All language subtitles for Tales of Irish Castles (2014) t01e04

Os castelos são os pontos de referência
mais dramáticos da Idade Média,

construídos como monumentos
ao domínio e ao poder.

Espalhados por toda a paisagem irlandesa,

estes edifícios antigos,
com paredes altaneiras e enormes torres,

não deixam dúvida em relação
à sua finalidade militar e de defesa.

Espero que tenhamos trazido
uma escada.

Os aristocratas anglo-normandos,
que invadiram a Irlanda no séc. XII,

construíram os castelos para controlar
e intimidar os rebeldes irlandeses.

Quando o domínio inglês foi consolidado,

os castelos serviram
como centros administrativos,

guarnições e prisões,

bem como de casas luxuosas
para os lordes ingleses.

Nesta série, vamos contar-vos
histórias sobre os seus cercos dramáticos,

batalhas sangrentas, vidas luxuosas,
presenças fantasmagóricas,

famílias guerreiras e senhores feudais.

Afinal, a história dos castelos irlandeses
é a história da própria Irlanda.

Desde a chegada dos Anglo-Normandos
à Irlanda,

a Grã-Bretanha lutou para controlar
esta colónia rebelde e beligerante.

Era muito, muito difícil conquistar

a Irlanda como uma unidade completa.

Quer dizer,
os Anglo-Normandos não o conseguiram.

Os Romanos não vieram para a Irlanda
porque acho que os Romanos

olharam para o local e disseram:
"Não conseguiremos conquistá-la toda."

Ned Kelly
Museu Nacional da Irlanda

REINO DA IRLANDA

Os séculos XV e XVI caracterizaram-se

por lutas de poder que culminaram
na rebelião de Hugh O'Neill,

a chegada dos Espanhóis e a derrota
dos Irlandeses, na Batalha de Kinsale.

Quando os líderes fugiram
n'A Fuga dos Condes,

as forças inglesas, ao que parecia,
tinham finalmente ganho preponderância.

A Fuga dos Condes é um evento decisivo
na história irlandesa.

Ao fugirem,
as terras sujeitaram-se a ser confiscadas.

Dr. Pádraig Lenihan
Departamento de História, Univ. Galway

Deixaram a sociedade local sem liderança.

Durante algum tempo, a vida na Irlanda
acalmou e as cidades prosperaram.

Os habitantes viviam felizes
com os seus administradores ingleses,

protegidos pelas suas tropas,
dentro dos castelos muralhados.

CASTELO DO REI JOÃO

Limerick era a maior cidade militar,
fora de Dublin,

e o castelo, construído pelo Rei João,
cerca de 1210,

para dominar a ponte
e manter vigia na direção de Thomond,

era um dos melhores exemplares

da arquitetura de fortificações normanda,
no país.

No final do período medieval,

Limerick tinha uma população
de quase 4.000,

habitantes da cidade
que viviam de acordo com as leis inglesas.

Tudo concentrado à volta da imponente
fortaleza, segura na sua ilha, no Shannon.

Nos séculos XV e XVI,

Limerick passou por um renascimento,
tal como o resto da Irlanda,

e a cidade ficou conhecida
como a cidade dos castelos,

Dr. Matthew Potter
Arquivos da Cidade de Limerick

porque se construíram muitas casas
de pedra grandes e impressionantes,

nas ruas principais de Limerick.

As pessoas de Limerick consideravam-se

leais servidores da Coroa Inglesa.

Não faziam negócios com rebeldes,

com desordeiros gaélicos,
nem com desordeiros anglo-irlandeses.

Em meados do século XVI,

Limerick é uma cidade muito,
muito importante, não é?

Sim, é.

Este é um modelo da cidade
de soberbo detalhe,

Ken Wiggins
Arqueólogo

de como seria, nos meados do século XVI.

Em muitos casos,
há edifícios de dois e três andares,

que são ocupados pelos

-cidadãos mais ricos.
-São muito opulentos, não?

Sim, e teriam de estar virados
para as ruas principais.

-Muito bem.
-Eram as propriedades principais.

Então e o porto?
Tem uma localização excelente.

Quero dizer,
é uma zona muito movimentada.

Quando os Vikings se estabeleceram aqui,
no século X,

ganharam dinheiro com o comércio

e claro que,
quando os Normandos apareceram,

no início do século XIII,
o importante era o comércio.

E à altura havia muita,
muita prosperidade.

E foi uma das maiores cidades portuárias
da Irlanda, sem sombra de dúvida.

E conseguimos ver o dinheiro
ao longo da rua principal.

Sim, havia muitas pessoas
bem na vida.

A CIDADE DE LIMERICK

Teria havido Normandos,
teria havido Vikings,

teria havido Franceses, Flamengos,
Alemães e Espanhóis.

Na altura, em toda a Europa,
as pessoas não bebiam água,

porque não era seguro bebê-la.
Por isso, bebiam muito vinho.

E o vinho era trazido
de Bordéus para Limerick.

Por isso, haveria um consumo de álcool
excessivo maior na Limerick medieval

do que na Irlanda moderna.

Em muitos aspetos,
os Irlandeses eram mais livres nas cidades

do que no campo,

onde lordes governantes mantinham
um rígido sistema feudal.

Se vivesse numa cidade, seria livre.

Podia fazer comércio.

Desenvolver a sua profissão ou atividade,
sem demasiadas interferências.

Brian Hodkinson
Museu da Cidade de Limerick

O seu estatuto seria muito melhor
do que o dos servos no campo.

No entanto,
a paz nunca foi duradoura na Irlanda

e a segunda metade do século XVII

traria caos e destruição,
a uma escala nunca antes vista.

O século XVII foi o período mais sangrento
da história irlandesa.

Cem anos em que três guerras
quase dizimaram a população.

E quase destruíram
a elite católica irlandesa.

Na fase final destas campanhas sangrentas,

os castelos irlandeses estavam
na primeira linha da ação.

Foi aqui que a história se desenrolou.

E o destino da nação foi tantas vezes
influenciado pelos acontecimentos,

às vezes numa questão de horas.

A Fuga dos Condes fora um evento decisivo,

permitindo à Coroa reclamar
as terras dos rebeldes no Ulster

e começar
a política de plantação desagregadora.

A terra foi parcelada e entregue
a súbditos ingleses e escoceses leais,

antigos soldados,
dispostos a jurar lealdade à Coroa.

Em 1640, a política tinha-se espalhado
para sul e as terras de Laois e Offaly

foram atribuídas
às novas famílias protestantes e leais.

Isto resultou num elemento maciço
de engenharia social

Prof. Terence Dooley
Departamento de História, Univ. Maynooth

e de transferência da propriedade da terra

das mãos dos católicos locais

para os recém-chegados,
predominantemente protestantes?

A rebelião irlandesa de 1641

foi um dos eventos mais importantes
da história irlandesa.

As plantações, juntamente com
os tempos economicamente difíceis,

viram um levantamento sangrento
surgir no Ulster

e milhares dos novos colonos protestantes
foram massacrados.

A rebelião espalhou-se rapidamente

ao mesmo tempo que os antigos líderes
católicos se juntavam numa confederação.

Quando a Guerra Civil começou
na Inglaterra, um ano depois,

a rebelião estava em quase toda a Irlanda,

enquanto parlamentaristas, monárquicos e
rebeldes irlandeses lutavam pelo controlo.

Quando falamos de protestantes
e de católicos na Irlanda,

nos séculos XVII e XVIII,

estamos a falar
de católicos contra protestantes.

Locais contra recém-chegados,
Irlandeses contra Ingleses ou Britânicos.

Então, etnia, identidade,
lealdades políticas

estão todas estreitamente ligadas.

O Exército da Confederação avançou
para sul e oeste,

tomando Kilkenny,
onde estabeleceu um parlamento rebelde.

A seguir, Limerick estava debaixo de olho.

A rebelião de 1641 foi uma tentativa

de golpe de estado
pelos lordes católicos irlandeses.

Que estavam a tentar tomar o controlo
da administração inglesa na Irlanda.

Para tentar forçar concessões

para os católicos que viviam
sob o domínio inglês.

Então, quando o exército católico marchou
para Limerick, em 1641, foi

a primeira vez que os lordes irlandeses
marcharam contra a administração inglesa,

que estava fechada
nas suas guarnições amuralhadas.

Quando o General Barry chegou à cidade,

os cidadãos católicos receberam
o exército rebelde abrindo os portões,

enquanto os protestantes se refugiaram
dentro das muralhas do castelo.

No entanto, sem canhões,
Barry decidiu recuar,

usando uma velha técnica de cerco,
conhecida como enfraquecimento.

Em 1990, escavações

revelaram os restos dos túneis
que acabaram com o cerco de cinco semanas

e viram o castelo cair
pela primeira vez na sua história.

Em 1990, quando estavam aqui a escavar,
logo no início da escavação,

descobriram...
Sabiam o que tinham encontrado?

Porque isto é... Tem de ser

extremamente raro, encontrar algo assim.

Começámos a encontrar filas
de escoras de madeira podres ou queimadas

a espreitarem do solo.

Fazia alguma ideia...
Mas que raio é isto, do que encontrou?

Os meios principais de ataque e defesa

envolveram a construção
destas minas e contraminas.

Com vigas de madeira, quero dizer,
meu Deus, encontrámos

as estruturas que foram usadas por eles,
quando os castelos estavam cercados.

Eram impenetráveis para atacar,

mas não foi o ataque que os fez cair,
foi o enfraquecimento do cerco.

Atualmente, usamos o termo "enfraquecer"
como uma metáfora.

Mas naquele tempo
significava literalmente algo.

Constrói-se um túnel debaixo das muralhas

e faz-se colapsar o túnel
dentro da muralha.

Assim, derruba-se a muralha à superfície

e abre-se uma fenda na muralha.

Pode iniciar-se um incêndio
sob as muralhas dos castelos.

Também se podem usar vasos com fogo
que são granadas eficientes.

E começar uma pequena explosão,

pode pôr-se cada vez mais pólvora e...

Podemos não ter um canhão para a tarefa,

para o que estamos
a tentar fazer,

que é derrubar a muralha com um só golpe.

Lar Joye
Museu Nacional da Irlanda

Os Irlandeses abriram esta mina,
claro, nesta guarnição.

Sabemos como é que descobriram
que estavam a fazer isto?

A guarnição teve conhecimento devido
ao barulho que se ouvia no edifício.

Por isso, nessa altura, tiveram de iniciar

o que eles chamaram
de contra enfraquecimento.

Eles desciam literalmente
e impediam os tipos de entrar.

Especificamente,
eles queriam intercetar as minas.

Os danos eram tão extensos
que as guarnições não tinham outra opção

senão renderem-se

e dizer:
"Muito bem, estamos prontos para falar

"e estamos preparados
para entregar o castelo."

Era inevitável, naquele ponto.

O castelo foi entregue,
mas só depois de 280 mortes devido à fome.

Muitas delas de mulheres e crianças.

E foram enterrados em valas comuns
no pátio do castelo.

As análises de osteoarqueologia dizem-nos

que as crianças tinham todas
menos de cinco anos.

Exceto uma, que teria seis.

É terrível pensar que crianças dessa idade

foram apanhadas nesta luta terrível.

Elas não morreram devido a tiros,
ou qualquer tipo de violência.

Estas pessoas morreram à fome,
durante o cerco.

Quando encontramos algo assim

e encontramos restos mortais de crianças,
em particular,

deve ser incrivelmente emotivo.

Acabar numa vala com as outras pessoas.

Quero dizer, é profundamente trágico.

-Temos de pensar nisso com respeito.
-Absolutamente.

E reconhecer a perda de vidas
que fez parte do cerco.

A guerra civil estava
no auge na Inglaterra,

tendo os Irlandeses tomado partido
do Rei Carlos,

preferindo-o ao fervor protestante
de Cromwell e dos seus parlamentaristas.

No sul, as famílias de agricultores eram
atingidas e forçadas a sair das terras.

No entanto, algumas famílias resistiram
e tentaram aguentar.

Castelo de Birr

Birr era um castelo de agricultores,
associado a William Parsons.

Daí o nome Parsonstown.

E no Condado do Rei e no Condado da Rainha

na zona de Offaly e Laois,

há uma série de tais fortalezas.

E estas, no primeiro ano
das Grandes Revoltas de Outubro de 1641,

nesse primeiro ano,
estes locais encontravam-se sob cerco.

A família Parsons do Castelo de Birr havia
desenvolvido a bela cidade do centro.

Desenvolvendo a indústria e o emprego
e integrando-se bem com os habitantes.

Acho que a família Parsons se certificou

de que se dava bem com os vizinhos.

Quando vieram para cá,
no início do século, as coisas...

Estavam a tornar-se bastante pacíficas

e temos contas nos arquivos
das despesas de Lawrence Parsons,

e notei que, ao longo dos anos,
as despesas de uísque,

ou como ele escreveu
na tradução irlandesa, a uisce beatha,

subiam cada vez mais a cada ano,
então é claro que ele recebia pessoas.

Mas depois, infelizmente,
a política intrometeu-se.

Quando as forças rebeldes irlandesas
marcharam para o Castelo de Birr,

o Capitão William Parsons
recusou render-se.

Como em qualquer guerra civil,
muitos dos protagonistas eram vizinhos.

Então, apesar da política da altura,
as comunicações eram respeitosas.

Eles respeitavam muito a mãe
do Capitão William, claro,

e até há uma carta muito comovente
de um Capitão O'Moore

dizendo quão triste está por tão bons
amigos se encontrarem de lados diferentes

que é o pior das guerras civis.

Ele pergunta-lhe se ela deve ir embora,
mas de facto ela não o faz.

Ela não o faz.
Eles aguentam-se um pouco mais.

O Castelo de Birr repele
a primeira investida,

mas o exército regressa
dois anos mais tarde.

E por esta altura,
as coisas tinham mudado.

Esse longo impasse termina abruptamente
em janeiro de 1643.

Nessa altura, os atacantes eram uma parte
do Exército Confederado de Leinster,

Dr. Harman Murtagh
Historiador Militar

comandada pelo seu general,
o General Preston,

que era um veterano do continente,
um soldado profissional,

e que gostava particularmente
da guerra de cerco.

Os defensores começavam a sofrer,

não de privação, ainda tinham comida,

mas das condições existentes,
num castelo sobrelotado.

Tinham lama até aos joelhos.

Estavam desmoralizados.
Não viam como escapar daquilo.

O que ele fez foi encontrar um ponto fraco
na base da muralha.

Então, começou a escavar
um túnel subterrâneo,

uma mina, é esse o nome,
em direção ao ponto franco.

E quem estava lá dentro,
um homem chamado Chidley Coote,

que era encarregado do castelo,
apercebe-se do que estava a acontecer.

Nesta fase,
Coote está preparado para negociar

e o castelo rende-se ou capitula

apenas uma semana
após a chegada de Preston.

Temos uma descrição muito interessante

dos termos que foram negociados
quando o cerco terminou.

Obviamente, Preston respeitou a família.

Ele disse: "Nenhum soldado comum
se atreverá a entrar pelas vossas portas

"para assustar as senhoras
até elas e as suas carruagens saírem.

"E poderão usar livremente
dois bois para levar a carruagem.

"E todos os seus criados
devem seguir com elas

"usando uniforme, de linho e lã,

"e com as espadas a seu lado."

Então, foi assim que saíram
depois do cerco.

A Guerra da Confederação viu muitos
dos nossos castelos mudarem de mãos,

pela primeira vez, desde a chegada
dos invasores, 450 anos antes.

Por todo o país,
as guarnições inglesas eram expulsas

à medida que os rebeldes
tomavam o controlo

e foi estabelecido em Kilkenny
um governo alternativo.

A captura do Castelo de Limerick foi
o maior ponto de viragem da rebelião,

foi o início de nove anos de independência
de Limerick do governo britânico.

Foram tempos tumultuosos.

Quando a Guerra Civil foi declarada
em Inglaterra, nesse agosto,

as lealdades tornaram-se
ainda mais complicadas.

Uma vez no poder, só em 1649

é que Cromwell estava pronto
para virar a sua atenção para a Irlanda.

Cheio de fervor religioso e impelido
pelas notícias da imprensa inglesa

sobre massacres
de colonos protestantes no UIster,

Cromwell tinha contas a ajustar.

Quando Cromwell chega à Irlanda,
está muito determinado.

Ele é um homem muito religioso.

Um general extraordinário que,
em muitos aspetos, mudou a forma

como os militares lutavam na Inglaterra.

Mas são as suas convicções religiosas
fortes que o conduzem.

E é por isso que se torna famoso,

pelas suas retaliações
contra os Irlandeses, quando chega.

Lar Joye
Museu Nacional da Irlanda

Cromwell detesta jornais
e, em particular, os jornais irlandeses.

Ele também foi motivado
pelo desejo de vingança e retribuição.

Dr. Pádraig Lenihan
Departamento de História, Univ. Galway

Pensava que era ouvido e lido
de forma extremamente exagerada.

Os massacres católicos e protestantes
de 1641 a 1642.

Quando ele finalmente invadiu,
não havia exército à sua altura.

E o seu novo exército modelo
avançou pelo país

com extrema facilidade.

Após tomar Drogheda, Wexford,
Carrick-on-Suir e Waterford,

Cromwell e o seu exército chegaram aqui,
às portas de Kilkenny, em março de 1650.

Castelo de Kilkenny

Dentro da cidade, as coisas estavam mal,
porque a peste tinha atacado.

Na verdade, a peste diminuiu os elementos
da guarnição de 1200 para 400.

Então, naturalmente, o Sr. Cromwell pensou
que tudo iria correr como ele queria.

Mas como estava enganado.

Para os Católicos Confederados,
Kilkenny era o mais parecido

que tinham com uma capital.

Eles controlavam
mais de dois terços da Irlanda,

comandados pelo Duque da Irlanda,
James Butler,

cuja base de operações
era Kilkenny, claro.

E ele tinha um castelo em Kilkenny.

Mas o castelo era o seu alvo principal.

E, claro, o que se passava é que,

para além de ter grande importância
estratégica, o castelo

também tinha importância simbólica,

porque Kilkenny era o centro
da confederação

onde a Irlanda tinha tido alguma
independência religiosa,

John Fitzgerald
Historiador Local

nos oito anos anteriores

e o parlamento de Kilkenny
era mais ou menos aqui, não em Kilkenny.

Tinha uma grande importância simbólica,
bem como valor estratégico.

Cromwell podia ter sido perdoado
por pensar que Deus era inglês,

porque o inverno que se seguiu
foi excecionalmente curto e ameno.

Mesmo antes do fim de janeiro,
o exército estava pronto e a marchar.

E ele estava a aproximar-se de Kilkenny
pelo sudoeste.

No início de março de 1650,
nessa altura.

E estava outro exército a vir de Dublin,
convergindo para Kilkenny.

Como ele chegou ao campo de batalha cedo,

os seus inimigos, os Irlandeses,
foram apanhados de surpresa

tendo, ainda por cima,
sido atacados pela peste.

A peste bubónica tinha chegado a Galway,
no ano anterior,

e tinha-se espalhado
pelos quartéis irlandeses.

Então, os militares e os habitantes
da cidade de Kilkenny foram

assolados por uma doença epidémica.

Mas ao chegar a Kilkenny, nesse dia,

ele mandou uma mensagem
ao governador do castelo

e ao governador da cidade

exigindo a rendição imediata da guarnição

e foi-lhe apresentada uma recusa pronta.

O ambiente na cidade,
eles deviam estar petrificados.

Estavam absolutamente petrificados
e com muita razão,

porque tinham, literalmente,
o inimigo à porta.

Quando os bombardeamentos começaram,
as bolas de canhão voaram

e não só abriram buracos nas muralhas,

mas também as ultrapassaram
e atingiram as casas das pessoas

e decapitaram literalmente pessoas
que andavam nas ruas.

Ele descobrira um ponto fraco
nas defesas da cidade,

um local chamado Irishtown.

Entraram milhares de soldados
por esse ponto fraco.

Infelizmente, foi o princípio do fim
da guarnição de Kilkenny

e o governador da cidade rendeu-se

e as tropas de Cromwell avançaram,
conquistaram e pilharam as igrejas,

levaram a cabo massacres,
reuniram prisioneiros e tudo isso.

Quantas vidas diria que se perderam?

Morreram por volta de 200 a 300 soldados
de Cromwell.

E cerca de dois terços desse número
do lado da defesa.

Porque a defesa tinha
alguma vantagem, claro.

Não há uma estimativa
de quantos cidadãos morreram,

mas devem ter sido uns milhares.

Havia muitos feridos e, claro,
as pessoas morriam de peste na cidade,

mesmo durante o cerco,

por isso, é muito difícil chegar
a um número exato de mortes.

Mas os apoiantes de Cromwell pagaram
bem caro a conquista de Kilkenny.

Kilkenny foi devastada
pelo bombardeamento.

A maioria dos edifícios importantes
foram destruídos e as casas esventradas.

E as tropas de Cromwell continuaram
a destruição.

Os clérigos foram banidos
e muitos dos habitantes foram executados.

Finalmente, foi aprovada uma lei
para livrar a cidade dos cidadãos.

E com a advertência de Cromwell

a soar-lhes aos ouvidos:
"Para o Inferno ou para Connacht",

muitos deles foram para oeste
e para o exílio.

Com Kilkenny conquistada,
Cromwell deixou o seu genro, Ireton,

responsável pela tomada de Limerick,

a última cidade ainda nas mãos

da confederação
de católicos e monárquicos.

A tomada de Limerick
foi uma campanha sangrenta e brutal

e a primeira tentativa, em outubro, foi
abandonada pois o inverno havia começado.

Muitas vezes pensamos na campanha
de Cromwell como sendo

uma passagem rápida pelo país.
Longe disso.

Cromwell chega em 1649. De 1650 a 1651,

durante a primavera,
verão e outono de 1651,

Ireton está claramente a instalar-se.
Ele rodeia Limerick.

Nessa altura, o seu exército está doente,
atacado pela peste bubónica.

Não afeta apenas os Irlandeses,
também afeta os Ingleses.

Então ele espera e espera,
aguardando a capitulação dos Irlandeses,

antes dos meses de inverno,
que é quando ele terá de se retirar.

O castelo tinha uma guarnição
de cerca de 2.000 homens,

protegidos na ilha, cuja única forma
de entrar era a Ponte Thomond,

enquanto Ireton tinha 8.000 homens,
bem como 28 armas de cerco e morteiros.

Ireton protegeu todos os acessos à cidade,
cortando fornecimentos

e começando um bombardeamento incessante
sobre os habitantes e o castelo.

Quando Ireton violou à força as muralhas
e, na iminência de um novo assalto,

O'Neill, com 700 soldados mortos,
ficou sem opções e rendeu-se,

mas não antes de cerca de 5.000 civis,
estima-se, terem sido mortos.

Mas o exército de Cromwell pagou
bem caro a tomada de Limerick.

Perderam 2.000 homens
e o próprio Ireton nunca voltou para casa.

Um mês após a cidade cair,
a peste também o derrubou.

Mas não antes de punir os líderes
da cidade que considerava uns traidores.

Muitos enforcados e o presidente
da câmara arrastado e esquartejado

e a sua cabeça pendurada
na porta de St. John.

A antiga ordem foi arrasada

e começaram a chegar novos colonos.

Os nomes irlandeses quase desapareceram.
Já não estavam a governar a cidade.

Brian Hodkinson
Museu da Cidade de Limerick

Passaram a pertencer às classes baixas.

Surgiu uma nova povoação
que também foi muralhada

e que foi chamada de fortaleza irlandesa.

Tornou-se uma espécie de zona de gueto
para onde os Irlandeses eram empurrados.

Se quisermos, acho que lhe podemos chamar
um campo de concentração.

Ali, as casas não eram tão boas, pois não?

Totalmente.

-É muito jeitoso.
-Este lado é muito chique.

Ken Wiggins
Arqueólogo

Propriedades chiques,
entre a catedral e o castelo.

Está a ver?
São estruturas mais humildes.

Sim, é uma forma simpática de o dizer.

Quando Cromwell morreu, em 1658,

e a Inglaterra decidiu
restaurar a monarquia,

a Irlanda respirou de alívio.
Houve paz por algum tempo.

Mas quando Jaime II chegou ao trono,
quase 30 anos depois,

a política da família interveio.

Jaime permanecera católico,
mas a sua filha Maria tinha-se casado

com Guilherme de Orange,
holandês e muito protestante.

Quando os principais protestantes ingleses
convidaram Guilherme para o trono,

Jaime foi forçado a fugir
através do Canal de Bristol,

esperando que a Irlanda católica
o ajudasse a recuperar o seu reino.

De uma perspetiva britânica,
Jaime era católico.

Eles não gostavam da ideia
de ter um rei católico

e da possível reintrodução
do catolicismo na Grã-Bretanha,

por isso, chamaram Guilherme III.

Este afastou Jaime II,
que fugiu para a Irlanda.

Há uma série de contextos.
Há um contexto europeu.

Esta é uma guerra em que a Irlanda
é palco de um conflito gigantesco,

entre Guilherme de Orange,
que lidera uma aliança internacional,

e, do outro lado, o grande rei,
o Rei Sol, Luís XIV.

Então, faz parte desse pacote.

Faz também parte de uma invasão
da Grã-Bretanha,

que quase foi bem sucedida,
por Guilherme de Orange.

Em março de 1689,

Jaime chegou a Kinsale,
com 6.000 soldados franceses.

Eles foram muito bem recebidos em Dublin,

antes de marcharem para norte,
para montar cerco a Derry,

que era uma das poucas cidades militares
que não era leal ao rei.

O cerco durou três meses,
mas acabou por ser levantado

com a chegada dos navios de guerra
guilhermitas em julho.

Jaime foi forçado a ir para sul
e estava na defensiva.

Então, na temporada militar de 1690,

temos um extraordinário cenário
sem precedentes.

Dois reis de Inglaterra em disputa,
um tio e um sobrinho,

sogro e genro,

ambos se encontram em Boyne,
nas margens desse rio,

lutando pelos tronos de três reinos.

Por isso, é uma cena muito dramática
em que a Irlanda é o palco principal

de um evento britânico,
irlandês e da Europa ocidental.

Guilherme vem da Holanda,
e com generais como Ginkel,

que são mais experientes
em grandes batalhas.

E, mais uma vez,
o Rei Jaime não é um rei guerreiro.

Ele é mais um rei da corte
e a diferença será essa.

Guilherme de Orange e outros como ele
eram príncipes guerreiros.

Lar Joye
Museu Nacional da Irlanda

Eles sabiam muito bem lutar.

Já haviam lutado em batalhas.
E têm esse conhecimento.

E, essencialmente,
Jaime compromete demasiado as suas tropas

no que ele sente
que será um ataque em força.

Guilherme protege
a maioria do seu exército

e após Jaime ter comprometido
o seu exército

no que ele considera ser
um ataque em força,

Guilherme atravessa muito rapidamente
o Boyne

e a batalha é muito, muito rápida.

E Jaime é forçado a fugir.

Um golpe muito grave,
principalmente no prestígio de Jaime.

Afinal, ele fugiu do país

e ao fazê-lo, o que ele afirmou foi:
"Perdi a guerra".

Mas não foi o fim da guerra. Porquê?

Porque o exército irlandês
estava mais ou menos intacto

e Guilherme jogara alto de mais.

Se ele tivesse oferecido
um acordo de paz razoável,

com segurança dos bens
e talvez algumas garantias religiosas,

a guerra teria acabado.
Teria ficado assim.

O Rei Guilherme também partiu, deixando
as tropas ao general Ginkel, um holandês.

No entanto, o inverno estava a chegar

e após uma tentativa falhada de atravessar
o Shannon em Athlone,

os dois exércitos instalaram-se
e esperaram pela primavera.

Morreram soldados em batalhas,
mas não foi isso que os matou.

Foram as coisas relacionadas
que os mataram.

Foram as doenças.

É quando se tem um grande número
de pessoas juntas,

que se apanham doenças
como a febre tifoide.

Quando se está em acampamentos,
são elas que matam.

E também haverá fome

e acaba-se com tropas
que estão subnutridas.

Quando se volta na primavera,
para preparar tudo,

o exército pode estar esgotado,

com grande número de soldados
que podem ter morrido de doenças

e o que resta das tropas

tem fome e está esgotado
e não está na melhor forma física.

Em Birr, a família Parsons tinha
recuperado as suas terras

e agora o castelo era uma guarnição
das tropas guilhermitas.

O inverno viu muitas escaramuças
entre os dois exércitos

e o castelo foi cercado pela segunda vez.

Desta vez,
pelas forças do comandante jacobita,

Patrick Sarsfield, Conde de Lucan.

Este é Sir Lawrence Parsons.

Fazia parte da terceira geração de Parsons
a viver aqui.

Esteve envolvido no cerco de Sarsfield

e passou tempos difíceis.

Patrick Sarsfield é o herói popular
das Guerras Guilhermitas.

De acordo com os seus inimigos, era:
"Assez brave, mais pas de tête."

Muito corajoso, mas pouco inteligente.
Acho que isso é injusto.

Ele era um bom comandante de cavalaria,

audacioso, compreendia a importância
de tomar a iniciativa,

e acima de tudo, era inspirador.

Era alguém
que conseguia inspirar otimismo,

inspirar autoconfiança
e inspirar orgulho.

Mostra um lado muito humano de Sarsfield,
de acordo com o relato.

Sarsfield diz: "A casa custara
muito dinheiro a Sir Lawrence

"e como não lhes serviria de nada,

"foi uma pena destruir
o castelo do cavalheiro."

O que é simpático. Acho

que se Sarsfield tivesse conhecido
Sir Lawrence em melhores tempos

poderiam ter sido amigos.

O que é interessante é ver as marcas
das bolas de canhão do cerco de Sarsfield.

Algumas entraram pela janela,

mas outras arrancaram grandes pedaços
daquela parede.

O exército guilhermita tinha tomado
conhecimento do que se passava em Birr,

por isso, mandaram uma força de reforço
enorme de Roscrea.

Dr. Harman Murtagh
Historiador Militar

E isto obrigou os Jacobitas
a afastarem-se de novo,

a atravessar o Shannon em Banagher,
para Connacht.

O inverno foi extremamente duro.

E foi duro para ambos os exércitos.

Mas o exército jacobita
sobreviveu por pouco.

BOLAS DE CANHÃO enterradas nas muralhas
do CASTELO DE BIRR após o CERCO DE 1688

Mas sobreviveu e conseguiu continuar
a sua campanha em 1691.

Quando o verão chegou,

Ginkel juntou um grande exército
à volta de Mullingar.

O plano era atravessar o Shannon
em Athlone,

uma cidade militar chave e estratégica,
ainda nas mãos dos Jacobitas.

E depois marchar para Limerick.

Mas primeiro, tinham de tomar Athlone.

Estamos a olhar para um mosquete de mecha.

Os Jacobitas tinham-nos,
o que era uma sorte para eles.

Era deste tipo que eles tinham.

É lento para recarregar.

Tem uma taxa de falhas de ignição
muito elevada.

E não é muito preciso.

Três coisas que procuramos numa arma
quando a compramos, não?

Algo que seja difícil de carregar.

E, claro, mesmo que se consiga carregá-la,

não quer dizer que ela dispare.

Para além disso, funciona perfeitamente.

É preciso ter sorte com isto.

É mesmo assim.

No fim, acabaria por acertar em alguém.

-Acertaria em alguém. A uns 45 metros.
-Pois.

Para além dos 45 metros, como já ouvi,
é como se apontasse à Lua.

Calculo que isso não sejam chocolates.

Tendo em conta a sua condição médica,
se isto os atingisse na perna ou no braço

teriam algumas hipóteses de sobreviver.

Poderiam desenvolver septicemia.
Teriam de amputar o braço ou a perna.

Ficaria bem.
No entanto se acertasse no tronco, matava.

Estamos a ver uma munição de cerco.

Entre nove a onze quilogramas. Tome.

Bolas!

E estas são as bombas.

São ocas por dentro.

Está a ver o buraco do rastilho,
em cima?

Passa por cima das barreiras
e aterra por trás.

É uma arma de terror.

Não é para derrubar muralhas,
mas para matar as pessoas...

-Atrás da muralha.
-...atrás da muralha.

Isto deve ser o fragmento
de uma granada de mão.

Então, o granadeiro era
um dos melhores soldados.

Eram tipos grandes,
que lançavam estas coisas

por cima do ombro,
com o rastilho aceso,

e eram os homens
dos bloqueios a pouca distância.

Uma tentativa inicial
de tomar a ponte falhou.

E Ginkel trouxe a artilharia pesada.

Os dez dias de bombardeamento viram
60.000 tiros ser disparados para a cidade.

Testemunhas oculares escreveram
que foi o inferno na Terra.

Quando os homens de Ginkel
finalmente passaram o rio,

os Jacobitas foram forçados a recuar.

Mas a guerra ainda não tinha acabado.

Os dois exércitos voltam a encontrar-se
em julho de 1691.

Desta vez em Aughrim, Condado de Galway.

Castelo de Aughrim

Foi montado o cenário para a mais dura
batalha de sempre em solo irlandês.

Certo, bem, esta foi a maior,

a mais sangrenta batalha
que aconteceu na história irlandesa.

Lutaram e morreram aqui
mais soldados do que em Gettysburg.

Julie Cruise
Centro Interpretativo - Batalha de Aughrim

E Gettysburg é tão conhecido na América.

Chamam-lhe a Batalha Esquecida
da história irlandesa,

como se tivesse sido retirada
dos livros de história.

Foi vista como se...

Acho que como uma derrota
para os Irlandeses.

Se quiser,
esta foi mais fácil de esquecer.

Foi demasiado macabra.

-Como está, Damian?
-Olá, Simon, prazer.

-Igualmente.
-Bem-vindo ao Castelo de Aughrim.

A sério? Onde está?

Não resta muito,
uma parede ali e umas ruínas aqui.

Damian Shields
Arqueólogo do Campo de Batalha

Pode ver ali, na zona mais alta,
atrás da cruz.

Como é que fazemos isto, Damian?

-Bem, podemos saltar.
-Podemos pois, já está.

E depois fazer isto, não é?

E entrámos.

Muito bem, não faço isto outra vez.
Damian, vamos.

Sabemos que já estava em ruínas
na altura da batalha.

E tem de imaginar
centenas de soldados jacobitas.

Havia umas centenas de homens aquartelados
aqui com apoio da infantaria.

Então, eles estavam a tentar
bloquear os Guilhermitas

para que não viessem para esta zona.

Deixe ver se me situo.

Então, os Guilhermitas vieram
desta direção.

É verdade, sim.

E os Jacobitas defendiam esta posição.

Os Jacobitas defendiam esta linha,
tentavam cobrir esta passagem estreita,

pelo paul.

Em relação aos Guilhermitas,
porque vêm por aqui?

-Para onde se dirigem?
-Querem ir para Galway

e, finalmente, para Limerick.
É esse o plano deles.

-Então, a chave era passar por aqui...
-Sim.

-...e ir para Galway.
-Sim.

E ganhar a guerra. Era o que queriam.

Os soldados, quando vieram para Aughrim,

tinham sobrevivido a três anos de guerra.

Quando chegaram a Aughrim,

na verdade tinham recrutado muitos
que eram apenas agricultores.

Recrutados na estrada,
só para fazer número.

Então, basicamente os Guilhermitas teriam
tido mais treino, exércitos profissionais,

pessoas que vinham de outros países,
como a Holanda.

Tinham holandeses e dinamarqueses.
Tinham huguenotes franceses.

Só quando chegamos aqui,
quando olhamos para o local

é que podemos ver o campo de batalha
à nossa frente.

Sim, Aughrim é quase único na Irlanda,

porque a paisagem daqui é tão incrível,

que podemos chegar a um ponto estratégico
como este e ver todo o campo de batalha,

e como ela se terá desenrolado.

Temos a visão de Ginkel
e a dos Guilhermitas.

E ele estava a olhar para Aughrim,
aqui, à direita,

e para a passagem que era ali
e à qual podiam aceder.

Ele estava a olhar para um mar de
infantaria jacobita no cume ali à frente.

E entre ele e eles, o paul.

Um paul profundo.

Especialmente, uma parte,
como falámos antes,

que chegava até ao peito.

Então, estes homens tinham
de subir esta colina,

e ir por aquele paul
em direção ao fogo jacobita,

eram homens corajosos.

Bem, Aughrim foi uma batalha fácil.

Temos dois exércitos
no que se chama de ordem paralela.

Dr. Pádraig Lenihan
Departamento de História, Univ. Galway

Estão frente a frente, em duas linhas,
de norte para sul.

Os Guilhermitas tinham um exército maior,
em termos de homens, certamente cavalaria,

e certamente em poder de fogo.

Eles atacaram a parte sul
da linha jacobita,

foram derrotados.

Atacaram a zona do meio da linha jacobita,

foram derrotados.

Lá para o final do dia,

Ginkel reuniu os seus homens
para um terceiro ataque.

O ataque a norte foi o menos atrativo,
à primeira vista.

Envolveu um grande exército
que teve de passar uma passagem estreita.

No máximo,
passariam três cavalos, lado a lado.

Então, necessariamente,
o exército teria de se juntar.

Progridem devagar.

E se a outra ponta da passagem
estiver bloqueada,

vais ser o diabo para conseguirem passar.

Felizmente para os Guilhermitas,
por esta altura,

estamos por volta das 18:00 ou 19:00,
ao anoitecer.

Os Irlandeses tinham tirado tropas
da parte norte da linha

para as misturar nas partes sul e do meio
da sua linha.

Então, a passagem à volta de Aughrim,

da vila e do castelo de Aughrim,
tinha homens a menos.

Refletindo o carácter internacional

da guerra e dos exércitos dos dois lados,

ambos os generais eram estrangeiros.

No lado jacobita temos um francês,
o Marquês de St. Ruth.

E no lado guilhermita,

temos Godard van Reede,
Barão de Ginkel, um holandês.

St. Ruth é inspirador.

É adorado pelos Irlandeses,
no pouco tempo que esteve com eles.

E a posição que escolhe em Aughrim
é uma boa posição defensiva.

E enquanto ele permanece vivo,

mantém um alto controlo do que acontece.

Mas no momento crucial,
em que as tropas inimigas,

as tropas guilhermitas,
estão a passar pela passagem de Aughrim,

ele vê este momento
como o decisivo no campo de batalha.

E diz para as suas tropas...

"Rapazes, este é o nosso dia."

Fogo à peça!

E começa a organizar um contra-ataque
e bombardeamento.

Fim do jogo.

A bola do canhão atinge-o na cabeça,
decapita-o,

e não há...

Literalmente,
o exército fica sem o seu cérebro.

E, rapidamente, com a cabeça de St. Ruth,

a desmoralização atravessa as fileiras.

E é neste ponto que as coisas se
desmoronam a uma velocidade assustadora.

Neste ponto, segundo a lenda,

o vilão do dia foi Henry Luttrell,

do Castelo de Luttrellstown,
perto de Dublin.

A versão popular diria
que a passagem foi vendida.

HENRY LUTTRELL
O Traidor

Henry Luttrell estava à frente
do elemento avançado da cavalaria,

que estava a guardar a passagem
que teria sido vendida antecipadamente.

Até hoje, a zona é conhecida
como a Passagem de Luttrell.

O que aconteceu em Aughrim é mais banal.

Não restavam tropas suficientes
para cobrir a passagem.

Temos homem a fugir para se salvarem.

Estão a ser abatidos,
à medida que tentam pôr-se a salvo.

E um dos principais cronistas guilhermitas
da batalha, o Reverendo Story,

fala nos dias após a batalha,

dos jacobitas mortos,
como um grande rebanho de ovelhas,

espalhados pelo campo de batalha.

E neste período
era comum os cadáveres serem despidos.

Não se deixava nada de valor.

A parte vitoriosa ter-lhes-ia
tirado as roupas.

Teriam procurado valores.
Tudo isso.

E muitos dos objetos que eles encontraram,

durante o levantamento e busca de metais,
foram moedas.

E temos muita sorte
porque nesse período

havia um tipo de moeda muito específico,

que os Jacobitas teriam.

Que seria dinheiro de armas jacobita.

E este é um exemplar.

-Dinheiro de armas jacobita?
-Sim, dinheiro de armas.

Era uma cunhagem básica,
porque os Jacobitas

não tinham acesso a muita prata.

Por isso, faziam uma cunhagem básica
para se sustentarem durante a guerra,

que deveria ser reembolsável
após a guerra.

Mas eles não ganharam a guerra.

Mas esta é uma delas.

Esta moeda pertenceu certamente
a um soldado jacobita que lutou na batalha

e pode muito bem ser a moeda
de um homem que morreu na mesma.

É muito pessoal, não é?

Tem 322 anos.

Sim.

E apenas um ano quando foi perdida,
como parte da batalha.

Então...

Após apenas cinco horas,
e a perda de cerca de 7.000 homens,

os Jacobitas foram derrotados.

As tropas sobreviventes,
sob a liderança de Patrick Sarsfield,

retiraram para a única fortaleza jacobita
que restava,

o Castelo do Rei João, em Limerick.

Mais uma vez,
a cidade encontrou-se cercada.

Mas a moral estava em baixo
e a rendição era uma hipótese.

A 22 de setembro, um grande contingente
de tropas de Sarsfield,

estava aqui, a defender a Ponte Thomond,

quando de repente foi atacado
por forças guilhermitas.

Os homens de Sarsfield decidem retirar,

mas o comandante francês
da ponte levadiça entrou em pânico

e levantou a ponte levadiça cedo demais.

Deixou todos os 800 soldados bloqueados,
aqui na ponte.

Todos eles, os 800, foram esquartejados
ou afogados no rio Shannon.

Henry Luttrell, dentro do castelo,
de novo, foi o vilão do dia.

Apanhado a enviar cartas
ao exército que os cercava,

foi levado a tribunal marcial por traição
e condenado à morte.

No entanto, foi salvo da execução
pelas negociações do tratado,

que o viram juntar-se
ao lado guilhermita vencedor.

O Tratado de Limerick foi um bom negócio.

Nele faziam-se, ou pareciam fazer-se,

promessas de tolerância religiosa.

E foram dadas certas garantias
no que se refere à segurança dos bens.

As garantias dos bens foram
mais ou menos cumpridas.

No entanto, as garantias ou promessas
religiosas não foram cumpridas.

TRATADO DE LIMERICK
ASSINADO 1691 DC

Desde então, em irlandês,
se pensarmos na própria história,

Limerick é a cidade do tratado rompido.

O irmão Luttrell mais velho, Simon,
ainda leal a Jaime,

fugiu para França com Sarsfield
e com outros líderes,

na que ficou conhecida como
A Fuga dos Gansos Selvagens.

Henry Luttrell foi recompensado
com o castelo do irmão, perto de Dublin.

No entanto, a sua reputação de traidor,
na batalha de Aughrim

e no cerco seguinte, aumentou
e em breve encontrou um fim violento.

Em 1717, as contas foram finalmente
acertadas com o bom velho Henry Luttrell.

Ele tinha estado no Lucas' Coffee House,
em Dublin.

E estava a ser levado para casa
numa liteira, como era costume,

quando encontrou um homem escuro e alto,
com uma pistola,

que o atingiu na cara.

Apesar de o governo da altura ter
oferecido uma recompensa de 1.000 libras

por informações sobre o assassino,
ninguém forneceu informações.

Havia tanto ódio em relação ao Luttrell,
na altura.

Um epigrama, escrito em sua memória, diz:

"Se o céu se congratula
quando os mortais cessam de pecar

"E o inferno se congratula
quando os vilões lá entram

"Se a terra se congratula
quando sepulta um patife

"Todos se congratulam
quando Luttrell está na sua campa."

O século XVII viu o país ser devastado
por lealdades divididas,

a Deus, ao Rei e ao país.

Vizinhos contra vizinhos,
irmãos contra irmãos.

Os 80 anos seguintes serão um período
de paz relativa

e o castelo medieval
com as suas muralhas defensivas

perderá o seu charme.

Serão abandonados ou atualizados,

quando uma nova época de construção
de castelos neogóticos tomou o país.