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N�o...

Eu n�o posso lembrar que te amei

� prefer�vel esquecer que sofri

N�o... N�o compreendo
Que tudo acabou

Que este sonho de amor terminou

Que a vida nos separou
Sem querer

Caminhemos
Talvez nos vejamos depois

N�o... Eu n�o posso lembrar que te amei

� prefer�vel esquecer que sofri

N�o... N�o compreendo
Que tudo acabou

Que este sonho de amor terminou

Que a vida nos separou
Sem querer

Caminhemos
Talvez nos vejamos depois

Esta � a estrada
Que estava marcada

Sigo insistindo em teu amor
Que se perdeu no nada

E sigo caminhando sem saber

Onde chegar

Talvez caminhando
A vida nos volte a juntar

Talvez caminhando
A vida nos volte a juntar

-Por que vieste?
-Est� tudo pronto.

Amanh� vamos a Buenos Aires.
O importante � escapar dele.

-Ser� que sair� tudo bem?
-Est� com medo de que?

N�o sei.
Esperei tanto tempo por isso.

Agora v�. Ele j� chegou.

V� embora. V� embora.

''SAMBA''

-Bom dia, professora.
-Bom dia.

-J� vai embora?
-Sim, j� terminei.

-Que pressa tens?
-Paulo est� esperando.

-Como todos os s�bados.
-Aproveite, ent�o.

-Vou aproveitar muito bem.
-Senhora, j� terminei.

-J� est�o prontas? Que �timo trabalho.
-Obrigado.

-Toma. Aqui est� o seu sal�rio. At� segunda.
-Obrigado. At� segunda.

-Adeus
-Voltar�s para o ensaio?

Sim. Quando eu faltei?

-S� quando terminou o ensaio com Paulo.
-Qual?

-O de marido e mulher.
-Engra�adinha.

Adeus.

Ah...V�.

Aqui. A semana inteira.

-Vai sair?
-Sim.

-Sair, sair... Sempre sair.
-� s�bado, av�.

Trabalho a semana toda
e s� tenho uma noite.

-Vai com Paulo, aquele liso?
-Outra vez, av�?

Outra vez e sempre, porque Paulo
n�o passa de um morto de fome.

-Est� bem. O que mais?
-Voc� tem outro destino marcado.

Est� escrito nas suas m�os, nas estrelas.
Para voc� tem um caminho de diamantes.

-Quantas vezes j� me falaste, av�?
-Quinhentas, mil vezes.

-E nunca aconteceu.
-Mas vai chegar o dia.

Voc� ser� outra Xica da Silva, porque
as coisas se repetem com o tempo.

E o que tem que ser,
n�o se pode mudar.

Pois ter� que ser.
Ah, quando a voc� fala...

Adeus, av�.

-Est� na hora?
-Sim.

-Vai sair com a Bel�m?
-Sim, vamos.

-Est� muito apaixonado?
-Muito.

-Vai casar?
-Sim. Quando tiver dinheiro.

-Eu quero oferecer-lhe outra vida.
-O que vai fazer?

Jogar na loteria?
A gasolina n�o nos deixar� ricos.

Eu vou. Voc� est� apressado.

-Oi.
-Esperou muito?

-N�o.
-Onde vamos?

-Depois eu digo. Esta tarde vai me obedecer.
-E quando n�o?

-Est� vendo? � igual.
-Com certeza.

-Vamos � Copacabana, ao P�o de A��car...
-Aos dois. A todos.

Pelo menos uma vez, quero fazer o que
sonho durante toda a semana. Vamos.

Vamos segu�-la.

Dois.

Olha.

Como se v� bem Copacabana.

Para sonhar... Para esperar

Copacabana

Para sonhar, para esperar
Copacabana

E para amar, olhando o mar
Copacabana

Fascina��o e tenta��o
Copacabana

N�o importar� o que ser�
De mim amanh�

Para viver, o que h� de vir
Copacabana

Para adorar, para cantar
Copacabana

A noite eterna, sua janela
Para esperar outra semana

Eu vou amar, um novo amor
Copacabana

Fascina��o e tenta��o
Copacabana

N�o importar� o que ser�
De mim amanh�

Para viver, o que h� de vir
Copacabana

Para adorar, para cantar
Copacabana

A noite eterna, sua janela
Para esperar outra semana

Eu vou amar, um novo amor
Copacabana

Copacabana

A senhora, por favor.
Como � poss�vel que n�o est�?

N�o ligou, nem deixou recado?

N�o entendo.

Adeus.

Que... que bonito.

Sabe o que gostaria de comprar?
Esta pulseira e este anel.

-E este brilhante, n�o?
-N�o. N�o. Esta j�ia deve ser muito cara.

lsso sim seria bom.

Os sapatos, o len�o e o colar.

J� � seu.

-Que flores mais bonitas.
-Compro as que voc� quiser.

N�o. J� gastou demais.

Umas florezinhas posso comprar.
Vamos.

-O que fazes, Bel�m?
-Um barco para os meus desejos.

P�e-se a navegar e pede-se a lemanj�
tudo o que se quer.

-Sua av� contou?
-Sim.

-S�o macumbas, mentiras.
-N�o s�o mentiras. lemanj� tem muito poder.

lemanj�, rainha do mar,
abre meus caminhos.

Leva para o mar,
todo o mau que me rodeia.

Trazendo felicidade � minha vida.

Hoje, eu quero a rosa
Mais linda que houver

E a primeira estrela que vier

Para enfeitar a noite do meu bem

Hoje, eu quero paz
De crian�a dormindo

E o abandono de flores se abrindo

Para enfeitar a noite do meu bem

Quero a alegria de
Um barco voltando

Quero ternura de m�os
Se encontrando

Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, eu quero o amor
O amor mais profundo

Eu quero toda beleza do mundo

Para enfeitar a noite do meu bem

Ah, eu quero o amor
O amor mais profundo

Eu quero toda beleza do mundo

Para enfeitar a noite do meu bem

Voc� n�o pede nada � rainha do mar?

-lemanj�?
-N�o sei.

-Quero pedir que n�o cumpra seus desejos.
-Por que?

Porque o que voc� deseja nos distancia e
eu n�o quero te perder.

Pois minha av� me disse que vai se repetir
em mim a hist�ria de Xica da Silva.

Que era uma mo�a pobre como eu e
viveu coberta de diamantes.

Para isto teria que
seguir um mal caminho.

Tamb�m tem caminhos milagrosos.

-N�o acredita que eu posso viver um sonho?
-N�o.

-Por que n�o acredita?
-Porque n�o me parece bom crer.

-Ent�o n�o quero ser sua amiga. Adeus.
-Bel�m. N�o v�.

N�o. N�o. N�o quero
voltar a te ver mais.

-Bel�m, espera. Espera.
-N�o.

Bel�m, n�o v� embora.
Espera, Bel�m.

-Oi, rapaz.
-O que deseja?

-Quem � aquela mo�a?
-O que, senhor?

-Onde mora?
-N�o sei.

-Sai com ela e n�o sabe quem �?
-N�o.

-O que est� fazendo aqui, princesa?
-N�o � da sua conta.

-Esperando algu�m?
-Sim, Sr.

Estou esperando meu pai,
que � policial deste distrito.

-Desculpa. Adeus.

-N�o est� me escutando?
-Deixe-o. Ele disse que n�o sabe.

-Voc� n�o mora por aqui, mora?
-N�o. Sou de uma favela.

-E n�o sabe qual a favela?
-Claro, mas n�o quer falar. V� rapaz.

Paulo.

-Onde estavas?
-Aqui perto.

-Que susto me fez passar.
-Que queriam estes homens?

Nada.

-Vamos para o ensaio?
-Sim.

-Vamos ficar muito tempo?
-At� terminar o ensaio.

Certo.

-Por favor, o presidente da escola?
-Este de camisa verde.

-Obrigado.
-Obrigado, amigo.

-Podemos conversar um minuto?
-Claro.

-� um assunto particular.
-Est� bem.

-Vamos l� dentro, ent�o.
-Est� bem. Muito obrigado.

-Podem sentar-se.
-Obrigado.

-Bem, aqui estamos. Do que se trata?
-� o seguinte: Precisamos de um favor.

Sabemos que a Escola do Salgueiro
sai no pr�ximo carnaval...

-Sim, � verdade.
-Queremos fazer uma proposta sobre isso.

-Qual?
-Temos interesse que a figura principal

de Xica da Silva seja representada
por uma mulata desta favela.

-E assim h� de ser, naturalmente.
-Mas n�s escolheremos.

lsso n�o pode ser.
A Xica da Silva j� foi escolhida.

-E n�o poderia ser outra?
-lmposs�vel. A comiss�o j� escolheu.

-Pode-se eleger de novo, com dinheiro.
-N�o, Sr.

-Estou falando de muito dinheiro.
-De tudo o que seja necess�rio.

Sabemos que a escola est� passando
por dificuldades financeiras.

E estamos oferecendo o que necessitem para
que o Salgueiro ganhe o pr�mio deste ano.

E depois levaremos a escola para fazer
um giro pela Europa.

-Sim. Claro, verdadeiramente, mas...
-O que voc�s necessitarem.

Mas na condi��o de que Xica da Silva
seja a que n�s escolhermos.

-Voc�s disseram... essa mo�a � desta favela?
-Sim.

-Quem �?
-Venha.

� aquela. A de marrom.

Ah, � Bel�m. Bonita mo�a.

-Consultarei a comiss�o, os vice-diretores...
-Pois consulte.

-Hoje deve ser apresentada a figura principal.
-Melhor ainda.

Uma vez exposta a oferta,
o Sr. Freitas tem a palavra.

...escola de samba que
o senhor t�o bem preside,

que a figura principal
seria de minha mulher.

-Sim, mas..
-Nada de mas.

Esta escola de samba que o senhor
t�o bem preside n�o pode voltar atr�s.

Ernesto tem raz�o.

-Mas... se oferecem tanto dinheiro...
-Tudo o que for necess�rio.

-Bem sabe que � dinheiro americano.
-Este dinheiro n�o � americano nada.

Al�m disso minha mulher
j� mandou fazer a fantasia.

-Outra coisa: paguei mil cruzeiros � escola.
-Ser� devolvido at� o �ltimo centavo.

Eu n�o quero dinheiro, nenhum centavo.
Quero que cumpra a palavra da comiss�o.

Esta comiss�o que o elegeu. Esta comiss�o,
Sr. presidente, presidida pelo senhor...

Senhor que t�o bem a preside.

Se � tanto dinheiro...

Minha mulher tem que ser Xica da Silva,
conforme combinamos aqui mesmo.

E aqui mesmo pode-se
combinar outra coisa.

Para terminar com a controv�rsia,
vamos fazer outra elei��o.

Sou contra.
Sou contra e minha mulher tamb�m.

-Ent�o, o que voc�s decidiram?
-Nada, nada. Vamos votar.

-Creio que vamos aceitar.
-Eu tamb�m.

Pois antes me pague os seis mil
Cruzeiros que te emprestei s�bado.

N�o pensarias em comprar minha
consci�ncia com esta mis�ria...

-N�o. Porque tua consci�ncia n�o vale seis mil.
-Calma. Calma.

-Decidido por unanimidade.
-Com o meu voto contra.

-Unanimidade com voto contra do senhor.
-E com meu protesto...

E com o seu protesto tamb�m.

Sr. presidente, exigirei danos e preju�zos
desta escola que o senhor t�o mal preside.

-Ser� indenizado. N�o tenha cuidado, senhor.
-O senhor n�o sabe o g�nio da minha mulher.

-Creio que j� conhecemos.
-Continua dando-lhe surras.

Surra ou n�o, n�o interessa.
lsto � um segredo de fam�lia.

Sim. Mas se escuta at� na rua.

-� verdade?
-Claro.

-Eu n�o sabia.
-Voc� � sempre o �ltimo a saber.

-Em vista do decidido, encerrada a sess�o.
-Com o meu protesto.

Se quiser pode ficar aqui com
o seu protesto at� amanh�.

Aten��o, aten��o. Para representar a figura
feminina de Xica da Silva, no desfile...

A diretoria do Salgueiro designou
a Senhorita Bel�m Moreira.

-E Paulo?
-Est� l�.

Paulo.

Paulo.

-Paulo. Que aconteceu? N�o me parabeniza?
-N�o.

-N�o ficou feliz que tenham me elegido?
-N�o. N�o fiquei feliz.

N�o v�s? Tudo o que pedi a lemanj� no
culto ao mar me aconteceu esta noite.

Vou ser Xica da Silva.

N�o gostei, Bel�m.
lsto me d� medo e suspeita.

-Suspeita de que?
-Por que lembraram de voc�? Podes dizer?

-N�o sei. Lembraram de mim.
-N�o tinham eleito a mulher de Freitas?

N�o sei.

-N�o seria eu a Xica da Silva?
-Claro. Fiz o que pude. Eu protestei.

-Eu protestei. E de que adiantou?
-Pelo visto, nada. Por�m, consta em ata.

-N�o est� certo.
-Eu protestei, eu protestei...

Cale-se de uma vez, seu idiota.
Voc� serve somente para protestar.

-Mas, meu bem..
-N�o tenho marido...

O que ganhaste com seu protesto?

-Nada. Mas protestei...
-Devem ter rido muito de seus protestos.

Deveria ter protestado no dia
em que nasceu, seu an�o.

Tem menos vergonha que estatura.
Sua Barata. Voc� � uma barata.

Barata?

-E agora elegeram voc�. Por que?
-Eu n�o sei. J� te falei.

N�o aceite, Bel�m. Fa�a por mim.
O que te oferecem � por uma noite.

-O nosso � para toda a vida.
-N�o posso. N�o compreenderiam.

-E o que importa se � somente uma noite.
-Uma noite que pode estragar tudo.

N�o posso, Paulo.
N�o me tire esta ilus�o.

-Est� bem. Mas o que voc� n�o sabe �...
-O que?

Voltaram � favela os homens
que nos seguiram. Os da praia.

N�o os conhe�o e nem os vi na favela.
Nem me importo.

-Que estranho? Eles perguntaram por voc�.
-Est� bem. E...?

-Nada. Vou voltar para o ensaio. E voc�?
-N�o.

-Acabou o ensaio?
-Sim, av�. Vou ser Xica da Silva no desfile.

-Eu sabia. Estava escrito.
-Mas � s� por uma noite.

N�o. Mais do que uma noite. Viver�
coberta de pedras preciosas, como ela.

-Mas, av�, ser�o pedras falsas...
-N�o, verdadeiras.

Diamantes, top�zios, rubis,
esmeraldas... pedras boas.

Que Xang�, vestindo p�rpura e branco.
Que lemanj�, penteando seus cabelos

de algas. Que Ogum, brilhando no fogo da
c�lera, queiram que n�o seja para o mal.

Sim, sim, � para voc�.
Pode assinar aqui, por favor?

-Eu n�o sei escrever.
-Coloque uma cruz. Sabe?

-Deseja mais alguma coisa?
-N�o.

-O que � isto, av�?
-Um rapaz trouxe. O mesmo dos outros.

Os outros?

Os sapatos.

O len�o, av�.

A bolsa.

O colar. Mas, av�, o que � isso?

-Voc� deve saber.
-Eu? Eu tamb�m n�o sei.

-Trouxeram tamb�m uma carta.
-Uma carta?

Deixe ver.

� um convite para ir a um pal�cio.

Por ter sido eleita a Xica da Silva.

Xica da Silva outra vez. Aquele homem
falou que �s seis vem um carro te buscar.

Um carro? N�o. N�o devo ir
sem primeiro falar com Paulo.

Creio que este idiota vai
mudar a linha do seu destino.

-Outra vez com o meu destino?
-Sim, seu destino.

-Diga que n�o estou. Que n�o vim hoje.
-Por que?

N�o quero falar com ela.

-Vai ao baile?
-Devo ir bailar, av�?

�s seis te espera o carro.
Assim disse o homem.

Bem, estou indo.
Adeus.

Adeus.

-Oi, Bel�m.
-Adeus, Bel�m.

Dona Marquesa de Santos.

Anda. Suba. Vamos.

-Tchau, Bel�m.
-Tchau...

Bel�m. Bel�m.

Laura.

Por fim...

Xica.

Estou mal por voc� ter me abandonado
por tanto tempo.

Passei oito dias terr�veis, sem saber nada
de voc�. Estava contando os minutos.

N�o volte a sumir...
Laura, est�s muito bonita.

Agora deve se trocar.
� tarde.

-Esqueceu que o baile � esta noite?
-�... N�o. N�o, n�o.

Pois vamos.

Trinidad, veja, Xica voltou. Voc� pensou
que ela n�o voltaria nunca mais.

Eu tinha raz�o.
Agora, voc� tem que vesti-la.

-Quero que esteja maravilhosa esta noite.
-Sim, patr�o.

-Trinidad cuidar� de voc�, como sempre.
-Sim, senhor.

Aqui poder� escolher o vestido
para o baile.

Esta noite, Laura deve estar mais
atraente do que nunca.

-N�o...
-Este n�o.

Este n�o. N�o quero.
N�o quero. N�o.

N�o quero. Este n�o.

-Este vestido n�o.
-Vamos, senhor, vamos.

Este n�o. Este vestido n�o.
Este n�o.

Este vestido, n�o.
N�o.

-Que �? Por que?
-N�o � nada, pequena. N�o tenha medo.

-O que tem de mal neste vestido?
-N�o tem nada. Est� um pouco sujo, rasgado.

Sim. � isso.

N�o se preocupe, pequena.
Al�m disso o baile � com roupa de �poca.

-Voc� gosta deste?
-Sim.

Ent�o vamos coloc�-lo.

Vamos.

Senhor.

Resende...

Est� aqui.

Xica voltou. Est� aqui.

-N�o sumir� mais, n�o?
-N�o, senhor.

-N�o vai mais separar de mim.
-Conv�m o senhor descansar um pouco.

N�o. Prepare minha roupa para o baile.

Ah. N�o tinha visto terminado.
Trouxeram ontem.

Faltava pintar o fundo, lembra?

Vamos.

N�o deveria ter vindo.
Se seu tio te ver...

Meu tio n�o vai me ver.
Trouxe o convite que te pedi?

-Promete que n�o vai se aproximar?
-Sim. Quero somente v�-la.

Depois de uma semana como morta...

-Que est� dizendo, meu filho?
-Por que te assustas assim?

Ela n�o me chamou, nem foi ao Rio me ver.
Tive motivos para pensar no pior.

N�o quero que se exponha, nem que
aconte�a nada com voc�.

-O que?
-Nada... nada.

Pela mem�ria de sua m�e, Assis.

S� um minuto, Trinidad.

Desculpa.

Por favor, Laura, termine a dan�a e veja-me
como sempre, no criadouro de p�ssaros.

N�o deixe que ele a veja.

Por que n�o fostes, como combinamos?
Ou pelo menos chamou-me para explicar?

Fazem oito dias que n�o te vejo.
N�o podia viver, nem sabia o que pensar.

� preciso resolver esta situa��o. N�o �
poss�vel viver sequestrada por um louco.

Te amo.
Te amo e n�o posso perder-te.

-Tenho que voltar para o baile.
-Espero teu aviso.

-Sim, claro.
-Amanh�, sem falta?

Amanh�, sem falta.
Sim... adeus.

Xica.

-Onde estavas?
-Atr�s. Fazia tanto calor.

-Quer dan�ar?
-Sim.

Bel�m. Bel�m.

Ah, � voc�.

-Bel�m n�o est�?
-N�o.

N�o posso esper�-la,
trabalho esta noite.

-Quando voltar...
-Se voltar algum dia...

Que est� dizendo?

Nem sabe se voltar�, nem quando.

-Boa noite.
-Boa noite.

Senhor.

-Est� cansada?
-Sim, um pouco.

Vou chamar algu�m.

Trinidad te ajudar� a acomodar-se.

-Senhor?
-Trinidad, leve a senhorita ao seu quarto.

-Sim, senhor.
-Cuide bem dela, como sempre.

-Boa noite, Xica.
-Boa noite.

-Vamos?
-N�o v�o me levar para casa?

� muito tarde para voltar para o Rio.
N�o tenha medo, pequena.

-Mas...
-N�o � t�o mal, passar a noite aqui.

-Vamos?
-Sim.

-Boa noite. Descanse.
-Boa noite.

-At� amanh�.
-At� amanh�.

Este colar � leg�timo, servir� de garantia
para os gastos que possam surgir.

-Que surgir�o.
-Come�ando pelos gastos do baile de ontem.

-Ser� suficiente para suportar tudo isso?
-Espero que sim, Sr. Almeida.

N�o ser� necess�rio vender mais. Pagaremos
tudo com as hipotecas das terras e das casas.

-Os del�rios de grandeza do Sr. Oliveira?
-Quero que ele ignore a ru�na de sua casa.

Que viva como antes,
os anos que ainda lhe restam.

N�o se trata de n�o ter dinheiro. Tudo, at�
encontrar uma mo�a igual foi feito por um fim.

Levaremos este assunto at�
onde for conveniente.

N�o. N�o. Tenho medo. Pagarei de qualquer
maneira. Algo pode ainda ser salvo.

-Eu pagarei.
-Tem algo que n�o pode pagar. O sil�ncio.

-Voc�s tamb�m participaram.
-Participar n�o � matar. N�o sairia bem desta.

Dom Jo�o ir� � Bras�lia com uma mo�a,
como previsto. Falar� com o governo.

Far� toda a publicidade poss�vel. Tem
que usar o prest�gio social de seu patr�o.

Dom Jo�o viver� como agora,
sem perceber nada. Entendido?

-Onde encontrou estas cartas?
-Estavam a�, numa gaveta.

-Tenho que fazer sumir tudo isso.
-Mas por que?

-Para evitar que aconte�a algo terr�vel.
-A quem?

-A todos.
-A mim tamb�m?

Quem sabe.

Este homem da foto me confundiu
com outra. Com a da foto do sal�o.

Sim.

-Ei. A noite falou comigo.
-Que te falou?

-Esta apaixonado pela outra e o velho tamb�m.
-Sim.

-Trinidad, o velho est� louco, n�o est�?
-Ele vive num mundo inventado por ele.

Cr� que � outra vez seu antepassado.
Jo�o Fernandes de Oliveira.

O negociante de pedras preciosas.
Que foi amante de Xica da Silva.

Mas, para eles sou a que conheceram h�
poucos dias. E acreditam que sou a outra.

E quem � a outra mulher?
O que aconteceu com ela?

N�o pergunte mais.
� melhor que n�o saiba.

E o jovem, quem �?
Por que est�o aqui suas fotos, suas cartas?

-Por que quer que eu me encontre com ele?
-N�o. lsto � o que devemos evitar.

Que volte a te encontrar, que fale contigo.
N�o quero que isto aconte�a.

N�o te preocupes, n�o voltarei a v�-lo.
Com o novo dia, se acabaram os sonhos.

Voltarei para a minha favela.
N�o estou gostando nada deste mist�rio.

A escola de samba Salgueiro vai
apresentar a hist�ria de Xica da Silva.

-Querem na figura principal a Srta Monteiro.
-Xica?

Magn�fico.
Ficar� t�o contente, como eu.

-A Salgueiro est� num momento dificil...
-E...?

lsto poderia ser solucionado com sua
generosidade, cobrindo os gastos do desfile.

Sim. Sim. Muito bem. Tudo o que seja
necess�rio. � preciso que seja sensacional.

Est�vamos pensando que a escola poderia
fazer uma turn� na Europa, com seu apoio.

Perfeito.
Parece-me uma excelente id�ia.

Ser� uma embaixada art�stica do Brasil.

Resende, d� aos Srs.
tudo o que precisam, sem negar nada.

-E a senhorita?
-Ah, sim. Tenho que cont�-la.

Ter� que ir � favela para que
tomem as medidas.

Perfeitamente. E o vestido tem que ser
rico coberto de pedraria...

N�o importa o pre�o.
Quero que v� como uma rainha.

-Obrigado e adeus.
-Espero terminar a prova para te levar de volta.

-N�o irei mais ao pal�cio. Ficarei na favela.
-A ordem � para voltar ao pal�cio.

-N�o podem me obrigar.
-Ningu�m est� te obrigando.

Nem te sequestrando. A partir deste
momento, a escolha � sua.

Pode renunciar a tudo: luxo, sucesso,
a Europa, o Salgueiro... Eu esperarei.

-De onde vir�?
-Passou a noite fora de casa.

-N�o tem vergonha?
-A vergonha parece que j� perdeu.

-Bel�m, foste ao pal�cio esta noite?
-� bonito? Conta, Bel�m.

Estava num mundo maravilhoso,
onde tudo � como um conto de fadas.

Vamos l�?

Fantasia. De jardim e de flores
De beleza e alegria

Fantasia. De pal�cio e explendores
De cor e melodia

Fantasia. Vivi iludida como
Em um conto de fadas

Fabuloso. Fantasia.
De um mundo maravilhoso.

Tudo o que vi. Que bonito �
Antes imaginava, agora encontrei

Tudo o que vi. Que bonito �
Antes imaginava, agora encontrei

Fantasia. De pal�cio e explendores
De cor e melodia

Fantasia. Vivi iludida como
Em um conto de fadas

Fabuloso. Fantasia.
De um mundo maravilhoso.

Fantasia.

Fantasia. Somente...

Como j� lhe havia dito outro dia,
Bel�m n�o poder� viver numa favela.

-Nem voltar ao trabalho?
-Nem ao trabalho.

-E eu?
-O Sr. lhe dar� o dinheiro que necessitar.

-Que Sr.?
-O Sr. Oliveira.

-Oliveira?
-Jo�o Fernandes de Oliveira.

-Tome, por enquanto. Bom dia.
-Bom dia.

-J� est� pronto. Em dois dias pode prov�-lo.
-Obrigado, senhora.

-Adeus, minha filha.
-Adeus.

Paulo.

Vou trabalhar. Est� tarde. Adeus.

-Voc�?
-Sim.

-Por que vieste ao Rio? Houve algo?
-Recebi a carta que enviaste para ela.

-Sem entreg�-la?
-Ela n�o est� e voc� diz que vai busc�-la...

-Mas para que?
-Para que n�o apare�a, sem que eu te avise.

Ela ir� demorar para voltar. Eu o avisarei
e combinarei para que a veja.

-Confia em mim, Assis.
-Por que este medo? Meu tio sabe de algo?

-N�o. N�o pense isso.
-Promete me avisar quando...

-Sim, prometo. Mas voc� n�o
apare�a l� por nada neste mundo.

N�o esque�a o que combinamos.
Cuidado com o que responde aos jornalistas.

Diga que est� muito feliz em trabalhar
na cidade e nada mais.

Quando estiver posando para os fot�grafos
mostre desenvoltura. � muito importante.

-� lindo, n�o �?
-Sim.

Almeida te levar� para conhecer Bras�lia,
enquanto eu falo com o ministro.

-Est� bem.
-Venha buscar-me em uma hora. At� logo.

Creio que esta � a melhor ocasi�o para
fazer-lhe conhecer nosso folclore popular.

N�o tenho que lhe dizer que o governo
dar� facilidades a esta expedi��o.

Honrad�ssimo, Sr. Ministro. Mas � que
s�o mais de 1.500 vestidos e perucas.

-Darei a ordem para a aduana despachar.
-Muito obrigado, Sr. ministro.

-Vai apresentar-se em Bras�lia esta noite?
-Bem...

lmposs�vel. Laura Monteiro estar� amanh�
na Festa dos Navegantes, capital da Bahia.

Na igreja pode-se ver as pinturas
de Angelo Agos e Augustinho da Mota.

-Senhor, est� na hora.
-Sim, vamos.

Sim. Barroso buscou no local acertado.
Tenho que desligar agora, depois falamos.

-J� voltaram? Como est�o?
-Bom. Perfeito.

-Tiraram muitas fotos?
-Sim, muitas. Em todos os lugares, n�o?

-Sim.
-Vamos avisar que as aprontem r�pido.

-Vamos mandar ao Rio, para publicidade.
-Um momento...

-Para a Srta. Laura Monteiro.
-Obrigado.

Veja. Este � o vestido que te
ofertaram para a Festa dos Navegantes.

Ah, Bahia, ai ai

Bahia que n�o me sai
Do pensamento, ai

V� com meu lamento, ai

A desesperan�a, ai

De encontrar pelo mundo o amor
Que perdi, na Bahia. Aconteceu

Na Baixa dos Sapateiros, encontrei
Um dia

O mulato mais bonito da Bahia

Me d� um beijo? Pois n�o. Um abra�o?
Por que ? Tuas m�os eu pe�o, Cac�

E se foi... E se foi...

Bahia, terra da felicidade
Moreno, eu ando louca de saudade

Oh, Senhor do Bonfim
Procura um mulatinho t�o lindo para mim

Oh, Bahia, ai ai

Oh, Bahia, ai ai

Oh, Bahia, ai ai

Bahia

-E minha bolsa? Estava aqui agora mesmo.
-Desceram do carro com os pacotes. Eu vi.

Est� bem.

-Toma a bolsa.
-Obrigada.

Estava com a bagagem...

-No dia seguinte ao desfile iremos � Europa.
-Como? T�o r�pido? N�o dar� tempo.

Est� tudo preparado.

Aten��o. Est�o nos comunicando, por r�dio,
que os passageiros ter�o que passar

com suas bagagens pelo controle da
pol�cia do Estado de Guanabara.

N�o entendo por que
est�o fazendo isso.

Talvez tenha rela��o com o roubo.
Olhe o que diz o jornal.

-Sim, possivelmente.
-Audacioso roubo de j�ias em Belo Horizonte.

-Por favor, senhora.
-Um momento..

-Voltar� logo a cantar?
-Quando pode receber...

Por favor senhorita, fique a�
um momento. N�o se mexa.

-Senhorita, uma foto com nossa revista.
-Sim. Sim.

Para que se veja a foto. Abra-a.
Obrigado. Aqui.

-Assim?
-Est� bem. Basta. Basta. Vamos Laura.

Obrigada.

-Levaram a minha...
-O que?

N�o. Nada.

Bem. O que est� acontecendo?
Por que tanto mist�rio?

-Quem s�o estes homens?
-Quais?

Os que n�o se separam de n�s.
Os que foram � Bras�lia e � Bahia.

J� te falei. Vieram me pedir para que
apadrinhe a escola de samba.

Como voc� � a figura principal, eu
pus � disposi��o o dinheiro necess�rio.

Depois surgiu a turn� pela Europa
com todo o espet�culo.

Foi id�ia deles e
eu n�o podia voltar atr�s.

-Sabe o que encontrei na minha bolsa?
-N�o, o que?

Quando abri no avi�o vi que estava
cheia de pedras preciosas.

As pedras est�o nas minas, joalherias, mas
mas n�o na bagagem de jovens fantasiosas.

Onde est� a minha bolsa? Levaram-me
do aeroporto, antes de passar na pol�cia.

-Sim. Quando nos fotografaram.
-lsto tamb�m? Bem, vamos saber.

Dever� estar com o resto da bagagem.
Vamos tirar a d�vida.

-Senhor?
-Basti�o, chegaram as bagagens?

-Sim.
-Traga a bolsa de m�o da senhorita.

-Sim, senhor.
-Para te convencer que foi uma alucina��o.

-Eu vi.
-N�o � poss�vel. N�o entende que...

-A bolsa, Sr.
-Sim. D�-me. Nada mais. Obrigado.

Toma.
Que est� esperando?

S�o estas as pedras preciosas
das quais estava falando?

-Ent�o ficaram somente no avi�o, n�o?
-N�o sei. N�o entendo.

-Ainda n�o est� convencida?
-Tenho certeza do que vi e do peso da bolsa.

lsto � cansa�o, alucina��o passageira.
Quando voc� descansar...

-Deve ser cansa�o. Vou para meu quarto.
-Espere.

Amanh� tenho que ir ao ensaio da
escola de samba. Preciso estar descansada.

-Oi, Bel�m.
-Oi, Ad�lia.

-N�o vai para o ensaio esta noite?
-Sim. Primeiro vou visitar minha av�.

-Est� bem. At� logo.
-Adeus.

-Olha. A� est�.
-De onde sai este luxo?

-Quem paga a sua av�?
-E voc�, com que paga?

-� voc�?
-Sim, av�.

Parece uma senhora. Sempre
falei que viveria na riqueza.

Sim, av�.
Mas j� acabou.

-Por que?
-Porque vim � favela para ficar.

-O que est� dizendo?
-O que est� escutando.

-Sabe quem voltou?
-N�o.

Bel�m.
Est� em casa agora.

-Segue voc�. Tenho que ir.
-Est� bem.

-Ent�o voltaremos a ser pobres?
-Sim, av�.

-Quer voltar a ser boa?
-Eu nunca fui m�, av�.

-N�o?
-N�o.

-Quem foi?
-De onde sai tudo o que tens?

-Quem paga estes vestidos?
-� o mesmo que paga a sua av�?

-Por que n�o sossega esta l�ngua?
-Porque n�o tenho vontade.

-Sem vergonha.
-Sem vergonha?

Bel�m.

Vai Bel�m.
Vai Bel�m.

Vou arrancar seus olhos.

Parem.
Vamos.

Vou mat�-la.
Vou mat�-la.

Obrigada, Paulo.
Obrigada pelo que acaba de fazer.

-N�o fiz mais do que te livrar destas feras.
-Por isso.

-Mas penso o mesmo que elas.
-Voc� n�o pode pensar isso.

O que est�o dizendo n�o � verdade.
Tem que acreditar em mim.

-Como posso acreditar?
-E se te digo que vim para ficar na favela?

-� verdade?
-Sim. N�o voltarei a ir.

-Por que? Te deixaram?
-Quem?

O outro.
O que te cobriu de riquezas.

-O que mandava dinheiro para a sua av�.
-N�o aconteceu nada, Paulo.

-Eu te juro que...
-N�o jure, Bel�m.

-Os homens n�o d�o tanto por nada.
-N�o acredita em mim?

-Ainda que te fale que vim para ficar?
-N�o.

-Queres saber porque?
-O que tenho que fazer para que acredite?

Agora mais nada.
Quando podia escolher, voc� escolheu.

Se eu for embora agora,
� para sempre.

-Para mim, voc� j� foi.
-Penso que corro perigo grave.

E o que eu tenho que ver?
Voc� procurou isso.

-E n�o te interessa?
-N�o.

-Ent�o?
-Adeus.

-Assim?
-N�o me ver� nunca mais.

-Nem me perdoar�?
-Perdoar? Que importa?

-Pela �ltima vez, Paulo.
-Pela �ltima vez, Bel�m. Adeus.

-Eu voltei para avisar que n�o conte comigo.
-O que?

Enquanto Bel�m for a figura principal,
n�o estarei com voc�s, nem desfilarei.

Voc� sabe porque fez isso.
Entrou muito dinheiro para a escola.

Se a escola de samba se vende,
eu n�o me vendo. Adeus.

Ant�nio. Ant�nio.

-O que est� acontecendo?
-Nada. Vim pedir que me deixe ficar uns dias.

-Os que queira.
-N�o posso ficar no Salgueiro.

N�o quero. Pelo menos at� que termine
os ensaios e aconte�a o desfile.

-Por causa de Bel�m?
-Sim.

Depois v�o para a Europa e
� prov�vel que ela n�o volte.

Sinto muito que tenham acabado.

-O vestido da Srta. Bel�m?
-N�o vem provar depois de terminado?

-N�o sonhe com isso. Somos pouco para ela.
-N�o d� import�ncia para elas.

Aqui est� o vestido.

Surgiram complica��es.
Mudaram nosso piloto de linha.

Daremos um jeito para sair
tudo dentro de dois dias.

Sem assistir o desfile...
Como teremos as fantasias?

N�o se preocupe, diremos que Oliveira
quer apresentar a hist�ria de Xica da Silva

numa festa de despedida, em seu pal�cio
e que n�s iremos buscar as fantasias.

-E Oliveira? Sabe de alguma coisa?
-N�o. Nem precisa.

Tenho somente que convenc�-lo a adiantar
a sa�da para a Europa. O resto � f�cil.

Agora falar�o com o Resende para que
fa�a tudo o que seja ordenado.

-N�o. N�o pode ser.
-Pode ser, amigo.

-E se n�o obede�o?
-Far�amos ele saber a verdade.

Separar�amos dele e depois...
N�o pagar�amos pela obra de um louco.

Mesmo que eu queira, onde v�o fazer?
Necessitam de um local escondido.

A pol�cia nunca vai pensar
no pal�cio de Oliveira.

-A� na garagem, tem um lugar.
-Onde est�o os carros antigos?

-Sim. Ningu�m vai suspeitar.
-Eu acredito...

Voc� obede�a. V� buscar, de caminh�o,
as fantasias e guarde-as na garagem.

Depois vamos ao ensaio buscar Bel�m.
N�o abandone o pal�cio. Pegue as chaves.

-Quanto, senhor?
-Trinta.

-�ltima edi��o. O Globo. O Globo.
-Ei, filho.

Obrigado.
O Globo.

Desculpa.

Quando terminar aqui, tens que voltar
para o pal�cio. O Sr. Oliveira quer te ver.

Esperarei l� fora com o carro.

J� sabe.
lremos quando terminar o ensaio.

Brasil

Meu Brasil brasileiro

Meu mulato isoneiro

Vou cantar-te nos meus versos

Brasil, Brasil

Brasil,
A terra onde te encontrei

Onde meu amor
Te declarei

Onde em meus bra�os te abracei

Brasil, Brasil

Cruel destino que nos separou

Que do teu lado me arrancou

E a alma triste me deixou

Hoje
Com as lembran�as de ontem

Que deseja todo o meu ser
Logo poder voltar

Pra mim. Brasil.
Pra mim. Brasil.

-Por favor, ensaia aqui a escola de Salgueiro?
-Sim, senhor, acabaram agora mesmo.

-E essa mo�a, est� aqui?
-Justamente este carro. Est� saindo agora.

Laura...

Laura.

Laura.
O que aconteceu?

Laura.

-Por que est� chamando esta mo�a de Laura?
N�o tem este nome.

-O que?
-Eu estou certo. � uma mulata do Salgueiro.

Chama-se Bel�m e foi minha namorada.

-Pelo visto ela substituiu a outra.
-Mas � igual a ela.

Talvez seja por isso ou por algo
que n�o posso compreender.

-Conhe�o os homens. Seguiam Laura tamb�m.
-Garanto-lhe que � Bel�m.

-Estava a� ensaiando.
-Ent�o, o que aconteceu com Laura?

-Quem sabe?
-Fazem muitos dias que n�o a vejo.

-Bel�m falou-me de um perigo grave.
-Para quem?

-N�o sei. Para ela.
-Ou o mesmo perigo para as duas.

-Para a sua e a minha. Parecem a mesma.
-Sim. Talvez.

Tenho que ir a Petr�polis, aconte�a o
que acontecer. Mas antes vou � pol�cia.

-N�o est� inventando uma novela?
-Pode ser, Sr. delegado.

Todo caso � uma novela policial,
que est� dentro do seu oficio.

� melhor evitar que lamentar
depois que acontecer.

Que fazemos?

Necessito de sua ajuda.
Vou ligar para Petr�polis.

Podemos vigiar o pal�cio de Oliveira.
Outra coisa n�o se pode fazer, sem provas.

-Obrigado, Sr. delegado.
-Adeus.

-Onde coloco o vestido?
-Vamos empacot�-lo.

-N�o vai com os outros?
-N�o.

-Por que?
-Quando vai deixar de perguntar?

Procure estar preparada.
Podemos sair a qualquer momento.

-E se eu n�o quiser ir?
-Aonde?

-� Europa com voc�s.
-Pensou nisso agora?

N�o. J� tinha pensado e
acabo de decidir.

� uma pena que j� �
tarde para decidir.

Antes poderia ter ido,
mas agora vai ser dificil.

Seja racional.
Ser� melhor.

-Encarregue-se para que n�o fale com ningu�m.
-Mas...

N�o quer nada mal a seu senhor.
N�o quer que aconte�a nada, n�o?

-Porque voc� veio?
-Feche.

Voc� sabe que aqui est� correndo perigo.
E esta noite mais do que nunca.

-Quem � o homem do jardim?
-Um dos que controlam o senhor.

-N�o sei onde vamos parar.
-O que est� fazendo debaixo da sacada?

-Olhe...
-Fale logo.

-N�o � ela.
-Ent�o... � verdade.

-� verdade que � outra?
-Sim. Trouxeram porque ele n�o vive sem ela.

-O que aconteceu com Laura?
-Meu filho...

-Diga-me o que aconteceu.
-Ele a matou na �ltima vez que cantou no Rio.

Trouxeram-na morta no carro. E seus
homens enterraram-na n�o sei onde.

Mas se ele a matou,
por que sentia a sua falta?

N�o ficou surpreso ao encontr�-la?
Por que a confundiu com Laura?

Depois dos ataques n�o lembra de nada.
� como se n�o tivesse acontecido.

� noite, no teatro, falei com ela.
Talvez nos viu neste momento.

-N�o, senhor.
-Ent�o quando fui embora.

Voc� n�o deve se preocupar.
Eu n�o quero que se exponha...

-Tentarei tudo o que for poss�vel.
-E o que pode fazer, Trinidad?

Estes homens tem o senhor em suas
m�os, eles sabem que ele a matou.

-E se eles te verem...
-Eu tratarei que eles n�o me vejam.

Pelo amor de Deus, eu te pe�o.
Se o senhor te ver...

Se ele a matou � porque viu voc�s juntos.
E se agora te ver � capaz de mat�-lo.

-Est� louco.
-Deixe-me ir.

Voc� n�o tem nada com isso.
Deixe que eles se matem entre si.

-E esta outra mo�a?
-Bel�m?

Muito menos � assunto seu.

� igual a ela.

Assis.

-Voc� sabe onde �?
-N�o. Espere...

-Por favor, o pal�cio de Oliveira?
-A� em frente. Neste jardim.

-Obrigado.
-De nada.

N�o me meta em confus�o.
N�o queria saber dela...

-� verdade.
-E por uma mulher que n�o quer, vem ao Rio?

-Vamos ver.
-Vim, deixei o trabalho e talvez perca o emprego.

-N�o queria vir?
-Claro. N�o ia te deixar sozinho...

mas no Rio parecia melhor
e estava menos escuro.

-E se ela est� correndo perigo?
-Se voc� n�o a quer, por que se arrisca?

Vamos ver.

Chegamos. Se tiver medo de se meter
numa aventura, pode voltar para o Rio.

-Sou seu amigo, n�o?
-Acredito que sim.

-Se sou seu amigo, n�o te abandonarei.
-Ent�o...

De qualquer maneira vamos perder
o emprego. O que vai fazer? Chamar?

-N�o est� vendo que est� armado?
-� um amigo.

-Um homem armado nunca � um amigo.
-Boa noite.

Ah. � voc�?

Sabes de alguma coisa?

-lnfelizmente, sim.
-Sobre Laura Monteiro?

-Mataram-a.
-E Bel�m?

-Sequestraram-na. Querem lev�-la � for�a.
-Tem que salv�-la.

-Vou tentar.
-Mas agora � coisa minha. Eu irei.

N�o. lremos juntos. Tenho que descobrir
outras coisas. Conhe�o o jardim do pal�cio.

N�o. N�o, senhor, n�o tem problema.
Deixe-o, se ele quer ir.

-Vamos juntos. Voc� pode ficar, se quiser.
-Sozinho, nem pensar. Vou com voc�s.

Ent�o, vamos.

Venha.
Vamos segui-los.

-As fantasias do desfile?
-Olhe.

-Vamos ver.
-N�o seria melhor...

Cale-se.

Olhe.

Des�a.

-O que tem a�?
-Olhe se quiser.

-Entendeu?
-N�o.

Est�o mudando as pedras do vestido.
-Sim.

E mudaram as destes vestidos tamb�m
para lev�-los � Europa com pedras boas.

As pedras do roubo
de Belo Horizonte.

Por favor,
deixem-me sair.

Ant�nio. Ant�nio. Ant�nio.

-Cuide-o. Vou buscar a mo�a.
-Eu tamb�m vou.

N�o. N�o se mexa.
Eu a trago.

Abram a porta.
Abram, por favor.

-Venha comigo. Acabou o perigo.
-O que est� acontecendo?

N�o se preocupe.
Tem algu�m esperando-lhe.

N�o se preocupe.
N�o vai ser nada.

Bel�m.

-Levarei voc� para casa.
-N�o. Na favela n�o me querem.

Est� enganada. Querem e est�o
orgulhosos de sua Xica da Silva.

Apesar

De n�o possuir grande beleza

Xica da Silva

Surgiu no seio
Da mais alta nobreza

O contratador

Jo�o Fernandes de Oliveira

A comprou

Para ser a sua companheira

E a mulata que era escrava
Sentiu forte transforma��o

Trocando o gemido da senzala

Pela fidalguia do sal�o

Com a influ�ncia e o poder do seu amor
Que superou a barreira da cor

Francisca da Silva
Do cativeiro zombou, �����

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No Arraial do Tijuco
L� no estado de Minas

Hoje lend�ria cidade
Seu lindo nome � Diamantina

Onde viveu a Xica que manda
Deslumbrando a sociedade

Com o orgulho e o capricho da mulata
lmportante, majestosa e invejada

Para que a vida lhe tornasse mais bela
Jo�o Fernandes de Oliveira

Mandou construir
Um vasto lago e uma bel�ssima galera

E uma riqu�ssima liteira
Para conduzi-la

Quando ia assistir
� missa na capela

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