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Quando um anjo no C�u
n�o faz aquilo que deve fazer,

o Senhor fecha-o numa cela escura
para sempre.

Quando um anjo no C�u
n�o faz aquilo que deve fazer,

o Senhor fecha-o numa cela escura
para sempre.

Padre?

Argumento

Montagem

M�sica

Fotografia

Produ��o

POL�TICOS N�O SE CONFESSAM

Realiza��o

Quer que lhe transcreva a equa��o,
Sr Director?

N�o vale a pena.

Bom dia!

Bom dia!

Sou o Mark Klein,
respons�vel pela organiza��o da Cimeira.

Estamos, obviamente,
radiantes com a vossa presen�a.

J� se conhecem?

Penso que n�o.

- Claire Seth.
- Eu sei.

Sou pai de tr�s
dos seus muitos milh�es de leitores.

- E o senhor �...?
- Michael Wintzl.

Eu sei, sou diferente do que... Eu sei.

J� tiveram oportunidade
de conhecer o terceiro convidado?

� o Roberto Salus,
um monge italiano.

E, ao que parece,
� escritor como a Claire.

Ol�.

Sou a Claire Seth.

Roberto Salus.

Gostava de falar consigo
sobre o encontro de amanh� � tarde.

Sabe...?

Este gr�fico mostra
o prel�dio do desastre.

Duzentos milh�es de pessoas no mundo
desempregadas e � procura de trabalho.

- Podemos encontrar-nos de manh�?
- Claro.

Obrigada.

Sabe...?

Vivi em It�lia.

Adoro a vossa l�ngua.

Por acaso, n�o tem um livro seu
que possa dar-me?

Infelizmente, n�o. Lamento.

Caros amigos...

Este � um ser�o especial.

O director do Fundo Monet�rio
Internacional, Daniel Roch�,

d�-nos a enorme honra de celebrar
o seu anivers�rio aqui connosco.

Assim, dou as boas-vindas a todos

e desejo-lhe as maiores felicidades,
meu caro amigo Daniel.

Parab�ns.

Caros amigos,

a �ltima coisa que eu esperava hoje
era comemorar os meus anos.

Recentemente,

dei por mim a pensar
em John Maynard Keynes

e na sua ideia

de que a Economia
� uma ci�ncia moral.

Uma ci�ncia que gere motiva��es,

expectativas e indecis�o humana.

Estou certo que todos recordam

a sua par�bola da ma��.

Para o bem e para o mal,
n�o somos Deus

e n�o podemos antecipar

todas as consequ�ncias
das nossas ac��es.

Sa�de!

� nossa!

- Parab�ns, Daniel!
- Parab�ns!

Obrigado, mas nunca como � noite.

Posso perguntar de quem foi
a ideia de nos convidar?

A ideia foi do Daniel Roch�.

Um dia, ele disse:

"Roubamos a esperan�a ao mundo,"

"devemos, ao menos,
devolver-lhe as ilus�es".

Padre...

Isso vai contra o protocolo.

Faz-nos fazer m� figura.

Aqui.

Foi muito am�vel
em aceitar o meu convite.

Pe�o que desculpe
o meu p�ssimo italiano.

Se preferir,
pode falar em franc�s.

Obrigado.

Adianto-lhe que o meu convite
n�o foi desinteressado.

Queria que me confessasse.

A �ltima vez que me confessei
foi h�... vinte anos.

Eu tamb�m s� confesso raramente.

Porqu�?

Os pecados alheios constrangem-me...

O senhor � crente?

Nunca percebi bem se sou,
mas fui baptizado.

Porqu� tal urg�ncia em confessar-se?

Tenho por h�bito n�o perder tempo.

Perder tempo nunca fez mal a ningu�m.

Por favor...

Abrimos uma excep��o para si.

Com muito gosto.

Sr Roch�?

Sim.

Sim, sou eu.

� um monge Cartuxo.

Restam muito poucos
e t�m regras muito particulares.

O que queres dizer?

Fazem voto de sil�ncio.

Sil�ncio?

E o que disse ele?

Perguntou ao monge
se ele gravou a conversa.

Mas deve haver mais filmagens, n�o?

O Sr Roch� pediu-me para desligar
as c�maras do circuito fechado.

- E tu desligaste?
- Lamento.

Eis Salus a chegar � Cimeira.

O saco que trazia o gravador
foi encontrado na cabe�a do Roch�.

Como podemos assegurar-nos
de que o Roch� n�o lhe revelou o plano?

De que falaram eles?

Talvez de algo pessoal...

Talvez tenha sido um erro
convidar gente de fora para a Cimeira.

N�o, a ideia foi do Roch�

e eu concordei em absoluto.

A comunica��o social
suspeita cada vez mais de n�s

e decidimos mostrar mais abertura
com iniciativas medi�ticas.

E foi uma boa ideia.

A Claire Seth � l�der na luta contra
a d�vida externa dos pa�ses pobres

e o Wintzl representa a ONG
mais activa nesse campo.

Mas o monge...?

N�o compreendo a presen�a dele.

Vem em representa��o
de uma organiza��o humanit�ria?

Segundo sei,
n�o representa qualquer organiza��o.

Ent�o porque foi convidado?

Foi um pedido do Vaticano?

O Roch�...

pediu-me que o convidasse.

H� mais uma coisa...

que devem saber.

Este livro, escrito pelo monge,

foi encontrado no quarto do Roch�

e h� uma passagem...

que foi sublinhada.

Eu vou l�-la. Diz assim:

"Quando uma pessoa
causa a sua pr�pria morte,"

"se o fizer para salvar outros,
n�o se trata de suic�dio."

Se as circunst�ncias o levarem a sentir
que deve p�r termo � vida a bem da honra,

ent�o n�o � suic�dio.

� uma declara��o imprudente
vinda de um monge.

Um convite ao suic�dio...!

Acho que n�o foi suic�dio.

O Daniel sentia-se muit�ssimo bem
ontem � noite.

At� me contou...

uma anedota.

Uma anedota?

Posso contar, se quiserem.

Conta.

Aviso-vos de que n�o tenho muito jeito.

H� um homem que precisa
de um transplante card�aco.

O m�dico diz:

"Tenho aqui o cora��o
de uma crian�a de 5 anos".

Mas ele diz: "N�o."

"� demasiado novo".

O m�dico pensa um pouco e diz:

"E o que me diz a um cora��o
dum gestor de fundos de 40 anos?"

"N�o, obrigado."

"Esse n�o tem cora��o."

"O que me diz ent�o a um banqueiro
de 70 anos do Banco Central?"

"Fico com esse!"

"Porqu�?"

"Porque o cora��o dele nunca foi usado".

O que espera desta Cimeira, Sr Roch�?

Estou optimista
de que vamos sair desta crise.

- Brevemente.
- Obrigada.

Em Heilingendamm, na Alemanha,

continua a Cimeira
com os ministros de Economia do G8.

Correm rumores, ultimamente,

de que a Cimeira prepara
um plano importante para gerir a crise,

bem como medidas para benef�cio
dos pa�ses em desenvolvimento.

De momento,
n�o h� confirma��o...

Tenho m�s not�cias.

A reuni�o de hoje foi cancelada.

Porqu�?

O Dr Roch�...

Morreu.

O que aconteceu?

N�o estou autorizado a comentar,
mas encontr�mo-lo no quarto esta manh�.

Era...

o quarto 2308, por acaso?

Como sabe que era o quarto 2308?

H� uma hora que o procuro.

J� estava preocupada consigo.

Sabe que n�o deve fugir de mim.

Bom dia, Padre.

Posso saber o que foi fazer esta noite
ao quarto do Dr Roch�?

Foi visto a sair de l�
�s 4h da manh�.

Estivemos a falar.

- De qu�?
- Lamento, mas n�o posso dizer.

Porqu�?

Ouvi o Sr Roch� em confiss�o.

Acredito.

Mas o Dr Roch� morreu.

Quando?

Presumo que pouco depois
de o Padre o ter deixado.

Como � poss�vel?

Ao que parece,

o Padre levou um gravador
para o quarto do Sr Director.

� um passatempo,
ando sempre com ele.

Importa-se de mo mostrar?

N�o o encontro.

Mas deixei-o aqui.

Se o deixou, ainda deve estar aqui.

Vamos ajud�-lo a encontr�-lo.

O desaparecimento do gravador,

confirma as nossas piores suspeitas.

Continuo a n�o perceber

o que levaria o Roch�
a querer boicotar o plano.

Porque achas
que ele convidou o monge?

S� para o ouvir em confiss�o?

- N�o podemos excluir essa hip�tese.
- Bom...

Seria a primeira vez que algu�m pede
ao confessor que lhe grave os pecados.

Compreendo o que dizes,
mas n�o suspeito do Salus.

A ideia � simplesmente rid�cula.

- Porque n�o tirar a conclus�o �bvia?
- Ou seja?

Trabalhavam em conluio.

Bom, seja como for...

vamos ter de acabar
por informar a imprensa.

O que ter� o impacto menos desastroso
na estabilidade dos mercados?

O assass�nio ou o suic�dio?

O assass�nio, sem d�vida.

Ou melhor:

assass�nio por um fan�tico ou um louco.

Assim pareceria um evento aleat�rio.

S� temos o fim-de-semana para saber
se o Roch� contou no plano ao Salus.

A imprensa s� ser� saber�
do suic�dio na segunda,

quando as bolsas abrirem.

At� l�,
pe�o-vos que permane�am no hotel.

Gostaria de dizer uma ora��o
pelo Sr Roch�.

Sr Klein...

Um dia, um jornalista perguntou-me o que
gostaria que escrevessem no meu t�mulo.

Citei-lhe uma frase
do meu escritor preferido:

"A vida s� me parece toler�vel
se conseguirmos evit�-la".

� isso.

Ocupando-me de dinheiro,
consegui evitar a vida sem me entediar.

O pr�prio mal �...

uma reac��o ao t�dio.

N�o, eu falava do facto de gerar
dinheiro a partir do dinheiro.

Sabe, � como uma droga.

� verdade que...

neste meu ramo, n�o existe
propriamente um lado humano.

Ainda n�o me disse
porque me escolheu.

Confesso que encontrei
um dos seus livros por acaso,

num chalet de montanha
emprestado por um amigo.

Jesus ama o acaso.

Eu n�o.

Seja porque for, queria ver-me e...

eu estou aqui.

Estou-lhe muit�ssimo reconhecido.

H� uma eternidade
que n�o tinha tempo de conversar.

� verdade, para mim, o tempo
� exclusivamente consagrado ao FMI.

Para n�s, o presente n�o existe.

Procuramos aboli-lo
para dar lugar ao futuro.

Fala do tempo
como se pud�ssemos domin�-lo.

Na realidade, o tempo n�o existe.

Houve algu�m que disse
que � unicamente...

uma vari�vel da alma.

Pode parecer-lhe blasfemo,
mas o dinheiro cria tempo.

Da� eu ter decidido criar
algo que n�o existe.

O qu�?

� segredo.

Est� fresco, n�o? Vamos para dentro?

D�-lhe eterno repouso, Senhor,

e faz brilhar sobre ele a luz perp�tua.

Repousa em paz. �men.

O senhor veio c�,
tem qualquer coisa para me dizer?

Parecer-lhe-� sem d�vida arrogante,

mas usufru� sempre
do que a vida tem de melhor.

Estudei com os melhores professores;

gozei as mais belas curiosidades
do v�cio e do amor...

Fiz-me rodear
de colaboradores de prest�gio.

Ao pedir-lhe que viesse, usei
o mesmo crit�rio: escolhi a excel�ncia.

Sabe o que me atrai em si?

� a sua reprova��o
de tudo o que me agrada.

Imagino que tenha sido informado?

Porque escolheu matar-se logo aqui?

Podia t�-lo feito em qualquer momento.

Porque n�o responde?

O senhor � o �nico que sabe.

Porque o escolheu como confessor?
Devia ter um motivo...

Claramente, n�o quer falar.
Vou andando.

N�o, por favor...

Fique.

Desculpe...

Respeito o seu sil�ncio,

mas enquanto escritora,
penso que as pessoas devem saber.

A senhora � escritora?

Escrevo livros para crian�as,
pensei que ao menos soubesse...

Estima-se que os meus livros
facturem o mesmo que uma ind�stria.

N�o me parece muito feliz...

N�o me sinto culpada,
se � isso que quer dizer.

H� novidades?

N�o.

- E o gravador?
- Sumiu-se completamente.

Obviamente � um contratempo,
mas havemos de o resolver.

Claro.

O Hitchcock fez um filme
sobre um padre acusado de homic�dio.

- Lembras-te do t�tulo?
- Sim...

- "Confesso".
- Exactamente.

E o padre era inocente ou culpado?

"S� quero ajud�-lo"

� um prazer voltar a v�-lo.

N�o sei se a Claire Seth � boa escritora,

mas como pessoa,
acho-a muito atraente.

E misteriosa, sabe?

Conheci um escritor em Nova Iorque
que se suicidou como o nosso anfitri�o.

P�s um saco na cabe�a. Mas ele teve
a amabilidade de nos deixar uma nota.

"Vou p�r-me a dormir um pouco mais tempo
do que o habitual, chamem-lhe eternidade".

No caso do Roch�,
o senhor � a nota dele.

Eles n�o o deixar�o em paz
at� lhes contar tudo.

E eu at� os compreendo, percebe?

Tamb�m n�o gosto de segredos.

� m�sico?

Sim.

Tem sorte.

N�o tem de desperdi�ar o seu f�lego
em palavras.

Que estupor...

Fizeste isto para nos sabotar.

E para nos humilhar.

"Ningu�m merece elogios
pelas suas boas ac��es,"

"a menos que tenha a coragem
de ser mau."

Era o dito preferido dele.

O Paul Kis est� a chegar.

� um intelectual
e n�o me parece boa ideia.

Vale a pena tentar...

- Onde est� o monge agora?
- Vou mandar o Klein busc�-lo.

Quanto tempo demos aos gregos
para transferirem os fundos?

- Uma semana.
- Tr�s dias.

Desculpe, Padre...

Queira ter a gentileza de responder
�s perguntas destes senhores.

O Roch� deu-lhe
informa��es confidenciais.

� seu dever partilh�-las connosco.

� uma mensagem codificada,
ele desafia-nos.

Talvez esteja a tentar dizer-nos algo,
� sua maneira...

Se ele tentar falar disto,
sem ser aqui...

segunda-feira, as bolsas...

Seria o c�mulo do absurdo!

Agora que cheg�mos a um acordo...

um monge, logo um monge...

O que se passa?

Passa-se que o padre � italiano.

Precisamos da tua ajuda.

De que maneira?

O ingl�s, o alem�o e o americano
receiam,

agora que o Roch� est� afastado,

que alguns de n�s queiram recuar.
- Alguns de n�s, como?

Os �nicos a objectar fomos n�s os tr�s.

Tu, eu...

e a Marechale.

Ela at� acusou o Fuchs e o Wilson

de violar a declara��o
dos direitos humanos.

Eu desisti quando vi as provas...

enquanto que tu...
- Eu o qu�?

Quais foram as tuas palavras...?

Dignidade.

Patriotismo.

"A Balsa do Medusa"...

Quem decide
quem deve ou n�o ser salvo?

Temos de eliminar o problema do monge.

Depois tudo ficar� resolvido.

Discretamente, claro.

Caso contr�rio...

- Caso contr�rio, o qu�?
- � simples.

"Na guerra como na guerra".

Meu caro amigo...

Liberdade e justi�a!

Padre!

Obrigado.

Pedi-lhe que viesse aqui,
porque n�o quero que nos ou�am.

J� verifiquei a zona aqui � volta.

O hotel est� cheio de microfones.

Os americanos
gravam tudo o que dizemos.

� uma mania.

N�o sei o que o Roch�
lhe ter� dito de mim,

mas eu n�o estava
nem estou convencido

de querer prosseguir
pela via que deline�mos,

mas...

fiquei em minoria...
- �s vezes, � um privil�gio.

O Padre � a �nica pessoa
com quem posso abrir-me.

Ouvirei de bom grado
as suas sugest�es.

- E uma pergunta?
- Fa�a favor.

Tem remorsos?
Acha ter errado de alguma maneira?

N�o, n�o acho ter agido mal
e n�o sei porque teria remorsos.

Cheguei a um ponto em que fui obrigado
a encarar a verdade de frente,

mas tenho a consci�ncia tranquila
pois n�o havia alternativa.

- Interessa-se pela verdade?
- Claro.

Ainda que isso signifique...

revelar quais as vossas decis�es?

Todas as nossas decis�es
s�o sigilosas, Padre.

� como na confiss�o,
n�o podemos revel�-las.

Nesse caso, � melhor eu ir andando.

N�o, por favor...

Eu...

e os colegas que se opuseram
�s medidas podemos queimar-nos.

- H� mais colegas com d�vidas?
- Dois.

Mas um op�e-se mais
do que os outros.

A Marechale, a nossa colega canadiana,
� uma pessoa �s direitas.

- E os outros n�o s�o?
- N�o foi isso que eu disse.

Mas repare...

Se algu�m come�asse a falar

e o segredo se tornasse p�blico,

podia suceder algo muito desagrad�vel.
- Mas o qu�?

Algo que...

nem o Padre consegue imaginar.

H� uma forma de se aliviar
do peso que o aflige.

Qual?

Confessar-se.

N�o posso.

Porqu�?

A experi�ncia diz-me que os esfor�os que
as pessoas fazem para melhorar o mundo

acabam por o piorar...

- Talvez seja melhor ficarmos por aqui.
- Como queira.

Mas o que receia?

Que o meu nome...

saia manchado,
se for associado a este plano.

Ainda vai a tempo de alterar as coisas.

Temos estado � sua espera.
Pode dar-nos uns minutos?

Agora de perfil.

Um momento.

Agora temos de lhe tirar
as impress�es digitais.

- J� terminaram?
- Sim.

Fa�a favor...

O Padre est� oficialmente
sob investiga��o

relativamente � morte
do Dr Daniel Roch�.

Dadas as circunst�ncias,
imp�e-se esta formalidade.

O saco que sufocou o Sr Director
era aquele em que trazia o gravador.

Tem, naturalmente,
direito a chamar um advogado.

N�o preciso, obrigado.

Aconselho-o a n�o prescindir
dos seus direitos.

E ainda espero que se decida
a colaborar connosco,

o que poderia ter dispensado
todos estes inconvenientes.

Ainda n�o percebi
que tipo de padre �.

Eu tamb�m n�o.

Padre...

N�o podem trat�-lo como um criminoso!

Porque continua a calar-se?

Compreendo perfeitamente
que n�o confie neles,

mas pode confiar em mim.

Estamos do mesmo lado.

Eles tomaram uma decis�o que tornar�
ainda mais pobres alguns pa�ses,

mas n�o est�o todos de acordo.

- H� quem tenha d�vidas.
- Quem?

A ministra canadiana.

� uma mulher.
Talvez a senhora possa falar com ela.

Quer ajudar-me?

A senhora � livre de fazer
o que a consci�ncia lhe ditar.

Serei um mero instrumento
nas suas m�os.

Nas m�os de Deus.

- Infelizmente, nunca acreditei nele.
- Mas asseguro-lhe que Ele existe.

At� mesmo agora.

Aqui.

Divago, perdoe.

Quanto tempo costuma
durar uma confiss�o?

Depende de si,
daquilo que quiser dizer-me.

Para S�o Agostinho,
a confiss�o era um grito da alma.

Que dura��o quer dar ao seu grito?

Quem melhor do que um asi�tico
para compreender o seu sil�ncio?

O Roch� era brilhante,

mas acreditava excessivamente
nas suas capacidades.

Sabe quanto � que o Daniel
pedia por uma palestra?

Quinhentos mil euros,
�s vezes at� um milh�o!

E ultimamente,
limitava-se a contar anedotas.

Padre...

O Roch� estava habituado
a fazer a sua magia com os pol�ticos.

E se algu�m objectasse...

ele sabia bem como o isolar.

O que est� a fazer?

Uma coisa � certa:

o mercado-livre desenvolve-se
por tentativa e erro

e assenta numa premissa imut�vel
desde o in�cio dos tempos:

o mundo � injusto.

Como j� ter� percebido,
a democracia � uma mentira.

H� decis�es que nunca chegam ao conhe-
cimento dos nossos pr�prios dirigentes.

E como p�de constatar,

os nossos parlamentos comp�em-se
essencialmente por almas mortas.

Crime, branqueamento de capitais...

Os governos n�o recuam perante nada,
e os bancos muito menos!

Os pol�ticos de hoje
s�o homens de neg�cios.

Ilusionistas.

Uns e outros, se forem bem sucedidos,

acumulam em alguns anos
o mesmo pec�lio

que noutros tempos

se poupava
em tr�s ou quatro gera��es.

E assim vai o mundo...

E n�o ser�o certamente os moralistas
a p�r-lhe termo.

Mas nada escapa a Deus.

- Tem a certeza?
- Sim.

Ent�o Ele j� ter� percebido
que tenho um cancro.

Estou tramado.

Deita, Rolf.

N�o se preocupe,
ele � muito bem comportado.

Boa tarde.

Diga-me...

Quem � aquele senhor de idade?

� o dono do hotel.

Tem Alzheimer.

� muit�ssimo rico,

mas n�o se lembra de nada.

Nem sequer dos c�digos de acesso
�s contas banc�rias.

Os filhos est�o desesperados.

Padre...

Posso falar consigo?

Claro.

Chamo-me Caterina.

Trabalho na organiza��o,
sou respons�vel pelo acolhimento.

Pode n�o parecer,
mas somos muitos a trabalhar aqui.

De que deseja falar-me?

Penso que o Padre corre perigo.

Sabe coisas que n�o devia saber.

� um privil�gio da confiss�o.

Eu sei.

"O servo n�o sabe
o que o seu senhor faz,"

"porque o senhor s� lhe diz
o que fazer e n�o o porqu�."

"Da� ele ami�de obedecer cegamente
e perverter a inten��o."

Mas Jesus disse-nos qual a inten��o.

E voc�s...

voc�s destroem esse fim.

� um pensamento de Pascal,
lisonjeia-me que conhe�a os meus livros.

Admiro-o muito.

Ainda que alguns o considerem
pouco ortodoxo.

N�o tenho qualquer interesse
na ortodoxia.

Eu defendo a piedade,

� a �nica frente
pela qual vale a pena combater.

E agora, Caterina, se n�o tem
mais a dizer-me, vou andando.

Gostei muito de conversar consigo...

e com todos voc�s.

"Tomei uma decis�o. Aceito o seu desafio.
Espero-o no meu quarto. Antonio Vallati"

J� n�o te esperava.

Sente-se num desses cadeir�es.

Prefiro que n�o me olhe de frente.

Tenho vergonha.

Isso s� o dignifica.

O meu mestre, embora fosse
um economista muito influente,

nunca se vendeu.

E o senhor...?

Eu, sim.

O monge desenhou
estes dois p�ssaros.

Disseram-me que um �...

uma poupa...

e que o outro � um uirapuru.
- Um uirapuru?

Sim, � um p�ssaro min�sculo
que vive na floresta amaz�nica.

Parece que s� canta uma vez por ano,
quando est� a construir o ninho.

E o seu canto � t�o extraordin�rio...

que silencia todos os outros animais.

Queres ouvir?

Sabe qual � o sentimento
que nos descreve melhor?

A impot�ncia.

Um misto de...

arrog�ncia e mediocridade.

N�s somos seleccionados

em fun��o desse especial�ssimo...
pedigree.

A soberania dos Estados
� uma coisa do passado.

Os homens como o Roch�
podem esmag�-la quando querem.

Os grandes chefes mundiais...

vivem suspensos nas suas palavras.

Sabe o que dizia o Daniel?

"Voc�s, italianos, inventaram
uma forma imbat�vel de poder,"

"mas n�o conseguiram
faz�-lo funcionar."

Referia-se � M�fia.

Tamb�m dizia que os bancos...

s�o as sociedades secretas modernas

e que...

� semelhan�a da M�fia...

n�o prestam contas a ningu�m.

E assim �.

Durante as crises,
est�o em jogo somas t�o exorbitantes,

que pa�ses inteiros
podem ficar comprometidos.

E os mais fracos
s�o sempre as primeiras v�timas.

H� muito tempo, um amigo
prop�s-me um neg�cio incr�vel.

Disse-me que um tipo queria vender
um C�zanne que ningu�m conhecia.

Um C�zanne n�o inventariado.

Eu liguei ao fulano
a dizer que estava interessado,

e ele prop�s-me ir ter com ele
a uma certa morada de Brooklyn.

Era uma esp�cie de armaz�m
com um alarme sofisticad�ssimo.

Mas quando ele mencionou
a quantia pela qual queria vend�-lo,

um pre�o delirante,

eu perguntei-me se seria leg�timo
gastar tal montante.

Comecei a interrogar-me
se ainda saberia o que era o dinheiro.

O que compramos n�s
quando gastamos um montante elevado?

N�o sei...

Eu j� n�o possuo nada.

Excepto este h�bito
e as minhas sand�lias.

E o sil�ncio...

Que ningu�m pode comprar.

Acha?

Fique sabendo
que fiz uma doa��o ao seu convento.

Foi uma bela soma.

Ou seja, doravante o Padre
tamb�m est� em d�vida para comigo.

O senhor quer controlar
a vida das outras pessoas.

Mas est� iludido,
isso comigo � imposs�vel.

A minha vida n�o me pertence.

Sra Seth!

Os seus cr�ticos atacam-na sempre
por ser t�o rica,

e por ser t�o produtiva.

Pois eu digo-lhes
que se fodam em grande escala!

� isso, querida!

Est� bem.

Mais uma pergunta.

Sra Seth?

Pode dizer-me
qual � o seu maior defeito?

Tenho muitos.

Vaidade.

Orgulho.

E...

E...?

Prefer�ncia em estar s�.

Doze pontos para o Canad�.

Quer entrar?

Uma �ltima bebida?

Est� bem.

Boa noite.

Ol�, desculpe incomod�-la
a esta hora, mas...

vi-a passar e pensei...

Vinha perguntar
se tem qualquer coisa para dormir.

- Entre.
- Obrigada.

Fico contente
por a conhecer pessoalmente.

N�o � todos os dias
que falamos com uma lenda viva.

E sim, claro,
sou uma enorme admiradora sua.

E embora j� n�o seja crian�a,
adoro os seus livros.

- Obrigada.
- N�o acreditar�,

mas no meu ramo,
n�o temos muito tempo para ler.

N�o temos muito tempo para viver.

Acabamos por estar sempre
s� uns com os outros...

Por isso, �s vezes...

sucedem coisas inesperadas.

Forma-se uma atrac��o s�bita...

Eu compreendo.

Acho que n�o estou sujeita...

a essas experi�ncias.
- N�o?

Tenho pena de si.

Tenho uma regra.

Nunca repito uma noite.

E juro-lhe que funciona bem,
Sra Seth.

Por favor, trate-me por Claire.

Ent�o trate-me por Julienne.

Imagino que seja uma grande press�o,
ter de tomar decis�es impopulares...

Sim.

Algumas decis�es
s�o realmente dif�ceis.

H� sempre uma margem de d�vida.

Imagino...

Mas apesar dessas d�vidas,

o destino do mundo
repousa nas vossas m�os.

Acho que n�o � assim t�o simples.

N�s, economistas, integramos
o governo para resolver coisas,

ainda que alguns de n�s prefiram
impor as suas ideias �s pessoas.

Uma escritora que quisesse
resolver coisas,

podia come�ar por...

tentar dar sentido...

ao mundo que criara.

Uma escritora � livre
de imaginar o que quiser.

N�s n�o somos.

�s vezes, voc�s, economistas,

parecem mais interessados
numa no��o abstracta de austeridade

do que nas suas verdadeiras
consequ�ncias reais.

Basta um pouco de coragem.

Padre!

Tinha raz�o.

A Cimeira reuniu-se para tomar
uma decis�o sem precedentes,

e a Marechale n�o estava de acordo,
nas obrigaram-na a concordar.

O Padre � o �nico
que pode destruir-lhes o plano.

Diga-me o que mais posso fazer
para o ajudar.

Fa�a bom uso da sua imagina��o.

Ol�, minha senhora.

O Sr Berzev convida-a para almo�ar.

Quarto 1028.

- Obrigada.
- N�o tem de qu�.

Walt Kis.

Fique � vontade.

O senhor sabe coisas que eu n�o sei.

� poss�vel.

Perdoe a franqueza...

O senhor � a caixa negra de um evento
que mais ningu�m pode descrever.

Se n�o falar,
o registo acabar� por ser eliminado.

J� foi eliminado.

Repare que eu era o melhor
amigo do Daniel, o �nico at�.

Compreende o que digo?

O suic�dio de um banqueiro
� um facto ins�lito.

Os artistas suicidam-se mais facilmente,

s�o os �nicos a n�o aceitar
que a vida seja assim...

imperfeita.

� preciso uma certa presun��o
para imaginar que se pode alterar o final.

Diga-me, porque � que ele se matou?

Talvez fosse infeliz...

N�o. Um ramo como o nosso
n�o permite a infelicidade...

Desculpe. �s vezes, v�m-me dores.

Mas eu tenho um rem�dio.

Penso que...

tamb�m voc�s, economistas,
s�o obrigados...

a considerar a infelicidade.

Uma certa dose de desespero
faz parte da ordem natural.

Portanto, para voc�s...

a fome e a mis�ria s�o meros
ingredientes do desenvolvimento?

Infelizmente, sim.

H� f�rmulas matem�ticas
que o explicam melhor do que palavras.

Eu prefiro as palavras.

Ainda que nem sempre
compreenda as vossas.

Como por exemplo...?

O que significa "destrui��o criativa"?

Para que a economia cres�a...

� preciso destruir primeiro
o sup�rfluo.

Tal como as florestas se regeneram
atrav�s de inc�ndios, percebe?

E quem ateia o fogo?

A imprevisibilidade do sistema
� um dado adquirido.

Os economistas apenas sugerem
que se aproveite isso.

Destruir para conservar � a imagem
de marca do pensamento capitalista.

Voc�s, italianos, habituaram-se
a conviver com a cat�strofe

e teimam em pensar
que lhe sobrevivem.

Mas desta vez n�o � assim.

Imp�e-se dar um aban�o definitivo,

podar a �rvore, excluir alguns.

Quem?

Ele est� sempre consigo?

Sempre.

Uma vez,
at� foi a uma das nossas reuni�es.

Contrariamente a alguns colegas,
ele sabe quando calar a boca.

Ent�o os pastores alem�es
s�o o pilar da pol�tica econ�mica europeia.

Posso perguntar qual � o assunto
do seu pr�ximo romance?

� um thriller. O meu primeiro.

Acho que estou farta
de contos de fadas.

Concordo inteiramente.

Eu tamb�m estou farta
de contos de fadas.

O que quer dizer?

N�o me diga que n�o percebeu que n�s,
pol�ticos, usamos muito bl�-bl�-bl�

para referir aquilo
que n�o conseguimos alcan�ar.

A invers�o da curva do desemprego...

A retoma do crescimento...

N�o passa tudo de bl�-bl�-bl�
para ganharmos tempo.

O verdadeiro poder avan�a sem n�s,
e n�s fingimos que n�o acontece.

J� tem t�tulo?

Primeiro tenho de escrever o final.

Esta hist�ria...

ultrapassa-o a si...

ultrapassa-me a mim...

S� lhe pedimos que colabore.

Para permitir
a execu��o dum ato de for�a.

O crime,

a injusti�a, a morte...

N�o seriam poss�veis
se Deus n�o existisse.

Engana-se.

O mal n�o tem qualquer utilidade.

"A �ltima forma de liberdade
� o sil�ncio".

� um lema que parece
adequar-se muito a si.

Recorda, certamente,
quem o escreveu.

Um poeta grego.

Um grande poeta.

Para uma na��o falida.

H� fracassos muito maiores
do que as fal�ncias financeiras.

� tarde, temos de ir.

J�?

O Rolf tem de passear.
Tem os h�bitos muito arreigados.

Quer vir connosco?

Acho que vou ficar mais um bocadinho.

Ent�o divirta-se.

D�-me licen�a?

- O que �?
- � o Salus.

Podemos tratar do assunto.

Vamos prend�-lo
o tempo que for preciso.

Avancem,
o monge � uma dor de cabe�a.

Lamento, tenho de ir.

Porqu�?

Podia ficar mais um bocadinho.

Lamento, tenho de trabalhar.

- O que h�? Precisa de ajuda?
- V�o-se foder, merdosos!

Padre!

Venha comigo!

O senhor corre perigo,
n�o pode entrar no seu quarto.

N�o est� aqui.

Desculpe...

Tenho-o espiado.

Um momento!

- Desculpe incomodar...
- O que �?

- Recebeu alguma visita?
- Porqu�?

- Quest�es de seguran�a.
- N�o.

N�o quero que corra riscos
por minha causa. � melhor eu ir.

N�o.

Fique.

Por favor, venha sentar-se aqui.

Por vezes, sou muito inst�vel.

E depois...

tomo comprimidos.

N�o quer falar-me um bocadinho de si?

Alguma vez amou algu�m?

N�o gravou o que lhe disse?

N�o, n�o...

N�o se preocupe.

Gosto de gravar
o canto dos passarinhos.

Nestes anos de sil�ncio,
recolhi milhares de sons.

E desde que aqui cheguei,
j� gravei uns sons bel�ssimos.

Se quiser, posso mostrar-lhe.

Tenho de ir andando.

Ainda bem que sentiu necessidade
de nos procurar

e se decidiu a falar.

Veio contar-nos o que o Director Roch�
partilhou consigo?

Ao abrir-se consigo,

o Sr Roch� cometeu um s�rio erro.

O conte�do das nossas reuni�es
� extremamente sens�vel,

e, consequentemente, secreto.

Isso faz de si uma amea�a potencial
� democracia.

Claramente n�o se apercebe
daquilo que est� aqui em jogo.

Come�o a ter uma ideia...

Padre.

S� queremos saber o que o Roch�
lhe disse sobre as nossas decis�es.

N�o vos direi.

Percebe as consequ�ncias potenciais
do seu comportamento?

Desculpe...

- E quem � a senhora?
- N�o interessa quem eu sou.

N�o queremos obrig�-lo
a agir contra a sua vontade,

muito menos lev�-lo a quebrar
o sigilo da confiss�o.

Mas h� aqui coisas em jogo que se
sobrep�em a interesses individuais.

Ainda podem mudar de ideias.

Agora foi longe demais!

A sua atitude
coloca-o contra a civiliza��o.

Eu e voc�s n�o partilhamos
o mesmo conceito de civiliza��o.

N�s demos-lhe uma alternativa,

mas � escusado procurar
uma solu��o consigo.

� verdade.

Mas se insistirem
posso mostrar-vos uma coisa.

Preciso de algo para escrever.

Padre...

Pode escrever aqui.

Aqui?

Come se fosse um papel.

Pelos seus escritos, percebi
que se tornou religioso bastante tarde.

Se posso perguntar...
O que fazia antes?

Era matem�tico.

O que acha disto?

Por favor, d�-nos um momento.

Importam-se?

Por favor...

O meu sherpa diz que �
um algoritmo coerente.

� uma equa��o matem�tica real.
Est�o a tentar decifr�-la.

� primeira vista,
indica um processo estoc�stico.

Os meus especialistas
receiam que seja

um c�digo para decifrar
elementos extrapatrimoniais,

produtos estruturados, sociedades p�bli-
cas de investimento, empresas fict�cias...

O que dizes?

Eles receiam que a f�rmula
esconda um c�digo

que decifre as opera��es extra-
patrimoniais dos grandes bancos.

Fazem ideia das implica��es?

Lembrem-se que o Roch� era o �nico
de n�s que conseguia prever o futuro.

Foi ele que nos tirou
da crise de 2008.

Ao dar a equa��o ao monge,
ele diz-nos uma coisa:

estamos na merda.

At� ao pesco�o.

Padre, tem a certeza
que n�o quer acrescentar nada?

E t�m a certeza que est�o todos
de acordo com este plano?

Claro.

Na verdade...

Eu j� n�o alinho nele.

Vallati, o que dizes?

Na verdade, sou contra ele.

Oponho-me veementemente.

Eu tamb�m sou contra.

E j� n�o estou disposta
a mudar de ideias.

Dadas as circunst�ncias,

acho que n�o � a altura certa
para continuar a discutir isto.

Rolf?

N�o se preocupem.

Rolf, senta!

Rolf!

Acho que ser� melhor deixar-vos a s�s.

Para reflectirem.

H� demasiados elementos maus.

A equa��o � uma prova indiscut�vel
de que ele sabe.

Seria uma loucura continuar
depois do que aconteceu.

Obrigado.

N�s, os economistas,
temos necessidade de ordenar as coisas.

Infelizmente, h� acontecimentos
que escapam �s nossas simplifica��es.

N�s chamamos-lhes "cisnes negros".

Esta equa��o � uma concha vazia.

Uma f�rmula
que n�o corresponde a nada.

Mas...

se eu quisesse...

a partir desta f�rmula...

estaria em posi��o, num �pice...

de injectar uma enorme quantidade
de dinheiro nos mercados.

O meu poder � esse.

Gra�as � minha capacidade
de fazer frente ao desconhecido.

Sempre preferi o que ainda n�o
aconteceu �quilo que j� sucedeu.

Nesse aspecto,

o meu ramo e o seu
t�m muito em comum.

Interessamo-nos ambos
pela incerteza.

Se eu amanh� mostrasse esta f�rmula
aos meus colegas,

eles tom�-la-iam
por uma verdade inquestion�vel.

Os pol�ticos, mais do que todos,

precisam de acreditar
que controlam o invis�vel.

O que espera de mim?

O perd�o.

S� o Senhor sabe julgar.

N�o me cabe julg�-lo.

O senhor habituou-se a pensar
no que ganha, � a sua l�gica,

mas o que � que Deus ganha?

O senhor pensa poder escolher
aquilo que diz ou n�o diz,

mas esconde-me o mais importante.

O qu�?

O plano que aprovaram ontem

e que o senhor mesmo
comparou ao Apocalipse.

� um segredo, n�o lhe posso dizer.

A miseric�rdia de Deus � infinita.

Mas se o arrependimento n�o for genu�no,
eu n�o posso absolv�-lo.

Se � assim, esque�a.

O Padre n�o me absolve
e eu n�o lhe direi nada.

Cada um segue o seu caminho
e estamos todos bem.

Sem ressentimentos.

Pensou que eu ia confiar-lhe
um segredo t�o importante?

Sim.

Retirei-me da vida mundana
h� muitos anos,

mas conhe�o a dor do homem.

Todos os dias,
em alguma parte do mundo,

�-nos pedido para impedir
que fa�am mal aos inocentes.

Mas quem � que assegura
que isto n�o acontece?

Quem tem for�a para travar
aqueles a quem o bem � estranho?

O nosso irm�o Roch� adormeceu
naquele sono a que chamamos eternidade

e ningu�m poder� pedir-lhe contas
pelos seus segredos,

nem sequer os homens
mais poderosos do mundo.

Esses homens s�o os mesmos
de quem o Senhor uma vez disse:

"Quais gaiolas cheias de p�ssaros,
as suas casas est�o cheias de enganos."

"Por isso se tornaram t�o ricos."

"S�o gordos,"

"manhosos,"

"ultrapassam os limites do mal,"

"n�o defendem a causa,
n�o protegem os �rf�os,"

"n�o defendem
os direitos dos mais pobres,"

"n�o deveria eu puni-los?"

"N�o devia eu talvez
vingar-me dessa gente?"

O falecimento tr�gico e inesperado
de Daniel Roch�,

impediu-nos de definir
as medidas de que precisamos

para reorganizar o sistema.

Ele suicidou-se.

Todos os dias

acontecem coisas horr�veis,
pavorosas...

E eu pergunto-me:

"Ningu�m se arrepende da sua malvadez,
ningu�m se pergunta: 'O que fiz'?"

N�o se afadiguem
a acumular tesouros na terra.

A ferrugem e o caruncho os consumir�o,
os ladr�es os roubar�o.

Pobres de v�s

que pagam escrupulosamente
os impostos,

e descartam a esperan�a,

a justi�a,

a piedade...

Deem...

e em troca receber�o.

E a mesma medida
que usarem para dar

ser� usada para vos compensar.

Rolf?

Como te chamas?

Rolf?

N�o gosto.

O que me dizes de passares
a chamar-te... Bernardo?

Anda, Bern, vamos.

POL�TICOS N�O SE CONFESSAM

Tradu��o SARA DAVID LOPES

F I M

Ripadas por: guardiao
Sincronizadas por: RicardoB/2021