All language subtitles for M.C. Escher - Journey to Infinity (2018)

ESTA � A HIST�RIA DO ARTISTA
GR�FICO HOLAND�S, M.C. ESCHER,

CONTADA NAS SUAS PR�PRIAS PALAVRAS A PARTIR
DE CENTENAS DE CARTAS, DI�RIOS E NOTAS

''Receio que haja apenas
uma pessoa no mundo

que poderia fazer um
bom filme sobre as minhas gravura;

eu''.

Ontem recebi outra carta louca,

sem assinatura, e sem remetente,
carimbo dos correios de S�o Francisco.

''Escher, voc� � um louco completo.

''Sim, absolutamente, lindamente, louco.

''Agrade�o � fonte da vossa loucura,
assindao: um professor de matem�tica''.

Como � poss�vel?

Os hippies de S�o Francisco

continuam a imprimir
o meu trabalho clandestinamente.

Consegui obter
algumas impress�es horrorosas

atrav�s da media��o
de um cliente amig�vel

que vive nessa �rea.

N�o consigo entender porqu�
a juventude descontrolada

de hoje, aprecia
assim tanto o meu trabalho.

Mas torna-se cansativo
passado algum tempo.

Recebi tapetes para os p�s

com o meu trabalho impresso neles.

Eles simplesmente fazem-no
sem me pedir

ou ter vergonha disso.

A minha primeira exposi��o ao Escher foi

ou no final de '66 ou no in�cio de 1967.

Graham Nash
Crosby Stills Nash & Young

Eu estava no meu apartamento em Londres

e algu�m bateu � porta.

E um amigo meu, Eric Burdon,

o vocalista principal de The Animals,

um grupo muito popular,
estava � minha porta

com um livro na m�o.

E o livro que ele tinha trazido

foi um dos primeiros livros do Escher,

e devo dizer-vos que

acho que literalmente
mudou a minha vida.

Por isso chamei-o e disse-lhe,

''Bom dia, Sr. Escher,
N�o quero perturb�-lo.

''Sou um ingl�s, eu s�
queria que soubesse

''que voc� � um artista brilhante''.

E isso � tudo o que queria dizer.

E ent�o ele disse,
''Eu n�o sou um artista''.

E foi chocante para mim

ouvir Escher dizer
que n�o era um artista,

porque, claro, eu acho que sim.

Ent�o eu disse: ''Est� bem, se voc�
n�o � um artista, ent�o o que �?''

E disse: ''Sou um matem�tico''.

Eu pensei ''Uau - ele n�o
conhece ou n�o compreender realmente

o qu�o popular � e porqu� o seu trabalho
� t�o popular

nas gera��es mais novas''.

Ontem recebi uma visita

de artistas ingleses.

Ele estava vestido como um
palha�o todo de azul e vermelho,

tinha c�rculos � volta dos olhos.

� tudo muito bonito,
s�o muito amorosos,

vieram oferecer-me flores,
N�o o compreendo.

Eles apreciam o meu
trabalho, embora eu n�o queira saber

nada do que eles est�o a
fazer hoje em dia.

Voc�s fazem op-art, eu nem sei
o que � ''op-art''.

H� anos que fa�o este trabalho.

Continuo a vaguear por enigmas.

No dia 17 de Junho de 1898, nasci
aqui em Leeuwarden,

nesta casa senhorial,

o Princessehof.

Eu venho de
uma fam�lia de ci�ncias exactas,

e tenho o privil�gio de ter pais

que n�o s�o apenas instru�dos,
mas tamb�m ricos.

Era um rapaz vulner�vel,
e o pediatra

prescreveu-me uma
longa estadia � beira-mar,

na pens�o para crian�as,

Villa Groot Kijkduin.

Tamb�m frequentei a escola l�.

Os �nicos momentos bons
s�o as aulas de desenho.

N�o porque eu seja bom nisso,

mas porque � o meu �nico conforto

durante este tempo horr�vel.

O meu problema � o medo de
n�o ser capaz de acompanhar.

Depois do ensino secund�rio, frequentei

a Escola Harlem de
Arquitectura e Artes Decorativas.

O meu professor de artes gr�ficas
foi Jessurun de Mesquita.

Devo muito a ele.

Ele viu um potencial nas minhas lenharias.

E ap�s apenas tr�s dias

ele for�ou uma mudan�a para
continuar nessa direc��o.

Se ele n�o tivesse falado com os meus pais,

Eu teria continuado
em arquitectura,

e nunca tive
interesse em construir casas.

Eu posso trabalhar
como um c�o, um dia,

e dificilmente fazer uma
coisa no dia a seguir.

Naqueles dias eu andava
para cima e para baixo no quarto

como um louco, enquanto era
consumido pelo desejo

de dar forma a uma grande ideia

sem a capacidade de o fazer.

Por exemplo, estive a trabalhar
sobre um desenho de �rvores.

O resultado transmite fortemente a ideia

de uma prociss�o,
uma fila monumental de �rvores,

caminhando para c� de longe
para al�m das colinas.

E que, ap�s a escalar
a �ltima colina,

de repente est� perante n�s,
gigantesco e amea�ador.

Uma bela ideia, e
est� l�, no desenho,

mas n�o t�o forte
como eu o sinto.

Conforto-me com o pensamento

de que um homem provavelmente
nunca ir� ser capaz

de visualizar uma ideia t�o
forte como ele pr�prio o sente.

Eu gosto de desenhar aqui, em
St. Bartho em Harlem.

Ser capaz de me imergir na abund�ncia

estrondosa dos sons do �rg�o,

d�-me uma sensa��o avassaladora.

O vento tempestuoso corre
pelos tubos do �rg�o,

e uma voz trovejante
proclamam a gl�ria de Deus.

Depois um jovem deita-se
de costas

nas pedras grandes e frias.

O vento trovejante corre
atrav�s dos tubos do �rg�o

at� aos pilares da igreja

n�o podia suportar o som
mais do que ele.

O �rg�o cresceu muito mais,

os seus tubos estendem-se dos
c�us para a Terra.

E o jovem
sentiu um vento t�o forte

que se levantou das pedras

e voou para o ar.

Ent�o, sou admitido no
hospital para observa��o.

O meu gastroenterologista
considera a minha situa��o sem esperan�a

e s� espera que eu morra

num dia ou tr�s,
seguido de um funeral solene.

Ou se calhar estou a exagerar.

Tenho de recuperar as minhas for�as,
partir para a minha viagem.

Sem nuvens, o c�u azul.

� algo que eu
conhe�o h� muito tempo.

Mas a primeira vez que vi
o azul claro do c�u

acima das colinas da Toscana

estava emoldurado por ciprestes escuros.

A azulidade do c�u
� incompreens�vel para mim.

T�o azul como, sim, como o qu�?

Mais azul do que o Mar Mediterr�neo,

mais azul do que o azul
da bandeira holandesa.

Mais azul do que a neve � branca
e o tom � preto.

N�o consigo descrever
o sentimento curioso

esta beleza encantadora que me d�.

Os meus pobres olhos est�o a
olhar fixamente e o meu pobre c�rebro

est� a tentar compreender
o incompreens�vel.

Raramente, se � que alguma vez,
me senti o mais calmo, agrad�vel,

e confort�vel do que alguma vez.

Muitas impress�es maravilhosas nascem
das minhas m�os industriosas.

Deixo � posteridade a tarefa de julgar

se estas cont�m beleza.

Ponho de lado o corte da madeira
durante algum tempo

para melhorar as minhas
capacidades de desenho.

Quero aprender a olhar e
ver melhor enquanto estou a desenhar.

Quero desfrutar dos mais �nfimos detalhes,

tais como um di�metro de uma planta
de uma polegada sobre um peda�o de rocha.

Quero tentar desenhar isto
com a maior precis�o poss�vel.

Com o nariz bem em cima,

v�s toda a sua beleza
e toda a sua simplicidade.

Mas quando se come�a a desenhar,
s� ent�o te apercebes

qu�o terrivelmente complicado
e sem forma

a beleza realmente �.

� t�o terrivelmente dif�cil.

Um pequeno peda�o de rocha,
� bonito,

mas n�o h� nada a que se agarrar.

N�o h� nenhuma forma
que possa ser capturada.

Simplesmente continua
em todas as direc��es,

e n�o se sabe onde
come�ar e onde terminar.

Por isso, � claro que nada resulta disso.

E eu nem sequer vou come�ar com todas

as lindas florzinhas.

A cor � indispens�vel para isso

e n�o quero colorir.

Na Primavera de 1923,
Fui para Ravello,

que est� situada numa colina

rodeada pela espuma,
e ondas ondulantes

do mar azul do velho mundo.

A�, numa tarde de felicidade,

no pequeno hotel
onde me instalei,

tr�s novos convidados juntaram-se a mim
na minha mesa.

Um cavalheiro, a sua esposa,
e a sua filha,

Jetta Umiker, 24 anos de idade.

Foram expulsos de
R�ssia pelos bolcheviques,

deixando para tr�s
todos os seus bens.

A R�ssia deixou-lhe a sua marca,

tanto mentalmente como fisicamente,

porque sofreu a fome

e viu demasiadas pessoas
a serem assassinadas.

Ela exerce uma influ�ncia sobre mim

semelhante ao de um electro�man

sobre um peda�o de ferro fundido raspado.

Embora eu tenha decidido
manter os meus sentimentos escondidos,

a sua influ�ncia finalmente
tornou-se t�o poderosa

que no �ltimo dia
antes da sua partida,

o peda�o de ferro fundido perde

as suas �ltimas
capacidades mentais

e bate no
�man com um baque ma�ador.

Enquanto damos um passeio juntos

abro-lhe o meu cora��o.

O mais bonito e o mais macio
coisas que possuis,

al�m do teu cora��o, s�o as tuas m�os.

Elas tocam-me, os teus dedos longos,

como as de um ladr�o,
roubaram-me o cora��o.

Porque � que o escolheram?

Ontem � tarde
scompanhei Jetta e os seus pais

para a esta��o de comboios onde
partiu para a Su��a.

Sinto-me aqui deixado para tr�s,
miser�vel e solit�rio.

Posso estar sozinho o dia inteiro

porque quando estou
cortar madeira

os meus leves e fantasiosos
pensamentos fantasiosos tomam forma.

Mas � noite, quando
o meu grande anseio por Jetta

me ultrapassa, a solid�o
torna-se insuport�vel.

Depois passeio por
ruas estreitas

e penso no vida t�o
triste que ela leva.

E da possibilidade que eu
possa tornar essa vida mais feliz.

Os meus pais casaram-se em 1924,
em Viareggio.

E, em 1925, mudaram-se para Roma.

O filho mais velho George Escher (92)

Viveram l� durante dez anos,
mais ou menos.

Viv�amos numa casa de tr�s andares.

O est�dio do meu pai
ficava no �ltimo andar...

e viv�amos no segundo andar.

� a� que o meu irm�o Arthur
e eu pass�vamos a maior parte do tempo.

O que achei mais interessante no
est�dio era o pai a trabalhar na sua mesa.

Era demasiado pequeno para ver
o que estava em cima da mesa.

Estaria a rastejar no ch�o...

com lascas de madeira que
voavam enquanto cortava madeira.

Mas a coisa que mais me lembro,
� o cheiro.

O cheiro da tinta de impress�o
quando come�ou a imprimir era maravilhoso.

A tinta hoje em dia
n�o tem um cheiro t�o bom.

Gosto de fazer um esbo�o
� noite, em Roma,

a maravilha, a beleza,
Roma nocturna

que eu amo muito mais do que

a mesma arquitectura
durante o dia.

Todos os excessos
A emo��o barroca de que Roma

est� cheia, espairece durante a noite.

Al�m disso, a moderna
ilumina��o indirecta

com grandes luzes

ajuda a aumentar
o efeito fant�stico.

Por isso desenho todas as noites

e termino o esbo�o
em madeira no dia seguinte.

N�o conhe�o maior alegria
do que vaguear

atrav�s de vales e sobre colinas,

de aldeia em aldeia,

para sentir a falta de arte
da natureza me afectar.

E desfrute do inesperado
e nunca pansado -

no maior contraste poss�vel

com a vida quotidiana em casa.

Nas minhas viagens,
tudo parece real.

Mas quando te lembras mais tarde,

percebes que foi como um sonho.

Quando me lembro de um cheiro,
um sentimento, ou um som,

a emo��o por vezes
torna-se demasiado forte para mim.

E depois h� o facto encantador

de me abster conscientemente
a partir do conforto

de que estamos habituados em casa.

Coisas desagrad�veis, tais como
uma cama com parasitas,

ou alimentos de menor qualidade,

at� se tornam parte da experi�ncia.

Pensei muitas vezes em
empreender tais viagens

na companhia dos meus filhos, um dia,

para as crian�as deve ser o
a maior alegria poss�vel.

Durante os �ltimos anos em It�lia...

Tornei-me cada vez mais influenciado
por ideias fascistas e propaganda.

Queria participar
nas actividades fascistas dos meus amigos.

Marchando, usando um gorro preto.

E os meus pais n�o gostaram nada disso.

Quando eu tinha dez anos de idade,
os meus pais decidiram deixar o pa�s...

para que eu n�o crescesse
como um pequeno fascista.

Nesse Inverno,
estavam nas montanhas su��as

naquele branco horrendo, uma
mis�ria nevada que n�o suporto.

Odeio essa mortalha branca
cobrindo a terra.

Uma noite, quando tinha acabado
de ir para a cama,

o som que fazia o cabelo de Jetta
quando o tran�ava

no escuro lembrou-me
do som de um barco

quando assenta num mar calmo.

Comecei a ter um grande anseio
pelo mar.

De repente, surgiu-me a ideia

de escrever uma carta a uma
empresa de marinha mercante italiana

que operava um servi�o de
It�lia para Val�ncia, em Espanha.

Propus que Jetta e eu

iriamos como passageiros,
de gra�a.

Em troca, eu faria
12 gravuras para eles

com base em esbo�os feitos
durante a viagem,

a fim de publicitar
o seu transporte tur�stico.

Para meu espanto, ap�s alguns dias,

recebi uma carta de aprova��o.

Desenhei como um louco,
fui lindamente mimado.

Um litro de vinho por dia, e
vivia como um pr�ncipe

nessa casa flutuante
que me trazia

para um novo porto todos os dias
sem qualquer peso.

Foi encantador.

Em Val�ncia, desembarcamos
numa viagem de tr�s semanas

no sul de Espanha
�s nossas pr�prias custas.

Em Granada,
visit�mos a Alhambra.

Nesta maravilhosa
obra de arte aristocr�tica

pass�mos tr�s dias
copiando apaixonadamente.

Os pal�cios estavam cheios de visitantes

que formaram uma grande audi�ncia
� nossa volta

enquanto est�vamos a desenhar.

O que me fascina
dos azulejos da Alhambra

� a descoberta de um
motivo que se repete

de acordo com um determinado sistema.

Em Harlem, eu j�
gostava de dar sentido

a toda a superf�cie
de um peda�o de papel.

Com isto quero dizer
que eu n�o quero desenhar

a cabe�a de uma pessoa contra
o fundo de uma sala,

por exemplo, n�o,
para al�m da cabe�a,

o fundo deve
ter tanto significado

como a pr�pria cabe�a, portanto
tornando-se noutra cabe�a.

Foi uma primeira tentativa
de sistematiza��o,

embora, na altura, eu
n�o compreendia realmente

o que estava a fazer.

Fiquei desanimado, por isso
abandonei este puzzle.

Era completamente inexperiente

e ningu�m no mundo me podia ajudar.

Os mosaicos de parede e o ch�o
na Alhambra

derivou do mesmo pensamento,

embora apenas os mouros
usavam apenas figuras geom�tricas.

Que pena os mouros
n�o utilizarem figuras

derivadas da natureza,
tais como blocos de constru��o,

peixes, aves, r�pteis, ou humanos.

A capacidade de reconhecimento �
t�o importante para mim

que eu nunca fui
capaz de passar sem ele.

[8] Ap�s a Alhambra,
eles voltaram � Su��a.

Para a neve que o meu pai queria tanto deixar,
por isso, decidiram mudar-se para a B�lgica.

Foi uma �poca de agita��o,
com a ascens�o de Hitler na Alemanha.

O filho mais novo Jan Escher (80)

Mas apesar de ter sido
uma �poca de tanta agita��o...

foi tamb�m o per�odo em que o meu
o pai criou as suas obras mais famosas.

Acho que foi porque j� n�o podia viajar.

Estava no seu est�dio, queria criar,
por isso come�ou a pensar noutras coisas.

Eu tinha deixado a It�lia,

Perdi a paisagem e a
arquitectura italiana,

outra coisa
tinha de tomar o seu lugar.

Isto estimulou a
forma��o de imagens interiores.

Comecei a trabalhar com
paix�o quando descobri

que tinha coisas minhas
que tiveram de sair.

Que poderia expressar
algo que outros n�o t�m.

Tenho 40 anos, a idade em que
a maioria das pessoas est� no seu melhor.

Para mim, isto �
o mais rico dos tempos.

Mostrei ao meu irm�o,
um ge�logo,

alguns motivos de tessela��o.

Ele estava interessado nos meus motivos

desde um ponto de vista mais cient�fico,

e disse-me que eu estava a
aplicar sem conhecimento de causa

uma esp�cie de cristalografia
bi-dimensional

Aconselhou-me a ler sobre o assunto,

mas a maioria dos artigos
eram demasiado dif�ceis,

secos, e te�ricos para mim.

Ainda assim, o meu entendimento
tornou-se mais claro,

e comecei a ver as
possibilidades oferecidas

pela divis�o regular do plano.

Pela primeira vez, atrevi-me
a criar composi��es

com base no problema de
expressar a eternidade

dentro de um plano limitado.

Uma s�rie intermin�vel
de homens tridimensionais

desce precipitadamente as escadas.

Gradualmente perdem
a sua plasticidade

� medida que congelam, achatam,
e transformar-se no motivo

de uma tessela��o organizada.

O seu motivo simplifica para cima

para a sua forma original,
o diamante.

Tr�s diamantes de branco,
cinzento, e preto,

juntos por um cubo, e
recuperando assim a sua plasticidade.

O cubo transforma-se num bloco,
uma casa,

e de uma casa, um produto humano.

As pessoas reaparecem para
repetir infinitamente o seu ciclo.

O familiar ch�o de azulejo
motivo nos terra�os

�, mais uma vez, o mesmo motivo original.

O diamante, a liga��o entre
duas e tr�s dimens�es,

a ideia sobre a qual
toda a composi��o � constru�da.

A paisagem por detr�s das casas

� pensada com o m�ximo de naturalidade,

em contraste com as
tessela��es matem�ticas

no fundo da gravura.

A gravura, ''Dia e Noite''
� um tipo de ciclo semelhante.

A opini�o de conhecidos e amigos

faz-me sentir que isto
� estranho para eles

e eles n�o sabem
o que pensar dele.

A recep��o n�o �
prop�cia ao entusiasmo

que estou
dolorosamente � procura

e tanteando nessa direc��o.

Receio que outras gravuras
sejam tamb�m uma desilus�o,

porque nessas desvio-me,

ainda mais do que
em ''Dia e Noite'',

de um desejo de satisfa��o est�tica.

O interesse matem�tico
est� a tornar-se t�o dominante

que me pergunto se
ainda est� a tentar ser arte

e se realmente pertence
numa exposi��o de arte.

Como um rapazinho deitado
na cama � noite,

gostaria de jogar
com pensamentos associativos.

Por exemplo, eu diria
''Como posso encontrar

a liga��o l�gica entre a letra S

e a cauda do meu c�o''.

Mil maneiras de l� chegar,

por exemplo, S, c�u, p�ssaro, ninho,

ramo, �rvore, jardim, c�o, cauda.

Eu joguei muitos destes jogos,

e, na verdade, n�o tenho muito mais.

Apenas encontrei uma forma de
expressar visualmente estes pensamentos.

O hex�gono regular, favo de mel, abelha.

Um novo factor foi acrescentado a isto,

uma associa��o directa da forma.

Um peixe cujo fundo se transforma
para dentro de uma ave.

Portanto, � uma am�lgama que
carece de toda profundidade.

�, e continua a ser,
o jogo de uma crian�a.

E as pessoas sensatas s�o
bem-vindas a consider�-lo trivial.

A melhor maneira para mim de
expressar a minha mania de associa��o

seria num filme de anima��o.

No futuro, o filme animado

tornar-se-� uma forma de
express�o art�stica de grande valor,

mostrando pensamentos mais importantes

do que a Branca de Neve ou Mickey,

embora eu n�o tenha desprezo
por esses produtos.

Pelo contr�rio, tenho admira��o
pelo talento da Disney.

Muitas vezes sonho com o filme
que gostaria de fazer.

As espantosas metamorfoses
que se veriam.

Infelizmente, n�o haveria
p�blico para isso,

visto eu certamente
aborrecer as pessoas at� � morte.

Desde a exclus�o completa
dos judeus,

sinto-me cada vez mais desconfort�vel

quando exponho o meu trabalho.

Sinto-me como se estivesse a lucrar.

E se n�o estou enganado,
todos os artistas visuais

ser�o for�ado a aderir
� C�mara da Cultura,

caso contr�rio, n�o poder�o
exibir o seu trabalho.

Cancelei a minha ades�o �
Sociedade dos Artistas Pulchri

e � pr�pria Associa��o Gr�fica.

Penso que isso ser� suficientemente claro.

Aqui, em Baarn,
Quase n�o conhe�o ningu�m,

e tamb�m n�o conhe�o
muitos colegas.

N�o importa qu�o satisfeito
estou com o isolamento

em que vivemos aqui,

neste momento gostaria de ter

um pouco mais de contacto humano.

Desenvolvi
o padr�o da tessela��o

de optimistas brancos
e pessimistas negros

num completo conto de moralidade.

Um branco e um preto
representativo de cada tipo

libertam-se da
superf�cie cinzenta da parede de tr�s

e caminhar para o espa�o.

Evitam cair no
buraco redondo do meio

por isso, s�o obrigados a encontrar-se
um ao outro em primeiro plano.

O pessimista negro continua

a levantar o seu dedo de aviso
at� ao fim,

mas o otimista branco alegremente
vem ao seu encontro,

e acabam por apertar as m�os.

Eu tinha muitos amigos judeus.

O meu antigo professor, de Mesquita,
recusou a esconder-se.

Uma noite foram todos levados embora.

Em '44, durante a fome de
inverno, disseram os vizinhos,

''N�o soubeste?, os
Mesquitas foram levados''.

Entrei em casa deles.

Esta gravura estava no ch�o

com as impress�es dos pregos das
botas alem�s.

E no seu est�dio, tudo
foi virado do ave�o.

Levei para casa 200 gravuras.

Estas coisas n�o podem ser esquecidas,

levados no meio da noite.

E de vez em quando
a imagem aproxima-se

perante mim como um pesadelo.

Quando durante a noite, fugido
da narcose do sono,

os meus olhos abertos fixam as
profundezas insond�veis da escurid�o,

as aves do desespero v�m
a voar lentas.

Foi um per�odo dif�cil...

e a minha m�e perdeu peso porque os alimentos
eram poupados. As crian�as vinham primeiro.

Mas ela estava feliz
porque se sentiu �till.

Estava a ajudar a sua fam�lia
e sentimo-nos apreciados.

O �ltimo per�odo da sua vida
foi durante a guerra.

Bem, 'feliz' entre aspas.

Durante todos estes anos de guerra, o meu pai
tinha de proteger a sua fam�lia e encontrar comida.

Por isso, n�o teve
tempo para outras coisas.

Tivemos uma �nica bicicleta raqu�tica

com pneus improvisados,
que eu levei at� Overijssel

atrav�s do frio amargo,
vento, e chuva.

Essas viagens perturbam-me muito.

Vi um sofrimento t�o grande.

Nunca o esquecerei.

Mas conseguia manter a nossa fam�lia
de p�,

apesar de a minha mulher estar agora
em m� forma.

No entanto, n�o fui capaz
de fazer qualquer trabalho,

e isso foi a coisa mais amarga
que tive de suportar.

Ap�s a guerra, retirei-me
no meu est�dio.

Os meus filhos tratam agora do
abastecimento alimentar.

A minha mulher est� demasiado
fraca para fazer muito, al�m de cozinhar.

A minha sogra estava cada vez
mais desanimada na Holanda.

Tinha dias muito bons,
mas tamb�m muito maus.

Nos dias bons ela era
uma mulher muito amig�vel e amorosa.

Liesbeth Escher-Hogenhout

Reconhecia-se
quando ela estava como ela propria.

Mas num dia mau,
estava num mundo diferente.

Ent�o dificilmente se conseguia alcan�a-la.

E se n�o trabalhas fora de casa,
tens pouco contacto com outras pessoas.

E o pai tamb�m viveu
uma vida bastante isolada,

Finalmente, estou
a trabalhar novamente.

� preciso mais esfor�o
do que antes.

O meu c�rebro parece estar
completamente atordoado,

mas pelo menos estou a fazer
algo de novo.

Originalmente a inten��o do olho

n�o era mais do que
um interesse geral

no olho humano.

Mas como o espectador
se v� sempre a si pr�prio

reflectido no olho
que est� a ver,

pensei que me estava a mostrar o
reflexo de um cr�nio

como uma variante das impress�es
com esferas de espelhamento.

Porque estamos todos,
quer o queiramos quer n�o,

olhando para a morte, e ela
est� a olhar para n�s.

Deus Todo-Poderoso, quem me dera
aprender a desenhar um pouco melhor.

Que esfor�o e
determina��o � necess�rio

para o tentar faz�-lo bem.

De vez em quando tenho quase
del�rios, de puros nervos.

� realmente apenas uma quest�o
de persist�ncia obstinada

com cont�nua,
impiedosa, autocr�tica.

O talento enquanto tal na realidade
n�o tem sentido, na maior parte do tempo.

Qualquer rapaz da escola
com um pouco de aptid�o

ser� talvez melhor
a desenhar do que eu.

Mas o que mais lhe falta
� o duro anseio

para a realiza��o,
a teimosia de roer,

e dizendo: ''Ainda que
Eu sei que n�o o posso fazer,

''eu quero faz�-lo de qualquer maneira''.

A po�a � incaracteristicamente
impressionista para mim,

mas o s�mbolo � t�o forte
e marcante por si s�,

e cada vez � uma consola��o t�o grande

ver o c�u na po�a novamente

que n�o me veio � cabe�a

mudar o que quer que fosse na imagem

como ocorre numa floresta
ou estrada de campo.

N�o era minha inten��o desenhar

uma determinada po�a sobre uma
estrada de um determinado pa�s,

mas uma po�a que
pode ser encontrada em qualquer lugar,

em todo o mundo.

Ao longo dos anos, o meu pai tornou-se mais
bem conhecido, especialmente nos Pa�ses Baixos.

A dada altura, um jornalista da Time Life
telefonou e perguntou se o podia visitar.

Veio com um fot�grafo.

E a entrevista
durou toda a manh�.

[8] Ap�s a entrevista, o meu pai disse:

Recebo sempre algum
sal�rio pelas minhas palavras.

Pode tamb�m dar-me alguma coisa? o
jornalista disse: Infelizmente, n�o posso.

[An8] Mas espere at� o artigo ser publicado,
e provavelmente ir� notar uma reac��o.

E foi isso que aconteceu.
De repente, houve dinheiro.

O meu pai tinha vivido de dinheiro
e interesses dos seus pais.

Isto tinha acabado durante a guerra.
E depois veio o artigo na Time Life.

Esta criatura,

Pedalternorotandomovens
centroculatus articulosus,

popularmente conhecida como Curl-up,

nasceu da insatisfa��o.

A ideia veio-me � cabe�a quando
estava a andar de bicicleta.

Pensei, que absurdo, estou a rolar

sobre o solo sobre rodas,

o que � muito mais f�cil do que a p�.

Deus esqueceu criar a roda,

e ele tamb�m se esqueceu
de criar animais

que possam utilizar o seu corpo
como uma roda, ou um aro,

para avan�arem sozinhos.

Estou a satisfazer esta necessidade com
o desenho deste Curl-up.

Os detalhes biol�gicos
ainda n�o s�o conhecidos.

Nada pode ser dito com
certeza sobre a sua reprodu��o.

Tr�s superf�cies da terra
intersectando num �ngulo recto.

E as pessoas vivem em cada um deles.

Dois habitantes de mundos diferentes

n�o pode viver no mesmo andar,

visto que a sua no��o do que
� horizontal e vertical

� diferente, no entanto, eles
pode utilizar a mesma escadaria.

Mas com uma pessoa a subir
e os outros a descer.

O contacto entre os dois
� imposs�vel,

pois eles vivem em mundos diferentes,

e, portanto, n�o podem
ter algum conhecimento

da exist�ncia um do outro.

Quando o meu pai tinha feito o retrato
da minha m�e como uma casca.

Ele n�o gostou do resultado, porque
a fita tinha um in�cio e um fim.

O meu pai sempre quis ligar tudo

Ent�o, ele pensou:
Como posso resolver isso?

Pensou: Se h� uma segunda pessoa,
a casca pode continuar para essa pessoa.

No fundo, pode ser recolhido novamente
pelo retrato da minha m�e.

Assim o fez, e a grande quest�o era:
Quem deve ser desenhado ao seu lado?

Por isso, dissemos-lhe:
Ter�s de ser tu mesmo.

Ent�o foi isso que ele fez, e at�
de tal forma que as fitas se entrela�am.

Mostra que, apesar dos problemas
no seu casamento, ele amava-a muito.

Mas ele estava muito triste por n�o poder
ajuda-la mais com os seus problemas mentais.

E tamb�m se culpou a si pr�prio
por n�o lhe dedicar mais tempo.

Mas ele estava t�o envolvido no seu
trabalho que n�o conseguia parar

Era como o �pio para ele.

Como um louco, atirei-me de novo

na impress�o de
gravuras antigas.

Esse maldito trabalho tem simplesmente
de ser feito periodicamente.

Meio-atordoado
por cont�nuos sons de r�dio,

estou a lavrar o meu caminho
nesta pilha de tinta de impress�o.

Estou apaixonado pela m�sica de Bach.

Um pequeno motivo que se repete
de v�rias maneiras.

De modo id�ntico, numa outro
chave, de tr�s para a frente,

ou de cabe�a para baixo, s�o
quase n�meros matem�ticos.

Tem muito em comum
com os meus motivos,

que tamb�m se repetem
infinitamente.

Em ambos, h�
um ritmo convincente,

uma cad�ncia em busca de
uma certa eternidade.

Este sentimento de parentesco
� t�o forte

que muitas vezes fico inspirado
quando estou a ouvir Bach.

Existe uma liga��o ineg�vel.

Assisti a uma performance

da Paix�o de S�o Mateus
em Naarden.

Os meus olhos vaguearam pelas paredes,
colunas, arcos e ab�badas

dessa alta, larga,
igreja inamov�vel.

Inamov�vel?

De repente, tornou-se claro para mim

que esta igreja estava longe
de ser inamov�vel.

A minha imagina��o, animada
pelo fluxo constante

de belos sons que
vinham at� n�s,

viu o globo com a
Igreja de Naarden sobre ele

girando no universo.

Primeiro, vi o velho forte de Naarden,

mais como uma
estrela-do-mar de cinco pontas.

Depois voei para a costa,
atravessei o Canal,

e em pouco tempo, dei por mim

acima do cinzento e turbulento
Oceano Atl�ntico.

Na latitude de Nova Iorque,

cheguei ao continente americano.

E, felizmente, porque
era sombrio, frio,

e �spero acima do oceano.

N�o posso dar uma descri��o clara

dos pontos de vista dos
Estados Unidos da Am�rica,

mas eu sei que era
alegre e brilhante,

com muito sol
e montanhas cobertas de neve.

Perto de S�o Francisco terminei
acima do oceano novamente.

Vi Honolulu de longe,

e depois, de novo um grande
corpo de �gua animada,

e, por fim, direto
atrav�s do densa,

e h�mida selvas da Nova Guin�,
Celebes, e a Costa do Born�u.

Como voltei de novo, n�o sei.

O facto �, que eu certamente
dei por mim sentado

na minha cadeira da cozinha na
Igreja de Naarden, novamente.

Mesmo quando estavam a cantar
no topo das suas vozes,

''Sentamo-nos em l�grimas''.

Completamente malapropos,
enquanto eu me sentia surpreendentemente

alegre e satisfeito.

Entretanto, acabei
uma nova litografia.

Creio nunca ter
feito algo t�o estranho

como isto na minha vida.

Entre outras coisas,
retrata um homem jovem

a olhar atentamente para uma impress�o

na parede de uma exposi��o,

que � uma imagem de si mesmo.

Como pode isto ser?

Talvez eu n�o esteja t�o longe

do universo curvo de Einstein.

Fiz um esfor�o para explicar

a impress�o cada vez mais pequena
aos visitantes,

mas est� a tornar-se
cada vez mais claro

que as pessoas s�o insens�veis
� beleza

deste mundo infinito
dentro de um plano definido.

A maioria das pessoas simples n�o
compreendem do que se trata.

Isto � cada vez mais triste para mim,

porque estou a trabalhar
sobre a pr�xima vers�o,

que se destina a
exceder em muito a primeira.

Embora em teoria a
infinitamente pequena em tamanho

e infinitamente grande em n�mero
� alcan�ada no centro,

este trabalho s� satisfaz parcialmente.

Continua a ser um fragmento,
porque para o padr�o

exterior � arbitrariamente limitado.

No entanto, o meu grande entusiasmo
para este tipo de representa��es

e a minha fixa��o
sobre as minhas investiga��es

podem eventualmente levar-me
a uma descoberta gratificante.

Encontrei uma imagem de
Coxeter, um matem�tico canadiano

que provavelmente me ir� ajudar.

Uma maneira de trazer
infinito para finitos certos

� pela transforma��o
chamada invers�o,

para que esteja no mesmo di�metro.

Mas o hocus pocus das suas palavras

n�o me servem para nada.

N�o importa o esfor�o que seja necess�rio,

� ainda mais gratificante para mim

para eu pr�prio resolver tal problema,

� minha pr�pria maneira desajeitada.

Uma tessela��o circular regular,

logicamente limitada em todos
os lados pelo infinitesimal

� uma coisa de beleza milagrosa.

Esse � o limite.

O mundo inteiro est�
contidoProfundamente nele.

� uma tentativa bem sucedida
na visualiza��o do infinito,

e representa um
marco no meu desenvolvimento.

Profundamente entristecedor e
indutor de ressaca

est� o facto de que
estou a come�ar a falar

uma linguagem compreendida
por muito poucas pessoas.

Isto s� aumenta a minha solid�o.

Afinal, eu j� n�o
perten�o a lado nenhum.

Sou demasiado est�pido para viver
como cientista.

E tamb�m n�o sou artista.

Eu pairo entre a matem�tica e a arte.

� pura cria��o.

Vamos dar uma vista de olhos a
uma arquitectura paradoxal?

Vais ter de
dominar alguns truques

se vais construir
tr�s sonhos completos.

Com licen�a.

Que tipo de truques?

Num sonho podes enganar
a arquitectura

em formas imposs�veis.

Que te permite criar
loops, como os passos de Penrose.

A escadaria infinita.

Estou a trabalhar no
desenho de uma nova gravura

com uma escadaria que
continua a subir,

ou descendente, se preferires.

� uma coisa fechada, em forma de anel,

por�m a perspectiva
est� correcta.

H� um grande n�mero de
figuras humanas caminhando sobre ela

em duas direc��es.

Uma linha � �rdua a
escalar at� ao infinito

enquanto a outra
desce infinitamente.

Um triste, pessimista
assunto, esta escadaria,

mas muito profunda e absurda.

As pessoas n�o gostam de
falar sobre as suas descend�ncias,

mas ainda mais
sobre as suas escaladas.

Paradoxo.

Fui oficialmente convidado

para dar uma palestra e
exibir o meu trabalho

numa confer�ncia para
cristal�grafos na Am�rica.

Uma coisa muito inc�moda.

Eu n�o sei nada
sobre cristalografia,

num sentido cient�fico,

mas aparentemente as minhas fantasias
divertem-lhes.

Bom, ent�o acho que devo ir.

N�o h� melhor meio de transporte
e n�o h� melhor alojamento

do que um barco de carga, se
querem alguma paz e sossego.

Durante semanas, n�o h� necessidade de
assumir quaisquer responsabilidades,

fora do alcance do telefone
e cartas,

n�o ter mais de ler que jornais

e ouvir os notici�rios.

Como resultado, adquires
uma receptividade

que te permite
realmente interrogar-te novamente.

Sentes-te desconectado,
n�o s� de preocupa��es,

mas tamb�m pela firmeza
da crosta terrestre.

E depois come�a-se a observar

essa varia��o infinita
de ondas e ondula��es,

e v�em-se os seres vivos

dentro e acima do mar,
os peixes, os p�ssaros.

E finalmente olhas
para o celestial,

novamente corpos celestiais.

O sol, a lua, e as estrelas.

Na noite escaldante,
podes-te deitar

de costas sobre uma lona.

E se trouxeres uma
lanterna e uma carta estelar,

podes facilmente comprometeres-te
as figuras eternas

das constela��es � mem�ria

e cham�-los pelos seus nomes.

E a lua, enquanto ela
estava a olhar para mim

como uma grande l�mpada
no alto do mar,

Fiquei t�o surpreendido com a
dist�ncia entre ela e eu.

Sem f�lego com espanto,
Fui submetido ao seu sil�ncio,

a sua aparente imobilidade,
o seu equil�brio sem movimento no espa�o.

Tornou-se um s�mbolo para mim,

ou antes numa
demonstra��o da gravidade,

o que n�o � um conceito aborrecido,

mas uma viva, apaixonante
incompreensibilidade.

Em 1962 foi descoberto por acaso
que tinha cancro do c�lon...

uma doen�a que o assombrou
at� � morte.

As muitas opera��es deixaram-no cansado e
incapaz de trabalhar durante muitos meses.

Foi tamb�m um per�odo dif�cil para a minha
m�e, que tentou tomar conta dele.

Mas ela pr�pria estava mentalmente doente,
por isso, foi muito dif�cil.

E no final da d�cada de 1960
tornou-se demasiado para ela.

Recebemos uma chamada telef�nica:
Ela est� a caminho.

A nossa casa era muito pequena
o piso inferior de um chal�...

muito perto do Lago de Genebra,
entre Lausanne e Morges.

Por isso, foi um grande desafio.

Viveu comigo e com a minha mulher
durante alguns meses.

Depois disso, foi admitida
num lar de idosos.

Continuou a viver na Su��a durante
alguns anos, e sobreviveu ao meu pai.

Por um lado, o meu pai estava contente
de j� n�o ter de suportar o fardo...

de tomar conta da minha m�e,
e todos os problema envolvidos.

Mas por outro lado ele estava
triste pela sua mulher o ter deixado.

Em casa,
estou a trabalhar febrilmente,

mas estou constantemente perturbado

pelos muitos estrangeiros
� nossa porta

e a quantidade crescente
de correspond�ncia.

Sr. Mick Jagger, pedindo-me
que desenhe uma imagem

ou que coloque � sua
disposi��o trabalhos in�ditos

para reproduzir na capa
de um disco LP.

A minha resposta a ambas as perguntas
tem de ser n�o,

visto eu querer dedicar
todo o meu tempo e aten��o

aos muitos compromissos que temos.

A prop�sito, por favor diga ao Sr. Jagger

que eu n�o sou Maurits para ele, mas,

com toda a sinceridade, M. C. Escher.

Estas orgias de cor
eram clandestinamente

impressas na Calif�rnia.

Consegui os resultados horrendos

atrav�s da media��o
de um cliente amig�vel.

As cores brilhantes s�o
inteiramente � custa

da editora, que est�
sem d�vida especulando

sobre o gosto da juventude de hoje.

Foram impressos
com tinta fluorescente,

tomavam realmente vida
� luz ultravioleta.

S� sei isto por ouvir dizer,

porque eu nunca o verifiquei.

''Palma'', a partir de 1933, nunca
teve muito sucesso,

mas foi recentemente elevada
� dignidade de um cartaz

em cores t�o estridentes
que ferem os olhos.

O que raio v� esta jovem
gera��o ver no meu trabalho?

N�o lhe faltam todas as qualidades

que est�o na moda hoje em dia?

� cerebral e racionalizado

em vez de selvagem e sexy.

E como poderiam reconcili�-lo

com o seu v�cio em narc�ticos?

Mas porque n�o deixar esses
estudantes e hippies californianos

comprar um cartaz a cores por
uma pequena quantia de dinheiro?

Os meus trabalhos n�o s�o apenas
demasiado caros,

s�o tamb�m demasiado s�brios no tom

para o gosto de muitos jovens modernos,

que est�o mais afei�oados
a cores gritantes

nas suas paredes, pois eles
est�o habituados aos gritos

que saem dos seus gira-discos.

Crosby, Stills & Nash

Eu sempre tentei
ser uma pessoa observadora.

Sempre tentei permanecer aberto.

Graham Nash
Crosby, Stills & Nash

Por todas partes, estou constantemente
ver coisas, sabes.

Mas o trabalho de Escher fez-me
ver de outra forma.

Uma das coisas
sobre o trabalho de Escher

� que tem o estudo.

Sabes, tens
uma aprecia��o global

da pe�a, mas quando
entras fundo na pe�a

e v�s o que se est� a passar,

torna-se ainda mais miraculoso.

Ent�o Escher ensinou-me
a ver de forma diferente,

e estou muito grato por isso.

Penso que uma das
�ltimas pe�as que eu vi

do Escher's foi ''Snakes''.

Acho que pode ter sido

uma das �ltimas pe�as que fez.

E ele n�o era t�o jovem
quando ele terminou isto.

E isso � espantoso.

Estou incapacitado pela minha sa�de.

Demoro muito tempo todos os dias.

Entretanto,
Tento reimprimir cortes de madeira.

N�o me sinto
suficientemente livre de preocupa��es

para come�ar a trabalhar em novas ideias,

e estou satisfeito com
os velhos m�todos.

Acalma a alma.

Fazer este trabalho d�-me a
triste sensa��o de estar a ficar velho.

Porque quem passa o tempo

a mastigar e cuidar das coisas

que fez h� anos e anos?

N�o se trata de uma actividade criativa,

mas realmente um processo de
escavajem de terreno antigo.

Um pr�-requisito para uma boa impress�o,

e por bom entendo
uma impress�o que ressoa

com um p�blico relativamente grande,

� que n�o h� nenuma magia
que seja praticada

sem som e uma liga��o

sem esfor�o com a realidade.

O que eu posso dizer � que
nenhuma impress�o � bem sucedida.

Todos falham, simplesmente porque
persigo sempre uma vis�o

que n�o pode ser realizada.

As minhas impress�es, nenhuma das quais
foram feitas

com o objectivo principal de
fazer algo belo,

causam-me simplesmente dores de cabe�a.

Essa � a raz�o
porque nunca me sinto

totalmente em casa
com os meus colegas.

Eles perseguem a beleza
acima de tudo.

Talvez eu s� persiga a maravilha.

Acredito realmente que
o mundo da arte topo de gama

vai redescobrir o Escher.

E penso que a sua arte vai ser

apreciada pelo que
� realmente: um trabalho espantoso.

E acho que o resto do mundo

vai ter de conhecer
o trabalho de Escher.

Penso que vai transcender
ao futuro de forma brilhante.

Quanto mais louco este lugar fica,

mais ruidoso este lugar fica,
sabes,

mais o seu trabalho �
realmente interessante.

Ele vai ser muito mais apreciado

nos pr�ximos anos,
Realmente sinto-o.

Poderia preencher uma segunda vida

Poderia preencher uma segunda vida
com o meu trabalho.

- Poderia preencher uma segunda vida com o meu trabalho.
- M.C. Escher.