All language subtitles for The.Puppet.Master.Hunting.the.Ultimate.Conman.S01E01.WEBRip.x264-ION10

FEVEREIRO DE 2020

Se a vossa m�e estivesse aqui agora,

que mensagem gostariam de lhe dar?

- Tipo "m�e, se est�s a ouvir..." ou...
- Sim.

Imaginem que a c�mara � a vossa m�e.

M�e, se est�s a ver isto...

... devias saber que,
aconte�a o que acontecer,

poder�s contar sempre connosco.

O que querem que a vossa m�e fa�a?

N�o sei.

� muito dif�cil, depois de...

Sete anos?

J� nem sei.

Achas que a m�e nos reconheceria?

Reconhec�-la-�amos?

M�e, se est�s a ouvir isto agora,

n�o importa o que pass�mos.

Ainda te adoramos
e queremos-te de volta na nossa vida.

O mais dif�cil � que isto
ainda est� a acontecer

e j� aconteceu antes.

E pode haver pessoas
a quem ele pode ter feito qualquer coisa.

UMA S�RIE DOCUMENTAL NETFLIX

O agente secreto do MI5

� descrito como um perigo cont�nuo.

Ele controlava tudo na minha vida.

Ele n�o a quer partilhar.

N�o o posso deixar chamar a pol�cia.

Mas � para isso que serve
a embaixada americana.

Disseram que te tirariam do pa�s.

Quem � este tipo? O que � que ele quer?

Ele quer dinheiro.

- Ele queria sexo.
- � um psicopata.

- Passa despercebido. Vive nas sombras.
- � como perseguir um fantasma.

Ele controla-a.

... com a alcunha "Mestre Manipulador".

� a minha foto preferida da m�e.

As pessoas costumam dizer:
"Eras t�o loura quando eras mais nova."

E eu: "� a minha m�e."

Os meus amigos diziam:
"Gostava de ter uma m�e como a tua.

Gostava que a minha m�e
cantasse connosco no carro."

Mesmo numa ida �s compras,

ela cantava o que eu
e os meus amigos cant�vamos.

Todos a achavam fixe.

A minha m�e era muito gentil,
muito carinhosa.

Tudo o que ela fazia era por n�s.

Estar com a minha m�e...
Eu era um menino da mam�.

Adoro esta. O pai parece t�o novo.

A Sandra foi o meu primeiro amor.

Conheci a Sandra quando tinha 14 anos.

Cas�mo-nos aos 20 anos
e depois a Sophie nasceu.

Parab�ns a voc�

Infelizmente, com o passar dos anos,
afast�mo-nos e acab�mos por nos divorciar,

mas continu�mos muito bons amigos

e cri�mos os nossos filhos juntos.

Ela era muito nova
quando conheceu o pai e n�o resultou.

Mas podia resultar com outra pessoa.

IDADE 35-40, SEXO FEMININO

A minha m�e decidiu experimentar
sites de encontros.

EDITAR

Lembro-me que me mostrou
o perfil e as fotos dela.

Fiquei a pensar: "Isto � um an�ncio."

"Temos uma posi��o,
se estiver interessado.

Algu�m que ame a minha m�e
e talvez nos ame a n�s."

A minha m�e teve alguns namorados.

Nenhum era a pessoa certa.

IDADE 35-40, SEXO MASCULINO

NOVEMBRO DE 2011

Mas, uma noite, houve um telefonema.

E tornou-se habitual.

"� um tipo com quem costumo falar.
Chama-se David."

Trabalhava nos m�dia

e vendia espa�o publicit�rio
a grandes empresas.

O David adorava carros.

Adorava coisas caras.

Ela nunca tinha tido�um carro novo.

A minha primeira impress�o
do Audi azul novo foi: "Que classe!"

Era t�o emocionante para ela
poder dizer que o tinha.

E numa cor personalizada.

Parecia que finalmente
estava a ter algo que merecia.

O David planeou uma viagem
connosco a Espanha.

Fiquei muito animado,
porque j� tinha ido de f�rias,

mas nunca tinha ido a Espanha.

O in�cio da viagem pareceu normal.

Fic�mos em todos os hot�is
que estavam planeados.

Mas, depois disso, pass�mos noite e dia
no carro, quase sem parar.

S� o David � que conduzia.

A ouvir Duran Duran o caminho todo.

Quando nos verificaram os passaportes,

o David comportou-se de forma estranha.

N�o queria que v�ssemos o passaporte dele.

Perguntei-lhe qual era o apelido

e ele disse: "N�o te preocupes com isso."

E eu pensei: "O qu�?
Porque est�s a esconder o teu apelido?

Qual � o problema?"

N�o fazia ideia do que se passava.
S� sabia que era estranho.

Chegou a um ponto em que o David
estava sempre l� em casa

e, depois, nunca mais se foi embora.

Quanto mais o v�amos,
mais ele se tornava parte da nossa vida.

Insinuava frequentemente
que tinha dinheiro.

E estava sempre a dizer � minha m�e
as coisas que lhe podia comprar.

Dizia que era um homem ocupado,
que tinha um emprego,

mas estava sempre em minha casa.
Nunca o vi ir para o trabalho.

Parecia mais que estava desempregado.

Para mim, n�o me parecia bem.

Se soubesse o que sei agora,
quem o David realmente era...

... n�o o deixaria aproximar
da minha fam�lia e dos meus filhos.

Ent�o...

Como se chama?

Chamo-me John Atkinson.

Vamos falar do per�odo de tempo
antes de isto ter acontecido.

Est� bem.

Quando andava na universidade,
a primeira vez que o conheceu

e a sua vida mudou completamente.

FACULDADE DE AGRONOMIA�HARPER ADAMS

Eu andava na melhor
Faculdade de Agronomia da Inglaterra.

Mas eram tempos terr�veis.

No in�cio dos anos 90,
o pa�s estava ansioso com o facto

de o Ex�rcito Republicano Irland�s
ter declarado guerra.

A bomba, 45 quilos de explosivos,

estava numa carrinha
estacionada numa rua lateral.

O IRA reivindicou
o ataque de morteiro de hoje

que explodiu no quintal
do primeiro-ministro brit�nico.

Apanhada numa explos�o de vidro
e destro�os, a loja encheu-se de v�timas...

O IRA avisou que os ataques
deste fim de semana

ser�o seguidos por mais bombardeamentos

enquanto o governo brit�nico
continuar a ocupar parte da Irlanda.

Havia terroristas entre n�s que usavam
bombas para perturbar as nossas vidas.

FACULDADE DE AGRONOMIA�HARPER ADAMS

Havia muitos irlandeses na faculdade,

e a pr�pria faculdade estava
sob algum tipo de vigil�ncia ou suspeita,

porque um estudante
traficava armas para o IRA.

O estudante de 20 anos
da Faculdade de Agronomia Harper Adams

foi parado pela pol�cia.

Encontraram duas espingardas Kalashnikov,
100 cartuchos de muni��es

e vest�gios de cinco tipos diferentes
de explosivos no carro.

Parecia surreal

que este terrorista estivesse entre n�s.

Depois disso, do nada,
um dos meus amigos irlandeses suicidou-se.

Porque � que um tipo fant�stico
faria isso?

Fui ao bar.

... do IRA.

Falei com o novo barman, o Rob.

Tinha-o conhecido melhor
nas semanas anteriores.

Contei-lhe sobre a morte
do meu amigo e o Rob disse:

"Achas que ele se suicidou?

O teu amigo n�o se suicidou.
O IRA matou-o.

Ele viu algo que n�o devia ter visto."

"O que viu o meu amigo?"

Ele perguntou-me se eu sabia fazer bombas.

Eu disse que n�o.

"Os ingredientes principais
s�o fertilizante e gas�leo.

Onde arranjas isso?"

"S�o ambos usados em quintas."

"Achas que o estudante
que traficava armas agiu sozinho?

Estas pessoas trabalham em c�lulas
e falta descobrir uma."

Perguntei-lhe como sabia isso tudo.

"N�o sou quem pensas que sou.
Isto � um disfarce.

Sou um agente do MI5."

O Rob disse que precisavam
de algu�m na faculdade

para ajudar a expor a c�lula do IRA.

"Vimos o teu historial e est� limpo.
Vamos usar-te."

Uma parte de mim ficou entusiasmada.
E a ideia de prender alguns terroristas?

Claro. Sou totalmente a favor disso.

Perguntou:
"Em quantas lutas te envolveste?"

Eu disse:
"N�o sou um lutador. Evito conflitos."

Era aparente que eu precisava de treino.

O Rob ensinou-me a dar golpes secos.

Al�m de me treinar para dar socos,

treinou-me para levar socos.

"Tens de ser capaz de o aguentar
de qualquer �ngulo."

N�o sei quantas vezes me esmurrou.

E senti-me aliviado por ter aguentado,

por estar a passar no teste.

Fui encarregado de anotar
as matr�culas de todos os carros

numa parte espec�fica do campus,
perto da loja de fertilizante nitrogenado.

E depois o Rob pediu-me�uma lista
de nomes de pessoas suspeitas

com acesso a fertilizante.

O meu colega de casa,
o Jim, estava na lista.

O Rob e os chefes dele suspeitavam do Jim.

"O Jim � um deles."

A ideia de ele estar envolvido com o IRA

era chocante e dif�cil de acreditar,

mas n�o era�imposs�vel.

Eu e o Jim viv�amos na mesma casa
que a Maria e a Sarah.

A Sarah era minha namorada.

O Rob disse que, segundo os chefes,

j� n�o era seguro estarmos l�.

"Estamos em grande perigo. Temos de ir j�.

N�o s� n�s os dois,
mas as raparigas tamb�m."

Perguntei-lhe:"Vais-lhes contar
o que me contaste a mim?"

"N�o, � perigoso.
Podem p�r a opera��o em risco."

"Ent�o, como as vais convencer?"

"Vais ter de lhes mentir
para lhes salvar a vida."

A Maria e eu fomos chamadas ao bar,
porque ele tinha de nos dizer algo.

Ele fez-nos sentar

e disse-nos que tinha cancro
e que era terminal.

A ideia de ele morrer
era muito triste, sim.

Ele n�o s� era meu namorado,
como tamb�m era meu amigo.

Elas ficaram arrasadas.

Sobretudo a Sarah.

E tive uma sensa��o revoltante

de ter contado uma mentira nojenta.

Foi, sem d�vida,
a pior coisa que j� fiz na vida.

Disse-lhes que tinha uma lista de desejos.

Viajar pelo pa�s e ver coisas
que n�o teria a oportunidade de ver.

O teu namorado diz-te
que est� a morrer de cancro.

Tu dizes: "N�o h� tratamento?"

"Nenhum tratamento."
"De certeza que n�o h� nada?"

Come�amos a pensar
em todas as hip�teses e em tudo o mais.

Mas, no fim de contas,
se ele disser que s� tem semanas de vida,

tu dizes-lhe que n�o?

Odeio os�Duran Duran.

O Rob tocava o "Ordinary World" sem parar.

Acabava.

E ele tocava outra vez. Acabava.

E ele tocava outra vez, at� ao fim.

Se ouvir alguns compassos dessa can��o,

volto a reviver essa altura.

Eu, o John, o Rob e a Maria
viaj�vamos de cidade em cidade,

por todo o Reino Unido.

Sempre que tent�vamos
tirar uma foto com o Rob,

ele � que tirava as fotos,
para se certificar de que n�o aparecia.

Era divertido viajar pelo pa�s
com os amigos.

Mas havia sempre algo
no fundo da mente a dizer:

"Ele est� a morrer."

As mentiras eram horr�veis.

Mas eram justificadas, porque as vidas
das pessoas estavam em risco.

Um homem armado est� a ser perseguido
depois de ter ferido gravemente um pol�cia

ontem, em Cheshire.
A divis�o antiterrorismo da Scotland Yard...

Est�vamos a viajar h� dez dias

quando o Rob nos disse
que n�o pod�amos voltar para a faculdade.

Era algo muito mais s�rio.

Ele deixou-me dizer-lhes
que n�o estava a morrer de cancro.

Disseram-me que era tudo mentira.

O Rob disse: "T�m de ficar aqui,

porque est�o envolvidos em algo

que vos p�e em perigo
e �s vossas fam�lias."

A Sarah n�o ficou contente.

"Podes provar que trabalhas para o MI5?
Podes provar que n�o podemos voltar?"

Perguntei-lhes v�rias vezes
porque n�o pod�amos ir para casa.

Mas ele sabia quanto eu tinha
na minha conta banc�ria,

que tinha v�rios terrenos na fam�lia.

O Rob disse que tinha essa informa��o
porque trabalhava para o governo.

S� precis�vamos de seguir instru��es.

Quando voltei para o carro...

Quando penso nisso,
foi uma decis�o importante,

porque foi crucial para o que aconteceu.

Essa decis�o mudou
os pr�ximos dez anos da minha vida.

A minha rela��o com a Sandra mudou
quando o David se envolveu na vida dela.

Tornou-se distante.

Se eu ligasse, ela nem sempre atendia.
N�o respondia �s SMS.

Parecia-me muito estranho.

A minha m�e j� n�o sa�a com os amigos.

S� falava com o David.

N�o pass�vamos tempo em fam�lia.

T�nhamos vidas separadas.

Ela zangava-se cada vez mais connosco.
Estava a distanciar-se de n�s.

E n�s �ramos os filhos dela.

Senti que n�o sabia
em quem ela se estava a tornar.

O David deu uma pulseira � minha m�e.
Um dia, ela veio ter comigo a gritar.

O David estava atr�s dela.
Ela disse: "Roubaste-me a pulseira."

E eu disse: "Sou teu filho, m�e.
Nunca te roubaria."

�ramos unidos. Confi�vamos uns nos outros.

E agora, de repente, nem confiava
no pr�prio filho, na casa dela.

Isso foi s� o come�o.

O David disse ao meu pai:
"O teu filho � gay e n�o te disse."

O meu pai chamou-me de lado e disse-me:
"Se queres ser gay, tudo bem."

Eu disse: "Pai, eu n�o sou assim.
N�o sou mesmo."

N�o se diz �s pessoas que s�o algo,
mas era o que o David estava a fazer.

Chateou a m�e.
Chateou o pai. Chateou o Jake.

A minha m�e comprou-me sapatos chiques
para usar na escola

e gastei os saltos demasiado depressa.

O David disse: "Tudo bem, eu trato disso."

Deu-mos e tinham um peda�o enorme
de metal atr�s.

Perguntei-lhes: "O que � isto?"

E eles: "At� aprenderes a andar
como deve ser, tens de usar isto."

Por isso, usei-os na escola.

Toda a gente olhava para mim.

E nessa idade, sentimo-nos inseguros.

Ele sabia que p�r aquilo nas solas
iria lixar a minha vida.

Senti que estava a ser controlado.

Voltei da escola.

Tinham-me trancado fora de casa.

Nas primeiras vezes,
fiquei l� fora e voltei mais tarde.

At� que n�o aguentei mais.

Estava a bater � porta.
Tinha sido trancado fora de casa.

N�o era um erro. Era muito deliberado.

Comecei a gritar: "Est� algu�m em casa?"

O David disse � minha m�e: "N�o atendas."

Fui para a porta das traseiras.

Tive um acesso de raiva.

Ouvi um estrondo.

Olhei para cima
e vi a minha irm� em p�nico.

Ela nunca me tinha visto assim,
a arrombar uma porta.

"Deixa-me entrar. Vou buscar
as minhas coisas e vou-me embora."

Ela come�ou a chorar.
Dizia: "N�o podes ir."

Eu s� dizia: "Sophie, tenho de ir."

S� quando me acalmei

� que me apercebi de que tudo come�ou
quando o David apareceu.

"Porque est� isto a acontecer?
Porque � que algu�m faria isto?

Quem � este tipo? O que quer ele?"

O Rob dizia que o IRA nos estava a seguir
e que n�o pod�amos parar.

Hoje, o centro de�Warrington
foi alvo do terrorismo do IRA...

Dois dias depois de sairmos de Warrington,
explodiram duas bombas no meio da cidade.

T�nhamos de viver � margem
e n�o ser rastre�veis.

Para mim, o pior foi n�o poder contactar
a minha fam�lia e os meus amigos.

Isso perturbou-me.

Sabia que eles ficariam preocupados,

porque, obviamente,
ningu�m tinha telem�veis naquela �poca.

N�o t�nhamos not�cias da Sarah
h� algum tempo, o que era estranho.

Liguei para a faculdade dela.

Disseram-me que ela n�o estava l�
e que n�o sabiam porqu�.

Durante a faculdade,
ela trabalhou numa quinta.

E o agricultor estava preocupado
com o que lhe tinha acontecido,

porque ela tinha abandonado o carro,
tinha-o deixado com ele.

E depois, claro,
come�amos a ficar preocupados

com o que se est� a passar.

Estava a pensar chamar a pol�cia
quando o telefone tocou.

Era a Sarah.

Foi um al�vio ter not�cias dela,
mas parecia um pouco estranha.

"Pai, gost�vamos de te visitar.
Somos quatro pessoas."

O meu pai fez perguntas
sobre o meu desaparecimento.

O MI5 tinha receio que o meu pai
falasse com a pessoa errada

e pudesse dar informa��es ao IRA
inadvertidamente.

Ent�o, o Rob disse que t�nhamos de visitar
os meus pais para os descansar.

Chegaram � meia-noite.

Isso era estranho.

Foi a primeira vez que vimos o Rob.

O Rob era confiante? Sim.
Pode dizer-se que era arrogante.

O Rob real�ou a import�ncia
de mantermos a nossa hist�ria.

A Sarah n�o foi muito expansiva.

Mais uma vez, n�o era nada t�pico dela.

Disse-lhes que tinha cancro no f�gado
e que tinha tido a ideia

de ir de f�rias
nas minhas �ltimas semanas.

Bem, sou agricultor.

Se temos uma manada de gado,
percebemos que animal est� doente

pela forma como anda e como se comporta.

Nota-se.

Com ele, n�o se notava.

O Sr. Smith fez-me uma pergunta.

"Qu�o doente est�s?"

Fiquei paralisado e comecei a tremer.

O corpo todo tremeu.

Era como se ele estivesse mesmo assustado.

Talvez eu estivesse um pouco enervado

e n�o acreditasse completamente
no que me diziam.

Eles sabiam que algo n�o estava bem.

Ent�o, o Rob mentiu aos meus pais.
Disse para n�o se preocuparem.

Voltar�amos para a faculdade
da� a 15 dias.

Depois disso, sa�ram rapidamente.

Sim, despedi-me da minha fam�lia

e n�o sabia quando os voltaria a ver.

Sabendo que havia algo estranho,
eu devia t�-los impedido.

N�o os devia ter deixado ir.

Sempre me arrependi de n�o os ter retido.

Esper�mos v�rias semanas.

A Sarah n�o voltou para a faculdade.

Nessa altura,
soube que tinha de fazer algo.

Eu pagava-lhe o cart�o de cr�dito.

Se ela tinha feito compras em Cheltenham,
tinha estado l�.

Isso deu-me uma ideia.

Eu conseguia saber
onde eles tinham estado.

Assinalei os s�tios e as datas
num mapa na parede.

CARRO DA SARAH ABANDONADO!

Sab�amos que eles tinham percorrido o pa�s

e que deveriam ir para sul

e, nesse mesmo dia,
iriam para norte e voltariam para tr�s.

E n�o fazia sentido.

Analisei os extratos
e vi as despesas maiores

e as que pareciam mais interessantes.

ROUPA DE HOMEM

Ela comprou um fato
para o homem que os acompanhava.

Ficaram num hotel e sa�ram � pressa.

Achei que a Sarah estava a gastar
demasiado dinheiro.

Ela sempre fora cuidadosa

e n�o o gastaria descontroladamente.

Fic�mos apreensivos com o que se passava.

Mas depois a Sarah ligou.

Disse:

"Tenho de adiar a licenciatura um ano,

porque j� n�o estou interessada
em agronomia.

A Commercial Union, uma seguradora,

ofereceu-me um est�gio

que paga 25 mil libras por ano."

Quando disse que n�o ia voltar a estudar,

soubemos que as coisas
se tinham descontrolado.

Liguei � empresa
e n�o ofereciam tais est�gios.

O sal�rio era muito mais do que pagariam

a uma pessoa sem forma��o.

Era completamente mentira.

Nada disto era normal.

A Sarah n�o mentia.

Eu vivia em casa
com a minha m�e e o David.

Sentia que ela era uma pessoa
completamente diferente.

O Jake tinha-se ido embora
e vivia com o meu pai,

e eu n�o falava com eles.

Senti-me abandonada.

E a �nica orienta��o
que recebia era do David.

Lembro-me de ele dizer que o meu pai
tinha desiludido a minha m�e,

de contar coisas
que o meu pai tinha feito � minha m�e,

coisas sobre o casamento deles,
sobre o div�rcio.

A progress�o foi muito subtil e gradual.

O David perguntava-me: "Nunca mais
queres ver o teu pai, pois n�o?

Nunca mais queres falar com ele, pois n�o?

N�o queres falar com o teu pai,
n�o o queres ver, pois n�o?

N�o queres. N�o queres.

Nunca mais queres ver o teu pai,
pois n�o?"

Todos os dias. V�rias vezes por dia.

At� que comecei a dissociar-me do nome.

Mark Clifton era o nome de um estranho,
n�o do meu pai.

Era uma figura assustadora
que me faria mal e � minha fam�lia.

Parab�ns a voc�

Escrevi � Sophie muitas vezes.
Mandei-lhe muitas mensagens.

Parab�ns, querida Sophie

Disse-lhe que a adorava,
que tinha saudades dela.

Tentei fazer voltar as coisas ao que eram.

Sempre que recebia uma carta,
punha-a no mesmo envelope.

Esse envelope tinha o t�tulo
"Mentiras e Cal�nias do Sr. Mark Clifton".

E estava preso no meu quadro de corti�a.

N�o falei com ele
durante dois anos e meio.

Era claro que o David
estava por tr�s de muito disto,

mas n�o conseguia perceber porqu�.

Pensei: "O que se passa aqui?
Quem � este tipo?"

Tentei fazer uma pesquisa local sobre ele,
procurei na Internet.

Conhecia-o como�David Hendy.

Fiz pesquisas em listas locais.

N�o encontrei nada sobre ele.

Parecia um fantasma.

EM FUGA H�
6 MESES

Liguei para a pol�cia.
Disseram que a Sarah era maior de idade

e podia tomar as suas pr�prias decis�es.

"Porque faz a pol�cia perder tempo?"

Tinha de a encontrar sozinho.

Eu sabia que a Sarah estava desaparecida
e que devia estar com o Robert.

Mas onde?

Era uma quest�o de investigar
todos os s�tios onde podiam ter ficado.

Mas estamos a seguir um rasto
que pode estar frio.

T�XIS K.

Podemos ter 100 s�tios diferentes

e verificamos cada um
para ver se l� ficaram.

"Est�? Fala o Peter Smith."

"Est�?"

Est�? Bom dia.

"Pode ajudar-me?"

Pode ajudar-me?

"Estou � procura da minha filha."

LONDRES

Chama-se Sarah.

"Bom dia. Sou o pai da Sarah."

Chamo-me Peter Smith.

"Procuro informa��es. Pode ajudar-me?"

Tenho um problema.

"Estou a tentar descobrir o que aconteceu.
A minha filha desapareceu."

Desapareceu.

Quando cheg�mos � casa segura,�estavam
todos nervosos, especialmente o Rob.

Ele tinha descoberto que o pai da Sarah
estava a tentar localizar-nos.

Uma pista leva a outra e assim por diante.

Uma quinta,
um quarto para arrendar, o que seja.

O Rob mandou-me observar carros.

Tinha de registar que carros
estavam estacionados em certos s�tios,

para que os superiores dele
verificassem as matr�culas.

Temos de avan�ar passo a passo.

E se trabalharmos
cada passo cuidadosamente,

acabamos por ter sorte.

A Sarah foi vista
a sair de uma casa em Peterborough.

Eu disse: "Bem...

Qual � o endere�o?"

N�o a chamei. N�o fiz muito barulho.

A �ltima coisa que queria fazer
era alert�-los de que os procurava,

porque podiam fugir.

Como entramos numa casa trancada?

Vamos pelas traseiras
e procuramos uma abertura.

Se n�o houver, temos de fazer uma.

N�o nos restringimos � lei

quando queremos descobrir coisas,

sen�o, n�o iremos longe.

A casa de Peterborough estava vazia,

exceto por um quarto onde estavam
os pertences do John e da Sarah.

Parecia que tinham acabado de chegar

e depois: "Temos de sair daqui."

Peguei numa nota no meio dos pap�is.

"Ouve, tenho boas not�cias para ti.

A Commercial Union, uma seguradora,

ofereceu-me um est�gio

que paga 25 mil libras por ano."

Foi um grande golpe.

Era o que ela me tinha dito ao telefone,
palavra por palavra.

A Sarah tinha sido instru�da no que dizer.

Nessa altura, soube que devia haver algu�m
a puxar os cordelinhos.

N�o o podia provar,
mas tinha a certeza de que era o Robert.

Acab�mos em Sheffield,
numa nova casa segura em�Dorothy Road.

O Rob disse que a casa tinha microfones,

para que o MI5 pudesse monitorizar
a seguran�a do edif�cio.

Tive de mudar o meu aspeto.

O meu cabelo tinha de ter
uns tr�s cent�metros

e tinha de ser louro, quase branco.

O Rob disse-nos para n�o darmos
os nossos nomes verdadeiros.

Passei a ser o�Jamie.

O SEU EMPREGADO
JAMIE

Disse-me para n�o revelar�nada
sobre mim ou sobre o meu passado,

para n�o criar rela��es pr�ximas
com as pessoas.

Como disfarce, o Rob arranjou-me
um emprego como barman.

Eu vendia peixe e batatas fritas
e chamava-me�Betty Smith.

A minha vida consistia em levantar-me,
comprar um bilhete de autocarro,

trabalhar no meu turno
de seis ou oito horas, esperar,

andar de carro at� � meia-noite,

vigiar, dormir, e�voltar a fazer tudo.

Levantar-me, comprar o bilhete
de autocarro, fazer o turno, esperar...

Semanas e semanas de stress.

Foram disparados cinco tiros
e o pol�cia foi atingido duas vezes.

Morreram tr�s pessoas na explos�o.

Levantar, bilhete de autocarro...

Sem saber o que se passa, constantemente.

... horas � espera, andar de carro...

Sem saber quem nos segue,
preocupados com o que se passa.

Levantar...

Aqui temos a morte, mais uma vez.

� t�o intenso,
que estamos sempre stressados.

Levantar, bilhete de autocarro.

As v�timas foram levadas
para hospitais locais.

Fazer o meu turno, esperar horas,
andar de carro, dormir.

Todos os dias eram iguais.

- Acordava.
- Levantar...

O David levava-me ao trabalho.

- Trabalhava.
- Esperar.

Esperava, esperava...

O David ia-me buscar. Eu adormecia.

Acordava e repetia tudo.

Uma e outra vez.

Eu trabalhava como cabeleireira,
como aprendiz.

Tinha de pagar 300 libras
de renda por m�s,

apesar de s� ganhar pouco mais de 400.

A m�e come�ou a ter
cada vez menos autoridade.

Come�ou a ser:
"D�-me o dinheiro. Eu dou-o � tua m�e.

Eu fico com a renda da tua m�e."

Eu tinha uma conta poupan�a
com dez mil libras...

... e quando ele descobriu, come�ou a rir.

Ele estava t�o...

... quase orgulhoso de si mesmo.

O David convenceu-me
a ir ao banco, a mentir

e a dizer que ia levantar o dinheiro
para o meu primeiro carro.

Levantei o dinheiro.
Estava num envelope. Dei-o ao David.

E nunca mais soube dele.

Uma noite, depois do trabalho,
o David n�o me veio buscar.

Quando falei com ele ao telefone,
de manh�,

disse-lhe que n�o estava certo.

"N�o podes fazer isso �s pessoas.

N�o me podes deixar no meu trabalho,

a dormir no ch�o."

Tinha de me ir embora, pela minha sa�de.

Pedi desculpa � minha m�e.
Disse-lhe que n�o podia continuar l�.

Depois de viver sozinha um ano,

voltei a ter contacto
com o Jake e o meu pai.

Entrei na minha cozinha
e a Sophie estava l� e...

Sim. Abra��mo-nos e chor�mos.

� incr�vel a rapidez com que esquecemos
as coisas quando amamos algu�m.

Quando sa�, comecei a perceber
o que ele estava a fazer.

Acho que foi para se livrar de mim.

Ele n�o a quer partilhar.

JANEIRO DE 2014

Em 2014, dois anos depois
de come�arem a namorar,

a m�e e o David sa�ram de casa.

Ningu�m sabia para onde tinham ido.

Quando a Sandra se foi embora, n�o pensei

que seria a �ltima vez que eu
ou os meus filhos a ver�amos.

Fui � casa para a preparar para vender.

Fiquei horrorizado e chocado ao ver que,
no quarto principal,

havia um enorme cadeado
de tamanho industrial.

� o tipo de cadeado que se tem
numa garagem ou num barrac�o.

A porta cederia antes do cadeado.

� para manter uma pessoa
dentro ou fora do quarto.

Havia jornais a cobrir a janela toda,

para que ningu�m do lado de fora
pudesse ver o que se passava aqui.

Acho que � muito perturbador e sinistro

ir ao extremo de esconder
o interior da casa

e p�r um cadeado daqueles
dentro de uma casa.

Fiquei surpreendido
com o correio que estava l� em casa.

Havia todas as contas,
todas as exig�ncias de d�vidas por pagar

e intima��es do tribunal
que se possam imaginar.

H� aqui tantas cartas.

Contas da eletricidade, do telefone,

do conselho municipal local.

Uma coima de uma multa de estacionamento,
impostos em d�vida.

Detalhes do cart�o de cr�dito,
mais multas de estacionamento.

Aqui est� uma sobre o empr�stimo da casa.
N�o era pago h� muitos meses.

A Sandra n�o tinha d�vidas
nem cart�o de cr�dito antes de o conhecer.

O descalabro das finan�as dela,

para mim, � culpa do David.

O carro da tua m�e e do David.

Empr�stimo para o carro, n�o pago.

Era um carro de 35 mil libras.
Era topo de gama.

O carro foi um presente para a minha m�e,
mas o empr�stimo foi feito por ela.

Recebeu um carro que teve de pagar.

Ele sempre nos disse que ganhava muito bem

e comprava carros de luxo
e rel�gios caros.

Ao ver isto tudo,
percebemos que era tudo falso.

Pesquisei mais um pouco.

J� tinha tentado,
mas pesquisei com mais afinco.

Continuava sem encontrar nada.

Depois, tive a ideia

de combinar as palavras
"David Hendy, impostor".

IMPOSTOR

Surgiu um site a descrever
um homem com esse nome,

mas tamb�m com o nome de Robert Freegard.

"O vigarista que me roubou a vida."

"A pol�cia disse que � malvado
e que est� numa classe � parte."

"Robert Freegard, o 'Mestre Manipulador',

como ser� apelidado pelos tabloides."

"Fazendo-se passar por um espi�o ao estilo
James Bond, Freegard j� tinha roubado

quase dois milh�es �s v�timas."

Depois, cliquei em "imagens".

IMAGENS

Pronto. O�David Hendy
era o Robert Freegard.

Era o mesmo homem.

Fiquei chocado.
Os crimes que cometeu eram horr�veis.

Este homem esteve com a minha fam�lia
e n�o sab�amos quem ele era.

FRAUDE

ARMADILHA

'MALVADO'

Legendas: Teresa Silva