All language subtitles for Michel Strogoff 1

Baseado na obra de Júlio Verne

Adaptação e Argumento

Música

Um filme de

PRIMEIRA PARTE

SIBÉRIA, 1875

Imbecil! vais acabar por partir
a carga toda!

Comandante, a sua preocupação
com esta carroça começa a intrigar-me.

Sou responsável por ela.

Seria indiscreto perguntar-lhe
o que ela contém de tão precioso?

vou dizer-lhe: um carregamento
de caixas de porcelana.

- Perdão?
- Porcelana!

Sua Alteza Imperial, o Grão-duque
Dimitri, tem horror a comer

o que não for servido em porcelana,
e na melhor que houver.

- O que é aquilo?
- Um antigo posto fortificado,

do tempo da conquista. Em tempos,
esta região pertenceu aos Uzbeques.

E o que aconteceu a esse povo?

Como todas as outras tribos tártaras,
dispersou-se em todas as direcções.

- E agora?
- Graças a Deus, já não fazem guerra

e limitam-se a mimar
as suas tropas.

Alto!

É muito arredio para ser pastor, não?

Santo Deus, eles estão
em pé de guerra!

Formação de combate!
Desmontar! Deitar os cavalos!

Desça!

Fogo!

Não podemos tolerar a difusão
deste género de agitação.

Não chegámos a esse ponto,
Majestade.

Há, aqui ou ali, alguma agitação
ou desordem,

mas sem nenhuma
verdadeira coordenação.

- É natural em territórios tão vastos.
- Não.

Recuso-me a considerar isto ,natural,,.

Majestade, Sua Alteza Dimitri é o
garante da nossa segurança no local.

É verdade. E isso não chega
para me deixar descansado.

O meu muito querido irmão
é ainda muito inexperiente,

e eu não creio, General, que ele
seja capaz de manter a sua posição.

nunca o devia ter enviado para lá.

Todavia, creio saber que a província
de Irkoutsk que Sua Alteza comanda

está tranquila. Em todo o caso,
assim o esteve, até agora.

Por quanto tempo,
ninguém pode saber.

Não creio que a agitação
se possa alastrar.

Só as pilhagens, os roubos e a rapina
guiam os Tártaros.

Eles não são perigosos
enquanto não se insurgir um deles

que seja um líder com vontade
de reuni-los e de comandá-los.

Não creio que tal homem exista.
Não temos nada a temer.

Rezemos a Deus
para que tenha razão, General.

Siga-me, Ogareff.

Está tudo aí.

Boa sorte, Coronel.

Depressa, estão à nossa espera.

vamos, Tzingos.

nunca teria imaginado que uma mulher
seria capaz de fazer o que tu fizeste.

Eu sei. Os da tua raça acham que
as mulheres só servem para os haréns.

Tinha tanta vontade de te ver...
teria transposto montanhas.

Falta fazer o mais difícil.
As minhas ordens foram cumpridas?

Sim. És aguardado
com uma impaciência...

... que não pudemos controlar.
- O que queres dizer?

- várias tribos já passaram à acção.
- O quê?

Eu tinha proibido que se agisse
antes da revolta geral!

- É... que há novidades.
- Quais?

Há quatro dias, Feofar Khan
e os outros emires do Turquistão

transpuseram a fronteira siberiana
com 5O mil homens armados.

O Feofar Khan?

O que é que lhe deu?
Nós devíamos agir em conjunto.

Achavas que a aliança dele
era desinteressada?

- Acima de tudo, somos Tártaros.
- Estás a iludir-te.

A tua bela república siberiana
e independente não lhe interessa.

Ele utiliza-te para servir os seus
interesses e ambições pessoais.

- O tempo de Gengiscão já lá vai.
- Tu sabes isso;

ele, não.
- Tenho todas as tribos do meu lado.

Primeiro, é preciso vencer o Czar.

Por agora, o Feofar Khan e tu
precisam um do outro.

Olhem para eles.

Olhem para todos estes Cossacos
que os Russos diziam invencíveis.

Arrasámo-los ao primeiro embate.

a verdade, estes Cossacos não
passavam de uma pequena vanguarda.

Pouco importa, Taizis.
Eles foram derrotados.

Aniquilámos os Cossacos no primeiro
combate porque somos invencíveis.

Nada nos poderá parar.

Que Alá nos proteja e te ouça, Feofar.

Ele ouve-me, Taizis. Ele escuta-me.

Antes da primeira lua, veremos reunido
o grande império dos nossos pais.

Trago-te uma notícia muito boa
para a nossa causa.

Ivan Ogareff evadiu-se da cidadela
de Tver

e ruma à Sibéria para se juntar a nós.

É uma boa notícia, Taizis.

Os Tártaros da Sibéria são-lhe fiéis.
A sua adesão ser-nos-á muito útil.

Partamos daqui, e depressa!
já devíamos estar todos a cavalo.

Sr. Jolivet, tudo está bem
quando acaba bem,

e estamos muito contentes por poder
erguer os copos à sua saúde.

A morte não tem importância
quando se escapa por pouco.

O nosso império siberiano

assemelha-se a um oceano sobre o qual
por vezes o vento sopra.

Pedimos-lhe que lhe perdoe
as suas borrascas.

Estou pronto para voltar a partir
amanhã, para tentar a sua travessia.

Não sabíamos que os Franceses
nos tinham tanta amizade.

Os nossos leitores
pelam-se por notícias da Rússia.

Acredite que o fascínio é recíproco.
O que foi, Porphyre?

Até logo, meus senhores.

O senhor que os pôde ver,
diga-me como são esses Tártaros.

O que sabemos das tribos
da nossa Sibéria, neste momento?

vossa Majestade, as forças rebeldes
são apoiadas por elas.

Parece uma organização concertada
de longa data.

já lhe disseram? Evadiu-se um homem
da nossa cidadela de Tver.

- Sim, Majestade. Mas não vejo...
- Um tal de Ivan Ogareff.

Um coronel dos mais brilhantes,
oficial valente e,

entre outros, excelente táctico.
É o que nos diz este relatório.

O pai é russo e a mãe é tártara.

Foi degradado e condenado
por alta traição,

por ter, em diversas ocasiões,
professado opiniões republicanas,

na Sibéria e não só, e preconizado
a constituição de uma república.

E o relatório acrescenta,
o que é muito grave:

"Este traidor está ligado a líderes
tártaros de diversas tribos".

Se assim é, vossa Majestade,
isso é grave, muito grave.

Sobretudo se for este o homem
que é a alma da revolta.

É preciso detê-lo, Majestade,

a todo o custo,

onde quer que ele se esconda.
- Tome as medidas necessárias.

O traidor não pode chegar à Sibéria,
o que podia ter graves consequências.

Controlem todas as estradas,

vigiem as paragens de diligência
e as gares do Império.

Daqui até lá são 1 .5OO verstas.
E impossível que já lá tenha chegado.

Conto consigo para detê-lo.

- Darei o meu melhor.
- É da maior urgência, General.

Dimitri está em Irkoutsk, e os
rebeldes não se podem apoderar dele.

Conhece o seu carácter
fraco e instável.

- Majestade...
- Basta, General.

Tenho muito medo que, face ao perigo,
o meu irmão se lance em aventuras.

Envie, sem demora e por telégrafo,
as seguintes ordens...

Mas como escapou?

Creio que andei perto de 2OO verstas.

E sem comer?

Sem comer, minha senhora, salvo
um corvo que consegui apanhar.

Tenho a certeza de que tinha preferido
morrer de inanição.

Sr. Jolivet, deixe-me apresentar-lhe
um dos seus colegas britânicos,

o Sr. Harry Blount. O Sr. Jolivet.

- Muito prazer.
- Como está?

- De que jornal?
- Do Daily Telegraph e o senhor?

- Do Gaulois.
- Meus senhores, vamos deixá-los.

Temos de ir salvar a querida Irina,
a quem o General Kouriakine

conta pela centésima vez
o cerco a Sebastopol.

- Está cá como jornalista?
- Porque não?

- O senhor está.
- Que género de reportagem?

Talvez a mesma que o senhor.

- À saúde do "Gaulois".
- À do "Daily Telegraph".

- Majestade!
- O que se passa, Kissof?

Uma catástrofe, Majestade.

O telégrafo entre Kolyvan e Tomsk
deixou de funcionar.

É impossível comunicar com Irkoutsk.

Será já obra do exército
de Feofar Khan? E impossível.

Foi alguma tribo rebelde,
sem dúvida.

Só resta um meio para avisar
o meu irmão do perigo, sem demoras.

Um correio.

vamos!

Então?

O percurso foi feito em três minutos.

já fiz melhor.

Olha lá, Comandante, ontem à noite,

não festejaste demasiado o aniversário
do camarada Pavel Feodorovitch?

Comandante Michel Strogoff,

o Czar espera-o, sem demora,
no palácio imperial.

O teu nome?

Michel Strogoff, Majestade.

Há quanto tempo
és um dos meus correios?

Há três anos, Majestade.

- E antes disso?
- Tenente do regimento Souvaroff.

Com feitos notáveis, Majestade.

Strogoff, com o General Souvaroff
participou na expedição...

De que região és?

De Omsk.

Siberiano! Bravo.

Precisamos de alguém
que conheça muito bem esse território.

Não há quem conheça a Sibéria
melhor que eu, Majestade.

E o que pensas do Grão-duque
Dimitri, Michel Strogoff?

Não cabe a um oficial
do corpo de correios do Czar

julgar um dos membros
da família imperial.

Dá-me o prazer de dizeres
aquilo que pensas. A vontade.

Posso dizer que o Grão-duque Dimitri
é um dos melhores valsistas da Rússia.

- Lembre-se de quem, e a quem fala!
- Deixe-o, não faz mal.

Comandante,
quero que um dos meus correios

vá a Irkoutsk
informá-lo dessa verdade.

Que lhe cheguem, o mais rapidamente,
as ordens do Czar,

e para isso, preciso de um homem.

- Eu sou esse homem, Majestade.
- Certo.

Então, ouve-me com atenção.

O Grão-duque não deve tentar
chegar a Moscovo.

Que ele permaneça escondido
em Irkoutsk, e que não saia de lá,

até que consigamos
enviar-lhe reforços.

Os nossos inimigos vão fazer de tudo
para se apoderarem dele.

Para eles, isso valeria mais
do que uma vitória.

Tu serás responsável pela salvaguarda
do Grão-duque Dimitri.

A tua missão é extremamente perigosa.
Tens de atravessar toda a Sibéria,

e tens de fazê-lo pelo Império.

Estafarei os cavalos
que forem precisos,

mas lá chegarei.
- Não.

Comandante, não podes agir
de forma normal.

Ouve-me. É provável que os rebeldes
tenham agentes por todo o lado;

tanto na Administração
como no Exército.

O objectivo da tua missão não deve,
e não pode, ser divulgado.

O Czar finge nada saber
desses rebeldes.

E tu viajarás sob a identidade
de um comerciante.

Por nenhum outro meio. Ninguém deve
saber quem és, ninguém;

e, sobretudo,
ninguém da nossa polícia.

A partir deste instante,
és um homem sozinho.

Prepara-te para contar com as tuas
próprias forças, e só com elas.

- Estou pronto, Majestade.
- Aqui está o selo...

... que te acreditará
junto do Grão-duque.

Acima de tudo,
não o mostres a ninguém.

O General Kissof
vai explicar-te os detalhes

e dar-te-á tudo aquilo
de que precisas.

Desejo-te boa sorte, Comandante.

- Um bilhete para Ijni-ovgorod.
- Ijni-ovgorod...

Quatro rublos e 25 copeques.

Mais um. É o terceiro,
desde esta manhã.

- Porque os prendem?
- Parece que são espiões tártaros.

vá, despache-se, o comboio vai partir.

- Eu devia ter desconfiado.
- Pois devia.

Meu caro, se nos queremos poupar
à repetição desta cena,

tenho uma solução a propor-lhe.
- Qual?

- viajemos juntos.
- Porque não?

Entre jornalistas,
devemos poder entender-nos.

- Os seus documentos, senhor?
- Aqui estão...

- Obrigado.
- De nada.

Os seus documentos, senhor.

- O que procuram?
- Controlo. Muito obrigado.

- Sabe o que é?
- Sim.

Bravo, não perde tempo, pois não?

Querem interceptar um homem que
pensam ser a alma da revolta tártara,

e que deve estar a caminho da Sibéria.
- Como nós.

- Como nós.
- Cá entre nós... quem quer que ganhe?

- O Czar vai perder a Sibéria.
- Eu acho que ele vai mantê-la.

- Aposto três contra um.
- Apostado, meu caro Blount, apostado.

O que acha?

Excelente! Foram poucas as vezes
que bebi um tão bom.

Este chá é o melhor que se pode beber,
neste território.

Devo dizer que pago quatro rublos
por quilo, preço de grossista,

e é entregue à tonelada.

O transporte é feito por caravana,
a partir da Manchúria.

Ficaria surpreendido se, desta vez,

as suas caravanas da Manchúria
tivessem chegado à feira.

- Elas não estarão lá.
- Porquê?

Disseram-me que tribos tártaras
revoltadas

controlam as rotas da Sibéria
e queimam tudo o que encontram.

É falso. O jornal de ontem explicava
que as nossas tropas estão em posição

e que esses territórios
estão pacificados.

Não me diga que acredita nos jornais.

A informação foi-me dada por um amigo
que voltou recentemente de Omsk.

Ele teve problemas
para deixar a cidade

evitando as forças rebeldes,
que estão em todo o lado.

Deviam ter cuidado com o que dizem.

Seria mais sensato.
Não sabemos quem nos escuta.

Também vai para Ijni-ovgorod,
se não é indiscrição?

- Sim.
- Corre o boato de que este ano...

... a feira promete ser boa.
- Sim, foi o que me disseram.

O senhor também é comerciante?

Sim, exactamente.

E se me permite, em que ramo?

os têxteis.

Os têxteis! Parece que os têxteis
estão a dar muito bem, de momento.

Sim, está a correr muito bem.

Chegaremos a Vladimir
dentro de alguns minutos.

Suponho que a Menina
procura um lugar confortável.

Há um que é expressamente para si.
Se faz favor...

Permita-me colocá-la em cima.

Pronto.

Quer?

- Não,.obrigado.
- E boa.

Gosta de vodka?

Não a olhe de soslaio.
Esta vodka custa-me...

... um rublo e 25 copeques
por garrafa. E a melhor vodka.

vá, só um pequeno trago.

Não se recusa isso
a Ivan Ivanovitch Balachine,

que está sempre pronto
a defender as raparigas bonitas.

Não acredito que uma bela pessoa
como a Menina

não gosta de beber um copinho
de vodka, de vez em quando.

Ao menos, pode responder
quando falam consigo?

- Deixe essa jovem em paz.
- Ora vejam! Um admirador valente.

vamos ver isso.

- Beba.
- já lhe disse para a deixar em paz!

Porque te estás a meter?
E extraordinário!

Entendido?

Não tem o direito!

É incrível. Incrível!

- O que se passa?
- Não compreendo.

Estamos muito longe
de Ijni-ovgorod.

Controlo policial.

Mostrem os vossos documentos,
por favor.

Procuram alguém?

Por acaso, não será o prisioneiro
que fugiu de Tver?

E depois?

Se fosse eu, observava atentamente
os documentos daquele indivíduo,

ali atrás.

Conhece-o?

Tenho a certeza de que não é
um comerciante, como diz ser.

Posso ver o seu passaporte,
se faz favor?

- Nicolas Korpanoff. É o seu nome?
- E.

- Diz ser comerciante.
- E sou.

Onde está a sua bagagem?

Estou a ver... É uma pistola
do Exército, não é?

Siga-nos.

vá, venha.

Foi uma boa informação, não?

Liberdade
Liberdade querida...

Dir-se-ia que por aqui não ligam muito
aos tecidos.

em toda a gente
pode ter tomado a Bastilha, meu caro.

Mas não é aconselhável viajar
neste país sob falsa identidade.

- O que pensa disso?
- E o senhor?

Acha que aquele homem possa ser
realmente quem eles procuram?

Meu caro, quer ele seja, quer não,
não gostava de estar no seu lugar.

Agora, vai dizer-nos quem é.

Nicolas Korpanoff. Sou comerciante.

vou à feira de Ijni-ovgorod,
em negócios.

Com uma pistola do Exército
na bagagem?

Certo, veremos.
Só nos resta levá-lo até lá.

Ijni-ovgorod
é uma grande cidade comercial.

Sem dúvida que deve
conhecer lá alguém.

Mas fique sabendo que não gostamos
de espiões, nem de traidores,

e, se nos mentiu,
lembre-se... será fuzilado!

Estamos a chegar aos subúrbios,
Sargento. Para onde vamos?

Para o palácio do governador,
directamente.

Alto! Pare!

Pare! Alto! Pare!

Pare!

Desçam!

Por aqui!

Por aqui!

Alto! Alto!

Procura nesta direcção.

Se faz favor, aquele é o vapor
que vai para Kazan e Perm?

- Quando parte?
- Amanhã, às nove horas.

Tem tempo. vamos fazer carvão.

- Posso embarcar?
- Não. Não vê que está fechado?

Quer provar?

Bom dia. Que coincidência...

Estou muito contente
por o terem libertado.

Eles não me libertaram.

Eu fugi.

Não tenha medo. Não fiz nada de mal.

E agora, o que vai fazer?

Tenho de continuar o meu caminho.

Gostava muito de ajudá-lo,
mas não conheço ninguém aqui.

Eu também não conheço ninguém.

Não veio para a feira?

vou apanhar o barco, amanhã.

Eu também devia apanhar esse barco.

Isso não é difícil.

- É.
- Porquê?

Eu tenho uma viagem muito longa
pela frente,

e tenho de ganhar a vida
em cada etapa para poder continuar.

venha!

Então, apaixonados...

- Leio-vos a sina?
- Tome isto,

e não diga nada.

Instalem-se, pombinhos.

Sei de que precisam. Vou ler-vos
as minhas cartas de Tarot.

É essa a razão...

Têm dinheiro para me dar?

Não viu ninguém?

- Quem?
- Um homem de grande estatura,

muito forte.
- Não, eu não vi nada.

E a Menina?

Obrigado, muito obrigado.

- Acho que agora me vou embora.
- E as cartas?

- Não quer que eu as lance?
- Não, obrigado.

Fazem mal. Teriam oportunidade
de ficarem melhor informados.

Conheço uma pessoa que sabe
forjar documentos falsos

tão verdadeiros como os verdadeiros.
Mas, atenção,

isso sai muito caro,
ele é muito guloso.

Eu tenho dinheiro.

vou fazer-lhe uma oferta.

- A mim?
- Sim.

vamos. A praça tem de estar livre
antes do meio-dia. Rápido! Rápido!

- Não teremos tempo suficiente!
- Desenrasquem-se.

- É uma ordem do Governador.
- E porquê essa ordem?

- Foram vistos Tártaros na multidão.
- Isso são disparates.

São ordens. Ao meio-dia, a praça
tem de estar vazia. vamos!

vamos!

vamos! Rápido!

- Acha que vamos passar?
- Espero que sim.

Sr. e Sra. Ivanoff. Façam favor.

É um casal bonito, não é?

É inesperado, sem dúvida.

E dizia-me que não gostava
de estar no lugar dele.

- Como será que se escapou?
- O amor, meu caro, o amor...

Afinal, se calhar aquele comerciante
estava certo a respeito dele.

- O misterioso conspirador evadido?
- Quem sabe?

É sempre o mesmo, Blount.
Romântico como tudo.

Pensei que o encontraria aqui.

Para transpor o Ural
não há 36 caminhos.

Esta noite, telegrafei para Paris.

Desta vez,
mandaram-me colaborar consigo.

Confidência por confidência,

acontece que finalmente consegui
contactar Londres,

e recebi as mesmas ordens
que o senhor.

Isso festeja-se!
Esperemos que haja um bar.

Nadia, eu chamo-me Nadia.
E o senhor como se chama?

Serge Ivanoff,
como diz no passaporte.

Decididamente, o Sr. Ivanoff
é um homem muito estranho.

- Preferia falar de si.
- Como queira.

Não tenho nenhum segredo a esconder.
Venho de Riga e vou para a Sibéria.

Vou ter com o meu pai.

Talvez já tenha ouvido falar dele...
Alexandre Fédor?

Fédor, não.

- E Nobel? Alfred Nobel, conhece?
- Sim, sim.

É o grande sábio sueco, não é?

O meu pai era um
dos seus correspondentes.

Mas por que razão está na Sibéria?

O que fazem na Sibéria
todos os nossos compatriotas

que aí são forçados a viver
contra a sua vontade?

- Deportado?
- Sim.

As suas opiniões demasiado liberais

valeram-lhe a desgraça
do Governador da Livónia.

A minha mãe morreu há pouco tempo,

e só o tenho a ele.
É por isso que vou para a Sibéria.

- Para onde vai, exactamente?
- Para Irkoutsk.

O que foi?

- Irkoutsk...
- Sim.

- Irkoutsk...
- Sim, porquê?

- É a sineta do jantar.
- Sim.

- Tem fome, Sra. Ivanoff?
- Uma fome de lobo, Sr. Ivanoff.

O jantar agradou-lhes?

Estava excelente, obrigado.

- O número da vossa cabine, por favor?
- Número 27.

Sr. e Sra. Ivanoff.

- Boa noite.
- Boa noite.

Vê? Resultou.

Era o que eu lhe dizia...

... um casal levanta menos suspeitas
do que um homem sozinho.

- Agradeço-lhe imenso.
- Fi-lo de boa vontade.

Sinto-me um pouco responsável por
todas as chatices que lhe causaram.

Fique com a cabina.

A noite está muito calma,
eu dormirei na rua.

- É ele?
- É.

- Estás certo disso?
- Certo e seguro.

Vi-o ontem com a velha Zina.
Tem a carteira recheada de rublos.

Então, vamos a isto?

A Sangarre não vai gostar disto.

Ela tem mais que fazer
do que pensar em nós. Olha.

Podes sair.

Já não há perigo.

- Está calor.
- Tzingos...

Quando chegamos?

Chegaremos a Kazan perto das O2hOO,
e a Perm durante a manhã.

Perm.

Vamos desembarcar em Kazan. Prefiro
atravessar os Urais por Tchebinsk.

Esse caminho é pior
do que o de Perm.

- Mas é mais directo. Há novidades?
- Sim.

O Czar remexe o céu e a terra
para te encontrar.

Já calculava.

Em Ijni-ovgorod, disseram
que o Czar teria enviado

um correio para ir até Irkoutsk
avisar o Grão-duque.

- Que faça bom proveito.
- Dizem que é uma fera.

E o seu verdadeiro nome é Strogoff.

Não é um homem
que poderá salvar o Grão-duque.

Não estou tão certa como tu, Ivan.

- E porquê?
- Não sei.

Desde que me falaram desse homem,
fui tomada por um pressentimento.

Tenho a certeza de que ele representa
uma ameaça para ti.

Foram os teus astros
que te disseram isso?

Isto não te interessa, Ivan?

vejo tudo o que te diz respeito
como se estivesse escrito num livro.

E tu sabes isso muito bem.

Tens de te livrar desse homem,
custe o que custar, Ivan.

O que se passa?

Ivan!

- O que se passa?
- Nada.

Todavia, ouvi barulho.

Está tudo calmo, garanto-lhe.

- Muito bem, boa noite, senhor.
- Boa noite.