All language subtitles for Crack.Cocaine.Corruption.and.Conspiracy.2021.WEBRip.x264-ION10_24_PtBR

N�o importava se voc�
era uma pessoa boa...

ou se cuidava bem dos seus filhos.

Nada disso importava mais.

A gente nem percebe,
pois est� sempre doid�o.

Eu perdi tudo.

� uma hist�ria que precisa
ser contada.

Isto � crack.

Acha que � a droga da moda dos anos 80?

H� provas em toda parte
de muito dinheiro e tr�fico violento.

As reportagens corroboravam todos
os estere�tipos e a narrativa superficial.

Esta beb� nasceu viciada em coca�na.

Agora chegaram � idade escolar.

CRACK & NEGROS

Uma gera��o inteira condenada.

N�o s�o s� gangues de crian�as.

S�o super predadores.

As drogas eram culpadas
por todas as condi��es

que a sociedade tinha permitido
que surgissem e n�o queria confrontar.

N�o podemos tolerar
o uso e a venda de drogas.

Acreditem em mim,
este flagelo vai acabar.

Ainda hoje, estamos recolhendo os detritos
dos anos 1980.

Por qu�?

Porque as respostas n�o foram feitas
para ajudar quem precisava.

Diga n�o.

N�o faz nenhuma diferen�a.

Se entregavam o pacote eles mesmos

ou se desviavam o olhar
quando algu�m entregava,

s�o culpados do mesmo jeito.

A era do crack mudou
tudo na comunidade negra

e acabou mudando tudo nos EUA.

CONVEN��O NACIONAL REPUBLICANA

Reconhecendo profundamente
a responsabilidade

dada mediante sua confian�a...

Eu aceito a indica��o
� presid�ncia dos Estados Unidos.

Reagan chega com a promessa
de riqueza para todos...

de melhorar a vida de todos,
principalmente brancos desencantados.

Juntos, vamos criar um novo come�o.

E seu jeito de fazer isso foi

estimulando o livre com�rcio
para tirar as pessoas da pobreza.

Para aqueles sem oportunidades de emprego,
teremos mais est�mulos,

principalmente nas regi�es urbanas
mais pobres onde moram.

Para os que abandonaram a esperan�a,

recuperaremos a esperan�a e travaremos
uma grande cruzada nacional

para tornar os EUA grandes de novo.

JUNTOS... UM NOVO COME�O

Nos anos 1980, come�amos a ver
o dinheiro entrar.

Sempre penso em
Wall Street: Poder e cobi�a

e em Gordon Gekko, do Michael Douglas.

Gan�ncia, na falta
de um termo melhor, � bom.

CAP�TULO 1
GAN�NCIA � BOM

� o come�o da volta � cidade.

H� uma sensa��o de otimismo.

As boates est�o cheias de novo.

Era uma vida de celebra��o,

e coca�na fazia parte daquilo.

A primeira vez que cheirei coca�na...

Eu senti que...

"Meu Deus!

De onde saiu isso?"

Era uma droga glamorosa,
as pessoas dan�avam usando.

�s vezes, ficava acordado
por at� tr�s noites.

S� tomava �gua e seguia em frente.

Era aceito.

Era aceito no mundo do jazz
e no mundo do pop.

Era a droga social da elite.

Muita gente na ind�stria usa.

Tem muita press�o,
e ganham muito dinheiro com isso.

-J� experimentou?
-Algumas vezes.

Eu amo coca�na.

Eu s� queria terminar
a faculdade e ganhar dinheiro

para viver aquela vida.

O filme Scarface tornou
a coca�na muito popular.

N�s peg�vamos notas de 100 nas boates

e tent�vamos imitar Scarface.

Era algo muito glamoroso,

pois era coisa de quem tinha grana.

Na �poca, coca�na era um luxo.

Quem cheirava p� era quem dirigia Mercedes

ou BMWs.

N�o era...
Aquela droga em particular, coca�na em p�,

n�o era acess�vel
para os negros das regi�es mais pobres

pois era caro demais.

N�o pod�amos pagar.

Com Reagan, h� o aumento
da riqueza de poucos

�s custas de muitos.

O governo Reagan tira

meio milh�o de pessoas
dos programas sociais.

um milh�o do aux�lio alimentar,

2,6 milh�es de crian�as americanas
da merenda escolar.

H� milh�es de pessoas caindo
na pobreza extrema.

A fila se estendia
por tr�s lados da quadra.

no escrit�rio de empregos do estado
esta manh�.

Quase oito milh�es e meio de americanos
est�o desempregados.

Em 1982, temos uma das maiores taxas
de desemprego da hist�ria dos EUA.

E o desemprego nas comunidades negras
� sempre o dobro das comunidades brancas.

Ent�o as pessoas ficam furiosas.

Vidro quebrado em toda parte

Mijando nas escadas
Eles nem se importam

N�o aguento o cheiro
N�o aguento o barulho

N�o tenho dinheiro para sair
N�o h� escolha

Grandmaster Flash e Melle Mel
mostraram uma imagem clara

do que enfrent�vamos
nas regi�es mais pobres.

�s vezes, � como uma selva

Eu fico pensando
Como vou evitar me dar mal

�s vezes, � como uma selva

Eu fico pensando
Como vou evitar me dar mal

Eu cresci em um bairro muito empobrecido.

A fam�lia m�dia
dependia de aux�lio alimentar.

N�o havia dinheiro para pagar por comida.

Os selos de comida eram nosso dinheiro.
Marrom, roxo e...

Parecia um pa�s de terceiro mundo,

se precis�ssemos gastar
dinheiro com comida.

N�o t�nhamos dinheiro,

ent�o, muitas vezes, est�vamos
sozinhos, crian�as.

�amos at� a loja da esquina para roubar.

Ou �amos ao mercado para ganhar dinheiro
levando as compras das pessoas.

�s vezes, lev�vamos as compras de algu�m

e fug�amos com as compras.

Era como sobreviv�amos.

�s vezes, eu tinha
que usar a cal�a da minha irm�,

Tem uma foto cl�ssica
da minha quinta s�rie.

Eu sentado, de pernas cruzadas,
na frente, com os garotos.

Todos com as m�os no colo,

e as minhas cobrindo os sapatos,
pois eles estavam furados.

�s vezes, fic�vamos sem luz ou g�s.

Tinha baratas e ratos na nossa casa.

Era bem ruim.

Acho que n�o entendemos bem
o trauma da pobreza.

E acho que qualquer m�todo
que pudermos empregar

para fugirmos da pobreza
e da opress�o, empregaremos.

Entre 1982 e 1984,

h� um aumento de 50%
na coca�na que entra nos EUA.

Os agentes sabem que a coca�na chegou
� Filad�lfia, e, de l�, a Nova York.

Toneladas chegaram pelo sul da Fl�rida.

H� muita droga entrando no pa�s.

H� mais coca�na dispon�vel hoje
do que em qualquer per�odo da hist�ria.

H� 63 toneladas de coca�na
entrando nos EUA.

As consequ�ncias
desse enorme influxo de coca�na

� uma queda no pre�o da droga.

Apesar dos nossos grandes esfor�os,

a coca�na ilegal entra no nosso pa�s
em n�veis alarmantes,

e de quatro a cinco milh�es de pessoas
fazem uso regular.

Um charuto cubano n�o entra nos EUA.

Um charutinho que seja.

Mas n�o conseguem impedir
que toneladas de coca�na entrem?

Era algo muito maior
que o problema nas ruas.

E o segmento especial desta noite fala
sobre a entrada de drogas pela fronteira.

E os EUA usaram muito poucos recursos
para se protegerem.

Vinha pela Am�rica Central, pelas Bahamas,

e por diversas rotas e transportes,

como avi�o, navio, etc.,
ent�o vinha de todas as dire��es.

E todos estavam envolvidos.

Ent�o estoura uma not�cia
que afetaria o pa�s inteiro.

Param�dicos do corpo de bombeiros

encontraram o escritor e comediante
Richard Pryor vagando perdido.

com a parte superior do corpo queimada.

pr�ximo � sua casa
em Los Angeles noite passada.

Chegou a not�cia de que
Richard Pryor se queimou com o cachimbo.

Ele havia usado base livre,
uma combina��o de coca�na e �ter.

E quando ele acendeu, pode ser em cigarro,
n�o sabemos,

o �ter explodiu, fazendo
suas roupas pegarem fogo.

Voc�s riram muito da minha cara.

"O qu�?"
"Richard Pryor correndo pela rua."

Eu n�o sabia o que era base livre.

E Richard Pryor se queimando com aquilo,

chamou muito a aten��o de muita gente

de que havia
outro jeito de consumir coca�na.

Coca�na � uma mol�cula.

Chama-se "hidrocloreto de coca�na".

E a parte do hidrocloreto � um sal.

E n�o d� para fumar
com o hidrocloreto,

ent�o � preciso tirar o sal.

Para termos a base livre,
� s� retirar o sal,

e a base fica livre.

Por isso "base livre".

A base fica livre e d� para fumar.

Crack � a mesma coisa.

A maioria, quando comprava p�,
preparava sozinho.

Quase como um cientista.

Sabe, � preciso muita...

mistura e...

medi��o.

O que eu descobri � que...

as pessoas preferiam
n�o fazer tudo aquilo.

Eles preferiam j� comprar a pedra.

E chamavam de "crack".

CAP�TULO 2
CHAMAM ISSO DE CRACK

O vapor de coca�na inalado pelo cachimbo
de vidro vai direto para o c�rebro.

� mais eficiente,

a droga entra direto
na corrente sangu�nea,

e, como os pulm�es
carregam muito sangue,

ent�o os efeitos s�o imediatos.

Em 5 a 15 segundos,
o usu�rio de crack fica chapado.

Eu posso levantar agora e andar at� a lua.

Posso levantar e andar at� a lua.

Estou bem. Pronto pra tudo.

A coca�na ficou mais dispon�vel
atrav�s do crack

e era vendida por cinco
ou dez d�lares a pedra.

Agora, os pobres tinham acesso

ao que, at� ent�o, era droga de rico.

Foi muito r�pido.
De repente, surgiam 20 cracudos .

Ap�s fumarem,
pelo resto de suas vidas,

buscariam pela mesma sensa��o.

Eles n�o paravam mais,

sempre buscando
a sensa��o da primeira vez,

que n�o tinham como reviver.

O n�vel de euforia se multiplicava.

O efeito � quase simult�neo.

Eu fico sem palavras

pois n�o h� como descrever
como me senti.

Fazia eu me sentir em �xtase.

� como um orgasmo.

Depois da primeira tragada...

acabou.

A partir da�, eu me viciei
e s� queria fumar.

Tudo fazia...

Bing!

Ainda estava no Ensino M�dio
e precisava ganhar dinheiro.

Tinha um filho a caminho,
e a vida era dif�cil.

Minha m�e queria que eu arrumasse emprego.

Ei, n�o � o Calvin?

Eu n�o o via h� algum tempo.

Soube que arrumou um emprego.

Lembro do comercial com o Calvin
onde diziam:

"Voc� pode ser como Calvin."

Agora que falou, tem algo
de diferente nele.

Parece que a responsabilidade lhe fez bem.

Fico feliz que tenham acreditado nele
para darem uma segunda chance.

Onde ser� que est� trabalhando?

Bem-vindo ao McDonald's. Posso ajudar?

Lembro de ver o comercial
e pensar: "Eu trabalhei l�."

S� ganhava US$3,35 por hora.

Era o sal�rio m�nimo: US$3,35 por hora.

E descontavam os impostos desse valor.

Foda-se o Calvin.

Isso n�o vai servir para mim.

Ent�o meu amigo disse:
"Sei como voc� pode fazer uma grana."

E ele me mostrou o crack.

Estava em pequenas ampolas.

Eu perguntei: "O que �?"
"� coca�na preparada."

E ele: "O pessoal fuma e pira."

Ele me deu cem.

E em uns 20 ou 30 minutos, j� era.

O cachimbo fala com a gente.

Quando nos afastamos,
ele chama de volta:

"Venha aqui.

Venha, gaste o resto da grana."

As pessoas chegavam
com um monte de dinheiro:

"Eu quero 20",
e compravam 20...

E ap�s eu aprender o neg�cio

eu pensava: "Ele vai voltar."

E, ao final da noite,

eles haviam gastado
todo o dinheiro que tinham.

No primeiro dia, devo ter ganhado
centenas de d�lares.

Da� em diante, eu pensei:
"� isso que vou fazer.

Posso ganhar dinheiro r�pido."

Crack. Em toda parte, crack.

N�o se fala em erva.

Quase n�o se fala mais em coca�na.

Todo mundo s� vende crack.

Quando o crack surgiu, era assim:

"Essa � a parada."

Era o que esper�vamos.

Foi uma corrida do ouro. Na periferia.

A pol�cia n�o se importava.
N�o estavam nem a�.

A maioria tinha a seguinte atitude:

"Vou cumprir meu hor�rio
e dar o fora desta comunidade."

N�o tinha controle nenhum.

Porque sab�amos que n�o ser�amos presos.

Os tiras n�o se importavam.

Os suburbanos v�m a este bairro
de Nova York toda sexta � noite,

procurando suprimentos
para o fim de semana.

Aqui o servi�o � na cal�ada.

Era muita gente na rua
comprando crack na �poca,

que era inacredit�vel.

As pessoas ficavam no carro
buzinando para irem depressa,

para venderem logo, e chegar na sua vez.

Tinha at� engarrafamento

para comprar drogas.

De onde vinha aquela gente?

E eu morava em um bairro negro, 99% negro.

Voc� tem crack?

Talvez � noite.

Os brancos vinham, os hisp�nicos tamb�m.

Vinha gente de toda parte
comprar essa droga maravilhosa.

Eles v�m de Nova Jersey e outros lugares
para comprarem drogas aqui.

-De onde eles v�m?
-De Nova Jersey!

Acho que crack era visto
como uma droga da cidade,

um problema "urbano",

e isso significava que negros e latinos
que vendiam e usavam.

Eu fui viciado em crack,
ent�o eu sabia, pela experi�ncia,

que esse v�cio atravessa
todas as fronteiras socioecon�micas.

REP�RTER/JORNALISTA
NOME - RUBEN CASTANEDA

Ei, dinheiro sempre � bem-vindo.

� a verdade. Dinheiro sempre cai bem.

N�o interessa se voc� tem dois anos.

Se me pagar US$35 por crack
eu vou arranjar.

Eu vi gente vendendo crack
para a pr�pria m�e.

"Ela vai conseguir
de outro lugar mesmo, e da�?

Melhor eu vender."

�ramos capitalistas das ruas.

Era exatamente isso,
capitalistas das ruas

que s� queriam ganhar dinheiro.

CAP�TULO 3
CAPITALISTAS DAS RUAS

Na �poca da hero�na
e de outras drogas,

era preciso ser levado a elas.

A m�fia estava envolvida.

N�o era s� vender.

Com o crack, era...
N�o tinha intermedi�rio.

N�o era preciso a autoriza��o de ningu�m.

Entende? Era s� preciso se virar.

Era s� ser esperto
e dava pra fazer tudo sozinho.

Se tivesse dinheiro, mesmo jovem,

para investir
em 200 ou 300 d�lares de coca�na,

dava para fazer a pedra. Era s�
montar uma boca na esquina,

e, de repente, grupos de homens jovens,
principalmente,

conseguem se sustentar, sustentar
suas fam�lias e sobreviverem.

Eu montei um grupo
de caras da minha idade.

E nossos dois pr�dios
viraram nosso territ�rio.

E depois todo o conjunto habitacional,

e ningu�m podia vender l�
sem que fosse nosso.

E eu era muito jovem. Adolescente.

Eu sa� de Miami em 1984.

Eu ia para a For�a A�rea.

Depois, quando voltei
para visitar meus amigos,

todos eles, com 18, 19 anos,

estavam na esquina vendendo.

Eles me diziam quanto ganhavam
com pedra. O crack.

E, aos 18, 19, 20 anos,
a gente se sente importante.

Todos queriam participar.

Os jovens se tornavam l�deres do crime
da noite pro dia.

Um jovem sem grana no complexo
habitacional, que usava a roupa do irm�o,

agora tinha uma BMW.

Havia toda uma economia girando
em torno do crack.

Eu nem tinha idade para dirigir
e comprei um carro, em esp�cie.

Eu nem sabia dirigir.

Eu dirigi at� a escola pra me exibir.

"Isso a�, tenho um carro."

N�s come�amos ganhando
centenas de d�lares por dia

e chegamos a milhares por dia.

Eu entrei nessa pelo dinheiro,
pela roupa, pelas joias e pelas mulheres.

E no come�o... era divertido.
Muito divertido. Aproveitei bem.

Eu fazia o que queria.

Eu tinha o que queria.

Eu lembro de contar meus t�nis.

E tinha uns 75 pares de t�nis.

Todos novos. Eu usava uma ou duas vezes

e depois comprava novos.

Eu me diverti.

S�o 150 mil em dinheiro!

Podemos jogar fora as notas de um
j� que temos US$500 mil?

Vou dizer o que faremos.
Vamos dar aos pobres.

Concordo. Vamos fazer isso.

Na �poca, eu ganhava...

cerca de um milh�o de d�lares por dia,
era o que passava pelas minhas m�os.

E meu lucro ficava entre 200 e 300 mil,

de um milh�o de vendas.

Eu era um dos caras mais ricos de LA.

Provavelmente o jovem mais rico de LA.

Eu comprei motel, cinema,

est�tica, ferro-velho, loja de sapatos,
sal�o de beleza e borracharia.

E havia de 15 a 20 milion�rios

que eu havia ensinado.

Eu tornei a venda de drogas algo da moda.

Na �poca, tinha tanta gente
ganhando dinheiro.

que todos queriam participar.

Tinha os usu�rios viciados

e os traficantes viciados no dinheiro.

Esse era o problema.

Pistolas, rifles, arco e flecha,

e at� um rifle .50 com balas anti-blindado.

A pol�cia diz que gangues de rua
controlam o tr�fico de crack em Roosevelt

e agora est�o recrutando em escolas
de Ensino M�dio

Muitos desses jovens e adolescentes
se armaram para protegerem seu territ�rio.

Eles t�m pistolas semiautom�ticas
e, em alguns casos, AK-47s.

Armamento muito potente.

Voc� d� US$100 mil a um garoto.

D� armas autom�ticas e poder.

� diz para ele:
"Voc� controla esses cinco quarteir�es."

O que um garoto
de 16 anos sabe sobre isso?

O crack deu mais armas �s pessoas.

Mais gente podia comprar armas.

E...

mais gente come�ou a resolver
suas diferen�as com armas.

Agora n�o era s� tentar sobreviver,

era tentar prosperar
em um tanque de tubar�es.

Ent�o era preciso ser
o tubar�o maior e mais perigoso.

E ainda podia para morrer nisso.

Eles tinham Uzis, rev�lveres Glock.

Ent�o, claro que perdemos as r�deas,
e houve consequ�ncias.

Foi a� que a merda bateu no ventilador,
como dizem.

Ganh�vamos muito dinheiro.

Era divertido.

De repente...

deixou de ser.

Com o aumento do tr�fico de drogas,
aumenta a viol�ncia.

Praticamente toda noite,
a pol�cia recolhe corpos.

Seis tiroteios ocorreram
por volta da 1h da manh�,

e os policiais que chegaram ao local
disseram que foi um banho de sangue.

N�o consigo contar nas minhas m�os

quantas pessoas eu j� vi morrerem.

Era normal. Normal demais.

Come�amos a nos dessensibilizar

com os nossos morrendo.

No norte de Manhattan,

mortes relativas ao crack s�o consideradas
a causa do aumento de 63% em homic�dios.

Ano passado, houve um recorde
de 555 homic�dios em Los Angeles.

Foram 387 mortos no Condado de LA.

O Distrito de Columbia � a capital
dos homic�dios do pa�s.

A pol�cia nunca andava
pelas regi�es mais pobres.

Eles eram como

naquela cena do Poderoso Chef�o
em que diz:

"Deixe que eles se matem.
S�o s� animais."

N�o queriam se incomodar
com aquela epidemia.

Ent�o se n�o se envolviam antes,
tamb�m n�o se envolviam agora.

As autoridades dizem
que o pre�o da coca�na caiu.

O aumento da viol�ncia � o resultado
de maior competi��o pelo dinheiro.

Muitos traficantes eram
roubados e sequestrados.

Eram levados at� o parque.

N�s os encontr�vamos enrolados
em silvertape.

Era uma guerra.

Eu levei um tiro nas costas
a poucos cent�metros da coluna,

e a bala saiu pelo peito.

Eu decidi que, se eu ia morrer,

n�o seria como uma an�nima.

Ent�o, peguei um t�xi
e fui sozinha para o hospital.

Porque, se eu ficasse l�,
teria sufocado at� a morte,

pois tinha hemorragia interna
e infiltra��o nos pulm�es.

A vida nas ruas me deixou muito durona.

Eu tinha que agir
de um certo jeito e ser durona,

para ningu�m pensar
que poderia tirar vantagem de mim.

Isso tira a nossa identidade,
pois temos que ser dur�es o tempo todo.

N�o d� para demonstrar fraqueza.

E depois: "O que � fraqueza?"

Rir de uma piada
que normalmente acharia muito engra�ada...

Mas precisa...

Tem que se segurar.

Se vai a uma festa.

Quer dan�ar, mas n�o pode,

pois outros matadores est�o olhando,
e v�o interpretar como fraqueza.

"Ele � emotivo demais."

Tinha caras que eram temidos.

E quando eu digo "temidos", � muito mesmo.

Com alguns deles, a pol�cia n�o se metia,

pois eles eram...

Eram simplesmente monstros.

E eram os mesmos que,
alguns anos antes,

iam para a igreja comigo, que...

namorariam a minha irm�.

Depois, quando se d� conta...

ou est�o estirados no ch�o,
cravejados de bala,

ou est�o na sua frente, na delegacia,

pois eles... mataram algu�m a sangue-frio.

David Rosario, 14 anos,
com dificuldades de aprendizado,

morreu com um tiro no peito
andando de bicicleta.

A pol�cia acredita que ele morreu
no fogo-cruzado entre traficantes rivais.

Havia muitos vel�rios.

Sempre que pass�vamos pelas funer�rias,

e havia jovens do lado de fora,
dava pra saber.

Era outra morte por conta das drogas.

Eu fiz muitos vel�rios de jovens.

Alguns na igreja,

muitos nas funer�rias locais,
nesta comunidade.

� doloroso.

E eu queria ter a resposta certa
na hora certa.

Mas muitas vezes n�o tinha.

� tr�gico quando uma m�e me diz

que ela levou
seu filho de 9 anos a um vel�rio,

e o filho diz: "N�o me vista como ele,
de gravata e manga de camisa, m�e.

Quero que meus amigos me reconhe�am."

Um garoto de 9 anos planejando
seu vel�rio com a m�e,

indo ao vel�rio de algum colega de escola.

Acho que, para quem morava nesses bairros,

era uma �poca horr�vel.

E muitos tinham la�os de longa data

com os bairros e locais em que moravam.

N�o podiam simplesmente ir embora.

Ent�o viviam com o estresse de morarem
em uma zona de guerra.

As pessoas temiam tanto sair de casa,
que antigamente,

ficavam na frente da porta conversando.

E agora n�o podiam mais,
porque havia balas por toda parte.

Tem medo de sair � noite?

-Sim.
-Por qu�?

Tem muitos traficantes de crack.
Eles ficam atirando.

Vou ficar em casa.

Eu n�o quero levar um tiro.

Eu nem ando na rua aqui � noite.

Quando eu chego, tranco a porta
e fico em casa.

Os cidad�os imploram.

-Eu gostaria...
-Se algo puder ser feito.

Ao menos uma viatura passando.

-Implorando...
-Fico nervosa.

...por ajuda em seus bairros.

Voc� olha para a rua e est�o vendendo
enquanto a pol�cia desvia o olhar.

Um dia, no fim do meu turno.

Tinha 300 ampolas de crack,

e os tiras chegam, dentro do parque,
na minha dire��o.

Ele pega o saco.
"Mostre o que tem a�."

Eu dou o saco e penso:
"Droga. Vou passar a vida na cadeia."

E eu penso, devo correr?
Porque j� estou morto.

E o cara...

O tira olha dentro do saco.
S�o dois tiras.

Ele joga o saco em mim,
olha no meu rosto e diz:

"Diga ao seu chefe
que lhe fiz um favor."

Ent�o eu vou at� a casa dele:
"N�o vai acreditar.

Eu fui revistado pelos tiras.
Eles viram tudo."

E ele: "Do que est� falando?

Cara, a gente paga os tiras.
Volte para a rua."

E eu: "� s�rio?"

E ele: "Volte ao trabalho.
Estamos perdendo grana."

E foi assim que descobri
que a gente pagava aos tiras.

Tinha tanto dinheiro rolando
que quase todos eram corruptos.

Todo o bairro foi corrompido
de algum modo.

Uma longa investiga��o
na Pol�cia de Nova York

CORRUP��O POLICIAL

desvendou uma rede de corrup��o
profundamente entranhada.

Sete policiais de Miami foram
a julgamento

acusados de extorquir
outros traficantes de coca�na

e vender drogas por si.

Catorze policiais foram acusados

de extorquirem traficantes,
roubarem a droga e depois revender.

No pa�s todo, 351 policiais foram acusados
de corrup��o ligada a drogas.

O que voc� roubava?

EX-POLICIAL

Dinheiro, drogas e armas. Tudo.

Eu lembro de enfiar a m�o em uma caixa
de coca�na e pegar duas m�os cheias,

colocar tudo no bolso e sair.

N�o � dif�cil tirar dinheiro
e drogas de traficantes.

Ele fica na esquina.

EX-POLICIAL DE NOVA YORK

Ele tem drogas.
Sabe que vai preso se voc� quiser.

Ent�o, em vez de prend�-lo,
a gente pega as drogas e o dinheiro.

Voc� tinha medo que outro policial
pudesse denunci�-lo?

Nunca.

Por que n�o?

Porque era o acordo policial.

Tiras n�o delatam tiras.

Sab�amos que estavam nessa.

Sab�amos que aceitavam
pagamentos abertamente, �s vezes.

Sab�amos que n�o eram confi�veis.

Sab�amos que tamb�m traficavam.

N�o pode culpar os negros
por n�o confiarem na pol�cia.

CAP�TULO 4
O V�RUS

-De quanto precisa?
-Sim, de quanto?

Me d� um. Um.

Na B�blia, falam sobre os gafanhotos

destruindo todo o trigo
e acabando com a colheita.

-Tem 25?
-Quanto?

O crack devastou nossa comunidade.

Aqui est�, US$20.

O crack era como um v�rus.

Como se houvesse algo no ar.

Eu mesmo vendia crack.

Ele mudou toda a cultura.

Espere a�.

Sim.

Os quarteir�es foram dizimados.

Agora tem lixo em toda parte.

Parece uma cena
de um filme de George Romero.

A Noite dos Mortos-Vivos

Tudo bem.

-Ampolas...
-Quantas voc� quer?

Eu uso crack.

O crack mudou minha personalidade.

O que ele quer?

Fez eu parar de me importar
com os outros.

-Eu sei, cara.
-Faz dois por 20?

Quantos precisa?

Eu fui me afundando cada vez mais,
ms n�o queria nem podia parar.

-O que ele quer?
-Do que precisa?

Comecei a perder muito peso.

Minha cintura est� diminuindo
A camisa est� grande demais.

-De quantos precisa?
-Tem 25?

Alguns de n�s tentamos esconder
no come�o,

ms quando piorou,
n�o importava quem nos visse.

Do que precisa?

Qual �, cara?

N�o vou para casa h� quatro dias.

N�o durmo h� quatro dias.
Estou comendo.

Peso 43 kg.

Tem filhos?

Sim, um. Onze anos.

Onze anos de idade?

Homem.

Onde ele est�?

Com a minha m�e.

Quando o viu pela �ltima vez?

H� um ano e meio.

Qual � o nome dele?

Angelo.

Sente saudade dele?

Sinto, sim.

A droga separou as pessoas delas mesmas.

E, assim, as separou de suas fam�lias.

E parecia que

o alcance da droga, o impacto,
era maior com mulheres.

Eu tinha um filho.

EX-USU�RIA

Ele tinha cinco anos.

E foi morto.

Meu luto e minha raiva me consumiram,

e o crack me ajudou a fugir.

Quando eu usava crack,

eu conseguia ouvir o sil�ncio.

Toda a conversa, a dor, o sofrimento,

o luto desapareciam...

naquele per�odo.

Quando comecei, eu trabalhava.

Entende? Tinha tido minha primeira filha.

Meu primeiro apartamento, e tudo o mais.

Chegando do trabalho, ela comia,
eu cuidava dela, olhava o dever de casa.

"V� tomar banho."
Depois �amos dormir.

Essa era nossa rotina
at� eu me meter com crack.

O descontrole foi t�o grande
que perdi meus filhos.

Minha irm� teve que ficar com eles.

Eu tinha acabado de ter a terceira filha.
Rec�m-nascida.

E...

Ela nem me conhece.

Muitas mulheres eram m�es e tias
que faziam qualquer coisa por crack.

Quando come�avam a usar
essa droga, j� era.

Depois de viciar,
� preciso ganhar dinheiro.

Um homem pode bater em algu�m.

Roubar algu�m.

Um homem pode invadir uma loja.

As mulheres n�o.
Ao menos, sentiam que n�o podiam.

A gente via mulheres vendendo
os brinquedos dos filhos.

A gente via elas fazendo o impens�vel,

que provavelmente n�o teriam feito

se n�o estivessem
sob a influ�ncia do crack.

Eu tive que fazer sexo com outros caras.
Tipo prostitui��o.

S�o as drogas.

A gente n�o controla.

Eu vi mulheres fazendo sexo
com tr�s homens de uma vez,

quatro de uma vez,
cinco de uma vez.

Quando n�o tinha dinheiro, podiam lev�-la
para o terra�o e transar com voc�.

Podia ser no elevador.

Onde quisessem, a gente ia,

tudo pelo crack.

No meu quarteir�o,
tinha uma van abandonada.

T�nhamos a van, e alguns traficantes...

As mulheres diziam:
"Eu chupo voc� por um."

Dependendo da apar�ncia...

Se fossem muito viciadas, n�o tinha jeito.

Se fosse no come�o, dava um,

fazia o que queria e ia embora. Era...

E as mulheres faziam isso.

Eu j� fiz isso uma vez.

Eu pensei e, sabe...

Algu�m vai fazer.

Melhor ser eu a tirar vantagem disso.

Quando perdemos
uma mulher para essa droga...

a gente perde uma m�e, uma provedora.

Quando a mulher � destru�da,
a comunidade tamb�m �.

Mam�e!

N�o leve minha m�e, por favor!

Mam�e! N�o leve minha m�e, por favor!

Por que nossa comunidade ficou cheia

dessa subst�ncia devastadora?

Eu j� ouvira falar de guerra qu�mica...

e isso era um tipo de guerra qu�mica...

contra comunidades negras.

De onde saiu?

E, principalmente... por qu�?

Mat�ria Especial da NBC News.

CAP�TULO 5
DIGA N�O

Da Casa Branca,
o presidente e Sra. Ronald Reagan.

Uma mensagem sobre drogas.

As drogas tiram o sonho

do cora��o de toda crian�a
e o substituem por um pesadelo.

Nancy se envolveu intensamente
na luta contra o abuso de drogas.

H� n�o muito tempo,

um grupo de crian�as me perguntou
o que fazer se oferecessem drogas a eles.

E eu respondi: "Diga n�o"."

Somos os Lakers de LA e viemos dizer

Que as drogas matam todo dia

Coca�na e crack
T�m que acabar

Temos que aprender que � s� dizer n�o!

A campanha "Diga n�o"

n�o teve precedentes
no alcance e intensidade.

Isso mesmo. Diga n�o ao crack para viver.

Se precisa morrer por algo...

n�o deve ser por isso.

Crack n�o � s� errado.

Pode ser mortal.

A campanha contra o crack foi a maior

campanha antidrogas da hist�ria dos EUA.

-N�o precisa
-Diga n�o

-N�o precisa
-Diga n�o

Diga n�o �s drogas
Derrote-a

Este � o seu c�rebro.

Estas s�o as drogas.

Este � o seu c�rebro com drogas.

Alguma pergunta?

O que far�o quando algu�m
lhes oferecer drogas?

Diga n�o!

N�o ouvi. Mais alto!

Diga n�o!

Maravilhoso.

Ora essa.

� esse o lema? "Diga n�o �s drogas"?

E quanto a ajudar as comunidades

com seus problemas
para n�o precisarem disso?

Para n�s da comunidade, � pol�tico.

A campanha antidrogas de Nancy Reagan...

Parecia extraordinariamente hip�crita...

pois acontecia em uma �poca
em que o governo dos EUA estava

ignorando o tr�fico
de coca�na para os EUA.

Eu recebia a coca�na da Nicar�gua,

a maioria.

Havia outras fontes das quais recebia,

mas a principal era a Nicar�gua.

A Am�rica Central passava
por violentas guerras civis.

Na Guatemala, em Honduras,
em El Salvador e na Nicar�gua.

Os EUA haviam apoiado uma ditadura
na Nicar�gua.

O governo foi derrubado
pelo movimento sandinista em 1979.

Era um bando desorganizado
de esquerdistas e marxistas.

A ditadura sandinista da Nicar�gua,

com apoio total do bloco sovi�tico-cubano,

n�o s� persegue seu povo,
a igreja e impede uma imprensa livre,

como arma e fornece bases
para terroristas comunistas

em ataques a estados vizinhos.

Os Estados Unidos disseram:

"N�o toleraremo marxistas
na Am�rica Central",

ent�o come�aram a financiar guerrilheiros...

incentivando-os a enfrentar
o governo marxista da Nicar�gua.

Esses eram os Contras.

Foram criados, alimentados e financiados
pelo governo dos EUA.

O presidente Reagan dava entrevistas

e fazia discursos quase diariamente.

Os guerreiros da liberdade
est�o hoje dentro da Nicar�gua

pois nos comprometemos com eles.

Ele elogiava os Contras

como equivalentes morais
dos patriarcas da independ�ncia.

Vamos cortar o financiamento
e deix�-los indefesos?

Se o fizermos, quem confiar�
nos EUA de novo?

O Congresso n�o quer apoiar
uma guerra civil na Am�rica Central.

Eu me oponho a qualquer ajuda ou aux�lio
aos Contras.

Eu acredito que o povo americano
n�o quer uma guerra maior.

SENADOR EDWARD KENNEDY
DEMOCRATAS

Creio que o povo dos EUA
quer dar uma chance � paz.

Chegou a hora

de dar um fim � pol�tica de governo
de apoio aos Contras.

DEPUTADO GEORGE MILLER
DEMOCRATAS - CALIF�RNIA

Foi uma pol�tica nascida de engano,

de mentiras, de ocultamentos.

Antes de investirmos mais um centavo
na Am�rica Central,

DEPUTADO JAMES TRAFICANT
DEMOCRATAS - OHIO

vamos cuidar das pessoas
que moram neste pa�s.

O Congresso diz que n�o podemos usar
dinheiro federal para apoiar os Contras.

N�o podemos comprar armas, uniformes

ou muni��o.

Ent�o, o governo Reagan come�ou a buscar

fontes alternativas de financiamento.

E uma dessas fontes foi o lucro
da venda de armas ao Ir�.

ESTADOS UNIDOS
M�SSEIS - FOGUETES

Come�amos a vender
m�sseis e foguetes ao Ir�, ilegalmente,

e tirando um lucro
entre 15 e 30 milh�es de d�lares

que poderia ser usado para pagar

pela guerra ilegal dos Contras
que o Congresso n�o financiaria.

Trabalhamos com os pilotos
que levavam mantimentos aos Contras.

E as autoridades dos EUA
n�os s� desviavam o olhar,

como colaboraram com qualquer
indiv�duos sujo e desagrad�vel que fosse.

Eu trabalhava na Associated Press

em uma hist�ria sobre o envolvimento
dos EUA com os Contras da Nicar�gua,

e n�s ouv�amos essas hist�rias

e era tudo muito inacredit�vel para mim.

T�nhamos mais de 36 fontes

descrevendo um ou outro elemento
do tr�fico de coca�na

pelos Contras da Nicar�gua.

John Kerry acabava de ser eleito
para o Senado dos EUA

quando publicamos nossa hist�ria,

e ele mandou alguns funcion�rios
para averiguar essa hist�ria.

AUDI�NCIAS DO COMIT�

Hoje vamos come�ar a contar

um peda�o da hist�ria
das drogas dos Contras.

Ap�s descarregarem as armas,
carregaram algo no avi�o?

Sim, eu carreguei cerca de 17 sacolas

e cinco ou seis...

caixas de 0,1m� na aeronave.

O que havia nas sacolas?

P�. Coca�na.

E nas caixas?

Coca�na.

Era um esc�ndalo de enormes propor��es.

A Casa Branca estava envolvida
no tr�fico secreto de armas

para um grupo rebelde na Am�rica Central...

ESTADOS UNIDOS

financiado pela venda de m�sseis ao Ir�.

E ao menos fingindo ignorar o tr�fico
de coca�na para os EUA

para financiar
esta guerra secreta e ilegal.

Era uma base perfeita
para o tr�fico de drogas

Quando se enviava as armas
para a Am�rica Central,

dava para deixar as armas
e carregar sacolas cheias de coca�na

e voltar para os Estados Unidos.

Dava lucro para os Contras.

Dava lucro para os traficantes.

Era um belo arranjo
que funcionava para todos,

exceto para os americanos.

Ou o governo Reagan fingia n�o saber,

e sabia, ou colaborava com os traficantes

no plano de derrubar o governo sandinista.

Nosso objetivo era derrotar o comunismo
na Am�rica Central,

e se isso significava a entrada de drogas
que os jovens usavam,

era assim que tinha de ser.

E Bias rouba a bola.

CAP�TULO 6
LOUCURA DA M�DIA

Bela jogada de Lenny Bias!
Ele marca e...

Um ponto de virada

foi Len Bias, um astro do basquete
na Universidade de Maryland.

�tima pegada. Adrian Branch.
�tima devolu��o para Bias!

Todos em Washington
sabiam quem era Len Bias.

Todos o amavam.
Ele era atraente e bem-apessoado.

Bias na linha de base,
passa por Hale e reverte!

-Nossa!
-Minha nossa! Que lance!

E seu grande rival na confer�ncia
estava na Carolina o Norte.

E Michael Jordan marca Len Bias.

Grande jogo. Duplo!
E ele marca.

Dois dos maiores atletas do pa�s,

Michael Jordan e Bias,
lado a lado.

Bias o superou.

O sonho dele era jogar nos Celtics.

JUNHO DE 1986

O Boston Celtics escala

Len Bias da Universidade de Maryland.

E a primeira escolha deles era Len Bias.

Ele volta ao alojamento
na Universidade de Maryland, e...

ele comemora com seus amigos.

Envie algu�m o quanto antes.

N�o � brincadeira.

Vamos fazer boca-a-boca.

� Len Bias.

Ele precisa ser ressuscitado.

Ele n�o pode morrer.

Mandem algu�m, r�pido.

Uma hist�ria local de sucesso
teve uma virada tr�gica esta manh�.

Len Bias, o astro do basquete
da Universidade de Maryland,

a caminho de se tornar membro
do campe�o mundial Boston Celtic,

morreu de suposto ataque card�aco hoje

no Hospital Leland Memorial
no Condado Prince George.

A MORTE DE UM SONHO

Se a pol�cia ficou chocada ao saber
da morte de Len Bias,

tamb�m ficaram chocados ao saber
que pode ter sido por crack.

Agora, a pol�cia diz
que o caso � considerado "suspeito",

e � s� o que dizem ao p�blico.

Esta noite, Jim Kaiserski, da NBC, relata

como a trag�dia de Len Bias
est� deixando a mensagem:

coca�na mata.

AN�LISE DE BIAS: A POL�CIA DIZ QUE BIAS
DEVE TER USADO "CRACK" ANTES DE MORRER

Quando a hist�ria chega � m�dia,

a suposi��o � de que Len Bias
tem fumado crack...

E que isso foi respons�vel por sua morte.

Ent�o ele se tornou a propaganda do crack

e o come�o de uma nova discuss�o nacional.

A m�dia dos EUA agora falava do crack.

E a narrativa mudou de trajet�ria.

N�o s� diziam que tinha fumado crack,

como que era a primeira vez
que fumava.

"A droga era poderosa e perigosa
a esse ponto", diziam.

NO VEL�RIO DE BIAS,

No vel�rio de Bias, Jesse Jackson diz:

"A droga j� tirou mais vidas negras
do que as cordas da Ku Klux Klan."

Na semana seguinte, Don Rogers,

o cornerback dos Cleveland Browns...

falece em morte relacionada � coca�na.

Eles aludiram ao fato de ele ter crack.

Essa era a narrativa.

"� uma epidemia! De jovens negros...

atletas fortes, morrendo de coca�na."

Ent�o em todo pa�s,
as pessoas diziam: "Coca�na."

A m�dia enlouquece.

O problema do crack
se tornou uma crise de crack,

e est� se espalhando pelo pa�s.

Duas palavras usadas
repetidamente para o crack

foram "epidemia" e "peste".

"A epidemia de drogas � t�o perigosa
quanto qualquer terrorista.

� s�rio. � uma epidemia e pode matar."

� s� uma parte do que foi dito
aos comit�s da C�mara e do Senado...

Foram usadas para assustar as pessoas.

Os pol�ticos usaram para assustar.
A m�dia usou para assustar.

E funcionou.

A droga � t�o poderosa
que vai esvaziar seu bolso,

fazer voc� vender o rel�gio do pulso,
a roupa do corpo...

Ou matar sua m�e.

Se quiser mostrar
o problema das drogas,

mande os c�meras
� Avenida Martin Luther King Jr

e mostraremos jovens negros

sentados na cal�ada
ou em frente a uma loja.

"Eis o problema do crack!
A� est�o eles!"

O que a CBS News chamou de "Rua do Crack"

claramente existe em cidades do pa�s todo.

VENDA DE CRACK

As gangues de Los Angeles comandam
a venda do crack em mais de 25 cidades.

Cidades pouco suspeitas como Omaha,
Kansas City e Denver.

At� mesmo York, na Pensilv�nia.
Um lugar m�dio nos EUA.

A m�dia gerava essa loucura
sobre o crack e seu impacto,

quem usava crack e onde.

A pol�cia de Kansas City, Missouri
est� procurando esta manh�

por uma mulher que trocou seu filho
por US$ 20 em crack.

O garoto de quatro meses
foi entregue a assistentes sociais.

Vemos estere�tipos sobre a patologia
da mulher negra

e m�es negras, m�es negras pobres,

traduzidas no contexto do crack.

A peste do crack est� mostrando
uma nova dimens�o assustadora,

o dano que causa aos filhos
dos viciados em crack.

Reportagem investigativa esta noite,
filhos da coca�na.

Crian�as nascidas
de m�es viciadas em coca�na.

A m�e dela estava t�o chapada
na hora do parto,

que n�o percebeu at� o dia seguinte
que tinha dado � luz.

Toda a hist�ria dos beb�s do crack
se baseava em um artigo publicado

por um tal de Ira Chasnoff

um pediatra de Chicago.

Ira Chasnoff sugeriu que

havia danos extremos e �nicos da exposi��o
pr�-natal � coca�na.

A pesquisa dele, baseada em cerca
de 23 beb�s,

n�o podia, n�o devia, nunca ter levado

ao grau de alarme e reportagens
que chegou.

-Beb�s de droga...
-Beb�s de coca�na...

Filhos do crack. Chegaram � idade escolar.

Houve um excesso de reportagens

em todos os lugares, do New York Times

�s "Crian�as do Crack" na revista TIME.

E havia manchetes como

"Beb�s do crack:
a maior amea�a � a pr�pria m�e."

E essas hist�rias tinham fotos
de crian�as negras.

� muito dif�cil falar sobre isso,
pois era s� besteira.

S� besteira disfar�ada de informa��o.

E isso desempenhou um grande papel
na ideia de "beb�s do crack".

Claro, agora sabemos que era mentira.
Agora, sim.

Era uma epidemia que n�o existia.

Cem mil beb�s do crack
nascem todos os anos.

E agora parece que podem
ter sequelas para a vida toda.

Uma poss�vel hist�ria de horror
quando eles chegam � idade escolar.

Em alguns anos, essas crian�as podem ser
60% dos alunos

em algumas escolas de periferia.

Na verdade, s� dois ou tr�s por cento
das crian�as nascidas no per�odo

tinham tra�os de coca�na no sistema.

A verdadeira quest�o materna

tinha muito mais a ver
com �lcool e maconha.

Mas � isso que � vendido
ao p�blico americano,

e tamb�m apresenta
um novo n�vel de criminaliza��o

na vida das mulheres negras

em comunidades que j� est�o sendo visadas.

Eu fui abandonada pelo pai dos meus filhos
e me senti muito s� e isolada.

Na minha crise,

eu disse para meu m�dico
que tinha quest�o com abuso de drogas.

E ele levou meu caso � policia.

Apesar de ela ser totalmente honesta
sobre o problema de drogas

esperando que m�dicos,
o sistema de sa�de,

a levassem ao tratamento necess�rio,

em vez disso, foi presa
e acusada de abuso infantil

e facilita��o de drogas a crian�as,

como se fosse uma traficante de drogas.

"PRIS�O DE UMA M�E POR AR COCA�NA
AO FILHO NASCITURO

Ano passado, uma mulher da Fl�rida foi
condenada por dar coca�na a um menor,

ACUSADA DE "TRAFICAR" PARA O FETO

por meio do cord�o umbilical.

Muitos outros estados
est�o tentando a mesma coisa.

Acreditamos que foi a primeira vez
que um promotor

acusou uma mulher
de dar drogas ao rec�m-nascido

Nos 60 segundos ap�s o beb� nascer,

mas com o cord�o umbilical ainda preso.

N�o tinham nenhuma evid�ncia

de que houve a transfer�ncia de algo.

Ent�o o que est� sendo punido?
Qual foi o crime?

Eu pari dois beb�s saud�veis.

Apesar do mito
e da desinforma��o cient�fica.

Mas minha fam�lia estava sendo dividida.

E meus filhos foram entregues
a parentes de fora do estado.

Foi devastador.

O juiz n�o entendia de v�cio,

e ela n�o tinha escolha nem controle.

Ela precisava de ajuda. Pedira ajuda.

N�o teve acesso a ajuda.
Ningu�m ofereceu.

N�o existia quando ela pediu.

Por volta da mesma �poca,

uma enfermeira branca
chamada Shirley Brown

na Universidade de Medicina
da Carolina do Sul

come�ou a fazer exames de drogas
nos seus pacientes negros.

E ela procurava secretamente mulheres
negras gr�vidas que usassem coca�na.

Quer me dizer como obt�m
suas drogas?

Voc� compra? Troca por sexo?

Para que essas perguntas?

Para quem vai dar essas respostas?

As respostas s�o para mim.

Ela deu as informa��es � pol�cia

e ajudou a pol�cia
a ir ao leito das mulheres

e tir�-las de l�,

quando ainda estavam gr�vidas
ou logo depois do parto,

enquanto ainda sangravam
devido ao parto.

Era um esfor�o articulado
de criminalizar mulheres negras.

O jeito de criminalizar
mulheres negras,

ou qualquer mulher que quiser,

� dizendo que ela p�e crian�as em perigo.
E foi o que fizeram.

Sheryl! Atenda!

Tire sua filha da rua.

Ela vai come�ar a usar drogas.

Tem p�? Tem pedra?
Eu chupo seu pau.

Deixe o beb� fora das ruas.

A cultura popular pegou a ideia

de que o usu�rio principal de crack
era uma mulher negra doente

que amava crack mais do que seus filhos.

E n�o dava nenhuma profundidade
na hist�ria narrada.

Essa mulher aparecia do nada,

perdedora, fumando crack,
sem cuidar os filhos.

N�o sabemos mais nada dela.

� uma hist�ria de uma garota
Que andava pela avenida

Pode ser sua m�e
Mas n�o ria

Sua m�e fuma pedra

N�o a minha m�e

Sua m�e fuma pedra

Est�o mentindo

Quem fumava crack
era vilanizado...

dando a impress�o ao pa�s

que essas pessoas estavam descontroladas

devido ao uso dessa subst�ncia.

"Essas pessoas n�o merecem nossa ajuda
pois usam essa subst�ncia.

S�o pessoas que podemos esquecer."

Por isso � t�o perigoso.

Sua m�e fuma pedra

Bateram na minha m�e

Sua m�e fuma pedra

Porque ela � cracuda.

Quando voc� diz que algu�m fuma crack,

n�o precisa dizer mais nada.

N�o precisa dizer
que perdeu o emprego.

N�o precisa dizer que a pessoa
foi assediada sexualmente

e se automedica.

N�o precisa falar mais nada.

Pode jogar tudo fora.

Concordamos que algumas pessoas
podem ser descartadas.

Foi o que houve
diante dos nossos olhos.

ESQUE�A O CRACK
E RECUPERE SUA MENTE

Desde o crack ,

milhares de moradores do Bronx

trabalharam para exigir
mais prote��o policial

para tirarem os traficantes
dos seus bairros.

Abaixo a droga! Viva a esperan�a!

Na Fl�rida, os cidad�os protestam
contra as drogas

e a favor da pol�cia,

mandando recado aos traficantes

Abaixo as drogas!

Tem gente da comunidade negra
dizendo que algo deve ser feito.

O crack mata!

Em Miami, a pedido
de v�rios grupos civis e religiosos,

a pol�cia come�ou patrulhas de moto
especiais contra o crack.

-Gosta de v�-los?
-Gosto, sim.

Algu�m precisa fazer alguma coisa.

Ei, traficante! Voc� a�!

Os homens negros est�o observando.

Ei, traficante! Voc� a�!

As pessoas estavam assustadas.
N�o sabiam o que fazer.

Quando se est� cercado
de tanta viol�ncia,

tanta feiura...

Eles fazem o que acham
que acabar� com a loucura.

Se fosse como eu quero,
eu pegava as jaulas do circo

REVERENDO WENDELL FOSTER

e enjaulava os traficantes
para mostr�-los em todos os bairros

para as crian�as verem a esc�ria.

� o que s�o, esc�ria.

Nosso congressista do Harlem,
Charlie Rangel na �poca,

ele disse a Ronald Reagan:

"N�o faz o bastante
pela comunidade negra.

N�o se preocupa conosco."

Para vencer uma guerra,

precisa ter recursos,
que custam dinheiro.

E n�o h� d�vida na cabe�a de ningu�m,

que o povo americano
est� preparado para pagar.

Prendam-nos, tirem-nos da rua.

N�o havia d�vidas na minha cabe�a,
na �poca, que a comunidade apoiava.

E os padres...

Eles criavam uma confus�o
com os pol�ticos.

"Quem os elegeu?"
"Por que as ruas n�o s�o mais seguras?"

D� para comprar crack,
mas n�o uma caixa de leite.

E eu recomendo pris�o perp�tua!

Sem mais crack!

Queremos nosso pr�dio!

Sem mais drogas! Sem mais crack!

Era loucura.

Pais imploravam para
prenderem seus filhos...

pois estavam traficando drogas.

As pessoas precisam
se posicionar, como n�s.

Se querem as drogas
fora do bairro,

precisam marcar posi��o.

A comunidade acha errado,

os pol�ticos acham errado,
republicanos e democratas.

Era o sonho er�tico de qualquer pol�tico.

S�o criminosos vagabundos
que ganham milh�es

DEPUTADA LYNN MORLEY MARTIN
REPUBLICANOS - ILLINOIS

Nossos filhos continuar�o a ser expostos

a essa subst�ncia horr�vel chamada crack.

A coca�na costumava ser
um passatempo exclusivo dos ricos.

Agora pode ser comprada
com dinheiro da mesada.

Ent�o � 1986.

Vai haver uma elei��o.

Todos os membros da C�mara
querem a reelei��o.

E agora:

"A guerra �s drogas � uma oportunidade
de mostrar como sou dur�o."

O Presidente da C�mara � Tip O'Neill.

E ele diz:
"Quero uma grande lei antidrogas."

E ele a quer em quatro semanas,

para que possam mostrar
na campanha o que fizeram.

Como foram r�gidos.

Como parar a peste encaminhada.

Se fosse como eu quero,

eu mandaria
todos os traficantes para Alcatraz,

e n�o sairiam mais de l�,
sem o privil�gio de visitas.

Em geral, � dif�cil
para o p�blico entender

o quanto demora para uma lei ser aprovada
desde o come�o

na C�mara e no Senado
at� ser assinada pelo presidente.

Em Washington, pode levar anos.

Mas Tip O'Neill quer quer fique pronto
em quatro semanas.

Ent�o, nesta janela,

praticamente na �ltima semana, surge:

"Vamos escrever o m�nimo necess�rio
para pegar os traficantes."

Hoje, tenho um grande prazer de assinar
a legisla��o

que reflete o comprometimento
total do povo americano

e do governo na luta
contra o mal das drogas.

LEI ANTI-ABUSO DE DROGAS

Foi a lei federal mais injusta j� redigia.

Tem uma raz�o de coca�na em p�...

cem gramas garantem uma senten�a,

um grama de crack
d� a mesma senten�a.

Se j� viu um saquinho de a��car
em um restaurante, � um grama.

� uma quantidade min�scula.

Cinco gramas de crack
d�o o m�nimo de cinco anos.

at� 40 anos segundo a lei que passou.

Cinco gramas de crack,
500 gramas de coca�na em p�...

a mesma senten�a.

Muitos pensaram:

"Deve ser porque

o Congresso considerava o crack 100 vezes
mais perigoso do que coca�na em p�."

N�o.

Isso se devia � rapidez da reda��o.

N�o est�vamos nem pensando direito
no que quer�amos fazer.

Era um erro.

Era erro em cima de erro em cima de erro.

Isso foi em 1986.

E a lei tinha "traficantes" como alvo.

Em 1988, eles estenderam a lei

para incluir qualquer um
em posse de crack.

A decis�o da lei de 1988

de associar uma pena m�nima obrigat�ria

� posse de uma pequena quantidade de crack

foi parte de uma mudan�a maior
e uma decis�o

das autoridades do governo Reagan

de criminalizar
quem abusa de drogas,

e principalmente de criminalizar
que abusava de crack.

O pensamento da �poca era que

o crack era usado

mais abertamente na comunidade negra,

e que a coca�na era uma droga secreta

que a classe m�dia usava
que n�o machucava ningu�m.

N�o roubavam, n�o matavam,
n�o furtavam.

Toda a ideia, se f�ssemos nos concentrar
no que acontecia de pior...

Era um exagero, claramente

N�o havia justificativa.

E eu acho que a melhor resposta...

� uma express�o bastante ouvida:

"Parecia uma boa ideia na �poca."

CAP�TULO 7
AS REGRAS MUDARAM

Eu, George Herbert Walker Bush,
juro solenemente...

"que vou cumprir meu cargo..."

Em 1989,

as pesquisas mostram que as drogas eram

a maior preocupa��o da popula��o.

Ent�o, George H. W. Bush assumia
a presid�ncia

jurando acabar com epidemia de drogas
que assolava o pa�s.

Meus amigos, temos trabalho a fazer.

H� aqueles que n�o conseguem se liberar
da escravid�o de qualquer v�cio,

drogas, a desmoraliza��o
que rege as periferias.

Lembre-se que George H.W. Bush
era o vice de Reagan.

Ele havia comandado
as opera��es anti-drogas

para a Casa Branca no come�o
do governo Reagan.

Ent�o ele tinha todos os motivos
para querer mostrar

que seria mais duro que qualquer outro.

H� poucas regi�es claras

nas quais n�s, como sociedade,
devemos agir unidos

e expressar nossa intoler�ncia.

E a mais �bvia � a das drogas.

E h� muito a fazer...

e a ser dito.

Mas escutem minha promessa,
este flagelo acabar�!

A aten��o politica na quest�o das drogas
e do crack estava aumentando.

As drogas se tornam quase a ant�tese
do estilo de vida americano.

As drogas s�o o inimigo
que devemos destruir.

Eu trabalhava com a DEA.

E me pediram para comprar drogas
na frente da Casa Branca certo dia.

Ent�o liguei para um dos traficantes
com quem lidava.

Eu disse: "Venha � Casa Branca."

E ele: "Onde � isso?"

Eu tive que ensin�-lo a chegar l�.

Quando ele chegou,
sentamos em um banquinho de pra�a.

Ele me deu as drogas, eu dei o dinheiro.

D� para ver as pessoas no fundo
entrando na Casa Branca.

Todos n�s concordamos que a maior amea�a
interna ao nosso pa�s s�o as drogas.

Esse foi o primeiro discurso nacional

do presidente George H.W. Bush

Eu lembro de assistir e...

o presidente tinha um

truque que ningu�m esperava

Isto...

Isto � crack.

Foi apreendido h� alguns dias
por agentes anti-drogas.

Em um parque, do outro lado
da rua da Casa Branca.

Vejam s�, George Bush mostra na TV
as drogas que eu tinha comprado.

Eu quase ca� da cadeira.

Foi loucura. Eu n�o acreditava.

Porque era arma��o.

Parece inocente feito bala.

Mas est� transformando
nossas cidades em zonas de batalha.

Era um teatro pol�tico.

A Casa Branca manipulando um garoto real

para prop�sitos pol�ticos
para ganhar pontos com os eleitores.

As regras mudaram.

Se vender drogas, ser� pego.

E quando for pego,
ser� processado.

E quando for condenado, cumprir� sua pena.

A Casa Branca reconheceu hoje
que um momento dram�tico

na fala do presidente Bush
declarando a guerra �s drogas

veio de uma arma��o
de agentes anti-drogas.

Ele foi l� vender drogas
na frente da Casa Branca, n�o foi?

� disso que se tratra.

Foi o que ele fez,
e ele foi preso por aquilo.

Espero que tenha sido preso
Eu n�o sei.

N�o posso sentir pena dele.

Esse adolescente sem
antecedentes criminais...

acabou passando quase uma d�cada
da vida em uma pris�o federal.

Mais evid�ncias de que as cidades
est�o perdendo a guerra �s drogas

surgiram quando a pol�cia de Nova York
enterrou um dos seus hoje.

Edward Byrne de 22 anos morreu
com um tiro no come�o da manh� de sexta.

Essa hist�ria de Eddie Byrne
foi algo grande.

Era um tira novato assassinado
por traficantes.

Sentado no carro E ele n�o... fez nada.

Se nosso filho, Eddie, dentro da viatura,

nos representando e protegendo...

PAI

pode ser morto...

por esc�ria...

ent�o nenhum de n�s est� seguro.

O que aconteceu com Len Bias
s� trouxe aten��o.

N�o houve a��o da pol�cia.

Mas ap�s Edward Byrne
ser morto no Queens,

� uma promessa.

Agora v�o sentir...
O pa�s todo vai sentir."

� uma promesa.

As mortes devem e v�o parar.

Calma! N�o tenho nada, cara!

Um assassinato mudou
a pol�cia no pa�s todo.

Os policiais piraram.

Eles enlouqueceram.

Eles criaram uma for�a-tarefa
chamada TNT.

A Equipe T�tica de Narc�ticos
do Sul de Manhattan

prendeu diversos compradores
de drogas ap�s comprarem crack no parque.

Eles pegaram todos os tiras
que encontraram

e jogaram nessa unidade,
e o dia todo faziam compras falsas.

Somos da pol�cia Est� preso.

A maioria dos consumidores eram brancos,

mas muitos envolvidos na economia
eram negros.

E a pol�cia tinha como alvo

os negros envolvidos
nessa economia subterr�nea.

Uma grande repress�o
da pol�cia sobre o crack.

Eles faziam grandes duras.

A maior dura da pol�cia
em um �nico bairro.

E quando vinham e voc� era delatado,

se eles pegassem dez doses de crack
de um e voc� n�o tivesse,

eles dividiam e deixavam voc�
com cinco e ele com cinco.

Pol�cia!

Eles vinham ao bairro por vingan�a.

-Certo!
-Rosto no ch�o!

No ch�o! Abaixe as m�os.

E da� em diante, mudou.

Eles algemavam, prendiam todo mundo

Os jovens eram parados
e revistados na rua.

Podiam ser jogados em uma viatura.

Ficavam presos por tr�s, quatro dias

antes que soubessem o paradeiro.

Diziam: "Est� vendendo drogas,
pra cadeia.

Quinze, 20, 30 anos. N�o importava.

Principalmente se fosse negro.

A pol�cia...

n�o tem ideia do que faz.

Porque n�o sabe diferenciar o bom do mau.

Voc�s s�o todos iguais. Agem igual.

Ent�o s�o tratados igual.

Eu fui presa por posse
de uma subst�ncia controlada.

E a subst�ncia era o crack.

Eu lembro de ser acordada as 3h da manh�,

e ser acordada para me vestir
e ir para a pris�o.

Eu e cerca e 70 outras mulheres,

fomos para uma sala,
tiraram nossas roupas.

Olharam para todo o nosso corpo.

E depois nos acorrentaram em uma s�
corrente longa e nos puseram em um �nibus.

De manh� cedo.

E nos levaram at� um lugar
que eu nunca havia visto.

N�o sei aonde estou indo.

E nessa viagem,
eu penso nos meus ancestrais.

E eu penso: "Que avan�o n�s tivemos?"

DISCURSO PRESIDENCIAL
DISCURSO DE POSSE DE BILL CLINTON

Senhoras e senhores,

o presidente
dos Estados Unidos da Am�rica,

William Jefferson Clinton.

Bush desempenhou um papel importante
estabelecendo as bases,

mas Clinton, precisa ser mais duro...

pois esse � o jogo.

� preciso ser mais duro.

CAP�TULO 8
MAIS DURO

Teremos os meios pelos quais dizer
que a puni��o ser� mais certeira.

SETEMBRO DE 1994

Vamos p�r 100 mil policiais
nas ruas, mais 20%.

Andando!

A guerra �s drogas ajudou a transformar
policiais em soldados.

Certo. Parados! Parem!

Dezenas de milh�es de d�lares do Congresso

v�o para helic�pteros
e militariza��o da pol�cia.

H� uma reestrutura��o da pol�cia

de tiras de rua para unidades de elite

que t�m recursos especiais
e poderes especiais.

Come�amos a ver
um novo n�vel de investimento

mirando em comunidades negras
de baixa renda

com policiamento e vigil�ncia

com penas muito mais pesadas e severas.

Minha esposa e meus filhos est�o a�.

Meu Deus!

O or�amento federal anti-drogas
chega a US$ 12 bilh�es.

Seis vezes o que era
quando Reagan come�ou,

e n�o para de subir.

Quando eu assinar essa lei de crimes,

juntos estamos dando um grande passo

para colocar as leis da nossa terra
de volta nos eixos

dos valores do povo.

A lei criminal de 1994 apoia
novos policiais nas ruas

n�o s� de grandes cidades
como Nova York e Chicago,

como cidades menores como Gary, Indiana,
Flint e Stockton, Calif�rnia.

Ha�dezenas de milh�es de d�lares
sendo investidos no sistema prisional.

E � a� que come�amos a ver a explos�o

da popula��o carcer�ria dos EUA.

As taxas de encarceramento
sobem drasticamente com Clinton.

Mas depois...

na mesma �poca, em 1994,
as pessoas come�am a se preocupar

que os presos por crack

eram quase que exclusivamente negros.

Dois ter�os dos usu�rios
de crack eram brancos.

Mas entre a Lei Anti-Abuso
de Drogas de 1988

e 1994, com a lei do crime de Clinton,

nenhum branco foi condenado

por crack em Los Angeles.

PRISIONEIROS NEGROS
POR CRIMES DE DROGAS

AUMENTO DE 707%

H� uma grande revolta
na comunidade afro-americana

sobre encarceramento em massa,

e tamb�m sobre o dano infligido
pela pr�pria economia do crack.

Muita da raiva � focada na CIA...

e seu papel na ajuda a financiar
a crise do crack.

N�o faz nenhuma diferen�a.

Se eles mesmos entregaram a droga

ou desviaram o olhar
quando outra pessoa o fez,

s�o igualmente culpados.

Vou fazer algu�m pagar
pleo que fizeram

� minha comunidade e ao meu povo.

Acho que a CIA est� envolvida.

A CIA se envolveu em tudo
de ruim que aconteceu

nos �ltimos 20 ou 30 anos.

N�s somos seu alerta!

A epidemia do crack
afetou os n�veis de pobreza

e os n�veis de seguran�a das comunidades.

A sa�de das pessoas foi afetada.

Pessoas tiveram as vidas interrompidas
ou mudadas.

Pessoas perderam a liberdade.

N�o estou trazendo drogas.

H� pessoas em posi��es importantes

-fazendo isso.
-S� pode.

� claramente compreens�vel

por que uma comunidade
t�o desproporcionalmente afetada

se subleva em nojo e horror

com a possibilidade de o governo dos EUA
estar minimamente envolvido

na entrada de drogas na comunidade.

Los Angeles foi o epicentro do crack
nos anos 1980 e 1990.

Muita da raiva em Los Angeles
se espalha pelo resto do pa�s,

e LA se torna o centro,
o epicentro da organiza��o.

E essa organiza��o acaba for�ando
o chefe da CIA, John Deutch,

a vir a Los Angeles falar
em uma escola em Watts.

O diretor da CIA esteve
hoje em Los Angeles,

tentando negar os relatos
de que a CIA, no passado,

cooperou secretamente na dissemina��o
do crack nas periferias dos EUA.

� o momento, essencialmente,
da comunidade confrontando a CIA.

Em Baldwin Village, onde moro,
n�o h� empregos para os jovens.

Nossos filhos s�o mercadorias.

Eles est�o sendo entregues �s pris�es.

Eles voltam �s ruas

e est�o marcados e traumatizados
pelo resto da vida.

Estamos abatidos, feridos e com raiva.

D�-nos uma explica��o.

Voc�, o presidente e todos os outros
deviam estar tristes

e se perguntar:
"Como esse c�ncer chegou aqui?

Como isso aconteceu?"

Todos sabemos que o governo dos EUA
e a CIA apoiaram

os Contras e seus esfor�os para derrubar

o governo sandinista na Nicar�gua
na metade dos anos 1980.

Agora se alega que a CIA tamb�m ajudou
os Contras com dinheiro para armas

DIRETOR DA CIA

ao introduzir o crack na Calif�rnia.

� uma acusa��o assustadora.

� uma acusa��o que n�o pode
ficar sem resposta.

Eu pedi ao Inspetor Geral da CIA
conduzir uma investiga��o completa.

Acho que � bem evidente

que o sentimento nesta sala
� de dor, raiva

e principalmente de desconfian�a.

Como podemos ficar confort�veis
com uma investiga��o

que ser� conduzida por algu�m
do governo

sobre as m�s a��es da CIA?

Isso � rid�culo, cara.

Espere a�.

O Inspetor Geral da CIA
fez um relat�rio bem grande.

E, na verdade, ele continha
uma s�rie de novas revela��es

sobre at� que ponto a CIA
desviou o olhar,

sabia ou colaborou
com os traficantes

na tentativa de derrubar
o governo sandinista.

O governo Reagan se preocupava menos
com a coca�na chegando a este pa�s

do que em fazer uma
guerra paramilitar

contra um pequeno pa�s
da Am�rica Central

que n�o apresentava amea�a

� seguran�a dos Estados Unidos.

Drogas, claro,
representam uma amea�a.

Se h� uma guerra �s drogas...

n�o � uma guerra contra
quem fornece as drogas?

Ou � s� uma guerra contra as v�timas
da guerra �s drogas

Essa era a hipocrisia.

E... infelizmente... nunca resolvemos.

Pessoas morreram.
Comunidades foram destru�das.

Nada foi feito.

Deixamos que as comunidades negras
fossem devastadas.

Eu fui condenada � pris�o seis vezes.

Poderia pensar que teriam dito...

que eu n�o tinha
um problema criminal...

mas de �lcool e drogas.

E que h� aux�lio para isso.

Mas nunca me ofereceram ajuda.

E eu leio os jornais hoje...

e vejo a abordagem
ao uso de opioides...

e h� um tratamento de sa�de.

N�o criminal.

Estou s�bria h� 21 anos.

Eu n�o valia o custo
de um tratamento?

Sinto muito.

Pelos �ltimos...

20 e poucos anos...

eu convivo com TEPT.

Come�ou quando levei um tiro.

E, volta e meia,
tenho crises de bipolaridade.

Mudan�as bruscas de humor.

Tenho ansiedade.

S�o coisas com que tenho que lidar

devido �s escolhas que fiz.

Sim.

Atiraram em mim em 1988.

Cinco vezes.

Eu fiquei preso por tr�s anos.

Fui preso por posse
de drogas e armas.

Eu estava perdido.

Tenho muitos arrependimentos...

pelo papel que desempenhei
na era do crack.

Perdi muitos amigos.

Muitos. Quase todos eles.

Perdi meu emprego.

Perdi minha casa.

Isso fez eu perder tudo. Tudo. E...

Cheguei ao ponto
de n�o me importar mais.

Principalmente ap�s pedir
� minha irm� para ficar com minhas filhas.

Eu mudei, de quem eu era...

para onde estou agora.

Meu Deus.

Eu tenho que pensar nos meus primos.

Meus amigos...

que foram presos

antes dos 18 anos...

devido a isso que chamamos de crack.

H� um prov�rbio.

Eu voltei ao meu antigo bairro e gritei:
"Onde est�o meus amigos?"

S� ouvi o eco dizendo:

"Onde est�o meus amigos?"

A Guerra �s Drogas custou aos EUA
perto de US$ 1 trilh�o

e a popula��o carcer�ria disparou

de cerca de 300 mil em 1980
para mais de 2 milh�es hoje.