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1
00:00:21,226 --> 00:00:24,089
A maioria dos filmes foram
dirigidos por homens.
2
00:00:24,190 --> 00:00:28,690
A maioria dos ditos cl�ssicos
foram dirigidos por homens.
3
00:00:29,675 --> 00:00:34,165
Mas h� 13 d�cadas, em todos os seis
continentes onde se fazem filmes,
4
00:00:34,266 --> 00:00:37,304
milhares de mulheres tamb�m
t�m dirigido filmes.
5
00:00:39,560 --> 00:00:41,550
Alguns dos melhores.
6
00:00:43,404 --> 00:00:45,150
Que filmes elas fizeram?
7
00:00:45,390 --> 00:00:47,729
Que t�cnicas usaram?
8
00:00:49,121 --> 00:00:52,110
O que podemos aprender
sobre cinema com elas?
9
00:00:52,506 --> 00:00:57,415
Vamos revisitar os filmes atrav�s
dos olhos das diretoras.
10
00:00:58,960 --> 00:01:02,529
Vamos fazer um novo
road movie pelo cinema.
11
00:01:06,060 --> 00:01:08,489
MULHERES FAZEM CINEMA
12
00:01:08,590 --> 00:01:12,581
UM NOVO FILME DE ESTRADA
ATRAV�S DO CINEMA.
13
00:01:12,682 --> 00:01:17,582
15 - POV - PONTO DE VISTA
14
00:01:21,615 --> 00:01:24,348
Um homem cego num parque.
15
00:01:25,048 --> 00:01:27,048
Ele coloca uma folha na grama.
16
00:01:27,648 --> 00:01:33,348
A c�mera est� no alto, mostrando
o que ele veria se enxergasse.
17
00:01:34,115 --> 00:01:36,814
Em seguida, ele olha
pelo visor de uma c�mera
18
00:01:36,915 --> 00:01:39,278
e fotografa a folha.
19
00:01:39,379 --> 00:01:43,312
Ele cria uma imagem da folha
num lugar �nico no mundo,
20
00:01:43,413 --> 00:01:47,147
a posi��o de seus olhos
naquele exato momento.
21
00:01:48,015 --> 00:01:50,881
Por um instante, houve precis�o.
22
00:01:52,215 --> 00:01:53,564
Onde voc� est�?
23
00:01:53,665 --> 00:01:57,632
Ele n�o sabe ao certo onde est�,
de novo, e gira no mundo.
24
00:02:00,181 --> 00:02:01,382
Bill?
25
00:02:04,744 --> 00:02:05,780
Bill?
26
00:02:05,881 --> 00:02:08,115
N�s vemos o que est� � sua frente.
27
00:02:08,815 --> 00:02:10,048
Bill?
28
00:02:11,381 --> 00:02:15,444
E a� essa tomada, como se n�s
estiv�ssemos nos escondendo.
29
00:02:21,615 --> 00:02:22,981
� a foto de uma folha.
30
00:02:23,381 --> 00:02:24,880
A luz, como est� a luz?
31
00:02:24,981 --> 00:02:27,362
-Boa.
-Boa?
32
00:02:27,463 --> 00:02:29,014
Mas em seguida, um restaurante.
33
00:02:29,115 --> 00:02:32,714
E Russell Crowe est�
descrevendo a foto da folha.
34
00:02:32,815 --> 00:02:34,214
A precis�o.
35
00:02:34,315 --> 00:02:37,548
O momento que capturou
o ponto de vista de seu amigo.
36
00:02:37,938 --> 00:02:39,405
-Uma mulher.
-Uma mulher?
37
00:02:39,506 --> 00:02:43,080
O filme de Jocelyn Moorehouse
mostra o desejo de ver,
38
00:02:43,181 --> 00:02:45,180
de apresentar o seu POV,
39
00:02:45,281 --> 00:02:48,547
de confirmar o mundo
atrav�s da sua perspectiva.
40
00:02:48,648 --> 00:02:50,115
Descreva-a para mim.
41
00:02:50,548 --> 00:02:53,914
O ponto de vista � o
pocket show do cinema,
42
00:02:54,015 --> 00:02:56,647
seu arrebatamento di�rio.
43
00:02:56,748 --> 00:02:59,481
Cabelos castanhos, olhos azuis, acho.
44
00:03:02,115 --> 00:03:03,547
Ela � bonitinha.
45
00:03:03,648 --> 00:03:05,881
Ent�o ela n�o � uma baranga, Andy?
46
00:03:06,615 --> 00:03:08,281
N�o, n�o � n�o.
47
00:03:09,748 --> 00:03:14,080
Ei-lo aqui em sua forma mais simples.
�O Mundo Odeia-me� de Ida Lupino,
48
00:03:14,181 --> 00:03:17,347
que vimos anteriormente
no cap�tulo sobre enquadramento.
49
00:03:17,448 --> 00:03:22,048
Um cara segurando uma lata.
Em breve atirar�o na lata.
50
00:03:23,015 --> 00:03:26,880
A c�mera est� perto da a��o,
mas n�o dentro dela.
51
00:03:26,981 --> 00:03:28,915
A� isso acontece.
52
00:03:30,710 --> 00:03:33,914
Ela de repente est� onde
os olhos do atirador est�o.
53
00:03:34,015 --> 00:03:35,748
O ponto de vista dele.
54
00:03:45,560 --> 00:03:50,156
A grande diretora norueguesa
Edith Carlmar leva isso mais longe
55
00:03:50,257 --> 00:03:55,690
nesse, que � o �ltimo de seus dez
filmes, todos sucessos comerciais.
56
00:03:56,415 --> 00:03:58,480
Uma tomada de interior comum.
57
00:03:58,581 --> 00:04:00,747
O ponto de vista geral do p�blico.
58
00:04:00,848 --> 00:04:04,247
Amplo, objetivo, impessoal.
59
00:04:04,348 --> 00:04:06,314
O que fiz, fiz por prazer.
60
00:04:06,415 --> 00:04:08,947
-E voc�?
-Cuidado.
61
00:04:09,048 --> 00:04:13,147
Em seguida focamos em Liv Ullman.
Ela discute com sua m�e.
62
00:04:13,248 --> 00:04:17,280
De novo estamos perto da a��o,
mas n�o exatamente dentro dela.
63
00:04:17,381 --> 00:04:20,247
Mas, em alguns momentos,
o ponto de vista de Liv.
64
00:04:20,348 --> 00:04:22,648
A c�mera � estapeada
quando ela � estapeada.
65
00:04:24,648 --> 00:04:28,580
Carlmar trata a tomada de POV
como se fosse uma personifica��o.
66
00:04:28,681 --> 00:04:30,815
Algo material.
67
00:04:30,916 --> 00:04:33,983
A c�mera se torna a pessoa.
68
00:04:35,648 --> 00:04:38,830
Eis uma pessoa. Uma tomada em telefoto.
69
00:04:39,130 --> 00:04:42,513
Sobe para Colin Farrell.
Em seguida Nicole Kidman.
70
00:04:42,614 --> 00:04:44,413
Ela olha o corpo dele.
71
00:04:44,514 --> 00:04:46,880
Quem olha est� acordada.
72
00:04:46,981 --> 00:04:50,714
Quem � olhado est� dormindo, inconsciente.
73
00:04:53,751 --> 00:04:57,741
A respira��o de uma mulher,
sua tentativa de se controlar.
74
00:04:57,842 --> 00:04:59,542
Lavando-se de novo.
75
00:04:59,643 --> 00:05:01,943
N�o h� um olhar masculino aqui.
76
00:05:05,548 --> 00:05:08,147
Ela est� segurando as m�os dele
como se fosse um segredo.
77
00:05:08,248 --> 00:05:12,208
Estamos no mundo dela,
no ponto de vista dela.
78
00:05:12,309 --> 00:05:16,409
Ela est� bem ciente do momento.
Ele est� inconsciente.
79
00:05:16,714 --> 00:05:20,481
Talvez essa seja uma
defini��o de ponto de vista.
80
00:05:34,344 --> 00:05:37,280
Em seguida, ela abaixa um pouco
as roupas de baixo dele.
81
00:05:37,381 --> 00:05:42,014
S�o roupas de baixo femininas,
pois n�o h� homens na escola.
82
00:05:48,981 --> 00:05:50,814
Ela � a diretora da escola.
83
00:05:51,514 --> 00:05:52,848
Respira��o de novo.
84
00:05:53,214 --> 00:05:54,748
Estamos dentro da cabe�a dela.
85
00:05:57,248 --> 00:06:01,848
Seu sentido de retid�o
entra em guerra com o desejo.
86
00:06:02,348 --> 00:06:06,114
A intimidade psicol�gica
do ponto de vista.
87
00:06:10,148 --> 00:06:12,281
-Vamos ver.
-Estou fazendo certo?
88
00:06:14,814 --> 00:06:19,714
O POV em �The Cannibals�,
de Liliana Cavani, � mais violento.
89
00:06:20,214 --> 00:06:23,514
Estamos na It�lia sob um regime fascista.
90
00:06:24,114 --> 00:06:26,647
Britt Ekland foi capturada pela pol�cia.
91
00:06:26,748 --> 00:06:30,714
Corta para uma tomada filmada
do centro de um c�rculo.
92
00:06:31,481 --> 00:06:33,080
Em seguida, corta para Ekland.
93
00:06:33,181 --> 00:06:34,847
Ela est� numa cadeira girat�ria.
94
00:06:34,948 --> 00:06:36,848
A c�mera a acompanha.
95
00:06:38,481 --> 00:06:41,913
Os giros aumentam � medida
que a intimida��o cresce.
96
00:06:42,014 --> 00:06:46,113
As rota��es nos d�o uma sensa��o
de n�usea, da n�usea que ela sente.
97
00:06:46,214 --> 00:06:48,881
Novamente, o ponto de vista
como personifica��o,
98
00:06:49,614 --> 00:06:51,847
em seguida, a tomada abre
para mostrar o esquema.
99
00:06:51,948 --> 00:06:53,847
Excelente encena��o.
100
00:06:53,948 --> 00:06:55,880
Em seguida, a c�mera se transforma nela.
101
00:06:55,981 --> 00:06:58,848
Os interrogadores est�o ao seu redor.
102
00:07:00,147 --> 00:07:01,147
Os peixes...
103
00:07:01,248 --> 00:07:02,748
O que isso quer dizer?
104
00:07:03,081 --> 00:07:05,881
Quem paga voc�? Quem estava l� com voc�?
105
00:07:10,114 --> 00:07:12,893
E a personifica��o n�o precisa ser visual.
106
00:07:13,048 --> 00:07:15,547
Em �O Atalho�, de Kelly Reichardt,
107
00:07:15,648 --> 00:07:17,680
os homens est�o bem longe,
108
00:07:17,781 --> 00:07:21,613
decidindo sobre seu pr�ximo
destino na jornada pelo Oregon.
109
00:07:21,714 --> 00:07:23,247
Telefoto.
110
00:07:23,348 --> 00:07:27,281
As mulheres olham,
mas mal conseguem ouvi-los.
111
00:07:34,048 --> 00:07:37,280
Esse corte para as mulheres
n�o � do POV dos homens,
112
00:07:37,381 --> 00:07:39,714
porque eles est�o de costas.
113
00:07:43,114 --> 00:07:45,178
Em seguida, um close do som dos cavalos,
114
00:07:45,279 --> 00:07:49,795
e nos damos conta
que se trata de um POV sonoro.
115
00:07:49,896 --> 00:07:53,028
O som nos diz mais sobre onde estamos,
116
00:07:53,129 --> 00:07:55,812
com os animais, longe dos homens,
117
00:07:55,913 --> 00:08:00,613
e sobre qual � o nosso
POV aqui, o das mulheres.
118
00:08:13,842 --> 00:08:15,741
Assim, o cinema usa imagem e som
119
00:08:15,842 --> 00:08:19,808
para fazer-nos sentir como se
personific�ssemos personagens.
120
00:08:20,442 --> 00:08:22,074
O que acontece quando fazemos isso?
121
00:08:22,175 --> 00:08:25,575
Que novas coisas n�s vemos e sentimos?
122
00:08:26,375 --> 00:08:28,441
Mai Zetterling nos mostra.
123
00:08:28,542 --> 00:08:31,074
Uma garota entra num sal�o.
124
00:08:31,175 --> 00:08:33,175
Tomada aberta, observadora.
125
00:08:44,642 --> 00:08:46,607
A� ela vai pra debaixo da mesa.
126
00:08:46,708 --> 00:08:50,007
� como se estivesse mergulhando.
127
00:08:50,108 --> 00:08:51,775
Aposto que...
128
00:08:52,642 --> 00:08:56,041
Homens chegam, mas n�s
permanecemos l� com ela.
129
00:08:56,142 --> 00:09:01,141
O som vem de outro lugar,
assim como em �O Atalho�.
130
00:09:01,242 --> 00:09:04,507
Ela est� com o cachorro.
Ao n�vel dos sapatos.
131
00:09:04,608 --> 00:09:08,075
Voc� v� coisas diferentes nesse submundo.
132
00:09:11,775 --> 00:09:14,174
Um charuto batido fora do campo de vis�o.
133
00:09:14,275 --> 00:09:15,941
Um mau h�bito secreto.
134
00:09:16,042 --> 00:09:19,175
Uma crian�a na minha casa seria como
o padre encontrando o bispo na cama.
135
00:09:20,234 --> 00:09:21,741
Um tornozelo que co�a.
136
00:09:21,842 --> 00:09:24,459
A srta. Petra vive sozinha nesse casar�o.
137
00:09:24,560 --> 00:09:26,506
Bem interessante, padre.
138
00:09:26,607 --> 00:09:28,890
Coisas involunt�rias.
139
00:09:29,053 --> 00:09:31,319
O sapato dele est� muito apertado.
140
00:09:31,420 --> 00:09:34,529
Um desconforto que ele
n�o exibiria acima da mesa.
141
00:09:34,630 --> 00:09:37,497
Aqui embaixo � como
se fosse o inconsciente.
142
00:09:38,186 --> 00:09:43,753
O ponto de vista � mais id, mais
desejo e medo, do que superego.
143
00:09:44,720 --> 00:09:46,152
Com licen�a.
144
00:09:46,253 --> 00:09:50,153
Se est�o falando sobre
a Angela, eu a levo.
145
00:09:53,786 --> 00:09:55,618
Por que n�o disse antes?
146
00:09:55,719 --> 00:09:57,919
N�o queria parecer ego�sta.
147
00:10:03,079 --> 00:10:05,218
Uma das melhores diretoras do mundo,
148
00:10:05,319 --> 00:10:08,586
a ucraniana Larisa Shepitko, sabia disso.
149
00:10:09,119 --> 00:10:14,085
Seu �ltimo filme, �A Ascens�o�,
se passa na Belarus da 2� Guerra.
150
00:10:14,186 --> 00:10:16,885
Dois guerrilheiros num tren�.
151
00:10:16,986 --> 00:10:20,285
Um deles, Sotnikov, foi baleado na perna.
152
00:10:20,386 --> 00:10:22,518
�ngulo baixo enquanto
n�s olhamos para ele.
153
00:10:22,619 --> 00:10:25,085
Um ponto de vista
de observador, pode-se dizer.
154
00:10:25,186 --> 00:10:28,418
Mas em seguida a c�mera move para cima.
155
00:10:28,519 --> 00:10:33,652
A tomada desvia do observador
para um POV intermedi�rio,
156
00:10:33,753 --> 00:10:36,352
como se se transformasse
no POV de Sotnikov,
157
00:10:36,453 --> 00:10:38,385
ou o POV do inconsciente.
158
00:10:38,486 --> 00:10:40,618
Sombras. As p�lpebras tremem.
159
00:10:40,719 --> 00:10:44,352
A c�mera desfoca como se
ele perdesse a consci�ncia,
160
00:10:44,453 --> 00:10:47,019
como se a dor fosse extrema.
161
00:10:55,786 --> 00:10:59,219
Crian�as que estavam brincando
param para ver.
162
00:11:08,253 --> 00:11:10,918
Os olhos de uma mulher acompanham o tren�,
163
00:11:11,019 --> 00:11:13,819
como se um cortejo estivesse passando.
164
00:11:14,553 --> 00:11:18,753
O soldado imagina sua pr�pria morte.
165
00:11:19,586 --> 00:11:23,586
Come�amos no nosso POV,
passamos para o dele,
166
00:11:23,986 --> 00:11:26,253
e em seguida universalizamos.
167
00:11:50,219 --> 00:11:54,853
O filme anterior de Shepitko,
�Wings�, leva isso mais longe.
168
00:11:55,453 --> 00:11:59,185
Nadeshka � uma
ex-piloto de ca�a sovi�tica,
169
00:11:59,286 --> 00:12:02,586
que agora leva uma vida
enfadonha como professora.
170
00:12:03,519 --> 00:12:08,853
Ela quer lavar algumas uvas,
mas n�o sai �gua da torneira.
171
00:12:16,053 --> 00:12:20,718
Ela anda e, ao faz�-lo,
lembra-se de uma chuva,
172
00:12:20,819 --> 00:12:26,719
que, por sua vez, lava o presente,
levando-a para o passado.
173
00:12:48,186 --> 00:12:50,719
A longa estrada para o passado.
174
00:12:58,119 --> 00:13:00,019
A c�mera sobe numa grua.
175
00:13:03,253 --> 00:13:05,819
Esse n�o � seu POV material.
176
00:13:08,286 --> 00:13:11,152
N�o vemos o que ela v�.
177
00:13:11,253 --> 00:13:16,152
� seu POV imaterial.
As imagens de sua mem�ria.
178
00:13:16,253 --> 00:13:18,986
Outro tipo de submers�o.
179
00:13:21,519 --> 00:13:25,253
Mitya! Mitya!
180
00:13:25,653 --> 00:13:28,853
Em seguida, vemos um soldado.
181
00:13:34,686 --> 00:13:37,819
-Vamos voltar.
-Espera.
182
00:13:40,619 --> 00:13:44,252
Aqui, Kathryn Bigelow nos leva
a um mundo de fic��o cient�fica.
183
00:13:44,353 --> 00:13:49,218
Na Los Angeles dela, � poss�vel
botar um fone e ver vidas,
184
00:13:49,319 --> 00:13:53,518
experi�ncias, sonhos
e os POVs de outras pessoas.
185
00:13:53,619 --> 00:13:58,352
Nos filmes anteriores, transi��es
ocorriam atrav�s da neve ou �gua.
186
00:13:58,453 --> 00:14:01,286
Aqui, � atrav�s do barulho do v�deo.
187
00:14:03,886 --> 00:14:05,253
Baby, yeah!
188
00:14:05,953 --> 00:14:08,252
Outro tipo de chuva visual,
189
00:14:08,353 --> 00:14:13,119
em seguida quem usa o fone,
Angela Bassett, est� em um carro.
190
00:14:13,653 --> 00:14:15,852
A c�mera se movimenta
em un�ssono com a cabe�a.
191
00:14:15,953 --> 00:14:18,852
Ela v� o que a observadora v�.
192
00:14:18,953 --> 00:14:20,953
Puro ponto de vista.
193
00:14:21,619 --> 00:14:26,086
Roubado, talvez,
ou monetizado, ou voyeurista.
194
00:14:28,701 --> 00:14:33,068
A pol�tica do ponto de vista,
da excita��o emprestada.
195
00:14:33,169 --> 00:14:34,618
Ai, porra!
196
00:14:34,719 --> 00:14:36,818
Cara, fica de boa, Jeriko, fica de boa.
197
00:14:36,919 --> 00:14:40,552
O ponto de visa � a observa��o
por procura��o, por substitui��o.
198
00:14:40,653 --> 00:14:43,252
Uma met�fora para o cinema em geral.
199
00:14:43,353 --> 00:14:47,753
Quando vemos um filme,
estamos botando o fone.
200
00:14:48,186 --> 00:14:49,553
Sem problema!
201
00:14:51,719 --> 00:14:53,952
Sabe como �, se n�s ficarmos
de boa, eles ficam de boa.
202
00:14:54,053 --> 00:14:56,818
T� ligado? N�o quero problema,
n�o posso me meter em encrenca.
203
00:14:56,919 --> 00:14:58,120
100%.
204
00:15:04,303 --> 00:15:10,576
O POV material, o POV visual,
o POV sonoro, o POV inconsciente,
205
00:15:10,677 --> 00:15:16,110
o POV do nosso olho interno
e a pol�tica do ponto de vista.
206
00:15:16,550 --> 00:15:19,669
Nossas duas �ltimas cenas s�o o inverso.
207
00:15:19,770 --> 00:15:23,003
S�o sobre n�o querer ver.
208
00:15:23,349 --> 00:15:25,769
Em primeiro lugar, �O Babadook�.
209
00:15:25,870 --> 00:15:27,925
No cap�tulo 10, sobre jornadas,
210
00:15:28,026 --> 00:15:31,459
vimos essa mulher num acidente de carro.
211
00:15:31,703 --> 00:15:37,603
Seu marido morreu,
mas ei-lo perante seus olhos.
212
00:15:38,236 --> 00:15:39,670
Ou ser� que est�?
213
00:15:40,236 --> 00:15:42,136
Ela se afasta dele.
214
00:15:43,403 --> 00:15:48,636
A� corta pra o POV dela, e ele �
iluminado como �O Poderoso Chef�o�.
215
00:15:49,436 --> 00:15:51,869
-Acho que vai chover.
-N�o.
216
00:15:51,970 --> 00:15:54,802
A voz dele � monstruosa.
217
00:15:54,903 --> 00:15:56,369
Ela corre.
218
00:15:56,470 --> 00:15:59,170
A casa est� tendo um ataque epil�tico.
219
00:16:17,792 --> 00:16:20,425
Em seguida, esse POV aterrorizante.
220
00:16:34,341 --> 00:16:38,502
O marido dela est� morto.
E ela teme encarar isso.
221
00:16:38,603 --> 00:16:39,969
Olha s� isso.
222
00:16:40,070 --> 00:16:43,272
Ela sente medo de seu
pr�prio ponto de vista.
223
00:16:43,373 --> 00:16:46,139
Ela o bloqueia na porta com uma cadeira.
224
00:16:48,247 --> 00:16:49,880
Mas ele � invasivo.
225
00:16:50,365 --> 00:16:54,951
A verdade, a tristeza, o fato
226
00:16:55,052 --> 00:16:58,049
obsceno de t�-lo visto morrer.
227
00:16:58,498 --> 00:16:59,964
� a agonia dela.
228
00:17:00,065 --> 00:17:02,532
Corta-a como m�os de tesoura.
229
00:17:02,898 --> 00:17:05,665
A besta a tortura.
230
00:17:06,398 --> 00:17:08,965
A besta daquilo que ela devia encarar.
231
00:17:21,565 --> 00:17:26,398
E, afinal, o que essa jovem
n�o quer encarar?
232
00:17:26,998 --> 00:17:30,628
Sua irm� mais velha est�
transando no mesmo quarto.
233
00:17:30,729 --> 00:17:32,829
Est� perdendo a virgindade.
234
00:17:33,365 --> 00:17:36,432
Ela acaba de dizer �estou com medo�.
235
00:17:36,932 --> 00:17:40,297
A garota mais nova virou-se,
fechou os olhos,
236
00:17:40,398 --> 00:17:43,103
afundou o ouvido direito no travesseiro.
237
00:17:43,204 --> 00:17:46,304
Ela desesperadamente
se recusa a ver e ouvir.
238
00:17:48,132 --> 00:17:50,112
A diretora Catherine Breillat
239
00:17:50,213 --> 00:17:53,946
captura sua recusa absoluta
de um ponto de vista.
240
00:17:57,432 --> 00:18:02,332
� for�a, � irreversibilidade, � dor.
241
00:18:09,326 --> 00:18:12,825
O ponto de vista nos deixa pr�ximos
psicologicamente a um personagem,
242
00:18:12,926 --> 00:18:15,858
mas, claro, h� outro tipo
de proximidade no cinema.
243
00:18:15,959 --> 00:18:19,091
Sua maior e mais ousada proximidade.
244
00:18:19,192 --> 00:18:23,026
16 - O CLOSE
245
00:18:23,959 --> 00:18:27,642
Closes normalmente est�o
ligados a um ponto de vista,
246
00:18:27,810 --> 00:18:29,600
como vemos aqui.
247
00:18:29,701 --> 00:18:32,301
Outro filme de Catherine Breillat.
248
00:18:35,626 --> 00:18:39,159
A adolescente Alice est�
na serraria de seu pai.
249
00:18:39,721 --> 00:18:44,037
Os buracos na madeira criam
fendas, lugares por onde se olhar.
250
00:18:44,325 --> 00:18:47,122
Ela v� o Jim, que trabalha l�.
251
00:18:47,223 --> 00:18:50,623
Olha sua cintura, sua virilha.
252
00:18:55,326 --> 00:19:01,371
Breillat usa o close para mostrar
os peda�os do mundo, e dele,
253
00:19:01,472 --> 00:19:03,906
que chamam a aten��o dos olhos de Alice.
254
00:19:10,906 --> 00:19:13,791
O close como um zoom psicol�gico,
255
00:19:13,892 --> 00:19:17,259
a amplia��o de coisas que a atraem.
256
00:19:24,559 --> 00:19:26,615
Para al�m das tomadas
de ponto de vista, por�m,
257
00:19:26,716 --> 00:19:31,058
closes no cinema, na forma mais
simples, nos mostram detalhes.
258
00:19:31,159 --> 00:19:33,226
A maneira como as coisas s�o feitas.
259
00:19:34,392 --> 00:19:39,059
Esse � o filme �Ado��o�,
da h�ngara M�rta M�sz�ros.
260
00:19:39,992 --> 00:19:42,759
A personagem principal
trabalha nessa f�brica.
261
00:19:43,292 --> 00:19:46,092
Vemos como as mulheres lixam a madeira.
262
00:19:50,192 --> 00:19:53,058
Vemos a pele rachada de seus cotovelos.
263
00:19:53,159 --> 00:19:54,858
Suas m�os nodosas.
264
00:19:54,959 --> 00:19:57,292
O aspecto f�sico do trabalho delas.
265
00:19:57,926 --> 00:20:00,327
A c�mera, como microsc�pio,
266
00:20:00,428 --> 00:20:03,694
mostrando-nos coisas que,
de outro modo, n�o ver�amos.
267
00:20:13,892 --> 00:20:16,708
Mais tarde, no mesmo filme,
h� um casamento.
268
00:20:16,833 --> 00:20:19,958
Parte � filmado em plano aberto,
como seria de se esperar,
269
00:20:20,059 --> 00:20:22,659
mas a� a c�mera come�a a se aproximar,
270
00:20:24,892 --> 00:20:28,959
para mostrar o que est�
por baixo da festa, da reuni�o.
271
00:20:35,459 --> 00:20:38,426
L�grimas. Outro microsc�pio.
272
00:20:38,926 --> 00:20:43,026
Nenhuma outra forma de arte
mostraria l�grimas t�o grandes.
273
00:20:43,626 --> 00:20:47,926
Na tela grande, uma l�grima
pode cair um metro.
274
00:20:48,459 --> 00:20:52,259
Uma amplia��o �nica na cultura visual.
275
00:21:12,859 --> 00:21:15,058
E por falar em amplia��o...
276
00:21:15,159 --> 00:21:18,458
A Austr�lia no fim da era muda.
277
00:21:18,559 --> 00:21:23,324
A atriz Isabel McDonagh tenta
tirar dinheiro de uma fam�lia rica.
278
00:21:23,425 --> 00:21:25,958
Ela usa um v�u, plano m�dio.
279
00:21:26,059 --> 00:21:27,824
Nada de close, ainda.
280
00:21:27,925 --> 00:21:31,524
A v�tima de seu plano,
interpretado por Joseph Bambach.
281
00:21:31,625 --> 00:21:32,858
Ele olha.
282
00:21:32,959 --> 00:21:34,591
Aproxima-se dela.
283
00:21:34,692 --> 00:21:36,124
D�cor vitoriano.
284
00:21:36,225 --> 00:21:39,191
Talvez mais europeu do que australiano.
285
00:21:39,292 --> 00:21:43,924
Tomadas escritas, produzidas
e dirigidas pela irm� Paulette.
286
00:21:44,025 --> 00:21:45,824
E a�... Uau!
287
00:21:45,925 --> 00:21:47,525
Esse close.
288
00:21:49,625 --> 00:21:52,824
Um momento, uma elipse de olhos.
289
00:21:52,925 --> 00:21:54,958
Ela est� chorando?
290
00:21:55,059 --> 00:21:58,192
H� um elemento alem�o nessa cena?
291
00:21:59,492 --> 00:22:01,209
Depois das irm�s McDonagh,
292
00:22:01,310 --> 00:22:05,609
cujos filmes foram sucessos
maiores do que os de Carlitos,
293
00:22:05,710 --> 00:22:09,709
demoraria 40 anos para uma australiana
294
00:22:09,810 --> 00:22:12,643
dirigir um filme de est�dio.
295
00:22:22,139 --> 00:22:25,042
Voltamos ao belo document�rio
de Pirjo Honkasalo,
296
00:22:25,143 --> 00:22:28,009
�The 3 Rooms of Melancholia�.
297
00:22:28,110 --> 00:22:30,375
Um menino checheno na cama.
298
00:22:30,476 --> 00:22:32,876
Ele est� rindo ou chorando?
299
00:22:36,816 --> 00:22:38,809
E o som de ca�as de guerra.
300
00:22:38,910 --> 00:22:44,809
Em seguida corta para um longe,
t�o longe e t�o perto.
301
00:22:44,910 --> 00:22:46,943
E de volta para os meninos.
302
00:22:53,824 --> 00:22:56,807
Essa sequ�ncia parece ser
sobre a dist�ncia,
303
00:22:56,910 --> 00:23:00,776
mas a diretora Honkasalo
permanece bem perto.
304
00:23:39,747 --> 00:23:41,647
Uma galeria de rostos.
305
00:23:42,069 --> 00:23:43,475
Crian�as �rf�s.
306
00:23:43,576 --> 00:23:46,175
Filmadas em �ngulo um pouco baixo.
307
00:23:46,276 --> 00:23:49,676
Cortes de closes do rosto humano.
308
00:23:50,006 --> 00:23:52,506
Algo extremamente cinematogr�fico.
309
00:24:06,617 --> 00:24:08,972
A China nos anos 1970.
310
00:24:09,073 --> 00:24:13,273
Uma jovem estudante foi enviada
para viver com um pastor.
311
00:24:14,206 --> 00:24:15,606
Close dele.
312
00:24:16,653 --> 00:24:18,900
A m�sica orquestral sobe.
313
00:24:22,148 --> 00:24:23,981
O cl�max do filme.
314
00:24:24,448 --> 00:24:26,113
Agora, close nela.
315
00:24:26,214 --> 00:24:28,781
Para que n�s n�o percamos a emo��o.
316
00:24:29,314 --> 00:24:33,714
S�o duas pessoas em um
pequeno mundo dram�tico.
317
00:24:34,148 --> 00:24:37,014
Mas a arma dele est�
apontando para os p�s dela.
318
00:24:44,281 --> 00:24:46,247
Ela quer que ele atire
nos dedos de seus p�s,
319
00:24:46,348 --> 00:24:49,413
pois ouviu dizer que isso
a levaria de volta pra casa.
320
00:24:49,514 --> 00:24:51,548
Em seguida, closes de novo.
321
00:24:52,148 --> 00:24:54,713
A diretora Joan Chen era atriz,
322
00:24:54,814 --> 00:24:58,115
mas ficou cansada de fazer
papel de beleza ex�tica,
323
00:24:58,216 --> 00:25:01,880
por isso faz uma cena melanc�lica
de closes mal-assombrados.
324
00:25:01,981 --> 00:25:05,348
Um sereno duelo � la Sergio Leone.
325
00:25:23,714 --> 00:25:26,714
E ent�o, o que faz a jovem?
326
00:25:27,581 --> 00:25:28,930
Tambores.
327
00:25:29,047 --> 00:25:30,681
Algo se aproxima.
328
00:25:31,214 --> 00:25:34,448
Ela tran�a os cabelos no estilo mao�sta.
329
00:25:34,781 --> 00:25:36,113
Um close ainda mais perto,
330
00:25:36,214 --> 00:25:39,314
e a imagem e o som
tornam-se mais melanc�licos.
331
00:25:52,665 --> 00:25:54,113
Um len�o vermelho.
332
00:25:54,214 --> 00:25:56,181
Ainda mais melanc�lico.
333
00:25:56,548 --> 00:26:00,214
O close nos mostra tudo o que importa.
334
00:26:00,681 --> 00:26:02,048
N�s vemos.
335
00:26:08,714 --> 00:26:10,114
Ele v�.
336
00:26:14,187 --> 00:26:16,187
A�, plano aberto por um momento.
337
00:26:16,848 --> 00:26:20,148
Mas a arma agora est� mirando mais alto.
338
00:26:40,374 --> 00:26:43,541
POV e detalhes reveladores.
339
00:26:44,147 --> 00:26:49,214
Os closes que vimos at� agora
se encaixavam nos filmes.
340
00:26:49,781 --> 00:26:51,746
Mas, na origem do cinema,
341
00:26:51,847 --> 00:26:56,080
diretores temiam que os closes
poderiam �quebrar� os filmes.
342
00:26:56,181 --> 00:26:57,947
Eles tinham raz�o?
343
00:27:02,047 --> 00:27:05,347
Nesse filme da pioneira
diretora Alice Guy-Blach�,
344
00:27:05,681 --> 00:27:09,081
uma mulher gr�vida rouba
o pirulito de uma menina.
345
00:27:14,614 --> 00:27:17,646
O PIRULITO DE UMA CRIAN�A
346
00:27:17,747 --> 00:27:20,547
E a� vemos esse close m�dio.
347
00:27:21,147 --> 00:27:23,380
A mulher n�o est� mais no parque.
348
00:27:23,481 --> 00:27:25,980
Ela est� em p� contra
um pano de fundo vazio.
349
00:27:26,081 --> 00:27:27,880
A ilumina��o mudou.
350
00:27:27,981 --> 00:27:30,897
O close est� em outro lugar.
351
00:27:31,082 --> 00:27:32,413
Em outro campo.
352
00:27:32,514 --> 00:27:34,914
A�, voltamos ao parque.
353
00:27:35,015 --> 00:27:38,515
O mundo real, o lugar do roubo.
354
00:27:40,691 --> 00:27:45,707
Agora um homem toma absinto
enquanto l� o jornal.
355
00:27:45,902 --> 00:27:47,936
A mulher gr�vida de novo.
356
00:27:48,214 --> 00:27:50,081
Ela deseja um gole.
357
00:27:50,481 --> 00:27:51,747
E ent�o?
358
00:27:51,900 --> 00:27:53,181
Voc� adivinhou.
359
00:27:53,282 --> 00:27:57,480
Estamos num close m�dio,
em outro lugar, outro campo.
360
00:27:57,581 --> 00:27:59,780
� o dom�nio do desejo.
361
00:27:59,881 --> 00:28:01,213
Freudiano, de certa maneira.
362
00:28:01,314 --> 00:28:04,413
Como os closes nos filmes
de Hitchcock s�o freudianos.
363
00:28:04,514 --> 00:28:05,846
Em seguida. Bangue.
364
00:28:05,947 --> 00:28:08,780
De volta ao mundo real,
ao mundo mais amplo.
365
00:28:08,881 --> 00:28:13,681
Os closes foram �quebras�,
incurs�es de outro lugar.
366
00:28:21,870 --> 00:28:23,498
Encontramos algo parecido
367
00:28:23,599 --> 00:28:26,413
na estranha ilha de Lucile
Hadzihalilovic de meninos
368
00:28:26,514 --> 00:28:29,081
e de mulheres aqu�ticas.
369
00:28:29,714 --> 00:28:31,381
Um imenso close.
370
00:28:31,947 --> 00:28:35,730
O movimento dos olhos nos dizem
que um menino est� sonhando.
371
00:28:35,997 --> 00:28:39,457
Em seguida, um close
ainda maior de uma lagarta,
372
00:28:39,558 --> 00:28:42,391
em tamanho microsc�pico,
para parecer um monstro.
373
00:28:44,388 --> 00:28:46,055
Um monstro marinho.
374
00:28:55,852 --> 00:28:58,752
A�, um olho como um planeta.
375
00:29:03,747 --> 00:29:06,014
Em seguida, o umbigo do menino.
376
00:29:06,381 --> 00:29:09,814
Os closes como port�es
para outros lugares.
377
00:29:20,194 --> 00:29:22,694
A� ele acorda.
378
00:29:24,429 --> 00:29:29,763
Em �Le Lit�, Marion H�nsel usa
esse close por outros motivos.
379
00:29:29,864 --> 00:29:31,080
As m�os de uma mulher.
380
00:29:31,181 --> 00:29:35,014
Mas, no pano de fundo, os sons
de seu parceiro adoentado.
381
00:29:35,781 --> 00:29:39,080
Ele est� morrendo,
mas os closes o excluem.
382
00:29:39,181 --> 00:29:41,046
O tiram do filme.
383
00:29:41,147 --> 00:29:47,347
A c�mera sobe um pouco,
mas continuamos nela e s� nela.
384
00:29:48,281 --> 00:29:51,913
O close nos for�a a entrar
no espa�o �ntimo dela,
385
00:29:52,014 --> 00:29:56,814
nos mantendo fora do quadro
mais amplo, da imagem agonizante.
386
00:30:05,847 --> 00:30:09,314
Os closes criam muitos
espa�os fora da tela.
387
00:30:23,657 --> 00:30:28,346
Aqui, Germaine Du Lac
nos d� um rosto de mulher,
388
00:30:28,447 --> 00:30:30,983
em seguida, um close
na sola dos seus sapatos,
389
00:30:31,084 --> 00:30:36,051
a� na perna da cadeira,
e de volta para a cabe�a dela.
390
00:30:43,206 --> 00:30:45,106
Em seguida, uma lesma,
391
00:30:49,181 --> 00:30:52,514
uma teia de aranha e padr�es.
392
00:30:53,214 --> 00:30:59,113
Junte closes assim e voc� cria
um mosaico, ou algo cubista.
393
00:30:59,214 --> 00:31:01,148
Fragmentos do todo.
394
00:31:01,249 --> 00:31:03,516
Elementos da abstra��o.
395
00:31:07,019 --> 00:31:10,386
Com frequ�ncia h� algo
abstrato em rela��o aos closes.
396
00:31:27,058 --> 00:31:30,513
Terminamos com uma cena
mais longa de closes,
397
00:31:30,614 --> 00:31:33,981
uma das mais tocantes
na hist�ria do cinema.
398
00:31:38,081 --> 00:31:41,781
Close de um homem abra�ado numa tora.
399
00:31:47,621 --> 00:31:49,055
Abre.
400
00:31:49,458 --> 00:31:50,723
Ah, n�o.
401
00:31:50,824 --> 00:31:54,723
Um enforcamento. Belarus
durante a Segunda Guerra Mundial.
402
00:31:54,824 --> 00:31:59,123
E uma das pessoas que ser�
enforcada � seu amigo Sotnikov,
403
00:31:59,224 --> 00:32:04,791
que vimos deitado no tren�,
na neve, no cap�tulo sobre POV.
404
00:32:08,891 --> 00:32:11,924
A m�sica tempestuosa de Alfred Schnittke.
405
00:32:14,391 --> 00:32:19,491
A tomada aberta �
quase teatro, ou um ret�bulo,
406
00:32:21,557 --> 00:32:27,124
e a� o close isola um dos
condenados pelos nazistas.
407
00:32:35,124 --> 00:32:38,257
Em seguida, essa mulher. L�grimas de novo.
408
00:32:38,891 --> 00:32:42,324
J� estamos pensando em
�O Mart�rio de Joana D�Arc�?
409
00:32:43,591 --> 00:32:48,791
A diretora Larisa Shepitko
sobe a m�sica em intensidade.
410
00:32:58,491 --> 00:33:01,057
A crian�a parece n�o acreditar.
411
00:33:07,557 --> 00:33:09,990
Em seguida, Sotnikov. Ainda mais perto.
412
00:33:10,091 --> 00:33:12,991
Telefoto. Isolado do mundo.
413
00:33:13,557 --> 00:33:18,807
A� vem esse zoom, do tipo
que nos aproxima de algo.
414
00:33:18,926 --> 00:33:21,708
Sotnikov olhando para o horizonte.
415
00:33:21,809 --> 00:33:25,575
Tentando focar em qualquer coisa
que n�o seja o que est� perto.
416
00:33:36,642 --> 00:33:38,742
Seus olhos acham um menino.
417
00:33:41,809 --> 00:33:44,109
Outro zoom que acaba em close.
418
00:33:51,762 --> 00:33:54,574
Em seguida, essa tomada de p�s balan�ando.
419
00:33:54,675 --> 00:33:59,142
O close nos desafia a imaginar
aquilo que n�s n�o vemos.
420
00:33:59,875 --> 00:34:01,309
Incr�vel.
421
00:34:01,775 --> 00:34:04,509
Agora, at� Sotnikov est� chorando.
422
00:34:14,807 --> 00:34:16,773
E a�, os nazistas.
423
00:34:54,732 --> 00:34:56,099
Brancura.
424
00:34:56,709 --> 00:34:58,009
Sinos.
425
00:34:58,709 --> 00:34:59,910
O menino.
426
00:35:29,075 --> 00:35:33,641
No �ltimo cap�tulo, os closes
�s vezes nos tiravam do filme,
427
00:35:33,742 --> 00:35:37,109
da sua flu�ncia, do seu naturalismo,
428
00:35:37,609 --> 00:35:41,209
levando para algo
mais intenso, mais �ntimo.
429
00:35:43,075 --> 00:35:45,708
Esse cap�tulo estuda esse tipo de fuga.
430
00:35:45,809 --> 00:35:48,008
� sobre realidades paralelas.
431
00:35:48,109 --> 00:35:49,875
Outros dom�nios.
432
00:35:52,223 --> 00:35:56,657
17 - SURREALISMO E SONHOS
433
00:35:58,075 --> 00:36:00,674
�s vezes, esse tipo de alteridade
434
00:36:00,775 --> 00:36:03,608
invade por alguns instantes
o mundo cotidiano.
435
00:36:03,709 --> 00:36:05,708
...que voc� acha que vai arremessar.
436
00:36:05,809 --> 00:36:06,941
Sou a favor de arremessar.
437
00:36:07,042 --> 00:36:08,474
Em �Quanto Mais Idiota Melhor�,
438
00:36:08,575 --> 00:36:11,008
Garth acaba de ver uma bela mulher.
439
00:36:11,109 --> 00:36:13,474
Ele est� prestes a entrar
em um estado on�rico.
440
00:36:13,575 --> 00:36:15,474
A diretora Penelope Spheeris
441
00:36:15,575 --> 00:36:20,108
satiriza o clich� de como filmes
sinalizavam uma cena de sonho.
442
00:36:20,209 --> 00:36:21,541
Por que n�o fala com ela?
443
00:36:21,642 --> 00:36:23,342
A tela tremida.
444
00:36:30,237 --> 00:36:32,074
E l� est� ela.
445
00:36:32,175 --> 00:36:35,609
E � como se Garth tivesse
tomado um choque el�trico.
446
00:36:37,275 --> 00:36:38,476
Gostosa
447
00:36:41,909 --> 00:36:43,209
Gostosa
448
00:36:44,842 --> 00:36:49,142
E voc� bem sabe que �
Sua destruidora de cora��es
449
00:36:50,409 --> 00:36:52,875
Gostosa, yeah
450
00:36:54,032 --> 00:36:56,799
� assim que ele acha que
um olhar sedutor parece.
451
00:36:57,475 --> 00:37:00,209
Esse � o seu eu idealizado.
452
00:37:03,609 --> 00:37:05,909
Quero levar voc� pra casa
453
00:37:07,942 --> 00:37:11,142
N�o quero lhe fazer mal algum
454
00:37:13,475 --> 00:37:16,709
Voc� ser� minha, toda minha
455
00:37:17,142 --> 00:37:19,642
Uau! Gostosa
456
00:37:20,875 --> 00:37:24,675
Aqui vou eu, baby, pra pegar voc�!
457
00:37:25,142 --> 00:37:27,509
E a� aquela tela tremida de novo.
458
00:37:28,909 --> 00:37:31,653
Telas tremidas s�o coisas
do passado agora, claro,
459
00:37:31,754 --> 00:37:34,174
mas cineastas sempre se interessaram
460
00:37:34,275 --> 00:37:39,141
na porta para um sonho, o ato
de mudar para um estado on�rico.
461
00:37:39,242 --> 00:37:41,208
Aproxime-se do quadro.
462
00:37:42,508 --> 00:37:45,675
Voc� j� o viu bem de perto?
463
00:37:46,842 --> 00:37:49,241
N�o estou falando de v�-lo
ao ponto de enxergar
464
00:37:49,342 --> 00:37:52,774
os rodopios e as pequenas
colinas e vales de tinta.
465
00:37:52,875 --> 00:37:56,307
Digo perto o suficiente para
chegar ao cora��o do pigmento.
466
00:37:56,408 --> 00:37:58,641
O segmento de Wendy Toye,
467
00:37:58,742 --> 00:38:02,175
no filme em epis�dios
�Tr�s Casos de Assassinato.
468
00:38:02,575 --> 00:38:03,874
Estamos em um museu.
469
00:38:03,975 --> 00:38:07,307
A narra��o em off sugere
um voo da imagina��o,
470
00:38:07,408 --> 00:38:10,307
uma imers�o, uma fuga.
471
00:38:10,408 --> 00:38:15,142
Avance sobre esses misteriosos
declives de n�voa rodopiante.
472
00:38:15,544 --> 00:38:19,277
�Avance sobre esses misteriosos
declives de n�voa rodopiante."
473
00:38:19,378 --> 00:38:22,178
Um convite para outro lugar.
474
00:38:23,530 --> 00:38:25,707
A� nos aproximamos de um batente.
475
00:38:25,808 --> 00:38:29,374
� isso que quero que voc� veja.
Pode se aproximar, por favor?
476
00:38:29,475 --> 00:38:30,941
Mais perto.
477
00:38:32,104 --> 00:38:34,707
� isso mesmo, agora olhe
para aquela porta.
478
00:38:34,808 --> 00:38:38,207
Voc� imaginaria que s� preciso
levantar a vareta, bater,
479
00:38:38,308 --> 00:38:39,575
e faria um som de...
480
00:38:44,505 --> 00:38:45,838
Um rangido.
481
00:38:47,071 --> 00:38:48,538
A porta se abre.
482
00:38:49,241 --> 00:38:52,375
E o vislumbre do outro lugar.
483
00:38:53,941 --> 00:38:56,774
Vamos entrar? N�o seja t�mido.
484
00:38:56,875 --> 00:39:00,308
S�o como Dorothy entrando em Oz.
485
00:39:07,073 --> 00:39:08,606
Essa � a minha casa.
486
00:39:15,239 --> 00:39:19,105
Em seu primeiro filme,
a ex-atriz bengali Aparna Sen
487
00:39:19,206 --> 00:39:20,873
tem uma cena parecida.
488
00:39:21,539 --> 00:39:26,306
A professora Violet Stoneham
sonha com seu tempo de crian�a.
489
00:39:26,806 --> 00:39:31,873
Ela perdeu o namorado, que,
na verdade, morreu na guerra.
490
00:39:32,473 --> 00:39:34,172
Ela v� essa casa.
491
00:39:34,273 --> 00:39:35,772
Al�vio.
492
00:39:35,873 --> 00:39:37,372
As luzes est�o acesas.
493
00:39:37,473 --> 00:39:39,139
Ele tem de estar l�.
494
00:39:40,006 --> 00:39:41,739
Agora ela est� na varanda,
495
00:39:48,139 --> 00:39:52,838
mas atr�s da porta n�o h�
namorado, n�o h� casa.
496
00:39:52,939 --> 00:39:54,172
As portas tremem.
497
00:39:54,273 --> 00:39:55,605
Uma ventania.
498
00:39:55,706 --> 00:39:59,273
E vemos um cemit�rio, a praia, o mar.
499
00:40:06,339 --> 00:40:08,405
Dorothy em Oz de novo?
500
00:40:08,506 --> 00:40:10,606
O port�o para um sonho.
501
00:40:30,006 --> 00:40:32,072
E que tal isso para um port�o?
502
00:40:32,173 --> 00:40:37,105
A cineasta-core�grafa-pensadora
ucraniana-americana Maya Deren
503
00:40:37,206 --> 00:40:40,973
aparece pela primeira vez
na nossa hist�ria.
504
00:40:41,473 --> 00:40:44,638
Ela se filma subindo em um toco de �rvore.
505
00:40:44,739 --> 00:40:46,306
A� corta.
506
00:40:46,839 --> 00:40:48,072
Uma toalha de mesa.
507
00:40:48,173 --> 00:40:49,572
As m�os dela.
508
00:40:49,673 --> 00:40:51,106
Um copo.
509
00:40:51,573 --> 00:40:54,339
E ela v�... um candelabro...
510
00:40:54,973 --> 00:40:57,573
e uma mesa de jantar cheia de fumantes.
511
00:40:58,139 --> 00:41:00,906
Que port�o ela cruzou?
512
00:41:01,439 --> 00:41:04,306
Que mundo ela escalou?
513
00:41:10,806 --> 00:41:12,639
Ela guia com o queixo.
514
00:41:15,106 --> 00:41:17,639
Mas os p�s ainda est�o no toco.
515
00:41:18,406 --> 00:41:20,139
M�os, joelhos,
516
00:41:24,373 --> 00:41:27,305
mas em seguida ela est� na folhagem.
517
00:41:27,406 --> 00:41:28,806
Rastejando.
518
00:41:29,706 --> 00:41:32,406
Esse sonho ocorre
em dois lugares simult�neos.
519
00:41:33,273 --> 00:41:36,739
O port�o continuamente
move em dire��o a si mesmo.
520
00:41:51,939 --> 00:41:54,339
Eis outro filme de Maya Deren.
521
00:41:56,506 --> 00:41:59,305
H� uma forma convencional
de filmar uma cena de escada,
522
00:41:59,406 --> 00:42:02,606
mas tamb�m h� a maneira
on�rica de Maya Deren.
523
00:42:03,939 --> 00:42:07,439
O mundo est� balan�ando
como um barco no mar.
524
00:42:08,039 --> 00:42:10,373
Ela segue algu�m de preto.
525
00:42:31,739 --> 00:42:34,506
A pessoa deixa uma flor.
526
00:42:37,306 --> 00:42:39,173
Deren mal consegue respirar.
527
00:42:44,573 --> 00:42:48,039
Medo ou desejo ou o il�gico.
528
00:42:55,973 --> 00:42:59,639
Em seguida, a pessoa
com a cara de espelho some.
529
00:43:00,773 --> 00:43:02,738
Em seguida, montagem percussiva.
530
00:43:02,839 --> 00:43:05,839
Deren est� embaixo,
em seguida em cima de novo.
531
00:43:17,972 --> 00:43:22,038
O arco de Wendy Toye,
de Aparna Sen, de Maya Deren.
532
00:43:22,839 --> 00:43:25,639
Mas o que acontece quando
n�s atravessamos o arco?
533
00:43:26,072 --> 00:43:29,272
Que tipo de surrealismo n�s encontramos?
534
00:43:31,072 --> 00:43:32,838
O surrealismo do desejo,
535
00:43:32,939 --> 00:43:36,971
nessa sequ�ncia de �Retratos
de uma Dama�, de Jane Campion.
536
00:43:37,072 --> 00:43:40,506
A �gua se dissolvendo sobre
o rosto de Nicole Kidman.
537
00:43:45,472 --> 00:43:48,605
Em seguida, uma m�o em torno
de seu quadril espartilhado.
538
00:43:48,706 --> 00:43:50,639
A liquidez do sonho.
539
00:43:51,672 --> 00:43:56,606
E, nesse devaneio, cortamos para
o que parece ser um filme mudo.
540
00:43:57,206 --> 00:43:59,439
Acelerado, pulando.
541
00:44:00,472 --> 00:44:03,505
7, 8, 9, 10...
542
00:44:03,606 --> 00:44:05,439
Com licen�a. N�o, n�o, n�o.
543
00:44:11,035 --> 00:44:12,301
Os olhos dela.
544
00:44:14,206 --> 00:44:15,538
O que eu queria dizer � que...
545
00:44:15,639 --> 00:44:17,006
Os l�bios dele.
546
00:44:17,144 --> 00:44:19,944
Em seguida, os l�bios
se tornam feij�es falantes.
547
00:44:20,872 --> 00:44:24,639
Estou absolutamente apaixonado por voc�.
548
00:44:26,339 --> 00:44:30,605
� uma americana no estrangeiro,
em terras ancestrais.
549
00:44:30,706 --> 00:44:33,238
Ouvindo desejos sussurrados.
550
00:44:33,339 --> 00:44:35,739
Estou absolutamente apaixonada por voc�.
551
00:44:38,572 --> 00:44:40,706
Estou absolutamente apaixonado por voc�.
552
00:44:43,006 --> 00:44:44,972
Absolutamente apaixonado por voc�.
553
00:44:45,672 --> 00:44:47,771
Estou absolutamente apaixonada por voc�.
554
00:44:47,872 --> 00:44:49,805
John Malkovich � um artista
555
00:44:49,906 --> 00:44:53,906
que parece conseguir sondar
a vida on�rica dela.
556
00:44:59,306 --> 00:45:03,805
Sally Potter tamb�m enxerga
algo on�rico no cinema mudo.
557
00:45:03,906 --> 00:45:07,039
Julie Christie � empurrada para um palco.
558
00:45:07,606 --> 00:45:09,805
Ela esteve tentando explorar seu passado,
559
00:45:09,906 --> 00:45:12,272
e descobrir algo sobre sua m�e.
560
00:45:13,039 --> 00:45:15,172
A maquiagem � estilizada.
561
00:45:15,772 --> 00:45:17,571
Em seguida, cortamos para a m�e dela.
562
00:45:17,672 --> 00:45:20,972
� como se ela estivesse em um filme mudo.
563
00:45:23,412 --> 00:45:26,930
Em seguida, essa tomada
alta e aberta mostra um palco,
564
00:45:27,031 --> 00:45:29,057
mas tamb�m um set de filmagens,
565
00:45:29,657 --> 00:45:31,427
como nas origens do cinema.
566
00:45:31,528 --> 00:45:33,416
Dois tipos de interpreta��o.
567
00:45:33,912 --> 00:45:36,428
M�sica como nos filmes mudos,
568
00:45:36,538 --> 00:45:40,502
e um sonho como aqueles em
que somos expostos num teatro.
569
00:45:58,724 --> 00:46:02,757
E ent�o, a Julie adulta parece
uma crian�a no colo de sua m�e.
570
00:46:03,390 --> 00:46:04,591
Uma regress�o.
571
00:46:08,557 --> 00:46:11,124
Em seguida, esses burgueses entediados.
572
00:46:11,924 --> 00:46:14,490
E a m�sica acrescenta algo � ansiedade.
573
00:46:15,490 --> 00:46:18,957
M�e e filha como bonecas
em uma casa de bonecas.
574
00:46:19,524 --> 00:46:22,024
E a� aparece o pai.
575
00:46:22,957 --> 00:46:24,757
Ele encontrou ouro.
576
00:46:36,357 --> 00:46:41,157
No filme �O Arco�, de Cecile Tang,
o surrealismo � religioso.
577
00:46:41,557 --> 00:46:43,190
Outro port�o.
578
00:46:43,790 --> 00:46:47,856
A diretora da escola, a sra. Tang,
anda em dire��o a um templo.
579
00:46:47,957 --> 00:46:49,889
Ou ela � puxada em sua dire��o?
580
00:46:49,990 --> 00:46:53,213
Um port�o para outro lugar, novamente.
581
00:46:53,524 --> 00:46:56,257
A� uma fus�o, e ela est� l� dentro.
582
00:46:57,124 --> 00:47:01,390
Um s�rie de fus�es,
de lapsos de consci�ncia,
583
00:47:07,557 --> 00:47:09,724
e a� ela parece se dividir.
584
00:47:14,157 --> 00:47:16,724
A religi�o como um tipo de surrealismo.
585
00:47:30,857 --> 00:47:33,856
Quando o conheci n�o fiz perguntas.
586
00:47:33,957 --> 00:47:36,156
Fui em sua dire��o.
587
00:47:36,257 --> 00:47:39,924
Um dia vi nos olhos dos outros
o que chamamos de �nosso amor�.
588
00:47:40,690 --> 00:47:43,971
Eu os vi brigando,
enquanto outros o bajulavam.
589
00:47:44,390 --> 00:47:47,523
Em �La Pointe-Courte�, de Agn�s Varda,
590
00:47:47,624 --> 00:47:51,573
outro aspecto da vida serve
como fonte para o surrealismo.
591
00:47:51,943 --> 00:47:55,156
A mulher foi enquadrada em
�ngulos retos para o rosto dele.
592
00:47:55,257 --> 00:47:57,089
A� veio o mar.
593
00:47:57,190 --> 00:48:01,257
Ela agora anda como se
estivesse em um sonho.
594
00:48:04,724 --> 00:48:08,124
A�, essa tomada estranha
de um p�ssaro empoleirado.
595
00:48:08,824 --> 00:48:10,756
Em seguida o homem contra uma parede,
596
00:48:10,857 --> 00:48:13,089
enquadrado na parte de baixo da tela.
597
00:48:13,190 --> 00:48:15,923
Voc� olha, embaixo do vidro.
598
00:48:16,024 --> 00:48:17,789
Voc� ama a mim, ou ao nosso amor?
599
00:48:17,890 --> 00:48:20,056
Olha pra mim! N�o pra ele!
600
00:48:20,157 --> 00:48:23,419
Em seguida, ela est� atr�s
de uma caixa, como que enterrada.
601
00:48:23,520 --> 00:48:25,908
Mas n�o com os mesmos olhos de antes.
602
00:48:28,657 --> 00:48:32,657
Um tracking para tr�s
e a caixa parece um caix�o.
603
00:48:34,190 --> 00:48:37,589
�ngulos on�ricos e centros de gravidade.
604
00:48:37,690 --> 00:48:40,190
O surrealismo do amor.
605
00:48:41,890 --> 00:48:45,289
Um estado on�rico religioso,
o surrealismo do amor.
606
00:48:45,390 --> 00:48:49,423
Em seguida... o surrealismo
de pesadelo da pol�tica.
607
00:48:51,823 --> 00:48:54,223
Mosquitos em um pano vermelho e branco.
608
00:48:54,857 --> 00:48:56,323
Zoom para fora.
609
00:48:59,557 --> 00:49:03,623
O mais temido s�mbolo
do terror na hist�ria europeia.
610
00:49:04,157 --> 00:49:06,823
Um X marca o lugar.
611
00:49:09,272 --> 00:49:11,205
E a� o freudismo.
612
00:49:14,123 --> 00:49:16,773
Ent�o, como com frequ�ncia
acontece nos sonhos,
613
00:49:16,899 --> 00:49:20,687
a dan�a est� fora do tempo, fora do ritmo.
614
00:49:20,788 --> 00:49:22,588
Um piano dissonante.
615
00:49:25,157 --> 00:49:28,223
Que m�sica eles ouvem,
que n�s n�o conseguimos ouvir?
616
00:49:31,890 --> 00:49:35,057
O que n�s podemos ver e eles n�o?
617
00:49:37,290 --> 00:49:39,356
-Voc� tamb�m � filiada ao partido?
-N�o.
618
00:49:39,457 --> 00:49:40,956
-Mas sua irm�...
-�.
619
00:49:41,057 --> 00:49:42,590
Posso v�-la de novo?
620
00:49:44,948 --> 00:49:46,497
Feliz...
621
00:49:46,623 --> 00:49:48,157
totalmente normal...
622
00:49:48,857 --> 00:49:51,056
Isso s� acontece nessa �poca,
623
00:49:51,157 --> 00:49:52,690
nesse pa�s.
624
00:50:00,823 --> 00:50:04,956
Combina��es incomuns
de coisas, pessoas e lugares
625
00:50:05,057 --> 00:50:07,390
criaram esses mundos.
626
00:50:10,157 --> 00:50:14,670
Na Bulg�ria dos anos 1960,
Binka Zhelyazkhova
627
00:50:14,771 --> 00:50:17,836
come�ou sua com�dia surrealista,
�The Attached Balloon�,
628
00:50:17,937 --> 00:50:20,137
com esse tipo de combina��o.
629
00:50:21,371 --> 00:50:23,103
Uma tomada externa do alto.
630
00:50:23,204 --> 00:50:26,371
O rel�gio interior fazendo
tique-taque na trilha sonora.
631
00:50:30,730 --> 00:50:32,230
Em seguida, galinhas.
632
00:50:51,748 --> 00:50:54,147
5 HORAS DA MANH� NO FUSO EUROPEU
633
00:50:54,248 --> 00:50:55,748
Galos cantam.
634
00:51:03,315 --> 00:51:06,148
Um homem sem camisa,
amedrontado, olhando pra cima.
635
00:51:20,915 --> 00:51:22,448
Em seguida, um trompetista.
636
00:51:30,728 --> 00:51:32,261
E uma bandeira.
637
00:51:32,648 --> 00:51:34,148
Batidas numa porta,
638
00:51:38,415 --> 00:51:39,815
uma m�scara de g�s,
639
00:51:46,848 --> 00:51:50,382
e um p�ster que parece dizer �shhhhhh�.
640
00:51:53,582 --> 00:51:56,981
A maior parte das coisas
vem do mundo acordado,
641
00:51:57,082 --> 00:52:00,764
mas sua inexplic�vel
combina��o, sua colagem,
642
00:52:00,920 --> 00:52:03,854
sugerem o aspecto il�gico do sonho.
643
00:52:09,048 --> 00:52:12,114
Baseia-se tamb�m
em estranhas justaposi��es,
644
00:52:12,215 --> 00:52:16,014
a tcheca Vera Chytilov�
em seu filme mais famoso,
645
00:52:16,115 --> 00:52:17,548
�As Pequenas Margaridas�.
646
00:52:17,882 --> 00:52:20,747
As duas jovens no filme marcham.
647
00:52:20,848 --> 00:52:24,015
Cadeados entrecortados ao ritmo
de uma banda de m�sica.
648
00:52:38,148 --> 00:52:40,048
Em seguida, imagens de decomposi��o.
649
00:52:45,548 --> 00:52:50,148
A� uma tomada de cima, como
aquela de �The Attached Balloon�.
650
00:52:51,382 --> 00:52:55,082
Um len�ol seguido por colagens r�pidas.
651
00:52:55,482 --> 00:52:58,782
Mais texturas, tecidos, cores e colagens.
652
00:52:59,982 --> 00:53:02,848
Campos coloridos de verde, rosa e azul.
653
00:53:03,915 --> 00:53:05,864
� como uma serigrafia.
654
00:53:06,005 --> 00:53:07,905
Surrealismo pop.
655
00:53:08,482 --> 00:53:12,582
N�o seja t�o mau comigo
j� que sabe o quanto amo voc�.
656
00:53:13,182 --> 00:53:17,648
O que ser� de n�s? O que ser� de n�s?
657
00:53:18,415 --> 00:53:20,547
O que ser� de n�s?
658
00:53:20,648 --> 00:53:23,864
O il�gico do surrealismo cinematogr�fico
659
00:53:24,099 --> 00:53:28,233
�s vezes funciona melhor
quando as coisas s�o s�lidas.
660
00:53:30,204 --> 00:53:32,271
Aqui literalmente.
661
00:53:32,915 --> 00:53:37,447
Passamos pelo elogiado 14� filme
da h�ngara M�rta M�zs�ros,
662
00:53:37,548 --> 00:53:39,047
�Di�rio Para Minhas Crian�as�,
663
00:53:39,148 --> 00:53:42,648
nos cap�tulos sobre
enquadramento e descoberta.
664
00:53:45,540 --> 00:53:48,528
Aqui ela corta da jovem
protagonista, Juli,
665
00:53:48,629 --> 00:53:50,729
para o que ela est� imaginando.
666
00:53:51,473 --> 00:53:53,706
O pai dela andando por um t�nel.
667
00:53:56,673 --> 00:53:58,573
Em seguida, essa coisa cavernosa.
668
00:53:58,906 --> 00:54:01,139
E a voz on�rica de uma crian�a.
669
00:54:01,240 --> 00:54:03,006
Papai!
670
00:54:04,840 --> 00:54:06,139
Papai!
671
00:54:06,240 --> 00:54:09,972
O contraste entre a voz e o que
notamos ser uma pedreira.
672
00:54:10,073 --> 00:54:11,840
Papai!
673
00:54:12,273 --> 00:54:13,573
E um homem.
674
00:54:14,473 --> 00:54:16,973
O pai dela, que era escultor.
675
00:54:17,606 --> 00:54:24,039
O pai de M�sz�ros era um escultor,
morto na Grande Purga de Stalin.
676
00:54:24,606 --> 00:54:28,638
Isso � um flashback de certa forma,
mas o lugar � sobrenatural,
677
00:54:28,739 --> 00:54:32,506
como fic��o cient�fica,
como �Guerra nas Estrelas�.
678
00:54:33,706 --> 00:54:35,906
A solidez de um sonho.
679
00:54:37,861 --> 00:54:39,938
Mas nessa cena surreal
680
00:54:40,039 --> 00:54:43,138
de �Evolution�, de Lucile Hadzihalilovic,
681
00:54:43,239 --> 00:54:48,339
s�o as coisas suaves, n�o as duras,
que criam a superf�cie on�rica.
682
00:54:49,806 --> 00:54:53,368
Uma mulher sai da escurid�o,
carregando um corpo.
683
00:54:53,469 --> 00:54:55,902
Luz amarela vinda de baixo.
684
00:54:56,406 --> 00:55:00,339
Suor no seu rosto e nos olhos sombrios.
685
00:55:00,839 --> 00:55:02,040
Vento.
686
00:55:19,773 --> 00:55:21,306
Os cabelos de um menino.
687
00:55:22,573 --> 00:55:24,172
Um pesadelo Pina Bauschiano
688
00:55:24,273 --> 00:55:27,206
de textura, cor e luz.
689
00:55:37,606 --> 00:55:39,905
Na Fran�a, no cinema mudo,
690
00:55:40,006 --> 00:55:44,306
Germaine Du Lac refinou
a suavidade dessa paisagem on�rica.
691
00:55:45,273 --> 00:55:49,105
Esse, seu 21� filme, foi feito
antes do cinema surrealista
692
00:55:49,206 --> 00:55:54,039
de Salvador Dali, Luis Bu�uel,
Man Ray e Jean Cocteau.
693
00:55:54,906 --> 00:55:56,505
Uma mulher casada e entediada
694
00:55:56,606 --> 00:55:59,872
chega a uma boate tem�tica
com d�cor de transatl�ntico.
695
00:55:59,973 --> 00:56:01,906
Close do violino.
696
00:56:02,439 --> 00:56:04,206
Fus�o para a mulher.
697
00:56:09,873 --> 00:56:11,806
Uma virada de cabe�a sonolenta.
698
00:56:14,971 --> 00:56:18,071
Uma lenta fus�o lyncheana para o mar.
699
00:56:20,406 --> 00:56:23,873
Nova fus�o para seu eu imaginado.
700
00:56:28,173 --> 00:56:30,339
Roupas e cabelos tremulando.
701
00:56:32,673 --> 00:56:35,306
Em seguida, um homem na n�voa.
702
00:56:35,773 --> 00:56:37,939
Nada concreto no devaneio.
703
00:56:38,373 --> 00:56:42,939
Nada de pedreira, ou melhor,
uma pedreira em seu inconsciente.
704
00:56:48,139 --> 00:56:52,106
Um homem bem arrumado, e o mar, de novo.
705
00:56:53,006 --> 00:56:55,306
Imagens chegando em ondas.
706
00:56:55,706 --> 00:56:57,873
O desejo chegando em ondas.
707
00:56:58,506 --> 00:56:59,739
Escaldantes.
708
00:57:05,773 --> 00:57:07,273
Uma vela tremulando.
709
00:57:23,590 --> 00:57:25,124
Em seguida, nuvens.
710
00:57:31,345 --> 00:57:33,512
Ela surge nas nuvens.
711
00:57:34,106 --> 00:57:36,239
Surrealismo celestial.
712
00:57:58,184 --> 00:58:00,634
E por falar em estranheza,
713
00:58:00,904 --> 00:58:03,572
no primeiro cap�tulo
sobre cenas de abertura,
714
00:58:03,673 --> 00:58:06,138
conhecemos uma mulher
e seu cachorro negro,
715
00:58:06,239 --> 00:58:08,839
no filme de anima��o de Alison De Vere.
716
00:58:09,673 --> 00:58:12,573
A essa altura, o caos se instalou.
717
00:58:13,373 --> 00:58:15,539
Est�o fora de uma pir�mide azul.
718
00:58:16,057 --> 00:58:18,090
O c�o agora parece eg�pcio.
719
00:58:18,826 --> 00:58:21,926
Ele tem uma chave que,
claro, abre a pir�mide.
720
00:58:29,073 --> 00:58:32,973
O lugar � barulhento,
como um templo budista.
721
00:58:43,951 --> 00:58:46,518
Em seguida, um cardume de olhos de Dali,
722
00:58:46,934 --> 00:58:48,800
�cones do surrealismo.
723
00:58:50,719 --> 00:58:54,702
Em seguida, uma naja budista, e um roubo,
724
00:58:54,806 --> 00:58:58,772
mas ela � picada e se transforma
numa bola cheia de crateras,
725
00:58:58,873 --> 00:59:02,739
que cai � terra na sala
de espera de um hospital.
726
00:59:03,404 --> 00:59:06,004
O cinema no limite do surrealismo.
727
00:59:06,404 --> 00:59:09,103
A �nica l�gica aqui � a l�gica on�rica,
728
00:59:09,204 --> 00:59:13,108
a imposs�vel fus�o de coisas
com outras coisas,
729
00:59:13,209 --> 00:59:15,076
uma sinestesia
730
00:59:15,304 --> 00:59:18,804
na qual as imagens parecem vir do som.
731
00:59:20,271 --> 00:59:22,871
Repeti��es. Doen�a.
732
00:59:24,504 --> 00:59:26,271
O c�o dela na parede.
733
00:59:26,604 --> 00:59:29,571
A iconografia ancestral da egiptologia.
734
00:59:31,737 --> 00:59:34,471
E a� o fim de todos os sonhos...
735
00:59:38,171 --> 00:59:39,671
um sarc�fago.
736
00:59:44,571 --> 00:59:47,737
A� ela sai novamente para o mundo real...
737
00:59:48,237 --> 00:59:49,937
mais ou menos.
738
00:59:59,504 --> 01:00:01,704
Tradu��o: RICARDO MOURA FERREIRA57719
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