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PRIMEIRO ANO DA ESCOLA SECUNDÁRIA
OUTONO DE 1961

Era a primeira vez
que tentava despir uma rapariga.

Não sabia quão longe podia ir.
Ou o que ela esperava.

Pois só nos conhecíamos há pouco tempo.

Só sabia que se chamava Agnete
e estava no curso de línguas.

Estava na mesma forma
que outras raparigas da turma.

Como evitaria magoá-la,
quando percebi que não precisava de sutiã?

Por isso, o passeio do Toke ao telhado
veio na hora certa.

Toke, desce!

Toke, é perigoso, desce! És maluco!

- O Toke está no telhado?
- Toke!

Desce já daí! É perigoso!

Estás louco, Toke!

Toke, desce!

Céus, era lindo! Podias ver a catedral
e os lagos por trás...

- Era tão lindo.
- Agora estás todo sujo.

- Só escorreguei.
- Estou tão chateada!

Não aconteceu nada.
A vista era magnífica...

É uma queda de mais de dez metros.

Toke, vamos dançar. Anda lá.

Quem queria o Toke impressionar?
Se era a Liselotte, conseguiu!

Porque, pouco depois,
foram eles a escapar para o quarto.

Esvaziou uma garrafa de gin.

- Foi muito barata.
- Pois, certo.

Abre a porta! Preciso de fazer chichi.

Adormeceu com as calças em baixo.

Acorda!

Queres uma cerveja? Ainda tenho duas.

- Posso beber meia cerveja?
- Meia?

Céus, Birger, rasgaste as calças.

Vai para casa coser isso.

Birger, caramba.
Levaste a minha gabardina.

Birger, levaste a minha gabardina...
Birger, a bicicleta está acorrentada.

- Cozinho uma refeição decente.
- Não.

- Como estufado sueco.
- Isso é restos com salsichas.

A Agnete tinha duas irmãs.

A mais velha, a Benedikte, era solteira,
mas tinha uma filha, a Josefine.

O meu marido deve ser capaz
de fazer molho holandês.

A Helene foi estudante.
Vivia com o Leif em Aarhus.

Holanda sei, mas onde fica Bearnaise?

Na verdade, deriva de Béarn,
que é em França.

O pai era juiz do Supremo Tribunal.

Então, e a bouillabaise?

É uma caldeirada de peixe de Marselha.

Não sei a diferença.
Para que serve o molho holandês?

- Para o peixe.
- Bates uns ovos...

Eu uso um pó. Assim não se separam.

Jonas, vocês tornaram-se
membros da Minerva?

Não é o nome da Associação de Estudantes?

Sim, mas ainda não somos membros.

Era uma das melhores coisas na escola.

- Planeamos fazê-lo.
- Então, vão escrever poesia?

- Vamos?
- Sim, como membros da Minerva.

- Pai, escreveste poemas na altura?
- Claro que sim. Bons poemas.

Leif, nunca escreveste poemas.
Porque nunca me escreveste poemas?

Um poema de amor.

São namorados de escola?

Sim, desde o secundário.
O Leif estuda economia.

- O que faz ela?
- A Benedikte?

É secretária jurídica.
Mora na baixa com a Josefine.

O beijo significava
que agora éramos namorados.

Era isto que queria? Ou estava mais
impressionado com a família da Agnete?

Ou principalmente pela Helene?

Inger Solbjerg Nielsen.

Torben Dencker.

Birger.

E Toke...

O Toke fez um estudo sobre as hipóteses
de Hitler vencer a Guerra Mundial.

Mas 21 páginas é demasiado.

Então, conta por dois? Com a mesma nota?

Else Marie.

- Quanto tiraste?
- Dezoito. Queres ver?

- Lê em casa, se quiseres.
- Certo.

Não admira que o Toke fosse perito
na Segunda Guerra.

O pai tinha sido membro da resistência

e tinha escrito um livro sobre isso.

Birger? Posso levar um carrinho de mão
do hospital e ir buscar as tuas coisas.

- Não seria perfeito?
- Sim, hoje...

- Ao fim da tarde. Está bem?
- O que se passa?

Vou ficar com o Jonas.
A minha mãe está em convalescença.

Olá, aonde vais? Ia visitar-te.

Ver o Arne Vium. Tenho um trabalho
sobre o novo livro dele.

- Queres vir?
- Marcaste uma hora.

Liguei e pedi-lhe. Vens?

Quanto tempo demoras?

- Entra. E tu és...
- Jonas.

Vim para me lembrar do que diz.

- Então, só estás a acompanhar.
- Basicamente.

Cita Proust dizendo:
"Só se ama o que não se possui."

Será "amar" a palavra certa?

Não deveria ser "estar apaixonado"?

Que está apaixonado pelo que não possui?

Não sei...

Já leste Em Busca do Tempo Perdido,
de Proust?

Só excertos. Mas li o seu livro.

Ibsen diz algo semelhante.

"A vitória das vitórias é perder tudo.

Só o que se perde permanece eterno."

Desde que tenha amado.
Mas o importante no seu livro...

... é que só se está apaixonado de verdade
se for um amor não correspondido. Certo?

Como defines a diferença
entre estar apaixonado e amar?

Estar apaixonado é egoísmo.
Amar é altruísmo.

- Percebeste isso?
- Julgo que sim.

Não conhecia a palavra "altruísmo".
Mas não era importante.

A Agnete tinha o controlo dos detalhes.

Cavalheiros...

- Adrian Bentzon é o melhor. Tenho dois.
- Sim.

- "Chamada de Amor Crioula."
- Com a Banda Viking?

- Schlafe, mein Prinzchen.
- Precisas de lençóis?

- Não, obrigado. Trouxe os meus.
- Não precisavas, mas tudo bem.

- Vais buscar a cama dobrável à cave?
- Sim.

Entrada privada! Que classe...

Se tirarmos o roupeiro,
haverá espaço para a cama dobrável.

Olha o que trouxe da minha mãe.
Quatro Rosas. Uísque de malte.

- Também trouxeste os copos?
- Sim.

Como é ter tolinhos como vizinhos?

Não lhes chames isso em frente ao meu pai.

Estava a ouvir o rádio, que não se pode
fazer nas horas de leitura...

- Em horas fixas?
- Sim, das 18 às 19h30.

- Depois chegou o Futten.
- O Futten?

O supervisor do colégio interno.
Estava furioso e confiscou o meu rádio.

Perguntei quando mo devolvia.
"Quando saíres," disse ele.

"Ótimo," disse eu. "Vou sair.
Pode devolver-me o rádio, por favor?"

Não podia voltar atrás, por isso saí.

- A tua mãe diz que foste expulso.
- Não, saí de livre vontade.

Mas talvez me expulsassem
mais cedo ou mais tarde...

Porque foste enviado
para um colégio interno?

A minha mãe não podia cuidar de mim.
Fui aos cinco.

- Hoje pode cuidar de ti?
- Sim, sem problema.

Controla as tuas palhaçadas.
Tens de fazer o teu trabalho de casa.

Claro.

Depois apanhámos o comboio para Copenhaga

e fomos até ao restaurante-bar
nos Jardins Tivoli.

Lá, um rum com cola são 4,25.

Também tens as meninas malandras...
Só lhes pagas um martíni. É ótimo.

- Só lhes pagaste um martíni?
- Certo. Depois dançámos com elas.

O que pensaste?
Que tínhamos dormido com elas?

- Não...
- Pensaste, sim.

- Certo?
- Não.

- O meu amigo dormiu. Só demora um minuto.
- Um minuto?

- Não acredito em ti!
- É verdade. Não aguentas mais tempo.

Mentes com os dentes todos.
Não acredito em ti.

Espera e verás.
Vagina, bebida e noitadas. Isso é que é!

Trinta e um.

Claro que me ria
das histórias porcas do Birger.

Também para cobrir as minhas inseguranças.

Agradava-me que a Agnete
fosse tão inexperiente.

Estou sobretudo intrigado
pelo que dizes sobre culpa e vergonha.

Mencionas a vergonha autocriada
e autoinfligida.

Interrogo-me se pensas
na mãe e na Josefine.

Talvez.

Foi o que pensei.

- Nunca mencionaste Ibsen.
- Ele próprio o disse.

Ótimo. É um ótimo texto.
Nós não escrevíamos tão bem.

Mal posso esperar pelo veredito do HP.

- Lê sempre os teus trabalhos?
- Às vezes.

Os bons.

A Josefine tem três anos
e a Benedikte tem 19.

Anda. Tenho de entregar o trabalho.
O prazo acabou ontem.

A Agnete falou-me da vergonha da família

porque a irmã mais velha, Benedikte,
engravidou de um colega de turma.

Quando a mãe delas descobriu,
houve um alvoroço.

A Benedikte estava pronta a afogar-se.
Só tinha 15 anos.

A minha mãe só se importava com os boatos.

O que diriam os amigos chiques dela
se tivesse de empurrar o carrinho?

Era tudo sobre a vergonha dela.
Nunca pensou na Benedikte.

- Como aceitou o teu pai?
- Aceitou bem.

- E todos adoram a Josefine.
- Olá?

- Acabei de entregar o trabalho.
- Mas era ontem, não era?

Desculpe. A cópia final
foi bastante apressada.

Porque escreves inclinado? Qual é a ideia?

- És esquerdina?
- Não. Isso é importante?

Nem por isso. Mas pode ser
para um psicólogo. Ou um grafólogo.

Como assim?

O meu palpite é que exista
alguma espécie de retração.

Uma invocação. Uma atitude afastadora.

- És tu?
- Não me parece.

Tenho um namorado.

Jonas...

Bom.

O HP era professor substituto,
mas supervisionava a residência.

Só havia uma divisão de madeira
entre os quartos,

e quando o meu vizinho
tinha companhia feminina,

podia retirar um nó da madeira e ver tudo.

- Boysen, isso é inaceitável.
- Não podes espreitar assim!

Ouve... Anos mais tarde,
dei de caras com o meu antigo vizinho,

e havia algo que ele queria confessar.

Quando eu tinha companhia feminina,
ele tirava um nó da parede para espreitar.

- Por isso, ambos o fazíamos.
- Não é desculpa.

- Ser um mirone, também.
- Boysen, o que viste?

E o que é que ele viu?

O que é que ele viu?
Muitas raparigas acabaram no meu quarto.

Sabia o que conseguiam fazer.

- Que professor imoral.
- Isso é bom, moralidade cristã?

Bem...

A moralidade cristã
também é parte da vida.

Certifiquem-se que vivem as vossas vidas
enquanto são novos.

- Tudo acaba demasiado depressa.
- Quando casou?

Tinha 29 anos quando casei com a Tina.

- Não me caso até aos 37 anos.
- Porquê esperar tanto?

São mais 20 anos. Porquê esperar tanto?

Pai Nosso, que estais no céu,
santificado seja o Vosso nome.

Venha a nós o Vosso reino. Seja feita
a sua vontade, assim na terra como no Céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como
nós perdoamos a quem nos tem ofendido.

E não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.

Pois esse é o teu reino, o teu poder
e a tua glória agora e para sempre.

Amém.

Toke, não tens de ser crente
para estar aqui, mas quando vens

e nos estamos a abrir, é errado
da tua parte colocares-te de parte.

- Rezar não magoa.
- Não.

- Pensei que não era obrigatório.
- Não é.

Ou melhor... Sim, é. Na nossa casa,
deves agradecer ao nosso Senhor.

Então, não posso estar aqui.
Não posso agradecer a quem desconheço.

Toke, agradecer é apenas
um sinal de humildade.

Não sei se tenha algo a agradecer.

Jonas... Liselotte... O Toke
está muito estranho com a Liselotte.

- Podes ver o que há de errado?
- Diz que lhe devo uma coroa.

A quantia não é problema,
mas eu já lha dei.

- Ele está a inventar.
- Mas porquê uma coroa?

Convidou-me para o cinema,
mas disse que tinha de pagar o meu.

E já paguei.

Falas com ele?

Raramente ia a casa do Token.
Acho que o divórcio dos pais o aborrecia.

E o facto da mãe
se ter mudado para Copenhaga.

Ela pediu-me sete coroas emprestadas
e só me pagou seis.

- Por isso é que me deve uma coroa.
- Caramba, Toke!

Tanta confusão por uma maldita coroa.
E namoras com ela!

É o princípio. Porque é que ela
não me paga? Ela é tão... romântica.

E tem grandes mamas! Tem pois!

Só são boas para alvejar.

Robin dos Bosques e seus alegres amigos
a acertar no alvo.

Alegres amigos...

- Onde foste buscar isso?
- A lado nenhum.

Fui eu que inventei.

Merda!

É um Panzer 6 alemão. O tanque tigre.

O maior tanque do mundo.
Um impacto direto não provoca danos.

- Sabes quem mais me deve dinheiro?
- Não?

O Birger. Deve-me 10,50.

Gastar dinheiro é o lema dele.
Mas porquê gastar o dinheiro dos outros?

Então, porque não o diz?

Se está cansado dela.
Não se devia comportar assim.

- Acha que ela é demasiado romântica.
- Romântica? Em que sentido?

- Sentimental?
- Algo assim.

Tens muita fome? Queres carne assada?

Tens? Adorava um pouco.

- Perguntou-te porque foste lá?
- Não, não mencionei.

- Olá.
- Olá.

- Temos cebolas fritas?
- Não!

- O pai está no tribunal?
- Suponho que sim.

Tiraste o pão todo? Quanto sobrou?

- Isto...
- Deixa-me ver.

- Sabes porque está zangada?
- Não.

- Porque te fiz uma sande.
- Não...

É verdade! É tão tacanha.
Tem medo que comas tudo.

- Porque comi uma fatia de carne assada?
- Se calhar, queria guardá-la.

Mas quando a Helene está cá,
o céu é o limite.

Pode esvaziar o frigorífico
e levá-lo de volta para Aarhus.

Até uma caixa de ovos cheia.

Um dezanove...

Excelente.

E bem merecido.

Viste os comentários do HP?

"Este é o género de trabalho que dá prazer
em ser professor. Continua!"

Boa.

- Isso é ótimo. Parabéns.
- Obrigada.

- Obrigado.
- De nada.

- Jonas, já alguma vez viste o tribunal?
- Não.

Esta é a sala dos jurados.
E os juízes estão aqui...

"Um grito surdo
A caminho do crematório

Enquanto vermes fazem um banquete
Em buracos de cobras e infantários

A isto há apenas uma clara
e inequívoca resposta:

Quando o tolo fracassar em branquear
o marfim, irá tentar escurecer o ébano."

O próximo poema é da autoria de alguém
que se autointitula "O Jarro Partido".

Não percebo nada. Percebes?

"Querida, como um cão acorrentado
Ao lado da montanha

Como um vento gelado num deserto de gelo

Como um pássaro com asas
De chumbo é o nosso amor, minha querida

Serei eu ele, Assuero
Que para sempre terá de empurrar um piano

Ao longo da praia, querida"

Sim, o jarro esquecido, mais uma vez,
tenta expressar um amor encarcerado

talvez fracassado.

Fascina-me o seu talento métrico,
apesar do cuidado que devia ter

para não ir tantas vezes ao poço
porque pode por fim partir.

Estes foram os poemas submetidos,
passemos agora à aula.

O HP irá falar sobre existencialismo.

Obrigado.

- Deixem aqui os casacos, tomem o talão.
- Quanto é?

- São cinco coroas, não é?
- Cinco, sim.

- A sério? Cinco coroas?
- Incluindo bengaleiro.

E um carimbo,
para entrarem quando quiserem.

- Podes pagar?
- Vamos lá...

Um para mim.

Já nos conhecemos? O que fazes?

- Um pouco de tudo.
- Posto dos Correios?

Convidas-me, mas queres que pague.
Já te paguei, Toke.

Eu paguei, isso não é um convite.

És um sovina merdoso. Esquece.

Céus, que louca.

- Uma Tuborg, por favor.
- Uma Tuborg Gold para mim.

Uma Tuborg, uma Gold.

Como podes pedir uma Gold
quando me deves 10,50?

- Porque... Quere-lo agora?
- Sim, quero-o agora.

- Não o tenho.
- Então, não podes pedir uma Gold.

- Com o meu dinheiro.
- Três pela cerveja, quatro pela Gold.

Queres antes esta? Podes ficar com ela.

Agora só te devo 6,50.

- Tens falta de dinheiro, Birger?
- Sim.

- Dá-me duas Tuborg, por favor.
- Duas Tuborg.

- Seis coroas.
- Birger...

Também queres esta?

Agora devo-te 3,50.

- Não, não quero. É meia-noite.
- Anda lá, vamos a um bar.

- Eles fecham à meia-noite.
- Não fecham nada.

- Anda lá, Toke!
- Vamos para casa.

Vejamos se consigo caminhar a direito.

- Olhem, consigo!
- Porreiro, Toke. Anda.

Consigo andar a direito. Não vos disse?

Toke, anda cá!

- Não quero ir para casa.
- Mas temos de ir.

O Birger deu-me a Gold,
e depois bebi quatro cervejas e...

- Por isso é que estás bêbado. Boa noite!
- Não vou já para casa!

Caramba, deixem-me ir!

O estandarte ao alto!

Mas que diabo... Olha para ti, rapaz!

Enlouqueceste? A cantar canções nazis...
Já para a cama!

E Lotte, qual é a equação?

É -B dividido por 2A,

o quadrado de -B menos 4AC,
dividido por 4A.

- E inseres isso.
- Certo.

O quadrado de cinco menos quatro
multiplicado por 0,5...

- Está correto.
- As raparigas são boas de várias formas.

Como o quê?

Mas... Certo, Boysen?
Mas precisam de ter cuidado.

- Não, é responsabilidade do homem.
- As raparigas sabem proteger-se, certo?

As raparigas podem usar um diafragma,
mas não me façam falar disso. Continua...

Porque é o Papa contra a contraceção?

- Porque...
- Essa foi boa, Birger.

Em breve todos descobriram
que namorava com a Agnete.

Apesar de não me querer comprometer,
fiz parte de o tornar público.

- O meu pai andou na mesma escola.
- Ele é de cá?

Sim. Mas era juiz presidente em Odense.

Onde andaste antes de ires
para a Escola Catedral?

- Andei na...
- No terceiro ciclo?

Deixa a Agnete comer, por favor.
Birger, diz-me...

O colégio interno tinha casacos e assim?

Não, nada tão elegante.

- Era em Haslev.
- Evangélico.

O reitor dava sempre as graças.

"Obrigado pelos teus presentes. Amém."
Depois atiravamo-nos à comida.

Vamos fazer um brinde à Agnete.
É um prazer ver-te.

- Obrigada.
- Saúde.

- Já conhecia o teu pai.
- Quando foi isso?

Há muitos anos. Tinha oito anos.

- Onde?
- Em nossa casa.

A sério? O meu pai nunca me disse.

Os meus pais não dormiam juntos.
Já era assim há muito tempo.

Uma noite ele veio para casa e começou
a berrar que exigia o seu direito.

A minha mãe trancou-se na casa de banho,
e o meu pai gritou com ela

e bateu com as portas.

E depois veio o teu pai e falou com ele.

Foi quando o vi.

E depois?

Nada. O teu pai demoveu-o, acho eu.

E ele ia para Haia no dia seguinte
para uma reunião.

- Não sei o que era.
- Mas porque apareceu o meu pai?

- O teu pai chamou-o?
- Não sei.

Não me lembro. Só tinha oito anos.
Só me lembro que veio o teu pai.

- Levei a Agnete a casa pelo parque.
- Ótimo.

- Birger, o teu bispo.
- Eu faço outra jogada.

- Jonas, costumas usar isto?
- É aí que o queres?

Não, não é.

Pai, conheces o pai da Agnete?

Só ouvi falar dele.

Nunca foste a casa deles?

Não, nunca.

- A Agnete diz que foste.
- A sério...

Não, não me lembro disso.

Não foi fácil
cuidar do Birger e da Agnete.

Agradou-me que o Birger se mudasse.
Era primavera,

e a Helene e o Leif vieram,
quando os pais da Agnete foram viajar.

- O que é que diz?
- "Uma cerveja pode embebedar-me.

Se bebi dez antes."

- Dez cervejas? Gostava de ver isso.
- Já alguma vez te embebedaste a sério?

- Só uma vez. Na Passagem de Ano.
- "A minha esposa só tem uma falha.

É insuportável."

- Qual é a piada disso?
- Não sei. É engraçado.

- Achas que sim?
- Sim, acho.

- Acho, mais uma rodada do pai.
- E também nos dá outra coisa.

- Mais?
- Não, obrigada.

- Que tipo de conhaque é?
- É do tipo caro.

Cá vamos, Jonas. Pega um charuto.

De certeza que o Jonas tem estômago
para isso? Vai ficar maldisposto.

Claro que tem. Dá cá, deixa-me prepará-lo.

Leif, se o Jonas nunca fumou,
não aguenta com um charuto.

Que disparate. É bom para ele.

E um isqueiro.

- É bom, não é?
- Sim.

Um bom jantar e um bom charuto combinam.

Deixa-te fedorento! Anda... Vamos dançar.

Não podes fazer isso. É um bom charuto.

- Sabes dançar a valsa, certo?
- Claro.

Um, dois, três...

- Não queres dançar?
- Não.

- Boa noite.
- Boa noite.

- Escovaste o charuto dos dentes?
- Sim.

Expira!

Portem-se bem, crianças. Boa noite.

Não a suporto. Quer sempre estragar tudo.

Ela e a mãe, são as duas iguais.
E unem-se sempre.

Acho que estás a exagerar. Foi
bastante inocente. O Leif riu-se disso.

Isso é o que pensas. Mas a mãe
não queria mais filhos depois da Helene.

Sempre me senti indesejada.

A Helene pode ser a preferida da tua mãe,
mas tu és a favorita do teu pai.

- O meu pai queria um rapaz.
- Então, és o filho que nunca teve.

Tu e o teu pai unem-se.
A tua mãe e a Helene unem-se.

Ou preferias trocar?

Não.

Porque não te deitas...

Jonas, não podemos...
A Helene e o Leif estão aqui ao lado.

Gostava que fosses embora agora.

Estás sozinha em casa, para variar.
Não acontecerá nada.

Não conheces a minha mãe.
Ela até fareja os lençóis. Eu conheço-a.

Gostava que fosses embora agora.

A Agnete mantinha-se reservada,
por isso, acabei por vir embora.

Não fizemos mais do que na primeira noite,
quando lhe tirei o sutiã.

Só os estudantes do terceiro ano
podem fumar, certo?

Certo. E só na balaustrada.

Como é que ela se chama?

Inger Olesen.

- Qual delas?
- A mais alta.

A outra é Lena qualquer coisa.

Da mesma turma da Agnete e da Liselotte.

Olá, Karsten.

E a Liselotte tem
um namorado do segundo ano.

Que bom para ela. É por ser primavera.

E a primavera fez-me querer estar sozinho.

Apesar de ser natural e inocente,
sabia que tinha começado algo.

Jonas, creio que a Agnete está lá em cima.

Certo.

- Olá.
- Olá.

Não te sentes nas minhas roupas.

Eu não sento.

- Onde tens andado?
- Fui passear de bicicleta.

- Está um lindo dia.
- Sim.

Porque não me convidaste?

- Não sabia que querias vir.
- Não.

- Estás farto de mim?
- Nada disso, mas tu sabes...

Por vezes, queres estar sozinha.
Conheces a sensação?

Suponho que sim.

- Não te falta roupa.
- A maioria é velha.

Consigo senti-lo, Jonas.
Estás a ficar farto de mim.

Não disse nada disso.
Só queria ir passear de bicicleta.

- É contra as regras?
- Não, mas não sou estúpida.

Tenho olhos na cara.

Acho... que devíamos fazer uma pausa.

Seria bom para ambos.

- Por quanto tempo?
- Não sei. Por favor, agora vai embora.

A Agnete tinha dito as palavras,
por isso, agora era livre. E sentia-o.

Eram as férias de verão,
e o Birger ensinou-nos a jogar Copas.

O que dizes agora? Não esperavas esta!

Para que foi isso?

Havia uma rapariga no colégio interno
de que gostava muito.

Quando penso numa rapariga muito amorosa,
penso nela.

Como é que ela era?

Era bonita e malandra e...

E, ainda assim, ficou presa a um rapaz.

Só que não era eu.

Porque não?

Não era assim tão malandra.

A Agnete tem uma irmã...

A Helene.

Também é um sonho.

Ela é tão suave, e...

Faz-me tremer os joelhos.

A Agnete foi a tua primeira namorada?

Não.

Tive uma no 3.º ciclo
do ano abaixo do meu.

Mas o Toke roubou-ma.

- E partilhavam a carteira?
- Sim.

No final, deixou-nos aos dois pendurados.
E depois tivemos isso para conversar.

No nosso segundo ano, quero uma namorada.

Aguardo com expetativa.

O quê?

Tudo.

- E a Lena e a outra rapariga?
- A Inger Olesen?

Certo. Então, e elas?

Não me parece...

Não sabíamos quão próximos
estávamos dos nossos sonhos.

No início do segundo ano, fomos convidados
para uma festa em casa da Lena.

Os pais dela tinham uma mercearia
à saída da cidade e tinham ido às Harz.

SEGUNDO ANO DA ESCOLA SECUNDÁRIA
OUTONO DE 1962

Deve haver fósforos algures.

E um cordão de sapato?
Ou um pedaço de chocolate?

Encontrei!

Qual é o teu apelido de família?

Mehlsen.

É um nome engraçado.

Tem um "H". Mas é mudo.

É francês?

Desculpem...
Estava à procura de uns sapatos.

O cesto está ali.

Com licença.

Acho que a pequena Agnete tem ciúmes.

Sim.

Não é um pouco imatura
para um sedutor francês como tu?

Sim. Talvez.

Podes entrar aí.
É o quarto da minha irmãzinha.

Sabia o que a Inger Olesen queria
que eu fizesse, mas não estava preparado.

Ela não queria que lhe tocasse nos seios,
o que eu queria.

Fiquei confuso até ouvir
o algodão no sutiã dela. Fim do romance!

Senhoras e senhores.

Foram vistos a dançar lascivamente.
Bochecha com bochecha.

Isso é correto, meu jovem?

O antro do vício. Sodoma e Gomorra.

E não se ria, senhor.

O quê? Também beijou? Vou ensinar-te...

- O que se passa?
- Diz "desculpa" 20 vezes.

Estou a contar. Uma, duas...

Um minuto!

- O quê?
- Dois, talvez.

Depois faço o círculo, centrado em O,
em p1 e p.

Nem eu nem a Inger Olesen sentimos
vontade de repetir o fracasso.

Pela primeira vez, perdi tempo
a fazer o meu trabalho de casa.

Jonas, não fui enviada pela Agnete,

mas, ou a pausa terminou,
ou diz-lhe que acabou.

Ela sente-se horrível. Não sabias?

Namorámos quase seis meses,
e nunca estive realmente apaixonado.

Então, tens de lhe dizer.
Ela está à tua espera.

- Certo.
- Tem de ser!

E como vão as coisas
entre ti e o teu namorado?

Estou a ficar farta do Karsten.
Tenho sempre azar.

Jonas, tens de falar com ela.

- Olá.
- Olá.

Não te esqueças, Jonas.

- O que disse ele?
- Nada, na verdade.

Disse que nunca tinha estado
realmente apaixonado por ti.

- Por isso, não esperes por ele.
- Não.

Anda...

História, A.

Francês, B... Estás a melhorar.

Matemática, B mais.

"Está mais maduro e consciencioso."

Inacreditável! Como conseguiste isso?

- Abstinência.
- Continua assim.

Nunca cheguei a falar com a Agnete.

Talvez já estivesse tudo dito.

Sempre invejei os remadores no lago.

Por isso, eu e o Birger
juntámo-nos ao clube de caiaque.

- Terá a Agnete mais sorte desta vez?
- O que queres dizer?

É desmamar crianças. Ainda não o viste?

- É do primeiro ano...
- Do que estás a falar?

Bem, a Agnete... tem um namorado novo.

- Andam de mãos dadas.
- Quem?

A Agnete e o Henrik Thiele.
Ele mora na residência.

Parecem muito felizes, devo dizer.

Estou a ver.

- E esta noite?
- Estou ocupada.

- Tenho outro compromisso.
- A fazer o quê?

Ir a algum lado.

Onde?

À residência. O HP tem um grupo de estudo
sobre os poemas de Morten Nielsen.

Para os residentes. É aonde vou.

- Mas também vais?
- Não é exclusivo nesse sentido.

- Outras podem juntar-se.
- Estou a ver.

- Não devias vir, Jonas.
- Porque não, se é aberto a todos?

- Nunca te interessaste por poesia.
- Não... Mas posso interessar-me.

Mas não hoje.

Ele achou que podia fazer a diferença
e juntou-se à Resistência.

Olá, Jonas. Queres juntar-te a nós?

- És bem-vindo. Senta-te.
- Obrigado.

Há quem acredite que foi suicídio, mas
é provável ter sido um disparo acidental.

Mas nos seus poemas,
Morten Nielsen circula em volta da morte.

Não como um conceito,
mas a morte corporal. Morte súbita.

A morte que significava que não conseguia
cumprir a tarefa que lhe foi dada.

Algures ele escreve...

"Apenas sabemos, nós os dois,
que o outro está lá

É apenas isso que há
Se calhar devíamos encontrar-nos"

Aqui não está a falar sobre a sua amada.
Mas sobre a morte.

"É apenas isso que há
Se calhar devíamos encontrar-nos"

- Os últimos cinco poemas para quinta.
- O livro está esgotado.

- Tenta na biblioteca.
- Está emprestado.

E que tal alguma filosofia?
Gostava de ouvir Nietzsche.

Nietzsche? Porque não? Se vocês quiserem.

Como pudeste fazê-lo? Entraste de rompante

como se nada tivesse acontecido.
- Agnete, ouve.

- Assim mesmo.
- Mas concordámos em fazer uma pausa.

- Acho que devíamos reatar.
- Nem sequer tens a certeza.

Sim, tenho a certeza.

- Acho que devíamos continuar.
- Mas eu não acho. E ponto final!

Fiquei surpreendido com os meus ciúmes.

Mas fez-me atirar a decência às urtigas
e usar o truque mais baixo.

Olha o que encontrei na livraria
em segunda mão. Morten Nielsen.

Guerreiros sem Armas. Não é fantástico?

É para ti. Aqui tens.

Obrigada.

Não tinha pensado nisso...

Entra... Estamos a tomar chá.

Obrigado.

É o Jonas. Olá.
Entra e bebe uma chávena de chá.

Obrigado. Olá...

- Henrik Thiele.
- Jonas.

Não te víamos há muito tempo.

- Pois.
- O que tens feito?

Bastante. Ando ocupado
com o trabalho da escola e...

Há muito mais no segundo ano.

O Jonas tem andado muito ocupado.
Isso é certo.

Aqui tens... Vê o que o Jonas encontrou.
Os poemas de Morten Nielsen.

Numa livraria em segunda mão.

Devíamos ter pensado nisso.

- Queres pão?
- Alguns estão no Poesia Dinamarquesa.

O Henrik estava a falar-nos dos pais dele,
que estão neste momento no Barém.

O meu pai é arqueologista.

- Já estiveste lá com ele?
- Sim, no verão passado. Por um mês.

Estava muito calor...
Estavam a escavar na capital.

Uma cidade antiga chamada Dilmun.

As descrições de Dilmun
correspondem ao Jardim do Éden

no Velho Testamento.

Os pais estavam fora há mais de um ano.

Por isso é que vivia na residência.
Só tinha uma tia na cidade.

Não podia deixar de ser familiar,
e a mãe da Agnete alinhou.

No fim, o Henrik foi embora.
Ia jantar com a tia.

- É corajoso da parte dele ir embora.
- Isso é porque confia em mim.

Porque é que demorou tanto tempo?

Desculpa.

Faz-me sentir culpada.

O Henrik é tão vulnerável.

- O HP tem de cuidar dele.
- Porquê o HP?

Não há mais ninguém.
Exceto a asquerosa tia Asta.

Jonas, não quero que venhas.

- Porque não?
- Só não quero. Fica aqui.

Já me estava a arrepender... Mas era
fascinante fazer parte do drama.

Agnete?

Nunca mais me voltes a fazer isso, Jonas.

A Agnete escreveu uma carta de despedida.

Quando a Liselotte a leu,
ficou tão comovida que a copiou

e a enviou ao Karsten.

Toke, o que estás a fazer?

Só estou a tirar apontamentos.

Fazes um laço à minha boneca?

A tua boneca devia ter um laço?
Quem disse isso?

- A avó.
- A avó disse isso?

Não consegues fazer um laço?
Então, é melhor fazer.

Que livro é esse? É idêntico ao do Toke?

Sim.

Mas é o mesmo?

Sim.

Toma. Agora vai lá baixo
e mostra o laço bonito à avó.

Tens de explicar isso.
Escrevem os dois nesse livro?

Sim.

O Toke interessa-se por filosofia.

E eu também. Temos o livro desde
que começámos no grupo de estudo do HP.

- Sobre o que escrevem?
- Filosofia.

O Toke escreve a maior parte.
Pensamentos aleatórios.

- Posso ver?
- Não, não podes.

Não há nada que não possas ver,
mas não te deixo.

- Menos de um?
- Um... ou x igual...

- Birger, tens visitas.
- Quem?

Não sei.

É a Lena.

- Olá.
- Olá.

Queres uma chávena de chá?

Por favor.

Falta uma chávena.

O Hitler leu Nietzsche,
mas interpretou-o mal.

- Ele não leu Nietzsche.
- Leu mais do que tu.

- E então? Isso é irrelevante.
- Certo, mas não eram todos estúpidos.

- O Goebbels era inteligente.
- Quem? Goebbels... Göring?

Não, Goebbels! Não o conheces?
Ministro da propaganda

e um psicopata, mas inteligente.

Sabes quem era o pior? O Boysen!

Quer ser amiguinho de todos.
É fácil ser esperto com crianças.

- Ele vai para além da lista de leitura.
- E tu absorves as tretas cristãs dele.

- Isso é patético.
- Patético?

Sim, todo aquele rezar...
E só quer um público

para as suas
memórias nojentas de estudante.

Não, obrigado! Boa noite.

Posso fazer-te uma pergunta?

Também escreves poesia no livro?

Sim.

Poemas de um para o outro?

Jonas, eu gosto de ti. És o meu namorado.

E não tenhas ciúmes do Toke.

E pode trocar para outra escola
e mudar-se com a mãe em Copenhaga.

- Porquê?
- Ele não se dá com o pai dele.

"As gotas são sacudidas,
e coloca-lo no calorímetro.

- Agitas rapidamente..."
- Agito agora?

Sim.

"E assim que o termómetro parar,
leem a temperatura."

O Birger é preciso no gabinete do diretor.

Birger... O diretor!

- Não é do caixão que eles precisam?
- Para quê? O que queres dizer?

- Se vão fazer um aborto.
- Toke, pelo amor de Deus.

- A Lena está grávida?
- Porque outra razão viria cá?

- Tens a certeza disso?
- Não sou estúpido.

Birger, os teus livros...
O que queria o diretor?

Nada de especial.

Mas... expulsaram-me.

O quê? Mas porquê...

Porque a Lena está grávida de mim.

O meu pai tirou-me da escola.

- Queriam conhecer o pai.
- E... o que farão vocês?

- Todos apoiam o diretor.
- E...

Tenho de fazer outra coisa.

Vão casar-se. Segundo o Birger.

- Os pais da Lena não estão aflitos?
- Claro. Foi um choque.

- E a mãe do Birger.
- De quanto tempo está?

Cinco meses. Mas não se nota.

Pobre rapariga. Cinco meses
sem falar a ninguém sobre isso.

Quando vais aprender
que haverá sempre consequências?

Por vezes, tenho a impressão
de que só pensas em truca-truca.

És completamente irresponsável.
Nunca ouviste falar em contraceção?

O que é que aprendes na escola?

Receava que o meu pai
mantivesse o sermão dele.

Em vez disso, salientou à escola
que a mãe de Birger era solteira

e que um rapaz indefeso
foi usado para dar o exemplo.

Depois do debate entre os professores,
o Birger foi readmitido.

Mas ninguém sugeriu
que a Lena também podia ser readmitida.

Acho que tens visitas.

Olá... Olá, Birger. E parabéns.

É este o milagre? Que bonita.

- Quanto pesa?
- Três quilos e cem. É um pouco pequena.

Vai crescer e ser grande... e atrevida.

- Parece isso.
- E trouxemos flores.

Certo, do parque.
Vão pensar que as roubei.

As minhas são genuínas. Um ramo mãe-filha.

- São de todos nós.
- Os olhos dela já abriram?

- Achas que é um cachorro?
- Nunca se sabe.

- Gostavas de pegar nela?
- Sim...

- Cuidado com a cabeça.
- Como é que lhe devo pegar?

- Já viste isto?
- São lindas. Obrigada.

É melhor pegares nela...

- Como lhe vão chamar?
- Tina.

- Como a mulher do Boysen.
- Birger...

- Querias esperar até aos 37.
- Foi o que disse na minha juventude.

Toke, por favor tira os óculos de sol.
Não estás na rua.

- A luz incomoda-me.
- Então, traz um atestado médico.

Jens Jacob, continua.

Eu sou...

- "Arrisco-me a voltar."
- Regressar.

"Eles não nos reconhecem,
e a mãe está preocupada."

Estávamos no último ano
e tínhamos de provar a nossa maturidade.

TERCEIRO ANO, AGOSTO 1963

Até o Steffen se interessou por poesia.
E o Birger era especialista em jazz.

- E Sven Asmussen é ótimo.
- Nem por isso...

- Virá a Banda de Jazz Viking?
- Não, vieram no ano passado.

Por fim, a Agnete estava sozinha em casa.
De cama, constipada, disse ela.

- Não posso arrefecer.
- Vá lá.

- Posso juntar-me a ti.
- Não, é a minha cama.

Olá.

Não vais atender?

Eu atendo aqui em cima.

O Toke ligou e fez-se de convidado,

mas disse-lhe que era má ideia.

Anda lá, tira a camisa!

- Sim!
- Vamos.

- Mas não tires as calças, está bem?
- Eu não tiro.

Vai correr tudo bem.

- Jonas, como estás?
- Estou ótimo.

Disseram-me que eras
o novo presidente da Minerva?

Que emocionante...

Alguns planos para novos eventos?

Estou a planear uma digressão de teatro.

- Estão a representar Hamlet em Aarhus.
- A Agnete disse-me.

Acabei de ler um livro interessante
sobre Hamlet.

Afirma que compreendemos mal a peça.

Posso recomendar-me como orador
na minha antiga associação de estudantes.

Para agitar a vossa perceção do Hamlet.
O que me dizes?

Obrigado. Parece ser uma boa ideia.
E relevante para o nosso evento.

Foi o que pensei. E o teu pai?

- Podia falar sobre Freud.
- O que se passa com a mãe?

Bem, provavelmente pensou
que estavas na cama, sem visitas.

E não ajuda os amigos do Jonas
engravidarem raparigas.

O próximo poema é por uma nova pessoa
sob o nome "O Recluso".

O poema chama-se Fraqueza.

"Falei de tudo e nada
No dia em que te vi de novo

Falaste do homem que amas
O homem que não te ama

Ouvi-te a ler o poema
Enquanto a tua mão acariciava o meu cabelo

Sobre dois que se amavam
E curavam o desespero um do outro

Juntos lemos todos os sonetos
Tornaste-te o amigo da minha alma

Mas fraqueza, o teu nome é mulher
Pois o outro homem era o teu objetivo"

O fantasma disse a Hamlet que foi
assassinado pelo irmão dele, Claudius,

que verteu veneno na orelha dele.

Hamlet não sabe se isto é verdade.

Mas, felizmente,
o grupo de atores chega a Elsinore,

e Hamlet pede-lhes que apresentem
"O Homicídio de Gonzaga".

É uma peça sobre um caso de envenenamento,
e uma forma de testar Claudius.

Mas eis algo importante.
De acordo com o texto, os atores têm,

e ninguém sabe porquê,
de atuar como mímica.

Eles obedecem,
e Gonzaga recebe o veneno na orelha, etc.

E Claudius não fica afetado pelo que vê.

Por outras palavras, Claudius é inocente.

É tão incompreensível que a maioria
das produções saltam a cena

de forma a não confundir o público.

Depois os atores
executam-no como uma peça,

mas Hamlet arruína o texto
ao interpretá-lo para Claudius.

Ficámos surpreendidos
por ouvir a inocência de Claudius.

Mas percebemos a ideia.
E apesar do pai da Agnete saber

como captar um público,
começámos a fartar-nos após uma hora.

O que diz a rainha
em "O Homicídio de Gonzaga"?

"Maldita seja eu, se tomar segundo marido!

Nenhuma mulher casa segunda vez, sem matar
o primeiro." É disto que ele se arrepende!

O facto de ter casado
com a esposa do irmão.

E o texto inglês diz...

Ó, o meu crime empesta o céu.

A maldição do primeiro crime
pesa sobre ele...

O homicídio do irmão.

E o que diz o dicionário sobre "crime"?

Não sabia como travar o pai da Agnete,
que falava sem parar.

Quando Hamlet apunhala Polónio,
que se esconde por trás das cortinas

com as palavras "Será o rei?",
Claudius percebe a ameaça.

Assim, ele tem de manter as aparências,
e é completamente injusto

ele ter sido chamado de patife sorridente
durante séculos. Ele não é!

Fomos todos enganados pelo fantasma.

Receio que tenha terminado o tempo,
apesar de ser muito interessante.

- Temos de parar agora.
- Dás-me 15 minutos?

- Não há presa, ou há?
- A biblioteca é que decide.

E alguns têm de apanhar
o último autocarro.

Quando distribuí os bilhetes,
garanti que o Toke se sentaria atrás.

Seis coroas para ti...
Temos sete minutos, despacha-te.

Jonas, estão a representar Beckett
no outro teatro, e eu já vi o Hamlet.

- Vou lá com o Toke.
- Não podes... Não podes mesmo.

- Quando decidiste isso?
- Há dois dias. O Toke comprou bilhetes.

- Porque não me disseste antes?
- Desculpa. Devolveram-nos o dinheiro.

Voltamos antes da tua peça terminar.

Temos cinco minutos, temos de ir.

Meu Senhor, rogo-vos, receba-os agora.

Não, eu não, eu nunca vos dei nada.

Meu honrado Senhor,
sabeis bem que o fizeste.

E, com eles,
palavras de tão doce alento compuseste

que tornaste as coisas mais ricas.

Recebe-as, pois para as almas nobres

ricos presentes tornam-se pobres,
quando quem dá se prova indelicado.

Tome, meu Senhor.

- Sois honesta?
- Meu Senhor?

- Sois justa?
- Que quereis dizer Sua Senhoria?

Se sois honesta e justa, vossa honestidade
não admitirá relação com a beleza.

Poderá a beleza, meu Senhor, ter
melhor relação do que com a honestidade?

Ele ouve umas velhas cassetes
de uma vida passada sobre um caso amoroso

onde se comporta como um porco.
Mas depois também ronca como um porco.

E anda para a frente e rebobina.
E é a única personagem.

É um monólogo. Muito poderoso.
E não demasiado absurdo.

Como foi o Hamlet?

O teu pai estava lá.

Estava? Para ver o Hamlet?

Sim... Estava a tirar notas.
E perguntou por ti no intervalo.

Jonas... A produção desta peça
está toda errada.

Mas se se sabe que o fantasma mente,
traduz-se dessa forma, claro.

Poderia ser divertido
modernizá-lo um pouco. Usar o calão...

Shakespeare, por vezes, usa o calão.

Se, por exemplo, eu te digo:
"Jovem... Jonas.

Não importa que durmas com a minha filha,
mas não te limpes às cortinas."

Seria algo que te digo agora,
ou deixas da minha tradução?

Não há forma de saber, certo?
E o que diz Hamlet a Polónio?

"Não a deixes caminhar ao sol.
A fertilidade é uma bênção.

Mas não da forma que a tua filha
pode ser fértil."

Podia dizer isso de forma mais atrevida.

Porque não disseste que ias ao teatro?

Foi só um ato impulsivo.

Deve-se ver o Hamlet
pelo menos uma vez a cada dez anos.

Ótimo! Deixem-no aí,
de forma a ficarem frente a frente...

Não devíamos levar o outro piano?

Ainda não decidi, para já fica.

- O que se passa?
- Comprámos um novo Steinway.

- Então, não levamos o outro?
- Não, deixem estar. Adeus.

Acompanho-vos à saída.

Que me dizes, Jonas?
Lindo, não é? Um Steinway!

O rei dos pianos de cauda.

Ouve o som.

É o som Steinway.

Jørgen! Paras, por favor?

Para!

Quanto custa esse piano?
Não o podemos pagar!

Mas é um piano Steinway. Não perde valor.

Mas é demasiado grande.
A sala está arruinada.

O conforto doméstico é problema?
Sem espaço para bugigangas?

Não é triste?

Há imenso espaço.

Compra as bugigangas que quiseres.
Agora há o dobro do espaço.

Não tens o dinheiro.
Tem de vir de algum lado!

Avareza, teu nome é mulher!
Falso como a água.

Um pedaço de trampa frio e frígido!
Shakespeare viu através de ti, menina.

- Fala o Jonas.
- É horrível...

- O meu pai foi suspenso do tribunal.
- Como assim?

Foi dispensado.

Porquê?

Tinha um caso de júri,
e tentou intervir, o que não pode fazer.

Começou a citar Shakespeare.
"As coisas não são o que parecem..."

Então, tiveram de suspender o julgamento
e pediram ao pai para sair.

- Recusa-se a abrir.
- Trancou a porta?

- Olá.
- Olá, Jonas.

Pai. Porque não sais? O Jonas está aqui.

Não tenho tempo. Não me incomodes.

- Pai, por favor, abre a porta.
- Não! Não quero ser incomodado!

- Há quanto tempo está ali?
- Há três horas.

Desde que voltou,

está a trabalhar naquela tradução idiota.

Jonas, porque não chamamos o teu pai?

Já passámos por isto antes.

Na altura,
também fez má figura no tribunal.

Quando foi isso?

Há quase dez anos.

Depois disso, foi internado um mês.

Apareceu em todos os jornais.

Foi tão embaraçoso.

Receio que possa acontecer de novo.

Pai?

O que estava ele a fazer?

A escrever no papel de parede, acho eu.

Jørgen Engelbrecht? Fala o Dr. Mehlsen...

- Podemos conversar?
- Não, sem dúvida que não quero.

Eu sei de tudo! Sei perfeitamente
que o Jonas me está a espiar.

Levei muito tempo a perceber,
mas agora sei, por isso, esqueça!

Tente entrar, mas não consegue!

- Ele comeu alguma coisa?
- Não.

Tem um termos e umas bolachas, é só.

E comprou um Steinway,
apesar de já termos um piano de cauda.

Agora temos dois.

Jørgen Engelbrecht.

Jørgen Engelbrecht!

- Pode abrir a porta, por favor?
- Não tem direito de estar aqui!

Assuma-se!

Posso usar o telefone?

Sim, claro.

Jonas, vai para casa.

Estou?

Fala o Dr. Mehlsen.
O chefe da polícia está?

Foram precisos dois polícias
para forçar a porta.

Nunca o vi tão furioso.

Estava aos berros e com a cara roxa.

- O meu pai disse que recuperava.
- Mas pode ser juiz?

Não se pode ter um juiz que interfere.
É impossível.

O meu pai também diz que os juízes
não podem ser despedidos assim.

Mas não pode continuar assim.

Todos comentam na turma. A Inger Olesen,
a cabra, não consegue esconder o desprezo.

Não me parece. Todos lamentam por ti.

- Como no caso da Lena.
- Isso foi hipocrisia. E farisaísmo.

Não conheces a minha turma.

Pensei que a Agnete
precisaria menos do Toke agora.

Mas foi como se a vergonha dela
significasse que se davam melhor.

Jonas? O que aconteceu
ao pai da Agnete? É terrível.

Não sei.
Não estava lá quando foi internado.

Mas há mais uma coisa.

Acho que o Toke é uma má influência
para a Agnete.

Já não consigo falar com ela.
Porque suportas isso?

- És namorado dela, certo?
- Sim.

Então, não suportes isso!

Tenho de ir buscar a mochila. Até logo.

É por ela ser tão gorda,
desastrada e sentimental.

E está sempre a menstruar.
É mesmo demasiado.

E usa aquelas toalhas antigas.
É tão malcheiroso.

Pareces o Toke.

- Perguntou se éramos namorados.
- Para quê?

- Porque estás muito com o Toke.
- Não é da conta dela.

- Talvez concorde com ela.
- Não comeces tu também.

Não sei. O que tens de falar com ele?

Talvez haja coisas
que ele compreende melhor que tu.

Duvido muito.

Isso é porque a tua visão
é tão otimista. O Toke não é.

- Então? Isso é um defeito?
- Não, por isso é que preciso de ti.

Como está o teu pai?

Sem alterações.

- Ele gostaria que o visitássemos?
- Não. Ainda não.

O quadrado de 2r
multiplicado pelo seno de a,

multiplicado pelo seno de b...

Queria afastar a Agnete do Toke.

Por isso, planeei umas férias
na casa de praia dos meus pais.

Só para mim e para a Agnete,
mais o Birger e a Lena.

Era meu plano pôr fim à inocência.

- Ganhaste de novo?
- Sim...

Quanto seria isso...

- Tenho cinco...
- Copas a três não tem piada.

- Porque não veio a Agnete?
- Tinha de fazer um trabalho.

E a irmã dela, a Helene,
veio a casa passar as férias.

- Porque não trouxeste a irmã?
- Sim, porque não a trouxe...

Acho que o ar fresco é bom para ela.

Foi difícil de explicar
a ausência da Agnete.

Apesar do trabalho ser verdade,
senti que ela não gostava muito do Birger.

De onde veio este ressentimento?

Olá, pai.

Desçam e venham dizer olá.

- O Jonas fica para jantar?
- Sim, por favor.

As minhas desculpas, Jonas.

O pai prometeu
que tudo ficaria bem de novo.

- Certo, Jørgen?
- Sim.

- Jonas?
- Por favor.

Faremos umas caminhadas
para o pai recomeçar.

Agnete?

Onde está o piano de cauda?

O Steinway?

Foram simpáticos em aceitá-lo.

Odeio-a. As coisas são exatamente
como ela quer.

O pai foi reduzido a um pau-mandado
que ela pode manipular.

E faremos caminhadas, certo?
Estou a ser injusta?

- Nem sempre foi fácil para ela.
- Não.

- Sabes quando começaram os problemas?
- Não.

Na noite de núpcias.

Porque o pai se peidou.
Desde então, tem sido frígida.

- Há outros motivos.
- Não muitos.

- Agnete? Telefone.
- Eu atendo aqui.

À ESPERA NO CENTEIO

- Pensei que era sobre filosofia.
- E é. E poesia.

Então, o que é isto?

"Certa pessoa voltou
a dar graxa ao professor ao concordar."

"Como pode certa pessoa
presidir a Minerva e não ler livros?"

"Gostava que certa pessoa aprendesse
a usar desodorizante.

Tenho de sentar-me na ponta da cadeira."

É pura difamação.

Tens lido tudo isto?

E qual é a tua resposta?

Nada.

"Querido Toke. Esquece
a Legião Estrangeira. O alarme cancelou."

Que alarme é esse?

Que a minha mãe...

Que não estava grávida.

Que não estavas grávida?

Então, dormiste com o Toke?

- Aqui?
- Não.

- Em casa do Toke?
- Não.

Então, onde foi?

No apartamento do HP.

No apartamento do HP? O que fazias lá?

Ele estava de férias,
e usei-o para escrever o trabalho.

- Tens estado lá muitas vezes?
- Só para entregar trabalhos.

- E pedes-lhe o apartamento emprestado?
- Só daquela vez.

Não suportava estar com a Helene e o Leif.

Agora sei porque te fizeste de difícil.
E porque não vieste comigo.

Porque tinhas um encontro com o Toke.

Não quero fazer mais isto.

A fazer figura de parvo...

- Diz olá. Ou "Heil Toke!"
- Sabes que ele não é nazi!

Só quer provocar. É tão nazi como tu.

É louco pela Segunda Guerra.
É pena o Hitler não ter ganhado.

Casaco de pele e camisa branca!
Como queiras! Estou farto!

Posso entrar?

Sim...

Não queria que o Toke ejaculasse.

Mas ejaculou e o preservativo rebentou.

Mas não aconteceu nada. Desde então,
tem querido que me livre de ti.

Mas eu não quis.

- A tua mãe sabe que saíste?
- Não, e estou-me pouco borrifando.

Que governos tinham reis nomeados
até então?

Os de direita.

E foi então adotado que o rei
nunca poderia nomear um governo

que tivesse uma maioria parlamentar
contra... Jonas?

Concordo consigo nisso.
É um passo decisivo para a democracia.

E o parlamentarismo.

Jonas, soubeste do que aconteceu?
O pai do Toke passou-se completamente.

Esmagou-lhe todos os modelos de plástico.
E expulsou-o de casa.

- Porquê?
- Discutiram sobre a ocupação.

O Toke disse que os dinamarqueses
eram culpados por não se terem rearmado.

- E?
- O pai dele ficou furioso.

Esmagou-lhe os aviões e os tanques.
Vai mudar-se para a residência. Hoje.

- Pensei que ia morar com a mãe.
- Não a quatro meses dos exames.

Claro que foi duro para o Toke
ser expulso.

Mas era-me difícil entender
porque o ajudava a Agnete nas mudanças.

Não me pressiones. Já o fizeste uma vez
com o Henrik, e se quiseres saber

quão próximo esteve do suicídio,
pergunta ao HP.

Agnete, o Toke praticamente violou-te,
e queres que tenha pena dele?

- Isto tem de parar!
- Nunca disse isso.

- Disse que foi uma surpresa.
- Não foi o que disseste ontem.

Mas agora já sabes. Não sei o que fazer...
Gosto de vocês os dois.

Mas de formas diferentes.
Se me pressionas, vou escolher o Toke.

Ninguém gosta dele, e até pode ser
por culpa própria, mas eu gosto.

Falei com ele sobre o pai,
e ele estava a chorar.

Não acreditas? Estava mesmo a chorar.

Tu ficas bem.
És popular, mas o Toke não é.

- Vais escolhê-lo por pena?
- Não.

Mas acho que o amo.

- E não me amas a mim?
- Dessa forma não.

É patético chorar dessa forma...
Desculpa, o Toke ensinou-me essa palavra.

Se é isso que queres, é isso que vais ter.

Estava tão amargurado que tudo se toldava.

E depois veio o ciúme quando os vi.

Deixaram de ir às reuniões da Minerva.

Quando passava na residência, mal olhava.

Não eram permitidas raparigas,
mas com a ajuda do HP ela estaria lá.

E ainda assim ouvia os passos de Agnete
na esperança de a recuperar.

- Cinco.
- Então, o truque é meu.

Os exames estavam iminentes,
mas jogávamos Copas em casa do Birger.

Quanto mais ganhava,
mais deprimido ficava.

E andava em caminhos que fizera com ela,
na esperança de a encontrar.

Mas receava encontrá-los aos dois.

E tudo o que o Toke fazia
parecia gozar comigo.

Como se me quisesse dizer
que não dormia de noite.

Não sabia que podia odiar tanto alguém.

Sim?

Jonas, como está o pai da Agnete?

Não sei. Já não os vejo.

- Porque não?
- Já não namoro com a Agnete.

Estou a ver. É pena.

Quando foi a Batalha de Svolder?
Mil e bip-bip.

Hora dos caramelos!

- O nariz do dia, Boysen.
- E qual a sua primeira ordem?

"Façam amor com o próximo!"

Isso mesmo... e sorriam!

Dá-nos caramelos!

Queres caramelos?

Aqui têm. Se calhar precisam deles.

- Obrigada.
- Só dois?

- Dá-nos mais.
- Qual preferes...

Todos os caramelos no meu bolso,
e olha que tenho muitos...

- Ou preferes ter o meu coração?
- O teu coração, por favor. E caramelos.

E caramelos de chocolate? Tenho bastantes.

Porque é que nunca te vi? Como te chamas?

- Sou a Johanne, é o meu primeiro ano.
- E sabes que mais, Johanne?

Podemos convidar-te para uma festa?

Mais caramelos! Aqui têm.

Era como uma salvação.
Não sabia quais eram os sonhos da Johanne.

Mas não havia obrigações.

Era primavera e o último dia de aulas

para o resto da vida.

Onde é que andávamos à procura?
Ela é tão querida!

Quero três cervejas.

Toke, caramba, tira esses óculos!

O que é isto?
Não te posso deixar dois minutos sozinha?

Anda... Vamos dançar.

Isto é demasiado para mim.

Terça-feira, 9 de junho,
ficha III K: Grego.

E III Z: Geografia.

- Excelente!
- Seis dias para o ler...

Quarta-feira, 10 de junho.
Ficha III A: Estudos Clássicos.

Sexta-feira, 12 de junho.
Ficha III C: Inglês.

E de novo III Z: História.

- Não.
- E só dois dias e meio para estudar!

A Batalha de Svolder.

E segunda-feira, 15 de junho.
Ficha III A: Francês.

III Y: Biologia.

III K: Latim.

Terça-feira, 16 de junho.
Ficha III X: Física.

- Quarta-feira, 17 de junho...
- Céus, que querida!

Ficha III A: Alemão.

Sim?

Estás ocupado?

Não.

Posso interromper-te?

Sim, entra.

Deita-a na cadeira.

- Como estás?
- Estou bem.

Tive um A menos
no exame de Inglês de hoje.

- Parabéns. Muito bem.
- Obrigada.

Só tirei B menos a Física. Mas tudo bem.

- Como é que tu e o Toke estão?
- O Toke?

Não muito bem. Já não ando com ele.

Porque não?

Começou quando começámos a fazer revisão.

De repente, ficou muito ambicioso
e bastante desagradável.

Acusou-me das coisas mais absurdas.

- Como a Liselotte.
- E menstruação extensa?

Quase. É culpa minha
se ele não se superar.

- Diz ele.
- Pois.

Não me surpreende, Agnete.

Mas não acabou de começar.

Começou no último dia de aulas.
Sabes porquê?

Nesse dia, sentiu
que estava a perder toda a diversão.

Estou errado?

Não era engraçado desprezar os outros.

Especialmente tu.
Ele passava muito tempo nisso.

- O que diz ele agora?
- Não sei. Não nos falamos.

Como estão as coisas contigo
e com a pequena Johanne?

Pergunta ao Mogens sobre isso.
É um projeto conjunto.

- Não estás apaixonado por ela?
- Eu não disse isso.

Caso contrário,
não devias usá-la dessa maneira.

Agnete, temos exames daqui a uma semana.
Já não me posso divertir?

- Tem de ser tudo tão sério?
- Ela é do primeiro ano.

E então?

Queria perguntar-te algo, mas esquece.

- O que foi?
- Esquece. Não é importante.

Que estás a estudar?

Matemática.

Tenho o meu exame na quinta. É o último.

Sabia o que a Agnete me queria perguntar,

por isso, ainda bem que não o fez.

Pelo menos, por agora.

Não foi nada bom.
Integrais definidos não era o que queria.

- O que é que disseste?
- Acabei de fazer asneira.

- Receio que não passe.
- De quanto precisas?

Vou chumbar... Não foi nada bom.

Desculpem, sabem quando é o exame do Toke?

Já foi. Julgo que foi esta manhã.

- Sim, foi.
- Esta manhã?

- Foi sempre esse o plano?
- Sim.

- Tirou A menos.
- A sério? Então, enganou-me.

Disse que era esta tarde.
Onde poderá estar agora?

Vai para Copenhaga,
por isso, vai faltar à formatura.

- Já foi?
- Sim, no comboio das 13h35.

Enganou-me bem. Aí têm.

Parecem felizes.
Certifiquem-se que desfrutam.

É o melhor momento das vossas vidas.
Apreciem-no.

Birger...

Então...

Trouxe-te o chapéu, passaste.
Mas foi apenas o suficiente.

Sobrevives a um 16, certo?

- Preciso de B menos.
- B menos?

Precisas da nota para passar?

C mais?

Está bem, passo com um C.

Então, tens um grande C. Parabéns.

Cantem os dias felizes dos estudantes

Apreciemos a primavera da juventude

Até o coração bater alegremente

E o nosso futuro for brilhante

As nossas mentes
Ainda não abrigaram tempestades

A esperança é nossa amiga
Somos fiéis às suas promessas

Quando nos unimos no bosque

Onde os belos loureiros crescem

Onde os belos loureiros crescem

- Olá.
- Olá, Jonas.

Vou buscar vinho. Queres branco ou tinto?

- Tinto, por favor.
- E para ti?

Não, obrigado.

Isso é uma coisa recente?

Isso interessa?

Nem por isso.

Sempre gostei do HP.

Só agora percebi
que estava apaixonada por ele.

Então, quando namorávamos,
estavas apaixonada pelo HP?

Não é nada disso.
Estava muito apaixonada por ti.

Especialmente quando não me querias.

Se soubesses quantas vezes fui ao parque
na esperança de te encontrar...

Nunca vieste.

Mas isto é sério. Para o HP também.

De que forma? Também dormes com ele.

Não te respondo quando perguntas assim.

Na verdade, estamos noivos.

Quando é que isso aconteceu?

No dia do meu último exame.

- Era isso que querias perguntar?
- Queria a tua opinião.

- Era importante para mim.
- Desculpa, não há mais vinho.

- E não gostas de cerveja, certo?
- Sim.

Parabéns, a Agnete disse-me
que estavam noivos.

Obrigado...

Sei que vocês
significaram muito um para o outro.

Mas...

Parabéns.

Obrigado.

Claro que tinha ciúmes de novo.
Mas também estava zangado. Mais comigo.

Apesar de não poder ganhar a Agnete,
não me conseguia libertar.

Por isso, três meses depois,
quando pediram ao pai dela para se demitir

e ele se afogou,
já não era de mim que a Agnete precisava.

Legendas: Pedro Barbosa