All language subtitles for Landfill Harmonic (2015) 720p.Portugese

Paraguai!
Paraguai!

Landfill Harmonic
Uma Orquestra Muito Especial

Assunção, Paraguai

Assunção, capital do Paraguai,
alberga cerca de 2 milhões de habitantes

que produzem cerca
de 1500 toneladas de lixo por dia.

A maioria acaba no aterro
municipal conhecido como Cateura.

Cateura está a cerca
de 11 kilometros de Assunção.

Na planicie pantanosa do rio Paraguai.

É o meio de sustento
de cerca de 2500 famílias.

É uma área considerada inabitável

pois tem um elevado
risco de inundação.

Olá!

Meninos! Venham cá.

Aprender a tocar música
não é só pegar no instrumento e tocar.

Têm de praticar os exercícios
e aprender a ler música.

Eu cheguei a Cateura em 2006 para
trabalhar como técnico ambiental.

Eu tinha de trabalhar com as famílias que
recolhem materiais recicláveis do aterro

e os vendem como forma de sustento.

São conhecidos como gancheros.

O meu trabalho era ensinar-lhes formas mais
eficazes de recolher e escolher o lixo.

Assim que comecei a compreender melhor
a situação das famílias em Cateura,

apercebi-me que o futuro da maior parte
das crianças consiste em apanhar lixo,

tal como os seus pais.

As condições sociais do Paraguai muitas vezes
limitam a capacidade de sonhar.

Se nasces no sítio errado,
não tens o direito de sonhar.

contem comigo. Um, dois, três, quatro.

Quando eu era novo, a música foi a primeira coisa
a dar-me um rumo.

Assim, decidi ensinar música
aos filhos dos gancheros.

Sigam a minha contagem.
A vossa mente está a divagar.

Mal comecei a oferecer
aulas de música gratuitas,

a notícia em Cateura espalhou-se
muito rapidamente.

E muitos miúdos apareceram.

Mais crianças do que instrumentos.

Tinhamos alguns instrumentos
que nos tinham doado,

mas não tinhamos instrumentos para todas
as crianças que queriam aprender.

E eu disse para mim próprio

“temos de fazer alguma coisa,
para conseguirmos mais instrumentos”.

No entanto, uma comunidade como Cateura

não é um local
seguro para ter um violino.

De facto, um violino vale mais do que uma casa.

Conheci Colá enquanto trabalhava
no aterro como ganchero.

Colá viu que eu ensinava música
e um dia abordou-me.

Disse-me que tinha trabalhado numa carpintaria.

O Flavio perguntou-me

“Achas que conseguimos fazer
instrumentos a partir de lixo?”

Então pensei nisso durante algum tempo.

E o Favio trouxe-me um violino verdadeiro
para ver se eu conseguia fazer uma coisa parecida.

Tirei todas as medidas e fui
à procura de metal de latas.

E disse-lhe “É isto que vou
usar para fazer um violino”.

Foi um processo contínuo de tentativa e erro.

Perguntei-me se seria algo que poderia
ser usado para tocar música

ou se seria completamente inútil.

Quando toquei o primeiro violino foi
um momento de iluminação,

apercebemo-nos que poderia funcionar como
um verdadeiro instrumento musical.

Então, tomamos consciência que também
poderíamos fazer outro tipo de instrumentos.

Podemos usar isto para
fazer uma bateria.

A pela desta bateria é uma radiografia.

Usei-a para fazer um violoncelo.

Este estranho violoncelo é feito
a partir de uma lata de óleo

e de uma colher de madeira
usada para cozinhar.

Estas cravelhas são feitas
de colheres de madeira,

uma torneira

e um salto de um sapato de senhora.

Dois bons pedaços de madeira,
um bocado de uma palete,

que eu usei para um violoncelo,
contra-baixo e violino.

Ninguém acreditava que conseguiríamos fazer
instrumentos musicais a partir de lixo.

Mas no final, fizemo-los todos.

NOVEMBRO, 2011

Toquem usando a parte de cima do arco.

Hoje, é a primeira vez que estão a tocar esta música.
Vão enganar-se.

Mas não se preocupem, ok?

Têm de treinar até conseguirem
Vamos lá outra vez.

No início sentia-me muito frustrada,

porque nada do que eu tocava soava
tão bem como eu queria.

Ok, espera um segundo.

Não.

Numa boa orquestra,
todos os violinos soam ao mesmo.

Isso significa que tens de tocar as
mesmas notas e ter a mesma afinação

e tens de usar a mesma arcada.

A tua técnica é o que faz com que
o instrumento soe diferente.

Por isso é que a tua técnica é tão importante.

Vamos lá tentar outra vez. Um, dois, três…

Um dia, a minha avó viu um anúncio de aulas
de guitarra e violino

e sem me perguntar inscreveu-me.

Eu costumava sonhar que seria cantora.

Eu adoro música, especialmente música rock.
Sou fã dos Beatles e de grupos do género.

Eu costumava pensar “Como seria fantástico
aprender a tocar música”.

Antigamente, se queria aprender música
tinha de pagar para ter aulas em Assunção.

Depois descobri esta oportunidade de aprender
música a partir de instrumentos feitos de materiais reciclados.

Nunca pensei que pudesse ser grátis,
especialmente nos dias de hoje.

Eu vivo com o meu pai,

a minha mãe,

a minha irmã
e os nossos animais.

Tens de cortar todos os nós.

Senão é dificil de trabalhar.

Trabalhava como ganchero
quando tinha 16, 17 anos.

Foram quase 2 anos que trabalhei no Aterro.

No aterro, tive a sorte de encontrar no lixo
muitas cassetes.

Uma das melhores cassetes que encontrei

foi um albúm do Phil Collins.

A música dele marcou muito a minha vida.

Depois disso comecei a descobrir outros
artistas que nem sabia que existiam,

como Led Zeppelin e Black Sabbath.

Esta foi uma das coisas mais importantes
que ensinei às minhas filhas.

Músicos de toda a parte do mundo.

Eu sempre me interessei pelos
três grandes compositores.

Mozart, Sebastian Bach, Ludwig van Beethoven,

Jimi Hendrix, Sex Pistols.
Quem nunca ouviu falar deles?

Toda a minha vida tentei fazer parte de uma banda
ou ter um instrumento para tocar.

Mas nunca tive a oportunidade.

Adeus mamã.

As minhas melhores amigas são as violinistas:

Maria,

Natália

e Tânia.

O meu bem mais precioso é o meu violino.

Trato-o como a uma jóia

Tenho outras coisas bonitas, como bracelets,
anéis e colares.

Mas já não me interesso tanto por essas coisas.

Agora, estou mais focada no meu violino.

Olá rapazes. Como estão? Vão entrando.

- E tu Jorge, como estás?
- Ótimo.

Dão-me um instante da vossa atenção?

Alguém ouviu falar na nossa orquestra e
convidou-nos para tocarmos num evento.

Isto significa que temos apenas alguns
dias até à nossa primeira performance.

A peça que vamos tocar é “Ode à alegria”

pois é a peça que querem ouvir nessa noite.

E a maior parte da peça será tocada
pelos primeiros violinos.

Tentem de novo.

Muito melhor.

Cada elemento do grupo é uma pessoa única.

Alguns de nós aprendem a música
mais depressa que outros.

Alguns de vocês estão muito concentrados,
mas outros têm problemas em prestar atenção.

Estas são as dinâmicas de grupo, ok?

Então, temos de ajudar aos que têm dificuldade
em concentrarem-se e a aprender.

Compreendem?

Devem manter-se focados.

Um cone de gelado para cada, apenas um.

Agarrem-se a isso. Assim é que é.

Porque me enganaste?

A melancolia acabará por me matar.

Sem ti, a minha vida acaba.

Já está? Bom trabalho, Maria.

Gostas?

Não.

Quem pôs as cordas neste violino?

Estão ao contrário.

Os nossos instrumentos estão desafinados.
Temos de afinar outra vez.

Têm a certeza que têm a pauta correta?

Então, o que é que está mal?

Um, dois, três e…

mais uma vez, última vez.

Vamos aplaudir

o diretor Favio Chávez
e o Orquestra Reciclada de Cateura.

para vosso prazer.

Nesta altura, estarmos em palco
é um feito para nós.

Se tocamos bem ou não é secundário.

O desafio que enfrentamos

foi o de converter a nossa pequena orquestra

numa orquestra sinfónica.

Começamos a acreditar que podíamos
realmente tocar música.

Há 25 anos, esta enseada era limpa
e a areia branca.

Costumavamos chamá-la Arroio Moroti
na língua Guaraní,

quer dizer “Enseada Branca”.

Costumavamos lavar aqui a roupa.
E as crianças tomavam banho.

É uma pena.

Quando a minha família se mudou para aqui,
não havia jardins.

Não havia nada.

Não se podia plantar nada,
quando chovia inundava-se tudo.

Temos de plantar ao longo da enseada para
impedir que a terra caia.

Se não reforçarmos as margens do rio
a nossa casa pode inundar.

Quando chove muito a água
pode atingir esta altura.

Mas, graças a Deus, aqui já não há mais cheias.

Estou convencido que o ambiente e a
deterioração à nossa volta

determinam a nossa qualidade de vida.

E eu sempre quis fazer algo quanto a isso.

Eu pensava ter a solução para o problema
de lidar com o lixo,

mas a realidade ensinou-me que não.

O projeto de reciclagem,
que me trouxe a Cateura, falhou.

Falhou porque teria de se mudar
o sistema totalmente,

desde da sua raiz.

Mas o meu falhanço,

como que por magia, fez com que persistisse
com a ideia da orquestra.

UM ANO DEPOIS

Um, dois, três, e

ok, parem, não, não.

Ok.

Tornem as notas mais redondas.

Como grupo, temos
a nossa primeira apresentação

a nível internacional daqui a dez dias.

Um, dois, três e

Recebemos um convite para atuarmos
no Rio +20 World Summit, uma conferência

internacional relacionada com política ambiental.

Ainda temos muito trabalho a fazer,

não só melhoramentos a nível musical,
mas preparação emocional.

Não quero referir ninguém em particular,

mas prepararmo-nos para um evento importante
não é só aprender a música.

Cada um necessita de se preparar pessoalmente.

Precisamos de desenvolver atitudes proativas.

Essas atitudes são as que nos ajudam a
atingir os nossos objetivos.

Assim, precisamos de nos focar naquilo que nos
ajuda a atingir resultados positivos.

Vocês não são como os miúdos da rua,
ou como quaisquer outras crianças.

Prepararem-se para esta viagem não tem só a ver com música.

É muito mais do que isso.

Perceberam? Entreajudem-se.
Somos uma equipa.

A nossa força resulta da nossa unidade.

Um, dois, três e

toquem mais alto.

Os violinistas têm a tarefa
mais árdua de todo o grupo.

Necessitam de ter uma
atitude diferente dos outros.

Quando duvidam das suas capacidades,
o instrumento não soa bem.

Podem não ter confiança
na música que tocam,

mas têm de confiar neles próprios.

Porque é que não tocas?

Eu estou a tocar.

Não estás não.
Tu não estás a tocar.

Vamos repetir tudo uma outra vez.

Um, dois, três e

não tenham medo de tocar.

Toquem sem medo.
Não tenham medo de tocar.

A Tania não tem pai.
Ele está longe da casa dela.

Ele abandonou a família.
Então ela agora vive com a mãe dela.

A sua mãe trabalha todo o dia e a
Tania tem de tomar conta dos seus irmãos.

Ela é como uma segunda mãe.

Tivemos um pequeno problema familiar e
as coisas não estiveram muito bem.

Agora vivo em casa da minha tia,
um pouco mais longe, mas é só isso.

Não vejo qualquer problema nisso.

Como mãe, posso-lhe dizer que sustentar
todos os meus filhos é muito difícil.

Nem sempre consigo acompanhá-los.

Pelo menos tento dar-lhes conselhos de como
tomarem conta de si próprios.

Eu costumava ver a Tania a passear junto à minha casa,
mas não sabia quem ela era.

Vais levar o teu instrumento?

Não, está na escola.

Ah, deixaste-o lá.

Estás tão bonita.

Conheci a Tania no dia em que
comecei as aulas de violino.

Fiquei impressionada com a sua forma de tocar.

Ela inspirou-me a tocar violino.

Inicialmente queria tocar guitarra,

mas quando a vi tocar violino também quis.

Podíamos tentar ensaiar segunda,
quarta e sábado.

A Tania está emocionalmente fechada.

Podemos praticar em casa da Maria.

Quando lhe perguntamos coisas da sua vida,
ela não nos diz nada.

A minha melhor amiga é a Maria porque
ela é boa pessoa.

E ela é capaz de guarder segredos.

Se a Tania estiver com muitas pessoas
perto pode ser muito tímida,

mas quando conhece
as pessoas torna-se amiga.

Torna-se uma aliada
e procura-nos constantemente.

É uma grande amiga.

Quantas raparigas temos? Quatro?
Não. São seis.

Lembrem-se, estas t-shirts são para o concerto.

O que acham desta cor? Opiniões?

Estamos prontos. Obrigado.

Vamos.

Esta será a primeira vez que
vou andar de avião.

Será a minha primeira estadia num hotel.

E também será a primeira vez que vou ver o mar,

mas o mais excitante será conhecer
um novo país e estar com os meus amigos.

Penso que todas as roupas
que tenho caberão aqui.

Diz-me se gostas.
Fala agora ou cala-te para sempre.

Podes vende-los, cada um por 450 guarani?
Sem qualquer desconto?

- 480 cada, concordas?
- Sim.

Ok, vamos. Obrigado, senhor.
Até logo.

Um dia, a Maria esqueceu-se do seu arco na cama,
enquanto estava a tocar violino.

Quando eu fui para a cama parti-o.

Qual é o gesto que o Estéban sempre faz?
Qualquer coisa assim—

o Favio compreende a tua linguagem
e os teus gesto únicos, não é?

Eu acho que ele está quase pronto para
publicar um novo dicionário.

Espanhol - Estéban, Estéban – Espanhol.

O Flávio vai-lhe perguntar
“O kit da tua bateria já está pronto?”.

E ele vai responder
“Sim, eu só preciso”.

O que ele está a tentar dizer é
“Eu só preciso de rodar o pedal”

Eu tenho um problema de audição.

Quando eu tinha oito anos tive papeira.

Afetou-me a garganta e o ouvido interno.

Ele sempre foi hiperativo.

Fazia música com tudo o que encontrava.

É algo que me faz sentir livre.

É a minha personalidade.

Tocar bateria liberta-me.

Levamo-lo ao médico e ele disse que
ele já não podia tocar bateria.

Este diagnóstico deprimiu-o imenso.
Ficou muito deprimido.

Não queria fazer nada.

Foi como se me tivessem espetado
uma espada no coração.

Disseram-me que teria de
usar um aparelho auditivo,

mas eu decidi continuar a tocar bateria.

Eu não quero saber do meu problema.

Este é o nosso último ensaio antes
de viajarmos para o Brasil.

Estamos a certificarmo-nos que todos os nossos
instrumentos estão a funcionar corretamente.

Ainda há muito a fazer.

Antes de um grande evento,
tenho sempre dificuldade em dormir,

ou sonho que me esqueço de fazer alguma coisa

ou que há um problema maior.

Eu nunca tenho tempo suficiente para
antecipar todos os desafios que possam surgir.

Tenho de vistoriar duas vezes os documentos

deles, para garantir que podem viajar.

Todos o violinos - toquem lá.

Vamos tentar de novo,
mas desta vez com vontade.

Primeiro que tudo, todos vocês estão
a lutar com as notas.

Cada nota devia soar de forma estaladiça,
mas as vossas notas estão como que enlameadas.

Vocês estão a tropeçar nas notas.

Nós fomos convidados a tocar e há grandes
expetativas há nossa volta.

Eu sei que não somos grandes estrelas,
como outros grupos,

mas mesmo assim temos de dar o nosso melhor.

Esta já está gasta.

Para ser um músico da Orquestra Reciclada,

não só tem de se aprender a tocar música
com estes instrumentos em particular,

como também tem de se resolver os problemas
que os instrumentos sempre têm.

Cada membro da orquestra é, ao mesmo tempo, músico
e luthier (fabricante de instrumentos de corda).

Vou tirar as mossas deste instrumento.

tem de ser mais Redondo,
o mais próximo de um círculo possível.

Tenta com o macaco.

Dá mais uma ou duas voltas.

Ok, está bom.

Não, agora não quero nenhum.

Sem música, a minha vida não
teria qualquer significado.

Aqui, no Paraguai, há um documento
muito importante que

as crianças necessitam para poderem viajar

Os pais têm de ir a tribunal

para assinarem um documento

que autoriza os seus filhos a sair do país.

Vou ao encontro do pai da Tania

pois ele tem de assinar a autorização
para ela poder viajar para o Brasil.

O pai da Tania disse-me que se eu não fosse
à sua procura,

ele não garantiria aparecer
para assinar os papéis.

Hoje é o dia em que os pais dos
miúdos têm de assinar as papeladas,

porque o juiz vem ter connosco agora mesmo.

Se o pai da Tânia não aparecer,
ela não poderá ir ao Brasil.

Eu não me lembro da última vez que vi o meu pai.

As coisas eram muito difíceis com o pai da Tânia.

Ele era muito violento connosco.
Ele bebe muito e eu não pude aguentar mais.

Tania, isso deve ser muito difícil.

Daquilo que ouvi, parece-me difícil que crianças
que cresceram nestas circunstâncias

terminem bem.

Ele já está no aterro?

Eu não sei. Tens de ir ver.

Pergunta ao patrão dele.

Eu vou ficar à entrada do aterro.

Vou só ficar aqui mais um segundo
e depois vou para a cidade.

Vamos já para aí.

Eles disseram-me que eu tinha permissão
para entrar no aterro.

Não encontro o Eugénio.

Vou chamar pelo rádio.

Vê se ele está no aterro.

- Olá.
- Estive à sua espera

- Quando?
- Ontem.

- Não. Eu disse-lhe para estar aqui hoje.

Eugénio, venha cá

Senhor, a sua identificação e a da criança.

O mais difícil aqui, não é trabalhar
com as crianças é trabalhar com os pais.

A sua morada, senhor?

- Sónia Jazmin? Sónia?
- Tania, Tania.

- Certo, Tania.
- Tens o teu cartão de cidadão?

Vão para o quarto guichet.

Mãe, o que é que se passa?

Tens tudo pronto?

Que mais vais levar contigo?

Pus demasiadas roupas aqui,
não cabe mais nada.

Quando o avião descolar vai abanar imenso.

O que é normal, mas será só por um instante.

Pai, gostarias de ir?

Sim, gostaria de ir ver as mulheres brasileiras.

Adeus Pai.

Finalmente.

Nati,qual é o teu armário?

É o número 5.

Se precisares de sabonete,
a mulher da recepção disse que tinham algum.

Uau. Topa isto.

Vem cá e
senta-te comigo à janela.

Mais cinco minutos.

A ansiedade que estou a sentir é impressionante.

Estou com pele de galinha.
Estou excitada e nervosa.

RIO +20 SALA DO CONCERTO

Olhem, não fiquem nervosos.
Vão estar aqui muitas pessoas.

Lembrem-se de sorrir.

O único momento em que precisam
de ficar sérios é quando acabamos uma música

e estamos quase a começar a próxima.

Porque nós não sabemos o que vai acontecer.

Mas isto é uma oportunidade única para mostrarmos
a orquestra e representarmos o Paraguai.

Como é que isto soa? Toda a gente excitada?

Tocamos todo o tipo de música.

Por exemplo, tocamos música clássica
que provavelmente já ouviram antes,

mas estou certo que nunca ouviram
Mozart tocado com lixo.

Vamos à praia!
Vamos à praia!

Qual foi a vossa primeira sensação,
quando viram o mar? Contem-me

Eu fiquei, uau, com a boca aberta.

A maior parte das pessoas não chegam a viver isto.
Não lhes é possível viajar.

A experiência que estão a viver é maravilhosa.

É difícil para vocês compreenderem
a amplitude da vossa experiência,

mas no futuro será uma
experiência inesquecível.

Àqueles que viajaram, gostaria de dizer-vos
que o público gostou do concerto.

Todos tocaram muito bem.

Esse é o resultado de muito trabalho.
Quando fazemos sacrifícios e somos responsáveis,

recebemos o reconhecimento do público.

Depois da viagem ao Brasil, em 2012, um pequeno video
sobre a Orquestra Reciclada foi colocado na internet.

Chamo-me Ada Maribel Rios Bogado.

Tenho 13 anos e toco violino.

Este violoncello é feito de um bidão de óleo.
E soa assim.

Quando o vídeo sobre a nossa orquestra
foi postado na internet,

muitas pessoas, de todo o mundo,
interessaram-se pelo que fazemos.

Olhem para isto. É um garfo.

Um grupo de crianças do Paraguai
construiu todos os seus instrumentos

a partir de coisas que encontraram no lixo.

Porque embora toquem música clássica,
fazem-no com instrumentos completamente feitos de lixo.

O vídeo está a ter um grande impacto no mundo mediático.

Por um lado, toda esta atenção foi algo bom,

mas por outro foi um grande desafio.

Porque fomos atirados para situações
desconhecidas a uma velocidade assustadora.

Gostaste da coluna?

O meu pai gosta realmente de rock e heavy metal.

Crescemos a ouvir esse tipo de música.

Eu sempre fui fã dos Megadeth.

São como deuses para mim.

Tive a ideia de tirar uma fotografia
e enviar-lhes

para saberem que têm fãs na nossa orquestra.

Com outros membros da orquestra, que também
são fãs dos Megadeth,

pintamos Megadeth
no meio da bandeira do Paraguai.

Tiramos uma fotografia a segurarmos a
bandeira e os nossos instrumentos reciclados

Postamos no meu facebook e partilhamos
na página do David Ellefson.

Ele respondeu-nos e começamos a trocar e-mails

Quando ouvi a história dos miúdos de Cateura,
o que realmente me tocou foi

a universalidade do espírito humano.

A música é uma linguagem que transcende todas as outras.

As pessoas sentem-se atraídas por algo orgânico,
que realmente toque o seu coração e fale com o seu espírito.

E é assim que eu me sinto quanto a ir ao Paraguai,
toca o meu coração, sinto como que um chamamento.

Então é aqui, ok.

Conhecer a Ada,
ela é a minha heroína, sou seu fã.

Parece que até estou um pouco nervoso
em vir até aqui encontrar-me com ela.

Este momento é muito fixe.

Podes vir aqui?

Onde está a Ada?

Aqui está ela! Ah!

Ada! Como estás? Como estás?
Como estás?

Estou tão entusiasmada.

Montes de emoções.

Oh, eu sei, eu também. Eu também.

Nem posso acreditar.

Ela nem consegue acreditar.
Ela nem pode acreditar.

Eu sei. Nem eu acredito que estou aqui.

Isto é realmente fantástico.

Ela, ela é a minha nova estrela rock preferida.

David, este é o Favio.

Hei, Favio. Olá!
Como estás? Como estás?

Olá, olá, olá, olá.
Feliz por conhecer-te.

Obrigado, também estou
muito contente por te conhecer.

Sim, obrigado.

Benvindo— benvindo à nossa escola.

Uau. Então isto é que é uma escola?

Como estás?

Olá a todos. Reconhecem-no?

Hei! Como estão? Olá!

Sou um grande fã. Então...

Ele é um grande fã da orquestra.

Soube de vocês através do Facebook.
Eu vi. Sim, é essa.

Quando começaste a falar com
os miúdos através do Facebook,

a primeira coisa que a Ada disse foi
“Ele sabe que nós existimos!”

Eu só quero que vocês saibam que me inspiraram
a passar à frente, em busca de novas músicas,

assim, por favor continuem e nunca parem
o que estão a fazer. Obrigado.

Estilisticamente, dois géneros totalmente diferentes,
instrumentos diferentes, mas o coração é o mesmo.

Eu adorava que a nossa banda pudesse continuar
isto de alguma maneira ou forma.

O Colá é tão boa pessoa.

Por isso me apaixonei por ele.

Apaixonei-me por ele porque ele
é o meu tipo de homem.

Nós trabalhamos juntos e entreajudamo-nos.

Eu nunca poderia ter imaginado que
as coisas corressem tão bem.

Nós agora temos tudo o que precisamos.

Conseguimos a nossa casa.

Mesmo que não seja
a casa mais bonita, para mim é bonita.

Eu costumava preocupar-me muito,
pois faz muito calor no aterro.

O Colá quase morreu a trabalhar lá.

Ele esteve no hospital durante um mês e 22 dias.

Ele ficou doente por trabalhar no aterro.

Mas agora ele já não trabalha no aterro como ganchero.

Só lá vai para trazer-me comida para os porcos.

Às vezes traz latas velhas e contentores
de metal para fazer os seus instrumentos.

Eu gosto mais do meu trabalho agora,

pois faço algo belo

para alguém que adora tocar música.

É um instrumento que eles podem tocar.

É algo que eles vão apreciar

porque o que fazemos
é uma coisa de beleza.

Eu gostava que nós víssemos
algumas das novas músicas

que o amigo que acabou de nos visitar
pediu que praticássemos.

Eu ouvi esta música no You Tube.
É uma música dos Megadeth.

Alguma vez ouviram esta música
tocada por uma orquestra?

Não.

É provável que venham a tocá-la
com uma orquestra.

Com a nossa orquestra, em Denver,
nos Estados Unidos, dia 2 de agosto.

É muito entusiasmante saber que
vou tocar com os Megadeth.

É uma surpresa inesperada.
Faz-me muito feliz.

Tocar com uma banda rock,
ser reconhecido internacionalmente

e tocar nos Estados Unidos.

É o meu sonho.

Oportunidades destas são como um comboio
que passa apenas uma vez na vida.

Tem de se arriscar mesmo que não se
sinta totalmente preparado.

DENVER, COLORADO

É aqui que vão tocar hoje à noite.

Torna-se muito diferente quando
todas as pessoas já cá estão.

Os níveis de energia disparam.
Eles vão estar nervosos e excitados.

Quando os Megadeth chegarem
vocês vão ensaiar com eles.

Vocês vão por esta porta aqui atrás.

Ok.

Então, ela vai marcar o chão para toda a gente.

Vocês rapazes, quero que estejam bastante
atentos na fila de trás.

Vão ficar mesmo na borda do palco.
Têm de ter cuidado.

Ok rapazes, a banda vai agora entrar em palco.
Vão para os vossos lugares.

Temos Ellefson connosco.
Onde está o senhor Mustaine?

Olá. Como te chamas, querida?

Tania.

Tania. Ok.

Obrigado, muito obrigado.

Quanta honra em conhecê-lo.

É rápido, rápido, um, dois, três,
certo?

Ele está a ouvir--

Ele vai ter isso. Vamos arranjar
uns auriculares agora mesmo.

Ok, sim. Então ele saberá que virá.

Não, não adianta. Não, não,
isso é um bom pedal.

O meu pedal partiu-se durante a viagem.

Durante a viagem, está partido.

Não, ele pode,diz-lhe que ele
pode ficar com o meu.

Eu vou dar-lho,é a minha prenda para ele.
Ele pode ficar com ele, ok?

Ele disse que podias ficar com o pedal dele.
É um presente para ti.

Sim, guarda-o, ok?

Ah! Obrigado, obrigado, muito obrigado.

O prazer é meu, todo meu.

Sim, obrigado por tocarem connosco esta noite.

Vai ser fantástico.

Sim, sem problema.

Sabem o quão alto vai ser?

Como está o volume para vocês?

Um, dois, três,
certo, certo é isso mesmo.

Um, dois—

não apressem. Não acelerem.

O baterista é incrível.

Meu, o baterista esta a "partir tudo"!
Até faz faísca!

Sim, tem cuidado.

Da América do Sul, para a América do Norte,

deixem o dom da música
e o vosso espírito brilhar em palco.

Pele de galinha.

ok, embora lá dar um concerto.

Aqui vamos nós.

Estamos agora mesmo a andar.

Senhoras e senhores,

a Orquestra Landfill harmonic.

Vamos!

Senhoras e senhores, palmas para a
Orquestra Landfillharmonic do Paraguai.

Deus vos abençoe. Obrigado por terem vindo.
Estamos muito orgulhosos de vocês.

A Orquestra Reciclada, um grupo do Paraguai
veio até Saskatchewan esta semana

para espalhar diversão e inspiração.

Três concertos este fim-de-semana,
primeiro um em Winkler, hoje,

e dois em Winnipeg amanhã.
E vão continuar pelo Canadá.

Agora vão levar o seu espetáculo a Amesterdão.

A rainha Sofia de Espanha assistiu a um
concerto esta manhã no Teatro Nacional de Madrid.

O concerto era da Orquestra Reciclada de Cateura,
Paraguai.

Então o que é que faz a diferença e permite
que estas crianças estejam em palco?

É a oportunidade.

Dêem as boas vidas à Orquestra Reciclada de Cateura!

Sinto-me como que a viver um sonho,

mas que eventualmente acabarei por acordar.

Quem acreditaria que a Orquestra Reciclada
chegaria tão longe?

Eles estão a preparar-se
uma tourné pela América

do Sul com a banda de heavy metal Metallica.

Cateura! Cateura! Cateura!

Foi aí que uma das raparigas
disse que tocamos o céu.

Junho, 2014

No Paraguai, cheias severas desalojaram
milhares de pessoas.

Segundo as últimas contagens,
há 43000 famílias afetadas no país.

De acordo com o Secretariado Nacional de emergência,
este número representa 214000 refugiados.

Foi a maior cheia dos últimos 20 anos.

As famílias em Cateura estão a ser forçadas
a abandonar as suas casas por causa das cheias.

Os refugiados das cheias estão a viver
em acampamentos improvisados,

em estruturas de plástico,
inseguras, nas ruas e praças.

Com o passar das horas, o número
de famílias desalojadas aumenta.

Agora mesmo o aterro de Cateura
está totalmente inundado.

O que pode ter consequências ambientais sérias.

Aquela era a minha casa.

Quando a chuva começou, o nível das águas
do rio começou a subir muito rapidamente.

Tive de vender todos os meus porcos porque
não tinha onde os guardar.

Ali era onde a orquestra ensaiava.

A minha maior esperança, de momento,
é a Orquestra Reciclada.

Nós tivemos de sair como refugiados para
um local mesmo ao lado do aterro.

Salvei esta lata para fazer um violino.

As cheias afetaram toda a gente aqui.

A minha família foi afetada,

parentes,

amigos,

e toda a gente que conheço do meu bairro.

É difícil assistir a isto na nossa comunidade,
onde crescemos.

A maioria da população não tem para onde ir.

Há momentos em que a natureza consegue ser brutal
para com os seres humanos.

Estamos cercados por água por todos os lados.

Estamos quase a ter a nossa casa inundada

e temos de encontrar uma maneira de sairmos daqui.

A cheia preocupa-me muito.

Quando vejo todas estas casas inundadas
– especialmente a minha – fico realmente triste.

Ver pessoas nas ruas a pedirem ajuda.

São roupas de bebé, querida, para um bebé.

Há muitas pessoas que só pensam em si
próprias e não estão dispostas a ajudar.

É muito difícil deixarmos o nosso bairro,
onde nascemos e crescemos.

A minha mãe está muito preocupada com tudo isto.

Ela não queria abandonar a nossa casa.

Eu perdi tudo.

Sinto-me desesperada.
Não sei o que hei-de fazer.

Por um momento a água estava a subir lentamente
e de repente a água subiu.

E foi aí que perdi a esperança.

Encontro-me contigo na quarta-feira, ok?

Estamos a tentar encontrar casas para as
famílias dos miúdos da orquestra

que perderam as suas casas nas cheias.

Como orquestra queremos encontrar
solução para este problema.

Quando as águas descerem, eu mesma
carregarei tudo para casa se tiver de ser.

Ninguém poderá dizer
“Aquela mulher é preguiçosa.”

Eu trabalho muito. Sou uma lutadora.

Sou uma lutadora.

Nunca abandonarei este bairro.

O que mais me preocupa é a minha mulher.
Ela está desesperada para voltar a casa.

À noite, não consigo dormir, então rezo
a Deus e à virgem Maria.

Rezo para que as águas desçam

e para que os ventos do sul levem as chuvas.

Por agora, a orquestra tem-nos deixado ficar na escola.

Se a orquestra não nos tivesse deixado ficar aqui,
estariamos a viver nas ruas.

Mas viver na rua não é uma opção segura.

No futuro, gostaria de encontrar uma
morada permanente para a minha família.

Boas notícias. O nível das águas do rio Paraguai
desceu 3 cm em Assunção.

E o nível das águas parou de subir.

Pela primeira vez desde maio, o nível das
águas do rio Paraguai não sobe.

As águas das cheias estão a baixar devido à
descida do rio Paraguai.

As águas estiveram quase a chegar a nossa casa,

mas tivemos muita sorte e a nossa casa não inundou.

Quase dois meses e meio depois,
as águas estão a baixar.

As famílias estão a voltar para as suas casas.

Toda esta zona está a voltar à vida.

Faremos tudo o que for preciso para
reconstruir as nossas casas e o nosso bairro.

Lutarei até ao fim.

Vamos deitar abaixo o letreiro “Para venda”.

- Segura a escada.
- Não te preocupes, estou a segurar.

Toma. Guarda tu.

A ideia é que algumas famílias da orquestra
se mudem para aqui

O plano é que tu te mudes diretamente.
Não vais voltar para a tua casa antiga.

Concordas com este plano?

Sim?

Eu sempre estarei ao lado dela.
Eu sempre a apoiarei e ajudarei.

Dali consegues ver o aterro.
E ali é a casa do Colá.

Certo, vamos ver qual é o problema.

Arranjamos isto num instante.

Desde que começamos a fazer os instrumentos,
todos neste bairro me conhecem

Os miúdos dizem-me “Dom Colá,
fazes-me um violino?”

Faz-me feliz saber que todos os miúdos
me conhecem e que gostam de mim.

Aqui tens. Tudo arranjado.

- Obrigado, Dom Colá.
- Obrigado. Não te esqueças do teu arco, pequeno.

Muito bem. Só umas últimas notas.
Vamos tocar todos agora.

Vamos tentar de novo.

Um, dois, três.

Um, dois, três.

O meu sonho é tornar-me numa
professora de violino.

Quero ter muitos estudantes da comunidade

e dar-lhes a oportunidade
de sonharem como eu tive.

No futuro, gostava de ser músico profissional.

Não me vejo a fazer outra coisa.

Durante todos estes anos com a orquestra,

aprendi a valorizar os meus amigos,
família e aqueles que apoiam o que estou a fazer.

Quem me pode ajudar a pendurar este plástico?

Temos de estender e prendê-lo de alguma forma.

Usa o fio para o pendurares ali.

Cuidado, Colá!

Aposto que comeram tudo.

Isso é suficiente.

Mandioca?

Sim, só para que todos saibam,
eu não vou chorar.

Eu não vou chorar.

Parabéns a você! Tania! Tania!

Não! Vão-me fazer chorar!

A música é uma força unificadora.

Se tiverem talento e trabalharem bastante,
é possível concretizarem os vossos sonhos.

Olá, boa noite. O meu nome é Favio Chávez.

Sou o maestro da Orquestra de Instrumentos Reciclados de Cateura.

Um, desculpem o meu inglês acabou-se.

Bom, em espanhol.

Boa noite.
É um prazer estar aqui.

O nosso objectivo é demonstrar que a
cultura é uma necessidade básica humana.

E que a música pode mudar vidas.

E mesmo quando vivamos nas condições de
vida mais desfavoráveis,

nunca devemos parar de sonhar.

Não ter o que quer que seja,
não é uma desculpa para nada fazer.

Muito obrigado.

A Orquestra reciclada criou a oportunidade
para uma mudança auto-sustentada nas vidas

das crianças e famílias de Cateura.

Mas esta mudança leva tempo e precisa de apoio.

Recentemente formaram a associação de pais
de Cateura que está a trabalhar para melhorar a saúde,

educação e as condições básicas para
as famílias da comunidade.

PARA APOIAREM ESTA CAUSA, POR FAVOR VISITEM: WWW.THELANDFILLHARMONICMOVIE.COM

Tradução: Teresa Lima