue

que brilha em sua m�o.

O que � isso?

Um rubi, talvez?

Foi um presente

feito

para um vice-rei do Peru.

Durante sete gera��es

pertenceu

� Casa de Albrit.

Pegue-o!

E minha maldi��o,
junto com ele.

E agora escute

muito atentamente

o que eu vou dizer.

Quando voc� me vir chegando perto

de onde estiver

voe.

Entendeu?

Como foi, com aquela besta?

Ouvimos gritos.

Magnificamente

porque eu fiz o que quis com
aquele velho orgulhoso.

Envergonhei-o

e disse-lhe algumas verdades caseiras
sobre sua honra

e toda aquela bobagem

e ele ficou mais suave do que
um carneiro, logo ver�.

E eu tamb�m lhe disse
o que falei

para aquela outra,
a esnobe condessa.

Se eu me perfumo com
ess�ncia de heliotrope

� porque me d� vontade!

Muito bem.

Os dias de escravid�o acabaram.

E se n�o foi o suficiente,

olhem.

Olhem o que consegui daquele
velho antiquado.

O rubi dos Albrits.

Um presente de alguns incas
ao vice rei do Peru

algum parente dele.

De fato.

O que voc� acha?
Lindo, n�o?

Adeus

� feliz dupla.

Bem.

Olhe para ele.

Querido Carlos

cada vez que vejo os olhos
de nossa filha

esse mesmo brilho alegre
que vejo nos seus

e que me faz tremer
quando eu o encontro

sentimentos opostos de orgulho
e culpa tomam conta de mim.

� quando eu gostaria de
estar ao seu lado

para sentir-me protegida
em seus bra�os

para ser aquela nota sustentada
dentro de uma sinfonia intermin�vel

que, como voc� diz,
� o nosso amor

e dizer-lhe, meu querido,

que no olhar inocente da crian�a

h� uma constante recorda��o
de suas car�cias

suas palavras

seus sil�ncios.

Eu apenas espero que aquela inocente,
sens�vel crian�a

possa ser o reposit�rio do que
n�s dois temos de melhor.

Por favor, responda-me logo.

Se � imposs�vel viver sem voc�

sem sua voz, sua risada,

sem sua m�o em minhas costas,
em meu pesco�o, em meu seio

n�o me negue, pelo menos,
suas cartas claras e firmes

dizendo-me que me ama
mais do que eu o amo

pois isso � imposs�vel.

Quer saber?

Este � um pequeno segredo.

Eu nunca gostei de meu nome

at� que eu o ouvi
em sua respira��o.

Desde ent�o, eu tremo
quando eu o escuto

pois ele n�o � mais meu nome

mas um som

s� meu

que vem de seus l�bios.

E uma �ltima coisa.

Devo lhe dizer que se Deus existe

Ele sabe que somos duas
boas pessoas

e que voc� acaric�a
como Ele.

Levo voc� em minha alma.

- � a mam�e.
- Mam�e?

- Mam�e!
- Sim, � a mam�e!

- Mam�e!
- Mam�e!

- Ol�, mam�e.
- Ol�.

- Sr. Rodrigo.
- Sim.

A condessa est� esperando
por voc� na capela.

Obrigado.

Estou escutando, senhora.

Eu vim para pedir desculpas.

Desculpas? Por qu�?

Primeiramente,

pela est�pide ideia que tive
em mand�-lo para Zaratay.

E depois,

pelo meu comportamento
nesses �ltimos anos.

Tamb�m, eu vim para lhe dizer

que eu me casei com seu filho porque

eu acreditava am�-lo com todo
meu cora��o.

Logo depois, encontrei-me com
o pintor Carlos Era�l

um bom homem,
honesto e inteligente,

que, como eu, sofreu imensamente
com nosso relacionamento.

Durante um tempo, tentei me enganar.
Dizia-me

que Carlos Era�l seria apenas
um caso passageiro

mas era amor.

T�o sagrado como se fosse
aben�oado pelo matrim�nio.

Lutei durante meses

tentando destruir o fogo
e o desejo.

Mas a raz�o � sempre inadequada
contra a afei��o.

N�o consegu�amos refrear
nosso sentimento.

N�s nos apaixonamos.

E fomos muito infelizes.

N�o podia olhar seu filho
no rosto

Era�l n�o podia olhar para si mesmo
e nos separamos.

Tentei com todas as minhas for�as
viver com Rafael novamente

como se nada houvesse acontecido.

Mas o amor, sr. Rodrigo

� destrutivo.

Nossa vida era tal que s�
a presen�a de nossa...

De Nelly e Dolly

e boas maneiras

f�-la toler�vel.

Ap�s a morte de seu filho,
eu tive um caso.

Aquela foi apenas um caso

o tipo que � mencionado na m�dia,
com um pol�tico.

Um caso que agora j� terminou.

Essa � a escandalosa
vida amorosa

de uma mulher de 32

que acreditou ter se casado por
amor aos 18.

Qualquer coisa al�m disse que possa
ter escutado, � esc�ndalo malicioso.

Ontem, eu fui a Zaratay.

Confessei-me e comunguei.

E hoje sinto-me leve
em minha alma

onde sentia uma horr�vel
confus�o e culpa.

O que voc� queria saber

eu disse para o �nico que
deveria saber.

A Deus.

N�o, n�o a Deus.

A um padre.

Mas eu entendo.

Eu entendo a extrema delicadeza
do assunto

e eu quero respeitar o
estado de serenidade

no qual voc� se encontra hoje.

Ainda mais

que n�o seria justo que eu atormentasse
voc� agora

com a quest�o vergonhosa

porque eu sei.

Lucr�cia

quero lhe fazer uma proposta

uma oferta razo�vel.

Gostaria de que compartilh�ssemos
o bem que Deus nos deu.

As garotas.

Uma para voc�

e a outra para mim.

E para voc�

qual das duas?

Voc� concorda com a partilha
ent�o eu escolho.

Diga-me.

Voc� as ama

igualmente?

Pelo amor de Deus, sr. Rodrigo,
ambas s�o minhas filhas.

Eu n�o posso dizer o mesmo.

Ambas n�o s�o minhas netas.

Por favor, entenda-me.

Minhas filhas precisam ficar comigo
por uma s�rie de raz�es.

Preciso cuidar n�o apenas
do futuro delas

mas tamb�m da sa�de de minha alma.

Junto com elas, estarei garantida.

Senhora,

tente entender-me.

Sou velho.

Restam-me apenas poucos mais
sopros de vida

e preciso de minha neta junto de mim.

Ela � a �nica raiz que me liga
a este mundo.

Por que n�o vem conosco?

Viveremos juntos em Madri.
Seremos uma fam�lia.

Voc� poder� apreci�-las
e elas a voc�.

Introduza-as � leitura,
� m�sica.

Mostre-lhes as cidades
e aos pa�ses.

Seja-lhes o av�, o pai
e o amigo.

Seja razo�vel, por favor.

N� sou eu que estou lhe pedindo

que Dolly

deva ficar comigo.

Falarei com meu administrador e
voc� receber� mensalmente

uma quantia de dinheiro com a qual
poder� viver confortavelmente.

A ser� agraciado com o uso
de algumas propriedades

em Pol� e La�n.

Sem minha neta, n�o quero nada.

Vov�...

- Sim?
- Somos n�s.

Entrem.

Vov�, estamos partindo.

Vov�, sabemos que ir� vagar
por a�

de porta em porta,
pedindo p�o.

O sr. P�o nos disse. Ele...

Ele est� muito preocupado.

Vou lhes contar um pequeno segredo.

N�s, adultos,

gostamos de exagerar
as coisas um pouco

para conseguir aten��o

porque a verdade �

que n�s, velhos, somos realmente
criancinhas

fechados dentro de velhos corpos.

Ent�o, n�o quero que voc�s duas
se preocupem com coisa alguma.

Por que n�o vem conosco, vov�?

Porque � imposs�vel, Dolly.

Sabe o qu�?
Vou ser uma pintora.

Mam�e disse que posso estudar
na Escola de Belas Artes

e quando eu puder escolher meu t�pico

eu s� farei retratos seus

como est� agora,

com seu chap�u, sua bengala

e seus olhos brilhantes.

Muito obrigado.

Muito obrigado.

O problema �, vov�,

que voc� n�o gosta de mam�e,
n�o �?

Ou�am.

Na vida

h� circunst�ncias

que nos for�am a respeitar
certos princ�pios

certos padr�es morais.

Digamos que na fam�lia

h� uma funda��o aben�oada

a qual o homem deve sempre
respeitar

se Deus colocou em sua alma

a consci�ncia da honra.

Dolly,

como voc� � linda!

O que aconteceu, vov�?

Nada, nada.

� que subitamente

voc� me lembrou de sua av� Adelaida.

Quando nos conhecemos, ela tinha
mais ou menos a sua idade

e ela tinha

aquela ar majestoso

que voc� tem agora

e a mesma alegria

em seus olhos

e o mesmo brilho em seu cabelo.

Vov�...

o que � honra?

Para a condessa Lucr�cia

para seu r�pido retorno a sua casa aqui

e para as senhoritas Dolly e Nelly

futuras princesas da beleza e
eleg�ncia de Madri.

Como voc� instruiu,

cancelei

a banda para amanh�

e ningu�m a ver� partir da esta��o.

Sim, querido.

Nem sequer voc�, Vicenta,
ou eu.

Muito obrigada.

Est�o felizes por ir para a capital?

Sim.

Sim e n�o.

Como assim?

Sim,

porque Madri � Madri.

E n�o,

porque

meu av� ficar� sozinho.

Voc� deve ter muito cuidado
com o clima de Madri.

� muito trai�oeiro,
especialmente em meses com "r".

Janeiro...

E quando � poss�vel

concenss�o a Jerusa da
Escola do Com�rcio,

estamos em suas m�os, condessa.

Verei o que posso fazer,
mas n�o se encha de esperan�as.

O governo mudou. As coisas
n�o s�o como costumavam ser.

Manterei voc� informado.

Sim, sim, o velho bom Sen�n
j� nos disse

antes de partir para suas obriga��es

- na capital.
- Um pouco precipitadamente.

Ele me disse

que o novo ministro
� osso duro de roer

mas que mesmo assim

a condessa o conhece bem.

A condessa n�o o conhece bem
de jeito algum.

Ela n�o o conhece de maneira alguma.

E o que posso dizer sobre Sen�n?

Sabe o que ele me disse outro dia?

Que voc� e sua esposa eram idiotas

e que nunca tinha visto pior gosto
do que nesta casa,

exceto, ele acrescentou,

a velha gorda rica da aldeia.

Esse foi o apelido dado � Consuelito

pelo velho bom Sen�n.

S�o 12 horas!

Parou de chuviscar!

Bendita sejam as santas almas
no Purgat�rio!

Benditas sejam agora e para sempre.

O que voc� pensa que pode ser t�o
urgenta

ao prior de Zaratay?

N�o fa�o a m�nima ideia.

Eu lhe transmiti o recado
palavra por palavra.

O prior...

pede ao sr. Conde de Albrit

que venha ao monast�rio

o mais r�pido poss�vel
e a qualquer hora

para tratar de um assunto

muito reservado e muito grave.

Senhor conde.

Senhor conde!

Sim?

Eu queria falar com voc� tamb�m

porque agora tenho tudo preparado.

Eu escreviuma carta

dizendo que ningu�m deve
ser culpado por minha morte.

Sinto n�o vestir melhor terno

para meu suic�dio,

especialmente por estar indo
em sua companhia.

N�o se preocupe com isso.

Em tais momentos, roupas s�o
de pouca import�ncia.

Vamos aos penhascos agora.

Gostaria de lhe pedir que terminasse
comigo o mais r�pido poss�vel.

Espere um minuto.

Bem, minha querida Adelaida,
vou-me agora e volto para lhe contar.

N�o vai me dizer que se arrepende
de sua promessa

e que agora n�o ousa me dar
um epurr�o.

N�o, n�o. Eu farei isso e
com grande prazer.

Especialmente hoje.

Voc� ver� que estilo e coragem

jogarei voc� no mar.

Mas primeiro, preciso ir a Zaratay,
e quero que voc� venha comigo.

Os monges podem tentar
um outro truque sujo comigo.

A condessa Lucr�cia

que est� para partir para Madri
com suas filhas

no trem do crep�sculo...

Presumo que n�o est� tentando
se exibir agora

por meio de ret�rica vultar,
est�, Emin�ncia?

"No trem do crep�sculo."

� curioso.

Eu observei durante anos

que todos aqueles que comem muito
falam interminavelmente.

� porque o fluxo das palavras

facilita a digest�o.

Mas n�o penso que este
seja o momento

de ditar uma enc�clica

ent�o, padre, vamos ao ponto.

E esque�a-se do p�o frito!

Vai deix�-lo doente!

Santo Deus, que temperamento!

Bem.

Ou�a atentamente.

A condessa Lucr�cia

mergulhou numa crise de consci�ncia

e tocada, sem d�vida, pela gra�a
do Senhor

fez uma confiss�o geral de
seus pecados para mim.

E ontem � noite, ela mandou-me
uma carta, assinada e lacrada

na qual, para o bem de sua alma

e possivelmente para voc� tamb�m,
Albrit

ela me dispensou
dos segredos da confiss�o.

Qual das duas?

Nelly.

Sua neta � Nelly.

Ela � a leg�tima descendente

da Casa de Albrit.

� tudo, senhor.
Aqui est� seu bilhete.

- Tome.
- Obrigado.

Bem, Dolly.

- Feliz?
- Sim.

- De verdade?
- E voc�?

Eu tamb�m.

Quando o senhor conde desejar

podemos subir na escarpa

e voc� pode me dar o empurr�o
com o qual concordamos.

Dolly n�o � minha neta.

Como n�o?

N�o.

Ela � filha de um pintor
maldito e grosseiro.

Carlos Era�l.

Nossa hora chegou, Coronado.

Muito bem.

Voc� disse "nossa"?

Primeiro, jogarei voc�.

E ent�o pularei.

- Venha comigo.
- S� um minuto, Albrit.

Pare!

Seu n�o estava no trato

e n�o permitirei isso.
Estou me rebelando, hein?

N�o roa a corda agora, Coronado.

N�o seja covarde.

Se o empurr�o o assustar

pularemos juntos, em amor
e companhia.

Voc� n�o pode fazer isso!

Por que n�o?

- Quem me pro�be?
- Eu.

Esse n�o for o acordo.

Se est� com medo da morte,
volte para suas filhas.

Voc� sabe o que � o pior.

Maldi��o!

Voc� n�o entende? A minha estava
no trato, mas a sua...

A sua...

Voc� ficou senil!
Albrit, volte aqui.

N�o me fa�a respons�vel
por sua morte!

Que ideia rid�cula!

Eles nem deixar�o com que
morra em paz, Coronado!

A �gua do mar estar� t�o fria.

Meu Deus...

perdoe-nos.

Quando quiser, sr. Rodrigo.

Vov�!

Vov�!

Vov�!

Vov�!

Meu querido sr. Rodrigo

permita-me sempre dirigir-me a voc�
assim.

Na data de hoje, que �
o dia de hoje

ordenei ao administrador

para que lhe entregue
para seu uso

a casa perto do rio

a grande casa em Pol�n

e todas as suas terras.

E uma vez que voc� ama Dolly

e Dolly ama voc�

ap�s uma conversa entre
m�e e filha

muito interessante para n�s duas

dei meu consentimento

para que ela vivesse com voc�
pelo resto de seus dias."

Ponto, par�grafo.

Quando estiver lendo esta carta

Nelly e eu estaremos a caminho
de Madri

onde voc� tamb�m
tem seu lar.

Nelly e eu esperamos

que voc�s dois nos visitem
sempre que poss�vel.

Com a sincera amizade de
sua filha Lucr�cia

e muitos beijos de sua neta Nelly."

Ponto final.

Se lhe fosse pedido para escolher

entre honra e amor

o que voc� faria?

Repare, se aquela coisa a que
chamamos de honra

pudesse ser algo material

seria muito bem para fertilizar
a terra.

Adubo.

Para fazer crescer alface e tomates.

Isto � honra, em minha
humilde opini�o.

Um peda�o de merda.

Dolly...

por que voc� quer ficar comigo?

Seu lugar � com sua m�e
e sua irm�.

Elas podem cuidar melhor de voc�
do que eu.

E quem tomar� conta de voc�?

E o que uma coisa tem a ver com outra?

N�o sei porque gosto de ficar
com voc�.

Mas eu gosto.

Eu gostava de ficar com papai tamb�m.

Bem, vamos a Pol�n.

Conde!

Ainda h� aquele meu neg�cio.
Lembra-se?

O empurr�ozinho.
N�s fizemos um acordo.

- Ajoelhe-se.
- Sim, senhor.

P�o Coronado

grande fil�sofo

eu o nomeio meu amigo.

- Voc� aceita?
- Claro que aceito.

Juro

que desde este momento,
j� somos amigos.

Ou�a.

Nossa amizade

significa um novo acordo.

Que � esperar morrer de velhice

porque agora temos que tomar conta

- de nossa neta.
- Nossa neta?

Sim, claro. Ela � t�o sua
quanto minha!

Pare de falar bobagens.
Venha.

Vamos.

Gundemaro, Sisebuto

Suintila, Sisenando, Kuintilla

Senhor conde, ela conhece a
lista de reis g�ticos!

N�o ouvi bem o que disse, Coronado.

Voc� disse "senhor conde"?

Bem...

Eu disse, Rodrigo, meu amigo

que nossa neta conhece os
reis g�ticos.

Impressionante.

E outra coisa.

Repare, Rodrigo, embora voc�
seja um homem do mundo

pois viu pa�ses estrangeiros tais
como a Fran�a, a Inglaterra,

Peru, Cuba, Argentina,
M�xico e os Estados Unidos

que ficam muito longe

e mesmo que seu conhecimento
exceda o meu

posso lhe dizer, Rodrigo, meu amigo,
que a vida � um sonho.

Se come�ar a me contradizer, Coronado

vai parar de ser meu amigo
imediatamente.

A d�vida, P�o, a d�vida.

Esse � o ponto.

Onde est� o bem?
Onde est� o mal?

Esse � o ponto.

Legenda em portugu�s do Brasil:
Lu Stoker - Doe Sangue