All language subtitles for Monsieur Max et la Rumeur.2014_PT

EM PARTE INCERTA

- Ol�, pessoal.
- Ol�, Max.

S�o 18 euros, Sr. Vigier.

Adeus.

Adeus.

Ele teve quase um ataque card�aco.

� para ti, Max, n�o � para ele.

Eu sei.

Preciso de me despachar,
A Jeannette est� � minha espera.

E quero ver o Godard antes.

Tudo o que ela faz por mim � t�o bom,
n�o quero chegar sem nada.

Quando voltas?

N�o te preocupes, chego para
fazer o jantar antes do jogo.

- A que horas �?
- �s 21h. Como o teu ensaio de teatro.

N�o, est� muito quente.

At� logo � noite.

- Queres que vista um soutien?
- N�o.

Bolas, ela � uma brasa.

Ela excita-te mas n�o te d� troco.

Como sabes, j� tentaste?

Sim. Levei duas bofetadas.

Aconteceu porque foste tu.
N�o tenho certeza se ela d� a todos.

Estou quase pronta.
Vais ficar com calor.

N�o tem mal. Quero
ensaiar com ele.

Jeannette. � lindo. Adoro.

Uau, � longo, vou ter
que me acostumar.

Era como se vestiam.

Ao menos, assim, as
pessoas n�o falam.

N�o me importo com o
que as pessoas dizem.

O Max importasse?

O Max? Ainda se importa menos do que eu.
E sabes porqu�?

Porque confia em mim e sabe
que isso n�o me interessa mais.

N�o est�s interessada em homens?

Estou, sempre gostei muito deles.

Mas agora estou com o Max.
E temos um acordo.

Que acordo?

N�s os dois desistimos de algo.

Quando o conheci ele bebia muito.

E parou por mim.

E tu?

Acabei de dizer.
N�o tenho interesse em homens.

Outros homens. � lindo, n�o �?

N�o parece um vestido de princesa?

- Tu �s uma princesa.
- Sim.

Olhem para aqui. Apenas para os olhos.

V�o-se espantar.
Prestem aten��o.

Ent�o?

Essa � boa.

Eu diria que n�o �.

Do que falas?

N�o v�s nada com esses �culos
enormes.

Sim, foi um bom lan�amento.

P�ra, n�o gozes com um cego.
Vou medir.

N�o � por nada, mas ele tem raz�o,
n�o foi bom.

Nunca confies nas apar�ncias.

"�s o que eu mais amo neste mundo.

Esqueci o meu dever por tua
causa, fiz tudo por ti,

e tudo o que pe�o em troca..."

Cara, vamos parar um segundo.

N�o est� bem.

N�o, as unhas n�o ajudam.

As minhas unhas?

Dona Elvira... a usar verniz verde?

N�o � verde, � turquesa.

Parecem verdes e n�o
s�o muito 'Moli�re'.

E o verde d� azar ao teatro.

A s�rio?

Sabes porqu�?

Porque na �poca de Moli�re,
segura isso, por favor...

Na �poca de Moli�re, os corantes verdes,

usados para trajes de teatro
continham ars�nio.

E assim, muitos actores morreram
envenenados por usarem roupas verdes.

Por isso foi banido do teatro.

Desde ent�o,
dizemos que d� azar.

N�o uso mais se te faz feliz.

Sim fazia. E n�o � s� isso.

Vamos esclarecer duas coisas.

O tom que est�s a usar para a
'Elvira' � um pouco s�bio demais.

- S�bio?
- Sim, ela realmente amava Don Juan.

Mesmo que no momento ela
decidisse voltar ao convento,

ainda � animada pela
mesma chama por ele.

E talvez at� mais
violentamente porque...

porque era proibido.

Ent�o ela acaricia o olhar,
sempre com a mesma paix�o contida,

a mesma intensidade.

Bem.

V�, se ficares de p�, ajuda.

Vamos tentar.

Usa o diafragma. Respira.
Est� melhor?

Caro. Caro.

Queres boleia?

N�o, prefiro andar.

- N�o v�s o que chove?
- � agrad�vel, est� t�o quentinha.

E se eu insistir?

N�o, prefiro n�o o fazer.

Porqu�? N�o queres?

Sim, mas n�o.

Porqu�?

Nunca tra� o Max e n�o
vou come�ar hoje.

Se te sentes assim, talvez
j� o estejas a trair.

Jean-Christophe o que est�s a fazer?

J� vou, minha querida. J� vou.

N�o est�s a dormir?

Perspicaz.

Estou a fumar, os meus
olhos est�o abertos.

Tens raz�o, n�o estou a dormir.

Bebeste?

Muito perspicaz...

Sei que prometi mas, isto � um veneno.

N�o bebi tudo...

Bebi isto, as outras
est�o a fazer companhia,

para n�o a deixarem sozinha.
Como eu me sinto.

Max, nunca te disse que
n�o podias vir comigo.

Tu preferes ver TV.
Como correu o jogo?

E o teu?

Deve ter sido apertado porque,
dada a hora, houve prorroga��o.

Esperei que a tempestade passasse.

A chuva parou h� muito tempo.

Sim, fomos tomar um copo
com o Jean Michel, o director.

E depois convers�mos.

A Moli�re, n�o � muito
f�cil, � complicado...

Que se lixe a tua Moli�re e
que se lixe o teu teatro.

Entendo, falamos amanh�.

N�o, vamos falar agora.
Vamos falar agora.

Agora, est�s a ouvir?

Agora.

Larga-me. N�o tenho direito
de viver como toda a gente?

Sim, claro.

Todos se vestem assim para
andar por a� at� � 1h da manh�.

- Andar por a�? � teatro.
- Uma palavra grande. Teatro.

Max. Pela primeira vez tenho
algo que gosto de fazer,

deixa-me.

N�o te preocupes, sei de onde
venho, sei que estou em d�vida.

Nunca te deixarei.

Mas n�o me voltes a bater.
Prometeste que n�o bebias mais.

E est�s a desistir por nada.

- Por nada?
- Por pouco, de qualquer forma.

Por pouco. Por pouco?
Apenas um pouco de lama?

Lama?

Sim, lama.

Do caminho que vai da f�brica
abandonada ao Calv�rio.

N�o entendo o que dizes.

N�o entendes?

N�o entendes?

Limpaste o vestido, Caro,

mas esqueceste-te de limpar
os sapatos.

Quando sa�ste para te sentar no capo.

Do que est�s a falar?

Eu estava l�. Vi tudo.

Tudo.

� terr�vel, sabes.

Deveria ter partido.

Deveria ter desaparecido, mas fiquei.

Como uma crian�a que espreita
pela fechadura.

Porque me fizeste isto, Caro?

Porque me fizeste isto, Caro?
Eu confiei em ti.

Juro que foi a primeira vez.

N�o acredito em ti.

Sentias tanta falta assim?
Com quantos j� foste?

10, 20, 30, 40, a vila inteira?

P�ra, p�ra. H� coisas
que nunca mais aceitarei.

E sabes porqu�?

Se me bateres, nunca mais me v�s.

Se fugires com ele n�o
te verei mais.

N�o vou fugir com ele, foi s�...

Foi s� o qu�? Foi s� o qu�?

Desculpe interromper,
procuro o meu gato. Viu-o?

N�o, desculpe, Sra. Clemence.

Desculpe insistir, boa noite, mas
tenho a certeza que est� no canto.

Procurei na vila toda...

�s vezes temos as coisas debaixo
do nariz e n�o vemos.

Sra. Clemence, n�o � boa hora.

Pode ter descido do meu apartamento
a seguir o cheiro da carne.

Carne fresca � sempre
agrad�vel.

N�o perca o seu tempo.

Se o encontrar,
eu levo-lhe.

Obrigado, menina Caroline, mas s�
quero verificar se ele n�o est�.

O que se passa?

- Espere, espere.
- Com licen�a.

- Sente-se.
- N�o � nada.

Acontece-me de vez em quando.
Mist�rio?

Vou buscar a��car e �gua.

E al�m disso, interrompi o seu ensaio.

Que ensaio?

Pensei que estavam a ensaiar
uma discuss�o.

Mas parece que se amam.

Por isso pensei que n�o
podia ser verdade.

Conclu� que era para
o seu teatro, n�o era?

Sim, tem raz�o, fiz a Caroline
repetir as falas.

O papel de Don Juan combina
muito bem consigo.

V� l�, Sra. Clemence, n�o.
N�o sou Don Juan.

Foi como ele disse, estive a repetir
as minhas falas, Sra. Clemence.

Sou um talhante.

O teatro � coisa dela.

Os v�cios da moda. N�o � isso.
Bolas, n�o � isso.

A hipocrisia � um v�cio da moda

e os v�cios da moda
passam por virtude.

A hipocrisia � um v�cio da moda, e
todos esses v�cios passam por virtude.

Deu futebol na TV esta noite.

Sim, deu.

N�o sabia, mas como n�o vi
nenhum homem na rua, pensei:

"Est� a dar futebol."

Andei at� � encruzilhada do Calv�rio,
sabe, atr�s da antiga f�brica.

E n�o vi ningu�m. Apenas um par
de amantes, num carro, � natural.

E viu quem eram esses amantes?

Que desastrada. Percebi que
tenho lama em todo o lado.

Deveria ter limpado os p�s antes
de entrar, desculpe. Esta lama.

Do caminho atr�s da
f�brica, agarra-se aos sapatos.

E a menina Caroline tamb�m pisou.

D�-me uma esponja, vou
limpar imediatamente. Estou confusa.

N�o se incomode, eu fa�o isso.
Est� cansada, v� para casa.

� muito gentil, Sr. Max.

N�o, sou normal.

N�o, n�o � normal.

Quando digo que � gentil,
n�o � por causa de hoje.

Em geral, aceita coisas
que ningu�m aceitaria.

Todos sabemos
disso e aproveitamos.

Toda agente sabe o qu�?

Por exemplo...

A menina Caroline faz coisas
e voc� olha para o outro lado.

O qu�? Que coisas?

Vamos l�.

Na caixa.

Quando algu�m n�o pode pagar,

quatro fatias de
presunto, s� cobra duas.

� generoso da sua parte, muito gentil,
mas alguns aproveitam-se.

Veja. � o Mist�rio.

Ali est� ele. Mist�rio. Est� a ver?

N�o incomodo mais tempo.

Tem a certeza que est� bem?

Sim, sinto-me muito
melhor agora, obrigada.

Estava t�o preocupada contigo.

� uma loucura o amor que podemos
ter por esses pequenos animais.

- Tem algum animal de estima��o?
- N�o.

N�o precisa,
tem um homem para amar.

Adeus e obrigada. E que homem.

Desculpe.

Onde vais?

Apanhar ar fresco.

N�o, a Sandrine vai ficar com o papel,
ela vai aprender rapidamente.

Jean-Michel, n�o
me fa�as isso.

N�o v�s? Ele n�o te vai deixar.

Ele ainda est� a�?

N�o sei.

Sim.

N�o saiu do carro.

S� n�s os tr�s sabemos disso.

E posso convenc�-lo a confiar
em mim outra vez.

E se fizermos novamente?

J� fizemos duas vezes.
A primeira e a �ltima.

Ent�o, foi s� sexo?

Sim.

- Paix�o, ao menos?
- N�o.

Apenas sexo quente.

Desculpa.

Quero mais do que isto.

Ouviste? Quero mais.

Promete-me que n�o o ver�s novamente.

P�ra.

Olha, cometi um erro, eu sei isso.
Mas n�o o volto a ver.

Mas n�o quero deixar o teatro.
Se me for�ares a isso, vou-me embora.

Cuidado, Caro.
Sou capaz de qualquer coisa.

Qualquer coisa... Suic�dio?

N�o, isso n�o.

Matas-me, � isso? Matas-me?

� o que est�s a dizer? Est� bem,
estrangula-me, vamos?

- P�ra.
- Continua. N�o consegues.

Caro. Caro.

Vamos, mata-me, vamos acabar com isto.

- Olha, tens muitas aqui.
- Larga isso. Solta.

- Vamos.
- Pousa isso.

Eu avisei. N�o me ver�s mais.

Fica. Fica.

Isso � interessante.

� interessante, Mist�rio.

O que achas disso?

Mist�rio?

Tome...

A Caroline n�o est�?

N�o, n�o est� hoje.

- E amanh� vai estar?
- Com certeza.

Ela est� doente?

- Do que precisa, Jeannette?
- As costelas de porco que pedi.

- Ol�, Jeannette.
- Ol�.

Guardei-as.

Ouvi-o gritar ontem � noite.

Oh...

Toda a gente sabe...
Posso falar com a Caro?

Ela partiu.

Para onde?

N�o sei.

Venha jantar esta noite.
O Jerome vai gostar e vai fazer-lhe bem.

Depois vejo.

Adicione um para si.

Voc� � muito gentil.

- Ol�, Max.
- Ol�, presidente.

O que aconteceu?

N�o � nada, eu depois conto.

Parece que chegaram?

Chegaram, vai ficar contente,
est� tudo fresco.

Temos que ir at� a cave.

Jeannette, fica de olho aqui.
Se algu�m vier, avisa-me.

Venha, venha.

Equipamento real, com an�ncios,
como os profissionais.

Sim, mas espere, olhe, uma caixa
e outra caixa, cortesia de Max.

- Por conta da casa.
- � um cavalheiro.

- Tem o carro l� em cima?
- Est� estacionado em frente.

Eu levo esta e voc�
leva a outra, vamos.

- O que est�s a fazer, vem?
- Sim, sim... Estou a ir.

Vamos.

E aqui levanto o papel�o.

E vejo uma camisola ou uma
camisa de noite com sangue.

E ele tinha sangue nas m�os?

N�o disse isso,

disse que tinha um
curativo nos dedos.

Disse que se cortou
enquanto trabalhava.

N�o conte isto a ningu�m.

Prometo.

Cortou os dedos?

E uma camisa coberta de sangue.
� muito insens�vel, n�o �?

Desculpe, venho j�.

Foi r�pido.

Acha? Ela brinca com
ele h� muito tempo.

N�o, falava sobre a tinta.

Precisamos de esperar para ver.

A tinta n�o aparece imediatamente?

N�o, falava do talhante.

Um dedo cortado? Inacredit�vel.

Um dedo cortado?

Sim, e sangue por todo lado.

Ele cortou a m�o com o cutelo. Juro.

Parece que a matou com um cutelo.

Com uma faca.

Com um cutelo.

N�o acredito. N�o � poss�vel.

O que fazes? Jogas ou falas?

Est� bem, n�o te zangues.
Eu ligo de volta.

Tens que escolher na vida,
vamos, joga.

Est� tudo bem.

N�o � lindo?

� lindo, sim.

N�o vai ser lindo muito tempo.

O que fazes, Max, est�s doido?

- O qu�?
- N�o jogas a �ltima bola.

Porqu�?

Nunca jogamos a �ltima bola.

- � um problema?
- Sim, � um problema.

- � um problema.
- Sim.

Eu, quando tenho um problema...

livro-me dele.

E como fazes isso?

Depois de discutirmos,
ela foi para a cave.

E eu fui ao congelador,
bater nas carca�as.

Eu conhe�o-me, sabes, se
n�o tivesse feito isso,

tinha feito algo idiota.

E falaste com ela desde ent�o?

N�o. Quando voltei para cima,
faltava uma mala, ela tinha ido embora.

N�o fazes ideia de onde possa estar?

N�o sei, juro que n�o sei.

Ela pode ter ido com ele.

Se est� com ele, pode l� ficar.

N�o sejas idiota, Max.
Sei que gostas dela.

E somos amigos, sei que
ela se importa contigo,

apesar do que as pessoas dizem.

Estou-me a lixar.

O que quero � que ela volte.

Ela vai voltar.
Tenho a certeza.

Sim.

Desculpa, n�o �s tu,
s�o as mulheres.

Mulheres, mulheres,
n�o se pode generalizar.

E tem cuidado com o que dizes,

porque temos duas agora.

- Sim. E nem fumar posso.
- N�o.

Pe�o perd�o, senhoras.

Prefiro quando sorris.

Eu tamb�m.

Boa noite.

Ele sabe que ela n�o voltar�.

Vais ter que te acostumar
� cesta, sabes.

Mais salm�o?

O que se passa, j� n�o
gostas de carne?

Para ir buscar carne,
tem que andar 15 km.

Porqu�? O Max est� em greve?

- N�o, mas...
- Digamos que evitamos l� ir.

- Porqu�?
- N�o quero falar disso.

Ent�o n�o fales.

N�o, porque, a esposa
dele h� 15 dias que desapareceu.

Ela cansou-se dele?

� mais s�rio do que isso.

N�o se vai embora assim sem
raz�o, sem deixar vest�gios.

N�o � normal.

Sem deixar vest�gios?
Havia sangue na cave.

Eu n�o sabia.

No dia anterior de ela partir,
ouviram barulhos no talho.

E ouviu esses barulhos?

N�o, mas disseram-me.

- S�o ru�dos.
- Sim, ru�dos.

Tem a certeza que quer salm�o?
N�o prefere pescadinha?

Porqu� pescadinha?

Porque todos dizem que voc�
prefere pescadinha. Todos.

Depressa. Est� pronto.

O que � isto?

Cabelo?

Cabelo.

P�ra de comer isso.

- Est� tudo bem, n�o engoli.
- P�ra.

Eu disse, o que disseram.

Nojento.

Senhores, chefe.

- Importa-se que coloque um cartaz?
- Para quando?

� em tr�s semanas. Domingo �s 14h30.

Obrigado.

Porque n�o me serve um
caf� enquanto colo o cartaz?

O que viste exactamente?

N�o vi nada, mas sei o que ouvi.

Hei, malta, n�o
volto l� at� ela voltar.

- Se ela voltar, sim.
- P�ra.

Porqu�? H� 15 dias que
ela desapareceu, n�o h� d�vidas.

O que acha?

Concordo. Ela nunca mais volta.

Mas tinha que acontecer, todos
sab�amos que ele ia enlouquecer.

� normal, quando algu�m
se disfar�a de "bemba".

� bimba.

Tenho a certeza que se
a minha filha fosse assim,

n�o a matava porque
n�o tenho as ferramentas,

mas encontraria uma solu��o.
- Ela era esposa, n�o filha.

Sim, mas poderia ser.

Est�o a ouvir o que dizem?

N�o sabem nada, n�o viram nada,

e julgam baseados em
qu�? Em rumores.

Os vilarejos s�o assim.

Se n�o gostas da vila, vai embora.

N�o far� diferen�a.

- N�o?
- N�o.

- N�o far� diferen�a?
- N�o.

Quem lutou para manter
a escola aberta?

Para que houvesse
aulas nocturnas,

e serv�ssemos comida
local no refeit�rio,

em vez de lixo industrial.

N�o foi preciso esfor�o para
entrares na casa do talhante.

Esse tipo de comportamento
atrai drama.

Quando julgamos r�pido demais.

Mas houve alguns que foram
mais r�pidos que n�s.

� bom ver a pol�cia vir em
socorro do pequeno com�rcio.

Onde est� o pol�cia?

Foi o teu amigo que veio.

Se vires um pol�cia, diz-lhe para agir.
J� viste isso?

Todos furados, n�o sou pol�cia,
mas parece um ataque.

Sim.

Pode-se fazer queixa
contra desconhecidos?

Tem muita piada, desconhecidos.

Est�o todos contra mim,
vais prender a vila inteira?

Podemos ao menos tomar uma bebida?

- Nem pensar.
- Porqu�?

Espera, �s amigo deles ou �s meu amigo?

Sou teu amigo, obviamente.

Ent�o n�o vamos l�,
vamos para minha casa.

E n�o � por a�, � por aqui.

Vamos. Olha esta barbaridade. Merda.

Vamos, pessoal. Viram isso?

Vamos arrasar com isto,
s�o lindos, certo?

Ficava com os antigos se fosse tu.

Achas?

� verdade que se ele a matou,
vai ser mau.

Sim, precisamos de
outro patrocinador.

Sabem de uma coisa?
Est�o a deixar-me deprimido.

Vou fumar no teu bar.

� proibido. N�mero 7, cart�o vermelho.
Onde vais?

N�o sei onde ela est�, Jerome.
Juro, n�o sei onde ela est�.

Se queres a minha opini�o, seria
apropriado saberes.

Apropriado? Com dois "P"?

N�o escrevas errado nas anota��es.

Porque vieste? Para me interrogar?

N�o, estou aqui como amigo.

Sen�o, estava a usar uniforme.

Quando comemos galinha, n�o tem
penas, mas � na mesma uma galinha.

Muito engra�ado.
N�o vim aqui pelas tuas piadas.

Bolas. Fiquei sem cigarros.

Est�s a ouvir-me, Max?

- Sim, mas fiquei sem cigarros.
- Por favor.

Est� bem, estou a ouvir.

N�o posso simplesmente
ignorar isto.

Discutiste com a Caroline,
ouviram barulhos, ela desapareceu...

Encontraram um cabelo dela
numa torta que fizeste.

Olha atrav�s dos olhos deles.

N�o consigo ver atrav�s dos olhos
deles, gosto dos meus.

Sei que n�o fiz nada.
E eles n�o t�m a certeza.

Eu sei, acredito em ti.

Mas, por favor, fala comigo.

- Queres que fale?
- Sim.

Est� bem, pergunta.

Porque � que h� uma po�a de sangue
na cave, o que � isso?

- Est� bem. Por isso � que vieste.
- N�o.

- A po�a de sangue na cave.
- N�o.

- Vamos ver agora. Sim.
- N�o.

Vamos ver agora,
larga o copo.

Um pol�cia n�o deve
beber no servi�o. Vamos.

- Vai procurar.
- Est� tudo bem, Max, p�ra.

Eu espero, faz o teu trabalho, procura.

Descobriste algo?

O que est� ali?

Tens raz�o, Jerome.

Tem ali algo que n�o
deveria ser permitido.

O que est�s a fazer, Max?

Vou abrir.

N�o a tua cabe�a, a caixa.

Livros. Romances. N�o � aceit�vel.

Um talhante que l� n�o se encaixa
nesses preconceitos idiotas.

Vou-te poupar tempo, olha.

Aqui est� a po�a de sangue.

� a blusa dela.

Quando lhe bati, o l�bio
sangrou muito.

O que te deixou t�o zangado?

Enlouqueci, sabes?

Coisas que acontecem quando
somos um casal.

N�o.

N�o sabes.

Como te explico?

E se dissermos � tua esposa o que
me contaste na v�spera de Ano Novo,

n�o achas que ela ia perder a cabe�a?

Eu estava b�bado.

Estavas b�bado quando me contaste
ou quando dormiste com um gajo?

Ambas. Foi s� uma vez,
para experimentar, merda.

E o teu carro, estacionado
perto da lagoa onde todos

os gays se re�nem, foi para
tentar outra vez?

Para confirmar, certo?

Sabes que prefiro mulheres.

Mas n�o te julgo.

S� te estou a fazer entender.

E se eu contasse � tua esposa,
n�o achas que ela ia perder a cabe�a?

Tinhas coragem, Max?

Achas que sou nojento
como aqueles canalhas?

N�o me podes comparar a eles.

- Confias em mim, espero.
- Sim.

- Confias em mim?
- Sim, Max.

Ent�o, se confias em mim, tamb�m tens
que confiar em mim sobre o resto.

Juro, n�o sei onde ela est�.

N�o sei.

Est� bem.

Vou buscar
cigarros, estou farto disto.

Mas podes continuar a busca.

Tu n�o �s um bom pol�cia,

Eu teria procurado de baixo
dos livros.

- �s irritante.
- Eu sei.

O que fazes aqui?

Nada, estava � tua procura.

N�o estou no congelador. O que quer?

Nada. Sim. Carne picada
para o meu gato.

Mas posso voltar em outra hora.

N�o, pelo contr�rio,
� a minha �nica cliente.

Mas ter� que esperar,
preciso de comprar cigarros.

O Jerome faz-lhe companhia.

Ele tem muitas perguntas para si.

N�o, n�o.

Beba no terra�o enquanto espera.

N�o � uma m� ideia.

Dois desses.

Sabes onde ela est�?

E tu?

N�o.

Juro que n�o.

Sabes, tens o direito
de me dar um soco.

Sim, tenho o direito de
te partir a cara.

Mas isso n�o a far� voltar, certo?

Queria dizer-lhe. N�o
concordo com esses idiotas.

Isso bebe-se com �gua.

De qualquer forma odeio
'gritar com os lobos'.

Gritam t�o alto que sinceramente
quero que a menina Caroline volte.

Mesmo se... enfim.

Mesmo se...?

Ou�a, Jerome, n�o estou no seu lugar.

Mas se estivesse, dava uma
vista de olhos no lago.

Onde as pessoas malucas se encontram,
� noite. Conhece o lugar?

Sim. Acho que sim.

Claro, vejo-o
l� com frequ�ncia.

E � bom que v�, fazer o seu trabalho
como pol�cia, isso � bom.

A prop�sito, compreendo que os
pare, s�o pervertidos.

- � contra a natureza.
- Sim, claro.

- Claro o qu�?
- O qu�?

Porque disse claro?

Porque me est� a falar
sobre o lago?

Acha que encontraremos o corpo
da Caroline l�?

N�o disse isso.

Ou�a, uma vez por semana, muito cedo
de manh�, vou at� � quinta Giraud.

E posso ter visto algo por l�.

O que viu?

N�o quero falar mais.

Mas escute o meu conselho,
v� l� procurar.

Acima de tudo, n�o conte a ningu�m que
lhe contei. N�o quero problemas.

Merda.

O que aconteceu?
Andaste � porrada?

Poderia ter andado, mas n�o foi isso.
Atiraram-me uma pedra.

- N�o vi quem foi.
- Malucos.

Queres que v� chamar o m�dico?

Talvez tenha sido ele que
me atirou a pedra.

N�o exageres.

Sou eu quem exagera? N�o est�s a ver?

Sim. Tens raz�o.
Basta, vou tratar disso.

� isso. E se os encontrares, n�o
toques neles, � contagiante.

C�us, eu vou com ele.

N�o, espere, vou-lhe dar
a carne, n�o se preocupe.

Voc� tem que limpar isto.

N�o � nada, a cabe�a sangra
muito, n�o � nada.

Uma pedra na cabe�a?
N�o vimos nada.

- Viram algo?
- N�o.

Mas n�o foi por acaso.

N�o � por acaso. Ele tem sorte de
ter um pol�cia como namorado,

ou j� estaria na cadeia.

N�o � meu namorado, � um amigo.
Se isso ainda significa algo para voc�s.

E n�o �s tu que decide quem
deve ir para a cadeia. � a lei.

A lei vai tomar algo ou...?

N�o vim apenas pelo meu gato,
Sr. Max, tamb�m vim por si.

E ainda quer a carne?

Sim, mas tenho algo
importante para lhe dizer.

Importante?

Pode falar.

Dias depois de a Caroline desaparecer,
fui buscar ovos � quinta Giraud.

Era cedo e vi-o do
outro lado da lagoa.

Eu?

Sim.

N�o � poss�vel.
A essa hora estou a dormir.

Era voc�, juro.

Conhe�o a sua silhueta muito bem,
� muito percept�vel para mim.

- A s�rio?
- Sim.

Sim. E voc� deitou
algo na lagoa.

Foi o momento perfeito, os doidos

tinham ido embora e quem caminha
n�o tinha chegado.

E livrei-me do qu�?

N�o importa. Mas acabei de dizer
ao Jerome que fosse l� procurar.

N�o disse o que vi.

E claro que n�o disse que era voc�.

� bom que n�o, porque n�o era eu.

Era voc�.

Enfim.

Se ele encontrar algo comprometedor,
como facas ou um cutelo,

posso mudar o meu testemunho.

Vai-me denunciar.

N�o, claro que n�o.
Voc� � inocente, pelo contr�rio.

Se acharem a arma do crime,
como fui eu quem deu a informa��o,

se testemunhar que n�o era voc�,
tirava o peso, certo?

E porque faria isso?

Porque...

Porque me importo consigo, Sr. Max.
N�o imagina o quanto.

Estou a sonhar ou acabou de
declarar o seu amor por mim?

Talvez.

Lamento desapont�-la, mas voc� n�o �
o meu g�nero. De modo nenhum.

Sou velha demais?

N�o � isso. Voc� � peculiar.

Peculiar?

Na verdade, � um perigo p�blico,
Sra. Clemence.

N�o se v� voc� a chegar,
engana a sua presa e depois ataca.

N�o sei a qual animal venenoso
a posso comparar.

A uma medusa, � isso. Uma medusa.

Para a eterna rom�ntica que sou,
comparar-me

a esse lindo animal em
forma de guarda-chuva,

� muito lisonjeiro.

Eu n�o teria dito isso,
teria dito uma sanguessuga.

Quando o prende, n�o larga.

N�o me est� a prender,
Sra. Clemence.

N�o me est� a prender.

Porque antes de tudo,
n�o matei a Caroline,

e naquela manh�, junto da lagoa,

n�o era eu.

- Tome.
- Espere.

N�o. � um presente.

O meu sil�ncio vale muito mais que isso.

Acha que me assusta?

Talvez n�o seja uma medusa,
� uma velha coruja.

Acho que voc� matou a Caroline.

E sabe, isso j� n�o me
incomoda mais do que

mulheres que dormem com todos.
Verdadeiras vadias.

- Saia do meu talho.
- N�o acabei.

N�o a vou deixar falar
da Caroline assim. Saia.

O homem violento revela-se.

O sangue n�o � bom para si, Sr. Max.

- Saia.
- Um boato � terr�vel.

Come�a como uma fa�sca e
destr�i tudo no seu caminho.

N�o percebe isso, pois n�o?

A vila est� toda contra si.

Est�o soltos. N�o quero que o magoem,
importo-me consigo.

J� sou grandinho para
me defender.

S� o quero ajudar.

Queria compartilhar o seu segredo.

O nosso segredo.

V�, v�.

Pe�o desculpa por a ter empurrado.

N�o importa.

Pelo contr�rio.

Foi a primeira vez que me abra�ou.

- Ent�o, duas bebidas.
- Obrigado.

Menina. Posso
oferecer outra coisa?

Um copo, dois copos, tr�s copos.

Fa�o o que quero, sou o dono.

E eu sou a dona.
S�o cinco euros, cada um.

Anda comigo, por favor.

Engana-me se quiseres, mas
n�o � frente de todos.

N�o � isso, � neg�cio.

A s�rio? O neg�cio?

O que � isso?

Pergunte ao seu marido se a esposa
do talhante lhe deu um estalo.

Quando chegou isso?

Esta manh�. O que significa?

N�o � nada, � um disparate.

O que � isso?

- N�o sei.
- Ela desapareceu.

� grave.

Se fizeste alguma coisa,
tens que me dizer.

- N�o, n�o fiz.
- O que � isto?

Uma noite, ela ia para casa,
fiz uma piada, j� me conheces.

Ela n�o gostou, s� isso.

- Fizeste alguma coisa idiota?
- N�o, n�o.

Gostava de saber quem foi o
canalha que enviou esta carta.

Atrasados outra vez. Sempre o mesmo.
Depressa.

- Ol�, Sra. Clemence.
- Ol�, director.

Est� bem? N�o sente falta disto?

J� me conhece. Trinta anos de escola
prim�ria, j� tive a minha dose.

Mas parece que a minha substituta
� muito competente.

Sim, tem raz�o.

Moderna demais, mas
as crian�as gostam dela.

Quem n�o gostaria.

Pensa o mesmo que eu?

N�o sei o que voc� pensa.

A esposa do talhante, Max.

Voc� � vizinha dele,
talvez saiba.

Bem, bom dia, director.

N�o, mas s� queria dizer...

Tenha um bom dia.

Vais sair?

Sim, tenho algo
importante para fazer.

O qu�?

� trabalho de pol�cia, sabes,
n�o posso dizer.

Jerome, fala comigo.
Existe outra mulher?

P�ra, meu amor, isso � rid�culo.

Se houver outra mulher,
prefiro que me digas.

Juro pelo beb�.

N�o existe outra mulher.

Bonito fogo de artif�cio.

Devemos chamar os bombeiros?

Ele devia ligar.

N�o, merda.

Mostrem-se.

Saiam da gaiola, seus ratos.

Canalhas.

O que v�o fazer agora?

Queimar-me a loja?
� isso? Queimar-me a mim?

Estou � vossa espera.

Idiotas.

Est�o escondidos?

Est�o escondidos, canalhas.

N�o fiz nada.

N�o fiz nada.

N�o sei onde ela est�.

N�o v�em que sinto a falta dela?

N�o v�em que estou a sofrer?

N�o v�em que estou a sofrer?

� f�cil julgar.

Enfrentem-me.

Enfrentem-me.

Se n�o t�m pena, ao
menos tenham coragem.

N�o fiz nada.

N�o fiz nada.

N�o fiz nada. Nada.

Senhora, tem uma unha no bife dele.

N�o � nada. Coma.

Tinha uma unha no bife dele.

Comam.

Olha o que eles encontraram.

- Uma unha.
- Verde.

Verde.

O que faz?

Protege-o ou qu�?

Porque � seu amigo, � por isso?

Estamos a fazer o nosso trabalho.

Eles encontraram unhas.

Crian�as de sete anos. N�o percebe?
� doido.

Existe um assassino na vila
e ningu�m faz nada.

Do que est� � espera?

Uma prova real.

O meu saco de desporto?

Sim. Reconheci imediatamente.

E tinha ferramentas de
talhante, uma serra, um cutelo.

O que me tens a dizer?

Obrigado.

Como? Obrigado?

Obrigado por o encontrares,
pensei que o tinha perdido.

O que queres dizer?

Na minha opini�o, significa que

quem me quer incriminar
veio enfiar o nariz aqui.

E tamb�m acho que foram eles
que te mandaram l�.

Ningu�m disse nada.

Desculpa, Jerome, mas
n�o acredito em ti.

Enfim, o que isso prova?

Nada por enquanto,
v�o analisar o ADN

nas ferramentas, para ver se
h� tra�os do ADN da Caroline.

Mas vai levar tempo.

Porque vieste ent�o?

Porque as pessoas l�
fora n�o esperam.

E qual � o plano?

N�o te preocupes, j� tenho tudo planeado.

Vais sair pelas traseiras,
e vou levar-te ao juiz.

Vais ficar detido.

Mas sou inocente.

Sim, mas ao menos estar�s
protegido destes idiotas.

- Senhores, o que desejam?
- Quer um caf�?

Sim. Dois.

Se quiserem ficar, ter�o que
pedir mais do que isso.

Os locais para o espect�culo s�o caros.

Ent�o, uns past�is.

- Pode ser.
- �ptimo.

E h� outra coisa, Max.

O que � agora?

Um brinco na salsicha,
pestanas posti�as no presunto?

N�o. Ao investigar o desaparecimento

da Caroline, em Paris,
perceberam que...

O qu�?

Investig�mos a vida dela,
descobrimos...

Antes de me conhecer,
era uma prostituta, � isso?

Achas que eu n�o sabia?

Achas que ela voltou a isso

e eu fiquei doido e
cortei-a em peda�os?

E essa a tua dedu��o
de pol�cia da treta?

Meu pobre Jerome.

Vou-te contar uma hist�ria, Jerome.

Uma boa hist�ria.

- Mas antes vou buscar um caf� para ti.
- N�o vim por isso.

Eu sei.

Por exemplo,
quando Mesrine ficou

encurralado por Broussard,
eles beberam champanhe.

Eu, sou um matador amador,
por isso � caf�.

Mas como dizem, � o gesto que conta.

H� dois anos, era talhante
numa vila em Sologne.

Eu sei.

Ao lado da vila havia um castelo.
Isso n�o sabes.

O dono era o padre Serrant.

Um velho nojento

que passou a vida entre
pol�tica, ca�a, pesca,

e as suas meninas.

Prostitutas que trazia de Paris todos os
fins de semana para os amigos da ca�a.

O dia era para ca�ar e
a noite para pinar.

Bem jogado.

Na �poca, entregava carne
a essas senhoras.

Sabes que n�o tenho muitos amigos.

O meu melhor amigo era o u�sque.

Precisava de companhia.

Ent�o comecei a sair
com elas.

Elas adoptaram-me.

Eu fazia-as rir.

Depois a Caro chegou.

Bolas, ela era linda.

Est�s bem, meu amor?

Conhecem-ma, meninas? Este � o Max.

Ol�.

Ela tornou-se a minha favorita.

E tornei-me seu confidente.

� tarde, quando os outros estavam
a ca�ar, ela levou-me para o quarto.

E convers�mos porque ela
precisava de conversar.

E eu sabia ouvir.

Rimos e depois ela chorou tamb�m.

Por causa do proxeneta.

Um idiota, gajo bonito, como um
deus, que morava em Paris.

Ela era louca por ele.

Mas ele abusava dela,
for�ava-a a trabalhar.

N�o sei o que fazer.

Um dia ela cansou-se e
pediu-me que a ajudasse.

O que fizeste? Compraste-a?

N�o, isso � nos livros.

Lembro-me que o padre Serrant
morreu num s�bado � noite.

Foi uma grande mulher, que fez
o velho cora��o dele falhar.

E no dia seguinte, ajudei-a a levar
as meninas para a esta��o de comboio.

Vamos, meninas.

Vamos, Caro, vamos atrasar-nos.
Vamos, Marion.

Vamos.

O que est�s a fazer?

Vais ficar aqui?

N�o, aqui n�o.

Mas contigo, sim.

Comigo?

N�o posso ir, Max.

N�o quero voltar para Paris.

Leva-me e eu dou-te tudo.

Tudo? O que significa isso?

- Tudo.
- Espera.

Olha para mim. Sou um pouco
velho para ti, n�o sou?

�s doida pelo outro gajo.
N�o podes viver sem ele.

N�s podemos viver sem nada.
Pior ainda.

- Ouve, ouve.
- Max.

Ent�o escondi-a em
casa por dois dias,

e depois de uma semana
deixei tudo, o talho, tudo,

e vim morar para aqui. � isso.

Recome��mos a partir do zero.

Sem bebida para mim e
sem gajos para ela.

At� � outra noite.

Leve esse canalha.

J� devia ter feito isso.
N�o os podemos segurar mais.

Est� bem, acalme-os.

Os abutres est�o impacientes?

At� h� jornalistas
vindos de Marselha.

Maravilhoso.
Max Legrand, uma super estrela.

Eles querem um espect�culo,

e ter�o um.

O que est�s a fazer? P�ra.

N�o se preocupe. N�o � para eles.

� para mim.

Vai dar um bom t�tulo nos jornais.

Assediado pela vila,
detido pela pol�cia

o assassino p�e fim � sua vida.

N�o sejas idiota. Sei que n�o
a mataste. Sei que �s inocente.

- O que disseste?
- Sei que �s inocente, Max.

Tamb�m sei que sou inocente.

E logo todos saber�o que sou inocente.

Mas isso n�o � importante.
O importante �s tu.

Como amigo, tens a certeza
absoluta que sou inocente?

Isso � importante.

Olha para mim. Olha.

E n�o me mintas, porque eu sei.

Realmente pensas que eu matei a Caroline?

Jerome, juro que a Caroline est� viva.

Tenho provas.

Ela est� atr�s de ti. No terra�o.

Obrigado, meu amigo.

Era o que queria saber.

Claro, n�o est� l� ningu�m.

Mas queria saber se
tinhas d�vidas. E tens.

E o acusado deve receber
o benef�cio da d�vida.

Vamos.

Est� bem, mas vamos pelas traseiras.

N�o. Vou pela porta da frente.

- E saio sozinho.
- Mas porqu�?

Para enfrentar esses desgra�ados.

Para lhes mostrar que n�o me assustam.

Est�s doido.
N�o te posso deixar fazer isso.

N�o, n�o podes
mas vais deixar.

- Porque �s meu amigo.
- Deixa-me proteger a �rea.

Vou proteger a �rea.

Est� tudo bem, ele vai sair,
vamos proteg�-lo.

Est� tudo bem. Calma.

Ele matou-a.

Assassino. Desgra�ado.

Fico feliz por rev�-la, Caroline.

Eu tamb�m.

Tudo est� bem quando acaba bem.

N�o acabou. Apenas come�ou.

Como assim?

Sim, para encontrar

o homem que fez de tudo para
eu parecer um assassino.

Bem, o homem ou a mulher.

O que querem tomar?

Dois caf�s?

Dois caf�s, sem problema.
Oferta da casa.

- Que gentil.
- Sim, que gentil.

J� volto.

Que gentil.

E naquela noite sa�ste a p�?

Eu n�o pensei. Arrumei uma mala
enquanto ele dava socos numa carca�a.

E depois fui caminhar
em direc��o � estrada.

Ela estava em Paris. Na casa de
Marion, uma das meninas do castelo.

E sabias disso desde o in�cio?

N�o, ela ligou-me dois dias depois.

Ela queria voltar mas eu
n�o estava pronto.

Ele disse que precisava
de tempo para pensar.

E tu, pensaste?

� verdade que o Max � gentil.

Sim, � um bom homem.

Se soubesses que ele me salvou
do inferno, h� dois anos.

Eu sei. O Max contou tudo ao Jerome.

A s�rio?

N�o muda nada, amo-te � mesma.

Deve ter sido dif�cil.

Estou bem. N�o fui for�ada,
era dinheiro f�cil.

E no come�o foi escolha minha.

Depois, ele fez de tudo para
me impedir de sair.

Porque n�o me contaste?

Porque queria saber
at� onde eles iriam.

E quando incendiaram
o meu carro, os desgra�ados,

fiquei a pensar no que estava a acontecer.

Pedi � Caroline para voltar e
disse para se esconder at� esta manh�.

Porque queria, realmente queria,

dar uma bofetada na cara da vila.

Apanharam e bem, a bofetada.

- Deves estar feliz?
- Sim, estou feliz.

Mas n�o completamente.

Porque gostava de conhecer o
canalha que me incriminou.

E essa pessoa, no dia
em que a apanhar...

O que vais fazer?

Deves ter uma ideia.

Tenho uma grande ideia.

E tu vais-me ajudar.

Gostaria que fizesse uma
pergunta, n�o oficial.

A� vem a perna.

Quem corta?

Vamos deixar o profissional fazer
isso. O profissional sou eu.

Aten��o.

A menos que haja pelo na perna.

Volta para a tua cama.

O jogo ainda n�o est� perdido.

Eles n�o sair�o da vila.

N�o, Jeannette, n�o vamos sair.

N�o vamos sair porque
amamos esta vila.

E o que constru�mos aqui, n�o temos
raz�o para abandonar. � a nossa casa.

N�o vai ser f�cil, pombinhos.

N�o vai ser t�o dif�cil quanto isso.

Um passo de cada vez.

Passa-me o papel.

Quero imprimir isto e colocar
em todas as paredes da vila, olha.

Aos habitantes de Saint-Josse.

O boato humilhou-nos
de um modo abomin�vel.

N�o h� nada pior para um inocente
do que ser acusado de matar

aquela que mais ama.

Esse � o pior castigo.

Mas n�o respondemos
� puni��o da mesma forma, a punir.

� por isso que, Caroline
e eu, vos perdoamos.

Pedimos apenas uma coisa:

que a vida retome ao normal,
porque amamos esta vila.

Mas pode servir de
li��o para o futuro.

Pensem cuidadosamente antes de
condenar algu�m sem provas.

Assinado Max e Caroline.

Sinto muito pelo que
te fizeram.

Eu � que te pe�o desculpa.

N�o. A culpa � minha.

Quero que esque�as tudo
e comeces do zero.

- Acha que � poss�vel?
- Sim.

E o outro fulano?

Prometo-te que nunca mais
chego perto dele.

- O teatro n�o sentir� a tua falta?
- N�o.

J� n�o quero fazer com�dia.

Tu, sim, mas ele.

Vais-lhe dizer que acabou?

Sabes, acho que ele entendeu.

Sim, mas gostaria que as
coisas ficassem claras.

N�o sei. Talvez lhe possas escrever
uma carta.

Posso ditar para ti,

repeti mil vezes na minha cabe�a.

E posso mandar entregar.

O que achas?

Como quiseres.

Desde que confies em mim outra vez.

Sabe, minha Caro,

h� uma coisa que sempre me perguntaste,

achei estranho, por isso
sempre disse que n�o, mas...

Hoje estamos a come�ar do zero,

e digo porque n�o?

- Porque n�o?
- Obrigada.

10,50�, Louise.

- O grande dia est� a chegar?
- Sim.

Agrade�o novamente o convite.

N�o tem de qu�, � uma boa cliente.

Nem todos merecem.

N�o importa, � passado.

O que importa � que nesse
dia todos est�o felizes.

� Marion.

Desculpe.

Entregue de Paris pelas
minhas pr�prias m�os.

Podes esperar?
Ainda estou a trabalhar.

N�o, podes ir, n�o te preocupes.

Obrigada.

N�o podes ver.
Se vires antes, d� azar.

Eu sei.

N�o sou supersticioso.
Tu �s?

N�o.

Ainda bem. 10 salsichas e
tr�s bifes, isso d� 13.

Est�s linda. Pareces uma princesa.

N�o, pare�o uma noiva.

N�o est�s a fazer isso pela heran�a.

N�o, n�o � por isso.

Ent�o, porqu�?

Ser algu�m, estar tranquila.

Falas como uma velha.

Sim, Marion, �
o que quero agora.

Quanto � diferen�a de idade, veremos.

Ele podia ser teu pai.

Sim. Bem, ele tamb�m �.

E n�o te incomoda?

N�o achas que se tivesses um como ele,

podia ter feito menos asneiras...

Desculpa. Vai muita gente?

Convid�mos a vila toda.

�s generosa.

N�o, � um presente para n�s.

- Ol�, Sra. Clemence.
- Jerome.

Gostava de lhe fazer
algumas perguntas.

Aqui?

� mais discreto que
na esquadra, certo?

Fiz algo errado?

O que acha?

N�o sei.

A pessoa que atirou o saco na lagoa,
exactamente onde me enviou.

Voc� sabe quem �.

Sim.

- Ent�o diga-me.
- N�o.

Porqu�?

Toda a gente tem os seus segredos.

Acha que s�o todos bons para dizer?

Entendo. Boa tarde, Sra. Clemence.

Jerome?

Tamb�m sei quem incendiou o carro.

Mas tamb�m n�o o vou dizer.

� a minha vez.

� a minha vez.

Ou�am, queria agradecer a todos.

Em particular ao Jerome, meu
amigo, minha testemunha.

E � Marion, testemunha de Caroline,

que cuida bem dela quando vai a Paris.

E obrigado a todos. Espero que tudo
esteja do vosso agrado.

Ent�o, h� alguns que est�o
surpresos, certamente,

porque h� uma diferen�a de idades.

Sim, sim.

N�o o incomodou.

E � por isso que preparei uma frase.
N�o continuarei por muito tempo.

Apenas por Caroline.
Espero n�o estragar tudo.

Caroline, n�o tenho certeza
se me amar�s a vida toda.

Mas tenho certeza que te amarei
toda a minha vida.

Ao amor. Ao amor.

Viva a noiva e o noivo.

Bebe vinho?

Sil�ncio. Apenas em festas.

Descobriste alguma coisa?

Na verdade, n�o.

Mas quem fez isso est� aqui.

A velha?

Provavelmente. Mas ela � t�o
perversa que deve se ter escondido bem.

Mesmo que ela fizesse tudo para
ser considerada culpada.

Ent�o, e eles?

Ele � muito burro. Nunca
teria feito isso sozinho.

Podem ter sido v�rias pessoas.

Ele n�o � idiota.

E depois, podes ter sido tu.

Sim. Est�s a brincar?

Sim, estou.

Claro que estou a brincar.

Estou a brincar.

Quem � aquele fulano?

Aquele ali?

� o novo director. Veio substituir
Jean Michel, transferiram-no.

Nossa.

Sim, comporta-te.

- Queres dan�ar?
- Mas n�o posso.

� uma m�sica calma, n�o te preocupes.

Tu nunca dan�as.

N�o gosto.

Ela adora.

� bom porque a felicidade
dela � a minha felicidade.

Al�m disso, tu fazes-lhe bem.

Devias vir mais vezes.

Eu? No campo? Sou uma mulher da cidade.

Ela pode ir a Paris.

- N�o ias ficar aborrecido?
- De modo nenhum.

A prop�sito, em 15 dias, tenho
uma competi��o em N�mes.

Ela ficava melhor em tua casa
do que aqui aborrecida.

E confias em n�s?

N�o, em ti n�o.

Mas nela, agora, confio.

Olha como ela � linda.

Voc� parece feliz.

Estou sempre feliz com a felicidade
dos outros. Surpreendida?

Est�s ai, procurei-te
por todo o lado.

Estava a ver onde tinhas ido.

Qual � o problema? N�o est�s bem?

A Jeannette sabe de tudo, os homens,
as minhas hist�rias, tudo.

Merda.

N�o. Ela sabia tudo desde o come�o,

diz que n�o muda
nada, que ainda me ama.

� incr�vel. Est�s a ver, o
amor � cheio de surpresas.

Ei, ele � meu agora..

Desculpa.

O que foi?

Explico mais tarde.

Venha.

- Foi um dia lindo, n�o foi?
- Sim. O mais lindo da minha vida.

- Foi?
- Sim.

Realmente tinha tudo.

Olha, uma estrela cadente.

Pediste um desejo?

Sim.

Vencer a competi��o em N�mes, aposto.

N�o digas o meu desejo,
ou n�o se realizar�.

S� v�s quando � conveniente.

Se tivesse feito isso h� dois
dias em N�mes, ter�amos vencido.

H� dias de sorte e dias sem ela.

E depois dos profissionais,
os amadores.

Max, depressa.

N�o me chateies. N�o termin�mos.

Vamos chegar tarde ao est�dio.

Certo. Jojo, joga por mim.

Vamos, adeus.

- At� amanh�.
- Viva o Olympique.

Sim, � isso, viva o Olympique.

- Ol�.
- Vamos.

S�bado �s 15h, in�cio em
Marselha, futebol, OM-PSG.

Vamos.

Vamos beber. Vamos.

J� bebemos em Marselha.

Espere, 3-0 contra o
PSG, n�o � todo o dia.

Vamos acordar a Caroline.

N�o te preocupes,
coloquei tudo no talho.

- Isso � arriscado.
- Como assim?

Lembro que 40% dos acidentes
devem-se a pessoas que bebem.

Significa que 60% s�o devidos
a quem n�o bebe.

N�o nos importamos com
eles aqui.

Tu �s uma m� influ�ncia.

Sim, � poss�vel.

E n�o arrisco nada porque tenho
um pol�cia no meu carro.

Vamos.

N�o � lindo? SuperMax,
o rei do progn�stico.

Tinha a certeza de que vencer�amos.
Vou buscar o champanhe.

E a festa continua.

Mas n�o por muito tempo.

Tens algu�m � espera na lagoa?

P�ra, bolas.
A Jeannette est� � minha espera.

O resto acabou, nunca mais.

Nunca digas nunca.

- Ei.
- Sim?

Est� um bilhete na mesa. Tem o teu nome.

� da Caroline.

Desde que voltou, deixamos notas de
amor, como quando t�nhamos 16 anos.

Devias tentar com a tua esposa,
d� impulso ao relacionamento.

Eu n�o saberia o que escrever.

Podes copiar o que a Caroline
escreve e entregas � Jeannette.

N�o, isso � privado, n�o faria isso.

P�ra, faz enquanto corto duas
fatias de lingui�a, dou-te permiss�o.

Bolas, viste aquele golo. O passe.

Magn�fico.

Diz-me Max, est�s
bem com a Caroline?

Ela falou nisso.

Ontem � noite, mas n�o foi alto.

Sobre o qu�?

A Marion ligou-me ontem e a Caro
esqueceu-se de me dizer,

uma coisa quando esteve em Paris
na semana passada.

O qu�?

Sabes, o chulo, aquele
que abusou dela.

Ela viu-o por acaso.

E depois?

Depois nada. Nem sequer a perturbou.

A prova � que ela nem me contou.

Acho que foi por isso que escreveu
o bilhete, n�o estou preocupado.

N�o � uma carta de amor, Max.

O qu�? N�o � uma carta de amor?

N�o � uma carta de amor, desculpa.

Pelo contr�rio.

Como assim pelo contr�rio?

Que disparate est�s a dizer?

Caro? Caro?

- Bolas.
- O qu�?

Merda. Tinha um cofre aqui.

Eram dois anos de economias,
eles lixaram-me.

Eles prepararam isto.

Quem s�o eles?

Aquela vadia e o chulo.

De quem est�s a falar?

J� te contei da Caroline e do chulo.
Disse-te que se viram.

Porque � que a deixei ir l�.

Isto � retalia��o.

Do que falas, Max?

N�o v�s que ele voltou por ela?

Olha, ele n�o fez a
viagem para nada.

N�o � poss�vel.

Sim, � poss�vel.

N�o sabes como esses desgra�ados
s�o fortes.

Naquela �poca, ele fazia
dela o que queria.

Mas na outra noite, no casamento,
ela parecia t�o feliz.

Sim, ela estava feliz, sim.

Est�s a ver a minha cara?

Olha para a minha cara.

Se visses a dele, verias que n�o
posso lutar com ele. N�o posso.

- Vou emitir uma ordem de busca.
- N�o, � in�til.

Ele n�o a sequestrou.

Lembrei-me, l� em cima.

Ainda tenho dinheiro num cantil.
N�o saias dai. J� venho. Vou ver.

Perdi o meu gato outra vez.

Jerome, boa noite. O Sr. Max n�o est�?

Sim, mas n�o � um bom momento.

H� algum problema?

Acho que desta vez Caroline
partiu para sempre.

E roubou-lhe o cofre.

Mas quem � o tipo de Paris?
O homem da vida dela?

� uma longa hist�ria para
explicar, d�-me isso.

Espere, n�o terminei.

N�o te amo, nunca amei. � duro.

No entanto.

Dito isso, n�o estou surpresa.

Eu n�o escuto atrav�s das portas.

Est� bem, ent�o.

N�o. Mas ontem � noite,
eles falaram muito alto.

N�o sobrou nada. Levaram tudo, tudo.

O que faz aqui?

Vim procurar o Mist�rio.

E leu a minha carta?
N�o tem vergonha? V� embora.

- V� embora ou mato-a.
- Calma, a culpa � minha.

N�o fique chateado, j� vou. Mas se
precisar de mim, estou � disposi��o.

Sei que � um momento dif�cil.

Jerome, diz-lhe para sair
ou vai ser uma trag�dia. Saia.

Estou a sair, estou a sair.

� verdade que quando vi
a Sra. Caroline sair

com a bagagem dela,
suspeitei de algo.

Mas falamos sobre
isso mais tarde.

Sra. Clemence, espere.

Viu a Caroline sair?

Sim, no in�cio da noite. Ela entrou
num carro, n�o muito longe daqui.

O cavalheiro ajudou-a a carregar as
malas e partiram rapidamente.

Viu quem era esse cavalheiro?

N�o posso dizer, nunca o vi antes.

Mas era um carro de Paris.

De Paris.

N�o incomodo mais. Adeus.

N�o, n�o, fique.

Temos que falar, certo?

Tem raz�o.

Nestes casos, � melhor estar com

algu�m que realmente
o possa compreender.

N�o, mas eu tamb�m posso compreender.

N�o, deixa, Jerome. Agora...

E a Jeannette est� � tua espera.

Ligo-te, n�o te preocupes.

Prometes?

Sim. Prometo.

Sirva-me um pouco de champanhe.

Voc� n�o pode ter visto a
Caroline partir.

Porque mentiu?

Responderei � sua pergunta
quando responder � minha.

Quando a matou?

Quando a matou?

Responda.

Pode imaginar que, se menti,
foi para ajudar.

Percebi tudo. Tudo.

Quando a matou?

Na noite passada.

Quando percebeu?

Na noite em que ela voltou.

Na verdade, n�o percebi,
apenas antecipei.

Quando vi a vila inteira,
humilhada,

pensei que se ela
desaparecesse uma segunda vez,

ningu�m o poderia acusar de nada.

Enfim, � �ptimo, o boato.

Porque quando bate
uma vez, n�o bate duas.

Foi o que percebi e que voc� percebeu
tamb�m, mas antes de mim.

� isso, � o nosso segredo.

Vai-me denunciar?

Claro que n�o.

Mas quero algo em troca.

E acho que a contrapartida sou eu.

Sim. Obviamente.

Mas n�o se preocupe, n�o
� a tempo inteiro.

Tenho que tratar do meu gato.

Temos muito tempo para acertar
os termos do nosso contrato.

Porque � um contrato.

Sirva-me um pouco de champanhe.

N�o tem medo que a elimine tamb�m?

N�o.

Seria demasiado.

E voc� n�o me ama.

Bem, ainda n�o.

N�o t�o loucamente quanto a amou.

E na verdade, acho que
voc� ama-se muito.

O que realmente amava era que ela
lhe pertencia. N�o �?

N�o sei.

Como disse, percebi tudo.

N�o s� isso, usou esse boato
para garantir a sua impunidade,

mas tamb�m
alimentou esse boato.

- Alimentei?
- Sim.

Al�m disso, gostaria de ouvir
alguns detalhes que me escaparam.

- Tem a certeza?
- Absoluta.

Tem raz�o.

N�o queria que ela
pertencesse a outro homem.

Na noite em que ela voltou
do teatro, fui violento.

Muito violento.

De repente, tive
um momento de lucidez.

Decidi que n�o ia
estragar a minha vida por isso.

N�o vou para a cadeia no
final da vida.

Ent�o...

Naquela hora soube que
a iria matar um dia.

Outra hora, sem riscos.

E sabia que a iria matar,
sabia disso.

Foi assim que fez a
�nica arma do crime

que n�o deixa vest�gios, o boato.

E entendeu que quanto mais crescia,

mais o faria parecer inocente depois.

Foi voc� quem colocou
o cabelo na torta.

Sim.

E o resto tamb�m.
Unhas na carne.

E depois o saco,
que atirei � lagoa

porque sabia que me
estava a observar.

At� escrevi assassino no meu carro.

E no final o fogo.

E tudo o resto
tornou-se na minha garantia

absoluta de impunidade,
como voc� diz.

Porque amanh�, quando disser
que ela foi embora.

N�o acredito que nenhum desses
canalhas possa ter a menor suspeita,

a menor d�vida, n�o acha?

� uma boa moral.

Sim, bem, moral talvez
n�o seja a melhor palavra.

Talvez seja. � isso, sabe tudo.

Quase.

Quase? O que falta?

A carta de separa��o.

N�o entendo como a fez escrever.

Imitou a caligrafia dela?

Na verdade, ela escreveu a carta.

Ditei-lha, mas tinha
a ideia na cabe�a.

Tive que a levar ao director, mas...

Guardei porque era
absolutamente necess�rio

que Jerome a lesse naquela noite.

Sabe, esta carta, se � para o director,

quando ela fala do homem
da sua vida, sou eu.

Mas para o meu prop�sito quando ela
fala sobre o homem da sua vida,

esse homem � o chulo. E � nisso
que Jerome tinha que acreditar.

N�o te amo, nunca te amei de verdade.

Na minha estadia em Paris,

entendi quem realmente era
o homem da minha vida.

N�o tentes entrar em contacto
comigo. Adeus.

� magn�fico.

Posso guardar como lembran�a?

N�o posso recusar, posso?

Bem, a mim n�o.

Mas n�o se preocupe, conseguir�.

E pode ter uma surpresa agrad�vel.

Uma vez por semana, parece
um bom ritmo, certo?

S�bado � noite, de prefer�ncia.

� um pouco tradicional, mas
sou antiquada.

Ou domingo � noite.
N�o trabalhas segunda.

Posso fazer duas perguntas?

� um al�vio matar quem
ama porque o traiu?

E a outra pergunta?

Vais fazer tortas desta vez?

N�o.

N�o, escondi o corpo dela onde

acho que ningu�m vai
pensar em procurar.

Num po�o? N�o?

Nas profundezas da floresta.

N�o, muito mais simples.

Ent�o � aqui?

Sim.

Alguma raz�o em particular?

N�o, calhou.

Um pouco longe da estrada
por causa do barulho.

N�o foi f�cil levantar a laje, abrir
o caix�o, colocar o corpo dentro,

e deixar tudo igual para
ningu�m notar.

Francamente, quem a viria
procurar aqui?

� lindo, � um trabalho de artista.

J� te amava, agora tamb�m te admiro.

Ao menos evitaremos o pior.

O pior?

N�o teremos filhos. Odeio crian�as.

Eu adoro. Tenho uma filha,
ou melhor, tive.

- N�o est� mais connosco?
- Sim.

Est� viva, mas est� longe.

A m�e morreu quando ela tinha
tr�s anos, criei-a sozinho,

e aos 17 anos, o pr�ncipe encantado,
lindo como um deus, roubou-a de mim.

Ent�o percebe, Sra. Clemence.
Uma vez, n�o duas.

Percebo Max, percebo.

A que horas no s�bado?

Na sexta seguinte,

a Sra. Clemence foi encontrada
afogada na lagoa,

devido a uma infeliz queda.

Ripadas por:
RicardoB/2021