All language subtitles for Chambre.212.2019

Passam os dias
E passam as semanas

Nem o tempo passado
Nem os amores passados regressam

Sob a ponte Mirabeau corre o Sena

Vem a noite e soa a hora

Os dias passam, eu permane�o

Beija-me os seios.

- Assim?
- O outro, tamb�m.

- Agora na barriga.
- Nem pensar. Rua, vadia.

N�o, Asdrubal, "vadia", n�o.

Nunca se diz isso a uma francesa.
Sobretudo a uma que gostas de beijar.

� melhor dizeres...

... rameira, putinha, mas vadia, n�o.

Vou tentar lembrar-me.
Agora, avuelta, afora, rapidamente!

Meu pequeno Pinochet do amor...

Lamento, meninos,
mas � mais do que consigo aguentar.

� demasiado.

Ser a amante escondida no arm�rio
pode divertir-me um pouco...

Nada contra o teatro de variedades.

Estava disposta a ser paciente,
e at� come�ava a dar-me um serm�o.

"V� onde acabaste
ao sair com os teus brilhantes alunos.

� para aprenderes
a querer educar a juventude..."

� tua professora?

Menina, as suas lamechices obscenas,
os seus galanteios de baixo n�vel,

recuso-me a aceit�-los.

Compreenda, enquanto mulher
e enquanto historiadora

era imposs�vel manter-me calada.

� tua professora de qu�?

De Hist�ria da Justi�a
e do Processo Legal.

N�o lhe leve a mal.

Fui eu que fui atr�s dele.
A responsabilidade � minha.

Ele nada fez para me seduzir,
seduzi-me sozinha.

E tudo pelo seu estado civil.

"Asdrubal Electorat."

Raramente me cruzei
com um nome t�o er�tico

em toda a minha carreira universit�ria.

Sou incapaz de resistir
aos meus fantasmas antropon�micos.

Enfim, Asdrubal, obrigada.
Foram dois meses deliciosos.

- Dois meses?!
- Quase.

Mas com tr�s vezes por semana,
n�o tenho o direito de me queixar.

QUARTO 212

Tomas um duche antes do jantar?

Estava toda suada,
vim de bicicleta.

N�o tragas a gripe c� para casa.

Vou levar a tua roupa,
vou fazer uma m�quina.

Obrigada.

ELA DEIXOU-ME, AGRADE�O-TE

O INVERNO A FODER CONTIGO
FOI A MELHOR COISA DA MINHA VIDA.

N�O QUERO PRIVAR-ME DE TE COMER
TAMB�M NA PRIMAVERA.

- Querido, viste o meu telem�vel?
- N�o.

� um caso horr�vel.

A mulher acabou por desenterrar o marido
para que n�o lhe assombrasse os sonhos.

Bem, ela disse ao juiz
que n�o eram sonhos.

Dizia que lhe aparecia
todas as noites e lhe batia.

Sendo que o marido
estava no cemit�rio h� dois anos.

� mais ou menos psicogenealogia.

O marido morto
n�o era um fantasma, para ela.

Era um vest�gio vivo.

Um segredo que revelava a si pr�pria.

N�o ouviste uma vibra��o?

N�o, nada.

Queres um caf�?

Tenho quase a certeza de ter lido
sobre o assassinato de um cad�ver

num romance do Henry James.

Talvez no "The Ghostly Rental".

N�o te diz nada?

Onde est�o os Henry James?

Porque � que no "J" de "James"
encontro um Montpassant e um Mauvignier?

Merda, Richard, a organiza��o alfab�tica
n�o � dif�cil de compreender, pois n�o?

C� est�o os James.

Pergunto-me se o tipo
que te comeu este Inverno

e que quer continuar na Primavera
se chama "A" como "Antoine" ou "Alex"

ou como "anormal".

Temos de falar sobre isso agora?

N�o sei, pareces estar em arruma��es.

N�o tem import�ncia, acredita.

Quem �? Conhe�o-o?

� "A", como "Asdrubal".
O apelido � "Electorat".

Podemos passar a outro assunto?

Tens um amante,
chama-se Asdrabol qualquer coisa

e queres que passemos a outro assunto?

� in�til dramatizar
esta hist�ria, asseguro-te.

� s� uma actividade sexual divertida.
E al�m disso, terminou hoje.

N�o � nada que requeira
uma longa explica��o.

Desde quando a tua sexualidade
se tornou uma actividade extraconjugal?

H� anos, meu amor,
que vivemos como irm�o e irm�.

Ent�o, por vezes,
tal como tu, imagino,

permito-me aventuras
que nada t�m a ver connosco.

Sabes que me est�s a anunciar algo
que nunca imaginei?

N�o me toques.

Estiveste com ele esta tarde?

Mas, querido,
estamos juntos h� mais de 20 anos.

N�o h� casal que dure tanto
sem pequenas escapadelas aqui e ali.

� normal, � l�gico.

� a lei dos casais que duram.
Ningu�m lhe escapa.

� como dois e dois serem quatro,
o resto s�o hist�rias.

S� que eu nunca te enganei, em 25 anos.

Mentiroso.

Mas n�o quero saber de nada.

N�o se trata de atribuir a um de n�s
a medalha de m�rito conjugal.

Um homem nunca casa
com a mulher com quem devia.

- N�o digas isso. N�o � justo.
- N�o, n�o � justo, claro.

Mas talvez n�o devesse ter casado.

�ramos muitas a querer casar contigo?
Lembra-me, n�o me recordo.

- N�o � o tom que te conv�m.
- N�o � uma quest�o de tom.

Queria saber quem seria a mulher
com quem devias ter casado.

N�o sei...

A Ir�ne Haffner, por exemplo.

H� muito tempo que n�o ouv�amos falar
da menina Ir�ne Haffner.

Sim...

Mas ela amava-me,
ao passo que tu...

Eu, o qu�?!
Qual � a tua acusa��o?

Nada, � s� que...

Apercebo-me de que desperdicei
os meus melhores anos

com uma pessoa
absolutamente desonesta.

Eram isto, os teus "melhores anos"?

Richard.

Richard!

Deixa-me em paz.

Tu e eu temos de reflectir.

Maria.

Sabes o que realmente queres?

Preciso de estar sozinha.

Sozinha? Quer dizer, sem mim?

Quer apenas dizer sozinha.

Richard?

Digo-te que desaprovo totalmente
a tua atitude.

� nojento o que me est�s a fazer.

Mas Richard,
como podes estar t�o jovem?

Ser jovem a um certo momento da vida
est� ao alcance de todos.

- Mas n�o continuar jovem.
- E porque n�o?

� bom que n�o esque�as
que tive 25 anos

e que me amaste loucamente
quando tinha essa idade.

� absurdo.

- Podes explicar-me o que se passa?
- Tu � que tens de me explicar.

Quando me preveniste de que
te ias comportar de forma t�o suja

quando fosses velha?

J� viste em que estado me deixaste?

Sinto muito, a s�rio.

Pensava que era
um entendimento nosso.

Nunca pensei que desses
tanta import�ncia � fidelidade.

Richard, tenho de fazer
o ponto da situa��o.

Tu pr�prio me disseste
que devia reflectir.

Sabes bem que n�o consigo reflectir
se estiveres presente.

Estou louco de apreens�o, d�s-te conta?

Estou a pensar que partiste
com esse Astroudbal para sempre.

Imagino o pior.

Perceber�s que est�s enganado.

Como v�s, n�o desapareci
nos bra�os de ningu�m.

Apenas me instalei do outro lado da rua,
perto de ti, para decidir.

Vais deixar-me?

Tu � que me puseste na rua.

D�-me uma oportunidade
de vir ter contigo.

De resolver esta quest�o
com fortes promessas.

Acena-me pela janela, raios.

Nem pensar, s�o coisas nossas.

E ele n�o disse que uma noite de reflex�o
cada um para seu lado

n�o seria proveitosa para ambos.

- Era a tua sonata, n�o era?
- Sim.

Sabes que depois de nos casarmos,
n�o voltaste a tocar piano?

Certamente tive outras prioridades.

Bastava que te sentasses ao piano
para que derretesse como a��car no ch�.

Achas isso,
mas � apenas nostalgia equivocada.

Gostava tanto da tua cara de gato inquieto
quando pousavas as m�os nas teclas.

Se bem me lembro, tamb�m gostavas
de outras partes da minha anatomia.

Mas os anos passam,
e acabamos por nos fartar de tudo.

- N�o compreendo porque paraste de tocar.
- Tinha as minhas raz�es.

Est�s a insinuar que a culpa � minha?

N�o � comigo
que deves falar sobre isso.

Mas se o que sinto te inquieta

h� um homem do outro lado da rua
pronto a responder-te.

- Volta para o teu quarto.
- Quero dormir aqui.

- Encostada a ti.
- N�o est�s boa da cabe�a, velha.

N�o me estejas sempre a chamar velha!

J� � cruel que chegue ver-te t�o jovem
e sentir-me t�o repugnante.

N�o est�s repugnante.

Enfim, a tua cara, sim.

Tornou-se de facto repugnante.
Mas o resto n�o est� mal.

Obrigada.

Porqu�? Disse que n�o estava mal.
Presta aten��o.

Tens raz�o,
vou voltar para o meu quarto.

N�o, Maria...

Repara no que te tornaste.

Eras deliciosa e apaixonada,
e eis-te gananciosa e organizada.

Que conversa � essa?

� pat�tico ires para a cama
com tipos com metade da tua idade.

Imaginas-te muito livre e alegre
mas tornaste-te triste, c�nica,

de um ego�smo g�lido.
V�s a vida de forma utilit�ria.

Agora tudo tem
a sua pequena explica��o,

uma l�gica �nica
que � a do teu bem-estar.

"Dois e dois s�o quatro
e o resto s�o hist�rias.

D�s-te conta de como
o teu c�rebro passou a funcionar?

Quando te conheci, estavas disposta a tudo
para que dois e dois fossem cinco.

Dois e dois s�o cinco.
Terias achado isso t�o...

... verdadeiro, t�o encantador.

Como pudeste convencer-te de que
s� o teu interesse importa na vida?

Que requisit�rio!

Enganas-te, n�o � um julgamento.
� um desgosto de amor.

Como queres que tenha
vontade de tocar piano?

N�o se toca piano para
uma mulher que quer lucrar com tudo.

O que pode a m�sica oferecer
a uma mulher assim?

Mas tens raz�o,
j� n�o me diz respeito.

N�o sabia que te tinha desiludido tanto.

Agora j� o sabes.

Vamos.

Deixemo-nos sem dizer mais.

N�o, por uma vez est�s a falar.

� in�til, este g�nero de conversa
n�o leva a nada. Apenas magoa.

N�o me fa�as essa cara, imploro-te.

Proponho que nos sentemos durante
cinco minutos, mas sem falar, est� bem?

Fiz o melhor que podia, sabes?

Talvez. Enfim, n�o acho...
Caluda. N�o falamos.

Se me beijasses agora, eu deixava.

N�o � boa ideia.

� at� o oposto de uma boa ideia.

Antes n�o te faltavam m�s ideias.
A prova � que te casaste comigo.

Fi-lo contrariado, sim?
Para que fique claro.

Est� bem.
Est� muito claro.

Vamos estabelecer
que fui eu que te obriguei.

Detesto como est�s a inverter a situa��o.

Compreendo.

Tens o direito de n�o gostar.

Sou a professora de piano do Richard.

Ol�.

Ele nunca lhe falou
sobre a professora de piano?

Do conservat�rio?

Sim, talvez...

Muito prazer.

Mas onde est� ele?

Queria ver a sua cara.

N�o � bonito, admito,
mas intrigava-me.

Perguntava-me como seria
a Maria Mortemart.

O que faz aqui?

Sou a Ir�ne Haffner.

� voc� a amiga dele, a Ir�ne?

O Richard falou-lhe de mim
como sendo uma amiga?

N�o, de todo.

Diz mais frequentemente
"o meu amor da juventude".

Mas n�o a imaginava assim.

Imaginava-a mais nova do que ele.

� raro as professoras de piano
serem mais novas do que os alunos.

N�o sabia que
a professora de piano do Richard

e a Ir�ne Haffner eram a mesma pessoa.

Espere.

Que idade tinha o Richard
quando o conheceu?

Sim...

Podem ir, obrigada.

Adeus. At� para a semana.

Adeus.

Adeus.

Adeus.

Menina Haffner?

Gostava de saber se...

... se descobrir
que estou apaixonado por si

me arrisco a ser corrido da sua aula

ou se me autorizar� a assistir,
mesmo assim.

Decidi que o Richard
teria aulas em minha casa

e n�o no conservat�rio.

N�o sei como esse ritual se iniciou

mas quando entrava ia logo
� casa de banho tomar um duche.

Era a hora do lanche.

Comprava-lhe um �clair
de chocolate ou de caf�.

Depois juntava-se a mim ao piano.

Festej�mos juntos os seus 15 anos,

os 16,

os 17,

18, 19, 20, 21, 22.

Depois contou-me
que o tinha pedido em casamento.

Ele n�o me tinha escondido
a sua liga��o consigo.

Richard...

� a �ltima vez que nos beijamos.

Porqu�?

Porque... te vais casar
com essa jovem, a Maria,

e tudo o que desejo doravante
� que sejas feliz com ela.

Tu e ela, n�o tem nada a ver...

N�o podes casar com ela e continuar
a vir aqui como se n�o fosse nada.

N�o �s o g�nero de rapaz
capaz de uma coisa dessas.

Sim, sinto-me completamente capaz disso.
Sei comportar-me como o pior dos canalhas.

Continuamos, tocamos piano,
beijamo-nos, e fodemos um pouco.

� importante que vivas a tua vida.

- Tu fazes parte dela.
- N�o, meu pequeno.

Sou s� um detalhe divertido
da tua adolesc�ncia, um capricho.

Que rapaz n�o sonha comer
a sua professora de piano?

- Queres que me v� embora?
- Sim, est� na hora.

Se me for embora
n�o volto a p�r aqui os p�s.

� melhor assim.

Talvez fosses tu quem sonhava
comer um dos teus alunos?

Talvez. Tens raz�o.

Quando conheci o Richard,
era um menino rico com uma pele m�.

Limpei-o, de tudo.

Da mesquinhez ran�osa do seu meio,
da sua sujidade de burgu�s,

da sua fealdade gen�tica.

Gra�as a mim,
tornou-se outro homem.

Doce, leitor, atraente...

Terno.

Fabriquei um marido ideal.

N�o pude aproveit�-lo.
Tive de lhe ceder o lugar.

Quando ele partiu consigo,
apesar de me achar h� muito preparada,

a minha vida desmoronou-se.

Foi a queda total.

N�o havia mais alegria,
mais nada.

N�o esperava um tal massacre.

�s vezes somos cegos,
incapazes de compreender,

de ver, simplesmente,

que a nossa vida
gira em torno de uma �nica pessoa.

Quando se casaram,
jurei n�o voltar a v�-lo.

Seis meses ap�s a nossa separa��o,
parti sem deixar morada.

Mudei-me para a Ba�a de Somme.

Mas desde esta manh�,
voltei a viver.

Para qu� acordar o passado?

Por sua causa, ou gra�as a si,

subitamente tudo me parece
de novo poss�vel.

E se fosse a minha vez?

E se decidisse devolver-me
o que me tirou?

Vou ter direito
a uma segunda oportunidade?

Mas de que fala?

Richard?

Ir�ne.

Desperdicei o nosso amor
por uma mulher que n�o valia a pena.

Agora sei-o.
Devia ter ficado contigo.

N�o te pude dar
os melhores anos da minha vida

mas posso oferecer-te os restantes.

Estou aqui porque o Richard
me pediu que voltasse � sua vida.

Pe�o a sua autoriza��o
para atravessar a rua e ir ter com ele.

� o que queres?

Sinto que me vais deixar

e sabes bem que, ao contr�rio de ti,
sou incapaz de viver sozinho.

Achas mesmo
que foi um erro casares comigo?

Diz-me.

N�o dizes nada?

- Merda, Richard! Responde!
- Estou a pensar.

Este tipo de pergunta
n�o exige tanta reflex�o.

O que foi?

Tinha-me esquecido
de que fumavas tanto.

Deixei de fumar?
Ainda bem.

N�o s� deixaste como agora
s� se pode fumar � janela.

Queres transmitir � Ir�ne
que me tornei um desmancha-prazeres?

D�-me um, por favor.

A mim tamb�m.

J� n�o fumas.

Ao telefone
chamas "mister" aos teus amigos.

"Ol�, mister, tudo bem?"

Dizes piadas parvas.

Dormes de cuecas.

Falas muito do "modelo alem�o".
Tudo o que � alem�o te faz subir ao c�u.

Prometo-lhe que tomarei bem conta dele.

Quem lhe disse que o Richard
do outro lado da rua ainda a quer?

Talvez a tenha esquecido.
N�o se preocupa muito com o passado.

Deixa-me escolher, por uma vez.
N�o decidas por mim.

� um risco que estou disposta a correr.

Podemos corrigir os nossos erros.
N�o era o homem certo para ti, � s�.

N�o concordo nada.

�s um marido
que me conv�m perfeitamente.

- E o Asdroubal Electorat?
- O que tem ele?

N�o vamos fazer disso um caso.
S� porque me permito um desvio...

Maria.

Temos a lista de todos os "desvios".

Como assim?
Uma lista de qu�?

Quem tomou a liberdade
de fazer uma lista?

M�e?

Sou eu que tenho a lista.

E acredita, minha filha,
n�o � por prazer.

O que fazes aqui?

O que foi? N�o h� lugar
para a tua m�e nesta hist�ria?

- Mas tu morreste.
- Grande coisa...

Isso n�o me impedir� de falar.

Proponho que nos fiquemos
pelos amantes p�s-casamento.

Lamento, meu pobre Richard.
Talvez prefira sair?

N�o, Mme. Mortemart,
n�o ser� por alguns nomes...

Se fossem s� alguns...

Ent�o, come�ando
pelos mais recentes...

Asdrubal Electorat,

Karsten Schubert,

Gurvan Le Bellec,

Samir Barich,

Amin Bou�,

L�onor Cambremer,

Issakha Kant�, Albert Himes,

Pierre Mortemart...

O qu�?!
Mas � o primo dela!

Sim, meu pobre Richard.

Ver�o de 2001, durante
as vossas f�rias na Bretanha.

P�ra! J� chega!

N�o tenho de aturar isto.

Merda, fodo com quem quiser.

� da minha conta se quero despir
os homens com quem me cruzo na rua.

Isso n�o faz de mim o Diabo.

E nunca abusei de ningu�m.

Anton Granadas...

- L�on Jones.
- Ele n�o quis.

Alexander Leach.

Quem vai para a cama com um primo
depois dos 14 anos?!

Toda a gente.

- Hannibal...
- Caluda!

Porqu�?
Podemos falar sobre isso.

Visto que nada tem de vergonhoso.

Eu pergunto-te com quantos homens
foste para a cama?

H� um n�mero que diga que �s
uma boa senhora e eu um lixo?

N�o � essa a quest�o.

Rapariga m�!

Dormiste com mais homens

do que todas as mulheres da nossa fam�lia
desde h� mais de cinco gera��es!

M�e, gostaria de resolver isto
� minha maneira.

Como podes fingir que o Richard
era o homem de quem precisavas

quando precisaste
de muitos, muitos mais?

For�a.

V� consolar o meu marido
da sua terr�vel mulher ad�ltera.

Vai ver que a espera uma surpresa.

Maria, n�o vale a pena
seres desagrad�vel.

Ela que v�!
Veremos como a recebes.

Seja qual for o estado
em que te encontre

prometo levar o tempo que for preciso
para te consertar.

Espero n�o te desiludir.

Est� fechada,
deve haver um c�digo.

Qual � o c�digo da porta?

4372B.

4372B.

Que disparate
me est�s a obrigar a fazer?

Que emboscada � esta?
Richard!

- Richard, n�o abras!
- Cala-te.

J� chega.

Chega!

- Larga-me!
- Que chata.

- Larga-me.
- J� chega.

Como pude apaixonar-me por ti?
J� viste o sacana que �s?

Sim?

Ol�, Richard.

Merda, Ir�ne.

Como pude n�o te reconhecer?

� incr�vel, n�o mudaste.

N�o me lisonjeies.
Sei que n�o estou como dantes.

Est�s sim.
Exactamente como eras.

Como podes estar t�o jovem?

- Achas-me assim t�o jovem?
- Sim.

A ti, posso admiti-lo.
Fiz algumas coisinhas.

Aqui e... aqui.

N�o se nota demasiado?

N�o se nota nada.

� como se te tivesse visto ontem.

Posso garantir-te
que n�o nos vimos ontem.

Mas... que idade tens agora? 60?

- Posso entrar?
- Claro.

Estava a organizar umas coisas.

Vives aqui h� muito tempo?

H� 12 anos.

Comprei-a quando os meus pais morreram.

N�o sabia.

Morreram juntos
num acidente de carro.

160 anos entre os dois.

� um final feliz, de certa forma.

Sim, todos o desejamos.

O qu�?

Um final feliz.

Vem, por favor.

Pe�o desculpa.
Est� uma confus�o.

Mas, Ir�ne, como me encontraste?

Por um enorme acaso.

Vim a Paris no fim-de-semana
e fiquei naquele hotel, mesmo em frente.

� uma loucura, n�o �?

- Sim.
- Vi-te da janela.

Estava certa de te ter reconhecido.

Achei que seria idiota
n�o atravessar a rua para te cumprimentar.

No hotel em frente?

"Talvez ele goste
de me voltar a ver", pensei.

Sim. Fizeste bem.

"� t�o inesperada, a tua visita...
E est�s a�, igual.

Ainda tens um piano?

Sim, mas j� n�o toco.

Ainda est� afinado.

N�o vejo quartos de crian�as
no apartamento.

� natural, n�o temos filhos.

- N�o?
- N�o.

Lembro-me de que
querias ter quatro filhos.

Era o que queria, mas a Maria
n�o achava o mesmo. Por isso, n�o temos.

- A Maria?
- A Maria.

Ela n�o est�?

N�o, mas n�o deve demorar.

Ent�o est� tudo bem entre voc�s?

N�o digo que n�o tenha havido
alguns problemas, mas sim, obrigado.

Da tua parte?

Nessas coisas
todos t�m as suas responsabilidades.

Isso � convosco, desculpa.

N�o tens nada que se beba?

- Richard?
- Sim?

Estava no hotel em frente,
mas n�o foi assim que te encontrei.

- Ah, n�o?
- N�o.

Menti-te.

Na verdade,

encontrei a tua mulher na rua
ontem � noite, l� em baixo,

e ela contou-me o que se passa,
meu pobre querido.

O que te disse ela?

Que se separaram.

Porque te disse isso?
N�o nos separ�mos.

Mas para a Maria, parecia ser claro.

Sabes, ela �s vezes
tem um humor seco.

Deves ter compreendido mal.

Ela pareceu-me determinada,
mas talvez esteja enganada, sim.

Como a reconheceste?

Nunca se conheceram.

Que tu saibas.

O que est�s a dizer?

Quando ela te pediu em casamento,
entrei em contacto com ela.

Porque fizeste isso?

Porque n�o podia abandonar-te
a uma mulher sobre quem nada sabia.

A Maria compreendeu.

E mantivemo-nos em contacto
desde ent�o.

Ela dava-me not�cias vossas.

Um cart�o no Ano Novo,
esse tipo de coisas.

Foi ela que me recomendou o hotel.

Encontravam-se nas minhas costas?

Ela esperava-me na entrada do hotel
ontem � noite

e contou-me o que se passava convosco.
- Tinha sa�do daqui?

Sim, com um saco de viagem.

Disse-me que ia sair de casa

e que certamente terias
muito prazer em voltar a ver-me.

Deu-me o c�digo da porta de entrada.

4372B.

E � isso.

Por isso � que me senti
� vontade para vir.

Est�s bem?

- N�o me sinto muito bem.
- Sim?

J� nem sei onde estou.

Sim, est�s p�lido.

- Estou completamente perdido.
- Mas porqu�?

N�o compreendo
o que se passa com a Maria.

E se par�ssemos de falar dela?

Vem.

Vem sentar-te ao piano comigo.

Lembras-te do nosso banco?

Acredita, j� n�o sei tocar.

Mas eu sei.

E quero tocar-te Scarlatti.

Vai lavar-te a alma, ver�s.

Uma pequena sonata de alguns minutos

que vai ser como
um sil�ncio de 25 anos na tua cabe�a.

Senta-te ao meu lado.

Traz-me um dos cigarros da Maria.
Apetece-me fumar.

Um cigarro da Maria?

A Maria, a tua ex-mulher.
Ela fuma, n�o fuma?

- N�o te incomoda que abra a janela?
- N�o, pelo contr�rio.

Abre a janela, Richard.

Escancara-a.

Que Scarlatti invada Paris.

- N�o � o que era suposto suceder?
- Eu sei, mas fico muito desconfort�vel.

N�o deverias ter pensado nisso antes?

N�o quero ver
aquele porco tocar-lhe, enoja-me.

Aquele porco �s tu.

Eu sei, obrigado.

Mas � dif�cil aceit�-lo, mesmo para mim.
Compreendes, n�o?

Por agora n�o h� raz�es, para alarme.

N�o est�s com um ar muito, empreendedor.

Ela s�-lo-� pelos dois, acredita.
N�o vou resistir muito tempo.

Mas n�o � o que querias?

J� n�o sei.

Como, j� n�o sabes?

Dou-te o teu "grande amor da juventude"
numa bandeja e j� n�o sabes?

Tenho a impress�o que
tens de voltar para o outro lado da rua.

Acho que vai acabar mal, se n�o voltares.

Este jogo est� a tornar-se doentio.

Nem pensar em atravessar a rua.
Que conversa � essa?

Estou muito bem deste lado.

Ela apanha-te velho,
eu guardo-te jovem.

Toda a gente fica feliz.

Achas que � assim
que vamos viver felizes?

Pensa.

Vais voltar a viver nos anos 90?

Est�s passada dos carretos.

E verdade.

Achas mesmo que estou a perder a cabe�a?

N�o, estou aqui.

Quem �?

Sou a sua vontade.
Sou eu que a guio.

Mas porque tem a minha vontade
a cara do Charles Aznavour?

Acha-lo parecido com o Aznavour?

Ainda ontem, tinha vinte anos
Acariciava o tempo e jogava a vida

V�s?

Posso entrar?

Que bonito.

O que � isto?

Bravo.

Vou sentar-me aqui.

Agrade�o-lhe, mas n�o estou certa
de precisar dos seus servi�os.

Um pequeno resumo da sua situa��o?

Acaba de empurrar
para os bra�os do seu "velho" marido

o seu amor de juventude
e sua primeira amante

e voc� aproveita para ir para
a cama com esse mesmo marido

mas com a idade que tinha
quando se conheceram.

Ou seja, muito jovem, muito bonito.

Se quiser, sim.

E n�o v� porque a chateiam com isso?

� o seu marido,
e � consigo se o prefere com 25 anos

em vez de a caminho dos 50.
- Isso mesmo.

Se j� n�o se pode enganar o marido
com ele pr�prio, onde vamos parar?!

- Veio dar-me um serm�o?
- N�o, de todo.

N�o me interprete mal.
N�o sou o Grilo Falante do Pin�quio.

� outro que se encarrega
da sua consci�ncia.

O meu papel � apenas
fortalec�-la nas suas decis�es.

Ent�o, por alto,
est� aqui para dizer: "For�a, mi�da."

N�o � mentira.
Penso frequentemente nisso assim.

"Este homem que vai a passar agrada-me.
E se fosse falar com ele?"

De facto, nessas situa��es
raramente me oponho.

Dou o sinal verde.

Sobretudo se o homem for bonito

e tiver um rabo rechonchudo.

O Charles Aznavour era maricas?

N�o � essa a quest�o, Maria.

Vivo sozinho com a minha m�e

N�o acha que pod�amos esperar mais de si?

- Sim?
- N�o o ou�a, � uma armadilha.

Um pouco menos de desejo e um pouco
mais de princ�pios n�o seria mais justo?

Meu rapazinho,
alguma vez sabemos o que � justo?

N�o me chame rapazinho.

No entanto, tem ar de ter
um esp�rito muito pequeno

e de rapazinho.

Podes acalmar a tua cabe�a, querida?
Sen�o, dou-lhe um tabefe.

N�o comecem, rapazes.
Preciso de clareza.

Deixem-me pensar.

� o nosso beb�.

Mas desde quando temos um beb�?!

Acalma-te, vais faz�-lo chorar.

Anda.

Vem.

J� viste, tem os teus olhos.

- � o nosso filho?
- Sim.

E prometo-te que o
segundo chegar� em breve.

E o terceiro.

E o quarto.

Vou dar-te tudo, Richard.

Tudo o que te deveria ter dado.

Nunca te deveria ter deixado partir.
Perdoa-me, fui idiota.

Fui orgulhosa.

Como pude acreditar
que ser�amos mais felizes separados?

Vim oferecer-te
um bilhete de volta, Richard.

Vim retomar o meu lugar,
onde o deixei.

- Mas eu sou casado.
- N�o.

A Maria foi-se embora.

S� existimos n�s
e um futuro risonho.

O futuro disse-me
que tinha de voltar.

Que o teu lindo sorriso era para mim.

Porque continuarias a sorrir
para algu�m que j� n�o te ama?

Tenho a sensa��o
de j� n�o conseguir pensar.

O facto de eu ter sa�do da sua cabe�a
n�o deve ajudar.

Ent�o, como fa�o?

Pergunte-lhe.

- H� uma pergunta?
- Claro, h� sempre uma pergunta.

Esquerda, direita,
parar ou continuar...

Hoje, amanh�,
cola zero, cola normal...

- Porque j� n�o me amas, por exemplo?
- A� est�. Mas n�o � a melhor pergunta.

Se fosse a si, evitava fazer
esse g�nero de pergunta.

Mas posso convenc�-la
a perguntar-lhe...

Porque j� n�o te amo, Richard?

Bom.

- N�o vai fugir?
- N�o, deixo-vos a s�s.

Estarei por perto, n�o se preocupe.

Talvez porque o meu corpo mudou
e o teu desejo tamb�m.

N�o?

Talvez porque os meus �rg�os envelhecem.

Os meus olhos v�em menos.
Os meus ouvidos ouvem-te menos bem.

O meu cabelo desaparece,
os meus dentes apodrecem...

A minha pele enruga.

E a minha alma tamb�m.

N�o h� raz�o para n�o ter envelhecido,
como o resto.

Talvez j� n�o me ames
porque sofri demasiados golpes

e n�o suportes ver-me assim.

Ca�do e indefeso.

Certamente tamb�m n�o me queixei
o suficiente desses golpes.

Tu achavas que me estava nas tintas.
Que gostava de mim assim.

Que achava que este corpo esfarrapado
era aceit�vel para ambos, mas...

... n�o � verdade, Maria.

N�o gosto nada de mim.

N�o podes dizer que eu e a Maria
j� n�o nos amamos, � falso.

� simplesmente falso.

Basta que as nossas peles
se toquem por um instante

para que sejamos salvos.

A�, o que importam
as nossas feridas, as nossas raivas,

a profundeza das nossas solid�es...

Basta um desses contactos,
ainda que ligeiro, ainda que fugaz...

... e tudo refloresce, tudo respira.

A m�o dela na minha nuca...

Pouso a cabe�a no seu ombro...

... e a reac��o qu�mica
ocorre imediatamente.

Est�s a falar-me
da mem�ria do amor

e n�o do amor, Richard.

N�o do amor no tempo presente.

O amor no presente n�o faz sentido.

O amor constr�i-se sempre
num lugar da mem�ria.

� sempre um lugar escolhido a dois.

� sempre... um outrora.

O outrora dos primeiros instantes,
das primeiras palpita��es.

Dos primeiros dias
em que nos soubemos apaixonados.

Depois, reconhe�o,
mantemos viva a mem�ria.

N�o � o presente.

� do passado que fazemos ressurgir
a certeza do amor.

Maria, p�ra.

Sabes bem que o que dantes
ocorria espontaneamente

requer hoje em dia cada
vez mais est�mulos.

N�o finjas que n�o sabes do que falo.

J� s� fazemos amor
em noites excepcionais.

E mesmo assim,
por termos bebido um copo

por termos visto um filme
com cenas sensuais

ou por rituais
que nenhum de n�s ousaria ignorar

como os nossos anivers�rios
ou o ano novo.

A sexualidade juntou-se �s in�meras coisas
que escondemos um do outro.

A pouco e pouco
deix�mos de nos conhecer

enquanto fing�amos
conhecer-nos perfeitamente.

E foi isso que levou � cat�strofe.

Ocorreu de duas formas:

Gradualmente, e depois de uma s� vez.

�s vezes parece-me imposs�vel transpor
a dist�ncia que separa os nossos corpos.

Parece-me imposs�vel estender a m�o.

Acontece em algumas noites,
neste quarto.

Depois de apagarmos a luz,
mal dizemos "boa noite".

Escurid�o.

Fito o tecto

e no sil�ncio, digo a mim mesmo
que bastaria que abrisse a m�o

e a pousasse no seu corpo

e o seu cora��o abrir-se-ia.

E isso d� cabo de mim

porque n�o consigo.

Isso enlouquece-me, juro-te.

Mas sempre,
justamente no momento de loucura,

quando imagino o pior,

n�o houve uma noite
em que o milagre n�o se desse.

Senti sempre o corpo da Maria
virar-se para o lado

e deslocar-se uns cent�metros
sobre o colch�o, na minha direc��o.

Ela encosta o rabo ao meu ventre

eu estico um bra�o...

Os meus dedos procuram
a sua m�o na almofada.

E estamos bem.

Como duas colheres numa gaveta.

E podemos voltar a adormecer
sem temer nada.

Nem a morte...

... nem mesmo o fim do nosso amor.

Tens a certeza disso?

Asdrubal, o que fazes aqui?

Maria, at� que enfim!

N�o devias estar aqui.
Tens de te ir embora.

N�o, quero ver-te!
Preciso de falar contigo!

Tenho algo capital a dizer-te.

Podias ter telefonado!

Deixei 200 mensagens!

Quero subir.
Qual � o n�mero do teu quarto?

N�o, n�o, n�o!

N�o posso fazer isto agora!
A s�rio, tens de te ir embora!

Quarto 212, senhor.

Gracias!

Ele s� vai ficar dois minutos.
Prometo-vos.

Sim, prometemos-vos.

- Ent�o, quem � quem?
- Richard, eu...

Amin?

- Ol�.
- Ol�.

Pierre, o primo.

H� quanto tempo...

Gurvan Le Bellec.

E o Karsten Schubert, turma de 2004.

Foi dif�cil para n�s
passar de um para o outro

Anton.

Anton! Sim!

Da padaria de Aix en Provence, lembro-me.

29 de Julho de 2007,
o dia da morte de Michel Serrault.

Quarto 212.
N�o te diz nada?

N�o.

E a senhora � professora
na Faculdade de Direito.

Artigo 212 do C�digo Civil:

"Os c�njuges devem-se mutuamente
respeito, fidelidade,

aux�lio e assist�ncia."

Voc�s, n�o.

N�o podem dar-me li��es
sobre fidelidade m�tua.

S�o todos nojentos.

E porque n�o?

Se tivesse sabido que eras casada...

Como te atreves a trazer aqui este rapaz?

Ele tem algo importante a dizer-me,
talvez tenha a ver com os seus estudos.

Sou, acima de tudo, sua professora.

O seu futuro est� em jogo,
por isso acalmem-se, por favor.

Richard, pe�o-te que confies em mim.

Est� a chegar o elevador.

Tu ficas com ela.
Nem penses em vacilar. Fui claro?

Tenha calma...

Voc�s, v�o para o outro lado.

Pierre?

- Sim?
- Anda c�.

� tua prima, cretino.

- Desculpa.
- Anda.

Prazer. Chamo-me L�on Jones.
S� queria dizer-lhe

que n�o aconteceu nada
com a sua mulher.

Eu teria querido, admito-o,

mas n�o a tr�s.

No sexo a tr�s,
nunca sabemos onde p�r...

Falamos depois.

Deixe-me tratar disto, sim?

Maria?

Entra, Asdrubal.

- Quem � este homem?!
- N�o comecemos, Asdrubal.

� um amigo pr�ximo.

� como se fosse da minha fam�lia.

Vai tomar conta de n�s
para que n�o fa�amos disparates.

- Posso falar � frente dele?
- Claro, est� c� para isso.

Preciso de ti, Maria.

N�o quero deixar-te.
Temos de come�ar do zero!

Nem pensar!

Espere, d�-lhe uma oportunidade
de apresentar o seu caso.

Maria, �s a mulher da minha vida.
N�o paro de chorar desde que partiste.

N�o posso passar sem ti.

Quero estar contigo.
Quero levar-te comigo para Valpara�so!

Nem pense nisso!

Preciso de te sentir, de te tocar...

Se n�o te beijar, morro!

Mas tem um bom arcaboi�o,

e n�o tem medo de nada,
e tem de se ir embora.

Desejo-te loucamente!

Quero uma vida contigo,
cheia de belos projectos!

Quero escrever o teu nome na areia,
acariciar-te o fundo das costas

e mostrar-te as baleias!

Mas n�o.
N�o ser� poss�vel, lamento.

P�ra, Asdrubal!
� o Richard, o meu marido!

� este o teu marido?!

� o teu marido ou outro amante
de entre os teus alunos!?

Maria, responde!

Tamb�m me queres partir o nariz?!
For�a!

- Quantos homens tens na tua vida?
- Muitos.

Tenho muita gente na minha vida.

Eu pr�pria sou uma quantidade
de homens que n�o imaginas.

Agora deixa-me tratar do meu marido.
J� te chamo.

De qualquer forma,
vemo-nos nos exames intercalares.

N�o � n�o, senhor Electorat.

Vamos.
Iremos ver as baleias.

Com que cara est�s...

N�o te sabia t�o lutador.

N�o gozes comigo.

Desculpa, querido,
n�o pensei que ele te desse uma tareia.

N�o me deu uma tareia,
apanhou-me de surpresa.

Diz-me,

quais seriam para ti as virtudes cardeais
de um casamento bem-sucedido?

Estou a topar-te, sabes?

Eu escolheria a lealdade,

o humor, o desejo, a partilha...

Mas n�o sou como tu.

Nunca vivi em casal.

Talvez o tempo mude tudo.

N�o te casaste?

N�o, Richard, n�o podia.

Estarmos juntos muito tempo
� como uma profiss�o.

Exige muitos requisitos,
compet�ncias...

� o oposto da cegueira.

E o que se vai passar agora entre n�s?

Estou muito feliz por te rever, Ir�ne.

Podemos voltar a ver-nos.
E ir jantar de tempos a tempos.

Richard...

Tens de ser honesto.

Tens de me dizer
se sentes o mesmo que eu.

� "sim" ou � "n�o"?

N�o dizes nada.

� "n�o".

Sinto-me uma idiota.

Achei que...

... que seria poss�vel.

Que temos direito
a uma segunda oportunidade na vida.

Que idiota.

Apaixonaste-te por ela h� 30 anos
e eu passei � hist�ria. A verdade � essa.

Porque vim aqui?

Agora tenho de enfrentar que
j� n�o tens qualquer desejo por mim.

Que amas outra.
� isso? Est�s apaixonado por outra?

N�o, s� existe a Maria.

A Maria, sempre a Maria...

Com que cara estou?
Deixa estar.

Vai buscar o menino.

Podes deixar-mo, se quiseres.

Nem me disseste como se chamava.

Tens de te decidir...

Lamento.

Agora j� n�o � preciso um nome.

V�, Ir�ne...

Esqueceste-me!

� t�o simples quanto isso.

Esqueceste-me, enquanto eu passei
a minha vida � espera do teu regresso!

Maria?

Que crian�a � esta?

Quem � este? O Asdrubal?

Trata dele.

Espere por mim!
Ir�ne!

Espere por mim aqui.
Maria, volta!

N�o se incomodem comigo...

Volta!

Venha.

- Prefiro esperar que elas voltem.
- O qu�? N�o compreendi.

Espero por elas.

Vem, ou n�o?

N�o.

N�o? Se mudar de ideias,
toque � campainha.

Maria?

Sabe, Asdrubal,

dev�amos ter uma boa conversa!

O que aconteceu?

Ir�ne.

Fale comigo.
Lamento muito v�-la assim.

Pode ficar com o seu marido,
ele j� n�o me quer!

Deixe-me voltar para o s�tio de onde vim!

N�o! N�o posso abandon�-la sozinha.
Ir�ne... Ir�ne.

De quem � esta crian�a?

� do Richard?
Tiveram um filho, naquela altura?

N�o!

Ol�.

N�o se assuste, �...

- Posso entrar?
- Est� aberta.

Deve doer.

- Foi a Maria que lhe fez isso?
- N�o.

Aviso-o de que � a primeira vez que
falo com um amante da minha mulher

e n�o estou nada preparado para isto.

N�o sou o amante da sua mulher.

Desculpe? N�o compreendi.

N�o dorme com a minha mulher?

Sim, mas n�o sou seu amante!

Tem de fazer um esfor�o de dic��o,
sen�o nunca mais l� chegamos, Asdrubal.

N�o sou o amante da sua mulher.

N�o � o amante dela?

N�o.

Mas dorme com a minha mulher.

Sim.

- Com a Maria.
- Muito bem.

Vejo que est� a gozar com a minha cara.
Sei que costuma acontecer aos cornos

mas n�o sei se vou
aceitar isso tranquilamente.

Obrigada.

Lamento muito.

N�o lamente.
� a minha vida, n�o a sua.

Para mim, acabou.
� a sua vez.

A mim resta-me ir
para a Ba�a de Somme

e viver, � espera de morrer.

Custa-me a crer
que possa desaparecer assim.

Mas sim.
Sei bem o que me espera.

Tem a certeza?

O meu futuro n�o � risonho.

N�o imagina o qu�o mon�tono �.

- J� est�s limpo.
- Sim...

Como novo.

Aqui est� aberto...

� engra�ado, porque foste atingido
no lado direito do l�bio, no nariz,

e na sobrancelha direita

como se o murro tivesse torcido
e depois endireitado.

� espantoso.

Mas reconheces-me, n�o?

- Nunca te vi na vida.
- P�ra... Faz um esfor�o.

Como assim? Nunca te vi.
Bem, n�o sei. D�-me uma pista.

- N�o me reconheces?!
- N�o.

Deixa estar.
� fant�stico.

� incr�vel.
�s completamente louco. Adoro-te.

N�o � boa ideia vir aqui!

- Sim!
- N�o!

Temos de ver
o que o futuro te reserva.

Eu sei qual � o meu destino!

� muito gira!
De certeza que � a tua casa?

Sim, ainda sei onde vivo!

Vamos, corre!

N�o estou c�. Anda.

Posso saber o que fazem
� volta de minha casa?

N�o fazes ideia de quem sou?

Sou eu, � minha frente!

E voc� quem �?

Sou a mulher do Richard,
o seu antigo aluno.

Eu era bem bonita, n�o era?

O que � isso?

� o beb� que n�o tivemos
com o Richard.

Talvez seja porque
n�o era suposto, n�o?

- N�o te arrependes de nada?
- N�o.

Nunca sinto desperdicei a minha vida
por n�o ter tido essa crian�a.

Vivo uma vida sem filhos.
E nunca senti falta disso.

Estraguei tudo
ao deixar partir o Richard.

Disparates.

Podemos ter pensado isso
durante uns meses, um ano, talvez,

mas depois escolhemos viver
de outra forma.

Viver outra coisa.

Mas v� no que nos torn�mos.

Mas que dizes tu?
Vivemos muito bem aqui.

� t�o bonito.
O mar, por todo o lado.

Sinto-me t�o privilegiada por ter
esta casa neste s�tio maravilhoso.

� bonita, cheia de amor, de amizade.

Perdemos um homem que am�vamos, sim,
mas felizmente a vida n�o acabou a�.

Juro-te que n�o vou conseguir
viver esta vida.

Areia por todo o lado, solid�o...

Confia em mim.
Fizemos bem.

Foi a melhor decis�o que tom�mos,
sair de Paris e come�ar do zero.

Vais tornar-te uma mulher
que ainda n�o conheces.

Mas para isso
tens de levar essa crian�a de volta.

Pode-se viver sem se amar?

O amor estar� c�.

Vir� do mar.

Ficar�s surpresa
com a forma que tomou.

P�ra de chorar o nosso destino.

Pensas que merec�amos melhor,
mas enganas-te.

N�o penses
que existiria outro destino.

Assumimos o controle da nossa vida,
e ela foi muito bem-sucedida.

N�o acredito em ti.

- N�o?
- N�o.

Qual de n�s duas
te parece estar mais infeliz?

Muito bem.

E ent�o?
Esse homem dos meus sonhos?

Quem disse que era um homem?

O que est�s a insinuar?

Estou muito contente
por finalmente a conhecer, Maria.

Fica para jantar?

� muito simp�tica,
mas o meu marido espera-me.

Continua casada com
o Richard Warrimer?

Sim.

Como est� esse felizardo?

Ainda a amas?

Desculpa, � uma pergunta algo...

N�o faz mal.

Sabes, Asdruc,

� um milagre que ela seja t�o encantadora
e que o tenha adivinhado h� 22 anos,

porque...

... quando me apaixonei por ela,
n�o sabia nada sobre o amor.

Estava apenas apaixonado.

Vais aceitar que ela tenha
um amante de tempos a tempos?

Sim.

Tens a certeza?

Sim.

Desde que sejas tu,
os outros, nem pensar.

Amorzinho...

Ent�o � isto, a boa vida?

L�sbica na Ba�a de Somme.

Nunca podemos prever
o que nos far� felizes.

E tu? A tua boa vida?
Ainda o amas, ou n�o?

- J� n�o me diz respeito...
- N�o faz mal.

O Richard diz que ainda se amam.

Mas ele � um rom�ntico complacente...

- N�o �?
- Agora apercebo-me disso.

Como � que o teu pr�prio marido
te conhece t�o mal?

Pergunto-me se as mulheres
n�o vivem demasiado tempo.

Como assim?

Com uma tal esperan�a de vida,
� imposs�vel n�o termos desilus�es.

Mas ent�o dev�amos morrer
com que idade?

30? 40? � pouco tempo.

Que nome querias dar � crian�a?

N�o pensei nisso.

- Merda. Que fazem eles?
- N�o nos podem ver.

Depressa! Larga o cigarro!

- L� est�o elas!
- Onde?

Espera.

- Porque te queres esconder dele?
- N�o sei.

Maria, � hora de tomares uma decis�o!

Porque tenho de estar sempre
a tomar decis�es?!

Pol�cia! Abram!

�ltimo aviso!
Abram, ou desfazemos o balc�o!

- Minhas senhoras...
- Que aconchegante.

- Vim c� com o Asdrubal para...
- Asdrubal?!

Era mais simples.
Depois explico.

- O qu�?
- Nada. Continua, querido.

Quer�amos dizer-vos que vos amamos
e que queremos casar convosco.

Mas j� s�o casados.

� bem visto, admito.

N�s j� somos casados, n�o muda nada.

Mas quer�amos
casar convosco a dois.

- Um casamento a tr�s?
- N�o, a quatro!

O que achas?

- E a cinco?
- Ou a seis?

- A sete?
- A oito?

- A nove?
- A dez?

- A onze?
- A doze?

- A treze?
- A catorze?

A quinze?

- Achas que � razo�vel?
- N�o. Eu trato disso.

Meu senhores, queiram respeitar
a solenidade do momento.

� uma coisa s�ria,
n�o estamos a falar de divertimento sexual

estamos a falar de casamento.
Merda, ponham-se a andar.

Bem dito.

Podes continuar, Richard.

Ent�o, o que achamos desta ideia?

- O que foi?
- Eles t�m de conversar.

Sim.

N�o dizes nada?

Este pequenote � nosso?

Poderia ter sido, mas n�o �.

J� volto, vou tratar de uma coisa.

Mas sinto o cheiro da pele dele...

N�o, n�o, n�o.
Richard, n�o fa�as isso.

Ele tem de voltar
para o s�tio de onde veio.

O nada antes do nascimento.

Posso olhar para ele,
s� por um pouco?

Maria.

N�o.

P�ra.

Fica aqui.

Portei-me muito mal contigo, Richard.

Comigo? Duvido.

Sim, a minha av� tinha raz�o.
Sou uma rapariga m�.

N�o te deixo pensar isso sobre ti.

O que te posso oferecer hoje
para al�m de sofrimento?

Sofrimento?

Desde quando causas
sofrimento �s pessoas?

� no que d� dar ouvidos a velhotas.

- Vamos beber um copo.
- N�o, n�o quero.

- Vamos.
- N�o.

Como vamos fazer para n�o falar
de outra coisa que n�o disto?

Que bela noite nos arranjaste...

Fiz o que pude.

Posso perguntar-te uma coisa?

H� quanto tempo vives
em bicos de p�s comigo, querida?

J� n�o sei.

N�o importa.

Amo-te.

Beija-a.

Vamos, beija-a.

Maria!

Ia comprar croissants.
Tens tempo para o pequeno-almo�o?

Se preferires,
podemos tom�-lo no caf�.

Desculpa, tenho de ir, tenho aulas.

Passei a noite neste hotel.

Dormimos perto um do outro.

Sim.

E esta noite vais estar em casa?

Se quiseres, sim.
Esta noite estou livre.

Tradu��o e Legendagem
Jo�o Andr� Abreu

Transcritas e sincronizadas por:
RicardoB/2020