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ST. MALO - FRAN�A SOB
OCUPA��O NAZISTA AGOSTO DE 1944

FOR�A A�REA DOS ESTADOS UNIDOS
565� ESQUADR�O DE BOMBARDEIO

Papai? Tio Etienne?

Se est�o me ouvindo,
por favor, voltem para casa.

O bombardeio come�ou.

Acho que os americanos
finalmente vieram nos salvar.

Tio Etienne,
n�o � s� porque estou sozinha,

mas estou muito
preocupada com o senhor.

O senhor disse que ia voltar
em uma hora, mas j� faz dias.

Se est� escondido dos soldados alem�es,
use o bombardeio para voltar para casa.

E, papai,

o senhor disse
que ia voltar em seis dias,

mas faz mais de um ano.

Mas,
onde quer que o senhor esteja,

se puder me ouvir,

eu amo o senhor.

E agora, para quem ouve
minha transmiss�o por lazer,

vou continuar a leitura

de Vinte Mil L�guas Submarinas,
de J�lio Verne.

Meu pai me deu de anivers�rio

quando est�vamos em Paris,
em tempos de paz.

"Desconhecemos
as profundezas do mar."

As sondagens n�o chegam l�.

O que ocorre naquelas
profundezas remotas,

quais seres vivem, ou conseguem
viver, 20 ou 25 quil�metros

"abaixo da superf�cie,
n�o sabemos."

"Nesse caso, devo admitir�"

HOTEL DAS ABELHAS

QUARTEL-GENERAL DE
RADIOMONITORAGEM ALEM�

"Ou conhecemos todas as variedades
de seres que habitam nosso planeta,"

ou n�o conhecemos.

Se n�o conhecemos todas elas,

se a natureza ainda guarda
segredos nas profundezas,

nada � mais razo�vel do que admitir
a exist�ncia de peixes

e cet�ceos de outros tipos.

Se, pelo contr�rio,
conhecemos todos os seres vivos,

devemos necessariamente buscar
o animal em quest�o

entre os seres
marinhos j� classificados.

E, se n�o os conhecemos todos,
se a natureza ainda guarda segredos,

devemos considerar
que toda esp�cie de monstro

"pode existir l� na escurid�o
e nas profundezas."

Werner.

�ltimo gole antes de morrer?

� conhaque.

Mais velho que n�s dois.

Nunca seremos t�o velhos.

Nenhum de n�s dois
ver� a Alemanha de novo.

Beba.

Vamos morrer, Werner,

e voc� est� ouvindo
a merda do r�dio.

- O que est� ouvindo?
- Ʌ

� uma garota lendo um livro.

E, quando uma bomba cai l� fora,
eu ou�o pelo r�dio.

O que significa
que a garota est� aqui.

Aqui em Saint-Malo.

Antes de virar soldado,

eu ouvia uma esta��o
de r�dio francesa.

Como �?

Quebrei as regras do F�hrer.

Era uma voz que eu
escutava desde menino.

Era um professor.

Aprendi franc�s.

E muitas coisas
verdadeiras sobre o mundo.

Ouvir transmiss�es estrangeiras
� crime capital.

Sim, e da�?

Em dez segundos, ou cem,
estaremos mortos.

A esta��o que me ensinava franc�s era
na frequ�ncia de onda curta 13.10.

Desde que sa�mos da Ucr�nia,
sintonizo essa frequ�ncia.

E agora�

Agora, que j� � tarde,
a frequ�ncia ressurge

e ou�o uma garota ler um livro.

E nunca vou saber quem � ela.

Adeus, meu amigo.

Adeus.

�rea de bombardeio
alem� atingida.

Hora do correio.

Encerramos
a transmiss�o por hoje.

Sei que podem me matar pelas transmiss�es,
mas n�o v�o me silenciar.

Papai, tio Etienne,

espero que estejam em seguran�a
e que amanh� de manh�

possamos partilhar o p�o,
como um dia fizemos.

E, para as demais pessoas,

espero que sintonizem
de novo amanh�.

Se houver um amanh�.

O BOMBARDEIO CONTINUA AMANH� �
MEIA-NOITE. RETIREM-SE IMEDIATAMENTE.

BASEADA NO ROMANCE
DE ANTHONY DOERR

QUER SE JUNTAR A N�S?
E-MAIL | loschulosteam@gmail.com

Venha aqui.

Conte o que os americanos
est�o dizendo.

Leia para mim.

Diz que voltar�o
amanh� � meia-noite.

Todos na cidade
devem se retirar.

Muito bem. Ent�o � isso.
O in�cio do fim.

Eles nos mandam sair,
mas voc�s fecharam a cidade.

Fecharam os port�es
para n�o sairmos.

A culpa n�o � minha.

N�o vim aqui executar a guerra.
Sou joalheiro.

Meu trabalho � localizar e identificar
as joias mais belas da Europa

e entregar ao F�hrer.

Como quase todos os joalheiros
da Alemanha eram judeus,

e como o Reich decidiu,
em sua imensa sabedoria,

asfixiar, fuzilar, enforcar e matar
de fome todos os judeus da Europa�

sou o �nico profissional do ramo
que sobrou.

E, para cumprir minha miss�o,

vim a esta cidade infeliz�

encontrar
uma pessoa que acredito

ter algo que eu quero.

Uma garota.

Uma garota cega, que eu
sei que est� em Saint-Malo.

Que eu sei
que est� em Saint-Malo.

Quando cheguei aqui,
avisei a voc�

que lhe daria
o tempo que eu levasse

para comer uma d�zia de ostras
e beber uma garrafa de vinho.

Agora o vinho acabou,
e j� comi as ostras.

Voc� tem mais dez segundos para me dar
o endere�o de Marie-Laure LeBlanc.

A garota cega

que a cidade
inteira deve conhecer,

mas de quem ningu�m
consegue se lembrar!

Eu j� disse.

N�o sei
de quem o senhor est� falando.

Dez�

nove�

oito�

sete�

- seis�
- V� pro inferno!

Meu amigo, n�o seja rid�culo.

� �bvio que j�
estamos no inferno.

Cinco�

quatro�

tr�s, dois, um.

Vou encontr�-la sem a sua ajuda.

Papai, onde o senhor est�?

Estou escutando.

Isso. Venha at� aqui.

- Onde pedi a m�o dela.
- � nossa casa?

N�o, nossa casa �
um pouco mais pra c�.

N�o se distraia
com as casas bonitas.

PARIS, FRAN�A
ABRIL DE 1934 - DEZ ANOS ANTES

Concentre-se, m�os � obra.

"M�os", entendeu? Fiz uma piada.

Papai,
piada precisa ser engra�ada.

Viu? Voc� ficou t�o entretida zombando
do papai, que caiu no chafariz.

Venha c�. Vamos come�ar de novo.

Lembre que estamos aqui.
� nossa casa.

Isso, agora vire � esquerda,

primeira � direita e pare,
espere o tr�nsito passar.

Depois atravesse e siga
toda vida at� chegar ao parque.

Que parque?

Onde pedi a mam�e em casamento.

Conta.

J� contei v�rias vezes.

Conta de novo.

Sempre para quando a mam�e
aceita, a� fica calado.

Marie, estamos passeando
e j� deixamos o parque pra tr�s.

Agora, vamos ver
se voc� consegue ir sozinha.

Voc� est� sozinha em Paris
com uma mensagem importante para o papai.

Procure por mim. O que voc� faz?

Primeiro viro
� direita e sigo toda vida.

N�o, errei.

Viro � esquerda
e depois sigo toda vida.

Pare antes de atravessar.

Paro antes de atravessar.

Isso. E depois faz o qu�?
Voc� segue toda vida�

E sigo toda vida�

E segue toda vida.

J� chegou?

Sim, chegou.
E o que vamos fazer agora?

Vamos comer
meu crepe de anivers�rio?

Com certeza.
N�o um crepe qualquer,

um crepe de chocolate
com chantili, e depois vamos ao�

Museu.

E sigo toda vida
at� chegar ao museu.

Muito bem.

E, quando chegarmos l�, como �
seu anivers�rio, vai poder explorar

todas as maravilhas
que est�o guardadas l�.

- Gostou?
- Gostei.

Espera, as coisas mudaram
de lugar desde a �ltima vez?

Como voc� percebeu?

A primeira sala tem sempre cheiro
de areia. Agora tem cheiro de�

Penas, bicos e garras.
Est� cheia de p�ssaros.

P�ssaros de verdade?

N�o. Empalhados.
Mortos h� muitos anos.

Mas,
como eu sabia que voc� vinha,

decidi dar vida a eles com isto.

Papai, coisas vivas.

Quase. As can��es est�o vivas.

Tudo tem uma voz.
Voc� s� precisa escutar.

Escuta.

E agora, depois do banquete
para os ouvidos,

um presente para as m�os.

Voc� pegou essa agora h� pouco.
Lembra qual �?

Achei que n�o era escola.

Tudo � escola.

- N�o para o senhor.
- Principalmente pra mim.

Esmeralda?

Muito bem!

Marie, o mundo ainda � o mundo,

mesmo que voc� n�o veja.

Seus dedos s�o seus olhos.

Voc� tem dez dedos, e a maioria
das pessoas s� tem dois olhos.

Voc� est� cinco vezes melhor
porque cinco vezes dois s�o�

Dez.

- Isso!
- Tem diamante?

Tem, sim.

� lindo ao toque.

Voc� � linda.

Feliz anivers�rio, Marie.

� a coisa mais
valiosa do museu inteiro?

N�o.

Tem uma outra pedra que � mais
valiosa do que todas as outras juntas.

O nome dela � Mar de Chamas.

O senhor pode pegar?

N�o � permitido.

Por que n�o � permitido?

Porque est� num cofre
em outra parte da caixa-forte.

E, al�m do mais,
j� est� na hora do almo�o,

e voc� sabe o que isso
significa, n�o sabe?

Um bolinho.

Muito bolo.

E voc�.

Por que n�o posso
tocar no Mar de Chamas?

Onde quer comer, Marie?

Papai, por qu�? N�o vou
comer enquanto n�o me contar.

Voc� � incans�vel, hein?
Tudo bem.

� uma lenda absurda, Marie.

Reza a lenda que a pedra conhecida
como Mar de Chamas � amaldi�oada.

Pronto.

Tem mais.
Ou�o algo escondido na sua voz.

Conta pra mim. Por favor.

A lenda � de um tempo em que as pessoas
tinham muitas cren�as falsas.

Ela diz que a pessoa que tocar
na pedra tamb�m ser� amaldi�oada.

Qual � a maldi��o?

A maldi��o diz
que tocar na pedra

traz m� sorte
para quem voc� ama.

Mas, se a pedra for sua,
voc� nunca vai morrer.

Ent�o,
como se percebe de imediato,

por conta dessas
duas impossibilidades,

a lenda � simplesmente absurda.

O senhor j� tocou
no Mar de Chamas?

Venha, Marie, vamos almo�ar.

ST. MALO AGOSTO DE 1944

P�o.

Arame.

Ei.

Por que n�o abrem os port�es
para podermos sair?

N�o tem comida!

Voc�s querem que a gente morra
com voc�s, nazistas desgra�ados!

Ol�?

N�o tem p�o hoje.

N�o tem p�o
em lugar nenhum hoje.

Marie�

N�o sabia
quando veria voc� de novo.

Monsieur Caron, estou faminta.
N�o tem nenhum p�o?

Guarde seu dinheiro.

S� tenho um peda�o
de p�o dormido. Pode pegar.

- Aqui.
- Obrigada.

E tem uma pessoa aqui que ouviu
seu recado no r�dio ontem � noite.

Marie.

Tio Etienne.

O senhor veio.

Ouvi seu pedido
para partilharmos o p�o.

� pouco p�o, mas estou aqui.

- Jeito inteligente de me dizer o local.
- Por onde andou?

Estou trabalhando.
� um trabalho importante

para os americanos e os brit�nicos
que v�m nos libertar.

Mas infelizmente chamei
a aten��o dos alem�es,

e, se eu voltasse pra casa,
colocaria voc� em perigo.

Ainda faz as transmiss�es?

Claro,
do livro que o papai me deu.

�timo.
As p�ginas que mandei ler.

Sim, cap�tulo 16.

Acho que agora j� sabe que n�o est�
apenas lendo J�lio Verne.

Est� enviando mensagens codificadas
que nos ajudar�o a vencer a guerra.

Agora quero
que pule para o cap�tulo 20,

leia s� a 1� p�gina, e depois
para o 21, s� a 2� p�gina.

Vinte e vinte e um,
primeira e segunda.

Melhor voltar logo pra casa.

Ele tem raz�o.
N�o � seguro sair.

Um oficial alem�o
oferece comida e dinheiro

em troca de informa��o

sobre voc�, Marie.

- Eu?
- O que ele quer com ela?

N�o sei. Ningu�m sabe.

Mas, at� agora,
ningu�m falou nada.

Quando chegar em casa,
tranque todas as portas.

- Pode deixar.
- Vai ter mais bombardeio � noite.

O que est� fazendo, soldado?

Saqueadores ser�o fuzilados.

Cabo Werner Pfennig, senhor.

Estou na unidade
de radiomonitoragem da Wehrmacht.

Estamos em Saint-Malo para localizar
radiotransmiss�es ilegais.

Ontem o transceptor foi danificado.
Preciso de arame para retomar o trabalho.

Voc� � muito fraco.

Viu isto aqui?

Ontem os americanos
jogaram folhetos em franc�s

avisando para sair
de Saint-Malo.

Entendi.

Diga � sua unidade que ningu�m
tem permiss�o para sair.

Ficamos em Saint-Malo
at� o �ltimo homem.

Todos na unidade morreram,
senhor.

Eu sou o �ltimo homem.

Onde est� aquartelado?

No Hotel das Abelhas,

Place de Concord.

Seu trabalho � importante.

Farei o que puder para ajudar.

Lembrem, meninos e meninas, que Werner
construiu esse r�dio sozinho

com sucata que foi jogada fora.

As pessoas costumam descartar
coisas in�teis a elas,

mas preciosas para outros.

Como Werner e voc�s
s�o preciosos para mim.

ORFANATO VIKTORIASTRASSE
ESSEN, ALEMANHA - 1934

Ele aprendeu sozinho.

Werner � um misto de g�nio,
persist�ncia e trechos de livros.

Se der certo,
ser� um pequeno milagre.

Est� pronto, Werner?

Espero que sim, Frau Elena.

Ent�o ligue.

Na verdade, a luz cintilante emitida
por um peda�o de carv�o em brasa�

Menina n�o pode entrar aqui.

Quieto. Sou sua irm�.
O que voc� encontrou?

Encontrei o mundo todo, Jutta.

Viena, 65.
Dresden, 88. Londres, 100.

Mas, tarde da noite,
ou�o isto da Fran�a.

Onda curta 13.10.

Um professor incr�vel.

Ele diz as coisas
mais incr�veis.

O c�rebro humano fica
fechado numa escurid�o total.

� proibido.

Se voc� ouvir, vai aprender.

Seu c�rebro flutua num l�quido claro
dentro do cr�nio, nunca na luz.

Mas, nessa escurid�o, o mundo
que o c�rebro constr�i � repleto de luz.

Transborda de cor e movimento.

Pode ser o objeto
mais complexo que existe,

um quilo molhado
no qual gira todo o universo.

Ent�o, crian�as, como o c�rebro,
que vive sem uma fa�sca de luz,

nos d� um mundo cheio de luz?

Est� muito tarde, Marie.

Ele s� transmite tarde.

Quem?

O professor que explica
sobre escurid�o e luz.

Fascinante, mas est� tarde,
e voc� tem escola amanh� cedo.

- Est� na hora de descansar.
- Tudo bem.

Boa noite, querida.

Ele diz que a luz mais importante
� a luz que voc� n�o v�.

O que isso significa?

Se n�o tivesse me interrompido,
eu teria descoberto.

Se ele explicar,

voc� pode me contar
amanh� de manh�.

Mais dez minutos.

�dez trilion�simos de toda a luz
do universo � vis�vel aos nossos olhos.

E, mesmo na escurid�o total,
ainda h� luz na sua mente.

Professor,
ainda h� luz na minha mente.

Senhoras e senhores,

antes de come�ar a transmiss�o
de hoje, tenho algo a dizer.

Algo que guardo no cora��o.

Muitos anos atr�s,

um grande professor
transmitia palavras de sabedoria

para crian�as
nesta mesma frequ�ncia.

Ele falava para crian�as
de toda a Europa.

E, quando ele falava, sempre
tocava uma m�sica espec�fica.

Era esta.

Nesta �poca
de escurid�o est�pida,

nestes tempos em que velhos
rid�culos invadem cidades,

roubando povoados inteiros,
como crian�as brutas roubando brinquedos,

pensei em tentar relembrar algumas
coisas que o professor dizia

e dividir com voc�s.

Porque ele falava
sempre sobre a luz.

N�o falo t�o bem
quanto o professor, mas vou tentar.

Ele dizia que a luz gerada
quando se queima carv�o,

carv�o vegetal ou turfa�

Ele dizia que a luz emitida
por um peda�o de carv�o�

�, na verdade, luz solar.

A quest�o � que a luz
dura para sempre.

Por um bilh�o de anos
dentro de um peda�o de carv�o.

Mas a escurid�o,
o professor dizia,

a escurid�o
n�o dura nem um segundo

quando voc� acende a luz.

� s� o que eu queria dizer.

Vinte Mil L�guas Submarinas,
de J�lio Verne.

Cabo Pfennig!

Suba aqui!

R�pido!

Por que se esconde l� embaixo?

Serve como abrigo antia�reo,
senhor.

A partir de agora, vai
trabalhar aqui em cima. Na luz.

Onde podemos v�-lo.

Sim, senhor.

Foi confirmado que o ataque
de ontem � noite a Saint-Malo�

n�o foi aleat�rio.

Tinha um alvo.

Est�o acertando nossas posi��es
com muita precis�o.

Algu�m est�
passando informa��es.

Detectou alguma radiotransmiss�o
de dentro da cidade?

N�o, senhor.

At� mensagens aparentemente inofensivas
podem conter informa��es codificadas.

Sim, senhor. Recebi
treinamento em quebra de c�digo.

Fui o melhor da turma

no Instituto Nacional
de Educa��o Pol�tica em Berlim.

E o Instituto de Berlim
� o melhor da Alemanha.

Sim. O sargento Schmidt tamb�m
estudou no Instituto de Berlim.

Melhor da turma de 1942,
correto?

Schmidt acabou
de chegar de Paris.

Voc� disse
que sua unidade morreu.

Schmidt, a partir de agora, vai
acompanhar e ajudar voc� no trabalho.

A posse de qualquer equipamento
de radiotransmiss�o

dentro da cidade de Saint-Malo
� agora crime capital.

Sim, senhor.

E agora n�o vai ficar dependendo
de peda�os perdidos de arame.

Sim. Obrigado, senhor.

Heil Hitler.

Heil Hitler.

Quer uma bebida?

Quer vencer a guerra ou n�o?

Voc� ouviu o capit�o.

Devemos achar quem transmite
nossas coordenadas.

Ei, Pfennig, sou seu superior e n�o dei
permiss�o para beber em servi�o.

Ouviu?

Conte sobre seu tempo
no Instituto.

Prepara-se para dias
futuros melhores?

Minha profiss�o era cortar
e fazer arranjos de flores.

Espero que um dia volte a ser.

Por ora, � acolher todas
as nacionalidades e culturas.

S�o dez francos.

N�o. N�o vim aqui para isso.

N�o tenho mais
interesse em sexo.

Estou tomando um rem�dio forte
para uma doen�a grave.

Na verdade, perder a libido

foi me ver livre de um man�aco.

Sente-se.

Por favor, sente-se.

Voc� pode ter ouvido boatos na cidade
sobre um oficial alem�o espec�fico

que veio a Saint-Malo
encontrar uma garota.

Mas, agora que o resultado
da guerra est� bastante incerto,

estou com dificuldade em obter
informa��es com as pessoas.

As pessoas n�o acham
o resultado incerto.

Os americanos v�o jogar
mais bombas em uma hora.

Do jeito
que protegem essa garota,

come�o a achar que a fam�lia dela
est� envolvida com a resist�ncia.

O pai dela,
um tio chamado Etienne.

Algum tipo de espi�o�

Eu acordo, trabalho e durmo.

As pessoas est�o com mais medo
da resist�ncia do que de mim.

Ent�o n�o me contam nada.

Por isso,
decidi consultar uma pessoa

que n�o deixa
uma simples transa��o financeira

ser afetada por dilemas morais.

A garota se chama
Marie-Laure LeBlanc.

Ela � cega.
Preciso do endere�o dela.

N�o estou bem
para executar a tarefa.

N�o recomendo misturar
vinho Beaujolais com morfina.

Mas estou com pressa.

Tenho outra coisa
a dizer ao meu pai.

Papai, imagino que esteja em algum
lugar acompanhado s� pela minha voz.

N�o posso deixar
o senhor sozinho.

Prometi que falaria
com o senhor sempre.

E vou falar.

Vou falar com o senhor, dar
um motivo para ter esperan�a.

Alguma coisa?

N�o.

Meu turno. V� dormir.

N�o durmo muito. Nunca dormi.
Cubro seu turno se quiser.

Falei que � meu turno.

N�o me interessa
se voc� dorme ou n�o.

Merda. Claro que voc� n�o escuta
nada, o cabo de energia soltou. Jesus!

Sabe de uma coisa?
Fiz isso para testar voc�.

Para ver se entendia
alguma coisa de transceptores.

Do que est� falando?

Estou falando que n�o lembro
de voc� no Instituto Nacional.

Voc� disse ao oficial
que era da turma de 42.

Lembro quem foi o melhor
da turma de 42, e n�o foi voc�.

N�o fui o melhor da turma.

Eu nem me lembro de voc�.

Quanto tempo aguentou?

O Instituto Nacional � uma escola
de elite. 63% dos alunos n�o se formam.

Me ocorreu uma ideia, Schmidt.

Voc� � um dos 63.

Com esse caos todo,
a papelada queimada,

muitos fracassados dizem
o que os oficiais querem ouvir.

Olhe pra mim,
Sr. Sessenta e Tr�s.

Era mentir ou ir para o Leste.

Eu fiquei paralisado,

fui espancado e perseguido
naquela escola desgra�ada!

Fiz por merecer minha comenda.

Ainda me correspondo
com o comandante.

Ent�o � s� ele mandar,

e voc� vai para o Leste.

Agora, voc� e eu

vamos tomar uma bebida
para brindar ao F�hrer.

E depois vamos
sentar juntos como iguais.

Eu n�o bebo.

Bebe. Bebe, sim.

Ao F�hrer.

E � verdade.

Obrigada pela audi�ncia.

Aqui termina
a transmiss�o de hoje.

As pessoas bebem isso
para comemorar? Jesus!

Quanto tempo voc� ficou
de verdade no Instituto?

Duas semanas.

Duas ca�adas ao javali.

Fui o javali nas duas vezes.

Disse que conhece
o comandante Bastian?

Lembro das regras dele.

O �ltimo colocado
no percurso de assalto

ganha uma vantagem
de dez segundos.

N�o era suficiente pra mim.

Fui pego das duas vezes.

Ou morre como um le�o ou vira
um copo de leite derramado.

N�o � o que nos ensinaram
no Instituto?

Meu pai n�o fala comigo
desde que fui dispensado.

Sou leite derramado.

Mas n�o sou idiota.

Eu tenho um segredo.

Voc� tem um segredo.

Quando liguei o r�dio,
algu�m estava transmitindo.

Quem?

No transceptor,
dizia onda curta 13.10.

O que � isso?

� uma frequ�ncia
que eu escuto desde crian�a.

Tinha um professor.
Ele contava fatos.

Fatos, enquanto todo
mundo dava opini�es.

Ele dizia: "Abra os olhos e veja

o que puder antes que eles
se fechem para sempre."

E tentei fazer isso.

Mas a maior parte do que vi
eu preferia esquecer.

Desde que virei operador,

achei centenas de frequ�ncias
e localizei os transceptores.

Vi a SS fuzilar�

Fuzilar os inimigos do Reich
que os operavam.

Sim.

Como fui treinado.

Mas, quando estou sozinho�

onde quer que eu esteja,

eu escuto a onda curta 13.10.

Estava sempre silenciosa
at� eu chegar a Saint-Malo.

A� ouvi uma garota
lendo um livro.

Que garota?

N�o sei.

Talvez a filha do professor.

Talvez outra pessoa
que o escutava, assim como eu.

Algu�m da nossa
gera��o que pensou

que, se voc� abrir a frequ�ncia

e transmitir racionalidade,
bom senso

e literatura �s pessoas,
como o professor fazia,

talvez a loucura dessa
guerra de velhos possa acabar.

Seja ela quem for,

ela est� bem.

A 13.10 est� em boas m�os.

Ent�o�

eu sei o seu segredo,

mas n�o confio o meu a voc�.

N�o posso ir para o Leste.

Estamos em guerra.

Mais um morto
para os 50 milh�es.

- Lamento, Werner�
- Vai atr�s da garota?

Vou cumprir meu dever.

Como eles diziam:

"Ou morre como um le�o ou vira
um copo de leite derramado."

Por favor. Poupe a minha vida.

Vou poupar a onda curta 13.10.

Por favor�

Ol�, Marie.

N�o consegui seu endere�o.

Algu�m me disse que voc�
e seu pai costumavam vir aqui.

Parece faminta.

Mas suponho que todos em Saint-Malo
estejam famintos no momento.

Desculpe, eu preciso ir.
Meu tio est� esperando�

Por favor!

Quem � voc�?

Algu�m que n�o quer
machucar voc�.

Se voc� me der o que quero.

O que voc� quer?

Essa guerra, essa loucura,
todas essas vidas

n�o valem nada para mim.

Eu s� quero viver.

E acredito que voc�
pode me ajudar.

Como posso ajudar?

Seu pai j� trabalhou
no museu em Paris, certo?

Ele cuidava de muitas
pedras preciosas.

Tinha uma pedra em especial.

A vis�o � uma coisa maravilhosa.

Vejo que voc� sabe
de qual pedra estou falando.

O nome dela � Mar de Chamas.

Diz a lenda que ela
cura qualquer doen�a.

E quem a tiver
viver� para sempre.

Meu pai me contou a lenda.

Mas � uma f�bula.
S� loucos acreditam nela.

Bom,

este louco aqui est� sacando uma pistola
militar Walther PPK do coldre.

Agora estou apontando a arma
para a sua cabe�a.

Voc� e seu pai fugiram de Paris
quando a guerra estourou.

Ele levou consigo v�rias joias
para n�o ca�rem nas m�os dos nazistas.

N�o tenho interesse
em diamantes e safiras.

S� tenho interesse
no Mar de Chamas,

que acredito
que ele deixou com voc�.

Marie-Laure,
quero que me diga onde ela est�.

Voc� tem dez segundos.

- Eu n�o�
- Dez,

nove,

oito,

sete�

Fale, Marie!

Meu pai s� me falou da pedra.

- Seis�
- Achou que ela estaria aqui?

- Cinco�
- Eu n�o sei onde est�. Eu n�o sei!

Quatro�

A luz mais importante de todas�

- Tr�s�
- Eu n�o sei onde est�!

- Dois�
- Eu n�o sei!

�� a luz que n�o podemos ver.

Legendas: Eduardo Castro