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UMA S�RIE DOCUMENTAL ORIGINAL NETFLIX

MAIO 1997

SEM PROVAS N�O H� JULGAMENTO

Passaram quase cinco anos,

mas a indigna��o e a dor
continuam presentes em Alc�sser.

As fam�lias das jovens assassinadas
n�o querem o julgamento do assassinato

de To�i, M�riam e Desir�e.

Asseguram que n�o se investigou
o suficiente.

Por isso, n�o pretendem
que no pr�ximo dia 12

tenha in�cio o processo para determinar

como e quem assassinou as tr�s jovens.

N�o quero fazer parte de uma farsa,
de um julgamento que se andam a preparar

para encerrar, mas mal.

Prov�mos que houve mais envolvidos

al�m do Ricart e do Angl�s,
os �nicos acusados.

Queremos justi�a!

Queremos justi�a!

Queremos justi�a!

Fernando Garc�a
acabou de regressar ao trabalho,

ap�s ter dedicado todo o seu tempo,
durante mais de dois anos,

a uma campanha de recolha de assinaturas
para conseguir que os violadores

cumpram as penas na �ntegra.

NOVEMBRO 1995

Ainda n�o me mentalizei

da perda da minha filha.

PAI DE M�RIAM

H� noites em que sonho que a abra�o,

que n�o passou de um sonho.

Algo que n�o aconteceu.

Estou a lutar para seguir em frente.
Custa muito.

M�E DE M�RIAM

Mas estou a lutar.
E porque me restam dois filhos.

E porque espero
que se fa�a justi�a antes de eu morrer.

Quase tr�s anos
depois daquele crime horrendo,

as investiga��es policiais

parecem estar estagnadas.
N�o obstante, os pais

n�o desistem de saber
quem foram os assassinos das suas filhas.

Fernando Garc�a, pai de M�riam,
denunciou o secretismo em torno do caso

e anunciou o in�cio
de uma investiga��o paralela.

Eu n�o tinha interesse
em meter o Ricart na pris�o.

Sabia que o Miguel Ricart
nunca vira a minha filha.

- Quando chegou a essa conclus�o?
- No in�cio.

Com a minha filha em corpo presente
na C�mara Municipal de Alc�sser,

os jornais em cima das cadeiras

diziam que os culpados
j� tinham sido apanhados.

Eu vi quem eram e disse: "Meu Deus!

Meu Deus, foram r�pidos!"

Foi a� que percebi.

Esteve tudo parado durante quatro anos.

Ent�o, eu digo:
"Temos de rever a instru��o."

"� melhor n�o ver a instru��o porque..."

Tinha um advogado que n�o queria
que eu soubesse de nada.

Isso n�o me agradava.

A mera leitura dos factos
relatados na instru��o...

ADVOGADO DAS FAM�LIAS

... deixam qualquer um indisposto.

� horroroso.

O facto de passarem meses
sem haver not�cias

n�o significa
que n�o se esteja a investigar,

a trabalhar e a analisar.

Ele tinha tudo planeado.

Era o papa dos advogados.

O que mais podia eu dizer-lhe?
Estava tudo bem.

Ele estava a trabalhar no sentido correto.

At� eu perceber que n�o era assim.

Havia coisas malfeitas.

"Isto n�o se fez?"
"N�o, isso n�o vale a pena."

"� a sua opini�o, n�o a minha."

Foi ent�o que prescindi dos servi�os
do baston�rio da Ordem dos Advogados.

JUNHO 1996

Ap�s tr�s anos e meio de instru��o,
Romero Villafranca

abandona a representa��o da acusa��o
por diverg�ncias com Francisco Garc�a.

Foi substitu�do por Vicente Attard.

Ele ficava al�m...

Passaram tr�s anos
e, durante esses tr�s anos,

o Fernando Garc�a esqueceu-se
dos meios de comunica��o.

Mas manteve viva

a mem�ria das meninas,
recolhendo assinaturas para tentar

alterar o c�digo penal.

E, ent�o, � praticamente esquecido.

JORNALISTA E CRIMINOLOGISTA

Recordo o encontro com o Fernando Garc�a.
Deparo-me com um homem perdido.

Chega a afirmar que, por vezes,
se sente a perder a consci�ncia.

INVESTIGADOR VOLUNT�RIO

Diz literalmente:
"Por vezes, acho que enlouqueci."

Eu estava sozinho.

Ent�o, aparece o Juan Ignacio.

Ele era um jornalista de investiga��o
que trabalhava no Mississippi.

Juan Ignacio, boa noite.

� o nosso especialista nesta mat�ria
e acaba de regressar de Alc�sser.

Ele estava a trabalhar no caso
para o Mississippi.

Estava disposto a investigar mais

e concordava comigo em coisas
que eu dissera na televis�o.

Ele ouvia-me e via-me.

Quando o abordo pela primeira vez,

ele fornece-me informa��es

que reuniu durante aqueles tr�s anos.

Fui sincero com ele. Disse-lhe:
"Eu j� passei por tanta coisa,

que a �nica coisa que quero � sinceridade.
At� onde est�s disposto a ir?"

Disse que estava disposto
a ajudar-me a chegar onde eu quisesse.

Acho que est�o a esconder algo.

Algo que receiam que eu descubra.
O meu objetivo � descobrir.

E vou descobrir, custe o que custar.

Voltei para Val�ncia.

O Fernando Garc�a teve a seguinte ideia:
"E se eu deixar o meu emprego...

... e tu vieres para c�
e nos dedicarmos inteiramente

a investigar e a verificar as coisas?"

Evidentemente, eu vi a luz e disse:

"Que mais posso querer?"

Ele disse que estava disposto
a ir em frente

e fazer uma investiga��o exaustiva.
Bem, vamos investigar.

E pass�mos a dedicar-nos inteiramente

a fazer aquilo de que mais gosto,

que � investigar.

Ele quis estar envolvido
e, para tal, disse-me:

"O problema � que eu n�o tenho meios
para permanecer em Alc�sser."

Tinha de pagar hotel
e o Mississippi recusou.

"Posso ir um dia por semana
ao Mississippi,

fazer uma cr�nica, eles pagam-me, mas..."

"Se precisares de uma cama
e aquela servir..."

Eu tinha um quarto com duas camas,
uma do meu filho e a outra vazia.

E ele ficou l�.

Nesse momento, a minha posi��o nesse grupo

que t�nhamos formado
era a de uma pessoa an�nima,

cujo objetivo era
tentar recolher no terreno

toda a informa��o poss�vel.

Fic�mos l� instalados
e creio que o Juan Ignacio Blanco

chegou a dormir no quarto da M�riam.

Provavelmente, tamb�m ter� dormido
no quarto onde eu fiquei no in�cio

e algumas noites em Madrid.
O Juan Ignacio Blanco viajava.

O Juan Ignacio foi a via de acesso
que o meu pai teve

para entrar no mundo da criminologia.

Ficou durante bastante tempo em minha casa

e foi mais um membro da nossa fam�lia.

IRM�O DE M�RIAM

Eu era crian�a. Havia assuntos
de que eles falavam confidencialmente.

Ele decidiu que havia muito para ser feito

e que isso exigiria
muito tempo de investiga��o.

Foi ent�o que decidiu continuar
a trabalhar como criminologista,

o criminologista de Alc�sser.

Fernando Garc�a, boa noite.

- Boa noite.
- E tamb�m Juan Ignacio Blanco.

Est�o ambos no encal�o
do que possa ter acontecido neste caso

h� j� v�rios meses.

Isto mudou substancialmente
a investiga��o, Fernando?

Alguma vez isto ter� de ter
uma solu��o e creio...

H� tr�s pap�is.
O Juan Ignacio Blanco � o perito,

eu trabalho no terreno
e o Fernando � a chave que abre as portas.

Fernando Garc�a,
Juan Ignacio Blanco e Francisco Emilio

iniciam a investiga��o paralela
no ver�o de 1996.

EXCLUSIVO

Isto � o buraco.
L� em cima, embrulhados em len��is,

est�o os cad�veres da M�riam, da To�i
e da Desir�e, depois de serem retirados.

Uma ideia do Fernando Garc�a foi dizer:

"Por onde come�amos?" "Pelo princ�pio."

Vamos ver o que declaram
os que as encontraram.

Era natural que fossem os primeiros.

Surpreendentemente,
os apicultores n�o foram interrogados.

Os apicultores foram as �nicas pessoas
que subiram at� l�.

No in�cio, pensei que a descoberta
tivesse sido fortuita,

que talvez ele estivesse a passar.

Mas deixaram tantos ind�cios
para as meninas serem encontradas,

que parecia haver a necessidade
de serem encontradas.

Paradoxalmente, encontraram aqui cal�as,
casacos e meias.

Uma s�rie de objetos para chamar a aten��o

de algu�m que passasse,
para que as encontrasse.

Durante os 74 dias que durou a busca,

praticamente toda a prov�ncia de Val�ncia
estava tomada pela Pol�cia

e, perante a amea�a de serem detidos,

logicamente, fizeram com que os cad�veres
viessem � superf�cie,

para que algu�m os encontrasse
e isso fosse tornado p�blico.

Era algo particularmente not�vel.

Foi precisamente isso
que nos fez come�ar a pensar

nessa teoria alternativa,
quando vimos que isto n�o batia certo.

Eu disse: "� um rel�gio!" E ele: "Sim."

Ent�o, eu entrei por aqui

e disse: "Meu Deus, tens raz�o.
� uma m�o!"

Fui visitar um dos apicultores,
o Gabriel Aquino Gonz�lez, a casa dele.

APICULTOR

Bato � porta e digo-lhe que represento
as fam�lias de duas das raparigas

e que quero fazer-lhe umas perguntas.

Surpreendentemente, o Gabriel Aquino
diz-me que n�o fala sobre o tema.

"N�o posso falar sobre isso."

Repete-o duas vezes e fecha a porta.

E eu digo: "N�o quer que se fa�a justi�a?"

N�o conseguimos falar com ele.

Temos um aqui.

Em quatro anos, ningu�m tomou o depoimento

da pessoa que encontra os corpos
das raparigas de Alc�sser.

Pareceu-me uma m�o de homem
porque era grossa.

Vou visitar o Jos� Sala,
o outro apicultor,

tal como fiz com o Gabriel,
para ele nos relatar

o que tinha visto naquele dia.

Deparo-me com ele rodeado pela fam�lia,
que era quem intervinha.

Eu perguntava ao Jos�

e ele olhava para os familiares,
que lhe diziam diretamente:

"N�o fales deste assunto."

Aqueles sil�ncios, as recusas,
a falta de colabora��o

levam-nos a crer que, por tr�s deste
crime, h� algo que n�o se pode saber.

Esta � a casa
onde dizem que tudo aconteceu.

J� vim c� passar algum tempo,
em v�rias ocasi�es.

HOMICIDAS VIOLARAM AS RAPARIGAS
NUMA CASA A 800 METROS DO BURACO

ARGUIDOS DORMIRAM AP�S AS VIOLAREM
E EXECUTARAM-NAS NA MANH� SEGUINTE

Sempre tive a mesma convic��o.

Devia haver salpicos de sangue

em diferentes zonas,

nas paredes e nos colch�es.

Os colch�es dessa altura ainda c� est�o.

Vamos subir ao piso superior.

Os colch�es continuam c�

e est�o sujos,
mas n�o h� manchas de sangue.

Como podem ver, os colch�es

est�o simplesmente sujos.

Este � um colch�o de molas.

Como podemos ver mais de perto,

tem apenas sujidade.

E, na parte de baixo,
est� exatamente igual, apenas sujo.

Mas nem uma gota de sangue.

Nem o Miguel Ricart nem o Antonio Angl�s
viram a minha filha. Nunca.

E como acha que, a 2 de mar�o,

antes de se conhecerem
os relat�rios da aut�psia,

o Miguel Ricart consiga fazer
uma descri��o t�o pormenorizada

e com pormenores t�o pr�ximos
das conclus�es da aut�psia?

DECLARA��ES DE RICART ENQUADRAM-SE
NOS RESULTADOS DAS AUT�PSIAS

H� declara��es que s� temos de assinar.

Nada mais, s� assinar.

Escritos por outro e pronto.

Algu�m me perguntou: O que far�s,
quando terminares de recolher assinaturas?

"Se o caso da minha filha
n�o estiver resolvido,

terei de o retomar."

Infelizmente...

Acho que o Fernando Garc�a,

quando eu apare�o,
o fa�o redescobrir, por assim dizer,

as apari��es nos meios de comunica��o.

Ele decide que isso � algo muito apraz�vel

e que lhe pode trazer muitas coisas
a todos os n�veis.

A minha luta, nesses dois meses,
era conseguir aceder

ao que era o segredo
mais bem guardado do pa�s, o processo.

Al�m de obter

informa��es para preencher
os programas do Mississippi,

o meu interesse na colabora��o
com o Fernando Garc�a

era chegar aos advogados,
de forma a que, a dada altura,

me permitissem aceder aos documentos,

porque era essa
a verdadeira informa��o do caso Alc�sser.

Disse-lhes que o processo
n�o podia ser tornado p�blico.

ADVOGADO DAS FAM�LIAS DE M�RIAM E TO�I

Ele pediu-mo e eu exigi que ele fosse
aconselhado por um psiquiatra,

antes de o consultar,

porque � muito violento.

Era escabroso, t�trico, pavoroso...

Num fim de tarde,
fomos ao escrit�rio do Vicente Attard

e j� �amos com o plano tra�ado.

A nossa inten��o era clara.

Era surripiar o processo.
Digamos que o levar�amos "emprestado".

Cheg�mos ao escrit�rio.
A miss�o do Juan Ignacio Blanco

era distrair o Vicente Attard, e eu
e o Fernando surripi�vamos o processo.

Enquanto o Juan Ignacio Blanco
estava no escrit�rio com o Vicente Attard,

n�s aproveit�mos
e sac�mos o processo inteiro.

Com todas as folhas debaixo do bra�o,

a correr como loucos por Val�ncia
e a fotocopiar o processo.

A inten��o era devolv�-lo
o quanto antes ao Vicente Attard.

Enquanto se fazia
aquela quantidade imensa de fotoc�pias,

porque era um processo
com 4000 ou 5000 p�ginas,

fomos a uma loja de fotografias.

O Fernando j� tinha falado
com o fot�grafo.

Ele fechou as portas e tir�mos fotografias

�s fotografias da exuma��o
dos cad�veres e das aut�psias.

Fotograf�mos as fotografias.

Com o processo nas m�os,
come��mos a trabalhar.

E a suspeita que eu tinha,
desde que a minha filha estava no caix�o

na C�mara de Alc�sser,
de que algo n�o batia certo,

comecei a confirmar
que n�o batia mesmo certo.

N�o tinha sido uma fantasia minha
nem uma luz que me deu.

Foi porque o amor de pai
que eu sentia pela minha filha

me dizia que aquilo n�o tinha sido feito
por dois palermas como aqueles.

Quando fui procurar os palermas,
vi quem eles eram.

O que veem aqui,
senhoras e senhores, � um exclusivo.

Est�o a ver o processo secreto
do caso de Alc�sser.

Tivemos acesso a ele.

O Ant�nio Angl�s, que est�o a ver,
o homem mais procurado de Espanha...

9 SET, 1996

Naquela noite, a minha mulher
estava a ver o programa Mississippi

e eu vejo o esbo�o
com a trajet�ria da bala.

No dia seguinte,
o Fernando disse que mo tinha roubado.

Eu agradeci-lhe, porque, pelo menos,

de alguma forma,
me ilibava de qualquer responsabilidade.

Tudo o que vamos apresentar, questionar

e mostrar esta noite
vem da leitura deste processo.

No local onde as enterraram,
foram encontrados objetos improv�veis.

Apareceram pap�is com o nome do Angl�s

e � absolutamente imposs�vel
que, em pleno monte,

durante os meses de novembro, dezembro
e janeiro, aquele papel l� estivesse,

que n�o tivesse voado
e ainda estivesse leg�vel.

Numa zona montanhosa,
onde h� ventos e tempestades,

o facto de estarem l� peda�os de papel

parecia um pouco suspeito.

� ainda mais surpreendente
tratar-se de um relat�rio m�dico

dado ao Angl�s

quando vai a uma consulta
por causa de gonorreia, uma DST,

� uma da manh� do dia 14 de maio,

que ele tenha esse papel no bolso
durante seis meses

e, curiosamente, tenha ca�do
no dia em que enterraram as raparigas.

O papel tinha o nome e a morada, claro.

Foi um cart�o de visita que l� deixaram

para ningu�m se incomodar
a procurar o verdadeiro culpado.

O apicultor afirma recordar-se
de que os pap�is estavam presos nos picos

e colados � areia.

Dizia que podiam l� estar
h� bastante tempo.

Dizia ele.

Eu podia pedir a qualquer pessoa
para pegar nuns pap�is,

ir l� deix�-los e voltar passado 75 dias.

Como podem ver,
apesar do vento habitual por aqui,

mantiveram-se c� os pap�is

onde dizem que est� escrito
o nome dos irm�os Angl�s.

Estes s�o os pap�is que encontr�mos.

POL�CIA JUDICI�RIA

Estavam dispersos pela ladeira.

Alguns estavam quase ileg�veis,

porque se tinham molhado
durante dois ou tr�s meses de chuva.

Vamos tentar aprofundar

uma das hist�rias mais rocambolescas
que se contaram no pa�s, nos �ltimos anos.

Onde estar� o Antonio Angl�s?

Desde o in�cio, eu sempre pensei

que o Angl�s estava morto. Algu�m achou
que o Angl�s era uma testemunha inc�moda.

Algu�m que podia falar e trazer problemas.

E, como se diz
coloquialmente, despacharam-no.

Ele n�o foi apanhado
porque eles s� apanham quem querem.

Se o Angl�s aparecesse,
a verdade viria ao de cima.

�NICO V�DEO EXISTENTE DE ANT�NIO ANGL�S

JULGAMENTO POR RAPTO E AGRESS�O
� EX-NAMORADA, NURIA PERA, 1990.

A verdade � que n�o h� nenhuma prova
da participa��o do Antonio Angl�s

em todo o processo.

Quando v�o atr�s dele,

a Pol�cia espanhola
foi a mais desastrada do mundo,

porque n�o o consegue encontrar.

O que pode isto evidenciar?

Que h� uma organiza��o

a proteg�-lo ou que se livrou dele.

Uma tarde, ao sairmos de uma entrevista,

reparo num ve�culo
que arranca a par connosco.

Pe�o ao meu parceiro

que o observe discretamente
pelo retrovisor

e que me diga se reconhece o condutor.

Ele diz-me que se trata de um agente
da Guarda Civil de Catarroja.

A dada altura, um segundo ve�culo
coloca-se � nossa frente

e trava abruptamente,
no momento em que outro ve�culo

que est� estacionado do lado esquerdo,
um todo-o-terreno,

avan�a e tenta atirar-nos
para fora da estrada.

Nesse momento, eu guino, desvio-me

e claro...

Fiquei chocado com tal coordena��o.

N�o parecia ter sido acidental.

A minha surpresa foi que, no dia seguinte,

quando tento verificar a identidade
dos condutores atrav�s das matr�culas

e me d�o a informa��o,

dizem que as matr�culas n�o est�o ativas.

N�o s�o ve�culos em circula��o.

T�nhamos a sensa��o de sermos fugitivos

e sobretudo
de que t�nhamos sido declarados

inimigos da autoridade.

Talvez pare�a rocambolesco,

mas o Fernando tem de ter cuidado
com aquilo que come,

porque pode ter algo na comida.

Tem de ter cuidado
com as mudan�as de rotinas e de percursos,

tem de ter prote��o policial
em determinadas circunst�ncias.

De repente, teve de se transformar
numa esp�cie de James Bond de bolso.

Ele investiga 24 horas por dia,

dedicando-se de corpo e alma,
e f�-lo francamente bem.

Uma vez, estava a recolher assinaturas
e chegou um tipo, cumprimentou-me

e disse: "Queria dizer-lhe de uma coisa."
E eu: "Diga."

"Contrataram-me para o matar."

E eu: "Tem uma bela carreira."

Foi a minha resposta, porque vejam.

O quanto me escondo.

"N�o, depois decidi
que n�o ia completar a miss�o..."

"Est� bem.

Nesse caso, obrigado."

As instru��es eram claras.
"Estes tipos t�m de ser parados.

T�m de saber que n�o podem fazer
o que est�o a fazer.

Fazem-nos parecer pat�ticos."

Ultrapassarei todas as dificuldades
que me coloquem.

N�o me v�o parar. Disse-o muitas vezes.

Para me pararem, t�m de me matar.

H� coisas...
A minha mulher foi sequestrada

e eu fui parar seis vezes ao hospital
por causa dos espancamentos.

Fui amea�ado de todas as formas.

Tentaram subornar-me.

E depois passaram � t�cnica seguinte:

tentar desacreditar a pessoa ao m�ximo,

para que chegue um momento
em que ningu�m liga ao que dizes.

OS DESCARADOS DA TELEVIS�O

N�o h� nada que incrimine o Ricart.

Nem o Ricart, nem o Angl�s nem ningu�m.

O que dizemos que s�o provas irrefut�veis,

como impress�es digitais,
vest�gios de s�men, sangue ou cabelo,

provas biol�gicas que podem comprovar
a responsabilidade direta,

infelizmente temos de dizer
que n�o h� nenhuma

que incrimine
ningu�m conhecido, neste momento.

Segundo o Sr. Garc�a, o relat�rio
do procurador contradiz o processo.

Ele denuncia que nunca foram encontrados
restos de sangue nem de s�men

na casa abandonada em La Romana,

onde M�riam, To�i e Desir�e
foram alegadamente violadas.

Por isso, acredita que n�o foi este
o local do crime.

Segundo a Guarda Civil,

os factos ocorreram numa casa
perto da barragem de Tous.

Vejam estas imagens. Percorremos
o alegado percurso dos assassinos.

Um percurso macabro de mais de 25 km
por um caminho quase intransit�vel.

Aquelas s�o as casas onde, oficialmente,

elas foram torturadas e assassinadas.

Este � o buraco
onde elas foram enterradas.

Do buraco at� �s casas
s�o 600 a 800 metros.

Se as trouxeram vivas at� aqui

e foi aqui que as mataram,
devia haver sangue no buraco.

� outro mist�rio,
porque n�o encontraram sangue.

Subi a La Romana tr�s vezes, creio.

Toda a equipa l� foi para gravar algo,

e espero n�o voltar l�,

porque, sempre que fui a La Romana,
e n�o consigo evit�-lo...

EX-POL�CIA E JORNALISTA

... senti-me t�o triste...

Toda a equipa vem de l� arrasada,
porque aquela experi�ncia,

aquele local desolador e filmar coisas
pormenorizadas sobre o que aconteceu,

queiras ou n�o, faz-te sentir mal.

- Vamos!
- Comecem!

- Fernando!
- Vamos!

Vamos!

MAIO 1997

Todos escondidos!

Foi tudo encenado.
Como elas tinham de aparecer,

deixam um rasto de roupas...
- Fic�mos surpreendidos

por terem retirado os tr�s cad�veres
em menos de uma hora.

Significa que n�o foi feito com cuidado.

Podemos afirmar que a Guarda Civil
falseou provas no caso de Alc�sser.

Digo-o com todas as responsabilidades
que teria de assumir.

A 28 de janeiro, na inspe��o visual,

acharam um brinco de M�riam.

O �nico vest�gio delas
encontrado na casa.

- Sil�ncio!
- Agora.

Foi aqui que, alegadamente,
encontraram o brinco da minha filha.

Sempre disse e sempre repetirei
que algu�m aqui colocou o brinco,

tal como depositaram a maioria das provas.

BRINCO ENCONTRADO NA CASA

Estou convencido de que estes colch�es

deveriam ter sido
minuciosamente analisados,

caso pensassem realmente
que os crimes tinham ocorrido aqui.

N�o h� sinais de sangue,
e eu trabalho com colch�es.

Recolho colch�es usados.
Quando t�m uma mancha de sangue,

permanece l� para sempre,
at� o colch�o ser destru�do.

Naquele colch�o, n�o havia sangue
nem restos de nada.

"HAVIA MUITO SANGUE NOS CORPOS"

Porque n�o h� vest�gios de sangue?

O Miguel Ricart afirma
que se lembra de ver muito sangue.

Porque n�o h� sangue nas roupas
nem no buraco?

Quem p�e os objetos junto ao buraco?

Quem enterra as raparigas?
Quem p�e l� o papel com o nome de Angl�s?

Senhores, cumprimentem-nos. V�m a�!

Digam: "Ol�, como est�o?"

A fuga do Angl�s
n�o parece uma encena��o?

Porque mandaram provas manipuladas
para o Instituto de Toxicologia?

Quem desfrutou com a morte delas?
Essa morte foi gravada?

E sa�mos de l�,

pensando uma vez mais
que nos estavam a contar uma mentira.

Como podem ver, estou ligado � Internet.

Como penso que h� pessoas
que gostariam de me dar informa��es,

mas n�o podem por serem agentes,

esta � uma forma an�nima
de me darem qualquer pista que me ajude

a resolver todas estas atrocidades
que est�o a acontecer

no nosso pa�s, infelizmente.

Nos �ltimos anos, al�m do desaparecimento
das raparigas de Alc�sser,

nesse per�odo de tempo,

nos �ltimos anos...
Quantos? Dois, tr�s anos?

Sim, cerca de quatro ou cinco anos,
mas s�o apenas alguns dos casos.

- Quantas pessoas desapareceram?
- H� 11 homic�dios por resolver.

Por resolver.
As m�es de todos estes menores

denunciam praticamente as mesmas coisas.

Inefic�cia na investiga��o,

falta de informa��o,
pressa excessiva para encerrar os casos.

Duvidam de que a justi�a
resolva a morte dos filhos.

Quem matou Marisa,

Andr�s, Isabel, Francisco, Pilar, Mar�a,

Mar�a Jes�s e Mar�a del Carmen?

"DESAPARECIMENTO DE MENOR"

Falamos de uma estrutura
que rapta raparigas,

abusa sexualmente delas

e as assassina brutalmente.
- Exatamente.

Lamentavelmente, esta rede e estas pessoas

n�o existem apenas nos filmes,
tamb�m existem no nosso pa�s.

Certamente, ficar�amos surpreendidos,

se soub�ssemos
quem pertence a estas redes.

Compreendo que o Fernando
n�o o queira dizer,

porque o objetivo
das investiga��es � importante,

mas h� um grupo de pessoas que se re�ne

e que leva raparigas menores,

mas que n�o as rapta ao acaso.

Durante essas orgias,
as pessoas podem praticar

todo o tipo de aberra��es sexuais,

incluindo de natureza s�dica.

Depois, h� uma pessoa abastada

que paga de 15 a 20 milh�es de pesetas

para ter o "prazer" de executar a v�tima.

E depois h� outra pessoa
que paga praticamente o dobro

e leva o "trof�u",

que costuma ser um resto destas meninas,
concretamente as m�os,

que � o que mais admiram,
como se fosse um trof�u de ca�a.

� descabido pensar
que as raparigas de Alc�sser

tenham sido v�timas de uma destas redes?

Nem o Angl�s nem o Ricart cometeram
aquelas aberra��es com as raparigas.

A �nica explica��o,
se n�o foi esse o caso,

� que pudessem fazer parte disso.

A �nica forma era fazer
o que eu estava a fazer.

Fazer com que a opini�o p�blica

sentisse o mesmo que eu.

Blanca Estrella Ruiz,
da Associa��o Clara Campoamor

para a defesa dos direitos das mulheres,

manifestou hoje, em Val�ncia, que espera

que a justi�a mostre rigor

na investiga��o dos homic�dios
das raparigas de Alc�sser.

A��O POPULAR

ASSOCIA��O CLARA CAMPOAMOR

ACUSADO
MIGUEL RICART

Creio que estes homens,

o Angl�s, o Ricart e qualquer outro,
trabalharam para algu�m,

levaram-nas a algu�m que as usou,
e essa pessoa

mandou-os livrarem-se delas.

Trabalharam para algu�m,
e eu quero essa pessoa.

A Blanca tamb�m estava indignada
e aderiu � nossa causa.

Via que era injusto.

O Miguel quer que o julgamento
seja feito depressa

porque insiste que est� inocente

e quer que isso seja provado
o mais depressa poss�vel.

Dado o mediatismo, eu disse-lhe:

"Acho que, num julgamento com j�ri,
teremos mais hip�teses

de fazer ver a verdade."

ADVOGADO DE RICART

- E foi ent�o...
- Porque n�o o solicitou?

Uma semana depois disso,
estava eu a preparar a documenta��o,

notificam-me de que o Miguel Ricart
tinha renunciado aos meus servi�os.

Fiquei muito surpreendido.

Pensei: "Mais uma coisa estranha
que vejo neste processo."

18 DEZ, 1993

Miguel Ricart dispensa Vicente Quilis.

Foi substitu�do
pelo advogado Juan Pitarch.

Eu sabia que tinha a confian�a do Ricart.

Notamos quando um cliente confia em n�s.

A minha ideia era pedir
um julgamento com j�ri

e, como tamb�m �amos pedir
um teste de pol�grafo,

n�o sei se isso preocupou algu�m
ou o que quer que tenha sido,

mas, assim que o disse,
fui afastado do caso.

Quando se apresenta o Juan Pitarch,

que era assistente
na pris�o Herrera de la Mancha,

o Ricart,
n�o sei se convencido por algu�m,

porque n�o sei
o que lhe passava pela cabe�a,

decide mudar de advogado.

NOVO ADVOGADO DE MIGUEL RICART
S� EXERCE H� 20 DIAS

Os advogados tinham ido � pris�o
sem me comunicar.

� uma falta de deontologia profissional
e de respeito.

Eu nunca visitaria
o cliente de outro advogado na pris�o.

Ele fala com o Miguel Ricart e diz-lhe,

segundo o Miguel Ricart explicou,

que o Vicente Quilis o est� a defender mal

e oferece-se para o defender.

Segundo o Miguel me contou,

disseram-lhe que algu�m me tinha comprado
e que eu o estava a enganar.

Meteram-lhe medo
e mandaram-no assinar pap�is em branco.

Acho que queriam acesso ao processo

para saberem at� que ponto
os participantes poderiam ser imputados.

Consultaram-no durante duas
ou tr�s semanas, pouco tempo,

e, quando viram que n�o,
renunciaram � defesa do Ricart.

NOVO ADVOGADO DE MIGUEL RICART
RENUNCIA � DEFESA AO FIM DE 15 DIAS

As mudan�as de advogados foram estranhas,
tal como as outras manobras,

porque h� aqui um aspeto fundamental.
At� ao dia 6 de dezembro,

o processo de Alc�sser
era o maior segredo de Espanha.

Todas estas tentativas
de mudan�a de advogados

foram desencadeadas
pelo interesse de certas pessoas,

que talvez devessem ser citadas,

em saber se os seus nomes
est�o no processo de Alc�sser

e se est�o a ser investigadas.

Juan Pitarch recusou comentar
a breve representa��o de Miguel Ricart,

invocando sigilo profissional.

Miguel Ricart, o �nico detido
pelo homic�dio das raparigas de Alc�sser,

est� em liberdade condicional
por ter atingido o m�ximo de quatro anos

para pris�o preventiva.

Esta decis�o n�o significa
que Miguel Ricart possa sair da pris�o,

uma vez que cumpre outras duas penas
de quatro anos por assaltos a bancos.

Se tiver boa conduta,
tem direito a sa�das prec�rias.

Se as pedir, ser�o concedidas.

O julgamento ter� de acontecer antes.

Estamos a falar
sobre a liberdade do Ricart,

mas � algo que n�o me preocupa.

Estou � espera que me concedam
uma entrevista com o Ricart.

Gostava que o libertassem j� amanh�.
Estaria � espera dele

e diria: "Ol�, estava � tua espera."

Ir�amos tomar caf� e conversar.

- Seria uma forma...
- Para ele lhe dar informa��es?

Claro. Mas n�o me deixam.

Acha que ele tem informa��es importantes?

Claro que tem.

Basta ver todos os esquemas
que lhe est�o a fazer na pris�o.

Algu�m me disse recentemente

que o mandaram assinar
14 documentos em branco,

numa destas �ltimas visitas
com v�rios advogados.

Se algu�m nos podia dizer algo
sobre o crime, era o Miguel Ricart.

SEDE BAMBU PRODUCCIONES

- E se ele n�o quisesse falar?
- Tratava-se de um pai

cuja filha fora assassinada.

Somos seres humanos.
N�o quero justificar nenhum tipo de a��o,

mas � muito prov�vel
que tivessem surgido instintos primitivos.

Ter � frente um dos poss�veis autores

do homic�dio da filha
e das outras raparigas...

A necessidade de julgar Ricart
antes de janeiro de 1997

levou a Ju�za Alicia Valverde
a encerrar a instru��o.

No in�cio do pr�ximo ano,
cumprir� quatro anos em pris�o preventiva,

o m�ximo permitido pela legisla��o.

Se o julgamento n�o acontecer antes disso,
poder� ser libertado.

JU�ZA DE ALZIRA ENCERRA INSTRU��O
DO CASO DE ALC�SSER PELA QUARTA VEZ

Em janeiro de 1997, dispara a tens�o
entre os que querem o fim da instru��o

e os que defendem
que deve prosseguir a qualquer pre�o.

Assim que a instru��o foi encerrada,
Fernando Garc�a e Juan Ignacio Blanco

d�o um passo em frente
para evitar o abandono da investiga��o.

27 JAN, 1997

Lembro-me de que estava a ver televis�o.

Quem seguia o caso e via o Mississippi

sabia que cada dia davam mais um passo.

Aquele direto no programa Mississippi

foi quando

comecei a questionar-me
sobre o que fazia em Alc�sser.

- Onde estavas?
- Atr�s da c�mara.

Val�ncia est� cheia de rumores.
A Caixa de Pandora foi aberta

e come�am a ser revelados
os nomes de pessoas investigadas.

Lembro-me do momento
em que o Pepe Navarro comenta

a revela��o dos nomes

e o aparecimento
de informa��es em Val�ncia.

Eu comecei a ficar incomodado,
porque pensei:

"Aonde querem chegar?
Est�o a falar de qu�?"

Juan Ignacio, � verdade
que tenham sido revelados nomes

de poss�veis respons�veis

por este crime horrendo?
- Sim.

Numa esta��o de r�dio em Val�ncia...

O que eu disse no Mississippi

deveu-se a dois factos concretos.

Primeiro, j� o tinham dito
naquele mesmo dia

noutro meio de comunica��o,

na esta��o de r�dio Onda Cero,
de Val�ncia.

Quando o Juan Ignacio Blanco
faz aquela afirma��o,

de que foram revelados nomes
numa esta��o de r�dio de Val�ncia,

eu levo as m�os � cabe�a

e come�o a fazer uma s�rie de gestos,

como que a dizer: "O que fazes? Para!"

Foi avan�ado o nome de Alfonso Calv�,
ex-governador civil de Alicante,

como presum�vel respons�vel
por esta trama.

O nome de Luis Solana tamb�m foi referido

como participante nestas aberra��es.

E h� que dizer
que h� mais pessoas sob investiga��o,

como um produtor de La Moraleja,
tal como o Alfonso Calv�,

o psiquiatra
e ex-governador civil de Alicante,

o Sr. Berm�dez de Castro.

Fala-se tamb�m de Francisco La�na,

que foi Secret�rio de Estado
para a Seguran�a.

N�o h� provas da revela��o
destes nomes na Onda Cero Val�ncia.

Segundo, porque, de acordo
com as conversas que tivemos

com o Minist�rio do Interior,

a �nica coisa de que se falou em concreto

foi que estas pessoas
estavam a ser investigadas.

Estamos a falar
de pessoas muito importantes,

com altos cargos,

pessoas com grande poder econ�mico

e que est�o a ser investigadas
n�o s� pela Pol�cia,

mas tamb�m pelos servi�os
de informa��es do ex�rcito, o CESID.

� um facto incontest�vel

e absolutamente percet�vel.

Lembra-se se esta revela��o
em hor�rio nobre teve impacto na sociedade

ou na atividade do minist�rio,
no dia seguinte?

MINISTRO DO INTERIOR (1996-2001)

N�o me recordo.

Mas, ao ouvi-lo,
pareceu-me um golpe baixo.

Usar aqueles nomes

para os implicar
provoca um dano moral enorme.

Lan�ar aqueles nomes
para a opini�o p�blica,

os quais, tanto quanto eu sabia,
s� t�nhamos num papel,

sem forma

de os ligar ao caso,

pareceu-me um grande erro.

No dia seguinte, em Alc�sser,

quando cheg�mos � casa do Fernando,
a fam�lia estava quase toda l�

e dizem-nos mais ou menos isto:

"Gra�as a Deus que est�o bem."

O que tinha sido feito,
na noite anterior...

... uma explica��o p�blica...

... poderia ser o detonador

para algu�m se tentar livrar de n�s.

Nesse momento, o Fernando abriu os bra�os,
tentando tranquilizar a fam�lia,

e disse: "N�o se preocupem, estamos bem.

N�o se preocupem, porque isto..."

Prosseguiu com o seu papel

de pai corajoso,
com uma for�a extraordin�ria.

Eu interrompi-o e disse:
"Olha, Fernando, j� chega.

Por favor, senta-te. J� n�o estamos na rua

nem na televis�o.
� tempo de p�r fim a isto.

O que fizeram, ontem, no programa,

n�o tem qualquer sentido."

Nesse acesso de raiva,
cheguei a usar uma express�o muito dura,

que lamento atualmente
e lamentei naquele momento.

"Desculpa, Fernando,
mas o que fizeste ontem

nem os criminosos
que mataram a tua filha o fizeram."

A�, o Fernando ergueu a cabe�a,

olhou-me fixamente

e, naquele momento, senti

que aquilo era a crucifica��o
da nossa rela��o.

Grande agita��o nacional.

Ontem � noite,
cerca de 7,5 milh�es de pessoas seguiram

o que mostr�mos e dissemos
sobre o caso de Alc�sser.

Juan Ignacio Blanco e Fernando Garc�a

est�o novamente connosco
para contextualizar.

Porque mencionaram certos nomes, ontem,

quando n�o o tinham feito at� agora?

Porque falaram deles ontem?

Temos provas, porque existem documentos

em como est�o a ser investigados
devido ao poss�vel envolvimento,

mas nunca quisemos insinuar
que t�m algo que ver com os factos.

Mas pod�amos ter dado nomes
de muitas outras pessoas

conhecidas dos telespectadores,

que foram investigadas
ou que est�o a ser investigadas.

Quanto � alegada participa��o
destas pessoas proeminentes,

decerto que, se houvesse
alguma informa��o, eu teria sido avisado

pelas institui��es policiais.

Para mim, isto � um disparate,
uma fantasia.

� a primeira vez que ou�o esses nomes.

ALFONSO CALV� PROCESSA O PROGRAMA
E FERNANDO GARC�A

MAIS UM PROCESSO CONTRA PEPE NAVARRO
POR CAUSA DO CASO DE ALC�SSER

APRESENTADO PELO PRODUTOR
BERM�DEZ DE CASTRO

GRANADOS AFIRMA QUE ACUSA��ES
DE FERNANDO GARC�A S�O DISPARATE

Temos Francisco Granados ao telefone.

Era representante do governo em Val�ncia
durante o caso de Alc�sser.

QUINTA-FEIRA, 30 JAN, 1997

� uma das pessoas que mencionou

que deveria
ou poderia dizer algo sobre o caso.

- Sr. Granados, boa noite.
- Boa noite.

EX-REPRESENTANTE DO GOVERNO

� complicado falar de algu�m
que j� faleceu,

porque n�o pode refutar
nada do que dizemos,

mas o Sr. Granados,
numa conversa telef�nica, naquela manh�,

sabendo que iria participar nessa noite
no programa do Pepe Navarro,

transmitiu-nos o seu apoio.

Por fim, uma autoridade
iria p�r-se do nosso lado.

Nessa conversa, tentou enganar-nos,

dizendo que poder�amos contar
com o apoio dele � nossa causa.

Quero que quem esteja a ver o programa

pense um pouco.

O que voc� fez
foi transformar a investiga��o...

- Sr. Granados...
- ... numa brincadeira.

- Sr. Granados...
- Porque n�o pegam nessas provas

- Sr. Granados...
- ... e n�o as levam a tribunal?

Se esquecermos que h� obriga��o de prova,
isto pode ser a selva.

Quanto mais alto se aponta,
maior ser� a audi�ncia.

Como deve saber, eu estive indefeso,

quando o Sr. Romero Villafranca,
da Ordem dos Advogados...

- N�o diga isso do baston�rio.
- Estive totalmente indefeso.

Estive quase quatro anos sem defesa,

porque n�o tive acesso
a nenhuma p�gina do processo.

E, quando passou a estar
em meu poder, percebi

que o processo foi falseado
e mal instru�do.

JANEIRO

ALGUNS NOMES REVELADOS NA TELEVIS�O

GRANADOS FAZ CHAMADA EM DIRETO

3 FEV, 1997
5 DIAS AP�S REVELA��O DOS NOMES

Quando chego, o Juan Ignacio diz-me:

"Esta noite, temos de pedir desculpa
por termos revelado os nomes."

O Pepe foi repreendido.

Os maiorais chamaram-no e disseram-lhe

que ou nos retratamos
e pedimos desculpa publicamente,

ou a Tele 5 � encerrada.

E eu digo: "Est�s a falar de qu�?"

E ele: "Sim, o Pepe n�o tem alternativa."

"N�o falam de encerrar o Mississippi,
falam de encerrar a Tele 5."

Fernando Garc�a e Juan Ignacio Blanco
est�o connosco esta noite.

SEGUNDA-FEIRA
3 FEV, 1997

Fernando, tem algo a dizer
em rela��o ao que eu referi?

Talvez no outro dia tenha ido longe demais
ao usar o programa

para mencionar alguns nomes
que n�o devia ter mencionado.

Como tal,
quero pedir desculpa publicamente.

- Juan Ignacio?
- Tal como o Fernando Garc�a,

a verdade � que quero pedir desculpa

por ter quebrado uma regra
que conhe�o desde que trabalhava

no programa, que � n�o divulgar nomes.

Quero pedir desculpa n�o apenas a si,
mas a todas as pessoas...

Foram duas ou tr�s noites de ansiedade.

JORNAL LEVANTE

Come��mos a publicar apenas como...

- O que estavam a dizer.
- O que estavam a dizer.

"O pai da rapariga, Francisco Garc�a,

acusa quatro personalidades
de serem instigadoras dos homic�dios."

Eu disse que era uma barbaridade
e que dev�amos fazer algo.

E o diretor disse: "Avan�a."

E isso foi a g�nese do artigo
"Sem Fundamento" publicado nesse domingo,

mas tamb�m a origem da campanha...

JORNALISTAS

... que continuou at� 12 de maio de 1997,
o dia do in�cio do julgamento,

em que travamos
uma luta desigual e tit�nica...

Absolutamente.

�ramos o pequeno David
contra o Golias que � um canal televisivo,

para tentar contar a verdade.

Apenas a verdade, n�o as vers�es
oficial e oficiosa, mas a verdade.

A 2 de fevereiro de 1997,
quatro dias ap�s a revela��o dos nomes,

o jornal Levante-EMV publicou
o artigo "Sem Fundamento",

confrontando a tese de Fernando Garc�a.

SEM FUNDAMENTO
DUAS LEITURAS DO MESMO PROCESSO

TESE DE FERNANDO GARC�A

VERS�O DA GUARDA CIVIL

Amanh�, este homem apresentar� queixa

contra o jornal Levante,

de Val�ncia.

O jornal Levante acusou-o de ter...

DEL�RIO RENT�VEL

... um "del�rio rent�vel" gra�as
ao homic�dio da filha. Tal e qual.

Segundo este jornal,
que cita fontes da Guarda Civil,

as afirma��es de Ignacio Blanco
e Fernando Garc�a n�o t�m fundamento.

SANGUE: NEM UMA GOTA NA CASA,
NO COLCH�O OU NO CARRO DE RICART

SANGUE: S� OS GOLPES NA BOCA,
DENTRO DO CARRO, CAUSARAM HEMORRAGIA

DUPLA INUMA��O: ELAS FORAM ENTERRADAS
E POSTERIORMENTE REENTERRADAS

Pela primeira vez,
algu�m dizia "n�o" ao pai.

At� ent�o, ningu�m dissera nada
contra o Fernando Garc�a.

A rea��o foi imediata.
A nossa central telef�nica bloqueou.

A pessoa que estava na rece��o, a Julia,

ouvia "filha da puta"
umas 200 vezes cada manh�.

Os insultos eram contra ela,
a fam�lia dela, as nossas fam�lias,

o jornal inteiro, houve amea�as...

Muita gente cancelou a assinatura.

Quando algu�m, de forma categ�rica,

num canal com grande audi�ncia,

lan�a uma bomba destas...

As pessoas n�o s�o especialistas
em investiga��o criminal,

mas, se h� um tipo apresentado
como "criminologista" e outro como "pai",

o que dizem ser� verdade.
- Claro.

- O que � visceral deixa marca.
- E sofremos imenso.

Tudo o que acontece com estas raparigas

envolve uma m�o negra com muito dinheiro.

Paga �s pessoas que est�o nas pris�es
para raptarem estas meninas.

O que pensa
do que o Fernando est� a fazer?

Maravilhoso.

Como pai, � obriga��o dele.

N�o haver� nenhum pai como ele.
N�o deixou pedra sobre pedra.

O Fernando est� a fazer muito,
porque mobiliza toda a Espanha.

A esperan�a de encontrar
o criminoso f�-lo continuar.

Maravilhoso. Todos aqui o apoiamos.

Achamos que ele est� a lutar muito.

Obrigada.

Na vila, a maioria pensava
que o Fernando fazia tudo

e eu n�o fazia nada. Que eu ficava em casa

e n�o queria saber de nada.
N�o queria saber quem a matara.

N�o � verdade.

Eu queria saber quem matara a minha filha.

E queria que pagasse.
Ainda quero que pague.

O que n�o quero � mentir.

Quero realidades, n�o fantasias.

A Rosa come�ou...

... a recusar continuar a investigar.

IRM� DE TO�I

Mas, no in�cio,
rem�vamos todos na mesma dire��o.

Mas depois a Rosa disse
que confiava na justi�a,

na vers�o deles.

Vamos ouvir o que nos disse uma m�e.

Parece que discorda
do que est� a ser dito aqui

e da nossa forma de abordar o tema.

Ou�am o que ela disse sobre n�s.

Quero que Espanha saiba...

M�E DE DESIR�E

... que n�o estou de acordo
com o que est� a ser feito

no programa do Pepe Navarro.

Isto que est� a ser revelado
sobre o que fizeram �s meninas

est� a ser muito dif�cil para mim.

Eu sei que voc� � jornalista a s�rio,
mas o Pepe Navarro n�o tem escr�pulos.

E o homem que levou o processo
� igual a ele.

� uma indignidade. N�o t�m cora��o.

- Fernando, compreende a Rosa?
- Sim, � claro.

Compreendo a Rosa,
uma mulher que foi usada

para, a dado momento,
dizer coisas contra mim.

Fernando, tem a certeza
de que n�o foi tamb�m usado?

N�o nos usa quem quer, mas quem pode.

Esse canal de televis�o
mexeu-lhe com a cabe�a.

As pessoas viram-no todas as noites.
Sei que todo o pa�s o viu.

Mas as pessoas pensam
que o que ele diz � verdade.

Eu revoltava-me, quando o ouvia
e quando me diziam essas coisas.

Sofri muito.

Sofri muito, enquanto durou o programa.

A Rosa soube dos ferimentos da filha

porque o Fernando e o Juan Ignacio
mostraram fotografias no programa

que mostravam...

... minuciosamente cada um dos ferimentos.

Eu compreendo que isto � muito doloroso.

Especialmente a mim,
que sou pai da M�riam.

Para termos acesso a estas fotos,
tivemos de as roubar.

Tivemos de roubar
para ter algo que nos pertence.

ALC�SSER FAZ DISPARAR
AUDI�NCIAS DO MISSISSIPPI

Que documento � esse, Juan Ignacio?

� um relat�rio que o Professor Frontela
acaba de concluir.

� uma an�lise minuciosa e pormenorizada

da carpete, ou de uma das carpetes,

que usaram para envolver os cad�veres.

Mantivemos a mesma tese
que o Fernando, durante muito tempo.

Sempre procur�mos

que a investiga��o
fosse t�o exaustiva quanto necess�rio.

Nesse processo, h� um momento
em que surgem elementos enganadores.

Recordo-me, por exemplo,
de que fiquei muito surpreendido

quando ele p�e em causa a carpete,

dizendo que era persa, ou algo do g�nero.

ADVOGADO DA A��O POPULAR

N�o havia provas.

Falemos das carpetes.
Parece que h� provas.

O Antonio Carrascosa,
que conduziu a investiga��o,

falou com o Fernando Garc�a
e ele pode contar-nos tudo.

Uma das coisas que lhe pedi
foi que queria ver a carpete.

Ele ligou-me e disse
que a carpete a que me referia,

um sargento do quartel de Patraix

pensou que era lixo e queimou-a.

O Sr. Carboneres,
que desenterrou os cad�veres,

disse-nos que era uma carpete boa

e azul.

A teoria dele era a seguinte:

"Uns dizem que era cinzenta
e outros dizem que � azul.

Significa que h� duas.

Uma foi escondida
e a outra est� no processo.

H� uma carpete azul
que nunca foi encontrada.

Mas n�o tem nada que ver
com a que vamos ver agora.

Esta � a carpete castanha
com pelo comprido

que o Professor Frontela analisou
passados quatro anos e meio.

A carpete foi retirada quase de noite.

Estava suja com barro

e com os l�quidos da decomposi��o.

Algumas pessoas podem ter visto uma cor
e outras pessoas outra cor.

Por a� n�o se pode concluir

que existia outra, quanto mais persa.

E menos ainda pensar
que, se houvesse uma carpete valiosa,

porque era a tese dele,
e n�o sei de onde a tirou,

significava que uma pessoa importante
tinha participado no crime.

O que encontrou o Professor Frontela
nessa famigerada carpete?

Primeiro, encontrou sangue.

Encontrou tr�s manchas de s�men.

- Encontraram algo na primeira an�lise?
- Nada. Isso surpreende-me,

porque sei como se trabalha
no Instituto de Toxicologia de Madrid,

onde ela esteve mais de quatro anos,

e essa carpete
� crucial para a investiga��o,

porque foi onde estiveram os cad�veres.

Nos meses antes da audi�ncia,
o julgamento medi�tico ganha forma.

Blanca Estrella Ruiz
vai com Fernando ao programa.

Temos connosco Fernando Garc�a,
o pai da M�riam.

- Boa noite.
- Boa noite.

E Blanca Estrella,
da Associa��o Clara Campoamor.

Com eles e com o Juan Ignacio Blanco,
vamos tentar...

Ela disse-me que fora convidada
para participar no Mississippi.

Aconselhei-a a n�o ir.

Ela foi e, a partir daquele momento,

distanciou-se do Fernando Garc�a.

Pedem-me para ir ao Mississippi.

�ramos tr�s e eu estava no meio.

E vi subitamente na parede, ao longe,

algo escrito...
N�o me recordo do nome do apresentador.

Pepe Navarro.

Navarro, pergunta para o Fernando. Isto.

Fernando, resposta ao Navarro.

Foi ent�o que me dei conta
da pergunta e da resposta.

O Fernando tinha de responder que sim
e a pergunta era:

"Fernando, achas que foi
algu�m importante?"

O Fernando ia responder,
e eu disse: "Fernando, d�-me licen�a.

Vou responder a esta."

Quem matou as raparigas de Alc�sser?

Sem d�vida
que o Miguel Ricart matou a Desir�e.

E, se me permitem, vou falar para a c�mara
e para o Miguel Ricart.

Qual � a c�mara?

- Aquela ali.
- Qual � a c�mara?

N�o te respeito porque �s um animal,
mas vou dizer-te uma coisa.

O advogado pode ter-te iludido.
Os animais tamb�m podem sonhar.

A justi�a ir� julgar-te
e n�s queremos condenar-te.

Vamos condenar-te.

A sociedade e a associa��o j� o fizeram,
e agora ser� a justi�a.

A Associa��o Clara Campoamor
n�o te perdoar�.

Quase me mataram.

O que acontecia no Mississippi,

e ela apercebeu-se,

era que...

... nos t�nhamos esquecido do arguido.

Pelo contr�rio,
fal�vamos de outras pessoas

que podiam ter participado,
por for�a das teorias da conspira��o.

Digo, se alguma vez fal�vamos do arguido,

era para sublinhar que o arguido
n�o tinha participado no crime.

E isso era quase um insulto.

ALC�SSER, A A��O POPULAR
DISTANCIA-SE DE FERNANDO GARC�A

Fernando, diz-se frequentemente

que os meios de comunica��o
se serviram da vossa trag�dia

para obter audi�ncias e lucros.

Matilde, Luisa, Fernando,
todos os familiares aqui presentes.

Sentem-se usados?

Eu uso os meios de comunica��o
para que a minha voz seja ouvida.

Se n�o tivesse essa janela
para chegar �s casas dos espanh�is,

seria como Jesus Cristo a pregar
no deserto e ningu�m me escutaria.

Eu uso a comunica��o social.

Mas a comunica��o social tamb�m usa

essa fome de saber que os espanh�is t�m,

e isso traduz-se em audi�ncia.

Mas bendito seja o espectador
que quer saber mais

sobre o que se passa com os nossos filhos.

TRIBUNAL REGIONAL

J� h� data para o julgamento.

O julgamento do caso de Alc�sser
acontecer� a 12 de maio.

O �nico arguido ser� Miguel Ricart.

A tens�o � evidente.
Os habitantes desta localidade valenciana

sa�ram � rua para pedir
a suspens�o do julgamento.

- As fam�lias das jovens...
- O pedido de suspens�o...

Querem acusar o Ricart.

Ele � claramente um bode expiat�rio.

� evidente que n�o est� nada claro.

Mais pol�mica. Fernando Garc�a
considera o julgamento uma farsa...

Fernando Garc�a
pede a suspens�o do julgamento

e a revis�o de toda a investiga��o.

N�o quero participar neste circo.

N�o quero ter parte neste embuste.

A a��o popular j� anunciou
que solicitar� o adiamento

assim que come�ar a audi�ncia,

e anteontem foi publicado
um relat�rio forense

que poderia alterar as investiga��es.

Quarenta e oito horas antes do julgamento,
surgiram os resultados

de dois testes para descobrir os culpados.

Os cad�veres foram lavados

para destruir qualquer prova
e impedir a an�lise.

O Professor Frontela
conseguiu recolher v�rios cabelos

e continuamos a pedir
que sejam analisados.

M�DICO-LEGISTA

... e n�o me esconderem nada, f�-la-ei.

Uma an�lise de 15 cabelos
encontrados nos cad�veres,

e nenhum pertence a Miguel Ricart,
o �nico arguido no caso.

A �nica prova conclusiva contra ele
� a sua autoincrimina��o.

Por isso, n�o pretendem

que o processo para determinar
como e quem assassinou as tr�s jovens

tenha in�cio na pr�xima segunda, dia 12.

Estamos com o Fernando!

Os cabelos pertenceriam a sete pessoas,
segundo o m�dico-legista.

A segunda prova � a carpete

em que ter�o sido embrulhados
os restos mortais.

Demoraram quatro anos
para descobrir que tinha sangue e s�men.

O Frontela tinha-a h� tr�s anos
e s� agora informa do sangue e do s�men.

A a��o popular
est� indignada com o atraso.

Tudo o que supostamente desaparecera
estava com o Frontela,

o perito dos que acusam a Guarda Civil.

Nunca houve oculta��o de provas,
muito pelo contr�rio.

Salvaguard�mo-las

para poderem estar � disposi��o
do tribunal aquando do julgamento.

As provas que a Guarda Civil
alegadamente queimara e perdera

t�m o nome do Frontela.

A associa��o vai averiguar
qual � a responsabilidade penal

de um perito que oculta provas.

Ela sempre defendera que havia pessoas
economicamente poderosas...

Trabalharam para algu�m,
e quero essa pessoa.

... por detr�s do crime
durante praticamente tr�s anos e meio.

De repente, mudou de opini�o.

Ela parece querer culpar-nos
pelo que a Guarda Civil fez.

Se eu fosse o juiz e tivesse esse poder,
o Frontela j� estaria preso.

Vest�gios de sangue e s�men

na carpete que envolvia os cad�veres.

Com as provas que temos,

houve, pelo menos,
oito pessoas envolvidas.

Pergunto a uma m�e na manifesta��o:

"Queres que a tua filha
seja a pr�xima v�tima do Ricart?"

Os manifestantes t�m de pensar.

Parar isto significa
que o Ricart � libertado.

N�o quero um alegado assassino nas ruas.

Estou a lutar para o evitar,

porque me preocupo com a pr�xima
que ser� assassinada pelo Ricart.

Se os pais e as m�es de Val�ncia
n�o percebem, deviam.

Queremos justi�a!

S� posso pensar que temem
que descubramos algu�m.

Uma centena de jornalistas
informar� sobre o desenrolar

do julgamento mais espetacular do ano.

Levante-se e aproxime-se do microfone.

SEGUNDA-FEIRA, 12 MAIO, 1997
JULGAMENTO DE MIGUEL RICART

O Minist�rio P�blico,

de acordo com o C�digo Penal
vigente � data,

acusa-o de tr�s crimes de homic�dio,

tr�s crimes de rapto

e quatro crimes continuados de viola��o.

Reconhece ter cometido os crimes

de que � acusado?

N�o.

Sente-se nessa cadeira.

Legendas: Hern�ni Azenha