All language subtitles for Exterminate.All.the.Brutes.S01E01.Part.1.1080p.AMZN.WEB-DL.DDP5.1.H.264-MRCS.PT-PT

Esta é Aby Osceola.

Ela é da Nação Seminole.

A história dela remonta
à história deste continente.

Ela faz-me lembrar a minha mãe.

Mas, apesar das semelhanças,

cada uma delas vem, embora por
eventos não totalmente sem relação,

de diferentes linhas da História.

Caisa interpretará o papel de Aby.

Ela é uma atriz sueca de ascendência
colombiana e nativa americana.

Diz-se que a Nação Seminole nunca
assinou nenhum tratado com os EUA.

É por esse motivo que lhe chamam
"a tribo invencível".

Mas, por agora,
vamos falar de outra história.

Nessa história maior, três palavras
resumem a história da Humanidade.

Civilização. Colonização.
Exterminação.

Estas palavras correm forçosamente
pela história do mundo ocidental,

da mesma forma que penetram
o âmago da história dos EUA.

Não é sobre vencedores e perdedores,
nem conquistadores e conquistados,

nem colonos e colonizados.

As forças envolvidas aqui
são menos visíveis do que tiroteios,

propriedade de classe
ou campanhas políticas,

mas não são menos poderosas.

Foram destruídas civilizações
inteiras no hemisfério ocidental,

pondo o mundo ocidental num caminho
de ganância e destruição.

Pois a História é o fruto do poder

e o poder é essencial à história,

que se torna sempre, no mínimo,
numa história sobre quem venceu.

Claramente,
isto tem de ser contestado.

Alguns homens gostam muito de mim
Mas o meu entusiasmo não podem banir

Porque eu ainda espero
O meu parceiro primitivo

Nós temos encontro marcado
Desde que o mundo começou

O meu homem pré-histórico

Pois é sobre quem nós somos hoje,

sobre no que nos tornámos
enquanto povo

e de que lado da História estamos.
De que lado da verdade.

Uma certa visão da História disputa
que a narrativa histórica

é apenas uma ficção entre outras.

Não é.
Os "factos alternativos" não existem.

Eles não tinham o bebop
Timbalão, timbalão

Passavam o dia todo
A tocar o timbalão

Eu adoro o timbalão

DEZEMBRO DE 1836 - ACAMPAMENTO
SEMINOLE E MAROON (ATUAL FLORIDA)

Hoje é o dia em que lutamos.

Chefe Yah-ho-Cuchee,
nós temos de partir.

- Somos quem chegou aqui mais tarde.
- Kwame-Micco, agora somos família.

- Vocês ficam.
- Mas a família não deve prejudicar.

Eles é que prejudicam a nossa nação.

Vocês, não.

É melhor rendermo-nos,

para que o vosso povo
tenha tempo de fugir e se esconder.

Esta terra é nossa.
O homem branco quer a nossa terra.

Nós vamos lutar. Juntos.

Ou vamos morrer juntos
e isso será uma grande honra.

Hink-lah-mas-tchay.
Está tudo bem, então.

Não quero derramar sangue Seminole,
matar crianças e mulheres Seminole.

Devolve-nos a propriedade americana
que roubaste aos nossos bons colonos

e podem ir para o território índio
que o Governo vos providenciou.

Chamas seres humanos
"propriedade vossa"?

Eles são escravos!

Vocês roubam terra.
Vocês roubam vida.

Vocês roubam seres humanos.

De que espécie são vocês?

Desta.

CATÁLOGO DE NATAL

"Todos os judeus e todos os pretos
têm de ser exterminados.

Nós seremos vitoriosos.

As outras raças
vão desaparecer e extinguir-se.",

disse a Resistência Ariana Branca,
em 1991, na Suécia.

No ano de 2016, 25 anos depois,
uma famosa loja sueca

queria algo novo
para o seu catálogo de Natal.

A loja queria fazer um tributo
ao que a Suécia é hoje em dia:

uma sociedade
extensamente multicultural.

Para usar a veste branca
de Santa Lúcia,

uma tradição popular do século XVIII,

escolheu um menino de nove anos
de pele escura.

O inocente menino
tinha um sorriso tímido nos lábios.

Foi o sorriso, acima de tudo,
que não foi bem aceite.

Na Suécia, um dos países
mais tolerantes da Europa,

como em todo o mundo,
o ódio está, de novo, em crescimento.

"ISTO É GENOCÍDIO DOS BRANCOS."

"TU DÁS-ME VÓMITOS."

"QUANDO COMEÇAMOS A DEPORTAR
ESTES ESTRANGEIROS?"

Temos pessoas a entrar no país,
ou a tentar.

Estamos a travar muitas.

Não são pessoas. São animais.

Isto não é imigração. Isto é invasão.

MIGRANTES NÃO SÃO BEM-VINDOS
INVASÃO

Vocês têm de ter medo
porque eles vêm buscar-vos.

Temos de aumentar
a taxa de natalidade,

se não o vácuo será preenchido
por pessoas

que não creem
em valores ocidentais.

Estamos a ver isso acontecer nos
Países Baixos e por toda a Europa...

O estabelecimento branco
agora é a minoria.

Isso só vai mudar quando partirmos
para uma guerra civil.

E fazendo o que o regime militar
não fez: matando uns 30 mil.

MATAR

- Queremos causar uma boa impressão.
- É respeitoso.

Não queremos parecer
uns romenos porcos, ou algo assim.

PORCOS

Vocês não vão substituir-nos!

Vocês não vão substituir-nos!

Vocês não vão substituir-nos!

Vocês não vão substituir-nos!

O SONHO

Ao reafirmar a grandiosidade
da nossa nação,

entendemos que a grandiosidade
nunca é um dado garantido.

Ela tem de ser alcançada.

Está na hora de nos apercebermos de
que somos uma nação grandiosa de mais

para nos limitarmos
a sonhos pequenos.

Já passou muito tempo
desde a inauguração de Jefferson.

Os anos e mudanças acumulam-se,

mas ele conheceria
os temas deste dia.

A grande história de coragem da nossa
nação e o seu sonho de dignidade.

Nós somos uma nação
e a dor deles é a nossa dor.

Os sonhos deles são os nossos sonhos.

E o sucesso deles
será o nosso sucesso.

Marchamos ao som da música da nossa
era, mas a nossa missão é intemporal.

Juntos, tornaremos a América
forte novamente.

Tornaremos a América rica novamente.

Tornaremos a América orgulhosa
novamente.

Tornaremos a América segura
novamente.

E, sim! Juntos, tornaremos a América
grande novamente.

Obrigado. Deus vos abençoe
e Deus abençoe a América.

Obrigado. Deus abençoe a América.

Nós, por vezes, cometemos erros.
Não fomos perfeitos.

Mas vendo o histórico, a América
não nasceu como potência colonial.

Bem... na verdade, nasceu.

A América nasceu, sim,
como potência colonial.

E este facto é difícil de admitir,

pois assume a capacidade fatal
de perturbar a história central

que nos vêm contando estes anos todos
e que é o alicerce deste país.

Não é uma história fácil de contar,
porque a história ainda continua.

Uma história da busca pela pureza
e por um reino divino.

Uma história
de sobrevivência e de violência.

Uma busca por origem, 400 anos
após a viagem que "criou a nação".

Ano de 1962. Brooklyn, Nova Iorque.

Este sou eu, no meio. O autor.

Não sei bem como vim parar aqui,

mas desconfio.

Este é o explorador britânico
Henry Morton Stanley, no Rio Congo.

Este sou eu com o Henry.

Os meus pais trabalham para a agora
independente República do Congo,

tal como centenas de haitianos,

contratados pela ONU para substituir
os belgas, que fugiram da ex-colónia.

Nova Iorque, 1964.

O meu irmão Hébert e eu,

a caminho da escola pública P.S. 138
em Brooklyn,

entre Nostrand e Rogers.

Primeira vez na neve.

A minha mãe e a minha prima
desceram para a foto,

antes de irem para o trabalho
em fábricas, no Garment District.

A caminho do Congo de novo, após
o golpe do General Mobutu em 1965.

Apesar dos seus crimes, Mobutu Sese
Seko Kuku Ngbendu wa Za Banga,

continuaria a ser bem-vindo em todo
o lado durante os 30 anos seguintes.

Ajuda ser o homem mais rico do mundo

e controlar um sortido de cobre,

urânio, cobalto, diamantes e ouro.

Filmes Caseiros
Família Peck

Nós viajámos muito
por causa de outro ditador.

Futuro Vice-presidente dos EUA
visita François Duvalier, julho 1969

Mas não parece exílio.

Eu estou com a minha família.

Sou um imigrante de um país de merda,
tal como ele disse.

Há uma frase curta e simples

que resume a história do mundo
ocidental e do continente europeu.

EXTERMINEM TODAS AS BESTAS

No virar do séc. XX, um escritor
polaco chamado Joseph Conrad,

que muitas vezes pensava em francês,
mas escrevia em inglês,

conseguiu pô-la em palavras no seu
romance "O Coração das Trevas".

Esta frase, dita por Kurtz,
o personagem principal do livro,

será a última na tarefa
civilizacional do homem branco

entre os selvagens de África.

E esta frase não diz nada
sobre a Europa

ser o lar original do humanismo,
da democracia e da prosperidade.

Não diz nada sobre nada
que seja motivo justo de orgulho.

Ela apenas diz a verdade
que preferimos esquecer.

O termo inglês "exterminar",
do latim "extermino",

significa "expulsar dos limites
para a morte, banir perpetuamente."

O objeto da ação
raramente é um indivíduo só,

mas grupos inteiros,
como capins, ratazanas ou pessoas.

O termo "bestas" reduz o objeto ao
seu estado meramente animal, claro.

UM BASTIÃO DO PROGRESSO
Hugo Vieira da Silva, 2016

Os africanos foram chamados de bestas
desde o 1º contacto com europeus,

que os descreveram
como rudes e animalescos.

Foi no séc. XVII que Thomas Hobbes
disse a um amigo:

"Alguns homens são de uma natureza
tão cruel,

que têm mais prazer em matar homens

do que aquele que se deve ter
em matar um pássaro.

Este é Sven Lindqvist.
Um homem a quem agora chamo de amigo.

Ele escreveu o livro
Exterminem Todas as Bestas.

Esta também é a sua história.

Sven disse-me: "Numa terra argelina,
no deserto chamada Salah,

o explorador escocês Alexander Gordon
Laing foi atacado e assaltado.

Tinha cinco cortes de sabre no topo
da cabeça e três na têmpora esquerda.

O da maçã do rosto fraturou-lhe
o maxilar e cortou-lhe a orelha.

Um rasgão medonho no pescoço
arranhou-lhe a traqueia.

Laing foi atacado em janeiro de 1825,
mas o medo é intemporal.

"Um homem pode destruir tudo
dentro de si", escreveu Conrad.

"O amor, o ódio e a fé,
e mesmo a dúvida.

Mas enquanto ele se aferrar à vida
não consegue acabar com o medo."

O medo permanece sempre.

Talvez no medo procuremos
uma maior perceção da vida?

Uma forma mais convincente
da existência?

Tenho medo, logo existo.

Quanto mais medo tenho,
mais existo.

Havia um lugar chamado Tsenacommacah.
"Terra densamente habitada".

Era uma confederação poderosa
de mais de 30 nações,

liderada por Wahunsonacock, mais
conhecido como pai de Pocahontas.

A 14 de maio de 1607, 104 homens e
rapazes ingleses desembarcaram lá,

na margem do Rio Powhatan e decidiram
estabelecer um povoamento.

Mas, rapidamente, se viu que não
tinham uma linha de abastecimento

e eram incapazes ou relutantes em
cultivar ou caçar para seu sustento.

O líder militar John Smith ameaçou
matar todas as mulheres e crianças,

se os Powhatans não alimentassem
e vestissem os colonos,

e não lhes dessem terras e trabalho.

O líder da confederação Powhatan,
Wahunsonacock,

suplicou aos invasores:

"Porquê tirar-nos à força aquilo
que podeis obter através do amor?

Porquê destruir-nos,
que vos demos alimento?

O que conseguirão com a guerra?
Qual é o motivo da vossa inveja?

Ver-nos-ão sem armas e dispostos
a suprir os vossos desejos,

se vierem até nós de forma amigável
e não com espadas e armas,

como que a invadir o inimigo."

A ameaça de Smith foi executada.

Afinal, ele trabalhava
para a Companhia de Londres,

uma empresa com fins lucrativos.

A guerra contra os Powhatans
começou em agosto de 1609

e a eliminação deles
era a ordem do dia.

Sven diz-me: "Tu já sabes
o suficiente. Eu também."

Não é conhecimento que nos falta.

O que falta é a coragem de entender
o que sabemos e de tirar conclusões.

Pois, agora,
sabemos quando a história começou.

Sabemos quando a raça, a cor e
o sangue foram institucionalizados.

Vimo-lo nas Cruzadas, quando os
reinos cristãos do norte de Espanha,

juntamente com a liderança da Igreja
e outras monarquias europeias,

decidiram controlar rotas comerciais
muçulmanas para o Extremo Oriente.

O derradeiro objetivo da Igreja
e dos governantes europeus

nunca foi só recrutar almas
para o cristianismo.

Também era ganhar riqueza e poder
através de aniquilação.

Em 1478, o Papa aprovou a criação
da Inquisição Espanhola,

que tinha de investigar
a "limpeza do sangue"

de mouros e judeus convertidos.

"De sangue limpo"
era cristão-europeu.

"De sangue impuro"
era selvagem, não cristão.

Esta é a origem da ideologia
da supremacia branca.

Pela primeira vez no mundo,

o conceito de raça com base no sangue
foi usado como lei.

A supremacia branca tornou possível
que os europeus achassem aceitável

escravizar ou exterminar
outros povos.

Isso levou à deportação em massa
de judeus de Espanha, em 1492,

e de muçulmanos,
nas décadas seguintes.

Aconteceu com a deportação forçada
de mais de 10 milhões de africanos

da pátria da Humanidade.

Aconteceu a povos nativos,

no que se veio a chamar
os Estados Unidos da América.

E outra vez no século XX,

sem qualquer tipo de contrição,
aconteceu no Holocausto.

O caminho até Auschwitz foi preparado
nos primórdios da cristandade

e este caminho também vai ter
diretamente ao coração da América.

TRIUNFO DA VONTADE
Leni Riefenstahl, 1935

Estádio Olímpico, Berlim

Um povo que não apoie
a pureza da sua raça, perecerá.

Fez-se dos alemães o único bode
expiatório das ideias de extermínio,

que são, na verdade,
um património europeu comum.

Pesquisador racial, Berlim, 1930

Nos anos 70, houve uma discussão
na Alemanha sobre a questão:

"O extermínio nazi dos judeus
foi único ou não?"

Geneticista, Berlim, 1930

Os eventos históricos são todos
únicos e não cópias uns dos outros,

mas podem ser comparados.

Há semelhanças e diferenças

entre o extermínio dos judeus
e outros assassinatos em massa.

Adana, Turquia, 1919

Saigão, Vietname, 1968

Eu já vi estas imagens antes.
São sempre as mesmas.

Em todo o lado.
Em eras antigas e eras modernas.

A ridicularização da sua exibição.
É a sua banalidade que me afeta.

CONDIÇÕES DE GENOCÍDIO

Fanatismo, Exploração, Escravatura,

Conquista, Desprezo por estrangeiros

... então aí o resultado não será
a vitória da judiaria,

mas sim a aniquilação
da raça judia na Europa.

COMUNIDADES BLACKFEET DE MONTANA
DOCUMENTADAS POR WALTER MCCLINTOCK

Ninguém fala da visão europeia da
Humanidade na infância de Hitler:

as "raças inferiores" estavam,
por natureza, condenadas à extinção.

A atitude verdadeiramente caridosa
das "raças superiores"

consistia em ajudá-los nesse caminho.

Todos os historiadores alemães neste
debate pareciam ter a mesma visão.

Nenhum olha para o Ocidente.
Mas o Hitler olhou.

Ele tinha encontrado os seus modelos.

Filmes Caseiros
Eva Braun, 1940-1945

Claro que não foi um homem só
que engendrou sozinho

o massacre de mais
de seis milhões de judeus.

Centenas de milhares de apoiantes
também lá estiveram para o planear,

executar ou, simplesmente,
para lucrar com ele.

COM W. KISSEL E J. WERLIN,
GERENTES DA DAIMLER-BENZ AG, 1936

O famoso industrialista Henry Ford

deu ao Partido Nazi todos os lucros
dos carros vendidos na Alemanha

e todos os anos, eram dados mais
$350 000 no aniversário de Hitler...

... enquanto milhões de outros
se comprometeram a ficar em silêncio.

Comício alemão-americano
fevereiro, 1939

Se perguntam contra o que estamos
a lutar em nome da nossa Carta,

primeiro, uns Estados Unidos justos,
brancos, de governo gentio,

sindicatos de controlo gentio, livres
do domínio judeu vindo de Moscovo.

- Eu quero música.
- Eu não me oponho, Klutzky.

A essência desta história é frágil.
Requer a renúncia aos preconceitos.

A modéstia e a humildade
são necessárias, aqui.

CORPS PLONGÉS
RAOUL PECK, 1997

O JOVEM KARL MARX
PECK, 2017

L'ÉCOLE DU POUVOIR
RAOUL PECK, 2009

Porque me ponho nesta história?
Onde é que eu encaixo nela?

Como cineasta, sou compelido
a ficar escondido em segundo plano.

Refreado, moderado, equilibrado,
judicioso, neutro, até.

Aprendemos a evitar ser
o assunto do nosso filme.

Não é sobre nós. A não ser
que a história seja maior que nós.

Nesse caso, arriscamos tudo.
A neutralidade não é opção.

E aqueles que buscam História
com um final feliz,

redenção ou reconciliação,
talvez procurem em vão.

Tal conclusão não pode ser esperada.

No final do séc. XV, os europeus
começaram a colonizar o Novo Mundo.

Colombo, um italiano, desembarcou
numa ilha que reclamou para Espanha.

Em 1497, John Cabot, também italiano,
tomou um território para Inglaterra.

Em 1500, Pedro Álvares Cabral,
servindo Portugal, chegou ao Brasil.

Vasco Núñez de Balboa atravessou
terra para encontrar o Pacífico.

Reclamou-o para Espanha.

Fernão de Magalhães, um português,
fez o mesmo por Espanha

e morreu na sua circum-navegação
do mundo.

O italiano Giovanni da Verrazano
seguiu a costa da América do Norte

pelo rei de França e há uma ponte
em Nova Iorque com o seu nome.

Em 1534, Jacques Cartier tomou outra
terra para França. Chamou-lhe Canadá.

Uns anos antes, Amerigo Vespucci,
um italiano ao serviço de Portugal,

provou que Colombo não tinha chegado
às Índias Ocidentais,

mas sim ao que chamaria então
de Novo Mundo.

Em resultado, um cartógrafo alemão,
Martin Waldseemüller,

deu o nome de América
a todo o continente.

Desde o início, a extensão
dos Estados Unidos de mar a mar

foi a intenção e desígnio
dos fundadores do país.

Terra "gratuita" foi o íman
que atraiu os colonos europeus.

Esta forma de colonialismo chama-se
colonialismo de povoamento.

Mas, enquanto sistema,
requer violência.

Requer a eliminação dos nativos
e a sua substituição por europeus.

ARRANJE UMA CASA SUA

PAGAMENTOS FÁCEIS

POSSE EM TRINTA DIAS

TERRA ÍNDIA HERDADA À VENDA

VENHA PARA O NORTE DO KANSAS
TRAGA A SUA FAMÍLIA

A acusação de genocídio,
quando aplicada aos Estados Unidos,

é inaceitável há muito tempo.

Mas as provas
não deixam outra escolha.

Desde os primeiros povoamentos
até à fundação dos Estados Unidos

e continuando pelo século XX,

a eliminação do nativo está ligada ao
processo, conscientemente ou não.

Isto é uma história.
Não uma contribuição à investigação.

ESCOLA INDUTRIAL ÍNDIA CARLISLE
PENSILVÂNIA

A natureza deste processo histórico
ainda está turvada pela noção de que

foi cometida violência de forma igual
pelo colonizado e pelo colonizador.

Mas as pessoas não entregam
a sua terra, os seus recursos,

os seus filhos e os seus futuros
sem dar luta.

E essa luta é sempre respondida
com violência.

A história dos EUA gira em torno do
território. Quem o geria e cultivava.

Quem pescava nas suas águas, mantinha
a vida selvagem, invadia e roubava.

Gira em torno de como a terra
se tornou um bem,"Imobiliário".

Dividido em pedaços para ser comprado
e vendido no mercado.

É sobre como corpos africanos viraram
propriedades e fontes de trabalho

e sobre como colonos brancos pobres
abraçaram a supremacia branca

em substituição
de terra e de escravos.

O poeta William Carlos Williams
escreveu:

"A terra! Não o sentes?
Não te dá vontade de sair

e ternamente exumar índios, para
lhes roubar alguma autenticidade,

como se estivesse presa
até aos seus cadáveres."

Sem o trabalho forçado não pago
dos africanos escravizados,

um agricultor comercial
não conseguia competir no mercado.

Nas mãos dos colonos, a terra
deixou de ser sagrada ou coletiva,

como havia sido
para os povos indígenas.

Tornou-se propriedade privada.

Um bem comercializado. Qualquer homem
um possível rei, ou pelo menos, rico.

A maioria dos fundadores
também eram homens do imobiliário.

George Washington enriqueceu com
especulação fundiária. Terras índias.

Depois, a "terra" passou a significar
o país, a bandeira, o exército,

"a terra dos livres",
tal como diz o hino nacional.

Dizem que quem combateu em guerras
estrangeiras sacrificou a sua vida

para proteger "esta terra" que os
colonos adquiriram derramando sangue.

Mas o sangue derramado
foi sangue indígena.

Este é o Sven, de novo.

Ele faz lembrar estes aventureiros,
que exploram a espécie humana,

seja qual for a dificuldade, o perigo
ou a viagem longínqua que envolva.

Não é, seguramente,
um salvador branco.

Pelo contrário. É dos poucos europeus
que se atreve a ver a besta como é.

O Sven é uma testemunha.
O Sven viajou pelo mundo.

O Sven contou-me histórias,
algumas das quais eu já conhecia.

Ele falou-me deste mundo,
do mundo dele, sem cinismo,

o que não seria inconcebível
neste ponto da história.

Pois o Sven viu o meu mundo.
Viveu nele, tal como eu vivi no dele.

E escreveu sobre ele,
tornando-o palpável.

E, quando imergiu no horror, eu sabia
o que queria dizer e pelo que passou.

Eu podia confiar nele.

As distintivas cores das nossas
peles nunca foram obstáculo

e é assim que devia ser.

O DÚBIO SEGREDO DA BORRACHA

Em 1887,
o cirurgião escocês J. B. Dunlop

teve a ideia de equipar
a bicicleta do seu filho

com um tubo de borracha insuflável.

O pneu de bicicleta foi patenteado
em 1888.

Quatro anos antes,
os europeus e os Estados Unidos

haviam decidido que era necessário
regulamentar

a próspera exploração
do continente africano

sem ser por quem lá chegou primeiro,
quem era o mais forte ou mais cruel.

Uma situação que era nociva
a um ambiente de mercado respeitável.

Convocaram a Conferência do Congo
para mediar a pilhagem.

O principal resultado
deste "acordo de cavalheiros"

foi a eliminação da maioria das
formas de autonomia africana.

Na conferência, o rei da Bélgica,
Leopoldo II,

conseguiu assegurar todo o Congo
como sua propriedade privada.

Um território 80 vezes maior
do que a Bélgica.

Basicamente, o dobro da área
do Texas e da Califórnia juntos.

Nos anos seguintes,
a procura pela borracha explodiu.

Isto traria efeitos incalculáveis
para as aldeias no Congo.

O rei instituiu um monopólio
na borracha e no marfim,

e ordenou todos os nativos a fornecer
trabalho e produtos sem pagamento.

Quem recusou,
viu fogo ser deitado às suas aldeias,

os seus filhos assassinados
e as suas mãos cortadas.

Tais métodos levaram a um aumento
dramático da rentabilidade.

Lucros que ajudaram a construir,
entre outras coisas,

monumentos impressionantes,
que ainda hoje decoram Bruxelas.

Monumentos pagos
com mãos amputadas.

PLANTAÇÃO DE BORRACHA
CONGO, 1895

"Eu trago-vos clareza,"
disse o profeta,

"para que possais compreender
o mundo em vosso redor."

Deus diz-nos que a verdadeira vida
acontece depois da morte.

Quanto mais sofrerdes,
mais alegrias tereis no Céu.

- Não pode esperar pelo final?
- A borracha não espera!

- Onde está a minha borracha?
- Foi tudo o que consegui hoje.

- Porquê?
- As árvores secaram.

Tu!

Pega no cesto.

Não, fica.

Por favor, não faça isso!

A aventura no Congo foi puro saque.
Leopoldo II a gerir as contas,

a saquear corpos, a saquear recursos.
O esvaziamento de um continente todo.

Um assalto multibilionário.

Dez anos após a criação
do estado do Congo,

o escritor Joseph Conrad
enviou a sua primeira história,

Um Posto Avançado do Progresso,
à revista Cosmopolis.

Ele também havia subido o rio Congo
num dos navios a vapor da Companhia.

Ele também havia visto a feitoria
e ouvido histórias dos passageiros.

A história é simples.

Dois europeus, Kayerts e Carlier,

são enviados para uma feitoria
nas margens do grande rio Congo.

Para além de recolherem marfim,

não têm muito que fazer.
Têm muito tempo para se aborrecerem.

O seu único material de leitura
é um jornal amarelado,

que elogia a expansão colonial como
trabalho sagrado pela Civilização.

De início, os dois companheiros
acreditam nestas belas palavras,

mas, gradualmente, descobrem
que tais palavras são apenas "sons".

Sons que não têm conteúdo
fora da sociedade que os criou.

Conceitos como virtude, crime
ou moralidade são apenas sons.

Rapidamente, Kayerts e Carlier
sentem que ninguém os observa.

Certo dia, eles discutem.

Kayerts alveja Carlier em autodefesa
e só se apercebe mais tarde

que, no seu pânico, matou um homem
que não estava armado.

Sentado face ao corpo do companheiro,
Kayerts, pela primeira vez, pensa.

Como o resto da Humanidade, ele
acreditou num monte de disparates.

Deixado sozinho com as suas próprias
fraquezas, longe da opinião pública,

de qualquer olhar exterior, qualquer
humano é suscetível de ceder ao pior.

Conrad e Wells conheciam-se quando o
último escreveu A Máquina do Tempo.

Ódio e medo capturam o Viajante do
Tempo. Ele anseia matar Morlocks.

Ele quer ir logo para a escuridão,
"para matar as bestas".

O Viajante do Tempo adormece,
sentado na escuridão.

Quando acorda, os Morlocks estão
a atacá-lo, moles e repugnantes.

Ele sacode as "ratazanas humanas"
e começa a desferir golpes.

Gosta da sensação de um cano de ferro
a açoitar a carne e a esmagar ossos.

Este massacre de Wells
é tanto horrível como voluptuoso.

O seu livro seguinte, que Conrad leu
também, foi A Ilha do Dr. Moreau.

Moreau usa a perícia cirúrgica para
criar humanos a partir de animais.

A primeira a derramar lágrimas.

Ela é humana! Não fui derrotado!

- Prepara tudo!
- Para quê?

- Vou extinguir todo o animal nela!
- Não!

- Vou torná-la completamente humana.
- Não!

O Dr. Moreau criou 120 criaturas,

mas não conseguiu criar
um ser humano de verdade.

A Ilha do Dr. Moreau
é a história do colonialismo.

Tal como o colonizador
civiliza as raças menores,

mais animais, a chicote, o Dr. Moreau
civiliza os animais com tortura,

maximizando a dor,
de modo a acelerar a evolução.

Tal como o colonizador tenta criar
um novo tipo de criatura,

o selvagem civilizado, o Dr. Moreau
tenta criar o animal humanizado.

Sabes o que significa
sentires-te como Deus?

Em ambos os casos,
o meio é o terror.

O Apocalypse Now de F. F. Coppola
é baseado em O Coração das Trevas.

Nele,
e em todas as guerras verdadeiras,

os representantes da civilização
nas colónias eram invisíveis,

não só no sentido em que
as suas armas matavam à distância,

mas também porque, em casa,
ninguém sabia o que eles faziam.

AGUIRRE, A IRA DE DEUS
Werner Herzog, 1972

Branco de nascença.
Uma configuração padrão.

Eu sei que esta história é dolorosa,
mas nós temos de a conhecer.

Não se pode erigir a felicidade de um
sobre a dor de todos os outros.

Há, quase sempre, um preço a pagar.
Mais tarde.

Branco de nascença.
Uma simples variação na pigmentação

transformada numa fonte de poder.

Uma marca de superioridade.
Uma autorização para abusos.

Uma justificação
para imunidade eterna.

Não é necessário modéstia
e a dúvida não é um requisito.

O derradeiro privilégio.

Tradução: Susana Lino
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