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UMA SÉRIE DOCUMENTAL NETFLIX

O que faz isto?

- O que faz isto?
- Isto?

Isto faz "bum".

Faz "bum".

Isto faz "bum".

Precisa de uns pregos.

- Vamos ver de perto.
- Precisa de estilhaços.

Isto é veneno para os inimigos de Deus.

Vão prová-lo.

Em nome de Deus.

Se Deus quiser.
Ele cumpre sempre as promessas.

Como disse Abu Mohammad al-Adnani:

"Que Deus o ache aceitável."

Custa-me ouvi-los usar o nome de Deus.

"Se Deus quiser."

"Seguindo as suas ordens."

"Deus Todo-Poderoso."

São palavras fortes.

Palavras que contêm bondade.
Só transmitem bondade.

Sinto que foi tudo
uma brincadeira para eles.

"O que faz isto?" "Isto faz 'bum'".

Desculpa?

E se a casa em Alcanar
não tivesse explodido?

ALCANAR, 16 DE AGOSTO DE 2017
24 HORAS ANTES DO ATENTADO

Quanto às pessoas que morreram
na explosão da casa em Alcanar,

as provas científicas…

JUIZ INSTRUTOR DO TRIBUNAL NACIONAL

… fornecidas durante o caso,

mostram que eram o imã Abdelbaki Es Satty

e Youssef Aalla.

Isto também foi confirmado
por Mohamed Houli no seu depoimento.

A explosão de Alcanar
aconteceu pouco depois das 23h00.

- Mas eles não souberam nessa noite.
- Não.

Na verdade, o Younes e a Moha foram
vistos em Ripoll na manhã de 17 de agosto,

quando foram alugar as carrinhas.

Então, na manhã seguinte,
ainda não sabiam?

JORNALISTA E AUTORA - INVESTIGADOR

Alugaram as carrinhas e o plano era
ir a Alcanar, enchê-las de explosivos

e realizar atentados
consecutivos ou simultâneos.

Torre Eiffel, Camp Nou e Sagrada Família.

- Naquela manhã, seguiram o plano.
- Sim.

Como sabemos que falaram
naquela manhã e seguiram o plano?

Surpreendentemente, o Moha Hichamy
gravava todas as suas chamadas.

Usava uma app de gravação de chamadas.

Temos todas as chamadas
feitas e a recebidas.

O que aconteceu no dia
a seguir à explosão da casa em Alcanar?

PROCURADOR-GERAL, TRIBUNAL NACIONAL

Saíram de Ripoll

e foram alugar a carrinha 0782.

Nesse mesmo dia 17, Mohamed Hichamy
e Younes Abouyaaqoub tinham ido à RUZAFA

alugar uma terceira carrinha.

Depois acreditamos que foram para Alcanar.

CHEFE DE INVESTIGAÇÃO
POLÍCIA DA CATALUNHA

O Younes levou o Fiat Talento 7086.

O Mohamed Hichamy
conduzia o Renault Kangoo 0782.

Por volta das 14h00,
ambos passaram a portagem de Martorell.

- Olá.
- Olá, chefe. Bom dia.

Estou na AP-7, perto de Martorell.

Já passámos a primeira.
Paramos na gasolineira.

Não podemos rezar nesta.

- Está bem.
- Muito bem.

Encontramo-nos na próxima.

- Olá, Mohamed.
- Onde estás?

Estou na gasolineira.

- 14
- H27
YOUNES LIGA A MOHA DE NOVO

Lavaste-te para a rezar?

Sim, lavei.

- Estou a chegar.
- Lavaste-te?

- Não. Agora não. Já o fiz há pouco.
- Enfim, vens?

- Sim. Falamos depois.
- Está bem. Até já.

Quando souberam exatamente
que a casa tinha explodido?

Não até ao meio-dia do dia 17 de agosto.

Um agente ligou
ao irmão mais velho dos Abouyaaqoub.

Ele não fazia ideia
do que estavam a planear.

O agente explicou que encontraram
um carro nos escombros em Alcanar.

Foi uma chamada de rotina a dizer:

"Temos o seu carro. Houve uma explosão"?

Sim. Estava registado em nome do irmão,

mas era o Houssa que o usava.

No dia 17, chegámos à casa.

AGENTE DA POLÍCIA DA CATALUNHA

Encontrámos um carro, um Peugeot 306,

registado em nome de um residente
de Ripoll, Houssaine Abouyaaqoub.

O Houssa estava
na sala de jantar, à espera do almoço.

O irmão contou-lhe o que tinha acontecido.

O Houssa saiu da sala de jantar
e ligou para o Younes.

O Houssaine ligou ao Younes
por volta das 15h00.

Não sabemos o que disseram.

No entanto, sabemos que o Mohamed
ligou ao Houssaine às 15h06

e o Houssaine disse-lhe
que a casa tinha explodido.

Houssa. Onde estás?

- O Younes ligou-te?
- Sim. Estou com os rapazes.

O que te disse ele?

Disse que acabou. Devíamos voltar.

- Voltar? Estamos longe.
- Longe? A casa… Sabes?

O quê?

Não sabes que a casa explodiu?

Não, não sabia.

Bem, explodiu. Volta.
Temos de arranjar um plano.

Ouve, agora já estamos longe.

Tentem juntar-se os quatro
e pensar no que podem fazer.

O que vamos fazer? Não fazemos ideia.

Entrem nos carros e mexam-se.

Pensem no que podem fazer.

Não sabemos o que fazer, Mohamed.
Não sabemos o que fazer!

Entra na AP-7.
Se virem alguma coisa, mexam-se.

Encontramo-nos na AP-7?

Sim, vem para a AP-7. É onde estamos.

- Está bem.
- Certo. Adeus.

Foi quando o Younes e os outros

perceberam que o plano
se tinha desmoronado.

INVESTIGADORA DO REAL INSTITUTO ECLANO

Percebendo que tudo o que tinham
planeado com o imã ficara sem efeito,

o Younes encontrou uma solução.

Hichamy seguiu para Tarragona.

Perto de Cambrils, teve um acidente,

provavelmente porque estava nervoso
e a ver o telemóvel.

A pessoa em quem bateu
disse-lhe que ia chamar a Polícia.

O Mohamed Hichamy saiu a correr.

Deixou o carro lá.

Depois, voltou a ligar ao Houssaine
e disse-lhes para se despacharem.

Estou?

Houssa, onde estão?

A sair de Ripoll.

Despacha-te. Acelera.

Na A-7, não na AP-7.

Quando chegarem à AP-7,
saiam para a A-7, está bem?

Está bem.

Quando virem a placa que diz
que Castellón está a 177 km,

e Valencia a 244 km,

eu estarei lá à espera.

Quando chegarem, liguem os quatro piscas

e eu entro.

Sim, claro.

Certo. Não tenho carro.

Está bem.

O Moha ligou aos irmãos mais novos.

Enquanto iam buscá-lo,

o Younes ia para Barcelona
na outra carrinha, certo?

O Younes ia realizar o atentado.

Os irmãos mais novos de Ripoll
iam para sul buscar o Mohamed.

Na altura, a explosão
em Alcanar já tinha acontecido.

O Youssef e o Abdelbaki Es Satty morreram
e o Houli tinha sido hospitalizado.

O Mohamed Hichamy tentou contactar
o Younes pelo menos duas vezes.

O Younes ia para La Rambla,
mas não atendeu o telefone.

Não sabemos se já o tinha descartado.

Nunca foi encontrado.

Parece estranho, mas temos de ter em conta

que a situação
foi completamente inesperada.

Foram decisões não planeadas,
tomadas no calor do momento.

CHEFE DOS PROCESSOS DE RADICALIZAÇÃO
POLÍCIA DA CATALUNHA

O Mohamed Hichamy
decidiu reunir os membros da célula

e adaptar-se à situação.

Entretanto, o Younes,
que estava absolutamente determinado,

decidiu agir por conta própria
em La Rambla, em Barcelona.

Não sabemos se o Mohamed
e o Younes conversaram.

Mas, no fim,
algo se passou na cabeça do Younes,

e decidiu vir para Barcelona.

O Younes voltou,
enquanto o Mohamed continuou para sul.

QUINTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2017

- 16
- H53

Atenção! Veículo a passar por La Rambla!

Está a atropelar pessoas!

Há feridos na Carrer del Carme.

- Feridos na Carrer del Carme.
- Enviem ambulâncias!

A carrinha
chegou quase à entrada do Liceu.

Houve um atropelamento em massa
com uma carrinha em La Rambla.

Foi em ziguezague pela rua abaixo,
atropelando quem podia.

Atropelava a cerca de 80 km por hora.

As pessoas fugiam do caminho.

Há muitas vítimas e muitos agentes.

A carrinha foi intercetada.
O condutor fugiu.

Estou?

Sim, olá. Ahsan Ameen?

- É o próprio.
- És tu.

- Olá. Chamo-me Roberto Manrique.
- Certo.

Da Unidade de Atenção e Avaliação
de Pessoas Afetadas pelo Terrorismo.

- Presumo que saibas porque estou a ligar.
- Sim. O atentado em La Rambla.

Na unidade de apoio às vítimas,
estamos a ajudar neste momento 217 vítimas

do atentado de agosto de 2017.

Há muitos, como tu,
que não conseguimos localizar.

Posso ligar amanhã para ajudar?

- Claro.
- Eu também fui uma vítima.

Fui vítima de um atentado há 33 anos.

ETA: MASSACRE EM LOJA DE BARCELONA

Como trabalhava na Hipercor,

consideraram-no acidente laboral,
não um ataque terrorista.

Passei sete anos em tribunal.

Fui a primeira vítima civil a fazê-lo.
Falo disso com a minha mulher.

Se eu tivesse morrido no Hipercor,
quereria que alguém fizesse isto.

Já que sobrevivi, sou eu que o faço.

Que trabalho fazias
na Unidade de Cuidado e Avaliação?

Somos um grupo de profissionais.

Advogados, psicólogos e psiquiatras.

Quando és vítima
de um atentado terrorista,

a expectativa é que
o estado te dê conselhos.

Mas o estado
não te vai explicar os teus direitos.

Estou a ver.

Isso aconteceu com o Hipercor,
com o 11 de março e até agora.

O nosso objetivo é garantir que outros
não fiquem desamparados como nós ficámos.

Ahsan Ameen, take um.

Sou do Paquistão
e vivo em Espanha há quase 16 anos.

Sou taxista.

Quando a carrinha desceu La Rambla,
pensei que fosse um bêbado.

Acertou-me aqui, no braço.

Felizmente, caí para o lado da carrinha,
não para a frente dela.

Foi por isso que sobrevivi.

O que foi?

O que se passa?

Estava nervoso. "O que se passa?"

Havia gritos e choro.

Havia muitas mulheres,
crianças e estavam a sangrar.

A Rambla da Catalunha
estava aqui mesmo à minha frente.

Estava à entrada do metro.
A carrinha entrou em La Rambla.

Contornou a entrada do metro.

Então, virei-me e fugi,
a procurar uma saída.

Ligou-me logo depois de ter acontecido.
Estava perto dele.

"Pai, está aqui uma carrinha da Telefurgo.
Atropelou pessoas."

Naquele momento…

percebi que não era uma coisa normal
e disse-lhe para se esconder.

Entrei num beco
que tinha um pátio interior e uma igreja.

Pensei em tentar sair
pelo outro portão do pátio,

mas não o deixavam aberto no verão.

Quando tentei sair por onde vim,

tinham-nos fechado
para nos manter seguros.

Estava preso naquele pátio
com cerca de 20 turistas,

nenhum deles falava catalão ou espanhol.

O meu pai estava do outro lado
de La Rambla. Muito preocupado.

Ia tentar ir ter comigo.

Infelizmente, a saída para a rua
onde eu estava, estava fechada.

Era um portão trancado com cadeado.

Podíamos tocar-nos através das barras,
mas não nos podíamos abraçar,

que era o que mais precisávamos.

Tive de me esconder na loja mais próxima,
que por acaso era uma sex shop.

A vida é engraçada, não é?

Num momento tão trágico, escondes-te ali.

Trabalhava num quiosque
na Praça da Catalunha.

Ainda me lembro do ruído.

Vi uma carrinha passar
entre outro quiosque

e a entrada do metro.

O quiosque onde estava era deste lado.

A carrinha passou entre o semáforo
e a entrada do metro.

Passou ao lado do outro quiosque.

Pareceu parar, depois acelerou
e seguiu para o nosso quiosque.

Comecei a gritar.

Saí um pouco,
porque estavam aqui as bancas.

Olhei para trás
e vi que vinha muito depressa.

Então, comecei a correr.

Ao virar-me
para me esconder atrás do quiosque,

um homem empurrou-me assim.

Fiquei de lado, assim.

A carrinha atropelou-me.

Fui projetado.

Um colega arrastou-me para o lado.

Pensou que eu estava morto.

O meu outro colega também.

Pensavam que tinha morrido porque tinha
sido arrastado para o canto do quiosque.

Foi quando recebi
uma chamada da Argentina.

Ouviram dizer que um argentino
tinha morrido em La Rambla.

A minha família ficou assustada.

Disse-lhes que estava bem e desliguei.

Estávamos lá, íamos ao El Corte Inglés.

E fomos atirados contra a parede.

E passados um ou dois segundos…

vimos a carrinha passar
a poucos metros de nós.

Lembro-me de corpos a voar.

Depois, a Polícia disse-nos
para entrar na loja mais próxima.

No meu caso, era uma farmácia.

Havia muito choro, muito medo…

Dizia-se que podia haver bombas.

A pior parte
foi quando trouxeram o Julian.

MENINO AUSTRALIANO DESAPARECIDO
ENTRE OS MORTOS

Deitaram-no no chão.

Tentaram reanimá-lo,
mas não havia muito que pudessem fazer.

O que mais me chocou foi…
terem-se ido embora.

Deixaram o menino no chão da farmácia.

Uma das farmacêuticas
pegou numa toalha e tapou-lhe a cara.

Passaram cerca de duas horas
até o levarem.

Alguns tentavam
espreitar por baixo das persianas

para tentar ver os seus acompanhantes.

Aqui, estava um homem
sentado com os dois filhos.

Cerca de oito e 12 anos.

Esconderam-se aqui porque tiveram medo
que houvesse bombas lá fora.

Abrigaram-se nas traseiras da loja.

Por volta das 21h30,
chegou um agente com um distintivo.

Mostrou-o ao pai.

Levantou-se. "Este é
o cartão do cidadão da sua mulher?

A sua mulher está morta."

Os miúdos começaram a chorar.

Os psicólogos não tardaram a vir
para os ajudar, especialmente aos miúdos.

Houve muito silêncio.

Tive a ideia de que a música
podia ajudar a unir-nos.

Lembrei-me do Noturno N.º 2 de Chopin.

AMBULÂNCIA
EMERGÊNCIA MÉDICA

Quando a carrinha
estava prestes a bater-me,

alguém apareceu do nada
e a carrinha bateu-lhe.

Isso fez a carrinha desviar.

Aquela pessoa caiu em cima de mim,
o que causou os ferimentos que tive.

O braço direito dela caiu aqui
e o braço esquerdo ficou aqui.

Então, fiz este gesto instintivamente.

E foi quando embateu,
porque estávamos mesmo ao lado.

Foi quando a carrinha bateu.
Pensei: "Agora vem a explosão."

E fiquei…

Basicamente,
como se estivesse debaixo de água.

Os sons pareciam todos distantes.

Foi quando comecei a ouvir
a minha filha a gritar: "Pai!"

Disse-lhe para fugir porque eu não podia.

Estava… nesta cadeira de rodas.

Havia tantas pessoas e coisas no chão
que estava bloqueado.

Além disso, tinha outra pessoa…
em cima de mim.

Disse-lhe para fugir.

E ela dizia: "Pai, não vou sem ti.

Não te deixo."

Saiam daqui!

Entrevista a Francisco Javier Martínez,
take dois.

Sou o pai do Xavi Martínez Mompart,

um menino de três anos
que passeava com a família nesse dia,

com a irmã, a mãe, a tia e o tio,
quando foi morto.

O seu tio Paco,
que também morreu, estava lá,

a tia Roser, a mãe do Xavi,

a Marina, que é a irmã do Xavi
e a minha filha mais nova, e o Xavi.

Eu estava a trabalhar.

O Paco levava o Xavi no carrinho.

Afastaram-se e a carrinha
bateu no Paco, na Roser e no Xavi.

Foram os últimos.

Após o impacto,
o air bag disparou e a carrinha parou.

A Silvia ligou-me a chorar. Disse-me que
o Xavi fora atropelado por uma carrinha.

Disse: "Estou no centro médico."
E a chamada caiu.

Disse: "Não podem ter matado o meu filho."
Um colega disse-me: "Calma.

Vamos chamar um táxi e vamos procurá-lo."

Então, subimos La Rambla.

Não se ouvia nada.

Silêncio absoluto.

Como um vazio.

Como se todo o som tivesse sido sugado.
Completamente silencioso.

No centro médico,
a Polícia levou-me à porta.

Lá, vi a Silvia e a Marina.

A Marina tinha sangue no joelho.

A Silvia tremia.

Estavam lá muitas pessoas sentadas

com braços e pernas partidos,
bocas a sangrar.

Calados.

Estavam todos a tratar do Xavi.

Passaram uns 45 minutos
a tentar reanimá-lo.

Quando o reanimaram, um médico disse:

"Ele não está bem.

O coração não recebeu
o oxigénio necessário.

Mas vamos levá-lo ao Hospital de Sant Pau
para o avaliar e ver como está."

A minha família estava lá à espera.

Fizeram-lhe uma TAC
e o coração parou de novo.

Não conseguiram reanimá-lo.

Quando o estavam a levar
do centro médico, beijei-o.

Disse-lhe: "Força, meu Tarzan."
Mas ele estava muito frio.

Toquei-lhe e beijei-o. Estava muito frio.

Deixaram-no numa maca e disseram:
"Aqui está ele. O seu filho faleceu."

Fui para casa sozinho.
Tinha os sapatos do meu filho comigo.

Fui parado em três operações stop.
Só cheguei a casa às 4h00.

Dizia à Polícia:
"Apanhem o tipo que matou o meu filho.

São os sapatos dele.

O tipo vai voltar a fazê-lo.
Façam o que puderem."

Numa das operações,
passou a carrinha que matou o meu filho.

Com uma lona azul, estava a ser rebocada.

Parou mesmo ao meu lado.

Já em casa, disse à minha mãe:

"Está tudo bem. Amanhã,
trago o Xavi e enterramo-lo."

Só consegui enterrá-lo quatro dias depois.

Aqueles dias foram… os mais duros,

frios e cruéis da minha vida.

Quando há uma tragédia assim,
tudo o que amamos e vivemos…

"Sou pai e quero proteger os meus filhos.

Um tipo trabalhador.
Gosto de pessoas. Gosto da vida."

E matam o teu filho de três anos
nas férias.

Todos os princípios de ser humano e de pai

ficaram destruídos em La Rambla.

Ouvi falar de um atropelamento
em La Rambla.

O meu sargento, o meu subcomandante
e eu fomos logo para o local do crime.

Pegámos num veículo à paisana da Polícia,
mas com as luzes de emergência ligadas.

Quando chegámos a La Rambla,
o local parecia uma zona de guerra.

As primeiras horas
foram extremamente difíceis.

Sabíamos que uma carrinha
tinha atropelado várias pessoas.

Estava lá parada.

Não sabíamos quantos terroristas
ou pessoas estavam envolvidas.

Começámos a receber milhares de chamadas
sobre atiradores nos telhados.

Sobre tiros no El Corte Inglés.

Vamos!

As estações da Praça da Catalunha

e do Paseo de Gracia
foram fechadas e evacuadas.

Estava no campo
com o meu bebé e a minha família.

Soube que algo aconteceu em La Rambla.

Inicialmente, disseram
que foi um acidente com um carro.

Pouco depois,
disseram que se suspeitava de um atentado.

De imediato, pedi à escolta de segurança…

PRESIDENTE DA CÂMARA DE BARCELONA

… para me ir buscar, sabia
que tinha de voltar logo para Barcelona.

Havia uma sensação de urgência.

Não sabíamos o número de mortos
ou se o atentado tinha acabado.

Nas primeiras horas, o mais angustiante

foi o facto de o criminoso ter fugido.

Não sabíamos se o atentado
seria reproduzido noutros locais.

Havia rumores nas redes sociais.

Havia muita confusão
e incerteza na altura.

A equipa de contraterrorismo reuniu-se,

de acordo com os planos traçados em 2015.

Todos os departamentos afetados
participam na força de intervenção.

Estamos a trabalhar
numa resposta coordenada.

Houve relatos contraditórios.
Uns viram dois criminosos.

Sabemos que há dois terroristas.

Talvez um tenha sido apanhado,
mas o outro não sabemos.

Outras só um.

O terrorista percorreu toda La Rambla.

- Matou muita gente.
- Foi?

Sim, agora mesmo.
Morreram muitos. Não aguento.

- Não encontra a sua filha?
- A minha filha e as duas filhas dela.

- Tinham o bebé no carrinho.
- E a outra rapariga.

Sabe o que aconteceu? Foi um atentado?

Fomos informados que
a Polícia procura duas pessoas.

Quando vi pessoas a correr, pensei:
"É um atentado. Algo se passa." E…

Não faço ideia do que se passa. Cuidado.

Vêm aí agentes armados.

- Vamos recuar.
- Está praticamente vazio.

Vamos… A Polícia da Catalunha
vai para a Praça da Universidade.

Esta é a Ronda de Sant Antoni.
Estão a chegar mais agentes.

Segundo os relatos iniciais,
um poderia ter uma espingarda.

- Fecha, por favor!
- Vejam aqueles tipos com metralhadoras.

Fecha!

Uma pista que começou a ganhar força…

Devem estar lá em baixo.

… foi a do restaurante turco.

Parece que estão perto de La Boquería,

barricados num restaurante.

Uma pessoa de t-shirt azul?

Parece que uma força especial da Polícia

está pronta para entrar no restaurante,

Luna de Istambul,
onde um dos suspeitos está escondido.

Atrás de La Boquería.

RESTAURANTE TURCO
"AROMAS DE ISTAMBUL"

Estava abrigado em frente a La Rambla.

E um homem fechou
as persianas do restaurante.

Os agentes disseram-lhes: "Saiam."
Também dissemos: "Saiam".

Continuaram a fechar as persianas
e, um a um, saíram.

Homens, mulheres, crianças.

Ainda me lembro.
Tinham pontinhos de laser.

Até os miúdos saíram com as mãos no ar
e tinham pontos aqui.

E tivemos de os revistar.

Tivemos medo.
Não tenho vergonha de o admitir.

A Polícia continua a procurar

um dos suspeitos que continua a monte

depois de as autoridades confirmarem
que não estava dentro de um restaurante.

Reportaram-nos atiradores.

Vi mãos a sair de uma janela
porque estávamos todos a olhar para cima.

E, de repente, "bum".

Alguém a tirar fotos.

A minha missão era fotografar
tudo o que pudesse ver.

ATENTADO VISTO DE UMA VARANDA

VARANDA DE CÉSAR ALGORÁ

MINISTÉRIO DO INTERIOR

QUINTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2017
- 23
- H00

Estar numa conferência de imprensa
era novo para mim.

Mas se alguma vez houve uma situação
em que o responsável máximo da Polícia

devia responder a perguntas, foi esta.

MAJOR - POLÍCIA DA CATALUNHA

Conversámos sobre isso,
mas logo vimos que tinha de ser eu.

Como sabemos, hoje, por volta das 16h50,

uma carrinha entrou
na zona central de La Rambla,

atropelando peões.

O resultado trágico, como sabem,

são 13 mortos e cerca de 100 feridos.

Saiam da área!
Isto é uma zona de segurança.

Ataque terrorista confirmado.

- Evacuem a área.
- Fecha a cortina.

- Sim. Cuidado.
- Fecha a porta.

- Está bem.
- Fecha.

Foi um pouco caótico
quando chegámos ao local.

Mas depois encontraram
a primeira testemunha, um italiano.

Fez mais do que pedimos,
mas desorientou-nos.

Disse que o criminoso
fugiu para o Bairro Gótico.

BAIRRO GÓTICO

Vê-se que o condutor
ficou sentado 10 ou 12 segundos

até o italiano tentar abrir a porta.

Depois o condutor saiu a correr
para a parte alta

e para a direita,
em direção ao Bairro Gótico.

Com toda aquela adrenalina,
depois de testemunhar

aquele massacre,
senti-me compelido a fazer algo.

Assim que ele saiu da carrinha,
ficámos cara a cara.

Quando viu que estava encurralado,
a única palavra que disse foi:

"Bomba".

Fez este gesto. "Bomba".

E eu…

hesitei e ele… fugiu.

Ele fugiu naquela direção.

Tinha apanhado aquele cabrão!

A bomba.

Merda!

Meu Deus!

Não!

Meu Deus!

São responsáveis pelo massacre.

Eu e a minha família
temos sorte por estarmos vivos.

Muita sorte. Graças a Deus.

Estava a meio metro de nós.

Pensar nisso ainda me faz tremer.

Era apenas um miúdo.
Não podia ter mais de 30 anos.

Continuam à procura dele.

GOVERNO DA CATALUNHA

O condutor abandonou
a carrinha perto do Liceu e fugiu.

Recolhemos algumas descrições do suspeito.

Embora a Polícia estivesse na área,
não conseguiram segui-lo.

Sabemos que o Younes fugiu
entrando no mercado de La Boquería.

As câmaras de segurança filmaram-no.

Até há imagens dele a sair,
que apareceram em todos os media.

Uma mulher perguntava
o que acontecera e ele disse: "Não sei".

Foda-se!

Foda-se!

O que se passa?

Foi aí que parei e disse: "Está bem".

Virei-me,

liguei a câmara
e, à medida que as pessoas saíam,

perguntava se alguém sabia
o que tinha acontecido.

- Sabem o que aconteceu?
- Onde estão as meninas?

A única pessoa que respondeu disse-me
que tinha acontecido algo em La Rambla.

Essa pessoa era o terrorista.

- Sabes o que aconteceu?
- Não sei.

Quando a minha irmã viu o vídeo,

reconheceu o tipo de camisa às riscas.

Liguei logo
para as emergências para contar.

No momento, não pensas:
"Aquele tipo podia ter-me matado."

Pensas em como não percebeste.

Foda-se.

A primeira coisa que fiz
foi ligar ao meu pai.

Sai daqui!

Pensei que me iam matar.

O meu pai disse-me para ir
pela primeira rua que conseguisse.

Disse que eu devia ir
para onde trabalho. Foi o que fiz.

Havia pessoas a andar atrás de mim,
encostadas à parede.

Tínhamos medo de tiros.

Estávamos assim,

a andar encostados à parede
e a tentar manter-nos baixos.

Avisávamos outros
para se afastarem de La Rambla.

E quando ouvíamos a Polícia,
baixávamos a cabeça,

pensávamos que nos iam matar.

Ataque terrorista confirmado.
Por favor, evacuem a área.

Durante a nossa investigação,
soubemos que o Younes

fugiu pelas traseiras de La Boquería.

Ele subiu pela zona do MACBA…

… Rua Entenza…

… até chegar à Zona Universitária.

Lá, cruzou-se com o Pau Pérez,
o pobre coitado.

Pérez estava a estacionar o carro
atrás do departamento de matemática.

Foi quando o Younes o matou

e o pôs no banco de trás.

OPERAÇÃO STOP NA AV. DIAGONAL

O carro foi visto.
O problema é que, na Diagonal…

Agente, a 17 de agosto de 2017,

foi destacado para
a operação stop à saída da Diagonal?

- Sim.
- O que aconteceu por volta das 18h00?

Um veículo branco virou à esquerda,
na nossa direção.

Olhou para nós e riu-se.

Ouvi o carro a acelerar.

E lembro-me de olhar para baixo

e ver o capô do veículo quando me atingiu.

Senti um forte impacto nos joelhos

e depois ouvi o carro acelerar de novo.

Saquei da arma
e abri fogo contra o veículo.

Ele fugiu do local a toda a velocidade.

Estamos na Diagonal de Barcelona, à saída,

onde a Polícia tem uma operação stop.

O veículo continuou a partir daqui
e foi intercetado em Sant Just Desvern,

perto do edifício Walden.

Pouco antes das 20h, recebi uma chamada

a dizer que o Ford Focus fora encontrado

a cerca de 2 km da operação stop.

Fui até ao local e, quando cheguei
ao N.º 106 da Carretera Reial,

vi o Ford Focus
que nos tinha batido na operação stop.

Vi alguém no banco de trás, imóvel,
deitado de barriga para baixo.

Ativei o protocolo TEDAX

para garantir que não havia explosivos
ou outros materiais perigosos no carro.

CORPO NO BANCO DE TRÁS

QUINTA, 17 DE AGOSTO DE 2017

YOUNES ABANDONA CARRO E FOGE A PÉ,
DESPISTANDO A POLÍCIA

A agência de propaganda do Daesh
assumiu responsabilidade pelo atentado.

SOLDADOS DO ESTADO ISLÂMICO

Outro ataque com um veículo na Europa.

Londres, Paris, Berlim e Nice

passaram por este novo tipo de terrorismo.

Vamos mostrar uma das pessoas que,
segundo a Polícia da Catalunha,

é suspeita de participar
no atentado de hoje.

Driss Oukabir.

A primeira foto a aparecer na televisão
foi a do Driss.

Aconteceu pouco depois do ataque.

Foi uma questão de causa e efeito,
porque foi ele que alugou a carrinha.

A empresa de aluguer tinha o nome dele.

Além disso, as imagens de vigilância
mostraram que ele estava lá.

Disseram-me que tinham alugado
um apartamento sem mobília

e precisavam de uma carrinha para levá-la.

Disseram que quem tem menos de 26 anos

não pode alugar uma carrinha.

Agindo de boa-fé, concordei em ajudá-los.

- 17
- H26
DRISS ALUGA CARRINHA

Na manhã do dia 16,
Mohamed e Younes saem de Alcanar

e reservam duas carrinhas.

9H15
MOHA E YOUNES LIGAM À TELEFURGO

Bom dia.

É possível alugar
várias carrinhas ao mesmo tempo,

com o mesmo nome?

Teriam de ser condutores diferentes.

Está bem. Quantas carrinhas
tem disponíveis para alugar?

Pequenas? Duas.

Então, gostaria de alugar as duas.

- 11
- H30
ALUGAM A PRIMEIRA CARRINHA

Só Mohamed Hichamy era maior de 21 anos

e tinha carta há mais de três anos.

Só podiam alugar uma carrinha.

Só levaram uma porque
o Younes não cumpria os requisitos.

VOZ DA GERENTE DA TELEFURGO

O Mohamed ligou ao Driss a pedir ajuda,

para se encontrarem.

Ligaram-me e eu atendi.

Não reconheci o número.
Não fazia ideia de quem era.

Quando atendi, percebi que eram eles.

Pediram-me para alugar a carrinha
para os ajudar nas mudanças.

Depois, o Younes, o Mohamed Hichamy,
o Driss e o Moussa Oukabir

regressaram à Telefurgo.

Quando lá cheguei,
o Younes pagou o aluguer.

Mostrei os documentos e pronto.

Voltei.

Voltei a casa,
onde vivia com a minha parceira.

- Entrou na carrinha com o Younes?
- Sim.

Foi quando alugaram a carrinha 7086,

a que foi usada
no ataque mortal em La Rambla.

17 DE AGOSTO

- 16
- H55 YOUNES REALIZA ATENTADO
COM A SEGUNDA CARRINHA

Segundo a Polícia catalã,
o Driss Oukabir pode ser uma das pessoas

envolvidas neste ataque.

17 DE AGOSTO
- 19
- H00 FOTO DE DRISS NA TV COMO SUSPEITO

POLÍCIA DA CATALUNHA

Na esquadra, recebemos
uma chamada de um civil em Ripoll.

Disse: "O homem que procuram
está na rua Feixa Llarga, em Ripoll."

Os agentes saíram da esquadra
e encontraram o Driss.

Não sabia o que fazer.

Matar-me, fugir ou esconder-me.

Acalmei-me por um minuto e pensei em tudo.

Achei melhor entregar-me.
Não matei ninguém nem fiz nada.

Foi preso perto da esquadra,
a caminho de lá.

Prendemos duas pessoas esta tarde.

Acreditamos que ambos
estiveram envolvidos no atentado

ou no seu planeamento.

Um é marroquino, foi detido em Ripoll.

O outro nasceu em Melilla,
é espanhol, está detido em Alcanar.

Estávamos de férias na Galiza
na nossa caravana.

Vimos as notícias da noite

e uma foto do Driss.
Ele tinha trabalhado no meu restaurante.

E pensei:
"É o Driss. Como pôde fazer isso?"

Quando vi o Driss na televisão,
pensei: "O que está ele a fazer ali?"

Pensei que talvez fosse um erro
ou talvez não fosse um atentado.

Não sei. Ocorreram-me muitas perguntas.

Boa noite. Notícias sobre a investigação
do atentado em La Rambla.

A documentação encontrada na carrinha
sugere que o criminoso

pode ser Moussa Oukabir.

18 DE AGOSTO
- 21
- H00 FOTO DE MOUSSA NA TV

Mais tarde, mostraram a foto do Moussa.

Pensei: "Meu Deus! O meu amigo Moussa?

O que se passa?"
No início, não dá para acreditar.

"É o meu amigo nas notícias.
Ele executou um atentado."

O que faziam aqueles tipos ali quando,
uma ou duas semanas antes,

os viste pelo bairro?

Analisando o perfil do Driss Oukabir,
ele era mais velho do que os outros.

Conhecido como
um jovem problemático em Ripoll.

A Polícia conhecia-o bem.

Pode contar ao tribunal
o seu estilo de vida antes de ser preso?

Não era uma pessoa religiosa
nem um muçulmano praticante.

Não conhecia o imã e não ia à mesquita.

A minha vida
era como a de toda a gente aqui.

Ia a festas.

Consumia drogas.

Cocaína, haxixe.

Saía, bebia.

Trafica só para me safar.

Ele colaborava com a célula,

tendo em conta que tinham a mesma origem.

Alguma vez falou com os membros da célula,
para além do seu irmão

e do indivíduo
para quem alugou a carrinha, o Younes?

Tiveram conversas sobre religião
futebol ou algo assim?

Nunca. Nunca falei com eles sobre nada.

Andava com outras pessoas.
Eu era mais velho. Tinha 28 anos.

Ele e o irmão mais novo, o Moussa Oukabir,
tinham uma relação difícil.

Na verdade, havia uma diferença
de quase dez anos entre eles.

O Driss não teve praticamente

nenhuma influência sobre o Moussa
como irmão mais velho.

Achava que o Moussa fora radicalizado
ou estava a seguir o caminho errado?

Uma vez pensei…

Nos dias que precederam,
ele disse-me que se passava algo.

Um amigo dele tinha roubado algo.

Pensei, quando muito,
que estivesse envolvido num roubo.

Mas nunca pensei que fosse isto.

O seu irmão tentou…
radicalizá-lo religiosamente

ou levá-lo à mesquita?

Sim, insistia para que eu rezasse
e fosse à mesquita.

Sim, insistia muito.

Naquela noite, o Moussa
e o Driss tiveram uma conversa.

O Driss estava furioso.

Dizia que era impossível,

que o metiam sempre em sarilhos
e que ia acabar mal.

"Metem-me sempre em sarilhos."
"É por causa dos rapazes?"

"Sim."

"Não estás preparado."

"É sempre o mesmo.
Não me deixam em paz.

Quero fazer as coisas à minha maneira."

O Moussa responde a dizer:
"Driss, isso é o shaitan", o diabo.

O Moussa diz-lhe: "Lê o Al-Anfal."

O Al-Anfal é uma surah que, se distorcida,

pode ser entendida como falar
da luta contra os cristãos.

O que acontece àqueles que não lutam.

O Driss disse: "A culpa será minha."

"Confia em mim. É a verdade."

"Moussa, chega. Temos de falar.

Não quero que me metam mais
em sarilhos."

"Fala com eles."

"Amanhã em minha casa.

Não sou burro. Não quero falar disto aqui.

És estúpido?"

O Driss diz que está farto
e para vir, ou contará à mãe.

- 17 DE AGOSTO - 9
- H00
MOUSSA LIGA À MÃE

Na manhã do dia 17,

o Moussa tentou contactar
o Mohamed Hichamy e o Younes.

Consegue falar com o Mohamed Hichamy.

O Moussa disse ao Moha Hichamy

que parecia
que o Driss Oukabir ia desistir.

É como se o Moussa estivesse
a pedir ajuda: "O que vamos fazer?

Talvez o convenças."

Não estou disponível, seus cabrões.

Por volta das 10h00,
o Driss pergunta ao irmão o que se passa.

Disse-lhe que ia à Polícia
para não acabar preso.

Às 12h01, o Moussa diz ao Driss:

"Driss, estamos todos bem."
"Traz-me todos os papéis", diz o Driss.

O Moussa diz:
"Tenho os teus documentos.

O contrato foi destruído.
Gostava de te ver."

É o fim do envolvimento do Driss
nesta situação.

Depois, o Mohamed Hichamy liga para
a Telefurgo para mudar o nome do contrato.

Telefurgo. Em que posso ajudar?

- Fui aí ontem buscar uma carrinha.
- Sim.

Está no nome de um miúdo.

Teve de viajar inesperadamente.

Podemos mudar o nome do titular?

Diz-me o nome dele.

Driss Oukabir.

Driss. O contrato tem de estar em nome
da pessoa que levou a carrinha,

mas podemos colocar
um condutor adicional.

Façamos isso. Eu mando-lhe o nome.

- 16
- H55 - YOUNES REALIZA
O ATENTADO EM BARCELONA

- 22
- H00 - O CENTRO DE BARCELONA
CONTINUA ISOLADO

Pouco a pouco, de forma ordeira,
a Polícia da Catalunha evacuou

os que ainda estavam confinados
nos edifícios do centro da cidade.

São imagens que se repetem
desde aproximadamente as 20h30.

Estas pessoas estão à espera
que se levante o cordão policial.

Por enquanto, mantém-se
na maior parte do centro da cidade.

Aqui vemos a Ronda de la Universidad
e a Praça da Catalunha.

Estão totalmente desertas.

Por volta das 22h00,
fui ao local para ter uma ideia geral.

Não posso dizer que tenha sido calmo.
Essa não é a palavra certa.

Mas tive a sensação de que a Polícia
já tinha um bom controlo da situação.

Também pensámos que os criminosos
podiam estar lá escondidos.

Com a Polícia a controlar,
começaram a evacuar as pessoas.

Em alguns casos,
também identificaram as pessoas.

Quero repetir. Barcelona ainda está de pé.

Não temos medo.

Unem-nos valores
da democracia, dos direitos humanos,

da paz e da coexistência.

Cheguei a La Rambla naquela noite.

Ainda me dá arrepios.

Em retrospetiva, parece surreal.

Uma mistura de falar com o pessoal
de emergência que estava no local há horas

e ouvir os detalhes brutais,

ver os corpos em La Rambla,
ainda cobertos.

Lembro-me que me mostraram
o corpo de uma criança.

Veja só. Desculpe.

- Quer água?
- Claro.

Obrigada.

Foi tão chocante,

eles explicaram
como tudo aconteceu a nível técnico,

no entanto,
ainda se viam os corpos cobertos.

Em particular, uma criança,
o Julian, de sete anos.

O menino australiano.

E, obviamente, ver isso
destruiu-me por dentro.

O mais impressionante foi o silêncio

e as luzes a piscar,
dos vários serviços de emergência.

Desamparo e silêncio.

Os corpos das vítimas ainda lá estavam.

Estavam protegidos por cobertores,
mas estavam deitados na rua.

Reparamos nos objetos do dia-a-dia
que as pessoas deixam cair.

Um telefone toca.

Pensas: "Que grande tragédia

se abateu sobre quem está a ligar
e ninguém atende."

Espera algum atentado iminente?

Obviamente, não sabemos
o que acontecerá amanhã,

mas a informação que temos leva-nos a crer
que não haverá outro atentado…

QUINTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO DE 2017
- 23
- H16

… nas próximas horas.

DUAS HORAS DEPOIS

Entrem!

Puta que pariu!

Última hora. Um incidente em Cambrils.

Outro atentado terrorista.

AS OPINIÕES EXPRESSAS
SÃO EXCLUSIVAS DOS ENTREVISTADOS

SOBRE OS ATENTADOS DE AGOSTO DE 2017
EM BARCELONA E CAMBRILS

Legendas: Alexandra Pedro