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Você foi acusado.

Uma acusação de estupro, Rebecca,

três acusações de abuso sexual
de uma menor, Christina.

Não o quero castigar,

mas se não resolver isto na minha
cabeça agora, nunca serei feliz.

Ela afirma que ele abusou dela
no carro dele, durante três noites,

e todas essas afirmações são falsas.

Vamos dizer que eu dormi com ela.

- Dormiste com quem?
- Rebecca Thornton.

Eu sei o que sinto. Não é grande coisa,
mas é tudo o que tenho.

Bateram à tua porta nesse dia.
Interromperam-te a meu pedido.

Quem te bateu à porta?
Não foi um estafeta.

Podes fazer dinheiro.

- Podes fazer dinheiro comigo.
- Não farei.

Porque não quero a atenção.

Posso ir para casa, Pai?

És minha filha.

E não amo ninguém como te amo a ti.

Tens a certeza que não a magoaste?

Não o faria, tu sabes isso.

Já não sei se sei alguma coisa.

Um colega da polícia disse-me
uma vez que a única forma de separar

um inocente de um culpado era que
o culpado conseguia dormir na cela,

mas o inocente não.

Tens amigos na polícia!

Para onde estavas a olhar?

- Pela janela.
- Estavas com uma expressão intensa.

Volta para a cama.

Um hábito que data
dos meus dias de drogada.

Se alguém estivesse a pé e eu
consciente, eu também estaria a pé.

Em breve acabará tudo, Mãe.

Não devias ter vindo para casa.

Mr Finchley,
como se vai declarar em tribunal?

Membros do júri,
devem julgar este caso

com base apenas nas provas
que ouvirão neste julgamento.

Este julgamento apresentará provas
de uma alegada violação

e abuso sexual,
um tópico altamente emotivo.

Podem ter ouvido falar do réu,
um indivíduo muito conhecido.

Por isso, é essencial...

- Bela maquilhagem.
- O quê?

O júri.

Maioritariamente mulheres,
alguma etnia.

- É excelente.
- A sério?

Não queremos homens brancos.

- Por que não?
- Eles condenam.

Havia um sítio
onde parava sempre o carro?

Não, parava-o em sítios diferentes.

Estacionamentos para lojas de Do-It-
-Yourself, ou nas traseiras dos parques.

Sítios desertos.

- E o que acontecia então?
- Nós...

Ele gostava que eu pusesse
as mãos atrás das costas.

Ele gostava de me despir devagar,
o que num carro não era fácil.

E depois, mal ele estava ao rubro,
tudo se acabava depressa.

- Então, começava por lhe tocar?
- Sim, exactamente.

Desculpe, vou ter de ser específico.

Tocava-lhe nos seios, na vagina?

E no ânus.

Tocava-me muito no ânus.
Sempre gostou disso.

Chamava-lhe o meu botão de rosa.

E mais uma vez,
peço desculpa por perguntar isto,

mas tendo você 15 anos,
como era o seu desenvolvimento?

O meu corpo não tinha
o aspecto que tem agora.

- Desculpem.
- Prova 1, obtida pela acusação.

Esta era a sua fotografia
numa altura em que fazia babysitting

para Mr e Mrs Finchley, não é assim?

Desculpe. Sim.

Ele alguma vez comentou isso,
o aspecto do seu corpo?

- Não que me lembre.
- Mas ele ficava excitado por ele?

Pelo seu corpo?

- Sim.
- Os seus seios?

- Sim.
- A sua vagina?

- Sim.
- O seu ânus?

Sim.

Ainda me lembro da respiração dele.
Esse...

intenso som fanhoso.

O nariz dele por vezes assobiava.
Parecia um cavalo.

Você paga renda ou é dona?
Da sua casa, quero eu dizer.

Pago renda.

Uma renda cara em Londres,
neste momento.

Sim.

Mas recebe apoio
para os seus dois filhos?

Um recebe apoio, o outro...
O pai dele é menos... certo.

Então, o dinheiro é escasso?

O que tem isso a ver com o resto?

Quanto dinheiro lhe pagam
pela sua história, Christina?

Desculpe?

Pagam-lhe um exclusivo pela sua
história depois do julgamento acabar.

Quanto?

Tenho de responder?

Tem.

Trinta mil.

Dinheiro que mudará a sua vida.
Um sinal para uma casa.

Não vi como isso poderia
prejudicar alguém.

Vir ao tribunal, estar aqui,
contar à polícia,

mudou a sua vida.

Ele fez-me isto.

O dinheiro não é a razão de eu ter...

O problema é que, além de você
não se lembrar de pormenores chave,

nada disto poderia
ter acontecido no Chevy.

- Não compreendo.
- Ele não estava lá.

- Eu sei, mas...
- Você viu a foto dele no jornal.

Viu as outras infundadas alegações
contra ele.

Viu uma oportunidade.
Construiu uma história.

E procurou tirar lucros disso.

Estou a dizer a verdade.

Estou, sim.

Não tenho mais perguntas.

- Gosta de críquete, Marie?
- Não.

Em jogos de cinco dias,
no final dos jogos,

os peritos deliberarão
quem ganhou o dia.

Aqui o perito sou eu
e hoje ganhámos o dia.

Não lavei os dentes,
mas podes beijar-me se quiseres.

Não sabia que eras...

É uma coisa recente.

Asma tardia.

Estou a regressar à adolescência.

O meu peito fica apertado
depois do exercício.

Como te sentes?

Ok.

"OK!" É a tua resposta. "OK!"

É realmente assim que tu...
Ou foi só para mim?

- Estás desiludida?
- Não.

Não, é só porque foste tão educado.

Educado?

Julgo que essa terá sido provavelmente
a pior crítica que já tive.

- Mas gentil.
- Terias preferido que eu fosse mais...

animalesco?
- Não!

Não.

Quarenta anos, porra.

Esperei 40 anos por isto, porra!

Calculo que não terá valido a espera.

Valeu.

Carl... tenho de te perguntar uma coisa.

Se queres que eu repita isto, não sei
se terei a educação necessária.

Jerome diz que a Rebecca se recorda
dela e Paul terem sido interrompidos.

E acham que foi um estafeta.

Mas eu acho que foste tu.
Tu ias buscá-lo a meu pedido.

Porque a Dee estava no hospital
e eu pedi-te que o encontrasses.

Ou... tu ofereceste-te para o fazer.

Ouviste alguma coisa nesse dia?

Porque se ouviste, Carl,
tens de lhes dizer.

Quando prestares declarações,
tens de lhes dizer.

Foi há tanto tempo.

Tu lembras-te de alguma coisa.

Tu estavas lá.

Eu sei que estavas.

Quinze para... 54.

Dois por um par e um pelo valete.

Salva-me, Mãe,
o Pai quer ensinar-me "Cribbage".

Ideia do Jerome, fazer algo invulgar
todas as manhãs.

Para nos distrair a mente
do que está para acontecer.

Assim amanhã vou tentar persuadir
o Pai a andar de patins em linha.

Podíamos reconstituir juntos
anúncios de tampões.

Onde estavas, querida?

Posso fazer ovos, como petisco.

Acho que me fico pelos cereais.

Não, obrigada, Mãe.

Alguma vez te disse
que as manhãs te ficam bem?

Um dia de cada vez, é só.

Conheci-o num restaurante em Bedford.

Fui servi-lo

e depois, decidimos tentar segui-lo
mais tarde.

- Decidimos, quem?
- Eu e a minha amiga Grace.

Que morreu já?

Cancro.

- Onde o encontraram?
- Num pub em Bedford.

Desculpem.

Ele... Ela, Grace perguntou se
podíamos sentar-nos na mesa dele

e ele disse que sim e sentámo-nos
e ele ofereceu-nos bebidas.

- Ofereceu-vos bebidas?
- Sim, na verdade,

nós íamos oferecer-lhe as bebidas,
mas ele insistiu.

E disse, como piada,
que se pagasse com cheque,

o pessoal do bar ficava com o cheque
como autógrafo,

e que o segredo era não assinar
demasiados cheques, ou coisa assim.

- Que horas eram nessa altura?
- Quatro horas.

E depois ele convidou-a a ir
ao local das filmagens com ele?

Perguntou se eu queria ver
o local das filmagens.

Eles estavam a fazer outra coisa
com os actores secundários

e iriam fazer mais filmagens,
quando o sol se pusesse,

dele e de Karl,
e ele perguntou se eu queria ir ver.

E a Grace não foi consigo?

Ela não era fã dele, como eu era.

Eu disse-lhe que tinha um namorado.

Pensei que tinha sido clara quanto
à importância que isso tinha para mim.

Havia outras celebridades em que
você estivesse interessada, na altura,

além do réu?
- Não.

Não sou... Não era uma
dessas raparigas do tipo de ter fãs...

Não era nada uma dessas.

Era só o Paul Finchley?

Sim. Foi só ele, sempre.

Prova três, obtida pela defesa.

Reconhece a letra manuscrita?

- Sim.
- É a sua letra, não é?

- Onde encontrou isto?
- Leia a carta.

É mesmo uma carta de fã, não é?

Nela, você pede desculpa por não ter
ido a um dos eventos de fãs dele.

Até lhe diz que não voltará
a faltar a nenhum.

Eu era fã dele,
nunca neguei ser fã dele.

Você escreveu essa carta,
não escreveu?

É a sua letra e o papel é o mesmo.

- Reconheço o papel.
- E tem até a sua morada em cima.

Caso ele quisesse responder-lhe.

Ponho sempre a minha morada
nas cartas que escrevo.

Só quero isto bem claro,
Rebecca.

Esta carta é sua?

Não me lembro de a ter escrito,
mas acho que sim.

Prova 4, também obtida pela defesa.

- Reconhece a letra no envelope?
- Sim.

- É a sua letra, não é?
- É.

E o envelope condiz com o papel,
têm a mesma tonalidade de roxo.

- Sim.
- Vê o carimbo do correio no canto?

O que diz o carimbo?

Cinco de Novembro de 1994.

Um ano. Um ano inteiro depois
da alegada violação do meu cliente,

você escreveu-lhe extremamente
ansiosa por vê-lo outra vez.

Nem sequer pessoalmente,
mas num evento de fãs.

Não compreendo.

Pense nisso.

Veja se pode explicar.

Não estamos com pressa.

Não posso explicá-lo.

Esta é uma carta de alguém ainda
apaixonada por Paul Finchley,

não de alguém a reagir a uma violação.

Por que se chegou à frente,
quando o fez?

Foi a primeira a acusar Paul Finchley.

Por que se apresentou a fazer queixa?

A minha amiga morreu.

Se pudesse chegar-se à frente
para o microfone a ouvir, Mrs Thornton.

A minha amiga morreu.

A Grace morreu e...

Ela era a única pessoa que sabia e
sempre disse que eu devia fazer queixa

e por isso, quando ela morreu,
eu fiz à polícia.

- Nunca falou ao seu marido nisto?
- Não.

Deve ter sido um choque para ele.

Eu estive muito confusa
durante bastante tempo e...

Não sei por que lhe escrevi essa carta,

mas sei o que ele fez.
- O que você diz que ele fez.

Eu só...

Devo ter estado à procura
de alguma coisa dele ou...

Temos outras cartas que você
escreveu. Nenhuma delas pede nada.

Apenas exprimem devoção.

Eu estava obcecada por ele.

Acho que se pode ser abusada
por alguém e continuar obcecada...

Não estou aqui para a atacar, Rebecca.

Você não vendeu
a sua história ao jornal.

Mas eu sugiro que este caso é o
resultado de anos de confusão para si.

Paul Finchley admitiu
ter feito sexo consigo.

Ele não teve sexo comigo,
ele violou-me.

Agravado pelo facto
de você ter um namorado

e se ter sentido
um pouco envergonhada.

Não, não me senti envergonhada!

Senti-me destruída por ele
porque ele me violou.

Depois, foi para casa e as ideias
instalaram-se na sua mente,

essas ideias
contra as quais tentou lutar,

mantendo o contacto
com o meu cliente,

mas essas ideias
acabaram por a dominar...

Não, não me dominaram,
porque eu sei o que aconteceu!

Não estou a mentir.

Não tenho mais perguntas.

- Olá.
- Olá.

Vais entrar ou estás só
a rondar de forma suspeita?

Pois tenho estado a observar-te,
Tio Colin.

E tenho de te dizer,
preferia que não entrasses.

Sim, eles estão a falar,
a Mãe e o Pai,

e provavelmente precisam disso.
- Certo.

Volto noutra altura.

Ou podes fumar uma beata comigo.

Já não fumo. Ordens do médico.

Lembra-me para nunca envelhecer.

Não te preocupes.

Pelo modo como tu vives,
há poucas probabilidades disso.

- Amanhã, vais tu depor.
- Para mal dos meus pecados.

Chamado pela acusação
contra o seu próprio colega.

Só para verificar as datas
que eles dizem ser importantes.

Ainda não concordaram
em chamar o meu Pai a depor.

Ainda não?

O Pai quer depor,
acha que precisa de o fazer,

mas há discussões sobre isso...

não querem que ele acabe
a dar um tiro no pé.

Sempre tive inveja de ti, em miúda.

- A sério?
- Tu tinhas todo o tempo dele.

- Na verdade, não tinha.
- Pensavam nele e em ti, não em mim.

Tu estavas com ele, Karl "&" Paul.

Eu nunca podia estar.

Ainda é assim.

Calculo eu.

Sim.

Quando se pensa nele,
pensa-se em mim.

E vice-versa.

Na riqueza e na pobreza,
na doença e na saúde.

Para o melhor e o pior.

Certo.

Quarenta anos. Trabalhámos juntos
intermitentemente durante 40 anos.

Não nos últimos cinco,
mas nos anteriores 35.

Por que não trabalharam juntos
nos últimos cinco anos?

- Zangaram-se?
- Simples falta de contratos atraentes.

Soubemos que estávamos lixados
quando Milton Keynes quis

que fizéssemos um sketch
das irmãs feias da Cinderela.

Como categorizaria as vossas relações
nessa época?

Frutuosas. Não sei.

Trabalhamos bem juntos.

E gostavam um do outro?

Uns dias mais que outros.

Esses dias de filmagens
podem ser muito intensos, certo?

Os orçamentos foram sempre
modestos no trabalho que fizemos.

E quando não estavam em filmagens,
tinham os vossos trailers, certo?

Uma vez contratados, sim.

Quanto tempo passavam
no trailer um do outro?

Geralmente bastante.

Trabalhávamos nos guiões, fazíamos
ensaios privados, esse tipo de coisas.

E saberiam
quando cada um tinha visitantes, ou...?

Sim, mas a privacidade era possível.
Não dependíamos um do outro.

Para ser claro, caso o Paul levasse
mulheres para o seu trailer,

o senhor em geral saberia, não?

Em geral.

Ele levava muitas mulheres
para o trailer dele?

Ele era um mulherengo,
acho que isso já ficou claro.

Essa característica de mulherengo
alguma vez o incomodou?

Sim. Eu gostava da mulher dele.

Gosto da mulher dele.

Você era cúmplice de muitos momentos
na relação dele com mulheres?

Que intimidade julga o senhor
que tínhamos?

Se puder responder à pergunta.

Se fala de actos sexuais,

nunca o vi fazer nada
com mulher nenhuma.

Nunca ouviu nada
que não devesse ouvir?

Não.

Com quantas mulheres o viu,
diria o senhor?

Não poderia calcular.

E nunca viu uma mulher sair do quarto
dele num estado de aflição ou...?

Não.

- Parece inseguro.
- Não, não estou inseguro.

Mas posso dizer

que nunca vi nenhuma acção do Paul
ou de outra pessoa que sugerisse

que ele fosse capaz de violação.

Voltemos a Bedford...

Não me lembro de Bedford.

- Posso só...
- Sou um homem velho.

Tive uma vida ocupada.

Não me lembro de nada desse dia.

Acredite que tentei.

Lembro-me disto.

Não me lembro de muito,
mas lembro-me disto.

De me ver a barbear?

Barbear sempre me pareceu
um tipo peculiar de selvageria.

Cortar coisas em si próprio
usando tiras de metal.

E é estranho.

É estranho.

Sinto-me bem por aqui estar.

É bom tu estares aqui.

Tem de se acalmar. Não precisa
de adrenalina para esta.

Quer que peça ao Gerry
que vá buscar um chá de camomila?

Posso arranjar-lhe
um relaxante mais forte se preferir.

Um Xanax? Erva?

Eu fico bem.

Poderia falar com o meu marido
em privado, Jerome?

Está bem.

Duas coisas. Uma,
o Hamish é um cabrão persistente.

- Presta rasteiras. Não caia nelas.
- Farei os possíveis.

Duas, prepare-se
para uma surpresa negativa.

Não se deixe tentar
por retribuir à letra.

Ainda estou chateado por você ter ido
à polícia contar da Rebecca,

sem falar primeiro comigo.
- Entendido.

Erva oferecida legalmente!

Era o máximo, não?

Ele é muito competitivo.

Sim, escolhemos bem.

O Simon escolheu bem.

Pagamos bastante bem
pela tua inocência.

Por uma boa defesa, sim.

Eles destruíram aquelas mulheres ali.

Acho que ainda não ganhámos.

Há camadas em ti.

Há?

Tu não mentes.
Não acho que tu mintas.

Acho que acreditas em tudo.

Mas existes...

numa camada, muito puro.

Uma camada do bom marido,
a camada do bom homem.

E depois, há outra camada.

E nessa, és menos bom.

Mas tu
trata-las ambas separadamente.

E há ainda uma terceira camada.

E nessa,

és capaz de qualquer coisa.

Agora não é altura
de ter esta conversa.

Acho que o fizeste.

Acho, sim.

Vou daqui a pouco prestar declarações.
Achas mesmo que...?

Sê valente, Paul.

Tenta lembrar-te do homem que és,
tenta não mentir.

Olha através das camadas.

Tu nunca me amaste
como pensaste que me amavas.

O senhor mudou o seu relato
em relação a Rebecca Thornton.

- Mudei.
- Na sua entrevista, era muito claro

que não se lembrava dela.
O que lhe avivou a memória?

De repente veio-me à memória.
Não sei explicar.

A minha memória é assim.

- Fez sexo com muitas mulheres.
- Sim.

Quando é que era claro para si

que uma mulher queria
fazer sexo consigo?

Se alguém diz que não, eu paro.

Sempre o fiz e sempre o farei.

Isso é uma mulher que não consente.
Como sabe que uma mulher consente?

- Sei, e pronto.
- Sabe?

Que sinais lhe transmite ela?

Não sei descrevê-los.
É uma questão de linguagem corporal.

- Linguagem corporal?
- Sim.

Lembra-se que
linguagem corporal sugeria

que Rebecca Thornton
queria fazer sexo consigo?

Posso não ter referido bem,

mas sabe-se quando se beija alguém
se ela está a corresponder ao beijo.

E como decide
se alguém quer ser beijado?

Está a tentar levar-me
a contradizer-me.

Estou a tentar compreender.

Sente-se quando alguém quer
que a beijemos. Isso sente-se.

Então, o sexo com a Rebecca Thornton
começou consigo a "sentir"

que ela consentiria
que o senhor a beijasse?

- Sim...
- E depois do beijo, houve preliminares?

- Sim.
- Pois quando a beijou, ela beijou-o a si.

- Sim.
- Lembra-se dos preliminares?

Se bem me lembro, eu...

acariciei-a e despi-a.

Não, despi-a e depois acariciei-a
e depois ela despiu-me.

Acariciou-lhe o sexo
antes de ela tirar a roupa?

- Tanto quanto me lembro.
- Ela estava completamente nua.

Você estava vestido
e penetrou-a digitalmente.

- Tanto quanto me lembro.
- Ela reagia com prazer?

- Sim.
- E depois ela despiu-o?

Sim.

Gosta que uma mulher o dispa?

Não gosto que me dispam,
por isso me recordo.

- Porque ela insistiu.
- Não gosta que o dispam?

Não gosto do meu corpo.

É só o peso, ou há outras questões?

É só a gordura.

Então, ela despiu-o totalmente.

- E acariciou-o?
- Sim.

- Acariciou-lhe o pénis?
- Sim.

Pô-lo na boca?

Não que me recorde.

- Recorda-se se ela teve um orgasmo?
- Julgo que sim.

Recorda-se se ela parecia assustada
ou desorientada depois disso?

Não.

Não! Rimos depois disso juntos.
Por isso, isto não faz sentido.

E depois alguém bateu à porta do trailer
e me contou da Dee

e eu tive de sair.

O que o excita particularmente
no sexo, Mr Finchley?

Não posso especificar.

A violência no sexo excita-o?

Não.

Nem sequer violência consensual,
pancadas, puxões de cabelos?

- Não.
- Gosta de sexo com prostitutas?

Faz sexo com prostitutas,
Mr Finchley?

Desculpem, não sei onde o meu
erudito amigo quer chegar com isto.

Sim, faço sexo com prostitutas.

Meritíssimo, a defesa objecta a esta
linha de interrogatório da acusação.

Estou à vontade para responder
às perguntas dele.

Acho que o júri tem de ouvir a verdade.

Acho que eles precisam
de compreender que homem eu sou.

Alguma vez entra em role-play
ou jogos sexuais com prostitutas?

- Sim.
- Que espécie de jogos?

Sadomasoquistas? Acertei?

Ocasionalmente, gosta de bater,

de amarrar pessoas?

Sim, sadomasoquista, sim.

O sexo com as mulheres que não são
prostitutas nunca é violento,

mas o sexo com prostitutas pode ser,
por vezes?

- Elas consentem tudo o que acontece.
- O senhor paga-lhes para consentirem.

Mas com outras mulheres,
não há violência?

- Não.
- Não, o senhor tem um código.

Se pago, posso fazer o que quero.

Mas com outras mulheres,
não faço o que quero.

Sim.

Deve exigir restrição da sua parte?

É claro que gosta de violência no sexo,
senão porque pagaria por ele?

Não tenho relações sadomasoquistas
com mulheres que não são prostitutas.

- Você odeia mulheres, não é verdade?
- Não, não é.

- Deseja exercer poder sobre elas.
- Não desejo.

Sentir-se-á impotente no resto da vida

e quererá reafirmar-se
quando se trata de sexo?

Não.

Não tenho orgulho,

tenho vergonha.

Tenho vergonha...

do meu comportamento.
- A sua vergonha é um tema recorrente.

Já pensou,
em vez de se sentir envergonhado,

em talvez desafiar-se
para se comportar melhor?

O senhor não compreendeu
nada de mim.

Eu desafiei-me
para me comportar melhor.

- Está a zangar-se comigo.
- Não, frustrado.

- Frustrado?
- Sim, está a pintar-me como culpado,

e eu não sou.

E sim, isso frustra-me.

Mas também estou frustrado comigo
e envergonhado de mim mesmo,

pelo modo como me comportei.
- Sempre que fala de vergonha,

ou de danos, sabe que é
para a sua esposa que olha?

- A sério?
- Por que acha que isso é?

Força.

A minha esposa é uma mulher forte.

Ela sabe tudo o que fui.
Não lhe escondi nada.

Então, ela sabe o homem
que o senhor é?

Sabe.

Acho que por vezes não é
muito agradável para ela.

Por isso lhe peço perdão.

Ela sabe das prostitutas
e das outras mulheres?

- Ela sabe tudo o que é importante.
- Os abusos, as mulheres?

Ela não sabe desses
porque não existiram.

Deve ser muito complicado
ser casado consigo.

Sabe, durante muito tempo, sentia
que tudo isto se abatia sobre mim

com alguma espécie de crueldade.

Compreendo agora que não era assim.

Não sou um homem bom.

Tenho sido negligente com as pessoas.

Tenho sido um adúltero em série, tido
sexo que não devia com mulheres.

Todo este caso existe
por causa da minha negligência.

E quando olho para a minha mulher

compreendo

que de todas as pessoas nesta sala

ela foi a mais afectada por mim.

E lamento profundamente esse facto.

Farei melhor.

Mr Finchley, o senhor é
um violador em série,

um oportunista.

- Está enganado.
- Causou danos aos seus colegas,

à sua família mais chegada
e a mulheres que mal conhece.

Tudo porque não consegue controlar
o seu ódio às mulheres.

Não sou perfeito,

mas não fiz isto.

Um.

Dois.

Três.

Quatro.

Cinco.

Como vai? Bem?

À sua. Obrigado.

Adeus.

Seis.

Vocês, o júri, têm de decidir
se têm a certeza

que as queixosas
estão a dizer a verdade.

Se elas se esqueceram ou
não se lembram bem dos pormenores,

isso não quer dizer necessariamente

que se lembrem mal
de outros pormenores cruciais.

O que interessa é a questão central
que está à vossa consideração.

Que é, se a acusação
vos deu a certeza

de que Paul Finchley é culpado
dos crimes de que vem acusado.

Ora bem...

Aqui é onde acontece a magia.

Ora, temos aqui...

roupa interior suja, montes dela.

- Magia? Um pouco menos.
- Você é cómico.

Vamos ter de fazer
a nossa própria magia, não é? Assim.

Sim.

Olha, Sarah, mas por outro lado,

não me espanta, as vacas
são um bando temperamental.

Genial.

Tenho um namorado.

Eu tenho dez namorados.

Vamos deixar os namorados fora disto,
sim?

Não quero mesmo...

Não, obrigada.

Sou uma fã.

Eu sou um fã de si, querida.

Está a senti-lo?

Sem mais nem menos!

O presidente quer fazer
o favor de se levantar?

Quer responder à minha primeira
pergunta apenas com um sim, ou não?

O júri chegou a um veredicto
quanto a cada uma das acusações,

com uma decisão unânime?

Sim, chegámos.

Carl!

Carl, tenho de encontrar o Paul!

Ele está no trailer dele, vou buscá-lo.

Está com o director, julgo eu.
Eu vou buscá-lo, a correr.

Na primeira acusação,

consideram o réu culpado
ou não culpado?

Não culpado.

Na segunda acusação,

consideram o réu culpado
ou não culpado?

- Não culpado.
- Não!

Mr Finchley,

o senhor foi declarado não culpado
em todas as acusações.

Está livre de abandonar o tribunal.

Normalmente tenho um bom faro
para estas coisas.

O meu faro está morto, digo-te.

Morto.

Morte ao nariz dele!

As nossas testemunhas foram
muito melhores que as do outro lado.

Podia não significar nada.

Tudo o que fizemos,
tudo o que temos feito.

Mas teria significado,
se ele fosse culpado.

E para ti, e em especial para a Dee.

Nunca terias conseguido desvalorizá-lo.

Assim é provavelmente melhor.

E o que fazemos agora?

Já falei com o canal.

É claro que estão conscientes de que
têm poucas alternativas no assunto,

porque nós iríamos processá-los.

Mas as boas notícias são
que te querem de volta.

- Viste a Marie?
- Temos de falar de um livro.

Já tenho uns tipos a olhar
para essa hipótese comigo.

Sim... Tenho de encontrar a Marie.
Lee!

Prazer em ver-te.

Não o podia perder. Desculpa não ter
estado nas datas do julgamento.

Queria falar com o mundo
sobre o que diziam de ti.

- Olha para ti, um homem livre.
- Obrigado.

Eu sei que estou sempre a dizê-lo.

Você é um tipo
surpreendentemente astuto.

Pensei que seria mais fácil,
mas você tem boa postura.

Ele tem classe. É o que é, classe!

Tenho mesmo de encontrar a Marie.

Não falei com ela como deve ser
depois do veredicto.

Grande festa. Festa da liberdade.

"Eles podem levar-nos o país, mas
nunca poderão levar-nos a liberdade."

É assim, não é?

Bom espectáculo, diria eu,
tudo considerado.

Estás a roubar-me as falas.

Causaste grande impacto, ali dentro.

Pareces surpreendido.

Eu penso que teria votado não culpado.

- Viste a Marie?
- Não.

Estou feliz por ti, amigo.

Feliz por nós ambos.

Marie?

Marie?

Marie?

Bom trabalho, Pai.

Estou orgulhoso de ti.

Por que pedaço?

Por tudo.

Esta festa é um pouco
celebridástica demais, não é?

- Sim.
- Quem os convidou a todos?

Julgo que foi o Simon.

Procuro a tua mãe.

- O Jerome convidou-me a sair.
- O quê?

Sim!

Sim, também fiquei chocada.

Disse que não, que tinha muita coisa
na cabeça para resolver.

Boa ideia.

A questão, Pai,
é que eu compreendo a vergonha.

Eu sei que sim, querida.

Mas não tenho a certeza
se o que vejo em ti seja vergonha.

Não vamos fazer terapia familiar
no meu grande dia.

O teu apoio foi muito importante
para mim.

Estou-te muito grato.

Mas não voltes para trás, Dee.

Olha sempre em frente.

É esse o caminho.

Cozinha. Ela está na cozinha.

Marie?

Marie?

Marie?

Marie?

Marie?

Marie?

Marie?

Tradução e legendagem
Margarida Silva Dias

Ripadas por:
guardiao