All language subtitles for Angelas.Ashes.1999. 17

Quando me recordo da minha inf�ncia,

pergunto-me como, eu e os meus irm�os,
podemos ter sobrevivido.

Foi, sem d�vida, uma inf�ncia miser�vel.

Uma inf�ncia feliz quase n�o vale a pena.

Pior do que a normal inf�ncia miser�vel...

� a inf�ncia miser�vel irlandesa.

E pior ainda,
a inf�ncia miser�vel Cat�lica-irlandesa.

Que linda menina.

T�o linda.

Que �?

Uma linda menina, Sra. Leibowitz.

Depois de quatro rapazes.
D� para acreditar?

Uma menina.

Como se chamar�, Malachy?

Margaret Mary.

Ela � t�o bonita, Minnie.

Cabelo castanho e olhos azuis.

Tal e qual a m�e.

Uma linda menina.

N�o �s?

V� l�, Eugene.

Oliver, v� l�. Chapinhar.
Eugene, p�ra de chorar.

Bonito menino.

Estamos no banho. Bolhinhas. N�o chores.

Olha para o meu rabo.

Malachy, p�ra de mostrar o rabo.

- Estou s� a tentar faz�-los rir.
- V� l�.

P�ra de chorar.

Por amor de Deus, Malachy.

Ela est� muito sossegada, Angela.

Um bocadinho fria.

Vou chamar a Sra. Leibowitz.

Todos adoravam a pequena Margaret.

O pai disse que o dia em que foi concebida
deve ter sido feriado no C�u.

Disse que iria arranjar trabalho
para lhe comprar vestidos de seda...

e sapatos com fivelas de prata.

Pobre pequena Margaret.

Poucos dias neste mundo...

e foi levada pelos anjos que a trouxeram.

Olha para estes g�meos.

- P�ra de chorar.
- Por favor.

Frankie, n�o consigo fazer isto.

Onde ponho o alfinete?

O pai disse que ia comprar cigarros...

e os g�meos n�o paravam de gritar.

Gra�as a Deus pela Sra. Leibowitz
que vivia por cima.

Rapazes, que vos aconteceu?

Onde est� a vossa m�e? Que querem?

N�o temos jantar.

Come mais um bocadinho.

V� l�. Tens de comer.

Isso.

V� l�.

Mam�.

Meu Deus.

As crian�as est�o nuas, Delia.

- Onde foi a Angela buscar estes h�bitos?
- A tua m�e estava sempre impec�vel.

Este fedor � insuport�vel!

- S�o os g�meos. T�m o rabo com merda.
- Falas como um pecador.

N�o admira.
Com um pai da Irlanda do Norte,

com os seus modos estranhos
e maneiras protestantes.

Podes ir parar ao Inferno, a falar assim.

- Onde est� o teu pai?
- Foi comprar cigarros.

- H� dois dias.
- Dois dias!

- Juro que lhe parto a cara.
- O pai n�o tarda.

Vai buscar papel e uma caneta.

Temos uma carta para escrever.

As minhas tias escreveram � minha av�
a pedir dinheiro para os bilhetes.

Devemos ter sido
a �nica fam�lia irlandesa...

que disse adeus � Est�tua da Liberdade,
em vez de ol�.

�amos voltar para a Irlanda
onde n�o havia trabalho...

e as pessoas morriam
devido � fome e � humidade.

Para mim n�o fazia sentido...

mas que podia eu saber?

Tinha s� cinco anos, quase seis.

Olha para esse casaco.

Ajudo-te a aboto�-lo.

J� est�.

Levo-o aos lavabos
e vou ao IRA buscar o meu dinheiro.

- Francis, tu vens comigo.
- Preciso da ajuda dele.

Achas que consigo carregar
todo aquele dinheiro sozinho?

Est� bem, podes ir com o teu pai.

- N�o podes fazer chichi a�.
- N�o consigo aguentar.

- Est�s fazer-me chichi em cima.
- Est� a sair.

Espere por mim. Tamb�m quero ir.

Nenhum registo?

Mas eu fiz a minha parte pela Irlanda.

Lutei com as for�as armadas
durante as guerrilhas.

Tive a cabe�a a pr�mio.

Tive de fugir para a Am�rica.

N�o h� nenhum registo do seu servi�o.

Nenhum.

Tenho mulher e quatro filhos.
Ensino os meus filhos a amar a Irlanda.

Ou�a.

Por favor?

N�o temos nada.

Lamento.

N�o podemos dar dinheiro
a todos os homens...

que dizem que lutaram pela Irlanda.

Examinarei a sua reclama��o.

Inform�-lo-ei do que suceder.

Tem aqui dinheiro
para o bilhete de regresso.

Pode dar-me que chegue para uma cerveja?

Anda atr�s da bebida, �?

N�o chamaria bebida a uma cerveja.

Vai fazer aquela crian�a caminhar
at� Dublin, por causa de uma cerveja?

Lembra-te disto, Francis,

esta � a nova Irlanda.

Homenzinhos em cadeirinhas
com pedacinhos de papel.

� melhor sair. Declan, abre a porta.

- N�o precisa de voltar. -Foi por esta
Irlanda que deram a vida, foi?

Vamos. Livre o cara�as.

N�o damos dinheiro
para sustentar a fam�lia Guinness.

Ele queria cas�-la com o rei da Sic�lia.

A bela jovem Wilgefortis,

achas que queria casar
com um velho nojento?

Ent�o, rezou a Deus para que a ajudasse.

- Sabes o que Ele fez?
- N�o, o qu�?

Fez-lhe crescer barba e bigodes na cara.

- N�o fez nada.
- Fez.

Afasta-te da janela.

Frank, leva o Eugene.
N�o te esque�as da tua mala.

- Veste o casaco.
- Veste o casaco imediatamente.

Olha que levas.

Aqui. Anda c�.

O Oliver vomitou-me em cima.

Ol�, m�e.

Este � o Malachy.

Sra. Sheehan, � um prazer.

Aggie.

Ol�. Como est�s?

E o Pat.

Ol�, Pat.

Para onde est�o a olhar?

Nada.

A av� disse que n�o tinha quarto para n�s.

Deu-nos 10 xelins para alugar um quarto,
em Windmill Street, por 2 semanas,

perto da minha tia Aggie.

- Tenha cuidado.
- Olha para aquilo.

- Eu levo o mais pesado.
- Porque tem o cora��o a arder?

� o Sagrado Cora��o de Jesus.

Estas crian�as n�o sabem nada
sobre a religi�o delas?

Na Am�rica � diferente.

O Sagrado Cora��o est� em todo o lado.
At� na Am�rica.

N�o h� desculpas
para este tipo de ignor�ncia.

Olha. � o Menino Jesus.

Se precisares de alguma coisa
� a Ele que tens de rezar.

Podes dizer a Jesus que temos fome?

Cala-te!

M�e!

Est�o a morder-me!

- Estou a sangrar!
- Acalmem-se.

Olhe para ele!
Tem o bra�o cheio de sangue!

S�o as pulgas. Est�o em todo o lado.
Malachy, sai da cama.

Ser� que n�o vamos ter descanso?

- V� l�. Puxa.
- Vamos levar este colch�o l� para baixo.

- Puxa!
- V� l�.

- Tirem as pulgas do colch�o l� em baixo.
- Est�o no ch�o!

Isso mesmo, no ch�o.

Vamos ficar doentes aqui fora,
ainda apanhamos uma pneumonia.

O pai disse que se um homem saltasse
como uma pulga,

um salto lev�-lo-ia quase at� � Lua.

Quando as pulgas nos picam,

o cheiro do sangue f�-las enlouquecer.
Ficam prontas para o manic�mio.

Foram trazidas pelos ingleses...

para nos manter acordados
e nos fazer perder o ju�zo.

Porque sabiam que elas se multiplicam
mais depressa que os Hindus.

- Para que � a �gua?
- E � verdade!

N�o me admira isto dos ingleses.
S. Patrick afugentou as cobras da Irlanda.

Os ingleses trouxeram as pulgas
e a humidade.

Ador�vamos as hist�rias do nosso pai.

Espere a�.

Preciso de carv�o.

Tenho aqui um vale de S. Vicente de Paulo.

Por favor.

P�e isso no ch�o.

N�o apanhes carv�o da estrada.

N�o somos mendigos.

� horr�vel. Olha.

Sem orgulho.

Vamos!

N�o posso crer.

Este mi�do est� doente
e precisa duma bebida quente.

Se �s demasiado bom para apanhar
carv�o da estrada, eu n�o sou.

V� l�. Vamos.

Merda!

Vamos.

A Angela parece uma coelha.

N�o vejo porque temos de pagar
pelos erros dela.

Cinco nados e um morto.
� t�o in�til que nem sabe lavar o ch�o.

N�o abuses com o a��car.
N�o somos milion�rios.

A tia Aggie estava sempre zangada.

O pai dizia que ainda bem
que n�o era dona do est�bulo em Bel�m,

ou a Santa Fam�lia ainda andaria
a vaguear pelo mundo a morrer de fome.

O magri�o � a cara chapada do pai.

Pois �, com aquele olhar estranho
e o ar carrancudo.

Acho que este rapaz gosta de mim.
Pensa que sou o Al Jolson.

Acho que vamos ficar com ele.

- N�o, � nosso irm�o!
- � o Eugene.

- N�o pode ficar com ele.
- N�o se preocupem.

N�o quereria nada metade de Limerick,
metade da Irlanda do Norte.

- Quem te dera ter essa sorte.
- N�o se preocupe. Um dia, terei os meus.

Nem que tenha de ir a Lourdes de joelhos.

Bateste com o p�? Mostra-me o p�.

Vou aos Thompsons, os coveiros,

para tratar do caix�o e do transporte.

A Ordem de S. Vicente de Paulo pagar�...

tudo, com certeza. Deus sabe.

Filho.

E disse a mim mesmo:

tenho tanto g�s nos intestinos
que � uma pena desperdi��-lo.

Por isso enfiei um tubo pelo rabo,
acendi um f�sforo...

e l� se acendeu uma bela chama
pronta para aquecer �gua.

Os ingleses vieram a correr
das trincheiras...

pagar-me para lhes aquecer a �gua.

N�o � hist�ria que se conte
na presen�a duma crian�a morta.

� melhor do que ficar sentado
com um ar triste.

Ganhei tanto dinheiro
que pude subornar os generais,

que se estavam nas tintas
para os irlandeses,

para que me deixassem sair do ex�rcito
e fui para Paris, onde me diverti...

a beber vinho com modelos e artistas
e a falar aquela l�ngua.

Acham piada, �?

Diverti-me imenso.

"Requiem aeternam dona ei,
domine, et lux perpetua luceat ei.

"Requiescat in pace.

"Anima eius, et animae omnium
fidelium defunctorum...

"per misericordiam dei,
requiescant in pace.

"In nomine patris, et filii,
et spiritus sancti."

N�o sei porque n�o pudemos
ficar com o Oliver.

N�o sei porque o mandaram embora
numa caixa, como a minha irm�.

N�o est� certo.

Quem me dera poder dizer
alguma coisa a algu�m.

O pai disse que ia ao centro de emprego
buscar o subs�dio.

Disse que chegava por volta do meio-dia
e que traria toucinho frito, ovos e ch�.

N�o chegou a casa ao meio-dia.

Nem �s 13:00.

Nem �s 14:00.

Nem a hora alguma antes do p�r-do-sol
nesse dia de Maio.

Luta!

Venham c�. Parem! Parem com isso!

P�ra!

Seu rufi�o.

Foi esse o comportamento
que aprendeste na Am�rica?

Voc�s v�m comigo.

Acabo j� com as brigas.

Meu pequeno Yankee Doodle Dandy.

Os professores da escola de Leamy
tinham correias e ponteiros.

Batiam-nos se n�o soub�ssemos
que Deus criou o mundo,

ou qual era o santo padroeiro de Limerick.

Batiam-nos se n�o soub�ssemos
rezar a Av� Maria,

ou pedir em irland�s para ir aos lavabos.

Batiam-nos se nos r�ssemos,
atras�ssemos ou fal�ssemos.

Um deles batia se n�o soub�ssemos
que Eamon de Valera...

era o maior homem que jamais existira.

Outro batia se n�o soub�ssemos
que Michael Collins...

era o maior homem que jamais existira.

�s um mau americano.

Que �s tu?

Chamaram-nos forasteiros.

Era a brincar.

Acabaram-se as brincadeiras.

- Eles n�o t�m culpa de ser americanos.
- Pois n�o.

Devias ajoelhar-te e agradecer a Deus
por n�o seres americano.

Se fosses, era o Al Capone em pessoa
que te dava a li��o.

Sei que o Oliver morreu.

O Malachy sabe que o Oliver morreu,

mas o pequeno Eugene s� tem dois anos
e � muito pequeno para perceber.

N�s fazemo-lo rir, com caretas,
vasos na cabe�a,

levamo-lo ao parque,
mostramos-lhe as flores.

O meu pai diz que ele tem sorte
por ter dois irm�os como n�s.

Mesmo assim, morreu.

Por favor, Deus.

� isto que Tu queres, �?

N�o devo questionar isto, pois n�o?

Levaste o meu filho...

Oliver.

Levaste o irm�o dele, Eugene.

Levaste a linda irm�zinha deles,
Margaret Mary.

Meu Deus do C�u,

porque queres que morram as criancinhas?

Por favor, Deus, n�o deixes que o Malachy,
eu e o resto da fam�lia...

sejamos levados nas caixas
para o buraco na terra.

Nem a tia Aggie,
ou o Sr. Benson da Escola de Leamy.

Em nome do Pai,
do Filho e do Espirro Santo.

Vou j�.

N�o, esse � o caix�o do Eugene.

Vou dizer � m�e que p�s a cerveja
em cima do caix�o dele.

Bebe mais uma.

Podes esperar um bocadinho, l� fora?

- N�o!
- Se fosse meu filho...

dava-lhe a�oites daqui at� County Kerry.

Se um homem n�o pode beber uma cerveja
no dia de um funeral...

de que serve viver?

N�o podia ficar nem mais um minuto
naquele quarto.

Via os meus g�meos dia e noite.

Se n�o tiv�ssemos mudado,
teria perdido o ju�zo...

e acabado num manic�mio.

Lamento, mas...

foi s� h� cinco meses. E antes disso...

perdi a minha menina em Nova Iorque.

Tenho aqui os dois rapazes.
E mais um a caminho.

Queira fazer o favor de sentar.

Obrigada.

Tem um belo casaco.

Ofereceu-mo o meu primo em Brooklyn.
N�o � novo.

"McCourt." N�o � um nome de Limerick.

Onde arranjou um nome desses?

� do meu marido. Ele � do Norte.

Porque n�o vai a Belfast
e v� o que eles l� podem fazer por si?

N�o sei.

� claro que n�o sabe.
H� muita ignor�ncia no mundo.

Eu disse que h� muita ignor�ncia
no mundo.

E que quer de n�s?

N�o h� um m�vel na casa nova.

O seu marido tem trabalho?

N�o, est� no desemprego.

Damos-lhe um vale para uma mesa,
duas cadeiras e duas camas.

Pode ir busc�-las
� loja de segunda-m�o em Irishtown.

Desculpe, mas as camas
s�o em segunda-m�o?

Claro que sim.

Preocupa-me dormir
em camas de defuntos.

Especialmente se morreram
de tuberculose.

Quem mendiga n�o escolhe.

Obrigada.

O lume j� est� bom.

Olha que � a minha mulher.

Quem �?

Esse � o Papa Le�o XIII...

que era um grande amigo
dos homens trabalhadores.

Encontrei-o num beco em Brooklyn,
no lixo de algu�m.

Sem d�vida de algum idiota que n�o
tinha tempo para os trabalhadores.

Que fedor � este?

Que est� a fazer?

Porque despeja o seu balde
nos nossos lavabos?

Nos seus lavabos? N�o.
Deve estar enganado.

Estes lavabos pertencem a toda a viela.

Todos os dias, os baldes de 11 fam�lias
s�o aqui despejados.

Cheira pior quando faz calor.

T�o mal que tem de usar
uma m�scara anti-g�s.

Boa noite a todos.

Felicidades na nova casa.

Muito obrigado.

O homem grande conheceu esta mulher...

e Ele fez com que crescesse
uma barba enorme na cara dela...

e depois casaram-se.

Mud�mos de casa outra vez?

N�o, eles n�o iriam sem o Papa.

Olhem como est�o!
Parecem uns ratos molhados.

Tirem a roupa molhada,
enxuguem-se junto ao lume...

e cumprimentem o vosso irm�o Michael.

� mais gordo que o Menino Jesus.

� a cara chapada da vossa irm� morta,

com uns lindos olhos azuis
e umas sobrancelhas maravilhosas.

Porque estamos c� em cima?

L� em baixo h� muita humidade.
Ainda nos mata, um a um.

Aqueles lavabos podiam matar-nos
com doen�as.

Foi a humidade que matou
os vossos irm�ozinhos.

Aqui estaremos secos.
Na Primavera iremos l� para baixo.

� como ir de f�rias para um belo
e quente pa�s, tal como a It�lia.

- It�lia?
- � como se estiv�ssemos em Sorrento.

Isto � mais parecido com Calcut�.

- E o Papa?
- Esquece-o. Fica l� em baixo, na Irlanda.

J� viste o estado dos sapatos
dessas crian�as?

N�o posso ir pedir botas a S. Vicente.

Estou muito fraca para estar de p� na
fila.

Uma mulher teve trig�meos
enquanto esperava naquela eterna fila.

N�o tens uma ponta de orgulho?
A mendigar desse modo?

Que faria o "Sr. Superior"?

Ficariam descal�os antes que
levantasses o rabo. Estupor in�til.

Certo.

"Estupor in�til", n�o �?

Vamos ver.

Pobre, eu sou.

Azarento,

eu sou.

Mas in�til,

n�o sou.

Olhem para aqueles sapatos!

- Onde est�o os vossos sapatos?
- N�o sei.

Claro que sabes. Onde est�o?

A tua m�e n�o te cal�ou os sapatos,
esta manh�?

Vieste para a escola sem sapatos?

Nunca te disseram
que n�o podes andar descal�o?

Eu ensino-te a n�o andares descal�o.

Cal�a-os.

Calados!

Ou�o algu�m a zombar nesta sala?

Ou�o algu�m a gozar da desgra�a alheia?

H� aqui algum rapaz
que se considere perfeito?

Se houver, levante o bra�o.

Algum de voc�s tem dinheiro suficiente
para gastar em sapatos?

Levantem o bra�o.

N�o.

H� rapazes nesta classe
que n�o t�m nem um par de sapatos...

e a culpa n�o � deles.

N�o � raz�o para vergonha.

O Nosso Senhor n�o tinha sapatos.

Morreu descal�o.

N�o o v�em pendurado na Cruz
de sapatos cal�ados.

- Pois n�o?
- N�o!

Como n�o v�em o Nosso Senhor?

Pendurado na Cruz de sapatos cal�ados.

"Pendurado na Cruz de sapatos cal�ados",
o qu�?

Pendurado na Cruz
de sapatos cal�ados, senhor.

Todos os dias o meu pai procurava
trabalho, mas nunca conseguia arranjar.

Temos suficientes.

A m�e dizia que era por causa
do sotaque do Norte.

N�o h� trabalho. Lamento.

A av� dizia que era por causa
dos seus modos estranhos.

O meu pai conhecia as vielas de Limerick
como a palma da m�o.

Caminhava por elas
quando n�o arranjava trabalho...

e tinha vergonha
de voltar para a minha m�e.

Era por isso que ador�vamos a P�scoa.

Porque foi quando o meu pai
arranjou o primeiro trabalho.

Seria melhor se n�o me estrangulasses.

P�ra com isso.

Era s� um trabalho na f�brica de cimento,
mas ainda assim usava colarinho e gravata.

Dizia que um homem sem gravata
n�o tinha respeito por si pr�prio.

Vamos.

"Na pris�o de Mountjoy

"Uma segunda-feira de manh�

"No alto da �rvore da forca

"Kevin Barry deu a sua jovem vida

"Pela liberdade"

Enfia uma rolha na boca!

H� quem trabalhe amanh� de manh�!

"Por�m ningu�m pode negar

"Que enquanto caminhava para a morte

"Orgulhosamente erguia a cabe�a

"De cabe�a erguida"

Venham c� abaixo.
Tenho a vossa moeda das sextas-feiras.

N�o. Est� quieto.

Acordem!

Os Cavaleiros Red Branch!

Os homens fenianos!

O glorioso IRA!

Acordem!

Tenho a vossa moeda das sextas-feiras.

Alinhem-se como soldados...

e jurem morrer pela Irlanda.

- Eu n�o a quero.
- Nem eu.

Raios!

Quando acord�mos no dia seguinte,
ele ainda estava a dormir.

N�o foi trabalhar e perdeu o emprego.

Que tenho aqui, Clohessy?

Tiras de jornal.

E que representam?

Peda�os do di�rio de Limerick.

N�o!

O Corpo e Sangue de Cristo.

Se n�o prestas aten��o,
recebes a Extrema Un��o...

e n�o a Santa Comunh�o.

O Irland�s � a l�ngua dos patriotas...

e o Ingl�s, dos traidores e informadores.

Mas o Latim, o Latim...

era o que os santos m�rtires falavam
antes de padecer...

nas bocas espumosas de le�es famintos.

Sim.

� o Latim que d� a entrada no C�u.

Mas h� rapazes nesta classe...

que nunca conhecer�o
a gra�a da santifica��o.

E porqu�?

Por causa da gan�ncia.

Esses pequenos patifes gananciosos
s� pensam...

no dinheiro que ganhar�o com a colecta.

Ir�o de casa em casa,
com os seus belos fatinhos, como pedintes.

Meter�o de parte algum dinheiro...

para enviar aos pobres pretinhos
africanos, tal como deviam?

N�o.

Gastar�o o dinheiro no cinema,
a Primeira Comunh�o ir�...

rebolar na repugnante porcaria,

no vomitado espalhado pelo mundo,
dos seguidores do Diabo...

de Hollywood.

N�o � assim?

- Sim, senhor.
- N�o fales!

N�o v�s que Deus est� na tua l�ngua?

Onde est� Deus?

Na l�ngua dele.

O meu amigo, Mikey,
falou-nos do dinheiro que far�amos...

na colecta ap�s a Primeira Comunh�o,

quando bat�ssemos � porta dos vizinhos...

e nos dessem cinco xelins
para doces, bolos...

e at� mesmo para ir ao Cinema L�rico,
ver o James Cagney.

- J� o vi tr�s vezes.
- Que acontece?

O Mikey tamb�m era perito,
em corpos femininos...

e coisas indecentes em geral.

Em cima, t�m umas coisas moles
chamadas mamas.

E nas pontas, umas coisas vermelhas
que parecem narizes de c�o.

Em baixo,
� uma coisa completamente diferente,

n�o t�m uma pilinha. Nada disso.

Que t�m?

Posso dizer-te,
mas acho melhor ele n�o ouvir.

Vai-te embora.

Em nome do Pai,
do Filho e do Esp�rito Santo.

Aben�oe-me, Padre, porque pequei.
Esta � a minha primeira confiss�o.

Sim, meu filho.

Que pecados cometeste?

Disse uma mentira, bati no meu irm�o,

roubei uma moeda � minha m�e
e comi uma salsicha � sexta-feira.

Sim, mais alguma coisa?

Ouvi coisas indecentes
sobre as raparigas das vielas,

que n�o se preocupam com o que fazem,

porque j� fizeram tudo
com os pr�prios irm�os.

Quem te contou isso?

O Mikey Molloy.

Como penit�ncia,
reza tr�s Av� Marias, tr�s Pais Nossos...

e uma ora��o especial por mim.

Sou um dos seus piores rapazes?

N�o. Tens uma longa lista � tua frente.

Acordem!

A sua Primeira Comunh�o,
o dia mais feliz da sua vida...

e voc�s ainda a ressonar.

Voc�s dois, levantem-se. V�.

Olha para ele.
Uma barra de sab�o teria um bom uso.

Vou ficar em carne viva.

� do teu sangue da Irlanda do Norte.

Atrai a sujidade.

Tens a boca suja do teu pai.

Est� fria!

Dentro das orelhas tens terra suficiente
para plantar batatas.

Olhem para este cabelo! N�o assenta.

N�o herdaste este cabelo
do nosso lado da fam�lia.

� cabelo da Irlanda do Norte,
herdaste-o do teu pai.

� como o de um presbiteriano.

Pode parar de me cuspir em cima?

Uma cuspidela n�o te matar�.

Se a tua m�e tivesse casado
com um homem decente de Limerick,

n�o terias este cabelo espetado
e protestante da Irlanda do Norte.

E n�o estar�amos atrasados.

Corpus Christi.

Podes parar de mascar
e voltar para o teu lugar?

Posso ir fazer a colecta?

Quero ir ao L�rico ver o James Cagney.

N�o podes fazer a colecta,

enquanto n�o tiveres tomado
o pequeno-almo�o.

Olhem para ele!
Tem os modos de um porco.

Come como um presbiteriano.

Achas que sou milion�ria? Uma americana?

Ainda h� ch�?

- Sim.
- Era capaz de beber uma ch�vena.

Est�s bem?

- Que tens?
- Que se passa com aquela crian�a?

Olhem o que fez!
Vomitou o Corpo e Sangue de Jesus.

Que posso fazer?
Tenho Deus no meu p�tio!

Vou levar-te ao padre.

Fizeste uma coisa muito feia no meu p�tio.

Em nome do Pai,
do Filho e do Esp�rito Santo.

Aben�oe-me, Padre, porque pequei.

Passou um dia,
desde a minha �ltima confiss�o.

Um dia?

Que pecados cometeste num dia?

Adormeci e quase perdi
a minha Primeira Comunh�o.

Tinha o cabelo em p�
como um protestante...

e vomitei o pequeno-almo�o
da minha Primeira Comunh�o.

Agora, a minha av� diz que tem Deus
no p�tio e quer saber o que deve fazer.

Diz � tua av� que o lave com �gua.

�gua benta ou normal?

- Ele n�o disse.
- Volta l� e pergunta-lhe.

Em nome do Pai,
do Filho e do Esp�rito Santo.

Perdoe-me, Padre, porque pequei.

Passou um minuto
desde a minha �ltima confiss�o.

Um minuto?
�s o rapaz que aqui esteve agora mesmo?

Sou.

Que foi desta vez?

A minha av� pergunta:
"�gua benta ou normal?"

Ele disse: "�gua normal
e n�o o v� incomodar de novo."

Incomod�-lo?

Velho idiota e ignorante.

N�o houve tempo para a colecta.
Nem uma moeda.

Ent�o o Mikey fingiu
que estava a ter um ataque...

para que eu pudesse entrar
quando n�o estivessem a olhar.

- Depressa, est� a ter um ataque!
- Est� bem?

Sr. O'Brien, r�pido!

V� se n�o engole a l�ngua.

- N�o. Fa�o o que for preciso.
- N�o, n�o fazes.

Tiveste a tua �ltima chance.
Podes levar isto contigo.

D�-lhe um tiro!

S� tinhas de me matar.

- Queres um rebu�ado?
- Obrigado.

Ainda bem que fiz a Primeira Comunh�o.

Ainda bem que despachei
a minha primeira confiss�o.

Agora posso crescer livremente.
Pelo menos, posso fazer 10 anos.

Estou com idade para passar
pelo �ltimo mart�rio do crescimento.

Pior do que entrar no ex�rcito, na
pol�cia,

ir para a Austr�lia
ou tornar-me numa freira em �frica.

Pior do que tudo isso,
tinha de aprender as dan�as irlandesas.

N�o quero aprender.

Para que fez isso?
S� n�o quero aprender a dan�ar.

Para cima e para tr�s, um, dois.

Levanta os p�s, pelo amor de Deus.

Um, dois, tr�s. Para cima e para tr�s.

Se os meus amigos me vissem
a fazer figura de parvo...

nas dan�as irlandesas,
estaria lixado para sempre.

Quero ser o Fred Astaire.

Os dan�arinos irlandeses
parece que t�m paus enfiados no rabo.

Podes tirar as trombas?

Tens um trombil at� aos joelhos.

Quando voltei �s li��es de dan�a,
dei de caras com o Paddy Clohessy.

- Ol�.
- Ol�, tudo bem?

- C� vou indo. E tu?
- Lindamente. Apanha.

Estou a avisar-te,

dan�ar � para maricas.
Nunca mais conseguir�s jogar futebol.

- N�o?
- N�o, ficas a correr como uma menina.

- Cala-te.
- Todos se v�o rir de ti.

- V�o?
- Sim.

Vais acabar na cozinha a tricotar meias.

Acabei com a dan�a.

Todos os s�bados, as seis moedas
da minha m�e nos levavam ao L�rico...

e ainda sobrava o suficiente
para nos encher a boca de rebu�ados.

Estava t�o feliz que n�o sabia o que
fazer.

Ficava com o dinheiro,
faltava �s li��es de dan�a e ia ao cinema.

Em casa, inventava as dan�as...

e fingia que tinha um ati�ador
enfiado no rabo.

Assim � que �.

E Hitler mostra-se como � na realidade.

Marchando com as suas tropas
por Rhineland,

desafiando os termos
do Tratado de Versailles.

A su�stica espalha a sua sombra mal�fica.

De que serve Euclides, quando os alem�es
est�o a bombardear tudo o que v�em?

De que serve Euclides?

Sem Euclides...

os Messerschmitt
nunca poderiam ter levantado voo,

nem rasgado o c�u...

a bombardear massivamente os ingleses,

que o merecem, depois do que fizeram
aos irlandeses durante 800 anos.

Euclides � gra�a, beleza...

e eleg�ncia.

Perceberam?

Sim, senhor.

Duvido.

Amar Euclides � estar s� neste mundo.

Tu.

Quem ficou aos p�s da Cruz
quando o Nosso Senhor foi crucificado?

Os Doze Ap�stolos?

Qual � a palavra irlandesa para "idiota"?

"Omadhaun."

Sei quem ficou aos p�s da Cruz.
Foram as tr�s Marias.

Este � o Fintan Slattery.

Ser� um santo quando crescer.

Todos sabem que dorme
com a camisa de noite da irm�...

e que faz carac�is com ferros quentes,

para ficar todo bonito
na missa de domingo.

N�o admira que fiz�ssemos gazeta.

Galinhas!

Despacha-te. N�o as consigo segurar.

Vou matar-te!

N�o h� nada melhor no mundo...

do que uma boa refei��o de ma��s,
um copo de �gua,

cagar bem e ter muita erva
para limpar o rabo.

R�pido, limpa o rabo. Est� na hora do
leite!

Esperas por mim? Espera.

Est�s a fazer mal. Tens de puxar...

- Cala-te!
- Tens de espremer para baixo.

- Cala-te!
- N�o fa�as isso!

- Desapare�am, seus sacaninhas!
- Corre!

Dou-vos tantos a�oites,
que nem saber�o de onde vieram.

Toma, porquinho.

O Mikey convenceu-nos
a ir a casa do Peter Dooley.

O Peter tem uma corcunda,

como a que tinha o Charles Laughton,
no Corcunda de Notre Dame.

Era por isso
que lhe chamavam "Quasimodo".

Ele tem quatro irm�s
com mamas enormes.

� um xelim pelos tr�s.

Subam pelo cano e olhem.
Nada de masturba��es.

Tenho as minhas irm�s.
Porque deveria pagar para ver as tuas?

Porque ver as nossas irm�s nuas
� o pior pecado que existe.

Nenhum bispo no mundo
te perdoaria por isso.

Que consegues ver?

- � maravilhoso.
- Consegues ver as mamas delas?

J� disse, nada de masturba��es.

� maravilhoso.

Nada de masturba��es.

Bando de pervertidos!

Vamos!

As minhas filhas nem sequer
se podem lavar numa sexta � noite!

Pobre Quasimodo. Tinha raz�o.

Ver as nossas irm�s nuas
� o pior pecado de todos.

Excepto quando se cobra um xelim
pelo prazer. Isso � ainda pior.

"Introibo ad altare dei." E tu dizes?

"Ad deum qui laetificat juventutem meam."

Certo. "Introibo ad altare dei." E tu
dizes?

"Ad deum qui laetificat juventutem meam."

Muito bem. Outra vez.

Ol�. Como est�?
Este � o meu filho, Francis.

Sabe recitar Latim
e est� pronto para ajudar � missa.

Lamento. N�o temos vagas.

N�o te preocupes.

Disse que n�o tinha vaga para ele.

Eu digo-te o que �.

� distin��o de classes.

N�o querem rapazes de rua no altar.

N�o querem os que t�m os joelhos sujos...

e as cal�as a ca�rem-lhes do rabo.

Querem rapazes com belos sapatos,
de cabelo lavado...

filhos de pais com um emprego est�vel.

E n�o de in�teis como tu.

� o que �.

E � dif�cil aguentarmos s� com a nossa f�.

Pagas cervejas a desconhecidos
que te dizem que �s um grande homem,

enquanto os teus filhos
est�o em casa de barriga vazia.

Sim, tens raz�o.

Vou arranjar trabalho. Prometo.

Se arranjares,
perd�-lo-�s na terceira semana,

porque ter�s bebido todo o ordenado...

e faltado ao trabalho.

Sobreviveremos.

Vou mudar.

O subs�dio s�o 19 xelins e a renda s�o 6.

Sobram 13 xelins
para alimentar e vestir 5 pessoas.

Deus � bom, tu sabes.

Pode ser bom para algu�m,

mas ultimamente n�o tem passado
pelas vielas de Limerick.

Podes ir parar ao Inferno por dizeres
isso.

N�o estou j� l�?

Anda c�.

E mais uma vez, os anjos deixaram
um novo beb� nas escadas.

Que nome lhe vais dar?

- Gosto de Kevin ou Sean.
- H� muitos.

Se gritares l� fora:
"Kevin, Sean, hora do ch�"...

ter�s meia Limerick a vir ter contigo.

- Gosto de Alphonsus.
- "Alphonsus"?

Que nome mais est�pido.

- Jesus!
- N�o praguejes.

Podes deixar o mi�do em paz?

Quantos mais beb�s
os anjos deixariam nas escadas?

Mais algu�m
com quem dividir o meu jantar.

Para que fizeste isso?

N�o te rias. Agora j� sabes como �.

Pelo menos, o meu av� do Norte mandou
cinco libras pelo novo beb�, o Alphie.

V�o para casa e digam � vossa m�e
que j� vou.

N�o pode ir para o bar. A m�e disse
para levar o dinheiro para casa.

- N�o pode ir beber cerveja.
- Ou�am.

V�o ter com a vossa m�e.

D�-nos o dinheiro.
Esse dinheiro � para o novo beb�.

Por favor.

V�o para casa!

Podes chegar aqui?

Quero que v�s ao South's Pub,
que te ponhas l� no meio...

e que digas a toda a gente que o teu pai
est� a beber o dinheiro do beb�.

Diz a todos que n�o h� comida nesta casa.
Que n�o h� uma pedra de carv�o.

Nem sequer h� uma gota de leite
para dar ao beb�.

Tenho o cora��o acelerado
e s� me apetece...

dar-lhe um belo pontap� na perna e fugir.

Mas n�o o fa�o.

Porque me lembro dos bons momentos,
sentados junto ao lume,

em que me contava as suas hist�rias
de Cuchulain, de Roosevelt e de Valera.

Mais tarde, estaria em casa a cantar
e pagar-nos para morrer pela Irlanda.

Desta vez vai ser diferente.

Porque j� � muito mau
beber o subs�dio ou o ordenado,

mas um homem que bebe o dinheiro
do novo beb�, ultrapassa todos os limites.

N�o o encontrei.

Vai para a cama.

Com a Crisma...

tornar-se-�o soldados da Igreja.

Isso d�-vos o direito
de morrer como um m�rtir...

no caso de sermos invadidos
pelos protestantes,

pelos isl�micos,
ou por qualquer outra classe de pag�os.

Receber�o as ofertas...

do Esp�rito Santo.

Sabedoria,

compreens�o, aconselhamento.

Qual � a terceira Esta��o da Cruz?

Quando Jesus cai pela primeira vez.

Qual � o Quarto Mandamento?

"Honra o teu pai e a tua m�e."

Est�s bem?

O padre Gorey est� a tocar-me
com �leo e a rezar...

isso significa que vou morrer.

Mas n�o quero saber.

Veio o Dr. Campbell e segurou-me na m�o.

Foi quando percebi que iria melhorar.

Porque um m�dico nunca se peidaria
na presen�a de um rapaz moribundo.

Deram-me um corpo novo,
cheio de sangue.

A irm� Rita disse que era de um soldado
de Sarsfield Barracks.

�s um grande soldado.

Que se passa comigo?

Tiveste a febre tif�ide.

N�o v�.

J� �s um rapaz crescido.

E lembra-te que tens o sangue
de um soldado nas veias.

O pior j� passou.

Em breve estar�s em casa, em Sorrento.

Foi a primeira vez
que o meu pai me beijou.

Fiquei t�o feliz
que podia ter voado da cama.

Esperava sempre,
que os m�dicos e as enfermeiras,

me deixassem s�
para poder ler os meus livros.

Adorava ter os meus pr�prios lavabos
onde podia ler durante horas seguidas.

"Morrer, dormir.
Dormir e talvez sonhar.

"Ai, mas aqui � que est� o dif�cil."

Morreste?

N�o � fant�stico, Seamus? � Shakespeare.

Adorava Shakespeare.

Era como ter j�ias na boca
quando recitava as palavras.

"Acredito,
Induzido por fortes circunst�ncias...

"que a vossa arte, meu inimigo..."

- Adeus!
- Olha o Frankie.

Mas tinha saudades dos meus pais,
do Malachy,

do pequeno Michael e do beb�, Alphie,
s� Deus sabe porqu�.

- Podes despachar-te?
- Adeus.

Foi um dia feliz
quando finalmente regressei a casa.

- Ol�.
- Bem-vindo a casa.

�s um grande soldado.

Um orgulho para os teus pais.

Bem-vindo.

� bom ter-te de volta, Soldado.

Obrigado, Sra. Purcell.

�s um grande homem.

Francis, meu filho.

Mas mal vi o meu pai
com o Alphie ao colo,

senti um vazio no cora��o, pois percebi
que estava de novo desempregado.

Bem-vindo.

- � bom ver-te.
- A si tamb�m.

Senta-te um bocadinho.

A m�e da Santa Wilgefortis
teve nove filhos.

Mas mesmo assim, gostava de ter
o meu pai s� para mim, todas as manh�s.

Adorava as suas hist�rias de carros
e avi�es que andavam debaixo de �gua.

De submarinos que voavam...

e de ursos polares que lutavam
com elefantes, na Lua.

O meu pai era a Sant�ssima Trindade,
com tr�s pessoas dentro.

Uma que de manh� bebia ch�,
fumava cigarros e nos contava hist�rias.

A outra, que tentava encontrar trabalho
e nunca conseguia.

E a outra, que voltava para casa � noite,
a cheirar a u�sque.

Mas ele leu, enquanto esteve no hospital.

Lamento, Sra. McCourt.
Perdeu mais de dois meses de aulas.

Vai ter de voltar para a quinta classe.
Lamento muito.

N�o quero voltar para a quinta classe.

O Malachy est� na quinta classe
e eu sou um ano mais velho.

V� l�.

Todos os meus amigos se v�o rir de mim
porque chumbei um ano.

Precisava de um milagre...

e aconteceu ali mesmo, � frente
do Pub Nossa Senhora da Liberdade.

Olhei para ela. Ela sorriu.

E quando olhei para baixo,
ali estava, uma moeda.

Com a moeda comprei uma vela...

e rezei a S. Francisco,
para me tirar da classe do meu irm�o.

Tira esse ar triste da cara,

ou sentir�s a ponta do meu ponteiro.

O Francis McCourt vai mostrar-vos...

como aprendeu a escrever bem,
nesta classe no ano passado.

Vai escrever uma composi��o
sobre o Nosso Senhor.

N�o vais? Ele vai-nos contar...

como teria sido, se o Nosso Senhor
tivesse crescido em Limerick,

a cidade mais santa da Irlanda.

O pai de Wilgefortis queria cas�-la
com o rei da Sic�lia,

mas a bela Wilgefortis...

n�o queria casar com aquele velho nojento.

E McCourt marca um golo brilhante.

Diziam que Limerick
era a mais santa das cidades,

mas todos sabiam por que raz�o
as pessoas estavam sempre na igreja.

Era porque estava sempre a chover...

e ficavam l� dentro para n�o se molharem.

O nome da minha composi��o �...

"T�tulo." O t�tulo.

O t�tulo da minha composi��o
� "Jesus e o Clima".

O qu�?

"Jesus e o Clima."

Est� bem, l�.

"Penso que Jesus, o Nosso Senhor,
n�o teria gostado do clima de Limerick...

"porque est� sempre a chover
e o rio Shannon enche a cidade de lama.

"O meu pai diz que o Shannon
� um rio assassino...

"porque matou os meus dois irm�os.
Quando vemos imagens de Jesus,

"ele est� sempre a caminhar por Israel,
com um len�ol vestido.

"Ali nunca chove
e nunca se ouve ningu�m a tossir,

"a apanhar tuberculose, nem nada disso.

"E ali ningu�m trabalha,
tudo o que fazem � andar por ali,

"comer o que lhes cai do c�u,
dar apertos de m�o e ir a crucifica��es.

"Sempre que Jesus tinha fome,
s� tinha de ir...

"a uma figueira ou a uma laranjeira
para se saciar.

"Se quisesse uma cerveja,
bastava-lhe tocar num copo...

"e l� estava a cerveja.

"Ou podia ir visitar Maria Madalena
e a sua irm� Marta...

"e elas davam-lhe de jantar,
sem questionar.

"Ainda bem que Jesus decidiu
nascer judeu, naquele quente e belo lugar,

"porque se nascesse em Limerick,
teria apanhado tuberculose...

"e teria morrido num m�s.
N�o teria existido a Igreja Cat�lica...

"e n�s n�o ter�amos de escrever
composi��es sobre ele. Fim."

Foste tu que escreveste esta composi��o?

Fui.

O milagre funcionou.
Estava de volta � minha antiga classe.

Estudem.

� o vosso tesouro...

e ningu�m no mundo pode interferir nisso.

Encham a cabe�a de disparates
e ela apodrecer�.

Podem ser pobres, ter os sapatos rotos...

mas a vossa cabe�a,

a vossa cabe�a � um pal�cio.

O McCourt apanha a bola,
finta um jogador,

finta o segundo.

Peggy!

Sean!

Venham tomar o ch�.

Venham comer a bela perna de borrego,

as lindas ervilhas
e as batatas enfarinhadas.

Podes estar calada, mulher?

� vil atormentar os vizinhos quando
estes n�o t�m mais do que p�o e ch�.

Vai trabalhar para Inglaterra,
como os outros.

Ajudar a Inglaterra na guerra?

N�o lhes daria
nem o vapor da minha urina.

Preferes beber o subs�dio...

e ver os teus filhos em pele e osso,

com as cal�as a ca�rem-lhes do rabo.

Kathleen, vem tomar ch�.

Se pudesse trabalhar, estaria nas
f�bricas.

Uma f�brica n�o � lugar para uma mulher.

De cu sentado n�o � o lugar de um homem.

E o jogo recome�a na segunda parte.

Ele tem a bola. Vai a correr.

Tiraste-lhe a bola.

Sai de cima de mim, sim?

Estou esgotada.

Para mim acabou-se.
N�o quero mais crian�as.

Uma boa mulher cat�lica
devia cumprir os seus deveres de esposa.

Vai-te lixar!

Enfrentar�s a condena��o eterna.

Desde que n�o venham mais crian�as,
a condena��o eterna para mim est� bem.

Vamos. V�o perder o comboio.
V�o perder bons empregos.

Em Inglaterra,
tamb�m h� Guiness e Jameson.

Certo.

Lembrem-se dos vossos deveres religiosos.

Acima de tudo, obede�am � vossa m�e,
est� bem?

Agora �s tu o homem da casa.

Cuida-te.

V� l�. Vamos.

A m�e disse que era s� esperar
duas semanas...

pelo telegrama com o pagamento.

Em breve ter�amos dinheiro
para botas novas, casacos,

fiambre, couve e batatas para jantar,

luz el�ctrica e talvez uns lavabos
como os que existem na Am�rica.

Com o pai em Inglaterra,
os nossos problemas acabariam de certeza.

De certeza.

Muito obrigada.

L� est� ele!

Espera! Chegou o nosso?

- N�o.
- De certeza? � o nosso primeiro telegrama.

Deve ser de tr�s libras ou mais.

- Lamento.
- Podes ver mais uma vez na tua bolsa?

J� o fiz. N�o tenho nada para voc�s.

Mendigar restos � pior que o subs�dio.

Pior que a caridade de S. Vicente de
Paulo. � a minha pr�pria m�e a mendigar.

� a pior vergonha que existe.

Mendigar os restos do jantar dos padres.

Como pedintes nas esquinas das ruas,
com crian�as nojentas ao colo.

� pior do que pedir dinheiro
� Sra. Finucane, a agiota.

S� havia uma coisa a fazer.
Eu tinha de arranjar trabalho.

Esta � a melhor manh� de todas,
s�bado � s� meio dia.

Come�amos �s 8:00 e acabamos
quando os sinos tocarem �s 12:00.

O homem que entregou 800 kg de carv�o
merece uma cerveja.

E o rapaz que o ajudou
merece uma limonada.

Os teus olhos est�o muito mal!
Parecem dois buracos de mijo na neve.

- � o p� do carv�o, tio Pa.
- �s um grande homem e bom trabalhador.

Podes ajudar-me �s quintas-feiras
depois da escola.

Um xelim para ti.

Vais poder beber mais.

Ainda te vai tirar o lugar, John.

Ele chamava-me Frank e n�o Frankie.

Pela primeira vez, sinto-me um homem.

Um homem com um xelim no bolso.

Um homem
que tomou uma bebida num bar.

Ganhei um xelim.

Toma duas moedas
e leva o Malachy ao L�rico.

�s um tesouro. Merece-lo.

Deus do c�u, olha para esses olhos.

Um xelim do Sr. Hannon
e quatro de gorjetas.

Vai ao espelho ver o estado
em que tens os olhos.

Acabou-se. N�o h� mais Sr. Hannon.

O Sr. Hannon precisa de mim.

Tenho muita pena dele,
mas j� temos problemas que cheguem.

A �ltima coisa que preciso
� de um filho cego.

Vai lavar os olhos e podes ir ao L�rico.

Que est� a acontecer?

O homem est� a enfiar um punhal
na barriga da senhora simp�tica.

- H� sangue por todo o lado?
- N�o. Ela est� a mostrar um anel m�gico.

N�o consigo ver nada.

O m�dico disse que era o pior caso
de conjuntivite que alguma vez viu.

Quanto tempo vai ficar assim?

S� Deus sabe.
Devia ter visto esta crian�a meses atr�s.

Acabaram-se os meus dias de trabalho.

Olhos bem abertos. Mais. O mais poss�vel.

Se o meu pai aqui estivesse...

Ele n�o vem.

Deve ter adormecido numa carruagem.

Vamos para casa. Ele n�o vem.

Ele disse na carta
que vinha dois dias antes do Natal.

Se calhar o barco de Holyhead atrasou-se.
E pode ter perdido o comboio.

O mar irland�s nesta �poca � perigoso.

N�o quer saber de n�s.
Est� b�bado em Inglaterra.

N�o fales assim do teu pai.

- Botas!
- Para mim!

Pr�xima.

Onde est� o seu marido?

- Em Inglaterra.
- Em Inglaterra, �?

E onde est� o telegrama semanal?
As belas cinco libras?

Nunca nos mandou nem uma moeda.

Todos sabemos porqu�, n�o �?

N�o.

Todos n�s conhecemos algu�m...

que tenha ficado por l�
com uma prostituta de Piccadilly, n�o �?

Ele n�o est� em Piccadilly,
est� em Coventry.

A m�e foi outra vez pedir
a S. Vicente de Paulo.

Conseguiu um vale de comida para,
pelo menos, termos ceia de Natal.

Na v�spera de Natal o nosso vizinho,
Walter o Cavalo, morreu.

E o nosso pai voltou.

� o pai!

Esper�vamos-te ontem.

Que te aconteceu?

O mar estava muito picado, sabes como �.

Bati com a cabe�a. Quase ca� ao mar.

N�o ter� sido uma briga, n�o?
N�o ter� sido dos copos?

Disse que nos trazia qualquer coisa.

E trouxe.

Deu-te a fome no barco, foi?

Comemo-los amanh�
depois da ceia de Natal.

Trouxeste algum dinheiro?

Bebeste o dinheiro, n�o foi?

Bem, s�o tempos dif�ceis.
H� pouco trabalho.

- Bebeu o dinheiro?
- Bebeu o dinheiro.

Eles j� n�o t�m respeito pelo pai?

- Tenho de ir ver uma pessoa.
- Vai...

mas nem penses em voltar b�bado,
a cantar as tuas est�pidas cantigas.

Come alguma coisa. � Natal.

N�o tenho fome.

Mas se ningu�m quiser,
como um dos olhos do borrego.

Os olhos n�o.

- N�o.
- Que se passa com voc�s?

N�o vai comer isso, pois n�o?

- � nojento.
- �ptimo.

Os olhos s�o muito nutritivos.

Certo.

Onde vais?

Vou para Londres.

No dia de Natal?

� o melhor dia para viajar.

Quem vai de carro est� disposto
a dar boleia at� Dublin, a um trabalhador.

Pensa nas dificuldades da Santa Fam�lia
e sente-te culpada.

Como chegar�s a Holyhead?

Como vim.

H� sempre um momento
em que ningu�m est� a olhar.

Certo.

Portem-se bem. Rezem.

Obede�am � vossa m�e.

Eu escrevo.

Toma, passa-os.

Apanhei uma noz.

Eu n�o. Porque � que o Frankie
apanha sempre uma noz?

- As nozes fazem bem aos olhos.
- Eu tenho uma Turkish delight.

A noz far� os olhos dele melhorarem?

- Sim.
- Um olho ou os dois?

Acho que os dois.

Se tivesse uma noz, dava-ta. A s�rio.

Eu e o Michael podemos comer
mais um chocolate? S� mais um.

Se estivesse na Am�rica, podia dizer:
"Amo-te, pai",

como eles fazem nos filmes.

Mas em Limerick, todos gozariam.
S� se pode dizer...

que se ama Deus,
beb�s e cavalos que vencem corridas.

Mais do que isto significa loucura.

Vai para casa.

Na semana a seguir,
chegou um telegrama com tr�s libras,

para n�s foi o para�so.

No s�bado a seguir,
n�o chegou nenhum telegrama.

Nem na semana a seguir.

Nem em mais nenhum s�bado.

Que est�o a fazer?

Lenha para a lareira. Est� um gelo.

V� l�, d�-nos uma ajuda, sim?

Toma o Papa.

P�e o Papa em cima da cama.

- �s tu, Frankie?
- Sim, Sra. Purcell.

Entra, sai do frio.

Est�s a gelar com este frio.

N�o � maravilhosa a r�dio?

�, sim.

Consegues imaginar
os bedu�nos no Saara...

e os cowboys nas pradarias?

Sim.

E pessoas a beber vinho nos caf�s.

E marinheiros que bebem cacau
nos seus gale�es.

E trag�dias gregas,
onde arrancam os olhos...

porque, por engano,
se casaram com as m�es.

E Shakespeare. Adoro Shakespeare.

Shakespeare � como pur� de batata.

Uma pessoa nunca se farta.

De certeza que era irland�s.

Billie Holiday.

Billie, Billie.

Quero estar contigo na Am�rica.

Onde ningu�m tem maus dentes
e todos t�m lavabos.

- Onde est� o outro quarto?
- Que quarto?

Aluguei dois quartos c� em cima,
e um desapareceu.

Lembro-me perfeitamente de uma parede,
porque me lembro de um quarto.

- Onde est� esse quarto?
- N�o me lembro de nenhuma parede.

Se n�o me lembro dela,
n�o posso lembrar-me do quarto.

Quero saber onde est� a parede
e o que ela fez a esse quarto!

Algu�m se lembra de uma parede?

Era a parede que queim�mos na lareira?

Era o que mais faltava.

Tem a renda atrasada quatro semanas
e agora isto.

Rua. Estou a p�r-vos na rua.

Daqui a uma semana
n�o quero ver aqui ningu�m.

Todos na rua. Para nunca mais voltar.

� uma pena que n�o fosse vivo
quando os ingleses...

nos desalojavam e nos deixavam na rua.

Nem mais uma palavra ou mando
os homens despejar-vos amanh�.

Ficar� no meio da rua,
com o c�u a mijar-lhe na mob�lia.

Que hei-de fazer?

O teu primo Laman Griffin, est� a viver
em Rosbrien Road, na casa da m�e.

De certeza que te alojar�
at� chegarem dias melhores.

Vou falar com ele agora mesmo.

Vem comigo. P�e a gabardina.

N�o tenho uma gabardina.

Que desgra�a de fam�lia.

Nesse dia, a av� apanhou uma constipa��o
que se transformou em pneumonia.

Levaram-na para o hospital da cidade...

e quando morreu,
a m�e disse que a sua fam�lia...

estava a desaparecer � sua frente.

- Podes fechar a porta?
- Vamos.

- Vamos.
- A roda est� a vacilar.

Cala-te, sim?

Ficar�o todos a saber
que fomos despejados. Podes estar calado?

E assim, todos n�s...

fomos para casa do primo da minha m�e,
Laman Griffin, em Rosbrien Road.

- Trouxeste os livros da biblioteca?
- Sim.

Vai ao p�tio
e v� se h� alguma coisa para queimar.

- Isso � para n�s?
- N�o, � para a sua senhoria, l� em cima.

Para qu� perguntar?
Era o mesmo todas as semanas:

Um bife, quatro batatas,
uma cebola e uma cerveja preta.

Frankie, voltaste?

Podes levar os livros?

Bom rapaz. P�e-nos em cima da cama.

O penico est� cheio.

Sua senhoria, deseja mais alguma coisa?

Trabalha e n�o pagas renda.

- Eu esvazio isso.
- Sim?

Est� bem. Leva-o l� para fora
e lava-o debaixo da torneira.

De agora em diante, esta ser� a tua
tarefa.

Am�rica, a maravilhosa terra
das tribos Arapaho,

Cheyenne, Chippewa,
Sioux, Apache, Iroquois.

Poesia. E os nomes dos Chefes! Ou�am.

Urso Feroz, Chuva-na-Cara,
Touro Sentado, Cavalo Maluco...

e o pr�prio, o genial Ger�nimo.

Estudem, rapazes,
e poder�o correr o mundo.

Resplandecente.

Clarke, define "resplandecente".

- Acho que � "brilhante".
- Essencial mas adequado.

Diz-nos uma frase com "essencial".

"O Clarke foi essencial mas adequado."

Muito h�bil.

Tens jeito para o sacerd�cio
ou para a pol�tica.

Diz � tua m�e para vir falar comigo.

Hoppy O'Halloran disse � minha m�e
para me levar � Irmandade Crist�.

Devia dizer que ia da parte dele,
que eu era inteligente...

e que deveria ir para a escola secund�ria,
talvez at� para a universidade.

Era melhor que se metesse na sua vida.

Quero deixar a escola,
arranjar um emprego e ser pago �s sextas.

E tal como todos os outros,
ir ao cinema aos s�bados.

Vim falar com o Irm�o Murray.

N�o sei porque nos incomod�mos.
Bastou olharem uma vez para n�s.

- Que querem?
- Este � o meu filho, Frank.

E disseram que n�o.

Podes ouvir-me?

Est�s a ouvir?

Estou.

Nunca mais deixes ningu�m
dar-te com a porta na cara.

Est�s a ouvir-me?

Sim.

Impureza. Digo mais uma vez, impureza.

� um pecado t�o grande...

que a Virgem Maria vira a cara e chora.

Chora quando olha para baixo,
para este sombrio panorama,

e contempla com horror a triste exibi��o
dos rapazes de Limerick,

que se sujam, que se poluem,

que mancham os seus jovens corpos,
que s�o o templo do Esp�rito Santo,

com a masturba��o.

Rezamos � Virgem Maria
para pedir perd�o...

porque n�o conseguimos deixar
de nos masturbar.

- A pila!
- "A pila"!

- A picha!
- "A picha"!

- O caralho!
- "O caralho"!

- A verga!
- "A verga"!

- A excita��o!
- "A excita��o"!

- "A excita��o"?
- Sim, a excita��o.

Sim, j� ouvi falar disso.

O Paddy descobriu um padre a quem
confessar os nossos abomin�veis pecados.

Tem 90 anos e � surdo como uma porta.

Aben�oe-me, Padre, porque pequei.

H� imenso tempo que n�o me confesso.
Tenho-me masturbado.

S� que um dia,
ele morreu e n�o nos avisou.

Aben�oe-me, Padre, porque pequei.

H� duas...

H� duas semanas que n�o me confesso.

E desde ent�o o que fizeste?

Bati no meu irm�o.

Menti � minha m�e.

Sim. Que mais?

Fiz coisas obscenas.

A ti pr�prio ou com outra pessoa?

Ou com algum tipo de animal?

Animal?

Nunca ouvi falar de um pecado desse tipo.

Este padre deve vir do campo.

Est� a abrir-me novos horizontes.

Vou s� levar-lhe a �ltima ta�a de ch�.

� uma vergonha...

que rapazes como o McCourt,
o Clarke e o Kennedy...

tenham de cortar madeira e extrair �gua,

nesta Irlanda,
supostamente livre e independente,

que mant�m um sistema de classes
imposto pelos ingleses.

Mete-me nojo.

Atiramos para o esterco
as nossas crian�as talentosas.

Se este � o fim da escola para voc�s,

ent�o ter�o de sair deste pa�s
e ir para a Am�rica.

Est�s a ouvir-me?

Sim, senhor.

O Laman estava b�bado todas as noites.

O pior era �s sextas, quando t�nhamos
de o ver comer peixe com batatas.

Mulher, ferve �gua para o ch�.

N�o temos carv�o, nem turfa.

Sua est�pida in�til,

a viver � borla debaixo do meu tecto
com este bando de fedelhos ranhosos.

Tu.

Vai � loja buscar turfa e acendalhas.

V� l�. Ou �s um in�til como a tua m�e?

J� despejaste o penico hoje?

Merda. Deixei-o nas escadas.

Ficas a� parado e tens a lata de me dizer
que n�o o fizeste?

Desculpe. Esqueci-me. Vou j� despej�-lo.

- N�o podia faz�-lo.
- Cala-te.

Foi o �ltimo dia de escola
e teve de ir ao m�dico.

Eu disse, cala-te!

N�o nos pode mandar calar.
N�o � o nosso pai!

Se tiver de me levantar da mesa,
� melhor come�ares a rezar.

Cale essa bocarra.

Dou cabo de ti!

- N�o � o meu pai!
- Parem!

Deixa-o em paz! P�ra!

N�o foi por mal. � s� um mi�do.

Na segunda come�a a trabalhar
nos correios.

D�-me um cigarro.

Estou a dizer-te,
aquele rapaz � uma merda.

Falo com ele amanh�.

Vou para a cama.

Ouvi-os conversar.

Ouvi o som das botas do Laman
enquanto se arrastava para a cama.

Achei que a minha m�e vinha beijar-me
e agradecer-me por t�-la defendido.

Mas n�o. Ela foi ter com ele.

Onde vais?

Vou-me embora.

Porqu�?

Porque se ficar,
espeto-lhe uma faca no pesco�o.

Matava-lo?

Dorme.

N�o me vais comer as batatas.

S� queria c� passar a noite, tio Pat.

Est� bem.

Podes ficar na cama da minha m�e.

- Nem penses que te dou de comer.
- N�o.

N�o h� uma migalha de comida nesta casa.

Que te aconteceu � cara?

Est� toda inchada.

Algu�m te bateu?

Sim.

Quem?

O Joe Louis.

O Joe Louis?

Pensava que ele vivia na Am�rica.

Veio visitar Limerick?

Sim.

N�o est� certo, bater num rapazinho,

sendo ele o campe�o americano
de pesos pesados.

� o campe�o mundial.

Ainda pior.

Olha para ti, s� pele e osso.

Esses bra�os n�o levantariam dois selos.

H� coisas mesmo estranhas.

Vou para a cama.

Tinha tanta fome.

Sentei-me ali a lamber a primeira p�gina
e todos os cabe�alhos.

Lambi os grandes ataques
de Patton e Montgomery.

Lambi as p�ginas desportivas.

Lambi os pre�os dos ovos,
da manteiga e do toucinho.

Chupei o jornal todo at� ficar com cara
t�o preta como a do Al Jolson.

Vamos, Pat, escadas acima.
Como podes deix�-lo ficar t�o b�bado?

Beber nunca fez mal a ningu�m, pois n�o?

Amanh� bebemos mais.

- Empurra-o.
- Estou a empurrar.

V� l�.

Est�s a ocupar o quarto
duma ponta � outra.

Que est�s a fazer nesta casa, nessa cama?

Levanta-te e prepara a chaleira para o
tio Pat que est� mal por causa dos copos.

Deus do C�u!

Est�s com o vestido
da minha falecida m�e.

Lavei as roupas para o grande emprego.

- Que grande emprego?
- Carteiro, nos correios.

Se os correios aceitam pessoas como tu,
� porque est�o desesperados.

Est�s lind�ssimo.

Com que lavaste isto?

- Com sab�o desinfectante.
- Cheira a pombos mortos!

Vais envergonhar toda a fam�lia.

- A que horas come�as a trabalhar?
- �s 9:00.

Diz-lhes que te atrasaste
porque a tua tia estava � tua espera.

Atrasar-me? Porque deveria?

Cala a boca e faz o que te dizem!

Assim est� melhor.

Muitas vezes me perguntei
porque estaria sempre zangada.

Mas vais precisar de uma camisa nova.

E de uns sapatos, botas n�o. Sapatos.

Comparada com a m�e, ela tinha tudo
e n�o tinha filhos para a empobrecer.

E aqui est� ela a comprar-me roupas
para o meu novo emprego.

Assim est� bem.

Toma dois xelins para tomares ch�
e um bolo pelo teu anivers�rio.

Est�s t�o catita que as pessoas
v�o pensar que roubaste um banco.

A minha tia Aggie era um mist�rio.

Um verdadeiro mist�rio.

Conhecemos todas as avenidas,
estradas, ruas,

varandas, vielas, becos e p�tios.

N�o h� uma porta em Limerick
que n�o conhe�amos.

Batemos em todo o tipo de portas:
de a�o, madeira ou contraplacado.

Vinte mil portas.

Batemos, damos pontap�s, empurramos.
Tocamos �s campainhas.

Arriscando a vida, combatemos com cada
c�o que nos queira transformar em jantar.

H� telegramas para as casas dos padres.

Deus te aben�oe.

Mas se esperares uma gorjeta
de freiras ou padres...

bem podes morrer � espera.

- Tens sorte, levas o dos Carmody.
- Tenho?

- D�o boas gorjetas. Vais ganhar um xelim.
- Porque fiquei eu com o telegrama?

- Porque ningu�m quer l� ir.
- Porqu�?

Porque a Theresa Carmody
apanhou a tuberculose.

Ouvi dizer que doentes como a Theresa,
sabendo que t�m pouco tempo de vida,

ficam loucos de desejo
por amor, romance...

e obscenidades em geral.

Telegrama.

Pelo menos, � o que se ouve dizer.

Est�s todo molhado e a sangrar.

Ca� da bicicleta.

Entra. Trato-te dos golpes.

Perguntei-me se deveria entrar.

Podia apanhar tuberculose. Seria o meu
fim e nunca poderia ir para a Am�rica.

Entra. Vais morrer a� parado.

Mas precisava da gorjeta.

Seu cobardolas.

Assim est� melhor.

Porque n�o te despes
e secas a tua roupa ali na rede?

- N�o.
- Sim.

Est� bem.

Podes ser escanzelado,

mas tens a� um belo instrumento.

Tenho a cabe�a cheia de pecado
e de medo da tuberculose,

os olhos verdes dela...

e o meu xelim de gorjeta.

Ela est� em cima de mim e posso morrer
apanhando tuberculose pela boca dela.

Estou a caminho do C�u.
Caio de um penhasco.

Se isto � pecado, estou-me nas tintas.

Desapare�am, seus bois!

A tua boca � uma retrete. Ouviste-me?

- Sim, Sra. Barry.
- Ouviram-te nas escadas.

- Sim, Sra. Barry.
- Cala-te.

- Est� bem.
- Nem mais uma palavra.

- N�o.
- Eu disse: "Cala-te."

Est� bem.

Acabou-se. N�o me provoques.

N�o provoco.

- M�e de Deus, dai-me paci�ncia!
- Sim.

Retira o que disseste.

Retira!

Eu retiro.

Qual � a coisa que mais queres no mundo?

Ir para a Am�rica.

E tu?

Apaixonar-me por um homem espantoso.

Abra�a-me.

Tio Pat?

Ol�.

Como vai o trabalho?

Lindamente.

O tio Pat est� a tomar conta de ti?

Est�.

Mas posso tomar conta de mim.

Ainda bem.

- Vejo que tens suficiente para comer.
- Tenho.

Quer uma batata?

N�o.

O Michael e o Alphie est�o bem.

Ainda bem.

Temos saudades do Malachy. Ele...

- Saudades dele? Ele...
- Foi para Dublin alistar-se no ex�rcito!

- Tocar a corneta.
- A corneta?

Consegues imagin�-lo a tocar a corneta?
Vai fazer figura de parvo.

� mesmo do Malachy.

O Malachy Maluco.

Tamb�m tenho saudades dele.

- Telegrama, Sra. Carmody.
- Obrigada.

Normalmente entrego o telegrama
� sua filha.

- Theresa, n�o �?
- Ela est� no sanat�rio.

Por favor, Deus. N�o foi culpa da Theresa.

A excita��o no sof� era da tuberculose.

Eu amo-a,

tal como S. Francisco amou todas as aves,
bestas ou peixes.

Cura-a da tuberculose e prometo
que nunca mais me aproximo dela.

Queria dizer ao padre
e aos pais da Theresa,

que eu era a coisa imunda...

que a mandou para o Inferno.

Pensava na Theresa, fria no seu caix�o,

nos cabelos ruivos, nos olhos verdes.

N�o percebo o que sinto,

mas sei que pelas pessoas que morreram
na minha fam�lia,

e por aquelas que morreram
nas vielas � minha volta,

nunca senti tamanha dor no meu cora��o
e espero n�o voltar a sentir.

Foi ent�o que, por sorte,
tive de entregar um telegrama...

� agiota, a Sra. Finucane.

S. Francisco voltou a sorrir-me.

Quantos anos tens?

Quinze e alguns meses.

Tens idade e �s feio o suficiente.

- Sim.
- Mas �s esperto?

�s de algum modo inteligente?

Sei ler e escrever.

No manic�mio
h� quem saiba ler e escrever.

- �s capaz de escrever uma carta?
- Sim.

Dou-te tr�s moedas por cada carta
e mais tr�s se trouxer um pagamento.

Vem na quinta.
Traz o teu papel e envelopes.

"O'Brien, Donnolley, Meagher, Hannon,

"a velha Sra. Keneally, Mulcahy, Ahern."

Come�as com esses
para ver que tal te sais.

Amea�a-os. At� � morte.

Que tal?

"Querida Sra. O'Brien,

"Porquanto n�o se mostra capaz
de pagar o que me deve,

"vejo-me for�ada
a recorrer a uma ac��o legal.

"O seu filho Michael,
anda por a� a exibir o fato novo,

"que eu paguei,

"enquanto eu mal tenho uma c�dea de p�o,
para me manter de p�."

"Estou certa que n�o querer� padecer
nas masmorras da pris�o de Limerick,

"longe dos amigos e da fam�lia.

"Fico ao seu dispor em..."

- Que est� aqui escrito?
- "Expectativa de lit�gio."

� uma carta poderosa.

Esta palavra, "porquanto."

� uma palavra assustadora. Que significa?

Significa, "Esta � a sua �ltima chance."

Ela d�-me dinheiro para os selos,

mas eu entrego as cartas pessoalmente
e fico com o dinheiro.

Que tipo de dem�nio pode atormentar
as pessoas com uma carta destas?

� horr�vel.

Que se passa com a Sra. Hannon?

Aquela cabra da Finucane
mandou-lhe uma carta amea�adora. Olha.

Quem escreve uma carta destas
devia ser fervido em �leo...

e ter as unhas arrancadas por cegos.

Muito obrigada. O pr�ximo.

Tenho pena deles,

mas n�o h� outra maneira
de poupar dinheiro para ir para a Am�rica.

Nem que toda a Irlanda
estivesse a morrer � fome,

eu n�o tocaria neste dinheiro.

Obrigado, John. Ou�am-me todos.

Este � o meu sobrinho, Frankie,
filho da Angela Sheehan,

a irm� da minha mulher,
a beber a sua primeira cerveja.

� tua sa�de e a uma longa vida.

Que cres�as a gostar de cerveja,
mas sem exagerar.

Calma.

N�o bebas tudo duma vez.

"Na pris�o de Mountjoy
uma segunda-feira de manh�

"No alto da �rvore da forca

"Kevin Barry deu a sua jovem vida

"Pela liberdade

"Com apenas 18 primaveras

"E sem..."

Isso � estado de te apresentares em casa?

Acordem!

Os Cavaleiros Red Branch!

Os homens fenianos!

O glorioso IRA!

N�o posso acreditar. Est�s igual ao teu
pai.

Esta noite, bebi a minha primeira cerveja.

Devias ter vergonha.

A minha primeira cerveja com o tio Pa.

O tio Pa devia saber aquilo que faz.

N�o tenho pai
para me dar a minha primeira cerveja.

O teu pai n�o era boa r�s. Nem tu.

�s igual a ele, seu b�bado idiota!

Prefiro ser como o meu pai
do que como o seu Laman Griffin!

Modera a l�ngua, seu b�bado.

Modere a sua.

Voc� mais o seu Laman Griffin!

Sua puta!

Falas pior do que o estupor b�bado
do teu pai.

� melhor ser como o estupor b�bado do
meu pai do que como...

aquele gordo nojento de merda
do Laman Griffin...

que lhe saltava em cima todas as noites,
em Rosbrien!

Cala-te!

No andar de cima com o Laman Griffin!

Truca, truca...

com o gordo em cima de si!

- Cala-te!
- Cale-se voc�, sua puta!

Meu filho, diz-me o que te perturba.

Fa�o 16 anos hoje.

Bebi a minha primeira cerveja ontem.

Bati na minha m�e.

Que Deus nos ajude.

Mas Ele perdoar-te-�.

Mais alguma coisa?

N�o lhe posso dizer.

Queres confessar-te?

N�o posso.

- Fiz coisas horr�veis.
- Podes diz�-las a S. Francisco.

Vamos sentar-nos aqui
e dizes a S. Francisco...

todas as coisas que te perturbam.

Conto a S. Francisco, da Margaret,
do Oliver e do Eugene,

do meu pai a cantar Kevin Barry
e a voltar para casa sem dinheiro,

do meu pai que n�o manda dinheiro
de Inglaterra,

da Theresa no sof�,

dos meus terr�veis pecados
de masturba��o...

por toda a cidade de Limerick,

do Irm�o Crist�o
que me fechou a porta na cara,

das l�grimas nos olhos da minha m�e
quando lhe bati.

E virei-lhe as costas esta manh�,

apesar de ser o meu anivers�rio
e de me ter oferecido uma ta�a de ch�.

"Ego te absolvo a peccatis tuis."

"In nomine patris, et filii,
et spiritus sancti. Amen."

Reza tr�s Pais Nossos,
tr�s Av� Marias e tr�s Gl�rias.

E a Theresa Carmody que est� no inferno?

N�o, de certeza que ela est� no C�u.

Achas que as irm�s no hospital
a deixaram morrer sem um padre?

- Tem a certeza?
- Tenho.

Deus perdoa-te.
Tens de te perdoar a ti mesmo.

Deus ama-te. Tens de te amar a ti mesmo.

S� quando amares a Deus e a ti mesmo,
poder�s amar todas as Suas criaturas.

Obrigado, S. Francisco.

Sou o Frank. Tenho o seu xerez.

Todos os nomes est�o aqui.

A minha m�e: duas libras pelo Natal.

Tia Aggie: nove libras.

Se calhar, pela minha roupa de trabalho.

Bridey Hannon,
pela pomada das pernas do Sr. Hannon.

Sra. Purcell, Clohessy, Quigley, Molloy...

Todos os que conhe�o e metade
dos pobres de Limerick, est�o aqui.

Todos deviam dinheiro �quela velha cabra.

Bem, agora j� n�o.

Para a Am�rica de avi�o, n�o.

Mas podes ir num barco que parte de Cork
daqui a duas semanas, o Irish Oak.

Vai custar-te 55 libras. Tens?

Tenho.

"E enquanto abandonava a sua m�e

"Parada no cais

"Ela abra�ou-o pela cintura

"E disse-lhe assim"

- Aqui t�m.
- Agora, todos.

"O amor de m�e � uma b�n��o

"Estejas onde estiveres

"Fica com ela enquanto est� viva

"Ter�s saudades quando ela c� n�o estiver

"Ama-a como na inf�ncia

"Apesar de franzina, velha e grisalha

"Para que nunca te falte o amor de m�e

"At� que esteja enterrada debaixo da
terra"

Muito justo. Foi forte.

Est�s com os olhos muito encarnados.

O ser�o est� tornar-se num vel�rio.

H� alguma possibilidade de se cantar
alguma cantiga que levante os �nimos,

antes que eu seja levado
a afogar as m�goas?

- Esqueci-me!
- Do qu�?

Do eclipse.
Esta noite h� um eclipse da Lua.

- Que � um eclipse?
- Vamos.

Ser�amos idiotas se o perd�ssemos.

Que vai acontecer?

� um bom sinal
da tua partida para a Am�rica.

N�o, � um mau sinal. Li que a Lua
estava a treinar para o fim do mundo.

O fim do mundo, uma figa.

Olhem para aquilo!

N�o � espantoso?

N�o � maravilhoso?

- � lindo.
- Podemos n�o voltar a ver isto.

Pelo menos, durante esta vida.

Afinal, era s� isto?

Este � s� o come�o
para o Frankie McCourt.

Estar� de volta daqui a alguns anos
de fato novo e gordo como um americano.

E de bra�o dado com uma bela rapariga
de dentes brancos.

Eu sei.

Vamos para dentro
tomar um copo de xerez.

- Boa sorte na Am�rica.
- Boa sorte.

Boa sorte para ti.

Obrigado, Sra. Purcell.