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PORTO RICO

O meu aspeto exterior
pode dizer uma coisa, mas...

... a minha alma � uma alma feminina.

E n�s somos a nossa ess�ncia.

H� quem olhe para mim e pergunte:

"� uma mulher? � um homem? � um ET?

Que raio � aquilo?"

E eu repondo: "Como queiras, querido.
Posso ser o que tu quiseres."

Acho que sou um pouco de tudo.

Os teus preservativos, querida.

- Boa sorte e tem cuidado.
- Tchau.

SANTURCE, PORTO RICO

Ol�, minha querida. E como est�s tu?

- Casei-me.
- Olha que cabra!

- E o Alex est� a�?
- Sim, est� com a minha m�e.

- Boa, tudo de bom para ti!
- Obrigada.

Portem-se bem e divirtam-se. Adeus!

Oi. Qual � o lubrificante
que costumas usar? Este ou este?

D�-me este.

Gel, preservativos, lubrificantes...

- V�, d�-me mais uns.
- Mas tamb�m tenho de dar �s outras.

- S� mais dois, sen�o matam-me.
- Vou comer 10 gajos.

Alessandra, anda c�,
ainda n�o te dei nenhum.

- Como est� tudo?
- Tudo bem.

- N�o est� a render hoje?
- Pouco, n�o como esperava.

� estranho a Sandy n�o estar c�.

- Onde est� a Sandy, Britney?
- N�o sei, ainda n�o apareceu.

Est� bem.

Nas ruas temos de...

... ser diferentes.

Temos de ser mais...

... brandas, mas tamb�m determinadas.

Sexys.

Tentamos ser sempre

mais bonitas que as mulheres

porque temos de chamar
a aten��o dos homens.

Se as mulheres forem mais bonitas que n�s,

porque olhar�o os homens para n�s?

Se temos algo que os homens n�o gostam,

precisamos de beleza

para ajudar.

Voc�s nem imaginam

qu�o variados s�o os gostos.

Nem imaginam qu�o imaginativos
s�o os clientes.

�s vezes dizemos:
"Caramba, aquele tipo � demente!"

Mas...

... n�o posso fazer cara feia.

Digo sempre: "Ah, gostou? Oh!"

Mas penso:
"Porra, seu cabr�o tarado nojento!"

Mas s�o clientes.
� por isso que lhes chamamos clientes.

Algu�m me mandou isto, n�o sei quem.

Penso que ele est� na cadeia.

Foda-se! Est�s a ver isto? Oh, n�o!

� nojento, cheio de borbulhas e o cara�as.

Parece que tem s�filis.

Ou herpes.

� nojento.
Olha para esta merda preta aqui.

Como se chama isto? Fungos?

Nem quero saber se � um cliente.
N�o o farei com este cliente!

Como se fosse dizer:
"Ah, adoro esse cuzinho...

Vamos l�, querido, e vai ser de gra�a!"
P'r� caralho!

Desde que comecei a minha transi��o,

que o aspeto f�sico
se tornou muito importante.

Eu era um rapazinho

com tra�os femininos muito bem marcados.

Sempre usei cabelo comprido.

Sempre fui uma pessoa magra
com uma pele saud�vel.

Mas n�o tinha um corpo tonificado.

S�o caracter�sticas f�sicas
que normalmente associamos aos rapazinhos.

Quando comecei a terapia hormonal,
a minha pele ficou mais suave.

A minha apar�ncia f�sica come�ou a mudar.

Fui acumulando gordura,
nas bochechas e outras zonas.

E, quando decidi criar formas,

sempre me imaginei como uma latina t�pica.

A mulher latina tem ancas largas
e rabo grande.

Estou muito satisfeita com o meu corpo
e esfor�o-me muito para o manter.

Mas entendo que nem toda a gente queira
o mesmo que eu,

um corpo com tantas curvas.
E � l�gico que,

como n�o nascemos com este corpo,
o queiramos mostrar!

Queremos usar roupas sexys
e sentirmo-nos bonitas.

Normalmente, quem quer p�r implantes,
etc., muda-se para outro pa�s.

O Equador fez maravilhas por mim.

Tenho muito orgulho em dizer que sou
porto-riquenha, mas fui feita no Equador.

Para dentro! Para dentro!

Disse para ires para dentro.

Adoro a Regina George!

O Giras e Terr�veis �
o meu filme preferido.

Sou a Regina George da Doll House.

Sempre fui o l�der do meu grupo de amigos.

� por isso que n�o poderei
conhecer algu�m como eu

porque nunca...

... abdicaria de ser um l�der.

"Quem � que ele pensa que �, porra?"

Eu sei que as pessoas pensam isso de mim,
�s vezes.

Mas n�o t�m escolha.
T�m de aceitar o facto de eu ser o l�der,

naquele momento, naquele s�tio,
naquela situa��o.

� por isso que gosto tanto
da Regina George.

Eu nasci homem, quero ser um homem,

para todo o sempre, �men.
Serei um homem at� morrer.

Mas, se Deus chegasse aqui
e me dissesse:

"Tens de p�r mamas,

ser loira

e ser uma Marilyn Monroe transsexual
maravilhosa,

uma bomba porto-riquenha..."

Eu daria... Eu aceitava, tipo...

"M�e...

... tenho de p�r mamas porque Deus
disse-me que tinha de o fazer."

Criei a Zahara Montiere,

quando sonhei em ser

uma rapariga loira, chefe de uma claque,

como uma Regina George
da vida de toda a gente.

Foi por isso que criei a Zahara Montiere.

� por isso que a Zahara Montiere �
aquela pessoa que est�...

... na comunidade de entretenimento
transg�nero aqui em Porto Rico.

E, assim que eu avisar, voc�s abrem-nas

e, depois, fecham-nas mal eu passe.

Eu tenho uma ideia daquilo que quero ser,

mas essa ideia n�o � feminina,

nem masculina. � apenas uma ideia.

As ideias n�o t�m nem g�nero nem sexo.

S�o apenas ideias que v�m...

... do fundo dos nossos cora��es
e que nos inspiram.

E a minha inspira��o
sempre foi a Marilyn Monroe...

Sempre, e ser� para sempre.

Ela n�o foi presidente dos Estados Unidos,

mas foi namorada
de um dos presidentes dos Estados Unidos,

claro.

- Ol�!
- Oi!

- Julio.
- Sim?

Quem � que achas que vai ficar
no top 5 da Miss Universo?

A venezuelana.

- A venezuelana � linda, n�o �?
- �.

Perdeu peso e preparou-se bem
para o concurso, mas...

N�o tenho ci�mes das mulheres.
Admiro-as e acho-as umas deusas.

Quero ser como elas.

Eu via aquelas mulheres da Playboy,
naquelas escadas, com aquelas poses...

Eram espetaculares!

As mulheres dos filmes eram t�o bonitas.
Eu pensei: "Tamb�m quero fazer porno!"

Fosse o que fosse, hardcore, m�nages...

Com mulheres, com homens,
com transsexuais...

Eu conseguia fazer
at� cinco filmes por semana.

E foi assim que entrei na prostitui��o,
comecei a fazer as duas coisas.

Sa�-me bem, mas, na ind�stria porno,
s� duramos quatro ou cinco anos.

Dez anos, quinze no m�ximo.

Todos os dias sai uma
e entra outra com mamas maiores,

um rabo maior e torna-se imposs�vel ganhar
40 000 d�lares como antes.

N�o quero chegar aos 40 anos
sem meios de subsist�ncia.

Portanto,
decidi que estava na hora de mudar.

- Boa noite a todos, boa noite, Milly.
- Boa noite e bem-vinda, Ivana.

Temos connosco Ivana Fred,
que � transsexual.

Boa noite, Rub�n.

A impressa come�ou a recorrer a mim.

Sempre que querem falar do assunto,
contam sempre comigo.

Quando me apercebo
que v�o partir para o sensacionalismo,

eu parto para o educativo.

Assim � justo para as duas partes.

Eles acabam por ter
o que querem de mim,

e eu acabo por conseguir algo que �
ben�fico para mim e para a comunidade,

que � passar uma mensagem.

A comunidade transsexual �
das mais discriminadas na nossa sociedade.

Independentemente do que seja,

os direitos de uma pessoa
nunca poder�o ser violados.

Isto � v�lido para qualquer pessoa,
at� para um pedinte.

Os seus direitos t�m de ser reconhecidos

e respeitados.
- Concordo.

Sou um recurso muito importante
para esta comunidade,

porque sei que lhes falta acesso
a este tipo de servi�o.

E fico muito orgulhosa, quando
chego com o meu carro ao p� delas

e elas come�am a gritar:
"Ivana, d�-me mais preservativos!

Onde posso arranjar mais preservativos?
Onde podemos fazer an�lises?"

Torna-me uma pessoa melhor.

Porque fa�o parte desta comunidade,
sei que elas t�m origens humildes

e que n�o t�m dinheiro
para comprar preservativos.

Quero trabalhar para um Porto Rico melhor.

Para que respeitem os meus direitos,

para que me reconhe�am
como uma pessoa transexual.

E que possamos estudar e trabalhar
como qualquer outra pessoa.

� porque ainda n�o a consegui ver.

Sim, isso foi h� pouco tempo,
no domingo.

E como est�o a festejar, n�o consegui.

Claro, eu ligo-lhes.

Est� bem, meu amor. Pronto.

N�o permito que ningu�m,

daqui de Porto Rico
ou de onde quer que seja,

me chame transexual.

Porque, se tenho documentos
onde sou reconhecida como mulher,

porque me continuam a chamar transexual?

O que � isso?!
�s vezes, nem sei o que � um transexual.

Nem quero saber!

Ent�o, tu identificas-te
como uma pessoa que mudou de sexo?

N�o! Como uma pessoa heterossexual,
uma mulher.

- Certo, essa � a tua prefer�ncia sexual?
- N�o, n�o se trata disso.

O meu certificado de nascimento
� igual ao dela.

� igual ao de qualquer mulher
porto-riquenha.

Mas como te identificas a ti pr�pria?

Porque, se te identificas como mulher,
porque � isso que vem nos teus documentos,

e porque, agora,
os teus �rg�os sexuais s�o de mulher,

tamb�m tens de admitir que houve
um passado que n�o pode ser omitido.

Houve um passado
que n�o era de transexualidade,

mas sim de transtorno
de identidade de g�nero.

Concordo.

- E disso n�o se fala.
- Pois n�o, � verdade.

Nem aqui em Porto Rico, nem nos EUA,
nem em lado nenhum.

A diferen�a � que, quem nasce
com transtorno de identidade de sexo,

n�o reconhece o sexo como que nasceu.

Sente, ama, canta e ri-se como uma mulher.

Com uma identidade de g�nero
que n�o lhe corresponde.

E � a� que surge o conflito entre o corpo,
a mente e a alma.

Conhecia muita gente que dizia:
"Sou transg�nero, quero ser uma mulher."

E isto e aquilo.
Com umas mamas assim gigantes.

- E rabos.
- E isso n�o � ser mulher!

Quando somos mulheres,
somos mulheres no cora��o e na alma.

E muitas dessas
que se dizem transexuais...

... ficam a meio do caminho assim
que come�am a envelhecer,

a engordar, a perder brilho...

Quando deixam de ser a Barbie
que queriam ser,

o transexualismo que se foda.
Depois dizem: "N�o sou transexual.

J� n�o quero ser porque n�o fico bem."

Ent�o, eras o qu�?
Uma rainha de beleza ou uma mulher?

Porque, quando somos mulheres,
temos de nos aceitar da maneira que somos.

Como definirias uma pessoa
que ainda n�o mudou de sexo?

Mas que se apresenta como mulher

e que j� fez modifica��es no seu corpo?

J� conheci muitas bonecas.

Pessoas que apareceram
em filmes de Hollywood.

Contudo, n�o querem ser mulheres.

Querem penetrar os homens
com quem t�m sexo.

E eu nunca vi uma mulher
a penetrar um homem.

A menos que usem uma daquelas coisas
do Condom World.

- Com um dildo.
- Isso, um dildo!

Mas, se dizes que �s uma mulher

e que te sentes como mulher,
avan�as para seres mulher.

Uma coisa � sentires-te mulher

e outra � sentires-te
uma rainha de beleza.

S�o duas coisas diferentes.

Ginger...

Todos os travestis querem
fazer parte do RuPaul.

� como se fosse uma regra!

Porque ele � a drag queen
mais famosa do mundo.

� o que tem a carreira mais longa
e mais famosa.

At� tem uma est�tua no museu de cera
em Nova Iorque.

Toda a gente quer ser como o RuPaul.

E ningu�m deve ser privado
da oportunidade de ir � audi��o.

Quem n�o gostaria de ir ao RuPaul?
� o objetivo de qualquer travesti

ter assim tanta audi�ncia.

Sabem quantas pessoas v�m o RuPaul?
� um programa de sucesso.

O log�tipo faz parte da MTV
ou uma merda assim.

Chegar l� � bestial, n�o s� porque...

... ser�o vistos por muita gente,
ficar famosos...

Oh, a fama que se lixe.

VIDEO DE AUDI��O
PARA ORUPAUL'S DRAG RACE

Depois, n�o � s� usar uma peruca
e dar um espet�culo.

Passamos a ser profissionais,
ganhamos bem.

Tipo...

... 200 mil d�lares por ano para nos
vestirmos de mulher durante cinco minutos.

Depois do espet�culo, vamos para casa
e temos cinco dias de folga.

Todos os anos h� algu�m de Porto Rico.

N�o sei porqu�. Talvez por causa
das audi�ncias ou assim.

Mas claro que tamb�m n�o serei ing�nuo,
n�o me vou cingir ao t�pico:

"Que porto-riquenha linda.
Sim, ela � muito bonita.

N�o sabe falar ingl�s..." O que for.

Vou para competir a s�rio.
Tenho o que � preciso para ganhar

e para derrotar as outras malucas.

Vou preparado de corpo e alma
e guarda-roupa.

N�o � o Paris City!

� a s�rio. � haute couture!

N�o �, mas faz de conta.

Boa noite!

J� vou!

- Querida!
- Minha linda!

A Doll House �
a minha casa de travestismo.

E tenho de ser honesto:
n�o h� casa melhor que a minha.

Somos umas sacanas,
filhas da puta e umas cabras.

Mas somos as mais bonitas,
ningu�m chega aos nossos p�s.

Olhamos sempre para a frente,
nunca olhamos para baixo.

Conheci a April
num concurso aqui em Porto Rico...

M�E DA DOLL HOUSE

... chamado Road to Diva,

e...

... ela era t�o bonita... Raios a partam.

Era t�o bonita, o seu corpo, o rabo, e...

Ela emana algo t�o... t�o louco...

... que gostei logo dela e pensei:

"Bem, ela vai ser a minha pr�xima filha."

E, depois, disse � minha m�e... Sim!

Essa � a minha m�e! Foi assim que se
tornou minha m�e. Essa � a minha m�e!

Deixa ver se � suficiente.

- Ai, querida.
- Belo cabelo. Boa.

Olha para esse...

Achas que pinte as pernas de magenta
ou mais escuro?

A DOLL HOUSE....

... APRESENTA

Bem, n�o sei.
N�o me preocupo muito em ficar bonita.

O Edwin deixa-me sempre bonita,
gra�as a Deus.

Mas n�o � esse o meu objetivo.

A minha personagem � mais rude,
mais forte.

Sou uma rainha,
mas identifico-me mais como uma diva.

Alguns acham que sou bonita,
outros n�o. Enfim...

Eu sei que sou fabulosa.

Eu acho que sou fabulosa.
Sou uma pessoa completa,

sempre perfeita, da cabe�a aos p�s.

H� quem diga que n�o mudo muito,
que pare�o uma rapariga, enfim...

Mas n�o � a mesma coisa.
Nem sentimos o mesmo, claro.

Claro que mudo.
Eu acho que sou uma artista.

Quando encarno a Queen Bee,
sou uma artista

que vai fazer o seu espet�culo.

A Queen Bee e eu n�o somos...

... muito diferentes.

Mas tamb�m n�o sou um daqueles loucos
que acham que s�o duas pessoas diferentes.

N�o acredito nisso.

Quando nos travestimos,
continuamos a sermos n�s.

Exato.

� apenas um alter ego, aquilo
que gostar�amos de ser como mulheres.

Quando me apercebi que era
um alter ego e n�o uma outra pessoa,

deixei...

Deixei de gostar tanto como gostava.

Mas, se continuasse daquela maneira,
poderia ser emocionalmente devastador.

- Porque n�o s�o duas pessoas. � s� uma.
- Exato.

O Alberic teve esse problema.

A quest�o com estas ilus�es femininas �
que continuamos a ser n�s pr�prios.

Mas � um alter ego.

MOCA, PORTO RICO

Quando tinha 18 anos,
e comecei a tomar hormonas,

queria transformar-me numa mulher,
da cabe�a aos p�s, de um dia para o outro.

E n�o � assim que funciona.

Depois de ter feito

o tratamento hormonal do mercado negro,

passei um mau bocado.

Sofri muitos efeitos secund�rios.

Passei por...

O meu corpo come�ou a mudar.
Comecei a ganhar peso.

A minha pele ficou fl�cida,

porque come�amos
a acumular gordura no corpo todo.

E, se n�o temos um m�dico competente
que nos receite a medica��o certa,

o nosso organismo fica desregulado.
N�o � nada saud�vel.

Podemos ter problemas de f�gado,

podemos vir a ter cancro...

Tudo depende dos erros
que cometemos com o tratamento hormonal.

Eu, por exemplo, perdi o apetite sexual,

e estava numa rela��o,
portanto imaginem o drama

de n�o poder satisfazer o nosso parceiro
porque queremos ser uma mulher.

Por um lado estamos a resolver uma coisa

e, por outro, estragamos o resto.

� tipo... Enfim.

Estava a concretizar o meu sonho
de mudar o meu corpo,

mas o meu corpo n�o estava a funcionar bem
para satisfazer o meu companheiro

e estava a destruir a nossa rela��o.

Ainda quero ter esta apar�ncia,
mas melhorada.

S� isso.

Sem pelos na cara, cabelo mais comprido...
E quero mudar o nariz.

Muita gente diz que vou ficar
a parecer o Michael Jackson,

para n�o fazer nada ao nariz.

E eu digo que s� quero mexer
um bocadinho aqui.

N�o � em largura, � s� aqui em cima.

S� para o baixar ou assim.

E acho que quero l�bios maiores.

L�bios mais cheios, voluptuosos.

Mas n�o vamos entrar por a�.
Vou tentar portar-me como uma senhora.

Bom, l�bios voluptuosos. Angelina Jolie.
Algo desse g�nero.

As hormonas far�o a diferen�a,
e exerc�cio, suponho.

Tenho pernas longas,
por isso, s� tenho de tentar

que fiquem mais tonificadas
e que se pare�am

como as de uma stripper.

Ou algo parecido.

Podemos mudar muita coisa,
mas devagar

e da maneira certa.

� um processo lento,
caro e que exige sacrif�cio.

� um processo muito demorado,
temos de ser muito pacientes.

Quero ter um aspeto natural,
n�o quero exagerar

e parecer uma aberra��o.
Mas tenho ossos largos,

por isso, preciso de mamocas grandes.
Percebem?

Eu sabia que vinha pouca gente. J� sabia.

Mas, esteja eu a atuar
para duas pessoas ou duas mil,

dou sempre o meu melhor.

Gosto do que fa�o,
empenho-me sempre muito,

e...

... incentivo sempre o p�blico
a usufruir do nosso espet�culo.

Ah, porra, olha para aquela merda.
Curte l� aquele cu.

Vira-te. Abana esse cu!
Vira-te. Abana esse cu. Vira-te.

N�o sei,
se calhar est� tudo b�bado menos eu.

Bom, eu tamb�m, claro.

- Ent�o, Mari�n?
- � meu Deus!

A Leishlani est� a sentir-se
poderosa agora.

Vais ganhar o Pr�mio do Mangalho hoje.

Ela n�o p�s batom,
n�o me perguntem porqu�.

Vai ganhar o Pr�mio do Mangalho.

Est� a sentir-se poderosa.

Samantha, Leishlani, vou andando!

- Leishlani, anda!
- Estou hipnotizado!

Vamos entrar a�.

Vou assumir-me
Vou mostrar ao mundo

Tenho de lhe mostrar
Que me vou...

Primeiro estava assustada
Estava petrificada...

Cheguei a Porto Rico h� cerca de 26 anos.

Era um rapaz homossexual fracassado.

N�o tinha sexo h� tr�s anos,

e a minha melhor amiga disse-me
que toda a gente tinha sexo em Porto Rico.

Mas a cultura, sendo eu de Nova Iorque

e falando mal castelhano,
ter de falar com pessoas nos elevadores...

A �ltima coisa que queria fazer era falar.
H� muita gente que pensa que sou surda,

porque eu n�o falo, isso denuncia-me.

Penso que a inseguran�a

� a grande culpada.

Temos imensa coragem para mudar,

mas, se as pessoas
nos aceitassem como eramos...

Se n�o fosse tudo t�o preto e branco,

ser� que tinha feito a cirurgia?
Se calhar n�o.

Sinto que modifiquei o meu aspeto exterior

para aquilo que as pessoas esperavam
ou queriam.

A cor do cabelo, etc...

� tudo porque olham para mim,
� tudo para me integrar.

Come�a tudo logo muito cedo,
quando n�o nos integramos.

Em Porto Rico ou somos um homem
ou uma mulher,

a transexualidade � algo
que n�o � bem percebido.

Portanto, tive de ultrapassar tudo isso
para viver aqui,

e depois descobri que n�o h� muito espa�o

para uma rapariga como eu.

N�o saiu bem.

Se acordasse e tivesse barba,
seria brutal, meu.

E tamb�m gostaria de acordar
sem nada disto.

Porque seria esquisito.

Seria tipo a mulher barbuda do circo.

E eu n�o quero nada disso.

Ultimamente n�o tenho querido enfaix�-las,
porque d�i muito

e n�o consigo respirar.

Est� calor. Est� imenso calor hoje.

Tenho tr�s ou quatro camadas de roupa

e ainda...

... se notam.

Eu vejo-o como um homem.
Vejo o que ele quer que eu veja.

E, sempre que ele se sente bem
consigo pr�prio e se arranja,

eu vejo um homem sexy.

NAMORADA DO PAXX

- Mas, tu sabes...
- Fixe!

Mas tens mamas e s�o grandes e atrapalham.

Vejam como este mundo �.
Este mundo � t�o louco

que, se nascemos do sexo masculino,

� superf�cil mudar para o sexo feminino.

Transformarmo-nos na mulher
que queremos ser.

Vemos tantas mulheres transexuais
a tomar estrog�nio,

e, caramba, ficam lindas,
com um rosto t�o suave.

E querem uma rata?

Pronto, j� t�m uma rata do cara�as.

N�o h�...

N�o est�o a acrescentar nada,
est�o a usar a pr�pria pele.

Do mesmo s�tio. Se eu quiser uma pila,

tenho de tirar pele daqui ou daqui.

� lixado, meu.

Ficamos uns machos com muitas cicatrizes.

Basicamente.

Imagino-me sempre de tronco nu
a andar � vontade

na praia ou a andar de bicicleta.

Ou a ir a qualquer lado sem que ningu�m
olhe para mim duas vezes

a tentar adivinhar o que sou.

Como se fosse apenas um tipo qualquer,
normal...

E, se alguma rapariga me galar,
melhor ainda.

D�-me um sierra tamb�m.

Isto � um sierra. � um peixe.

Gostamos de passear, comer,
ver artesanato...

NAMORADO DA SANDY

- Comida, gastronomia.
- N�o gostamos de discotecas.

- Gostamos de andar pela ilha.
- S� a passear.

Nos rios, nos vales, na costa.
Almo�ar... relaxar.

O moedor!

- � brutal!
- Mas fa�a-me l� um descontinho!

- Quanto custa?
- Vinte.

Quando o vi, na bomba de gasolina,
ele estava de cal��es

e eu pensei: "Uau, este homem!"

Fiquei fascinada, mas n�o me atrevi,
porque o vi de costas e parecia mau.

Pensei que, se lhe falasse, dissesse tipo:
"O que � que foi, seu paneleiro?"

Ent�o fiquei tipo...

Queria chamar a aten��o dele,

mas ele n�o olhava para tr�s,
ent�o disse: "Uau!"

Quando ele se virou,
olhei para ele e pensei:

"Tem de ser meu!"

E eu pensei:
"Caramba, esta loira � linda!"

Foi a primeira coisa que pensei.

Depois, fomo-nos conhecendo.

Fui acompanhando a sua mudan�a...

Mas ele era preconceituoso,
n�o gostava de estar connosco.

E dizia-nos coisas horr�veis.

At� que se rendeu.

- Pronto.
- Apanhaste isto atr�s?

Gosto de transexuais como a minha mulher.

Tamb�m gosto de rapazes.

Sou bissexual.

Pronto... sou assim.

A minha fam�lia gosta de mim assim,
e a minha mulher tamb�m.

- N�o � verdade?
- Claro.

N�o uso peruca para pagar a renda,

ou para fazer carreira.

Esta � a minha vida, sou assim.

� uma pele que nunca sair�.

N�o � como uma flor que perde
as p�talas e volta a nascer.

� isto que se v�.
Nasci assim e serei assim para sempre.

Fazer a transi��o exige muito esfor�o.

Fazia hora e meia
de eletr�lise percut�nea por semana.

E estava a transformar-me
na mulher que sentia ser

e os gajos queriam que eu lhes saltasse
para cima para os foder.

Tinha cabelo escuro, um nariz enorme.

Tinha imensa barba, era um rapaz giro.

Era muito masculino.
O meu pai era um deus grego.

Portanto eu era...

Eu era um rapaz.

� o que sinto, � como se...

Como se uma pessoa morresse
e nascesse outra.

Portanto a outra desaparece,
mas, quando penso nisso...

Quando, �s vezes,
me vejo ao espelho, n�o vejo...

... isto! Olho para mim
e vejo aquela outra pessoa.

N�o me reconhe�o.
N�o � que o veja a ele,

apenas n�o me reconhe�o.
N�o � como se ele me assombrasse.

S� que n�o vejo... N�o me reconhe�o assim,
e quando me vejo assim, fico...

� um complicado.

Sabem que mais?

Foi por isso que n�o avancei
com a mudan�a de sexo,

Porque, sempre que algu�m olhasse para
a minha vagina, eu pensaria na minha pila.

J� tomei todo o tipo de hormonas,
em comprimidos, em inje��es...

T�m efeitos secund�rios,

por acaso d�o-me um pouco de energia

que provocam ataques drag.

De vez em quando h� algo
que me invade que me faz sentir

vontade de fazer
um pequeno n�mero ao espelho.

Queria que ele me conhecesse primeiro,
na minha vida normal.

- Como amigo.
- O que ela fazia...

N�o lhe queria esconder nada.

N�o, n�o, n�o.

Queria que fosse meu amigo,
que me acompanhasse,

que soubesse o que se passava.

Foi assim que o governo e a vida
me obrigaram a viver.

E n�o vejo nada de mal nisso, porque
� uma parte do corpo de que n�o gosto.

Procuram-me pela parte da frente.

E ele n�o gosta da parte da frente.

Por isso ignoramos essa parte.

Nenhuma mulher tem um p�nis.

Mas � isso
que os homens procuram em mim.

A verdade � essa.

Normalmente � em carros,
porque n�o se esque�am

que s�o rapidinhas. N�o pode demorar.

Portanto, normalmente � no carro e,
depois, cada um segue o seu caminho.

Todas levamos pre�os diferentes.

Mas, normalmente,
por uma queca levamos uns 100 d�lares.

Quarenta por uma espanholada.

Cem para o truca-truca.

Se querem amor, beijos, carinho...

Isso fazem com os seus parceiros.

Se querem realizar uma fantasia,
algo diferente, v�m ter connosco.

Por mais que tentemos fingir,

o cliente sabe sempre

que o fazemos pelo dinheiro.

As pessoas associam sempre
os transexuais ao sexo.

Nunca nos veem como seres humanos,
iguais aos outros.

V�m-nos sempre como s�mbolos sexuais.

N�o querem saber do que podemos oferecer
como pessoas nem dos nossos sentimentos.

Para as pessoas s� servimos
para ter rela��es sexuais.

J� me habituei. Tenho de ser realista.

A vida n�o � como eu quero que seja.
A realidade � assim, � a minha realidade.

Infelizmente, n�o posso mudar o mundo.

N�o posso chegar e dizer:
"Sou transg�nero, vejo-me como uma mulher,

por isso tratem-me como mulher."
Infelizmente, n�o � assim.

Ainda n�o terminei a minha transi��o.
Ainda n�o � a altura certa.

Quero...

... ter um futuro mais est�vel.

Se n�o tiver um p�nis,
todos os homens v�o querer

penetrar-me pela vagina.

Percebem? E isso � territ�rio novo.

Porque o fizeste? Para que todos...

N�o, f�-lo-ei quando me reformar.

F�-lo-ei quanto tiver a certeza
de que ser� s� minha.

Que ningu�m lhe vai mexer.

E, se n�o o fizer, paci�ncia.
H� muitos homens que gostam de mim assim.

Tu gostas de mim?

Pronto.

A primeira coisa em que pensam,
quando dizemos que somos travestis,

� em prostitui��o.

E isso � triste,
porque uma coisa n�o implica a outra.

Tem que ver com o modo
com que nos projetamos.

Acho que n�o passo a imagem
de prostituta nem nada que se pare�a.

Toda a gente escolhe o que quer fazer.
Se quiseres andar na rua,

anda na rua, mas,
se quiseres mesmo ser uma mulher,

tens de te esfor�ar, procurar um emprego,

e n�o podes ficar em casa a queixar-te
de como o mundo � duro.

Sei que � complicado e que � f�cil falar,

mas h� op��es
para al�m de nos acomodarmos

e recebermos dinheiro
por chupar uma pila.

Fiz dois broches...

D� 40 mais 40.

Depois um gajo quis-me ver as mamas,
foram mais 50.

Depois outro foram 80...

E...

Tipo...

... mais um ou dois... Tr�s de 30.

Eu tenho um emprego, fa�o limpezas.

Sou uma pessoa muito limpa
e gosto muito de limpar.

Consigo ser a artista mais glamourosa
que consegues imaginar,

mas tamb�m consigo ser dona de casa.

E uma boa amante, portanto...

Uma pessoa pode ser muitas coisas
ao mesmo tempo.

Estudei aqui em Porto Rico

e formei-me como assistente de bordo.

Mas...

... nunca arranjei emprego...

... numa companhia a�rea ou assim...

Ningu�m quer contratar

uma pessoa que parece uma mulher,
mas tem identifica��o de homem.

Disseram que sim senhor,
que depois ligavam e pronto. S� isso.

Ainda estou � espera do telefonema.

Mas n�o faz mal, eu percebi a mensagem.

Depois percebi que as companhias a�reas
s�o muito conservadoras

e que n�o � f�cil

para eles contratarem
uma pessoa que n�o...

... se enquadraria nos seus padr�es.

N�o devia ser assim,
porque isso � discrimina��o,

mas, infelizmente, as coisas s�o como s�o.

Os transexuais continuam numa caverna,

qual morcegos,
e s� saem � noite, vestidos...

O mundo n�o sabe que existimos
e do que precisamos.

Precisamos de trabalho
para os transexuais.

De um plano de sa�de para transexuais.

Alojamento para transexuais.
Eu sempre disse � Ivana

que ela � a grande porta-voz
dos transexuais.

Mas a ajuda que lhe estavam a proporcionar
para os transexuais de Porto Rico,

n�o era ajuda, era hipocrisia.

N�o querem que haja prostitui��o,
mas distribuem preservativos.

� por tudo isso que temos de nos unir

e perguntar: "Ivana, como � que gast�mos
10 milh�es em panfletos e preservativos?"

Vamos p�r as t-shirts!

- Mas senta-te!
- Nathalie...

Ei, Nathalie!

Temos de p�r estas fotos no Facebook.

Ficou �tima.

- Que horas s�o?
- Pronto, pronto!

Nesta fiquei horr�vel.

Temos de mudar tudo.

Vamos passar a falar
com a imprensa todas cobertas.

Com mangas compridas e cal�as.

Para que s� possam prestar aten��o ao que
dizemos e passar a mensagem ao p�blico.

Nada de cal��es,
vestidinhos justos, decotes...

Nada disso!
Tudo tapado, do queixo aos p�s.

S� poder�o ver a boca a mexer.
� tudo o que precisam.

Quem tiver sapatos altos fica no tapete,

sen�o ouvem-se os passos.

Pronto. Tr�s, dois, um... Gravar.

Somos a funda��o Trans Foundation.

- Somos a funda��o...
- Esperem...

Ela n�o sabe o que dizer!

Esperem, deixem-me ajeitar...
Que confus�o.

- Somos a funda��o...
- Eu digo!

Uma organiza��o sem fins lucrativos...

- Somos a Butterflies Trans Foundation...
- Est�o todas a dizer coisas diferentes.

- N�o sei o que...
- Isso, Sandy, era o que estava a dizer.

Pronto, tu dizes uma coisa,
aquele diz outra e aquele diz outra.

- Mas sabes o que dizer, certo?
- Somos a funda��o...

- Oi�am l�, um segundo...
- N�o encontro...

N�o podem dizer uma coisa em espanhol
para depois dizerem em ingl�s outra vez.

- Somos a Butterflies Trans Foundation.
- Est� bem.

- Uma organiza��o sem fins lucrativos.
- Isso.

BUTTERFLY TRANS FOUNDATION, INC
PORTO RICO

- J� sabem?
- O qu�?

Da marcha que vai haver no dia 17 de maio?

Eu, sendo um homem gay, n�o vou,
porque essa marcha � para os transexuais.

N�o, meu querido,
� para toda a comunidade LGBT em geral.

Vamos estar a reivindicar
os nossos direitos.

Contamos com todos voc�s
e com as vossas fam�lias.

Haver� muitas surpresas.

MARCHA PELOS TEUS DIREITOS, 17 DE MAIO,
17H00, � FRENTE DO PARLAMENTO

Muitas de n�s...

... n�o nos atrevemos a aparecer...

... em p�blico porque temos medo de ser
identificadas como transexuais na rua.

Eu respeito isso,
mas acho que est�o erradas.

As pessoas identificam-nos sempre
como transexuais e pronto.

Muitas dizem que n�o arranjam trabalho,
que t�m de se prostituir,

porque s�o rejeitadas.
Mas, se n�o combaterem isso,

nunca alcan�ar�o nada.

Uma coisa � dizer:
"Sou transexual, d�-me isto e aquilo"

Outra � dizer, calmamente: "Quero
que os meus direitos sejam reconhecidos.

Tamb�m sou uma cidad� que contribui
para este pa�s. Tenho de ser respeitada."

Tem de ser assim para que nos escutem,
para saberem que vamos a bem,

que s� queremos reivindicar os nossos
direitos. Isso � que � importante.

Quando fores falar,
n�o leias como um papagaio.

Fala com calma para que te percebam.

Quando leste ontem,
leste como se fosse uma carta.

L� devagar, "eu, Lisa Marie Rodr�guez..."
Rodr�guez...?

"Repito: N�o � bom para ningu�m.

S� privilegia a comunidade LGBT.

Em nono lugar,

este projeto
vai contra os des�gnios divinos.

Reconhece e defende a homossexualidade

como um comportamento normal.

A homossexualidade n�o �
um comportamento normal,

nem a prostitui��o..."

Pergunto, isto, isto e aquilo.

As nossas hist�rias n�o interessam.

- O que interessa � a desigualdade.
- Isso.

Mas para mostrar a desigualdade
temos de contar as nossas hist�rias.

Temos de mostrar o que sofremos, a dor...

Este � o momento certo.

� o momento certo, porque as grande na��es
j� lan�aram a primeira pedra.

AUDI�NCIA P�BLICA PARA A LEI 238
PROIBI��O DE DISCRIMINA��O LABORAL

BASEADA NA IDENTIDADE DE G�NERO
E ORIENTA��O SEXUAL

Chamo-me Ivana Fred,
represento a Butterflies Trans Foundation.

- Chamo-me Denise Rivera...
- Fale para o microfone, por favor.

Chamo-me Denise Rivera,
represento a Butterflies Trans Foundation.

Obrigado.

"� importante para n�s, deixar claro que,

contrariamente
aos outros ilustres oradores,

n�o viemos apresentar
dados cient�ficos ou legais,

nem dar informa��es
sobre coisas que n�o sabemos.

S� viemos contar as nossas hist�rias
e experi�ncias de vidas

como mulheres transexuais,
porque � essa a realidade que conhecemos."

Que poderei estudar numa escola
ou numa universidade,

para, depois, poder estar
em frente de um empregador

sem que ele me veja
como um mero transexual,

mas sim como um profissional
que procura um emprego?

N�o estamos aqui
para nos fazermos de v�timas.

Somos apenas uma parte da popula��o
que quer ter uma vida digna

como qualquer outro ser humano.
Isso � que � importante.

O Transtorno de identidade de g�nero �
uma das condi��es mais...

... controversas do mundo
e mais mal compreendida...

Fala-se muito de homossexualidade,
transexualidade, bissexualidade,

mas quase ningu�m fala
do transtorno de identidade de g�nero.

E essa � que � a principal causa

que leva uma pessoa a passar de homem
a mulher ou de mulher a homem.

A optar por uma mudan�a de sexo,

medicamente assistida.

Decidi escrever um livro

para explicar
aquilo por que uma pessoa passa

quando sofre de transtorno
de identidade g�nero.

Fiz para educar, ilustrar e informar.
Para servir de ponto de refer�ncia

para tudo o que fez parte
das minhas viv�ncias.

Esta condi��o pode ser resolvida atrav�s
de uma opera��o de mudan�a de sexo.

Como n�o podem operar a mente,
optam por dar um sexo novo,

ou uma identidade de g�nero que se
identifique com o seu modo de pensar.

Ainda estou a aprender

as coisas boas que uma mulher pode ter.

Como por exemplo, usar menos maquilhagem,

para n�o parecer uma caricatura
ou uma imita��o reles de uma mulher.

Tento copiar, incorporar

aquilo que me transformar�
numa verdadeira mulher.

O meu objetivo � a luz do dia.

Ser uma rainha durante o dia.
N�o uma rainha que s� vive de noite,

que s� vive no palco.

Assim as pessoas nos veem,
sabem logo o que somos.

Mas para mim � uma hist�ria diferente.

N�o quero ser a mais glamorosa,
a mais bonita...

S� quero poder passar despercebida
no supermercado,

no trabalho,

no banco...

Uma pessoa que n�o chame
a aten��o em lado nenhum.

O meu objetivo nunca foi ser
a mais espetacular da comunidade gay.

O meu objetivo � ser uma mulher
que passe despercebida.

H� muitas rainhas que querem ser
famosas na cena gay.

Toda a vida quis ser travesti.
Mas, agora, isso mudou.

Completamente. Eu s� queria ser travesti.

Sem me aperceber que podia ser travesti
e psic�logo, jornalista ou ator...

Isto s�o tudo coisas que eu estudei.

Vivia numa esp�cie de bolha,
num mundo de fantasia.

Pensava que a Zahara Montiere
era uma pessoa que existia mesmo.

Cheguei ao ponto
de me submeter a cirurgias

para melhorar a minha apar�ncia e ficar
mais parecido com uma mulher a s�rio.

Mexi nas ma��s do rosto, nos l�bios,
no queixo, nas n�degas e ancas.

Fui operado �s bochechas tr�s vezes.
Na terceira vez,

foi para casa da Rochelle a chorar,

porque a minha cara estava inchada.
N�o podia acreditar.

Parecia um extraterrestre.

E, um dia, acordei, com 30 ou 35 anos,

e perguntei-me:
"Que estou eu a fazer com a minha vida?"

Isto n�o � nada.

N�o vale a pena.

N�o vale mesmo a pena.

N�o h� informa��es
sobre homens transexuais em Porto Rico.

Sou s� eu...
Continua a procurar, minha.

O m�ximo com que posso sonhar
agora � com uma barba,

mas ouvi, ou li,
que n�o h� maneira de,

agora, aqui em Porto Rico,
arranjar testosterona.

N�o h� testosterona. Ponto final.

Daqui de sair de Porto Rico.

E isso � dif�cil, meu.

Provavelmente vou ficar assim para sempre.

Sem categoria...

Acho que n�o me encaixo
nas categorias bin�rias da vida.

N�o sou nem uma coisa nem outra...

Acho que estou feliz com isso, tipo...

Isto n�o � um capricho.
Eu n�o pedi para ser assim.

Simplesmente cresci assim.
N�o consigo evitar.

Ent�o � tipo, gravam dois dias seguidos
e descansam um.

Depois mais dois dias e descansam mais um.

Estou muito feliz, porque, finalmente,

h� algu�m do nosso grupo
que vai dar o salto.

Vai participar
em algo t�o importante como o RuPaul.

Estamos todas aqui, a Bebo est� aqui,

e a Queen Bee e a Alberic.
Estamos todas.

E, depois da April,
ir� outra e depois outra...

E ficar� uma porta aberta

para que todos os nossos sonhos
se comecem a realizar em grande!

Portanto, estamos muito felizes!

- Penso que...
- O qu�?

- V�-se as cuecas.
- Acho que...

- A�, sim.
- Temos de coser aqui.

E tamb�m temos de coser atr�s.

- Exatamente.
- Mesmo a�, sim.

Sim, est�s muito sexy.

Se pudesses p�r a tua m�sica...

Mas n�o � esta.

Primeiro senti uma euforia enorme,
queria saber tudo o que tinha de levar,

como se iria passar tudo, etc., etc.

Mas, depois, senti gratid�o,

por ter sido a April
e por aquilo que ela vai fazer agora.

Pela notoriedade que trar� a Porto Rico,
pelo que ela tem para oferecer ao mundo.

Mal posso esperar que o programa comece.

E aqui estou eu a dobrar a roupa dela
para que ela possa ir ao programa.

J� nos emocion�mos todos.

E continuamos emocionados.

Mais, mais, mais!

E a boia fica em cima.

- Compraste muitas coisas?
- P�e a�.

- N�o falta nada, certo?
- Estas t-shirts.

- Temos de nos despachar.
- Ent�o e estas unhas?

Temos de l� p�r as unhas.

A Zaira diz que n�o cabem.

Desde os cinco anos que sei o que quero.

Quando me perguntavam
o que queria ser quando fosse grande,

eu respondia, ironicamente:

"Pol�cia." Mas...

... o que queria dizer era: "Mulher!"

A minha m�e apanhou-me na rua
com as roupas dela.

Com o meu cabelo comprido
e com as suas roupas.

Tinha uns 12 anos, na altura.

Quando cheg�mos a casa,
deu-me um serm�o que nunca esquecerei.

Gritou comigo e disse:
"Queres ser uma mulher?

Pois ent�o vais ser uma mulher!"

Deu-me o serm�o
e eu tinha assim o cabelo � tigela

e ela rapou-o todo,
a ponto de me ferir o escalpe.

Tive de passar a usar o cabelo
� escovinha.

Quando ela me fez isto,

com a raiva,
a tristeza com que fiquei, chorei.

A cada peda�o de cabelo que ela cortava...

Ela viu-me pelo espelho e apercebeu-se
de que me estava a magoar imenso.

A partir da�,
as coisas seguiram outro rumo.

Comecei a tomar hormonas
�s escondidas dela

e ela percebeu que eu estava a mudar.

E, finalmente, percebeu
que j� n�o havia volta a dar.

J� sabia para onde eu ia e o que queria.

As coisas mudaram
e passou a aceitar-me completamente.

Gostamos muito de fazer este espet�culo
e de dar umas dicas �s meninas,

mas temos de continuar a lutar
pelos nossos direitos nas ruas.

Agora, deixo-vos com a Ivana.
Um grande aplauso para ela.

� importante que se fa�am ouvir.

Estamos aqui todos a divertirmo-nos,
a beber, a brindar, a saltar,

mas temos de arranjar tempo
para reivindicar os nossos direitos.

E come�amos amanh�, aqui, �s 16h00.

Haver� transportes gr�tis
para todos os que quiserem ir � marcha.

Todos aqueles que precisem
de transporte, amanh�, �s 16h00,

ter�o um autocarro estacionado
aqui � porta � vossa espera.

Contamos com o vosso apoio,

e todos os familiares que possam levar
tamb�m ser�o bem-vindos.

Uma salva de palmas para a Ivana.
Obrigada pela informa��o.

Vamos continuar a apoiar esta causa

e j� estamos prontos
para a pr�xima menina...

Um grande aplauso, como ela merece,

para a Miss April Carri�n!

Luisa, quero ver-te l� na marcha.

- Eu vou.
- A s�rio?

- Quando e onde � que te vamos buscar?
- A casa.

N�o te vou buscar a casa.
�s 17h00 estaremos

em frente o Scandalo, o bar.

17 DE MAIO DE 2013
MARCHA PELA IGUALDADE

Pedimos a Deus que nos ajude,

que nos d� muita tranquilidade,
quando estivermos na marcha.

E que nos d� capacidade de exprimir,

claramente,
a mensagem que queremos passar.

- Muito bem!
- � isso mesmo!

IGUALDADE

Vou a entrevistas de emprego,
dizem sempre que v�o ligar e nunca ligam.

- E acha que � porque...
- Porque sou transexual.

Eu quero ter um emprego,

e ter oportunidade de trabalhar como sou,
n�o como querem que eu seja.

Se me sinto mulher,
quero que me tratem como tal.

Foi para isso que me formei.

As pessoas rotulam,
a sociedade rotula tudo...

A nossa sexualidade. Eu sou como sou.

Posso ser estranha
ou o que quer que me queiram chamar,

mas...

... sou genu�na.

Chamem-me o que quiserem,

transg�nero, transexual,

homem gay ou pessoa confusa.

N�o me interessa.

Eu sei para onde vou,
os sonhos que quero realizar.

Pela primeira vez,
temos transexuais e transg�neros juntos

porque fazemos parte de voc�s!

Estamos a lutar por uma lei
que nos permita trabalhar

com a identidade que escolhemos!

Est� na hora de nos unirmos,
de trabalhar juntos como uma comunidade.

Todos somos um.
Vamos parar de viver � margem!

Nem todas somos prostitutas.

E, se estamos nas ruas,

� porque o governo
n�o nos deixa trabalhar!

Voc�s nem imaginam

como est�o todos t�o bonitos hoje.

PRESIDENTE DA C�MARA DE SAN JUAN

Todos os dias,
voc�s enchem a nossa cidade de amor,

toler�ncia

e compreens�o.

Conseguiram unir pessoas
de diferentes ideologias,

de todos os partidos,
de todas as zonas de Porto Rico,

numa �nica miss�o.

Quero que o digam comigo,
de alma e cora��o,

para que Porto Rico inteiro
nos possa ouvir:

Somos todos iguais.

Digam comigo: Somos todos iguais!

Somos todos iguais!

Somos iguais!

DOIS DIAS DEPOIS O PARLAMENTO
DE PORTO RICO ASSINOU

A LEI QUE PROIBE DISCRIMINA��O LABORAL

BASEADA EM IDENTIDADE DE G�NERO
E ORIENTA��O SEXUAL

- Tamb�m quero uma com a minha.
- Toma.

Porque n�o largam as m�quinas
e v�o v�m para tr�s de n�s?

- E ficamos todos na foto?
- Sim.

Dizer que sou transexual �
mais um orgulho que uma vergonha,

independentemente do que maioria pensa.

E porque digo isso? Porque...

... � o que sinto e � assim que vivo.

Assumi-me publicamente em 2003.

H� mais de 10 anos.

E nunca tive vergonha de aparecer na TV,
ou em qualquer outro s�tio p�blico,

para falar da minha vida
com o prop�sito de educar a popula��o.

E acho que foi bem sucedida.

H� muita gente que mudou de opini�o.

As coisas talvez n�o aconte�am
com a rapidez que eu quero,

mas j� alcan��mos algo.

Viemos celebrar
o meu primeiro dia de trabalho.

Come�o a trabalhar amanh� no departamento
de habita��o, serei funcion�ria p�blica,

Celebramos porque � mais uma porta
que se abre para a comunidade transexual.

E come�o amanh�. �s oito da manh�.

Come�o amanh�!

Estou?

Quem fala?

Quem?

Meu paneleiro! Porque n�o apareceste?

A s�rio? Porque n�o me ligaste?

Escuta, tenho mais novidades!

Vou come�ar a trabalhar.

No departamento de habita��o.
Vou agora assinar o contrato.

Sim, estou muito contente.

TRA�ANDO UM NOVO COME�O

A vida � vazia e sem significado e isso...

Vazia e sem significado
n�o significa nada... e � vazia.

Portanto, nesse espa�o,
o que resta s�o as possibilidades.

Podemos criar possibilidades

e, nessas possibilidades,
podemos escolher o que queremos ser.

E como o fazemos? Com a nossa palavra.

A vida � criada pela linguagem,
e com a linguagem

podemos ser aquilo
que dizemos que vamos ser.

Por isso, digam o que querem ser e sejam!

A APRIL PARTICIPOU
NO RUPAUL'S DRAG RACE.

DESDE QUE ESTREOU,
J� TEM V�RIOS ESPET�CULOS MARCADOS.

DEPOIS DE REFORMAR
A ZAHARA DA CENA DRAG,

O ALBERIC DECIDIU SEGUIR
O SEU VERDADEIRO SONHO

DE SE TORNAR ADVOGADO.

A IVANA CONTINUA A FAZER MANCHETES.

VIAJA ENTRE NOVA IORQUE E PORTO RICO,

COMO PORTA-VOZ
DA BUTTERFLIES TRANS FOUNDATION.

O PAXX E A SUA NAMORADA ABRIRAM
O SEU PRIMEIRO NEG�CIO,

UMA ROULOTE DE COMIDA.

AINDA N�O SABE BEM COMO DEFINIR
A SUA IDENTIDADE DE G�NERO.

A QUEEN BEE ATUA EM FESTAS,
ANIVERS�RIOS E CLUBES NOTURNOS.

ESPERA PODER SEGUIR
AS PISADAS DA SUA �DOLA:

BEYONC�.

A SOPHIA ABRIU O "HEAVEN AND HELL".

A MAIOR DISCOTECA GAY
DE PORTO RICO.

A SORAYA TERMINOU
O SEU LIVRO DE MEM�RIAS.

CHAMOU-LHE HAND MADE.

A SANDY AINDA N�O CONSEGUIU
SAIR DAS RUAS.

E PREPARA-SE PARA ABORDAR
A QUESTAO DA ADO��O.

A SAMANTHA MUDOU-SE PARA NASHVILLE,
NO TENNESSEE.

ESPERA PODER RECOME�AR
A SUA TRANSI��O EM BREVE.

FIM

INSPIRADO NA VIDA
DE MAGGIE McMUFFINS

DEDICADO AOS NOSSOS PAIS

Legendas: Joana M.

Ajude-nos e torne-se membro VIP
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