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O F�LEGO PERDIDO DE JEAN EUSTACHE

Pela primeira vez, acho
que vejo mais claramente.

JEAN-PIERRE L�AUD L� UM TEXTO
DE JEAN EUSTACHE DE 1971.

"Junto com a simplifica��o que eu
busquei em meus primeiros filmes,

eu quis ser um revolucion�rio,

n�o para modernizar o cinema,
mas retorn�-lo �s suas origens.

Meu objetivo desde o come�o,

era de retornar a Lumi�re.

Sou contra novas t�cnicas.

O que � reacion�rio,
mas tamb�m revolucion�rio".

"A M�E E A PUTA"

N�o h� mais fortifica��es,

mas sempre haver�o as can��es.

Conhe�o algumas can��es
antigas tamb�m. Conhece esta?

Simples como uma rosa,

que voc� arrancou sem cuidado,

Voc� levou meu triste cora��o,

quando passou por minha porta.

Meu cora��o � uma flor de Outono.

Sem perguntar como ou porqu�,

voc� o levou, e o dei livremente.

T�o ingenuamente.

Voc� me aborrece.

ESTOU NA ESCURID�O

Ele estava filmando dentro de uma igreja,
perto de Fontainebleau, esqueci em qual vila.

Os produtores me pediram pra descer.

Havia algum problema com
o padre, eu deveria ir?

Eu disse que t�nhamos brigado,
e Jean n�o iria querer me ver.

Eles disseram: "N�o, pelo contr�rio".

Ent�o eu fui.

E naquela noite, eu falei com Jean.

Ele me disse o que planejou, mas
eu n�o queria que fosse filmado,

e que ele devia achar outra solu��o.

Foi quando ele teve a ideia
de filmar por tr�s da igreja.

Ele andou com as
crian�as, pelos dois lados,

com suas t�nicas brancas.

A filmagem continuou ent�o,
do ponto de vista delas,

e ele terminou em minhas
m�os, quando dei a Comunh�o.

N�o concordo com quem pensa

que ele era um cineasta marginal,
ao menos suas produ��es n�o eram.

Ele n�o era um cineasta maldito,

por outro lado, penso
que era marginal...

...na escolha do assunto,
e sua ideia de cinema.

Apresentou uma mudan�a, tamb�m.

Por exemplo, "A M�e e a Puta"

rompe totalmente com a grande
tradi��o do cinema franc�s.

Fica separado de outras
produ��es da �poca.

JOS� PE�A, PAI.

Eu n�o tinha fotos de Eustache.

Est� � nos EUA, em 1975...

sua m�e as enviou, ap�s sua morte.

Nesta, Jean est� de
smoking, muito estranho...

Esta � mais velha,

� da �poca da 'Cahiers'.

Fieschi a deu a mim,
ap�s a morte de Eustache.

� tudo que tenho.

Com Jean, Fieschi e
Biesse, autor da foto,

form�vamos um quarteto.

Eu guardarei esta, porque...

� de quando Jean n�o
estava t�o esgotado...

Prefiro lembrar das pessoas de
quando est�o bem, n�o depois...

"Estou na escurid�o,

um cidad�o em um pa�s ocupado
por tropas estrangeiras,

que n�o me permitem ser livre.

E n�o sei quanto tempo durar�.

Estamos num t�nel,

sinto fisicamente.

Est� nos s�mbolos, tamb�m.

N�o importa qual ramo.

N�o h� pol�tica de verdade.

N�o vejo escapat�ria.

E nem uma forma de resistir tamb�m".

"Jean Eustache, Janeiro de 1978".

A CASA ONDE NASCEU, PESSAC

"Por que eu refiz 'La
Rosi�re di Pessac'?

Porque em 1968, quando fiz o filme,

lamentei n�o haver uma vers�o de 1896,

o ano em que essa tradi��o medieval

foi ressuscitada, ao mesmo tempo
que o cinema foi inventado".

FRAN�OISE LEBRUN L� UM TEXTO
DE JEAN EUSTACHE DE 1979.

"Imaginei o que os irm�os
Lumi�re teriam feito em 1905,

num filme mudo sobre este evento.

Imaginei outro operador
de c�mera filmando isso,

durante a Primeira Guerra,

com os soldados, a vila, a multid�o.

Eu imaginei o mesmo filme em
1936, durante a Frente Popular,

quando o prefeito era comunista,
ou ao menos, socialista.

E ent�o uma 'Rosi�re' sob ocupa��o,

com alem�es assistindo a parada.

Em 1968, o filme foi terminado
antes de eu ter estas ideias.

Que testemunho magn�fico
seriam estes filmes!

Eu prometi a mim, como consola��o,
que eu o refaria todos os anos,

como um funcion�rio dedicado.

Para dizer as pessoas,
assistam e vejam como era.

E elas veriam a evolu��o da
Fran�a, e tamb�m do cinema.

Em 1979, eu decidi refazer 'La Rosi�re',

Eu disse a mim mesmo: "Ser� mais
f�cil, porque j� o fiz antes".

Na verdade, foi mais dif�cil.

A sombra do outro filme estava ali,

eu podia filmar de um
ponto de vista diferente.

O que poderia ser uma m� ideia,

pois eu n�o tinha ponto de vista.

Eu sou o meu ponto de vista.

N�o posso ter outro.

Jean Eustache, 1979.

UM MOMENTO DE AUS�NCIA

Este foi um projeto da INA (Instituto
Nacional de Audiovisual franc�s)

parte de uma s�rie sobre o Emprego.

Mas Eustache preferiu fazer um filme sobre o
Desemprego, o que pareceu mais �bvio para ele.

Sobre "Oferta de Emprego", 1980

Ele achou dif�cil de
escrev�-lo, ent�o pediu a mim,

um tanto insistente, para
fazer o que eu pudesse.

Eu estava receosa,
n�o sabia o que fazer,

e ele continuava insistindo,

foi chantagem emocional.

Eu estava intimidada pois...

eu venho de um ambiente intelectual,

mas ele era um autodidata, lia muito, e
eu n�o sabia o que fazer com o material.

Ent�o um dia, meio
violentamente, da parte dele,

eu disse, d�-me duas ou tr�s horas,

vou ver o que posso fazer.

Fiz o que ele me pediu.
Era ideia dele, n�o minha.

Quanto as entrevistas, apenas as juntei.

O que foi dif�cil para mim...

foi trabalhar com algu�m que
se considerava um arquivista.

Arquivo � um palavra grega
que significa "antigo".

Arquivistas coletam documentos

em v�rios locais e os guardam.

Eles tendem a guardar coisas

que consideram ser do passado.

Essa era a contradi��o no seu jeito

de lidar com a vida, como
durante "A M�e e a Puta",

ou eventos de sua vida
particular, que viraram o filme...

N�o sou a �nica a quem ele contou...

Quando discutia com uma
ou ambas as suas hero�nas,

ele descia at� um Caf�
para anotar o resultado,

ele anotava imediatamente.

Obviamente, algu�m que age assim,

n�o est� muito envolvido no presente.

Era dif�cil pra mim conceber...

Um autor, conforme a acep��o cl�ssica,

� algu�m que adiciona coisas ao mundo,

Mas ele tinha uma ideia diferente: O
autor seleciona, disseca e dispensa.

Ele produz algo que ele
modificou pela sua maneira de ver.

A mesma coisa aconteceu com o texto
chamado "Um Momento de Aus�ncia",

no qual ele trabalhava quando faleceu.

O t�tulo...

que eu acho maravilhoso,

e tinha tamb�m a comiss�o da INA

que o pediu para fazer algo

de maneira simples, como
filmar em apenas uma sala.

Era s� uma figura de express�o...

porque nesta mesma s�rie, Benoit
Jacquot fez 'Amerika' de Kafka.

Ent�o n�o havia restri��es
de estrutura t�o limitada,

mas eu gostei da ideia de limita��o.

Ent�o com a ideia de uma c�mera numa
sala para "Um Momento de Aus�ncia",

achei que podia fazer algo sobre ele

e sua maneira de viver
fora de eixo com o mundo.

"Ele teme o dia quando nasce.

Por isso n�o se levanta mais.

N�o ele, que fica na cama
e troca o dia pela noite.

Nem baniu o dia, que n�o nasce pra ele.

Ele teme quando a noite cai,

ent�o cria um dia artificial.

Ele teme o sil�ncio,
ent�o fala sem parar.

Mesmo se o outro
responde, ou ouve, ou n�o,

Ele fala sem pausa, como se n�o
ouvisse nada. De fato, n�o ouve.

Na sua frente, se agitam, fazem caretas.

At� n�o saberem mais como falar ou agir,

e ent�o n�o dizem nem fazem nada.

Quando outros n�o conseguem mais
fingir, ele retorna para suas m�quinas.

Ele tem muitas e as
faz dizerem o que quer.

Elas obedecem cada capricho seu,

repetem cada murm�rio seu
com infinita cumplicidade.

Elas ouvem 24 horas por dia.

N�o falam muito. Ele n�o se importa,
pois n�o gosta de ser contrariado.

Mas, ele poder ficar entediado,
perder a cabe�a, e quebr�-las.

Isto � um grande problema pra ele,
quando uma m�quina n�o o obedece.

O resto do tempo elas funcionam sem parar
perfeitamente, elas invadiram o quarto.

O r�dio ronca, uma voz
de outra parte murmura,

seguindo a entona��o,
o r�dio acende ou apaga.

Mas nem a luz fraca, nem a voz
no escuro atrapalham seu repouso,

aconchegado na cama.

Pelo contr�rio, o agradam,

e se a voz e a luz parassem,

ele acordaria, assustado
pelo sil�ncio e a escurid�o".

"Um Momento de Aus�ncia, 1980"

Ali est� ele!

Viu?

"Eu acho que � desonesto,
falar do olhar do cineasta.

Essa ideia de olhar que milagrosamente
pode transformar as coisas,

foi tratada em 'O Porco'
('Le Cochon', 1970),

em estreita colabora��o
com Jean-Michel Barjol.

Filmamos o mesmo evento ao mesmo tempo.

Barjol filmou o que ele quis,
como ele quis, e eu tamb�m.

Pod�amos ter feito dois
filmes sobre o mesmo assunto,

o que n�o � m� ideia,

mas este n�o era o ponto,
isso seria art�stico.

Duas vers�es sobre o mesmo
evento era o que eu n�o queria.

Ent�o, misturamos os
rolos e os montamos juntos.

"O Porco" estabeleceu
ao menos uma coisa:

Acho que ningu�m mais pode falar do
"olhar do cineasta" ap�s este filme".

Bem, de fato n�o consigo discordar,

porque � exatamente o
que penso e o que digo,

exceto por um ponto:

quando se escolhe um personagem,

um evento ou uma hist�ria,

esse personagem, evento ou hist�ria
tornam-se vitais para o filme.

A presen�a �nica...

e isso vale para diretores diversos,

como Dreyer, Bresson ou Renoir,

voc� tem que respeitar o evento, mesmo
se o tenha inventado, ou a hist�ria.

E no caso de 'O Porco',

onde eu discordo um pouco de Eustache,
pod�amos ter feito dois filmes,

ele � um cineasta e eu tamb�m,

e se voc� respeita o que est� filmando,
voc� pode fazer qualquer coisa,

voc� � obrigado a levar em
conta o que est� na sua frente.

Nenhum de n�s dois podia ter feito
um filme diferente do que fizemos.

COME�AR PELO PRINC�PIO

Um filme dedicado por Jean
Eustache a seu filho Boris

'Me lembro de caminhar em Paris,
de Montparnasse ao 18� distrito,

andando e pensando, como
que voltando no tempo.

Quando cheguei em casa,
minha av� falou por horas.

Me dei conta que me falava
de coisas importantes.

Quando eu disse "Temos que gravar isto",

Ela disse que n�o eram coisas bonitas.

Eu disse que n�o importava,

tem que grav�-las sendo
bonitas ou n�o. S�o importantes.

Consegui dinheiro para uma
pel�cula 16mm preto-e-branco,

aluguei duas c�meras,

Chamei Th�audi�re para oper�-las e
Jean-Pierre Ruh para gravar o som.

A dura��o do filme seria
a mesma da pel�cula".

Jean ficou de costas, meio acanhado.

Havia duas c�meras ali, na mesma altura.

Uma para closes em Odette.

Lembro onde ficavam
os microfones, tamb�m.

Um na altura da mesa para Odette,

e um aqui para Jean, um pouco atr�s,

eram dois microfones,
um Beyer M88 cardioide,

que tolerava mudan�as no timbre.

- E as l�mpadas?
- N�o, n�o... Ele n�o quis ofuscar Odette.

Jean n�o quis interromp�-la.

Ent�o, duas c�meras,
duas Nagras, paradas,

ent�o havia sempre um som e uma imagem.

Rodando, 12-2-1971.
Jean Eustache.

T�tulo: ''N�mero Zero''.

- Jean-Pierre,
est�o rodando? - Sim.

Marque!

'Zero', AB, tomada 1.

Tchau, vov�.

Estude com vontade.

Comece quando quiser...

- Voc� quer um caf�?
- N�o, me faz mal.

U�sque, ent�o?

� u�sque de primeira.

- Um copo pra voc�.
- J� provei um pouco deste u�sque.

Eu prefiro com gelo.

Eu gostaria que voc�
falasse como no outro dia.

Come�ando pelo meu nascimento?

Comece do princ�pio,
com a morte de sua m�e.

Come�ar de quando eu nasci...

o vilarejo de No�s, esses
locais n�o existem mais,

mas se quiser, pois voc� nasceu l�.

Vivi feliz at� a morte de minha
m�e, quando eu tinha sete anos.

Os sete anos mais
felizes de minha vida...

- Voc� se lembra?
- � claro.

Eu tinha uma ideia um pouco inst�vel,

mas que com os anos, ficou mais clara.

Um autor de cinema deve ter
um papel de n�o-interven��o,

ao contr�rio de um autor
dram�tico, que cria...

Um autor de cinema deve estar l�, para
evitar que outros tomem o controle,

n�o para impor sua vontade.

Assim que a c�mera �
ligada, isso � cinema.

N�o h� porqu� adicionar nada, fazer
acrobacias, adicionar virtuosismo...

porque quando a c�mera est�
ligada e posicionada, � cinema.

Adicionar qualquer coisa �
interfer�ncia de um autor dram�tico.

Deve haver outros caminhos, mas
acredito que a hist�ria do cinema...

� feita por quem n�o o usou dessa forma.

Griffith, Renoir,
Dreyer ou Fritz Lang...

os maiores... os grandes criadores

nunca usaram a c�mera de outra forma,

a n�o ser registrar o que
acontecia em frente a ela.

"O Papai Noel Tem Olhos Azuis", 1966

Senhoritas, uma foto com o Papai Noel?

garotas que nunca olhavam
ou sorriam quando passavam.

Nas fotos, elas me abra�avam

e olhavam nos meus olhos,
pra ver quem eu era.

T�mido no come�o, eu segurava seus
ombros, mas logo perdi a timidez.

Eu acariciava todas as garotas
nas fotos, e nenhuma reclamava.

Senhorita, uma foto com o Papai Noel?

� a filha de meu barbeiro, eu n�o
me atreveria a me aproximar dela,

mas eu tinha visto ela beijando
um rapaz. Eu sabia seu nome.

Ol�, Christiane!

Sua m�e veio depois.
Conhecia o fot�grafo.

Acabei de ver sua filha.

Ela me disse que viu voc� com
um Papai Noel de olhos azuis.

Martine! Uma foto com o Papai Noel?

Eu chamei e ela veio.

Senti que ela se jogou em mim.

Logo ap�s o diploma de eletricista, Eustache
entrou para a companhia ferrovi�ria, SNCF.

E foi para a oficina de Paris,
em Villeneuve St. Georges.

Ele dormia nos vag�es
usados como dormit�rios.

Ent�o ele conheceu Jeannette Delos...

com quem ele se casou.

e me mandou esta espl�ndida foto para provar
que estava em Paris, na bas�lica Sacr� Coeur.

Sempre mantive contato com Eustache.

Estive envolvido nas
aventuras de "P�re N�el"

e "Mes Petites Amoureuses".

"Ter�a-feira, 06 de Abril:

Caro amigo, em dois dias,
far� oito anos que estou aqui.

Zonzo com a espera,
como diria Ren� Char.

Ontem meu filho
completou 6 anos, caramba!

Responda r�pido se voc�
vir� a Paris, e quando.

Vou projetar meu filme,

se vier, me avise. Fazer outra
proje��o seria dif�cil, como de costume.

Ainda n�o revelei as
fotos. Sauda��es, Jean".

Segunda-feira, 04 de fevereiro, 1974.

Sua carta chegou assim que parti
para Belgrado. Volto no s�bado.

Minha av� est� mal, no hospital,
com um marca-passo no cora��o.

Comecei "Meus Pequenos Amores".

Vou procurar loca��es em breve.

Vou precisar de voc� para muitas
coisas, especialmente di�logos.

Ser� que esqueci como as
pessoas falam? Sauda��es, Jean.

No come�o ele sempre vinha a Narbonne.

No come�o, como era
ferrovi�rio, era f�cil,

mas mesmo depois de sair da
SNCF, ele dava um jeito de vir.

Normalmente pedindo carona.

Ele gostava disso pois podia conversar,
e o motorista n�o cairia no sono!

Nessa �poca, ele vinha muito.

Ele veio at� a �poca de 'P�re N�el',

e ent�o houve um grande sil�ncio.

Nos encontramos de novo
ap�s " A M�e e a Puta",

quando fui na proje��o privada.

Mas foram poucas vezes ent�o.

Mas podia ver a mudan�a
total nele quando voltava,

n�o era a mesma pessoa que
voc� encontrava em Paris.

Ap�s isso, s� nos falamos por
telefone, em conversas longas.

Se o telefone tocasse � meia-noite,
ou mais tarde, eu sabia que era ele.

E fal�vamos muito...

Numa noite, como de costume,

ele me liga...

e pergunta se podia vir.

Eu disse que sim, h� sempre um sof�,

venha quando quiser.

Ele disse: "Vou ver,
n�o sei, estou cansado".

Isso foi ap�s o acidente...

na Gr�cia, que imobilizou suas pernas.

Perguntei como ele faria para
vir, com esse problema nas pernas.

Ele disse: "Pegarei o
trem, como todo mundo".

Eu disse pra fazer como
desejasse, n�o precisava avisar.

E disse: "Ligarei na
semana que vem e veremos".

Isso foi na quinta-feira.

Na semana seguinte, minha mulher
diz: "Voc� ligou para Eustache"?

Eu disse que n�o precisava,

ele vir� ou n�o, como de costume.

Isso foi na segunda ou ter�a.

2 ou 3 dias depois, eu estava
no trabalho com o r�dio ligado

e ent�o ou�o que acharam

o cineasta Jean Eustache
morto em seu apartamento.

Ent�o corri, fui pra casa,
e liguei pra m�e dele,

que infelizmente teve de
confirmar que era verdade.

Como eu era ferrovi�rio, peguei o
primeiro trem, e fui na casa da m�e dele...

na manh� seguinte, e fomos ao
necrot�rio, em Quai de la Rap�e...

para ver Eustache.

Isso me lembra o que meu pai disse...

meu pai gostava de Eustache,
e isso era rec�proco...

Quando Eustache se
suicidou, ele disse...

com seu sotaque inimit�vel:

"Lembre-se, seu amigo � um imbecil".

Porque ele n�o aceitava que algu�m
pudesse atirar em si mesmo por um lado,

e ter uma vida t�o ativa na outra.

Ele n�o aceitava que
algu�m pudesse se matar.

Ele nunca aceitou isso, nunca.

Ent�o, voltamos para casa,

porque a sepultura seria feita
uma semana depois, eu acho.

Eu fiz a �ltima viagem com meu pai.

Para o funeral do Sr. Eustache.

"Eu sempre sonhei em acordar
de novo, nascer de novo,

para sentir de novo as
alegrias, as tristezas, tudo.

Mas isso poderia ser
muito duro ou perigoso

para o homem que me tornei. O portal para
a felicidade que aparece em meus sonhos

apenas pode ser, eu temo, o da morte".

'Peine Perdue', Jean Eustache,

fragmentos de um roteiro abandonado.