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548 DIAS:
CAPTURADA POR UMA SEITA

ANTERIORMENTE

Steven s� pensava
em n�o sermos encontrados.

Fomos a San Mart�n de Pangoa.
Ficava na selva. N�o tinha eletricidade.

Chegamos a ficar semanas

sem poder tomar banho e nos limpar.

Steven chegou a ficar muito violento.

Ent�o, de repente, tudo mudou.

Eu estava gr�vida.

A m�dia e a pol�cia
perderam interesse no caso.

Precisava ir ao Peru.

LIMA, PERU

Era procurar agulha no palheiro.

E, claro, se estava fugindo,
algu�m como a Patricia era um problema.

Steven at� disse:

"E se a gente matar ela?"

LIMA, PERU

Eu esperava�

de longe�

qualquer not�cia vinda do Peru.

Era um inferno.

N�o sabemos o que houve com ela.
N�o d� pra viver assim.

Era nossa �ltima chance.

Se n�o funcionasse,

eu perderia minha filha para sempre.

548 DIAS:
CAPTURADA POR UMA SEITA

CAP�TULO 3
O RESGATE

Oi, Olinda. � o Alberto.
Acabei de chegar em Lima.

Podemos nos encontrar mais tarde

para nos conhecermos
e planejarmos a semana.

Quando chegou ao Peru,
apesar do sofrimento,

ele foi forte o bastante
para confortar outra pessoa

M�E DA MAYI

Ele queria me ajudar tamb�m.

Pra mim, foi reconfortante

ver a for�a de algu�m
que estava passando pelo mesmo que eu.

E foi assim que come�amos nossa luta
para encontrar nossas filhas.

Chegamos ao Consulado da Espanha.

Vou trocar ideia com o c�nsul

e discutir como lidar com a acusa��o.

Naquele encontro, o c�nsul sugeriu

n�o alegar que era uma seita�

M�E DA PATRICIA

�e denunciar como tr�fico humano.

Encontramos uma promotora receptiva,

disposta a ajudar e que nos entendia.

PAI DA PATRICIA

Ela queria nos ajudar.

Ela pensou que denunciar
como tr�fico humano funcionaria.

E pediu para a pol�cia
come�ar a investigar imediatamente.

POL�CIA PERUANA
SEDE DO DIRINCRI

Conheci o Alberto quando ele veio
� Divis�o de Pessoas Desaparecidas.

Ele estava emocionado.

Finalmente conseguiria justi�a,
de certa forma.

AGENTE DA DIRINCRI

Abrimos um inqu�rito
e come�amos a investigar aquele homem.

Isso deu esperan�as a ele
de encontrar a Patricia.

Eu tamb�m sou pai.
E como vejo isso todo dia,

quando chego em casa e vejo meu filho,

eu penso: "Espero nunca passar�"

AGENTE DA DIRINCRI

�pela dor de registrar o desaparecimento
do meu filho, como tantas pessoas."

A den�ncia estava feita.
Agora restava encontrar aquele homem.

N�o sab�amos onde ele estava.

Estou no mesmo condom�nio
onde a Patricia e o grupo ficaram.

Est�vamos num impasse.

N�o t�nhamos nenhuma pista do Steven.

As crian�as frequentam esta escola.

Bem, frequentavam.

Ele n�o deixou rastros.
Tirou as crian�as da escola e do m�dico.

Ent�o pedimos ajuda ao juiz para monitorar

os meios de comunica��o de todos do grupo.

Recebemos uma lista
com uns 18 n�meros diferentes.

Steven estava morrendo de medo

de ser encontrado,
ent�o n�o ligava o celular.

N�o tinha como encontr�-los.

S� nos restava esperar

que ele cometesse um erro
e ligasse um daqueles celulares.

450 DIAS SEM A PATRICIA

493 DIAS SEM A PATRICIA

Senti muito medo.

E meu maior medo
era ele se vingar da Patricia,

porque, de certa forma�

�ramos n�s, a fam�lia da Patricia,
que arruin�vamos a vida dele.

Na �poca, eles discutiam muito.
Eram como �gua e �leo.

Lembro que ele at� disse:

"Estou pensando em mat�-la."

ESPOSA DO STEVEN

Ele falou assim:

"E se a gente matar ela?"

Eu s� fiquei olhando pra ele.
Sem dizer nada.

N�o sabia o que dizer.

Se alguma de n�s o apoiasse
e concordasse com essa raiva dele

contra a Patricia,
por ser a culpada pela nossa situa��o,

eu acho que ele teria tentado
sumir com ela.

Mat�-la.

Ent�o perguntei a ele:

"O que estava planejando?"

"No que estava pensando?"

INVESTIGA��O POLICIAL

Sab�amos que Steven Manrique

estava controlando
e manipulando a Patricia.

Mas n�o faz�amos ideia
de quem ele realmente era.

Mas gra�as � investiga��o
da pol�cia peruana,

descobrimos mais sobre ele.

Steven nasceu em Lima em 1983
em uma fam�lia de baixa-renda,

desestruturada,

disfuncional, e em um ambiente violento.

Na escola,

os meninos o insultavam e batiam nele,
ent�o s� ficava com as meninas.

Os professores diziam

que ele mudava as meninas
de tanto conversar com elas.

Foi o pai dele

quem deu a Cruz de Caravaca pra ele.
Este livro abriu as portas pra ele

para um mundo de magia,

e o ensinou a ter f� num sistema de cren�a

que mistura filosofia, cultura,
esoterismo e o oculto.

E isso o levou a um grupo gn�stico.

Mas ele n�o ficou muito tempo.

Ele foi expulso por misturar
ideias de outras seitas

e por afirmar ser o Pr�ncipe Gurdjieff.

Tudo isso o levou
a criar seu pr�prio grupo.

O tempo passou,
e as coisas n�o melhoraram.

Um dia, o dinheiro acabou.

Ent�o fomos de San Mart�n de Pangoa
para um apartamento em Alto Celend�n.

Um lugar no meio da selva,
um pequeno vilarejo com apenas 30 casas.

A maioria das pessoas ali era traficante
ou fugitivo, como n�s.

A casa n�o era bem uma casa.
Eram quatro paredes, um teto e um ch�o.

N�o tinha nada.

N�o tinha �gua encanada,
nem eletricidade, nem comida.

E eu estava mal. Muito mal.

A regi�o era cheia de po�as.
Tinha muita lama, precis�vamos usar botas.

Todo mundo pegou fungo. At� as crian�as.

Foi horr�vel.

Minhas pernas estavam cheias de picadas.

Al�m disso, tivemos um surto de piolhos.

E eu os via caindo da minha cabe�a,

e as crian�as conseguiam
pegar piolhos sem nem olhar.

N�o era o melhor lugar para crian�as.

E, definitivamente,
n�o era o melhor lugar para uma gr�vida.

Steven nos colocou em perigo.
N�s e nossos filhos.

Eu n�o era a �nica gr�vida.
A Mayi tamb�m estava.

Filho � uma ben��o.

� um presente da vida.

Mas pra mim, naquele momento, n�o era.

Ent�o�

Fui muito ego�sta. Eu n�o me cuidava.

Eu trabalhava muito.

Eu n�o me cuidava.
At� cheguei a dizer: "Nossa!

Se for pra nascer, esse beb� vai nascer."

E eu n�o me cuidava.

Al�?

N�o estou escutando nada. Al�?

Maryori?

� voc�?

Uma vez liguei pros meus pais.

Pra ouvir a voz deles.

Filha�

Ai, filha�

Fala alguma coisa, por favor.

Al�?

Al�?

N�o estou escutando nada. Al�?

Maryori?

� voc�?

AGENTE CAPCHA LIGANDO

LIGA��O PERDIDA

AGENTE CAPCHA:
ALBERTO, VOC� EST� A�?

BOAS NOT�CIAS! LIGARAM O CELULAR.

ENCONTRAMOS ELES!

523 DIAS SEM A PATRICIA

POL�CIA PERUANA

Naquela hora, abracei o Alberto.
Agora havia esperan�a.

Encontramos uma luz no fim do t�nel.

E aquela luz estava brilhando em Pangoa.

Eles haviam ligado o celular recentemente,

ent�o estavam naquela �rea.
E estavam vivos.

Pensamos que eles estavam em Lima,

mas depois descobrimos
que eles se mudavam.

Ele as isolava cada vez mais.

Isso nos preocupou.

Conversamos com nossos superiores,
e eles nos mandaram pra c�.

"Voc�s dois v�o pra l�.
S�o os que mais conhecem o caso.

Ent�o v�o l� investigar."

T�nhamos a localiza��o

onde pensamos que estariam.
O pr�ximo passo era ir at� l�

e investigar.

ENCAMINHAR

Alberto me encaminhou uma foto
com uma mensagem do Capcha escrito:

"Vamos resgatar sua filha."

S� isso.

SAN MART�N DE PANGOA, PERU

Usamos roupas comuns.

Roupas que todos usavam,
para tentar nos misturar.

Mas, como n�o �ramos dali,
n�o seria f�cil.

Os moradores locais
n�o confiavam muito em n�s.

Ali era o que chamamos de zona vermelha.

Uma �rea dominada pelo narcoterrorismo.

Aquele lugar era muito perigoso
para um policial.

Nossa vida est� sempre em perigo ali.

Sab�amos que n�o seria f�cil
procurar a Patricia.

Era uma corrida contra o tempo.

Nos deram dez dias pra vasculhar a �rea,

e Pangoa era uma regi�o muito grande.

� uma selva.

� infinita.

535 DIAS SEM A PATRICIA

536 DIAS SEM A PATRICIA

Ao procur�-los,
sempre lev�vamos uma prancheta.

RECOMPENSA 10.000 S�IS

Para poder perguntar aos moradores

se eles conheciam algu�m.

Depois de tr�s ou quatro dias,
ainda n�o t�nhamos nenhuma informa��o.

LIMA, PERU

O Alberto me pediu

qualquer informa��o ou pista
sobre o paradeiro da filha.

N�o sab�amos o que falar.

AMIGO, ALGUMA NOT�CIA?

OI, ALBERTO. INFELIZMENTE, NADA AINDA.

Foi muito angustiante pra n�s.

Andamos por toda a cidade.
Quase que de porta em porta.

Era muito estranho.

Uma pessoa branca naquela regi�o
com certeza chamaria a aten��o.

Mas n�o conseguimos nada.
Eles desapareceram.

Ent�o eu disse ao Christian:
"N�o tem nada na cidade.

Vamos subir a montanha.
Eles n�o est�o aqui."

Decidimos ir para uma �rea remota,
na montanha, no meio da selva.

Tamb�m decidimos nos separar.

Cada um ia procurar em um lugar.

Aquela zona era uma fortaleza
do tr�fico de drogas.

E era muito dif�cil

a pol�cia ou o ex�rcito entrar ali.

Eu tinha andado bastante.

Quando estava voltando,

duas pessoas se aproximaram.

Eles me cercaram apontando uma arma.

"Pronto. Chegou a minha hora", eu pensei.

Mostrei meu documento e falei quem eu era.

"Sou policial. Estou atr�s desta pessoa.
Devem ter visto, � uma mulher branca."

Mas foi a� que eles me derrubaram.

E come�aram a me bater.

E procuraram por uma arma.

Eu disse que n�o tinha uma,
pois meu trabalho era apenas investigar.

Senti o fuzil na testa
me mandando calar a boca.

Ouvir que v�o atirar em voc�
� algo horr�vel.

N�o desejo a ningu�m.

Ouvi um deles fazer uma liga��o.

Estavam perguntando sobre mim.

Eu pensei

que morreria aquele dia.

Mas a� eles disseram: "Sai daqui.
N�o queremos te ver por aqui, verme."

RECOMPENSA 10.000 S�IS
PELA LOCALIZA��O DESTE GRUPO

Eu desci realmente�

desesperado e assustado.

Falei com o Christian

e disse: "Vamos embora.
N�o quero mais ficar aqui."

Pensei em ligar pro meu chefe
e contar o que tinha acontecido.

Mas depois pensei que,
se eu contasse ao meu chefe,

a opera��o seria cancelada.
E eu n�o conseguia parar de pensar�

no Alberto.

E em como o decepcionei.

Ent�o decidi n�o contar.

QUERIDO AMIGO.

LEMBRA A PROMESSA QUE TE FIZ?

VOU CUMPRI-LA.

"Vou encontrar sua filha,
de qualquer forma.

N�o voltarei sem encontr�-la."

Quando eu estava com oito meses,
tudo ficou mais dif�cil.

Eu ainda fazia
todas as tarefas dom�sticas.

Eu ficava exausta.

Como estava gr�vida, eu precisava comer,
mas a gente quase n�o comia.

N�o tinha comida.
Sofri de desnutri��o cr�nica grave.

Minha vizinha at� pensou
que eu estava de tr�s meses.

A gente costumava comer arroz e batata.
Por isso ficamos malnutridos.

Cheguei a temer pela vida dos meus filhos.

Nosso �nico objetivo era sobreviver.

Mesmo assim, pra mim,
a pior parte n�o foi passar fome.

Um dia, do nada,

Steven disse que ia embora.

E que ia levar a Mayi e a Paola.

Ele disse que iam trabalhar,
e que eu tinha que ficar,

sozinha com as crian�as.

Ela pedia pelo olhar pra gente n�o ir.

Os olhos dela imploravam:

"N�o v�o. N�o me deixem sozinha."

Ela sabia que o beb� nasceria logo.

Implorei pra eles ficarem.

N�o pedi para os tr�s ficarem,
mas pelo menos um.

N�o importava quem,
mas eu precisava de algu�m comigo.

Eu pensei no meu filho.

Nos meus outros filhos.

Eu precisava ganhar dinheiro,
porque o Steven n�o me dava nada.

Ele n�o ia me dar dinheiro,
n�o ia me dar nada. E eu sabia.

Eles acabaram indo embora.

Me senti sozinha.

Estava morrendo de medo, assustada.
Eu sabia que tinha alguma coisa errada.

Eu sabia que o beb� ia nascer logo.

E que eles n�o voltariam a tempo.

Fomos a um parque e vimos muitas crian�as.

As crian�as costumam brincar
e costumam se reconhecer.

Mas ningu�m conhecia
as crian�as que est�vamos procurando.

At� que uma senhora passou
com uma menininha.

Quando perguntamos pra ela,

ela disse que nunca tinha visto
aquelas pessoas.

Depois, a neta dela quis olhar as fotos.

RECOMPENSA 10.000 S�IS

A menina reconheceu a Paola de cara.

"A mo�a doida de bota rosa", ela disse.

E a senhora falou pra menina:
"N�o fala assim. Que mo�a doida?"

"Ela � a �nica que usa bota rosa."

"Tem certeza?"

"Tenho, � ela.
Ela sempre atravessa a ponte

com uma panela de comida.
Ela passa todo dia depois das 22h.

"Ela tem cabelo comprido e anda engra�ado.
Parece doida."

E eu e o Christian sabemos
que crian�a nunca mente.

Ficamos de tocaia 24 horas por dia.

Mas n�o conseguimos nada,
e isso nos preocupou.

Foi quando aconteceu um milagre.

Vi um par de botas rosa andando,
como a menina descreveu.

A mo�a andava encurvada, olhando pro ch�o,

sem cumprimentar ningu�m.

Parecia um rob�.

Ent�o ele me disse:
"N�o vira agora. Fica parado."

Perguntei o motivo.
"A Paola est� a� atr�s."

"N�o acredito", eu disse.
"Ela est� a� atr�s. N�o olha."

"A Paola est� a quatro metros de voc�."

Era verdade.

Eu me virei e vi a Paola.

Ent�o come�amos a segui-la.

Eu me enchi de esperan�a.

Porque se a Paola estava l�,
o Steven tamb�m estava.

E se o Steven estava l�,
poder�amos encontrar a Mayi

e a Patricia.

Ela andou uns 40 minutos,
at� sair da cidade.

A� ficou mais dif�cil.

No campo, era mais f�cil perceber
se estava sendo seguida.

Acho que a Paola percebeu,
porque acelerou o passo.

Ent�o tentamos disfar�ar.

Compramos �lcool e fingimos estar b�bados,

ou algo assim.

A trinta minutos da cidade,
a vimos entrar numa casa.

Parecia o que chamamos de pens�o.
Uma casa que alugava quartos.

Ent�o come�amos a vigiar.

A gente tinha que dar um jeito de entrar.
Era muito suspeito ficar l� fora.

Ent�o falamos com a dona

e dissemos: "Somos professores,
viemos aqui trabalhar,

e precisamos de um quarto."

E ela disse: "Tenho um quarto vago,
mas tem um problema.

O casal ao lado � um pouco estranho.

O homem nunca sai do quarto.
Parece que est� escondido."

Ent�o perguntei se ele era problem�tico.

Ela disse que n�o, que s� era estranho.
"Ele tem cabelo comprido e cacheado,

usa �culos e nunca sai do quarto."

Tivemos sorte.
A parede que separava nossos quartos

era feita de adobe.

Dava pra ouvir quase tudo.

Ele ouviu a voz de uma mulher,
de um homem e a da Paola no quarto.

Mas n�o encontramos as crian�as
nem a Patricia.

MEU COLEGA A SEGUIU.

Sab�amos que a Paola ia trabalhar �s 5h.

Ela trabalhava em um restaurante
at� �s 21h.

Ela trabalhava das 5h �s 21h.
Essa era a rotina da Paola.

Mas n�o sab�amos nada
sobre as outras pessoas do quarto.

No quarto dia, eu estava vigiando,

quando a Mayi apareceu de repente.
Eu a reconheci imediatamente.

Percebi que ela estava gr�vida
de cinco ou seis meses.

N�o percebi
que tinha algu�m nos observando.

Eu estava muito distra�da.

E tamb�m estava passando
por uma depress�o.

Ent�o n�o percebi.

MAYI � A OUTRA.

Estava no piloto autom�tico.

ELA EST� GR�VIDA

Quando a Mayi entrou no quarto do Steven,

a primeira coisa que fiz
foi ligar pra Olinda.

Ent�o ela est� sozinha com o Steven,
sem os filhos.

Senhora, n�o temos muitas informa��es.

N�o tem nenhuma crian�a?

N�o.

Ela ficou feliz quando encontraram a Mayi,
mas n�o demonstrou

porque seu colega nessa busca
estava ao lado,

e ele n�o tinha tido a mesma sorte.

"Alberto, eles viram a minha filha!"

Ent�o ele disse: "Eu perguntei pra eles,

e eles n�o viram a Patricia."
E caiu nas l�grimas.

Eles disseram
que n�o tinham visto a Patricia.

Nem as crian�as.

Eles tamb�m n�o tinham visto as crian�as.

Eu pensei que, provavelmente�

ela n�o estava mais viva.

Mas depois me convenci
de que ela estava viva, sim.

"Ela tem que estar viva,
e temos que encontr�-la."

Sempre nos perguntamos por que a Patricia

foi parar num lugar assim.

Uma garota com uma vida confort�vel
na Espanha.

O que fez ela vir parar em Pangoa?

8 DE AGOSTO DE 2016

TIVE UM SONHO ONTEM � NOITE.

EU ESTAVA COM O NOSSO BEB� NOS BRA�OS.

ERA UMA MENINA.

VOC� ESTAVA AO MEU LADO
E EU ME SENTIA SEGURA.

EU N�O PARAVA DE CHORAR DE FELICIDADE.

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QUE LINDA VIS�O.

Eu estava sozinha com as crian�as.

Elas estavam morrendo de medo,
n�o sabiam o que fazer.

Eu tamb�m estava assustada.

Mas eu temia mais pelo meu beb�.

Eu n�o sabia se ele estava virado,
ou na posi��o certa.

Eu n�o fazia ideia.

Foi a primeira vez na vida
que eu pensei que fosse morrer.

A vizinha ouviu meus gritos
e veio ver o que estava acontecendo.

Mas o Steven mandou
as crian�as n�o abrirem pra ningu�m.

Mas eu falei pra deixarem ela entrar,
ou ent�o eu morreria.

Quando ouvi o choro dela,

finalmente respirei aliviada.
"O beb� est� bem, acabou."

E me disseram que era uma menina.

T�-la descansando no meu peito
foi o momento mais feliz da minha vida.

Eu nunca vou esquecer.

Esperei oito meses e meio
por esse momento.

Nunca imaginei que, aos 19 anos,

eu daria a luz no meio da selva,

e naquelas condi��es.

Com a ajuda de quatro crian�as
e de uma mulher que n�o era parteira,

e que n�o sabia fazer isso.

Mas�

ela fez um �timo trabalho.

545 DIAS SEM A PATRICIA

547 DIAS SEM A PATRICIA

Tem alguma not�cia?

Nada ainda.

O que est�o esperando?
Por que n�o entram logo?

� assim que funciona.

A gente precisava ter certeza
de que o homem ao lado era o F�lix Steven.

VOZ DE UM HOMEM

E se entrarmos, e n�o for ele?

E se ele n�o disser onde a Patricia est�?

Capcha e Huarcaya n�o sabiam
se o Steven estava no quarto.

N�o tinham visto ele.

Nunca o viram sair do quarto.

Ele deixou o cabelo e barba crescerem
para parecer mais velho.

Ele vivia trancado.
Ficava na cama quase o dia todo.

Ele n�o trabalhava.
Eu e a Paola �amos trabalhar.

Eu trabalhava gr�vida.

Eu voltava exausta para casa.

Mas, toda noite,

t�nhamos que recitar os mantras
para nos proteger.

OUVIMOS M�SICA ALTA.

O HOMEM GRITA.

Faz�amos aquilo por amor a ele.

Assim, cegamente.

Acordei de madrugada.

E estavam ouvindo m�sica indiana, n�o �?

- Sim.
- Uma m�sica estranha com tambores e tal.

Isso.

Senhora, n�o dormimos.
Estamos parecendo zumbis.

Tento prender a respira��o
pra ele n�o perceber minha presen�a.

J� viram ele?

Ele n�o vai nem ao banheiro.

Eram tr�s ou quatro da manh�.
Steven estava falando,

e eu ouvi: "Vamos embora amanh�."

"Paola, voc� vai primeiro.

Depois a Maryori. E eu, por �ltimo.

Temos que ir embora, de qualquer jeito.

Vai acontecer alguma coisa ruim."

O HOMEM PLANEJA FUGIR � NOITE

Steven disse que havia tido uma vis�o.

E disse pra elas:

"Acho que estamos sendo seguidos."

A ideia era ir pra mais longe,
visitar comunidades ind�genas.

E nos encontrar l�
seria muito mais dif�cil.

Ent�o eu disse:
"Temos que fazer alguma coisa.

N�o temos escolha.

Temos que agir, com ou sem a Patricia."

Al�?

- Senhora, como vai?
- Boa tarde, tudo bem?

- Podemos conversar?
- Claro, n�o se preocupe.

Vamos ter que fazer alguma coisa.

Eles podem fugir a qualquer momento.
Est�o com as malas prontas.

Consigo ouvir o bater de portas�

- O barulho das malas.
- Sei.

Se esperarmos, n�o teremos tempo
para encontrar a Patricia.

Espero que ela esteja com as crian�as.

Eu tamb�m.

Espero not�cias suas.

Por favor, me ligue a qualquer hora.

- Sim, senhora.
- Vou rezar por voc�s.

Espero que d� tudo certo. Obrigada.

Ent�o eu disse pra eles entrarem
de uma vez por todas.

Alberto disse o mesmo.

"Eles devem entrar logo.
N�o podem esperar mais."

Eu queria que aquilo acabasse,
queria saber o que houve e encontr�-la.

S� queria que acabasse.

Eu estava com medo de ele fugir.
Queria que eles entrassem logo

e descobrissem alguma coisa
sobre a Patricia,

sobre as crian�as e, claro,
eu n�o via a hora

de prenderem esse cara.

TEMOS QUE ENTRAR!

Pedimos refor�os pra Lima.

A sede mandou uma equipe.

Montamos a opera��o.

Foi coisa r�pida.
Era uma corrida contra o tempo.

Sab�amos a rotina da Paola.
Ela sa�a �s cinco da manh�.

Ent�o esperamos ela sair

para separ�-los.

N�o quer�amos todos juntos
quando f�ssemos entrar.

Combinamos com os nossos colegas,
que pegaram a Paola.

Por acaso, a Maryori abriu a porta
e foi ao banheiro.

Eu estava lavando roupa

quando algu�m se aproximou
e pediu meu documento.

Minha identidade.

POL�CIA
DESAPARECIDOS

Percebi que tinham nos encontrado.

547 DIAS SEM A PATRICIA

548 DIAS SEM A PATRICIA

Levanta!

- Levanta.
- Levanta.

- N�o!

}Vai apanhar se n�o levantar!

Calma.

Calma. Fica calmo.

- Calma.
- N�o pode fazer isso.

Vem, amigo. N�o resiste, por favor.

-Calma.
- Identidade, por favor.

Pegue sua identidade, senhor.

- Calma. Pode se acalmar?
- T�.

Precisa se acalmar.

- Soltem ele.
- Senta aqui.

Isto � uma opera��o policial.

- Por que acha que estamos aqui?
- N�o sei.

- Acordei doente.
- Qual � o seu nome?

- Esteban.
- E o sobrenome?

Ele nos deu um nome falso.

Ele estava muito confuso.

Esteban do qu�?

At� come�ou a chorar.

Perguntamos sobre o paradeiro
da Patricia e das crian�as.

N�s perguntamos, e ele:

"Que Patricia? Quais crian�as?
N�o sei de nada."

Vamos. Por favor, ajuda a gente.

Senta aqui.

Ele adotou essa postura.

Depois, quando criou coragem,
ele me disse:

"N�o pode me prender.
Cad� o promotor? E o juiz?"

Senta um pouco aqui.
N�o estou resistindo, senhor.

Eles n�o podiam acus�-lo,
porque �ramos maiores de idade.

E porque aceitamos viver daquela forma.

Ningu�m nos for�ou.
Est�vamos l� por vontade pr�pria.

Era nosso jeito de viver.

- Senta aqui um pouco.
- Me escuta!

Somos da DIRINCRI, � isso.

Coloque um cal�ado e nos acompanhe.

Uma coisa no v�deo chamou a minha aten��o.

Tiraram ele da cama,

e ele ficou com o p� no ch�o.

Ent�o a Mayi tirou o pr�prio cal�ado

e deu pra ele,
pra que n�o pisasse no ch�o.

Coloque um cal�ado.

Aqui, usa o meu.

Sr. Ezequiel, o senhor pode�

Foi quando eu entendi

o quanto ele as controlava.

Me senti mal porque n�o era justo.

Fiquei com pena dele.

Me senti mal porque um mestre como ele,

que daria a vida pela humanidade,

que salvaria muitas pessoas
e que nos traria conhecimento�

ia para a cadeia.

- Vamos, anda.
- S� um segundo.

Um segundo!

Espera um pouco!

Porra, Alberto, me liga!
Tem que atender quando eu ligar.

Rosa, n�o posso conversar agora.
S� sei que o cara foi preso.

Est�o interrogando a Paola e a Mayi

pra encontrar Patricia e as crian�as.

Alberto, n�o posso te dar mais detalhes.

S� posso dizer que estamos com a Paola,

e ela nos deu um local na selva.

Estamos indo pra l�.

Depois conversamos.

Como podem ver, fica no meio do nada.

Precisamos enfrentar condi��es extremas

para poder resgatar as crian�as
e a mo�a espanhola.

Oi, pequena.

Tudo bem?

Oi.

Tudo bem? O que est� fazendo?

O que est�o fazendo?

Est�o brincando?

Quando chegamos,
vimos as crian�as abandonadas.

Tudo bem? N�o aconteceu nada,
viemos ver voc�s.

Senta, por favor.

Elas estavam seminuas
e com a cabe�a cheia de piolhos.

Elas estavam malnutridas e bem magras.

Tudo bem, menina.

- Certo.
- Certo.

Elas se aproximaram,
nos encararam e nos abra�aram.

- J� almo�aram?
- N�o.

Perguntaram se a gente tinha
alguma bolacha ou doce.

Eles s� pensavam em comer.

Eles estavam vivos.

Todos estavam vivos.

Estavam vivendo em p�ssimas condi��es�

O que est� acontecendo?

Fiquei muito mal ao ver
como o Estefano foi encontrado.

Dava pra ver os ossos dele.

S� dava pra ver a cabe�a.

E os bra�os bem magrinhos.

A barriga dele estava enorme.

Mas eles estavam vivos.

E isso�

Fiquei muito feliz
quando eu soube que eles estavam vivos.

Patricia?

- Me d� isso, Estefano.
- Patricia?

Aqui n�o tem nenhuma Patricia.
Do que est� falando?

Nada, n�o se preocupe.

Cad� a Narita?

Ningu�m aqui se chama Patricia.

Tudo bem, querida. Eles j� sabem�

Mas n�o vimos a Patricia.

Gritamos o nome dela pela regi�o.

Cad� a Narita?
- Patricia!

Aqui n�o tem nenhuma Patricia.
- Patricia!

- Calma.
- Est� tudo bem.

O que aconteceu?

Calma, vem c�.

Por favor, n�o levem a minha tia.

Ningu�m vai levar a sua tia.

S� viemos visitar voc�s.

Naquele dia, eu tinha ido trabalhar
numa planta��o perto de casa.

E, de repente, ouvi algu�m
chamando meu nome:

"Patricia!"

Ningu�m me chamava assim h� um tempo.

Encontrei uma garota supermagra.

Ela mal podia andar.

Ele me perguntou se eu era a Patricia,
e eu disse que sim.

Eu disse que era da pol�cia,
e que fomos l� resgat�-la.

"Este beb� � seu?"

Eu disse que sim.

Ele me perguntou o nome,
e eu disse que era Naomi.

A primeira coisa que pensei foi:

"Alberto, voc� � av�."

Eu senti�

que tinha acabado.
Era o fim do sofrimento e da fome.

Nosso tempo l� havia acabado.
Eu estava em paz.

Quando vi as fotos

do resgate, ela n�o aparecia.

Disseram que ela estava bem,
que havia sido resgatada,

mas isso n�o bastava pra mim.
Eu precisava ver uma foto dela.

Eu precisava ver com meus pr�prios olhos
que ela estava l�.

Finalmente, me mostraram.

- Tia!
- Ela chegou.

Oi, meninas. Tudo bem?

"Minha filha est� viva!"

Fiquei muito feliz mas, ao mesmo tempo,

quando vi o estado dela�

Ela estava t�o magra,

e t�o mal fisicamente,

que me fez chorar.

Eu s� conseguia pensar
em tudo que ela havia passado

no �ltimo um ano e meio.

Pensar em tudo que a minha filha passou

naqueles 548 dias�

Al�?

Senhora, o Alberto est� a�?

- Est�.
- Posso pedir um favor?

- Pode.
- Fala pra ele ficar calmo.

O Capcha estava falando com a Olinda.
Eu n�o sabia sobre o qu�,

mas ela ficou bem quieta.

Eu falo pra ele, est� ao meu lado.

Quando desligou, ela me disse:

"Alberto, preciso te contar uma coisa."

"Parab�ns, voc� � av�."

"O qu�? Av�?"

Ent�o ela disse: "O Capcha me disse

que a Patricia teve uma filha."

Eu pensei: "S�rio?"

"Olinda, eu sou av�", ele disse.

Meu cabelo ficou mais branco, de repente.
De uma hora pra outra.

Foi algo incr�vel.

Incr�vel. Era muita felicidade.

Al�m de encontrar a Patri�

e salvar uma pessoa�

Duas, na verdade.

Muito mais, porque salvaram

todas as crian�as e as garotas.

Mas o sentimento de recuperar
n�o s� uma filha, mas duas�

N�o tenho palavras.

Voc� est�o bem, n�?

- Cad� a Naomi?
- Ela est� no ber�o.

No quarto? Vamos l�.

O beb�?

Isso, vai.

N�o acordem ela.

Devagar.

V�o acord�-la!

Cad� o beb�?

Aqui, ela est� dormindo.

Cuidado.

Ela � t�o pequena.

DELEGACIA DE POL�CIA RURAL

Preciso dos seus dados pra preencher aqui.

Vou te dar meus dados,
mas quero um advogado.

Estamos gravando.

A gente sabia quem ia enfrentar.

Steven era manipulador.

Onde voc� est�? Est� na rua?

Enquanto ele era interrogado na delegacia,

n�s fomos ver as v�timas.

Ent�o o deixamos com dois colegas.

E quando voltamos,

um dos nossos colegas disse
que est�vamos errados,

que ele era um messias,

um escolhido de Deus.

E que, mais cedo ou mais tarde,
ser�amos amaldi�oados.

E que, se pud�ssemos ajud�-lo,

dever�amos fazer isso.

Come�amos a discutir
e tivemos que tir�-lo dali.

Por que vimos que ele havia convencido
e manipulado nosso colega.

Gravamos porque � seu direito.

Uma coisa que pode definir
Steven Manrique e sua personalidade

foi o que aconteceu
na delegacia de Pangoa.

Quando os policiais perguntaram
se precisavam de alguma coisa,

Steven Manrique pediu um cabeleireiro.

Para aparecer nas fotos
de cabelo cortado e barba feita.

J� a Patricia, ao pedir o que precisava,

ela s� pediu fraldas pra filha.

Rosa, pode ler este documento?

"Laudo pericial.

Ela possui uma car�ncia afetiva,

o que a torna dependente
de quem � carinhoso com ela.

Ela � suscet�vel � manipula��o
em troca de afetividade.

Ela coloca as necessidades do parceiro
� frente das suas pr�prias.

Ela valida a agress�o f�sica
e psicol�gica do parceiro

com argumentos que considera racionais
para justificar essas atitudes.

Ela tem baixa autoestima,
depend�ncia e inseguran�a.

E se mostra submissa
e incapaz de refletir.

Possui ideias depreciativas sobre si mesma
e sobre a mulher,

que ela considera subordinada �s ordens
e �s necessidades do homem.

Ela n�o tem discernimento
nem um prop�sito.

Al�m de mostrar imaturidade psicol�gica,
emocional e espiritual."

De quem est�o falando?

Da minha filha.

O Steven fez isso com ela.

Ele a transformou nisso.

� muito dif�cil sair do grupo.

� praticamente imposs�vel sem ajuda.

Recuperamos o corpo da Patricia,

mas a mente dela ainda n�o estava ali.

Eu ainda estava
sob a influ�ncia do Steven.

Eu ainda pensava muito nele
e no que ele falava.

Mas, com o tempo,
pude refletir sobre muitas coisas

e assimilar tudo aos poucos.

Eu percebi quem o Steven realmente era,

e que eu precisava de ajuda.

Porque reconhecer isso
era s� o primeiro passo.

Eu ainda tinha muito pra recuperar.

DEPOIS DO RESGATE, O GRUPO SE SEPAROU
POR RECOMENDA��O PSICOL�GICA.

ELES FIZERAM TERAPIA ESPECIALIZADA
EM V�TIMAS DE SEITAS E GRUPOS COERCITIVOS

Essa era a antiga Patricia.

Ela n�o � mais a garota
descrita neste documento.

Eu n�o tinha que perdoar nada.

Tudo ficou no passado.

Vamos recome�ar.

Sem culpar ningu�m.

Sem fazer perguntas.

Sem questionar.

Vamos seguir em frente.

TR�S ANOS DEPOIS DO RESGATE

- Tudo bem, Mayi?
- Voc� est� linda!

Minha fam�lia aumentou.

Agora tamb�m tenho uma fam�lia no Peru.

Tenho uma fam�lia peruana.

E a�, cara?

� bom te ver.

Ele me abra�ou e disse:
"Capcha, muito obrigado."

E eu: "Relaxa, cara.

Prometi trazer sua filha de volta.
E consegui, amigo."

- Alberto. E a�, cara?
- Tudo bem?

N�o consigo parar de agradecer.

Serei eternamente grato a eles,
e nem isso ser� suficiente.

Passei por tanta coisa,
que minhas amigas me dizem: "Olinda,

eu teria morrido. Voc� � t�o forte."

Mas eu n�o, eu nunca quis morrer.

Eu sempre arrumei for�as onde n�o tinha

para encontrar minha filha. E encontrei.

As m�es nunca morrem.

Parecia que eu estava let�rgica.
� libertador, na verdade,

saber que n�o sou mais assim
e que mudei para melhor.

- Senti saudade, Mayi.
- Eu tamb�m.

Muita saudade.

Estou muito grata por ter recebido
esta nova oportunidade,

e por este recome�o.

� como nascer de novo.

Aproveitem ao m�ximo
o tempo com seus filhos,

porque o tempo n�o volta atr�s.

N�o tem como recuper�-lo.

Eu tive uma segunda chance,
e estou aproveitando.

Estou muito orgulhosa da minha filha.

Muito.

Ela conseguiu refazer sua vida.

Nunca pensei que nossa vida poderia mudar
t�o radicalmente em t�o pouco tempo.

Voltei a ser eu mesma.
Voltei a usar roupas pretas.

Fa�o o que quero com o meu cabelo.

Como o que quero e o quanto eu quero.

Fa�o o que tenho vontade.

E, principalmente,

quando tenho um problema,
ou quando n�o estou bem,

tenho confian�a pra contar pros meus pais,

pro meu irm�o, ou pra quem precisar.

PATRICIA AINDA FAZ TERAPIA.

ELA MORA EM ELCHE COM OS PAIS E A FILHA,
QUE EST� CRESCENDO FELIZ.

ELA ESTUDOU INCLUS�O SOCIAL

E TRABALHA NUMA FUNDA��O
QUE AJUDA PESSOAS COM DEFICI�NCIA.

Felizmente,
minha hist�ria tem um final feliz.

Mas, infelizmente,

muitas mulheres e muitas fam�lias
n�o tiveram o mesmo final.

STEVEN FOI CONDENADO A 20 ANOS

POR TR�FICO HUMANO
E EXPLORA��O LABORAL E SEXUAL.

ELE CUMPRIR� A SENTEN�A COMPLETA,
E N�O SER� SOLTO ANTES DE 2038.

ELE SE RECUSOU A APARECER
NESTE DOCUMENT�RIO.

POR CAUSA DA INTERNET,
O N�MERO DE V�TIMAS DE SEITAS

DISPAROU MESMO SEM TER CONTATO F�SICO.

CERCA DE 1% DA POPULA��O MUNDIAL,
UMAS 400.000 PESSOAS NA ESPANHA,

S�O DIRETAMENTE AFETADAS POR SEITAS.

SEM UMA LEI CONTRA A PERSUAS�O COERCITIVA,

CASOS COMO O DA PATRICIA AGUILAR
CONTINUAR�O SENDO UM PROBLEMA INVIS�VEL.