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UMA S�RIE DOCUMENTAL ORIGINAL NETFLIX

Estava na casa do Fernando, pai da M�riam,
h� dez ou 12 dias, quando muito,

quando recebem um telefonema,

perto da meia-noite,
deviam ser cerca das 23 horas.

CASA DE JUAN IGNACIO BLANCO

A uma hora em que n�o � normal
o telefone tocar.

Subitamente, o Fernando
pousa o telefone e diz:

"Juan, veste-te. Temos de sair.

O padre ligou
e disse que tem algo para mim."

A igreja � perto da casa do Fernando,
a uns 300 ou 400 metros.

O Fernando entrou sozinho,
porque o padre assim pediu,

e saiu com um envelope

com um v�deo dentro.

O primeiro v�deo mostrava
a M�riam e a Desir�e em duas macas.

Diante delas,

estavam v�rias pessoas com um bisturi

a fazer uma pequena incis�o.

Eu fiquei chocado,

porque algumas das pessoas
que apareciam no v�deo

tinham relev�ncia social
e econ�mica impressionante

neste pa�s.

Era assustador ver o que eu estava a ver.

Se aquilo era verdade, desmoronaria tudo.

Estaria disposto a mostrar-nos esse v�deo?

Vou pensar nisso.

Hoje, no julgamento, tentou-se esclarecer

se a investiga��o
da Guarda Civil foi correta.

A a��o privada e a defesa
garantem que houve muitas irregularidades

e mant�m que uma m�fia poderosa
esteve por tr�s dos assassinatos.

3 JUL, 1997

Ponha-se diante do microfone
e diga o seu nome.

Vicente Rivas Nieto.

Foi citado como testemunha.

- Jura dizer a verdade?
- Sim.

Assim que tirei a fotografia 17,
tive de cal�ar luvas

e come�ar a trabalhar,
porque come�ava a ficar escuro,

as pessoas estavam cansadas
e tive de come�ar a cavar.

Pode explicar
porque n�o tirou mais fotografias

e a sua preocupa��o
foi ajudar a retirar os cad�veres?

Por causa das queixas de quem o fazia.
Estavam cansados.

N�o era necess�rio para a investiga��o
ter fotografias

dos cad�veres conforme estavam,
ao ser retirado

o primeiro, o segundo e o terceiro,
antes de algu�m lhes tocar?

N�o era conveniente ou necess�rio?

N�o � necess�rio.
Poderia ter sido conveniente.

AUDI�NCIA ORAL

Vou explicar a quem nos est� a ver

com um argumento que o Vicente Rivas Nieto
tem o descaramento de manter.

Tenho de o dizer nestes termos.
Ele foi l� como fot�grafo.

A dado momento,
quando os corpos v�o ser retirados,

diz que tem de largar a m�quina

e n�o tira mais fotografias
porque estavam todos cansados

e ele tinha de cavar.

Por isso, n�o temos fotografias
de como os cad�veres saem.

Porque, se eu ajudasse algu�m,

quando aparecesse o segundo cad�ver,
diria: "Um segundo, por favor."

Pegaria na m�quina e fotografaria.

N�o � justo que n�o possamos saber
o que estava naquele buraco

porque este senhor decidiu
por moto pr�prio n�o tirar as fotografias.

E depois, ap�s a exuma��o dos cad�veres,

ele tira muitas, tal como antes disso.

Os agentes funer�rios
ajudaram a retirar os cad�veres?

Sim, � verdade.

Ajudaram a retir�-los fisicamente,
mas n�o cavaram.

POL�CIA JUDICI�RIA

Quem estava a cavar

era o segundo-tenente
da unidade de Alzira, o motorista

e talvez outra pessoa e eu.
N�o havia mais ningu�m.

Concordo que eu poderia
t�-los mandado parar

e dito: "Esperem,
vou tirar mais fotografias."

Mas, quando est�s preocupado
que sejam as raparigas,

ou pareciam ser elas,

e tinham de ser retiradas...

N�o t�nhamos luz.
De noite, isto � ermo, n�o h� luz.

Talvez me pudesse
ter esfor�ado um pouco mais

e dito: "Parem todos
porque vou tirar fotografias."

Se cometemos um erro?
Sim, todos erramos muitas vezes.

Tenho de reconhecer isso.

Que se aproveitem disso, como fez
o Sr. Blanco ao longo de todos estes anos?

Vimos o tapete aqui.

Afast�mo-lo, removemos a terra

e, na manh� seguinte,
removemos mais um pouco de terra...

Quanto ao tapete, voc� reconheceu
que houve desinforma��o.

EX-INSPETOR

� uma vergonha.
Quatro anos sem o analisarem.

- E n�o encontraram nada.
- Posso?

Posso?

Algu�m publica num jornal
que h� um tapete persa.

- Voc� admitiu.
- No dia seguinte.

- Induziu-o em erro.
- No dia seguinte.

Qual erro? N�o sou induzido em erro
por informa��es ao acaso.

Quando viu aquilo publicado,
e acabou de o explicar,

pensou que havia um tapete persa,

logo, gente com grande poder econ�mico.

E depois, afinal, o tapete n�o � persa.

Quando conheci o Fernando Garc�a,

disse-me que queria ver um tapete persa.

Respondo-lhe que a �nica coisa
que conhe�o do que estava no buraco

� um tapete normal.

DIRETOR DA UCO

E ele disse que n�o era um tapete normal.

Era um tapete persa,
e at� me deu o nome e apelido do dono.

PAI DE M�RIAM

Uma das coisas que pedi
foi para ver o tapete. Queria v�-lo.

Ele ligou-me e disse que o tapete
de que eu falava, por lapso,

um sargento de Patraix
pensou que era lixo e queimou-o.

Teve alguma conversa com o Fernando Garc�a

em que disse terem desaparecido
ou sido queimadas provas?

- Absolutamente falso.
- Certo.

Recordo-me do dia em que, no tribunal,

foi mostrado o tapete
onde estavam os cad�veres.

Quando o tapete entra na sala,
o fedor era insuport�vel.

Quatro anos depois, cheirava a morte.
Muito desagrad�vel.

Eu tinha ido a um centro comercial

e tinham-me dado uma amostra de perfume.

Tirei-o e partilhei-o com toda a gente.

Todos n�s pusemos perfume no nariz.

J� tinha visto este tapete antes?

Pode tocar-lhe, se quiser.

De repente, tivemos... Pelo menos eu,

tive a no��o do que tinha acontecido
com aquele tapete.

Por exemplo, foi dito
que este tapete tinha desaparecido.

Foi insinuado que se perdera uma prova.

JORNALISTA CANAL 9

E a prova estava com o m�dico-legista

contratado pela a��o privada.

E dizer agora que foram encontrados
vest�gios de sangue e de s�men...

� dif�cil de compreender,
justamente quando come�a o julgamento.

O tapete estava com o Dr. Frontela.

Responderei ao que me perguntarem.

Enojavam-me, ao afirmarem
que n�o havia nada no tapete,

que o tinham analisado
e estava tudo bem. Ent�o, eu...

A primeira queixa
n�o era por n�o haver nada,

era por o senhor ter o tapete.

Eles perguntavam onde estava o tapete,
e o senhor n�o dizia.

Disparate...

N�o.

Ent�o, eu...

No in�cio, foi isso que aconteceu.

De todo.

Eles... Digo...

Foi dito que o tapete
tinha sido queimado no quartel de Patraix.

Mandaram o tapete
para o Instituto Nacional de Toxicologia.

E tiveram-no l�

uns meses, ou l� o que foi.
Depois, analisaram-no.

Da�, tinham de me mandar

todas...
- As amostras que pediu.

Entre elas, o tapete. Quando o analisei,

j� tinha descoberto que havia s�men
e muitas outras coisas.

Quando me faltava uma semana
para dar os nomes de quem l� esteve:

"Devolva o tapete imediatamente!"

Tive de o devolver.

Passamos � prova n�mero oito,
um tapete castanho-escuro.

- Dizem que n�o h� vest�gios...
- N�o h� vest�gios.

- ... de atividade de fosfatase �cida?
- N�o.

Contudo, houve outra an�lise

realizada ao tapete a 7 de maio de 1997.

Detetaram tr�s manchas
com alta atividade de fosfatase �cida

que poderiam ser manchas de s�men.

O perito que a realizou afirma
que existem vest�gios de s�men

que voc�s deixaram escapar.

Obter um resultado positivo
de presen�a de fosfatase �cida...

T�CNICA DO INSTITUTO DE TOXICOLOGIA

... n�o implica que provenha de s�men.

Vejo que a vossa an�lise realizada
tr�s meses ap�s a exuma��o

� diferente da an�lise
que o outro perito realizou

quatro anos depois.

Para mim, esse resultado n�o tem cr�dito.

Quando viram que eu tinha raz�o:
"Temos de... P�e-te a andar!"

Ent�o, n�o p�de concluir a investiga��o

porque o obrigaram a devolv�-lo?

N�o temos a certeza
de que era s�men, correto?

Eu tenho. Veja.

Veja esta cor violeta. Isto � s�men.

Havia uma grande fosfatase �cida,
mas nunca tinha sido analisada.

Mandei-lhes as amostras onde havia s�men.

E o violeta � s�men.

Por Deus, n�o me digam que n�o h� esperma!

Tal como quando referiu o s�men humano,

o mesmo perito que realizou esta an�lise
quatro anos depois, com laser,

disse que poderiam ser manchas de s�men.

Quando passa ao sangue, afirma

que estas gotas t�m a morfologia do sangue

e que faltam provas para confirmar
se se trata de sangue das v�timas,

mas afirma efetivamente que � sangue.

O s�men era uma probabilidade,
mas o sangue � quase uma certeza.

T�CNICA DO INSTITUTO DE TOXICOLOGIA

Ele pode detetar manchas,
mas tem de haver provas confirmat�rias.

Demora 24 horas a confirmar a presen�a
de hemoglobina ou prote�nas plasm�ticas.

Ent�o, se a an�lise foi feita
a 7 de abril de 1997,

suspeitando que houvesse sangue,

um teste de hemoglobina confirmaria isso
um ou dois dias depois?

Dois dias depois j� estaria.

E poderia t�-lo feito
muito antes do dia 12 de maio.

� claro.

A 12 de maio de 1997,
come�ou a audi�ncia oral.

O tapete foi devolvido ao tribunal
pelo Dr. Frontela a 9 de maio.

Teve 29 dias para confirmar
se havia s�men e sangue no tapete.

Envolveram tr�s cad�veres nesse tapete.

Tr�s cad�veres.

Os cad�veres decomp�em-se,
t�m feridas e s�men,

e n�o encontram nada?
Nem sangue nem s�men?

O Miguel Ricart � sempre preciso e claro
nas declara��es.

"O que mais recordo daquela noite
� a quantidade de sangue que havia."

Disse-o em todas as declara��es.

Ele � muito cred�vel em algumas coisas
e nada noutras.

Num local onde se infligem
120 les�es e mutila��es,

� poss�vel pensar

com l�gica
que n�o haja uma �nica gota de sangue?

� quase magia.

- � poss�vel n�o haver.
- Por favor!

- Vou explicar.
- Nem hesitou.

A grande maioria das feridas,

das les�es que elas apresentavam...

PORTA-VOS DOS M�DICOS LEGISTAS

... eram contus�es, que s�o les�es
que n�o sangram necessariamente.

As pessoas questionam-se,
e foi poss�vel comprovar,

se a les�o no peito,
que ter� sido feita com um alicate,

provoca ou n�o sangramento.
As pessoas acham que sim.

Essa les�o est� descrita nos tratados
de medicina legal como uma extra��o,

a qual se carateriza

pela aus�ncia de sangue no momento
da extra��o e durante alguns minutos.

Podem n�o sangrar.

O que as art�rias e as veias fazem

� retrair-se e reagir com uma contra��o.

O carro n�o tinha impress�es digitais.

Tamb�m � muito estranho,
porque, num carro onde isto ocorre,

deve haver impress�es digitais,
mas nenhuma foi encontrada.

Isso � tremendamente suspeito.

N�o � l�gico que tenham limpado o carro
t�o meticulosamente

que n�o haja vest�gios biol�gicos delas.

Se sabemos que o Miguel Ricart
era o condutor do carro

e o usava habitualmente,
tal como o Antonio Angl�s,

disso n�o h� d�vidas,

mas n�o se encontrou
um �nico cabelo do Miguel Ricart,

porque n�o podemos p�r a possibilidade

de o crime ter sido cometido
na casa de La Romana,

embora n�o tenham l� encontrado
cabelos do Miguel Ricart?

Eu comparo estes dois factos.

Um � indubit�vel,
o carro ser usado pelo Ricart.

Outra � d�bia,
se o crime foi cometido em La Romana.

Mas, se n�o encontraram cabelo num lado,

� poss�vel que n�o encontrem no outro.

Mas...

... voltamos a perguntar:
como n�o h� vest�gios de sangue?

Como n�o h� vest�gios de s�men?

E quem disse

que estes atos
foram realizados nos colch�es

que encontraram no dia da inspe��o?

O pr�prio Ricart disse:
"Estes colch�es n�o estavam assim."

O pr�prio Ricart disse
que, depois dos atos,

limparam e recolheram tudo o que havia.

Entre outras coisas,
onde est� o objeto rombo

de que fala, sem que a Guarda Civil
o tenha mencionado,

usado para realizar
os atos violentos contra estas pessoas?

Onde est�? Porque n�o poderia haver
outro colch�o que tenha sido levado?

N�O S�O NECESS�RIAS PROVAS BIOL�GICAS
PARA CONDENAR RICART

GARC�A PEDE PENA DE NOVE ANOS
E ANULA��O DO JULGAMENTO

MINIST�RIO P�BLICO E A��O POPULAR

INSISTEM EM CONDENA��O
DE 200 A 245 ANOS PARA RICART

O impacto medi�tico do julgamento
foi debatido no pr�prio tribunal.

Devo confessar que este julgamento
teve particularidades invulgares

e provavelmente ser� o in�cio,
espero que n�o,

de outro sistema,

porque fora desta sala chegou a ser dito

que se est�o a fazer
julgamentos paralelos.

Para mim, n�o o s�o.
Quando muito, s�o conspira��es paralelas.

Em Val�ncia,
chamam-me "carniceiro do Mississippi".

O c�rculo onde est�o os assassinos
s�o essas seitas sat�nicas.

A Confer�ncia Episcopal Espanhola
j� denunciou

que h�, pelo menos,
12 seitas sat�nicas em Val�ncia

que matam crian�as e fazem filmes.
- Certo, mas...

Podem ter sido detetadas,
mas n�o t�m que ver com este caso.

Nunca compreendi o esfor�o
para convencer a opini�o p�blica

de que elas pediram boleia.

Disseram que elas iam sozinhas,
mas, quando soube que h� mais gente,

porque o Frontela diz que h� mais gente,

procuraram mais dois tipos.

Param quatro tipos num carro

e elas: "Que tipos t�o porreiros!"
E entram no carro.

O relat�rio diz que foram mordidas
por animais com dentes grandes.

- Em teoria, foram despidas.
- Exatamente.

E lan�aram-lhes os animais

para que aquela gente desfrutasse
daquele espet�culo.

H� fortes ind�cios de que elas
tenham sofrido atos de canibalismo.

O Antonio Angl�s vai sempre com a To�i
e o Ricart fica sempre com a Desir�e.

E a M�riam,
n�o � por ser filha do Fernando

mas creio que � not�rio,
pe�o desculpa aos outros pais,

que � a mais atraente das tr�s,
fica sempre � espera.

� sempre assim em todas as declara��es.

Isso demonstraria
que a terceira pessoa em falta

� o l�der do grupo.

Porque � l�gico que o l�der do grupo,
o mais poderoso,

escolha a mais atraente.

Estaria disposto a mostrar-nos o v�deo?

18 DEZ, 2017
CASA DE JUAN IGNACIO BLANCO

Vou pensar.

Muito obrigado.

N�o, eu...

A pessoa mais interessada...

... sou eu.

� �bvio, n�o?

A quest�o � que tenho de pensar.
Fale dos v�deos � minha esposa.

- Ver� o que acontece.
- Ningu�m os vai ver.

Ningu�m poder� dizer
que viu uma �nica imagem do v�deo,

mas, se eu os vir e disser:

"Eu vi os v�deos
do Juan Ignacio Blanco e � verdade",

acho que mudaria tudo.

Obviamente, se eu morrer a dizer:

"Isto � o fruto
do trabalho da minha vida",

n�o poderia morrer mais satisfeito.

Este � o meu legado.

- Deixamo-lo pensar.
- Sim, voltaremos a falar.

N�o perderemos o contacto.

O julgamento de Miguel Ricart
pelo triplo homic�dio de Alc�sser

chega ao fim.

- Vai falar?
- Claro.

49.a SESS�O

Levante-se o arguido.

Tem algo a declarar ao tribunal

que o advogado de defesa n�o tenha dito?

Sim, eu s�...

... queria dizer que...

... parece que nos meios de comunica��o...

... se criou...

... uma grande expectativa
sobre o que eu iria dizer ou se...

N�o sei.

E n�o tenho...

... nada a dizer,
porque o meu advogado j� disse tudo.

S� quero dizer que sou inocente
e que estou de consci�ncia tranquila.

- � tudo, Merit�ssimo. Obrigado.
- Ent�o, sente-se.

Sess�o adiada at� � leitura da senten�a.

Quer falar � imprensa?

Esperem.

A partir de agora,
se me quiserem visitar na pris�o,

porque sei que insistiram em ir l�,

podem ir quando quiserem.

N�o pude aparecer
em nenhum meio de comunica��o por isso.

Foram ordens do meu advogado, mais nada.

- Miguel!
- Miguel, est� inocente?

- Jos�, o micro estava ligado?
- N�o.

- Porra!
- N�o estava ligado.

Na minha opini�o, ele devia ser prudente.

E um dos sinais de prud�ncia
� a conten��o nas declara��es.

N�o quero fazer nenhuma declara��o.

30 JUL 1997

Mais not�cias de Espanha...

4 SET, 1997

... 36 dias ap�s o fim do julgamento,
o tribunal proferiu a senten�a.

Ao meio-dia, uma das senten�as
mais esperadas da hist�ria penal espanhola

� proferida.

O Tribunal de Val�ncia
foi tomado pela comunica��o social.

Condenado a 30 anos de pris�o
por cada um dos homic�dios

e a 20 anos

por cada um dos quatro crimes
de viola��o e rapto.

Miguel Ricart condenado a 170 anos
por rapto, viola��o e homic�dio.

O justo teria sido o tribunal
ter considerado as provas

e percebido que o Miguel Ricart
foi um mero pe�o.

Ser�o 30 anos.
Espero que os cumpra na �ntegra

e que n�o haja redu��o da pena.

Dizem que deve ser reduzida.

Quem fez tanto mal
n�o deve ter redu��o de pena.

Temos de continuar a investigar.
� o meu �nico desejo.

Que este apodre�a na pris�o
e que apanhem os outros.

H� um pormenor que,
pela primeira vez em quase cinco anos,

aparece por escrito.

H� magistrados que consideram
que houve mais envolvidos.

� talvez o pormenor mais importante.

O que consideram provado...

NO TRIBUNAL DE ALZIRA,
A INVESTIGA��O CONTINUA EM ABERTO

... � como ocorreram os factos.

Pela primeira vez,
fala-se da exist�ncia de mais pessoas.

SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTI�A

O julgamento acaba.

E creio que foi no dia seguinte

que fizeram uma confer�ncia de imprensa
onde apresentaram

a Funda��o Meninas de Alc�sser.

31 DE JULHO DE 1997

As pessoas ao meu lado
tamb�m me disseram...

O Fernando Garcia era o presidente,
um ou dois dos irm�os eram vogais,

os filhos, os pais da To�i,
e o Sr. Blanco era o secret�rio.

Entre todas as pessoas que estavam na rua,
uma senhora veio ter comigo,

abra�ou-me e disse:
"Tome isto." Tenho-a aqui.

"Leia esta carta em casa."

Quando cheguei a casa, abri a carta

e era isto que tinha para ler.
N�o posso evit�-lo.

Tenho uma guerra pela frente
que exige recursos econ�micos.

Quem me puder ajudar
e oferecer apoio volunt�rio

deve ter a certeza
de que pode confiar em mim.

E quem criticar esta a��o

ou o facto de eu gastar dinheiro
em alguma coisa,

f�-lo-ei de uma forma t�o transparente,

que quem ousar criticar
ir� parar ao tribunal.

E ent�o... N�o me interrompas.

Ent�o, vou dizer uma coisa.

Abri uma conta tempor�ria no Banesto,
em Alc�sser, com o n�mero 22.

Nesta associa��o, ajudaremos fam�lias

em caso de rapto ou homic�dio de um filho.

Ajuda jur�dica, psicol�gica...

A pergunta recorrente dos telespectadores

� quanto dinheiro existe.

O Fernando Garc�a disse
que revelaria mais tarde.

AJUDE-NOS
JUNTOS CONSEGUIMOS

- Vou dizer.
- � este o momento?

Foi feita uma confer�ncia de imprensa
no dia da cria��o da funda��o,

e creio que se referiu
que superava os 80 milh�es de pesetas.

- Setenta e oito milh�es.
- Setenta e oito milh�es de pesetas.

No dia em que se legalizou.

N�s entend�amos
que t�nhamos de continuar a trabalhar.

At� cheg�mos a ponderar

n�o procurar justi�a e sim vingan�a,

e tentarmos resolver n�s o assunto.

E pens�vamos que, tendo aquele dinheiro,

era o momento de nos organizarmos.

A ideia � de um trabalho
mais educativo, de apoio

e de consciencializa��o
dos problemas reais da sociedade.

N�o queremos converter-nos
numa segunda Pol�cia.

Muita gente pensa que vamos resolver
o que a Pol�cia n�o conseguiu.

Na confer�ncia de imprensa, deixei claro

que infelizmente
a m�e da Desir�e n�o aprova

que eu mencione a filha dela,

o que me entristece.

Ela disse:
"Os pais das raparigas somos n�s."

Este homem � pai
de uma das raparigas de Alc�sser.

As outras t�m os pr�prios pais,
e n�s n�o concordamos

com esta forma de atuar
nem queremos dinheiro."

Fernando, ningu�m me fez a cabe�a.

Eu tenho personalidade forte
e distingo o certo do errado.

M�E DE DESIR�E

Distingo o certo do errado.

Tu n�o queres compreender...

- Eu fa�o o que acho que tenho de fazer.
- Tamb�m eu.

Cheg�mos a um acordo.
Consistia em, durante o programa,

n�o pormenorizarmos as les�es,
porque n�o era necess�rio.

E �amos chamar aos cad�veres:

Cad�ver N�mero 1,
Cad�ver N�mero 2 e Cad�ver N�mero 3.

Mas, quando demos conta,

s� eu e o Olegari cumpr�amos.

Eles davam todos os pormenores,
mas curiosamente

mostravam sempre a mesma fotografia
da mesma rapariga.

Aquela com cujos pais se davam mal.

E o que fizeste no Mississippi?

Mostraste todas as fotografias
da minha filha.

Como os assassinos deixaram a minha filha.

Isso d�i muito a uma m�e. Doeu-me muito.

E ele sabe.

As pessoas n�o sabem
que era a minha filha.

Mas eu sabia.

E isso doeu-me muito.

QUE ACONTECEU EM ALC�SSER?

Em maio de 1998, Juan Ignacio Blanco
publicou Que Aconteceu Em Alc�sser?

Algu�m me disse
que ele estava a vender livros.

M�E DE DESIR�E

Porque est� a vender livros?
O Fernando queria criar uma funda��o.

Uma funda��o do Fernando Garc�a
e do Juan Ignacio Blanco? N�o.

A minha filha n�o estaria nessa funda��o.

Porqu�? Porque n�o acho
que sejam pessoas honestas.

Rosa Folch repudiou o uso do nome
"Meninas de Alc�sser" na funda��o.

Tamb�m repudiou a publica��o
do livro de Juan Ignacio Blanco

porque usara fotografias
da aut�psia da Desir�e sem consentimento.

O Secretariado de Assuntos Sociais
decidiu a favor de Rosa Folch

e rejeitou o registo
da Funda��o Meninas de Alc�sser.

Apesar de n�o estar legalmente registada,
as atividades da Funda��o prosseguiram.

O livro foi retirado do mercado
tr�s meses depois de ser publicado.

Dou-lhe a minha palavra

de que, daqui a sete dias,
responderei �s 27 perguntas que me faz.

Angl�s Martins e Cam� Real de Catarroja
s�o perfeitamente leg�veis.

Apesar da proibi��o,
Juan Ignacio Blanco ainda vende o livro

atrav�s das redes sociais
e em confer�ncias pelo pa�s.

A primeira pergunta � obrigat�ria.
O tema dos v�deos.

Alguma vez veremos esses v�deos
na televis�o ou noutros meios?

Tenho a obriga��o moral de revelar
os v�deos quando chegar o momento.

E ser�o revelados. Estou seguro disso.

O que obviamente n�o sei � quando.

N�o, podem contar... Vejamos.

A pessoa mais interessada...

CINCO MESES ANTES

... sou eu.

Obviamente, se eu morrer a dizer:

"Isto � o fruto
do trabalho da minha vida",

n�o poderia morrer mais satisfeito.

Deixamo-lo pensar.

Sim, voltaremos a falar.

N�o perderemos o contacto.

O que lhe posso dizer para...

Pode ajudar-me a convenc�-lo
de que: "Chegados a este ponto..."

H� seis meses que n�o atende.

Voc� conheceu-o. O que lhe posso dizer?

N�o sei.

- N�o sei.
- N�o faz ideia.

N�o fa�o ideia.

Fernando, temos a sensa��o...

Tenho a sensa��o de que ele tem
uma carta na manga e n�o a quer jogar.

� a sensa��o que tenho.

O problema, neste caso,

� saber qual �
o objetivo final da funda��o.

Porque esse dinheiro,
numa perspetiva de gest�o,

e esta � uma opini�o pessoal,

poder� ser investido, por exemplo,

em futuros julgamentos
por raptos e homic�dios.

Come�amos a saber que algumas pessoas,

m�es de raparigas assassinadas

em circunst�ncias estranhas
e descontentes com a investiga��o,

entram em contacto

com o Fernando Garc�a
e com o Ignacio Blanco.

E acabam por denunciar publicamente

que as enganaram

e alertam para n�o confiarem neles.

Foi o ponto de partida para vermos
o que se passava com a funda��o.

Disseram: "N�o vamos fazer milagres.

Vamos falar claramente, Manuela.

Para n�s te ajudarmos,
tens de depositar algum dinheiro,

e depois, quando te dissermos..."

Tinha de dar mais dinheiro.

E eu pergunto:
"Quanto dinheiro devo depositar?"

E ele: "Para come�ar, 500 000 pesetas."

Esta m�e nunca quis consultar no processo

as fotografias da aut�psia da filha.

Bem, esta mulher entrega-lhes o processo

e, certo dia, est� a ver televis�o em casa

e depara-se
com estes dois fulanos sentados

a falar do caso da filha dela.

A primeira coisa que v� s�o as fotos
de como encontraram a sua filha morta

e, em segundo plano, as fotos da aut�psia.

Ela disse que quase morreu, ao ver aquilo.

Vou ao canal 9
e falo com o diretor de informa��o.

"Tenho informa��o
de que a funda��o n�o existe.

Continuam a recolher dinheiro
e ningu�m fez nada."

Semanas antes do d�cimo anivers�rio
do desaparecimento das raparigas,

o Canal 9 deu luz verde ao programa:
Alc�sser: Vidas Marcadas.

Jer�nimo Boloix e Genar Mart�
foram os respons�veis pela investiga��o.

No fim do julgamento,
a minha rela��o com eles era m�.

Muito m�.

Com o Fernando...

... tremendamente m�,

seguramente por quest�es de personalidade.

Era �bvio que eu n�o podia
ir falar com o Fernando.

Tive imensas discuss�es
com o Juan Ignacio Blanco,

por�m, apesar de tudo,

consegu�amos ter
uma conversa profissional.

Outro jornalista encarrega-se
de contactar o Fernando

e de lhe pedir explica��es
sobre a funda��o e o dinheiro,

e eu encarrego-me de contactar
o Juan Ignacio.

Disse-lhe: "Juan Ignacio,
estive a investigar a funda��o.

N�o fizeram nada
e o dinheiro n�o aparece."

RESULTADOS

"Digo isto porque vamos fazer um programa

e tens explica��es a dar."

Sinceramente, pensei:
"Este tipo � um mentiroso.

Vai negar tudo,
por isso, tenho de ter uma prova."

Ent�o,

no departamento t�cnico do canal,

p�em-me uma c�mara oculta no casaco.

Chego ao caf�.

Preparo tudo
e coloco um bengaleiro aqui atr�s.

Tiro o casaco, penduro-o,

vejo e confirmo que...

Onde estava a c�mara?

Na casa de um bot�o.

VIDAS MARCADAS
EMITIDO 13 NOV, 2002

Levanto-me para o cumprimentar e digo:

"Como vamos abordar temas delicados,
vamos fazer isto bem.

Eu n�o confio em voc�s,

por isso, vou revistar-vos
para n�o me gravarem."

E revistei-os. Claro que a resposta foi:

"Tamb�m n�o confiamos em ti
e vamos revistar-te."

Encantado da vida.
Revistam-me e est� tudo bem.

Eles estavam tranquilos,
mas eu montara a c�mara uma hora antes.

Ele passou quatro anos e meio
a ganhar montes de dinheiro.

A funda��o vende
dois milh�es de pesetas em lotarias.

A funda��o fez muitas coisas,
n�o vendeu s� livros e CD.

A lista de atividades � impressionante.

Recebemos muito dinheiro por carta.

Eu passava horas a abrir cartas
com o Fernando. Eram milhares.

E quase todas as cartas tinham notas,
cheques ou dinheiro.

Como � �bvio,
n�o era depositado na funda��o.

E eu estive nuns 50 eventos...

Eventos que eram uma chatice.
Homenagens ao pai, � funda��o,

a um Pe�a Flamenca, �s Ursulinas, e tal.

Organizavam festas, eventos,
rifavam fallas, e coisas assim,

e toda a receita era dada ao Fernando.

O que nos surpreende � a crueldade
com que descreve o Fernando.

Garante-nos que podiam fazer
um grande trabalho social,

um grande trabalho profissional

e ganhar muito dinheiro, mas a trabalhar.

Mas as coisas correram mal

e ele n�o tinha visto um c�ntimo.

Desde que n�o tenhamos de roubar
nem matar ningu�m, tudo bem.

Mas n�o me digam que estamos aqui
a trabalhar como ot�rios para a funda��o,

dezasseis, 17 ou 18 horas
a uma mesa, todos os dias,

a assinar livros como palermas,
enquanto ganham tanto dinheiro.

Quando v�s que aquele dinheiro
n�o � depositado na funda��o,

a� d�s-te conta.

J� tendo a grava��o com o Juan Ignacio,
faltava o Fernando.

Prepara-se a opera��o
e vai o Genar com dois jornalistas.

Dizem-lhe que estamos
a preparar um programa

e descobrimos que a funda��o

que ele afirmou ter criado n�o existe,

e que ele continua a arrecadar dinheiro.

N�o tem quaisquer atividades,

mas o dinheiro j� desapareceu.

O dinheiro era meu.

Deram-mo.

Era meu. Se n�o me deixaram
criar a funda��o, n�o a criei.

Mas o dinheiro era meu.

A quem presto contas?

Ao Blanco, ou a quem?

� o que eu penso.

Se o tenho ou n�o, � problema meu.

Se quero gastar o meu dinheiro
numa festa ou poup�-lo, eu � que sei.

� meu. N�o tenho de dar
qualquer explica��o.

Digo-vos uma coisa.

N�o quero falar mais sobre isto.

Ap�s a emiss�o
de Alc�sser: Vidas Marcadas,

no dia seguinte,

o procurador-geral
faz uma confer�ncia de imprensa

e diz que, perante o esc�ndalo
da reportagem emitida pelo Canal 9,

o Minist�rio P�blico iria processar
aquelas pessoas por fraude.

ALC�SSER: FERNANDO GARC�A, S.A.

Fernando Garc�a e Juan Ignacio Blanco,

bem como os apresentadores
de Mississippi e El Ju� Del Cas Alc�sser,

foram alvo de processos
desde o fim do julgamento.

OFICIAL DA GUARDA CIVIL PROCESSA
GARC�A, BLANCO E TELECINCO

PROCURADOR-GERAL DE VAL�NCIA PROCESSA
FERNANDO GARC�A POR DIFAMA��O

JU�ZES DO CASO ALC�SSER
PROCESSAM GARC�A POR DIFAMA��O

3 JUN, 2009
12 ANOS DEPOIS

Blanco foi condenado a dois anos de pris�o
e multa de 350 000 euros.

Pensar que, no ano 2009,
por causa do que tenhas dito,

te condenem a estas penas de pris�o

� assustador.

Fernando Garc�a foi condenado
a multa de 285 000 euros por difama��o.

N�o cometi nenhum crime.

Dei as minhas opini�es
num momento dif�cil para mim,

mas era o corpo da minha filha.

Nunca conheci nenhuma das pessoas
que se sentem lesadas.

Tenho a consci�ncia tranquila
de que n�o ofendi ningu�m.

12 OUT, 2018

Subitamente, o Fernando
pousa o telefone e diz:

"Juan, veste-te, temos de sair.

O padre ligou
e disse que tem algo para mim."

A igreja � perto da casa do Fernando,
a uns 300 ou 400 metros.

O Fernando entrou sozinho,
porque o padre assim pediu,

e saiu com um envelope
com um v�deo dentro.

N�o � verdade.

Dizer que o padre deu um v�deo ao...

Como se chama? Fernando. � falso.

O padre disse-lhe que uma pessoa,

em confiss�o,

lhe dera aquele envelope

para ser entregue ao Fernando Garc�a.

N�o me deram nada.

Recebi um telefonema.
Falaram-me de uns v�deos.

"N�o." Parecia assustado.
Notava-se que estava nervoso.

Talvez estivesse drogado, ou algo assim,

ou seja um daqueles casos
em que d�o pistas falsas.

E, quando liga, eu digo: "Espere.

Tenho de falar com o Fernando."

E a minha miss�o foi p�-los em contacto.

- Ele ligou � hora...
- Que devia ligar.

Ligou �s 21 horas.

"Olha,

o Fernando j� aqui est�."

Passei-lhe o telefone,
mas ele j� tinha desligado.

E pronto. Foi s� isso.

Sa�mos de l� e passo a noite
com o Fernando, sem dormir,

� espera do momento
em que pud�ssemos usar o v�deo

para podermos ver o que tinha.

Fomos a casa de um dos irm�os do Fernando

e foi l� que vimos o v�deo.

Quem l� estava?

O Fernando Garc�a,
o irm�o dele e eu. Mais ningu�m.

- Nunca o vi.
- Certo.

- Nunca o viu?
- N�o.

H� coisas
que o Juan Ignacio nunca me contou.

Talvez porque...

N�o sei, mas h� coisas
que ele nunca me contou.

E tamb�m nunca perguntei

o que ele sabe realmente.

- Porqu�?
- Talvez porque ele me conhece.

Porque n�o lhe perguntou,
quando p�s a sua vida em risco?

Quando estou contigo, durmo contigo,
acordo contigo e n�o me contas,

n�o te quero pressionar.

Tem de vir da tua parte.

Ele sabe o que eu quero saber.

Compreende?

Interessa-lhe saber o conte�do
que ele diz que esse v�deo tem?

Ainda penso da mesma forma.
Se n�o trouxer nada de novo,

prefiro n�o ver.

E quem decide se traz algo de novo ou n�o?

Se houver l� gente
que eu possa identificar...

Ele diz que sim.

Ent�o, gostaria de o ver.

Juan Ignacio.

Antes de mais,

quero mandar-te cumprimentos,
porque te tenho em grande considera��o.

Estou aqui com o pessoal da Netflix.
Sabes que est�o a fazer um filme.

Um filme sobre o caso da minha filha e...

... da To�i e da Desi.

Cheg�mos � parte do famigerado v�deo.

Eles est�o a pedir

que te envie uma mensagem

para que, de alguma forma,

possamos ver o conte�do desse v�deo,

para ver se h� alguma forma

de clarificar tudo isto.

Sempre disseste
que eu n�o devia ver o filme.

Mas, tal como vi a aut�psia da minha
filha, sou capaz de ver esse v�deo.

Por isso...

... se achas que h� alguma possibilidade,

o meu telefone ainda � o mesmo.

Um forte abra�o, Juan Ignacio. Fica bem.

Vejamos, qualquer pessoa sensata...

Est�s a dizer que sabes
quem s�o os assassinos.

Est�s a dizer que n�o s� o sabes,

mas acrescentas que tens provas.

Est�s a dizer que tens um v�deo

que alegadamente
entregaste ao Ministro do Interior,

que alegadamente um padre te deu,

que alegadamente te deu algu�m
que estava prestes a morrer,

ou que essa pessoa prestes a morrer
deu ao padre

e cont�m a solu��o do caso.

Estamos a falar de qu�?

De que estamos a falar, passados 26 anos?

O que dizes nas tuas confer�ncias,
passados 26 anos,

quando dizes que tens
a solu��o do crime de Alc�sser?

D�-ma, por favor.

Se usas o p�blico em teu benef�cio,

entrega isso ao p�blico.

Quando decidires dar
esses v�deos �s autoridades,

eu, o Fernando Garc�a
e milhares de pessoas

faremos uma manifesta��o
em que estaremos do teu lado.

Milhares e milhares de pessoas neste pa�s

acompanhar-te-�o
para que entregues esse v�deo.

Vamos contigo.

Garantir�amos que demoraria muito tempo
at� seres alvo dessa bala

ou desse ato de vingan�a.

Ap�s um ano a adiar
uma segunda entrevista,

Juan Ignacio Blanco
deixou de atender as nossas chamadas.

Quando este document�rio foi conclu�do,

ele ainda insistia na exist�ncia
desse v�deo nas redes sociais.

ALC�SSER, 22 DE NOVEMBRO DE 2018

"Venho pela presente declarar
que todas as a��es que levei a cabo

perante organismos
administrativos e judiciais

para encontrar a minha filha
e as duas amigas desaparecidas,

e o posterior esclarecimento da verdade
e julgamento dos culpados,

uma vez encontrados os cad�veres,

foram feitas evitando protagonismo pessoal
junto dos meios de comunica��o.

Nunca aprovei o comportamento
daqueles cujos nomes evito citar,

mas que espero que muitos recordem,

que deram um tratamento sensacionalista
e ocasionalmente macabro

aos acontecimentos
que tanto sofrimento me causaram

e que tento inutilmente esquecer.

N�o compreendo como algumas pessoas
podem manter tais fantasias

sobre a autoria daqueles crimes.

Para mim, o conte�do
da senten�a � esclarecedor

em rela��o � culpa
de Ant�nio Angl�s e Miguel Ricart,

e sempre mostrei a minha convic��o disso.

Desejaria, claro, que o Ant�nio Angl�s
tivesse sido encontrado e condenado

e que ambos tivessem cumprido
integralmente a pena de 170 anos.

Poucas interven��es tive
junto dos meios de comunica��o

e assim desejo continuar,

mas quero expressar esta convic��o,
tentando silenciar rumores

e evitar atitudes
que s� procuram protagonismo

� custa da verdade."

Assinado: Rosa Folch.

O Tribunal Europeu de Direitos Humanos
pretende anular a doutrina Parot,

uma interpreta��o que permite
a extens�o das penas de pris�o

de terroristas da ETA,
bem como de violadores e assassinos,

cerca de cem membros da ETA
e outros 37 reclusos,

tais como Miguel Ricart,
o assassino das raparigas de Alc�sser.

Miguel Ricart sai da pris�o
de Herrera de la Mancha...

- Mant�m que � inocente?
- Pretende...

Sente arrependimento?

Quer pedir desculpa �s fam�lias?

Quer dizer algo �s m�es da To�i,
da Desir�e e da M�riam?

Quer pedir desculpa?

Quer pedir desculpa? Est� arrependido?

H� muita gente que...

- Cuidado!
- Afaste-se.

- Vai retratar-se?
- O que tem a dizer?

Nem pede desculpa �s fam�lias?

Quer pedir desculpa?
� uma boa oportunidade, n�o acha?

Arrepende-se?

Arrepende-se dos crimes?

Ele n�o contava com tanta expectativa.

Entrou num t�xi e foi-se embora.

O t�xi do Ricart parou na esta��o
e eu segui-o.

J� na esta��o,

o Ricart parecia desorientado.
N�o sabia para onde ir.

FOT�GRAFO LEVANTE-EMV

Olhou em volta
e decidiu avan�ar para as plataformas.

Quando chegou � plataforma,
ele n�o sabia o que fazer.

Andava para a frente e para tr�s.

Os seguran�as da esta��o
chamaram a Guarda Civil.

"Temos aqui um grupo de 40 malucos
e perseguir o Ricart

e parece um circo."

O caso de Alc�sser
ressuscitava com toda a for�a.

Decidiu esconder-se
nas sombras da esta��o de triagem.

O Ricart pegou num pau que estava no ch�o

e amea�ou agredir
os jornalistas que o seguiam.

Isso levou a Guarda Civil
a lev�-lo de volta � plataforma.

Foi a� que tirei esta fotografia.
Eu estava ali, mais ou menos.

Um pouco mais atr�s.

E o Ricart estava mais ou menos aqui,

com os bra�os cruzados.

Disse-lhe: "Fernando, apanha o comboio
e tenta tirar-lhe uma fotografia."

Eu sabia que ele n�o ia falar.

E sentaram-se ao lado do Ricart.

Ele ficou diante de n�s, de p�,
tapado com a m�scara,

e, para nossa surpresa, perguntou-nos

at� quando o �amos incomodar e perseguir.

E eu disse-lhe:

"Miguel, est�s a ser rid�culo.

Senta-te, por favor,
e falaremos calmamente."

Sentou-se � minha frente

e come��mos a falar.

Eu disse que n�o lhe quer�amos tirar
nenhuma fotografia,

que n�o lhe quer�amos fazer mal.
Que s� quer�amos falar com ele.

Ele disse que, se n�o quisesse responder,
diria: "Pr�xima."

E assim foi.

Comecei por lhe perguntar
aquilo que me vinha � cabe�a.

Quando lhe interessava, respondia.

Quando n�o interessava, n�o respondia,
e, �s vezes, n�o fazia nada.

Parecia fazer um sorriso
por baixo da m�scara

e um sil�ncio profundo.

Aquela fuga louca terminou
quando o Ricart pensou sair do comboio.

Ele n�o tinha qualquer plano.

Cheg�mos � esta��o de Linares-Baeza,

comprovei que n�o havia ningu�m,
verifiquei os corredores e sa�.

E fiz-lhe sinal para tamb�m sair.

Assim que ele pisou a plataforma,

sa�ram jornalistas
de ambos os lados do comboio.

Era noite, estava escuro,

e havia uns armaz�ns perto da plataforma.

Disse-lhe que talvez pudesse fugir por l�,

e ele assim fez.

Ele foi-se embora
e eu fiquei na plataforma.

N�o lhe tirei mais fotografias.

Ele virou � esquerda
e depois novamente � esquerda,

mas era um beco sem sa�da
e ele ficou encurralado.

Foi ent�o que eu cheguei
e o Fernando me disse que falara com ele,

mas os jornalistas da Ana Rosa
t�m-no encurralado.

Informam-me de que h� jornalistas

a mostrar a minha fotografia
e a perguntar se algu�m me conhece.

Recebi mensagens de colegas do liceu

a darem-me apoio e a dizerem
para os avisar, se precisasse de algo.

Senti que n�o tinha
de me esconder de nada.

A dada altura, o meu colega
Fernando Bustamante disse-lhe:

"Arrependes-te do que fizeste?"

E o Ricart olhou para ele disse:
"O que achas?"

Foi o �nico ind�cio de arrependimento.

Us�mos isso como manchete.

Disse-o como que a insinuar: "N�o sou
um monstro. Claro que me arrependo."

No dia seguinte, Ricart foi convidado
para uma entrevista em hor�rio nobre.

O an�ncio foi t�o pol�mico,
que tiveram de cancelar.

Dias depois,
perdeu-se completamente o rasto de Ricart.

Desconhece-se o seu paradeiro atual.

Nunca contactou a filha Rosa.

30 JAN, 1993
3 DIAS AP�S DESCOBERTA DOS CAD�VERES

JUSTI�A

Claro que queremos ensinar as crian�as

a serem tolerantes, compreensivos...

Mas, numa situa��o destas,
vem tudo por �gua abaixo.

PROFESSORA DE M�RIAM E DE DESIR�E

Foi muito dif�cil explicar esta quest�o
�s crian�as, esta manh�.

O caso afetou a liberdade
das raparigas em geral.

Porque a descri��o dos meios
de comunica��o diz basicamente:

"Cuidado, mulheres.
T�m de estar no lugar certo.

N�o saiam do vosso espa�o,
ou ver�o o que acontece."

CHEIOS DE MEDO
RAZ�ES PARA PAIS TEREM MEDO

O HORROR ESTAVA MUITO PERTO

Eu moro muito longe da escola.

Saio �s 19 horas e tenho medo.

Tenho medo de conhecer pessoas novas.
N�o podes confiar em ningu�m.

Um rapaz pode aproximar-se de ti
e at� pode ser simp�tico,

mas n�o podes confiar nele.

E eu, como m�e, tamb�m vivia
nesse ambiente e tamb�m tinha medo.

H� quem pense que, por pedirem boleia
ou fumarem um cigarro,

provocaram a situa��o.

� rid�culo e mesquinho
dizer uma coisa dessas.

AV� DE M�RIAM

Quando a senten�a
de Miguel Ricart foi proferida,

a viol�ncia de g�nero n�o era
um crime previsto na lei espanhola.

O que muitos meios transmitiam era:

"Se n�o tivessem sa�do � noite,
n�o teria acontecido."

Como se o facto
de a mulher usar a sua liberdade,

como se usarmos a nossa liberdade,
seja algo errado,

porque sa�mos do buraco
que nos atribu�ram.

PAIS FAZEM FILA
PARA IREM BUSCAR FILHAS � COOLOR

BASTA DE BOLEIAS: "TEMOS MEDO
E N�O PEDIREMOS MAIS BOLEIA."

PEQUENA OLGA, RAPTADA NA QUINTA-FEIRA,
ENCONTRADA MORTA EM PINHAL

POL�CIA PROCURA AUTOR
DO RAPTO E HOMIC�DIO DE LETICIA LEBRATO

"VIOLADOR DO ELEVADOR" CONFESSA
HOMIC�DIO DE LETICIA LEBRATO

ANABEL SEGURA ASSASSINADA
POUCAS HORAS AP�S O RAPTO

RAPTO EM LA MORALEJA

HOMEM QUEIMA MULHER VIVA
AP�S DEN�NCIA DE AGRESS�O

"EM 40 ANOS, ELE S� ME DEU
PANCADA E DESILUS�O"

ASSASSINO DE ROC�O
REMOVEU IMPRESS�ES DIGITAIS COM �CIDO

INDIGNA��O CONTRA LEI DE PROTE��O
DE MENORES DURANTE FUNERAL DE SANDRA PALO

Em 2003, o n�mero de mulheres assassinadas
pelos parceiros come�ou a ser registado.

Desde ent�o, foram registadas
quase mil v�timas de viol�ncia de g�nero.

NEM MAIS UM MINUTO DE SIL�NCIO
POR UMA MULHER AGREDIDA

A favor, 320. Contra, zero.

A lei � aprovada por unanimidade.

Em 2004, o Congresso espanhol
aprovou por unanimidade

a Lei Org�nica de Medidas de Prote��o
Contra a Viol�ncia de G�nero,

a primeira do g�nero na Europa.

EX-NAMORADO DE MARTA
CONFESSA T�-LA MATADO

Em 2013, o Parlamento Europeu
revogou a doutrina Parot.

Como Ricart, soltaram os assassinos
de Olga Sangrador e Leticia Lebrato.

Um violador condenado
n�o pode voltar a cometer...

GRUPO CAMPOAMOR

... as atrocidades que estes violadores

j� julgados e libertados cometeram.

Quatro anos ap�s a liberta��o,

os assassinos de Olga e Leticia
foram presos por agress�o sexual.

As a��es jur�dicas contra violadores
continuam a gerar controv�rsia.

"EL CHICLE" ESTRANGULOU DIANA QUER
DEPOIS DE TER TENTADO VIOL�-LA

CAD�VER DE PROFESSORA DE HUELVA
ESTAVA OCULTO E SEMINU

CORRER E VIVER LIVRE
EM NOME DE LAURA LUELMO

Se repetem constantemente:

"Estava sozinha e era de noite",

� como dizer:
"N�o o fa�as, ou acontecer-te-� o mesmo."

ACUSADOS DE VIOLA��O COLETIVA
GABAM-SE DO CRIME EM GRUPO DO WHATSAPP

Crime "Alcateia" classificado
como "maus-tratos" e n�o "agress�o".

Os cinco homens foram condenados a 9 anos
em vez de 22 anos por agress�o.

Esta senten�a gerou manifesta��es
por toda a Espanha.

O crime cometido em San Fermines
n�o foi abuso sexual.

A senten�a tem muitas incoer�ncias

e a nossa interpreta��o � que a justi�a

continua a ser patriarcal,
culpabiliza-nos e n�o nos protege.

Dois anos depois, membros da "Alcateia"
saem em liberdade condicional.

Esta semana, chocaram-nos ao libertarem
os membros do grupo "Alcateia":

Os protestos aumentaram.

Eu acredito em ti!

Irm�, eu acredito em ti!

N�O � N�O! JUSTI�A!

Eu acredito em ti!

Ainda temos um sistema patriarcal,
onde a mulher � considerada inferior

e est� ao servi�o do homem.

Levado aos extremos mais dram�ticos,

temos a viol�ncia de g�nero,
a viol�ncia machista.

E este crime de Alc�sser
� fruto da viol�ncia machista.

Enquanto o debate n�o for
sobre o que leva os homens a agredir-nos,

a matar-nos, a violar-nos,

infelizmente, avan�aremos muito pouco.

Mais de mil protestos
foram organizados por todo o pa�s.

Eu tamb�m!

Resist�ncia!

Dez mil portuguesas na B�lgica...

ASSASSINATO DE MARTA DEL CASTILLO
ALIMENTA CURIOSIDADE POPULAR

"ALC�SSERIZA��O" DA MORTE DE MARTA
MOBILIZA POL�TICOS E PROCURADORES

CURIOSIDADE M�RBIDA
EM TORNO DO CASO DE DIANA QUER

UM CAPUCHINHO VERMELHO
EM CADA GERA��O

"A MINHA FILHA N�O GOSTARIA DISTO"

Em setembro de 2017,
enquanto se filmava este document�rio,

o Congresso aprovou o Pacto de Estado
Contra a Viol�ncia de G�nero.

Determina incluir nas estat�sticas todas
as formas de viol�ncia contra mulheres.

Esses dados incluir�o homic�dios
como os de To�i, M�riam e Desir�e.

To�i, M�riam e Desir�e.

Estas pessoas declinaram o convite
para participar nesta s�rie:

A Bamb� e a Netflix n�o s�o respons�veis
pelas declara��es dos entrevistados.

Legendas: Hern�ni Azenha