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SEM MOTIVO APARENTE

Nossa hist�ria � a aventura de um homem
� procura de uma verdade oculta...

...e n�o seria uma aventura se n�o chegasse
a um homem feito para ela".
RAYMOND CHANDLER

Ent�o, Sr. Carella, est� bem
descansado?

Vamos � Secretaria?

Voc� ir� telefonar?

Se precisar, basta soprar.

PRIMEIRO DIA

Um teste aqui pra mim, Sr. Sabirnou.

Meu nome � Julien Sabirnou e
estou cheio deste papel de bobo. Est� bom?

Para mim tamb�m, para a c�mera cinco.

Meu nome � Julien Sabirnou e
estou cheio deste papel de bobo. Est� bom?

Bom dia, Sandrine.
-Bom dia.

TODOS OS DIAS ASSISTAM AO
MEIO-DIA "MYSTEROBJET"

Para o pr�ximo Misterobject vamos querer
um pedacinho da sua orelha. Fa�o quest�o.

Desculpe.

Se sua m�e soubesse, Sandra?
- N�o me venha com essa li��o de moral.

Ao menos vamos lhe ver no almo�o?
- Mam�e diz isso todas as manh�s.

Meu padrasto n�o est� de bom humor.
- Hist�ria antiga.

Hist�ria de mulheres?

De qualquer modo, � um grande investimento.

Nenhum problema com os pagamentos
gra�as ao cr�dito a longo prazo. Al�m disso...

� magn�fico!

Sim, mas exige um investimento enorme.

Sim, mas como dizia, podemos conseguir
com os bancos. Sem problemas.

Vejam aqui trouxe as minutas do contrato.
Ir�o verificar, os capitais investidos...

Aten��o, aten��o, devagar.

Para tr�s.

N�o ouviram nada?
-N�o.

Caiu em cima de mim.

E segurou-o.
- Segurei.

Devem ter disparado com silenciador.
- Sim?

Ele disse alguma coisa antes de cair?
- N�o, procurava na pasta dele.

Procurava o qu�?
- Pap�is.

Quais pap�is?
- Estes, Sr. Carella.

Obrigado, Di Bozzo.

Ei, voc� n�o viu ningu�m?

Encontrei isto na pasta dele, Sr. Carella.

Sim, Boum�?
- Olhe.

L�nguas de gato, h� milh�es assim em Fran�a.
N�o vai ser f�cil.

Aviso � fam�lia?
- N�o, vou eu pr�prio.

J� os conhe�o.

Sr. Berroyer?
- Sim.

Para voc�. � pessoal.

Bom dia, como vai? E o seu marido? Sim?

Encontro-me com voc� no clube.
Beijinhos. At� j�.

Que houve? Isto vai recome�ar?

N�o, Srta. Forest.
� sobre o seu padrasto.

Acaba de morrer. Foi assassinado.

Vai ser horr�vel para a minha m�e.

Quando viu o seu padrasto pela �ltima vez?
-H� uma hora, hora e meia.

Onde?
-Passou por mim de carro.

Estava com Julien Sabirnou,
em frente ao palanque da televis�o.

Ele parou e falou com voc�?
-Sim.

O que lhe disse?
-Coisas sem import�ncia.

Srta. Forest, talvez a �ltima frase.
Isso � importante.

Acho que ele n�o gostava
de me ver com Sabirnou.

-Sabirnou, o cara da TV?

E ent�o?

V� vestir-se, Sandra.
-N�o, n�o � o momento.

V� mudar de roupa.

Pensei que esse caso estava encerrado.
-Trata-se do seu marido, Sra. Forest.

Vai precisar de muita coragem, Sra. Forest.
Mas saiba que a minha mulher e eu estamos

ao seu lado nesta terr�vel prova��o.

Obrigada, � muito gentil. Mas n�o estou s�
e n�o posso falar de momento.

Ele nunca recebeu amea�as?

Amea�as? Mas de quem?
Quem poderia querer mat�-lo?

Desculpe a pergunta, Sra. Forest.
O seu marido era... muito fiel?

N�o estou compreendendo.

A senhora sabia tudo sobre ele?
- O meu marido era um homem maravilhoso, senhor.

Sim, � horr�vel. N�o, n�o est� em condi��es
de falar agora. Eu direi. At� logo.

Por favor.

Obrigada, foi muito am�vel.

Ele era mesmo um homem admir�vel?
-Era mais que um homem admirado.

Por quem?
-A vida do meu padrasto interessa-lhe tanto?

Srta. Forest, a vida privada das pessoas
faz parte da minha pr�pria vida.

V� buscar o processo Andreani,
aquele processo de drogas.

A senhorita Forest estava metida nisso.

Acha que existe liga��o entre os dois casos?
-N�o lhe pedi para pensar. Traga-me o dossi�.

Para que serve isto?
-Eu ando pelo campo. Observo insetos com isto.

Tamb�m serve para tocar fogo no mato.

J� posso ficar com voc�?
-Tenho medo que o meu marido chegue.

CASO FOREST: CARABINA CALIBRE 22

Ele n�o se mexe!

Est� morto!

Levem-no. Telefonem,
fa�am alguma coisa.

Tinha um len�o enrolado dentro do cal��o.
-E ent�o?

-Acha isso normal?

N�o, senhora, lamento, mas
Misterobject n�o est� no seu apartamento.

Pena.
-Talvez para a pr�xima vez.
O nome do senhor?

R�my.
-Ent�o, Sr. R�my?

Sr. Sabirnou, ser� que a minha mulher, com o objeto...
-N�o, com a sua mulher n�o, lamento.

Mesmo tipo de arma, mesmas les�es.

Apostei que o resultado do laborat�rio era igual.

Isto � de certeza obra de um doido.

Ent�o, segundo voc�, o assassino mata
todos os tipos casados de 40 anos com pasta.

Isto promete.

De qualquer modo, vai ser preciso
escavar fundo no passado deles.

Pol�ticas?
-Pol�ticas, sexuais, financeiras.

Que porra, por toda a cidade.
-Por toda a Fran�a, mesmo.

Logo hoje que tinha um programa para a noite.
-N�o lhe vai fazer mal um pouco de castidade.

Tem mais?
-Tenho.

E o resto?

Abra a janela.

Meus respeitos, Sr. Sub-Prefeito.

Ent�o, o que me diz?
-Bala igual, crime igual.

S� isso?
-O inqu�rito est� no come�o, Sr. Sub-Prefeito.

-E n�o est� achando nada?

-Desculpe, Sr. Sub-Prefeito.
- Caso Sandra Forest.

Obrigado. Ligue-me para casa da Sra. Forest.
Falo daqui.

O que eu vejo, Sr. Sub-Prefeito, s�o dois mortos.

Divertido.

Pol�tica, digo-lhe que � pol�tica.

Uma coisa interessante.
Forest e Pierre Berroyer n�o se conheciam.

Por outro lado, a Sra. Forest tinha um encontro
com o astr�logo na hora do crime.

Um certo Hans Kleinberg.

-Hans qu�?
-Kleinberg.

Passe o pente fino em
todas as fichas dos esquerdistas.

Parece-me obra deles.

Aterrorizar a burguesia, o caso Vassier,
depois imitar os antigos comandos.

-E por que n�o a gente do CID
enquanto voc� est� a�,

e o PC-PSU, a SRF?

Falemos s�rio, Senhor Sub-prefeito.

Eu � que lhe pe�o para falar a s�rio, Sr. Carella.

Como conheceu esse Kleinberg?
-Atrav�s do meu marido.

O seu marido interessava-se
por astrologia?

-N�o, acho que eles tinham
neg�cios juntos.

Sabia que o Forest pertenceu a uma
organiza��o paramilitar no tempo da guerra da Arg�lia?

E o Berroyer? Se eu lhe dissesse com 18 anos
j� tinha cart�o da Juventude Comunista?

E que com 22 anos foi expulso por ter
agredido o respons�vel da c�lula dele?

Que prova isso? Eu com 18 anos
tinha tend�ncias anarquistas.

N�o suportava a ordem estabelecida.

Forest e Pierre Berroyer n�o se conheciam,
mas tinham um ponto em comum

que voc� parece ignorar. � confidencial.

Estou ouvindo.

Levar dinheiro para a Su��a.

Bem, confid�ncia por confid�ncia,
vou dizer-lhe uma coisa, Sr. Sub-Prefeito.

Mais de metade da burguesia de Nice
possui conta numerada na Su��a.

Vou dar-lhe uma pista, Sr. Carella.
A t�tulo pessoal, insisto muito.

Conhe�o o atravessador de fundos.
Exerce uma profiss�o pouco ortodoxa.

Digamos que prev� a sorte
ao mesmo tempo em que trata peg�-la.

Kleinberg? O astr�logo?
-Sim.

Sossegue. A influ�ncia de Saturno � muito nefasta
no primeiro decanato do seu perfil astral,

n�o ter� nenhuma...

N�o estou sentindo muito presente.

Esque�amos Saturno, est� bem?

Conte-me antes como fazia para passar o dinheiro
dos senhores Forest e Berroyer para a Su��a.

Eu sempre tive os meus neg�cios.
A Su��a � o meu pa�s.

Prestei servi�os, s� isso.

De resto, comigo ou sem mim
o dinheiro passava sempre, n�o?

Perd�o.

Di Bozzo, o meu ajudante, o Sr.
Hans Kleinberg. Astr�logo da Su��a.

Belo lugar para levar um tiro.

Caro senhor...

Vamos andar por a�.

Aqui est� uma menina encantadora. Que sorriso!

Ent�o, menina, o Misterobject, alguma ideia?
Diga alguma coisa.

DUPLO HOMIC�DIO MISTERIOSO

Prestem aten��o.
S� vamos ocupar-nos deste caso.

Ligue-me a Paris.

N�o acha que � pol�tica?
-Talvez um ajuste de contas.

Acho que n�o, n�o h� m�fia na Fran�a.

O Carella, conhece-o, como � ele?

Conhe�o, � o melhor atirador da regi�o e foi ele
que desmantelou a rede de drogas Andreani.

E a enteada do Forest,
n�o estava metida nessa hist�ria?

Metida � um eufemismo. Dizem que foi ela
que deu as pistas todas ao Carella.

Os rifles com mira, est�o registrados a�?

Obrigado.

Sr. Carella?
- Sim.

Venha depressa.
Acho que anda algu�m no jardim.

Onde est� a sua m�e?
- No quarto dela.

Tranque as portas todas, vou j� para a�.

Que � voc�? Mostre-se!
Deixe de brincadeiras.

Quando penso que a minha m�e
o chamava um homem maravilhoso...

Nunca se sabe o que se encontra
quando se mexe na vida das pessoas.

Que est� acontecendo?

J. - 30 ANOS
Tel. 63-18-11

Al�? Quem fala?

� voc�, Jocelyne?
-Imposs�vel! Carella?

Que houve? Que loucura.

Tenho novidades. Vemo-nos amanh�?

Onde?
-Na minha casa.

Tudo bem, na sua casa.

Convida-me para almo�ar?
-Sim.

Beijos, at� amanh�.

SEGUNDO DIA

N�o me leve a mal, mas acho melhor
n�o nos virem juntos por uns tempos.

N�o levo a mal.

O meu futuro genro � Aqu�rio.
A minha filha � Touro.

Claro que a m�e do meu genro � Carneiro.
Nunca soube qual era o signo do pai.

Sabe o que eu acho? Que os seus signos
s�o muito confusos, muito complicados.

Sempre foi o que eu disse.

Tamb�m me disse que podia prever o futuro!
-N�o, isso n�o, nunca.

Socorro! Socorro!

Levem isto.

N�o posso p�r um homem em cada
esquina da cidade.

J� pedimos refor�os a Cannes
e a Marselha.

E a comiss�o rogat�ria j� seguiu
para Genebra.

Tem Paris na linha.

Comissariado Central, estou ouvindo.

Fam�lia, vizinhos, conhecidos, empregados,
amantes, camaradas da tropa,

temos que encontrar toda a gente
que conheceu Forest, Berroyer e Kleinberg.

� no passado deles que devemos
encontrar a solu��o.

E nunca mais temos homens que cheguem.

Deixe de bobagem. Dentro de 24 horas
todas as brigadas de Fran�a est�o aqui.

Jocelyne, vou almo�ar. Feche tudo.
At� logo.

Bom apetite, doutor.

Sim?

Temos que verificar.

Foi am�vel em ligar. Pensei que
estivesse tudo acabado entre n�s.

J� que n�o lhe agradava.
Fisicamente, quero dizer.

� dif�cil esquecer algu�m com quem
tentamos viver dois anos.

Obrigada.

Conheces Tony Forest?

Sacana! Foi para isso que me ligou?

Sim. Voc� o conhece?

Antes de conhec�-lo conheci muitos homens.
Entre eles, certa �poca, o Tony Forest.

Ent�o como explica que o seu nome
est� em vermelho no bloco dele?

Voc� o viu recentemente?

Muito recentemente, sim.

Por qu�?

E porque n�o?

O Tony Forest n�o lhe disse algo
que pudesse me interessar?

Sim.

Que me amava.

E Berroyer, voc� o conhecia?

Nunca dormi com ele,
se for isso que quer saber.

Mas o que est� pensando?
Que eu andava com eles?

Mas voc� os conhecia.
-E ent�o? � algum crime?

Conheci o Berroyer na Universidade.
O Tony Forest tamb�m.

Vou preparar-lhe um rem�dio.

Kleinberg, diz-lhe alguma coisa?

Vim aqui porque pensei que tivesse
mudado de ideias desde as nossas f�rias.

N�o para aturar um interrogat�rio.

Disse Kleinberg?
-Sim. Diz-lhe alguma coisa?

Conhece-o? Tamb�m esteve com
ele na universidade?

Largue-me, Carella, por favor.

H� 48 horas que procuro um motivo
para estes tr�s crimes.

Morreu?

Falando com calma: quer que lhe traga um copo?
Whisky, Martini?

Sr. Carella, posso fazer alguma coisa?

Avise � pol�cia.
Diga-lhes para cercar o quarteir�o.

Era a sua namorada?

Era.

Vinha da sua casa?
-Sim.

Sabia de alguma coisa?
-A prova.

Acho que o cara falhou na primeira.

E voc� n�o ouviu nada.
-N�o.

E durante todo esse tempo
o atirador preparou o tiro.

Durante qual tempo?
-Pronto, est� bem assim.

N�o, n�o est� nada bem assim. Juro que
se o apanho sou eu que n�o vou falhar.

Posso perguntar-lhe porque se encontrou
com a sua amiga?

Que est� fazendo?

Viu-o?

Tudo isto aconteceu mais ou menos
no mesmo quarteir�o.

Bom, vamos deix�-lo s�.

N�o, espere. Que estava
perguntando h� pouco?

Perguntei-lhe por que
se encontrou com a sua amiga.

Porque o nome dela estava no bloco do Forest.
-Qual bloco?

Um bloco onde o Forest anotava o nome de todas
as mulheres com quem dormia. E deu-lhe uma nota.

Que nota lhe deu?
-Uma nota muito alta.

� preciso verificar todos esses endere�os.

Encontrar todas as mulheres dele.

Afinal de contas, � a primeira vez que se encontra
uma liga��o entre todas as v�timas.

� preciso voltar � casa do Forest, falar com
a mulher, com a enteada, com Sandra.

Vamos trabalhar.

� grave. N�o posso explicar tudo,
mas sou o pr�ximo da lista.

Que tem a ver com esta hist�ria?

Tenho tudo a ver com esta hist�ria.

Bem, parece que ele n�o ataca gente do g�nero.
-G�nero? Qual � o meu g�nero?

Pouco verdadeiro.

Quando souber a verdade,
ver� que h� poucos mais verdadeiros que eu.

Ent�o, nesse caso porque n�o vai � pol�cia?

N�o, menina. Ou�a, deixe-me em paz.

Amanh� no palco, aqui n�o.

Ou�a, � dif�cil, mas h� uma maneira
de os por em dia sem me comprometer.

Preciso que me ajude.

Seria capaz de roubar por mim?

Roubar o qu�?

TERCEIRO DIA

"Seguran�a Nacional envia for�as
de elite em refor�o"

Um "flash" Andr� Arnaud:

A Fran�a inteira tem os olhos postos
em Nice, na sequ�ncia do 4.� crime

cometido pelo atirador louco.

Soube-se esta manh� que a 4.a v�tima,
Jocelyne Rocca,

foi morta quando sa�a da casa do
inspetor Carella.

Aparentemente acabava de depor voluntariamente
contra este misterioso assassino.

A Pol�cia ter� uma pista verdadeira?

Esperemos que sim, porque desde ontem a cidade
de Nice est� sob a psicose do assassinato.

E a Srta. Forest?
-N�o est� em casa.

Est� na universidade ensaiando uma pe�a
com um certo Palombo, um animador cultural.

Vamos l�?

� a segunda vez em 24 horas
que me falam da universidade.

Primeiro a Jocelyne, ontem.

Foi na universidade que conheceu Forest,
Berroyer e seguramente Kleinberg.

Hoje, a Sandra Forest ensaiando uma pe�a.

Interessante, n�o?

Sim, Boum�. Mantenha-se de plant�o.

Sr. Carella, posso perguntar
porque lava sempre as m�os?

Pode, pode sempre perguntar.
-Que cara chato!

N�o nos veremos nunca mais,
nunca mais.

Por que estas duas palavrinhas
trazem tanta tristeza?

N�o estou conseguindo.

N�o, repare. N�o est� correndo bem.

Diga-me, que est� havendo?
-N�o sei.

Parece tensa...

Recome�amos?
-Temos tempo, pode repetir.

Desde o come�o.

De quem � esta pe�a?
-Foi escrita por este palerma.

� um melodrama?
-N�o, � um melomerda.

Vamos l�, meninos, preparem-se.

Como � o nome dela?
-N�o tem nome, ele muda todas as vezes.

Como assim?

Este ano vai chamar-se Sandra.

A primeira vez que ele a encenou,
h� 8 ou 10 anos, chamava-se Juliette.

Juliette!

Juliette, minha querida,
n�o acha que era tempo de ir � pol�cia?

Acho que eles gostariam de ouvi-la.

Conhecia Tony Forest?

Sim, conheci Tony Forest,
mas dos outros n�o me lembro.

H� muitos jovens no meu centro cultural.

Bom dia, senhores.
Sr. Palombo, n�o precisa mais de mim?

N�o obrigado, Srta. Forest.

Ela � corajosa. Depois de tudo o que aconteceu
aceitou vir ensaiar conosco hoje.

Sr. Palombo, estamos � procura do menor ind�cio
neste caso. Se sabe alguma coisa, fale agora.

E por qu�? Por que eu?

Conhecia Jocelyne Rocca?

Sim, conheci-a aqui.

E Hans Kleinberg?

Kleinberg, h� muito tempo que n�o o vejo.

Acompanhe-me ao Comissariado Central.

Continuem o ensaio sem mim, meninos.

Tenho de ir buscar o casaco.
-Fa�a favor.

N�o esperem por mim.

E se eu a prendesse?
-Por qu�?

Por delito em local municipal, por exemplo.

Quem a mandou vir devassar este gabinete?

Ent�o, Forest?
N�o era a primeira vez que me dava um nome.

Prometi n�o dizer nada.

A algu�m que faz TV, por exemplo.

Por exemplo.

A que horas � a transmiss�o da TV?
-Ao meio-dia.

Boum�!
-Deve ser o inspetor Carella.

Sim.
-Carella.

Apanhe uma moto, n�o consegue chegar de carro
at� ao meio-dia com este tr�nsito.

Vai � Pra�a Rosseti, onde est�o fazendo um
"flash" de TV, e fa�a parar tudo.

Proteja Sabirnou. Sabe quem �?
-Sim, o cara da TV.

Proteja Sabirnou, leve um tiro por ele,
se for preciso, mas proteja-o.

N�o fa�a mais nada.

Por qu�?
-Porque ele est� na lista.

Qual lista?
-Cale-se e saia. Espere.

Diga a Di Bozzo que cerque a pra�a
e verifique todas as identidades. Corra!

Voc� est� sempre atr�s de mim.

Sabe quem matou o seu padrasto?
-N�o.

Ser� para hoje a �ltima s�rie de perguntas

antes que os acontecimentos j� conhecidos
permitam ao Misterobject retomar o seu caminho.

Lembro a todos que o Misterobject �
escuro, � redondo,

pode ser comprado numa loja e � do
g�nero masculino.

Sr. Sabirnou, o Misterobject n�o ser� o cano
do rifle com que esse louco nos vai massacrar?

Senhor, vamos falar s�rio.
Mantenha-se nas regras do jogo.

PEDIMOS DESCULPA POR ESTA INTERRUP��O

Os seus documentos.

Meus senhores, pe�o-lhes toda a aten��o.

Senhor Sub-Prefeito, Comiss�rio Principal,
Coronel, meus senhores e minhas senhoras:

Eis o programa de uma pe�a encenada pelo
Centro Cultural Universit�rio de Nice h� 8 anos.

Os quatro primeiros atores amadores,
Antoine Forest, Pierre Berroyer,

Hans Kleinberg e Jocelyne Rocca foram
assassinados por ordem de entrada em cena,

como mostra este programa.

A quinta v�tima deveria ser Julien Sabirnou.
Est� atualmente, sob nossa prote��o.

Francis Palombo, autor de Juliette, pe�a an�dina
e sem nada de psicodrama,

segundo a minha leitura,
tamb�m est� presente nas instala��es.

Estamos o interrogando.

Quanto �s outras duas personagens femininas,

Hel�ne Val�e e Juliette Vaudreil,

estamos em vias de localiz�-las.

Por que hoje, oito anos depois, o prof. Palombo
decidiu voltar a encenar a sua pe�a,

� uma quest�o para que o senhor Palombo
ainda n�o nos deu resposta satisfat�ria.

Em todo o caso, existem entre
esses oito personagens

um ou v�rios acontecimentos que fizeram
com que algu�m as tentasse eliminar.

As duas mulheres ser�o mais dif�ceis
de localizar.

� prov�vel que tenham casado
e n�o usem o nome de solteiras.

Foram emitidos mandatos de busca.

N�o subestime os caras de Paris da Suret�,
s�o muito bons.

Sempre confiei no Carella. Perd�o,
meus senhores.

J� temos quatro cad�veres nos bra�os.
N�o temos direito de cometer erros.

Carella, n�o vai fazer disto uma quest�o
pessoal por causa da Srta. Rocca?

Aonde vai?

Localizar os pais de Juliette Vaudreil.
O Di Bozzo encontrou-lhes o rastro.

Ponha em subt�tulo "Carella Afirma
O Louco N�o Voltar� a Matar".

Sim, entre aspas e continue.

Inspetor Carella?
-Sim, senhora.

Hel�ne Dumont.
- Desculpe, estou com pressa.

Hel�ne Dumont, Val�e de solteira. Hel�ne Val�e.

� a senhora Val�e ou a senhora Dumont?

Dizem que procura toda a gente
que entrou na pe�a.

- Quem?
- N�o sei.

Que fez todo este tempo, Sra. Dumont?

Estive em Saint Tropez.

E teve medo?

Sim, tive medo.

Disse ao meu marido que desconfiava
de que est�o tentando matar

todos os que representaram "Juliette".

E ele que disse?

Que eu estava completamente doida.

Como ele n�o se mexeu, vim lhe ver.

Fez bem, Sra. Dumont.

Poderia acompanha-me?
-Sim.

Dirija.

N�o acha melhor coloc�-la com os outros?

Sente-se na frente.

N�o se importa de responder �s minhas perguntas?

Ent�o, depois da sess�o o grupo todo
reuniu-se em casa do Palombo.

Sim, e bebemos bem.

Juliette estava l�?

Sim. Todas as mulheres estavam l�.

Sabe se Juliette Vaudreil casou?
O que � feito dela?

N�o fa�o ideia.

E como foi, essa reuni�o?

Muito bem. Durou toda a noite.
Palombo foi deitar-se, estava cansado.

E n�o se passou nada de especial?

Sim, fizemos amor.

Quem?

Todos.

Mas isso come�ou assim, naturalmente?
Nem sequer conversaram?

Com uma exce��o, tudo se passou muito bem,
mas nunca juntos.

Ent�o?

Ent�o come�amos a dois, depois,
tr�s, quatro, cinco, seis...

E depois disso voltaram a ver-se?

Sim, tempos depois.

Enfim, todos menos Juliette.

Na verdade, com ela nem foi muito bem.

Eles fizeram-na beber muito.
-Eles quem?

Os rapazes.

Depois a for�aram.
-For�aram ou violentaram?

Violentaram.

E voc�?
-Eu n�o, n�o fui violada.

Ent�o o que fez?

Nada. Fiquei vendo.

Hel�ne Val�e contou-me a sua orgia.

Porque n�o me falou disso?

N�o � o tipo de coisa
de que goste de falar.

H� oito anos que tento esquecer.
Isso me persegue, desgosta-me.

Voc� tinha vergonha, ent�o os eliminou.

E disse, um dia estoura o esc�ndalo,
trate de despachar as testemunhas.

Est� doido? Eu n�o matei ningu�m.
Seria incapaz. N�o sei atirar.

N�o sabe? Encontramos um Colt 45 em sua casa.
-Pe�a de cole��o.

Estava carregado, ao seu alcance,
na mesa de cabeceira.

Por qu�?
-Porque eu tinha medo.

De qu�?
-De tudo.

Quando soube que mataram Forest e Berroyer
tive medo, muito medo.

Depois, o Kleinberg. Ent�o percebi logo.

Porque n�o veio procurar-me?
-N�o me atrevi.

O medo do esc�ndalo, a minha carreira.

N�o me diga que o medo do esc�ndalo
foi maior que o de morrer.

Voc� retoma a sua pe�a oito anos depois
e chama a enteada do Forest. Por qu�?

Foi um acaso. Um acaso.

E isto � um acaso? Encontramos esta foto
em sua casa. Reconhece-a?

Sim, � Juliette Vaudreil.

E esta a Sandra Forest. N�o as acha parecidas?

Quando vi a Sandra Forest na biblioteca
fiquei transtornado.

Tinha escrito a pe�a para a Juliette.
Estava apaixonado por ela, platonicamente.

Ent�o, houve essa noite.

Tinha jurado nunca mais encenar essa pe�a,
mas quando vi Sandra foi mais forte que eu.

Senhor Palombo, tr�s perguntas.

Acha que existe rela��o entre os crimes
e a reprise da sua pe�a?

Sen�o, como explica que nada
se tivesse passado durante oito anos?

Acha Juliette Vaudreil capaz de matar?

N�o sei. O que lhe posso dizer � que ela teve
que fazer um longo tratamento psiqui�trico.

Por conselho meu, em parte.
-N�s sabemos.

Ela sofreu um grande traumatismo som�tico.

Som�tico e ps�quico. N�s sabemos tamb�m.

Juliette, minha querida, desculpe voltar ao
assunto, mas era melhor ir � Pol�cia.

Sim, corre um perigo muito grande,
acho que eles gostariam de ouvi-la.

N�o lhes posso contar.

N�o lhes vai contar nada.

Mas eles v�o proteg�-la.

Perigo? Eu nunca saio, n�o corro riscos.

Voc� sai muito pouco, mas quem sabe
se o assassino n�o � capaz de vir aqui.

Ent�o voc� protegia-me, Perry.

Perry?
-Sim, sim.

Claro que sim.

QUARTO DIA

Em Nice, toda a noite, em frente ao
Comando da Pol�cia,

jornalistas e alguns curiosos
esperaram em v�o.

Nenhum elemento novo, nenhuma informa��o
foi revelada no fim desta...

noitada de interrogat�rios dirigidos
pelo Inspetor Carella.

Mant�m-se as interroga��es.

Nada de novo?
-Nada de �til.

Mas o comissariado registra que apareceu
o corpo de um gari da limpeza p�blica...

esta madrugada junto ao porto.

Tente saber algo mais sobre isso.

Neste momento todos os mortos me interessam.

Era um pobre homem...

Os primeiros exames indicam que a morte ocorreu
na v�spera, provavelmente por estrangulamento.

Nenhum vest�gio da carabina.

N�o tem nada a ver com o nosso louco.

Os suspeitos j� est�o aqui,
agora os interroguem.

Bom dia, senhor, dormiu bem?

Ah, desculpe, Carella, n�o notei sua presen�a.

Porque teriam de assassinar o pobre homem?

Quem lhe disse que ele n�o testemunhara
alguma coisa?

� uma teoria. Mas voc� tem tr�s testemunhas
e isso � concreto.

S� me interessa o Palombo.
Nenhuma das raz�es dele convence.

Pois bem, fa�a-o falar.

Pensei que voc� conseguia fazer
qualquer um falar!

Tentem saber mais qualquer coisa
sobre esse trabalhador.

Gostaria de falar com o Inspetor Carella.

O meu nome n�o lhe diz nada.

Chamo-me Perry Rupert-Foot. Sou cidad�o brit�nico,
marido de Juliette Vaudreil.

Queria que protegesse a minha mulher.

Sim, � isso. N�o, � preciso vir busc�-la.

� no antigo Hotel Regina, Parque Simiet,
apartamento 296, escada T.

Inspetor, s� mais uma coisa:
� preciso ser muito delicado com a minha mulher.

Ela � muito fr�gil.

Minha mulher estar� aqui dentro de instantes.

Posso lavar as m�os?
-Sim. Ali.

Posso ver?
-Pois n�o.

Conto com voc�.

N�o se preocupe, Sr. Ruppert-Foot.
Vamos trat�-la com toda a delicadeza.

Pare a�, Boum�.

H� quanto tempo
n�o faz amor com o seu marido?

Ali�s, nunca fez amor com o seu marido.

Mas ele a ama. Ent�o, quis vingar-se.

Quis lavar a cara, a sujeira,
e p�s-se a eliminar cada um deles.

Com ou sem o seu consentimento.

Por que est� a par de qualquer coisa, n�o �?

Voc� desconfiava de alguma coisa.

Estou falando a verdade, Sra. Ruppert-Foot?

Estou pr�ximo da verdade, Sra. Ruppert-Foot?

N�o posso ficar mais aqui!

Guarde isto para que eu n�o tenha
de passar pelo escrit�rio.

Ent�o, n�o mudou de ideia?

Para voc� este caso foi um sucesso,
mas para mim um desastre.

Houve muito sangue.

Carella, olhe aqui, o que n�s encontramos
no carrinho do varredor.

O marido da Juliette matou mesmo o varredor,
voc� tinha raz�o.

Ent�o, isso n�o lhe faz querer ficar conosco?

Adeus, senhor.

Legendas de JOHNNY PROENZ (Pt.Pt.)

Adapta��o para o portugu�s brasileiro, adi��o,
corre��o e sincroniza��o total: PARENTE- BRASIL