All language subtitles for Black Tie - Portuguese

Ih... espera a�.

- Vai, vai. Diz pra mim, vai.
- N�o. Agora n�o.

Ora, o que � isso, dengosa?
Conta pra mim, vai!

Agora n�o. Pronto!

Est� bom.

- Conta, vai...
- N�o.

N�o conta...

N�o! N�o! N�o!

- A minha viola n�o!
- Espera a�. � gente boa, companheiro.

� trabalhador,
eu respondo por ele.

- Documento!
- Eu moro aqui ao lado.

Estou falando, eu respondo por ele!

Corre n�o que � pior.
Esse pessoal n�o pensa, atira.

N�o pode andar sem documento
n�o. Viu, � panaca?

Lugar de violeiro � no nordeste.
Vai se mandando, vai!

Vou dar uma paradinha em casa.

- Est� tarde, Ti�o.
- Est� nada. Amanh� � domingo.

Vamos esperar acalmar.

- Pronto, l� se foi minha sand�lia.
- E minha cal�a ent�o? Olha a�.

Fala baixo, que vai acordar o pessoal.

Acorda n�o.

� melhor a gente ir andando.
Me leva pra casa, vai.

Pra ficar enterrada na lama?
N�o, senhora.

- A Dona Romana vai achar ruim.
- Vamos esperar estiar.

N�o sei porque vai achar ruim.

Ent�o...

Agora vai contar esse
segredo ou n�o vai?

Voc� gosta mesmo de mim?
De verdade?

� dengosa...
sem voc� eu n�o sou nada.

- Fala baixo que ele vai acordar.
- O Chiquinho? Nem com uma bomba.

Vai! Fala pra mim.

Fala a�. Qual � esse segredo?

� coisa s�ria, Ti�o.

E eu quero que voc� seja
muito sincero comigo.

Voc� me ama mesmo, assim,
de querer viver junto?

Eu te adoro, Maria.

Eu nunca senti isso. Palavra. Eu fico
com voc� na cabe�a o dia todo.

Eu tamb�m te amo muito, Ti�o.
Muito mesmo.

Fala, fala, fala tudo, meu anjo.

Ti�o...

Olha, eu...

eu...

� que...

- Nos... sabe...
- Est� gr�vida?!

Psiu, seu louco...!

Um garoto...

P�, n�o brinca comigo. N�o,
fala s�rio. N�o brinca...

- � sim.
- N�o, mas est� certo, certo?

Est� sim. Eu vi o
resultado do exame.

P�xa, voc� ficou o dia inteiro
sem me falar?!

Voc� tinha que ficar
o dia inteiro quieta?

Tive medo. N�o queria que voc� pensasse
que eu estava querendo te for�ar...

a casar comigo. Eu n�o quero
te obrigar a nada, Ti�o.

� bobona! Marco o casamento
amanh� mesmo!

Sen�o vai come�ar a aparecer e
depois d� bolo na tua casa.

Aparece logo n�o. E bolo tamb�m
vai dar se a gente casar sem noivar.

- Ent�o � marcar o noivado logo.
- Espera, Ti�o. Voc� quer mesmo?

Veio porque tinha de vir, viu?
A gente pode dar outro jeito.

Quieta...

Nem pensa nisso.

S� estava esperando me ajeitar
melhor na f�brica.

Mas o que eu queria � poder ficar com
voc� num lugar melhor pra gente.

Mas sendo assim, tudo bem.
Tudo bem, a gente apressa.

Tudo bem, a gente apressa.
N�o tem problema.

Voc� est� contente mesmo?

Eu quero que voc� n�o se preocupe, t�?

- Eu s� queria era viver contigo.
- E vai viver!

Festa de noivado daqui a
duas semanas, t�?

Gol! N�o,
n�o chora.

- Eu n�o disse que ele acordava?
- Dorme a�, Chiquinho. N�o foi nada.

- Voc�s est�o a�, �?
- Fala baixo, sen�o vai acordar sua m�e!

Estava sonhando com o nosso
jogo dos office-boys.

Precisa ir um dia l� ver, Ti�o.
Marquei dois gols!

Dorme a�, dorme a�, sen�o a velha
acorda e tu sabe o que acontece.

Chiquinho, n�s vamos ficar
noivos daqui a duas semanas.

- Boa! E quando casa?
- Logo, logo.

- Eu tamb�m vou com a Devinha, Ti�o.
- Deixa de onda, moleque.

Vou casar sim.
Deixa s� eu entrar pra f�brica.

- F�brica n�o d� sustento pra ningu�m.
- D� pra tu, d� pro pai,

- por que n�o vai dar pra mim?
- Dorme a�, � panac�o. Deita.

Est� tarde, amor.
Vamos indo?

Vamos esperar estiar.

P�, a m�e n�o deixa nada pra
gente comer, mas nem pra rem�dio.

� Ti�o...

� Ti�o! A m�e � gozada pra burro,
n�? Sabe...

Ela d� as broncas dela,
mas tem esportiva.

Hoje ela quis me bater com a colher
de pau. A� me abaixei e zapt!

A colher quebrou na pia! A m�e
xingava e ria, xingava e ria.

Vai. � melhor tu ir dormir sen�o
vai levar paulada e � agora.

- U�? Mas o que � isso?
- Esperando a chuva passar, pai.

- Boa noite, Seu Ot�vio.
- Salve, mo�a.

- Como � que �, pegaram muita chuva?
- Eu enterrei meu p� na lama.

� pouca vergonha dessa Regional a�.
Cal�amento, n�o �? Guia...

esgoto, que � bom;
encanamento, n�?

Eles s� pensam, sabe? S� pensam,
porque, no mais, � s� promessa.

Cambada de sem-vergonha.
Epa...

Pensei que estivesse dormindo.
Na farra, hein, pai?

Farra?! Farra v�o ver eles
l� na f�brica.

Olha.. e querendo, podem aproveitar
o guarda-chuva. Est� furado, mas serve.

Mas � que... eu acho gra�a nesses
caras. Eles contrariam a lei...

numa por��o de coisa.
Mas, na hora de pagar o aumento,

eles querem se apoiar na lei, p�.
Vai se preparando, hein, Ti�o.

Se eles continuam assim, eu n�o dou
duas semanas...

e vai estourar uma bruta
de uma greve que...

A� eu quero ver se eles v�o dar o
aumento ou n�o, n�?

Se n�o pagar, greve! H�?

Assim � que tem que ser.

- Vamos indo, Maria?
- Sabe, Seu Ot�vio?

O Ti�o resolveu uma coisa.

Ah! Resolvemos sim, pai.
N�s vamos ficar noivo.

�! Daqui a duas semanas!

N�o est� meio apressado n�o?

Bom... � o que a gente quer.
Vamos fazer logo, n�?

� uma teoria, n�?
S� que n�s, olha...

- Dinheiro nenhum.
- Ah, tem festa e eu n�o sabia!

Depois n�o vem se queixar de
reumatismo n�o, viu, Ot�vio? Olha a�!

Andando na chuva,
procurando encrenca, n�o �?

Quanto mais o tempo passa,
mais bobo fica.

Como � que vai, Maria?
Acho bom voc� ir andando, hein?

Daqui a pouco sua m�e
vem a� te procurar.

- Calma, mulher. Calma.
- Calma? Mas que calma? Que calma?!

Quem levanta daqui a pouco sou eu!
Quem faz caf� sou eu!

Quem chama voc�s sou eu!

- Mas que gandaia � essa?
- A chuva, m�e.

Paramos aqui por causa da chuva. O pai
chegou e estamos aqui conversando.

V�o ficar noivos
daqui a duas semanas.

Mas est� tudo louco...

E voc� n�o podia esperar at� amanh�
para me dizer essa besteira.

Perd�o, Maria, n�o � nada contigo n�o.
Mas esses dois n�o pensam em nada.

Eles chegam berrando, e a doida aqui,
que se dane. Sem dormir, cozinhando,

trabalhando, acordando antes
para acordar eles...

Mas que noivado � esse?

Pois �...
n�s resolvemos ficar noivos.

Daqui a duas semanas.

Ot�vio, isso � hora
de marcar noivado?

Hein?

Eu ouvi bem que tu, h� pouco,
estava falando em greve.

Pelo amor de Deus, Ot�vio,
pelo amor de Deus,

n�o se meta em confus�o
de novo, Ot�vio.

Noivado...

Greve...

- E a burra aqui que se dane.
- M�e! Eu tamb�m vou casar com a...

Deitado a� que n�o � da tua conta!

Acho bom cada um ir
pra sua cama.

Amanh� a gente conversa. N�o �
nada contigo n�o. Viu, Maria?

� que esses dois s�o de amargar...

P�ra com essa porcaria...

dessa pinga nojenta que amanh� tu tem
que levantar cedo pra consertar o po�o.

�- �, furac�o...

Mas ela est� certa, coitada.
Amanh� a gente conversa melhor.

Daqui a duas semanas, �?
Vamos l�, � a vida.

Bronca, noivado, greve...
At� amanh�, mo�a.

Levem o guarda-chuva, hein?

Voc� n�o disse nada o caminho todo.
Preocupado por causa da crian�a?

Palavra, Ti�o.
Eu sou capaz de entender.

Eu s� n�o quero que voc�
case por obriga��o.

N�o, n�o � nada disso n�o.

� essa quest�o l� da f�brica,
esse neg�cio de greve, n�.

� fogo, sempre d� bolo.

Vai dar tudo certo.

- Tchau.
- Tchau.

Bi�?

- Bi�!
- O que que �, Maria?

- Abre a�. Sou eu.
- Tu enche, hein, Maria?

- Eu estava quase dormindo, p�.
- Abre a�, me ajuda...

que o pai est� na sala.

� saco! Amanh� vou querer
mais cinco mangos. Falou?

Falou.

T�, t�, pode me largar. Obrigada.

Dorme a�, irm�ozinho.
Est� tarde.

- Cinco mangos amanh�, hein?
- Est� combinado.

Voc� vai me desculpar, viu, Maria,
mas voc� est� ficando muito boa.

Eu te arrebento, safadinho.

Ainda bem que eu vou
me mandar daqui.

Como � que �, m�e?

Melhor.

- Demorou, filha.
- Por causa da chuva.

Tomou o rem�dio?

Ah, Maria, n�o sei o que eu fa�o...

N�o pensa, m�e, n�o pensa.
Dorme. A senhora est� precisando.

At� amanh�.

Fica com Deus, filha.

Chegou, n�o �?

Pensa que eu n�o te vi?

Como �? Cansou de se
esfregar por a�? Hum?!

Deu muito por a�, deu?!

Voc�s precisam � de pancada.
N�o sei onde � que eu estou...

que eu n�o arrebento.
N�o ag�ento mais essa vida.

Vem pra cama, Jurandir.
Desliga essa televis�o.

Vai-te � merda!

Hoje ainda sai porrada.

Dorme a�, Bi�.

Precisando de ajuda, m�e?

N�o, meu filho. Vai... Olha,
n�o chega atrasado pro almo�o.

- � Ti�o, vamos numa a�, mano a mano?
- Toma jeito, � calhorda.

Vai cuidar da namorada, vai.

Al�pio, me d� uma 51.
Pra bater a tremedeira.

- Solid�o, companheiro?
- V� te catar! Vai bater na m�e!

- T�o delicada ela hoje...
- V� � merda.

- Est� irritadinha assim por qu�?
- N�o estou a fim de brincadeira, t�?

Est� bom. Est� certo.
N�o est� mais aqui quem brincou.

Agora, pode se saber a raz�o
do mau humor, pode?

Preocupa��o, cuca quente.

Ah, mas n�o adianta esquentar, velho.
Vai levando, vai levando.

- Pensa que � f�cil.
- Esquentar � que n�o adianta, t�?

D�-Ihe, garoto!

Vai nessa.

Obrigado.

- Est� sabendo dos bochichos de greve?
- Claro.

Agorinha mesmo estava o teu velho
l� na pra�a fazendo com�cio;

ele e o Br�ulio distribuindo os
panfletinhos deles.

Enquanto n�o pegar mais uns de
cana, o velho n�o sossega.

- Est� na dele, n�, Ti�o?
- �... e eu que me dano, n�?

Ag�entar a barra do
Seu Ot�vio � dose.

- Tudo certo?
- Certinho.

Olha, Ti�o, vai levando.
O que que h�?

Olha a� o tira-gosto.

- Pra forrar o est�mago.
- �, falou.

- Mais uma cerveja?
- Vai bem.

E duas mangua�a mais,
viu, Al�pio?

- Devagar com o andor, hein, cara?
- Vai te catar, vai, Al�pio.

Fala s�rio.

Ti�o, bati um pap�o com os caras. A
proposta � batata, n�o tem talvez n�o.

Se a gente n�o conseguir emprego
na ger�ncia, vai pra encarregado.

E � sempre umas milhas a mais, falou?
E a condi��o � s� essa:

ficar do lado deles, vigiar o movimento
do pessoal antes que estoure.

Voc� me entendeu ou n�o?

- Espi�o, n�?
- Espi�o? Auxiliar de ger�ncia.

N�o me agrada n�o.

� Ti�o, esse pessoal parece
que n�o enxerga.

A turma n�o fez greve ano passado?
E agora est� precisando de outra.

E vai precisar de mais outra, e mais
outra, e nunca vai se acabar.

A gente vive com a corda no pesco�o,
velho. Ent�o, qual � o jeito?

O jeito � ficar do lado de quem manda.
Esses � que est�o sabendo.

Ti�o, n�o tem sa�da.

Sabe, Zino?

Maria vai ter um filho meu.

Vai ter um filho, Ti�o?
Est� brincando.

Eu l� ia brincar? Maria vai ter um
filho meu. Preciso casar daqui a um m�s.

Te juro que caso com a Maria e n�o
fa�o ela passar necessidade.

Porra, Al�pio! Como � que �?!
Traz a cerveja, vai.

Segura a� que eu estou
atendendo aqui os distintos.

Olha, velho, sabe?
Mas tem um por�m, sabe?

H�?

Eu vou ser franco contigo, viu, Ti�o?

� que o desprezo a� da turma
me mete medo, sabe?

Eles chamam logo a gente de traidor,
de pelego, sabe como � que �, n�?

Ora, greve � a defesa de um direito.

Se voc� n�o quer usar esse direito,
ningu�m tem nada a ver com isso.

�... eu acho que � isso a�.

Que cada um quebre os seus galhos
do jeito que pode, n�, Ti�o?

Ah, � isso a�.

Mas tu vai ser pai mesmo,
�, Ti�o? Gozado, hein.

Gozado, gozado � a m�e.

- Porra, at� que enfim, n�, Al�pio?
- Est� a�, seus pingu�os.

Olha a�. O palmeirense a�
n�o sabe nem servir. Olha a�.

Agora eu quero ver.

Vamos l�.

Agora acabou a poesia, hein, dengosa.
As coisas n�o caem do c�u n�o.

Tamb�m n�o precisa ficar emburrado
por causa disso.

N�o estou emburrado,
estou s� preocupado, n�.

Tem que arrumar lugar pra morar,
dinheiro pra comprar as coisas.

- T�m os Fundos de Garantia.
- Grande Fundo que a gente tem, n�?

Mas deixa comigo, eu me arrumo.
Arrumo uma nota emprestada a�.

Que mulher minha vai ter filho numa
boa. Quarto particular, muita flor...

e sapatinho azul pendurado na porta,
porque vai ser homem e parecido comigo,

- que � pra poder vencer na vida.
- Shi... baixou o santo!

Vamos dar uma passadinha
na casa da Silene?

Ih, est� meio tarde agora.

N�o quer n�o, �?

Assanhada!

Te amo, Ti�o, meu querido...

Mais um pouquinho e a gente vai
pode ficar junto, junto, junto.

� Ti�o, eu estou falando, falando,
e voc� a� "hum-hum", �...

N�o enche, Maria.
Estou aqui numa boa.

Est� n�o, est� diferente.

O que � isso, dengosa?
Eu te amo muito.

Gosta?

Gosta?

Vai aproveitando,

porque daqui uns tempos, olha...

- Reuni�ozinha dif�cil!
- Mas a turma entendeu.

Todo mundo que resolver a quest�o l�
no sindicato. � o que est� certo.

O Sartini e a turma dele � de morte.
Querem sempre ganhar no grito.

Querem ensinar a greve no golpe.
Que mania!

Parece que n�o aprenderam
nada com o tempo!

Voc�s v�o atr�s desses bunda-moles?
Nunca v�o conseguir nada!

Qual � a tua, Sartini? N�o temos
condi��es de parar nem a Santa Marta...

que dir� toda a categoria?
O sindicato...

Est� na m�o de pelego! O que interessa
� que os pre�os v�o subindo,

o sal�rio verdadeiro diminuindo.
O trabalhador est� na mis�ria.

Pois �, velho. Est� todo mundo na
mis�ria. O povo est� na mis�ria.

Ent�o, porra! Vamos ficar nessa de
papo, nessa de negocia��o?

Negocia��o � com m�quina parada, o
�nico argumento que patr�o entende.

- Produ��o parada!
- Fazendo a� o seu com�cio, Sartini?

E n�o � para fazer? Voc�s afrouxaram,
est�o contra a greve.

Estamos contra a porra-louquice.
Queremos a greve sim,

- mas quando a categoria quiser.
- Vai me dizer que a categoria n�o quer.

- N�o.
- Est� todo mundo na pior.

Comida na mesa, que � bom, n�o tem.
A infla��o comendo...

Chega, Sartini, chega.
Estamos sabendo, n�?

- Amanh� a gente desce junto, t�?
- T�. Passo aqui pra te pegar.

Tchau.

Tchau.

Que susto, pai! O que o senhor
est� fazendo a� no escuro?

Pensando, filha...

Melhor o senhor ir deitar.

- Boa noite.
- Espera, filha.

Parab�ns, viu? Voc� vai se casar
com um bom mo�o.

Eu sei.

� nisso que eu estava pensando. Faz
tempo que a gente n�o se entende, n�?

Deixa pra l�, pai. A gente vai
acabar se entendendo.

� o que eu mais quero.

Estou aproveitando n�o estar b�bado
pra poder pensar.

Passei a tarde e a noite inteira
sem beber!

- Salve!
- O Cris�stemo esteve aqui.

Me arrumou emprego.
Come�o na semana que vem.

Isso � bom. Assim o senhor
n�o fica t�o desesperado.

�... agora com esse emprego
estou mais sossegado.

Quem sabe a gente melhora.
A bebida tamb�m atrapalhava um pouco.

Parei, filha. Parei.

Estou contente, pai.

D� um abra�o aqui no teu velho. anda.

Perdoa, filha. Nem sempre a gente
acerta, mesmo querendo.

Shi... n�o fica xarope, n�o.
Vai deitar, vai.

Vou ficar mais um pouco.

� bom pensar de cabe�a limpa.

O qu� que foi, pai?
Te expulsaram de casa, �?

Pois �. Eles est�o dormindo
e eu estou sem sono.

Hum... mas eu queria mesmo
� falar com voc�.

� assim... � coisa � toa. Vamos
tomar uma l� no Al�pio, vamos?

- �, amanh� � dia de trampo, n�, pai.
- Mas que trampo, que trampo.

Uminha s� pra calibrar, hein?

- D� ainda pra sair uma a�, Al�pio?
- Est� bom, est� bom, vamos entrar.

Boa noite.

- O qu� que vai?
- O qu� que vai?

Cerveja.

N�o, n�o. Encharca. Pra mim
d� uma caninha, viu, Al�pio?

Como � que �?
Fez muita subvers�o hoje?

Fizemos uma boa reuni�o, viu?
Eu falei at� em voc�.

- U�! A troco de qu�?
- De eu ter sido obrigado a...

deixar voc� aquele temp�o todo
vivendo com os teus padrinhos.

Acho que foi uma experi�ncia que
virou a tua cabe�a, viu, Ti�o?

Quem muda de casa,
muda as id�ias.

O que eu podia fazer tamb�m, n�?
Eu em cana,

teu irm�o pequeno,
n�o dava, n�? N�o dava n�o.

Quando casei com a tua m�e, eu estava
numa situa��o muito pior que a tua.

Perseguido, desempregado... Hic...
mas n�s resolvemos enfrentar, brigar.

- Tamb�m sou de briga, pai.
- N�o, eu sei.

Mas eu tenho a impress�o de que
voc� est� um pouco perdido, Ti�o.

Se a gente papeasse mais,
eu, talvez, pudesse te ajudar.

Obrigado, pai, mas... eu acho que quem
pode me ajudar sou eu mesmo, n�?

Olha. �s vezes a gente tem um
problema e a gente s� v� o problema,

- n�o v� mais adiante.
- Sei onde me aperta o sapato e porqu�.

- Sabe mesmo?
- Quer apostar?

Daqui uns anos a gente conversa, t�?

- Bom, vamos dormir, pai.
- N�o, a saideira. � Al�pio...

Ningu�m se mexe! Se mexer eu mato!
Al�pio, me esconde!

- � que os homens est�o atr�s de mim!
- Te esconder onde, �, cara?!

Me esconde, porra! Desta vez n�o!
Morremos tudo aqui,

- mas desta vez eles n�o me levam!
- Vai pelo fundo, desgra�ado,

pula o muro.

Vamos embora, pai.
Isso aqui vai esquentar.

Fica a� que os homens v�m com tudo!

- Cad� aquele filho da puta?
- Sei l�.

Ele amea�ou a gente com arma e
desembestou a� pro fundo.

- Parado a�, seu puto!
- N�o vem n�o, hein! N�o vem n�o!

N�o pensa que v�o me machucar
de novo n�o!

J� chega, filhos da puta!
Voc�s me marcaram, seus veados!

N�o pode fazer isso comigo n�o!
Eu sou de menor!

Agora � melhor sair.
Vou fechar.

Chamaram cinco pro Departamento
Pessoal. Est�o falando em demiss�o.

- Quais foram?
- N�o sei bem, mas o Onofre, o Mafra...

- e o Tito est�o no meio do bolo.
- Vamos organizar, vamos organizar.

Do jeito que vai n�o vamos organizar
nada, est�o despedindo meio mundo!

Vai, Sartini...

- Oi, Maria.
- Oi.

Como � que �? Pegou todo o enxoval
ou nem deu tempo pra ver?

Depois a gente conversa.

Despediram tr�s da montagem. Est�o
dizendo que v�o mandar muitos embora.

Tr�s?!

- Nem deixaram bater o cart�o.
- Mandaram pro DP.

Acertaram as contas e
estamos conversados.

Est�o despedindo os caras mais
conscientes das se��es mais fracas.

Est� na cara, est�o querendo
acabar com a lideran�a.

N�o pode, Ot�vio, n�o pode, n�o
pode despedir desse jeito, porra!

- Vamos parar a f�brica e � agora!
- Sossega, italiano! N�o � bem assim!

E da�, Br�ulio?
Vai ficar por isso mesmo?

Vai n�o. Mas calma! Olha a�,
todo mundo pro trabalho, hein?

Todo mundo pro trabalho. Eles est�o
querendo que percamos a cabe�a.

O que sei � que tem
dedo-duro na parada.

- �, tamb�m.
- S� pode ter.

- Que safadeza, hein, gente?
- �, Jesu�no, despediram oito.

Oito?!
Puta que pariu!

Ti�o, est�o te chamando no
Departamento. Vai l�, viu?

Como � que �, Russo?

- Como � que �?
- Ah, "como � que �" pergunto eu.

Por que te chamaram no
Departamento Pessoal, hein?

N�o foi nada n�o. Fui l� pedir um dia
de folga pra cuidar das minhas coisas.

Te deram?

- Amanh�, o dia inteiro.
- � Ti�o...

N�o estou te falando? Os homens v�o
com a tua cara. N�o te disse?

Aproveita agora e d� uma
m�ozinha pra eles.

Que m�ozinha � essa?

Ti�o...

Eu, por exemplo...
bom, eu...

Eles estavam querendo saber
uns nomes a�. A� eu falei.

Falei, Ti�o. Sen�o eles
ficavam me cobrando.

- Puta sacanagem, Zino!
- N�o, Ti�o, eu...

eu...

Vai inventando uns nomes porque eles
v�o te cobrar tamb�m.

- T�m uns nomes bons: Br�ulio, Ot�vio...
- Vai-te � merda, porra.

Calma, garoto. A vida n�o � assim
como a gente quer, n�o.

� a nossa chance, companheiro.
� preciso levar vantagem em tudo.

Com um jeito aqui, outro ali, pronto.
Voc� est� com escrit�rio, secret�ria.

E ningu�m vai te perguntar
como voc� conseguiu.

Voc� pode matar, roubar que
ningu�m vai te perguntar.

E tu ainda diz: "Aproveitei a
chance, companheiro. "

Uns e outros a� chegaram
at� a presidente.

- T�, seu presidente, come a�.
- Olha a�, �. D� uma olhada.

Tudo agachado, tudo quietinho. Bando
de carneiro, bando de bunda-mole.

Quer dizer, est� tudo bem, n�?
Faz de conta que est� tudo bem.

N�o est� acontecendo nada.

A gente perde companheiros por
lutarem por eles e ningu�m faz nada.

Fica tudo quietinho
enchendo a barriga!

Calma, Sartini, a barra j�
est� pesada, rapaz.

- Eu n�o engulo esse italiano.
- Nem eu. S� tem garganta.

Pra mim seria um favor se
ele fosse despedido. Tu n�o acha?

- Outra vez sopa?!
- E olhe l�.

- Eu n�o vou querer n�o, Dona Romana.
- Que n�o vai querer, menina.

Deixa de besteira. Onde comem
quatro, comem cinco.

A minha m�e disse para
n�o abusar da senhora.

Esse pessoal n�o vai deixar
de ser besta.

Com aquele barrig�o, coitada,
cuidando de tudo...

Vai, vai jantar, vai.
Parece um cani�o de magra...

e ainda fica a� sem comer?

- Mas, viu, Romana...
- O qu�?

- despediram oito l� na f�brica.
- Por causa de qu�?

Eram os mais combativos, n�?
Escolheram a dedo.

Os melhores de cada se��o.

V� se te cuida, viu, Ot�vio?

- D� aqui.
- N�o.

Pra cima de mim eles n�o v�m n�o.
Te garanto.

- Sabem que tenho o apoio da turma.
- N�o sei n�o, hein, pai.

- Achava bom o senhor tomar cuidado.
- Eu sei o que fa�o.

�, se o senhor perder esse emprego, n�o
vai ser f�cil arrumar um outro, n�?

Vai com calma, n�, Ti�o. Eu tamb�m
n�o sou nenhum baga�o.

S� estou falando pro senhor
tomar cuidado. Ainda mais agora.

N�o vai ser f�cil pra mim, sozinho,
sustentar duas fam�lias.

E quem est� falando nisso?

Olha, de minha profiss�o eu entendo.
Eu sou um bom oper�rio.

Por isso que, apesar da minha
exposi��o, eu sempre tive emprego.

S� n�o trabalhei quando
eu estava na cadeia.

- Minha capacidade todo mundo reconhece.
- N�o estou falando da sua capacidade.

Ti�o, voc� est� se borrando de medo.
Esse seu casamento �s pressas...

e n�o vou perguntar porque voc�
resolveu assim t�o de repente,

est� deixando voc� mais medroso
ainda. Mas n�o precisa se preocupar.

Eu estou aqui. E voc� n�o vai ter
que cuidar de duas fam�lias.

- Cuide da sua, se conseguir.
- Calma. Chega, Ot�vio.

Eu n�o estou nervoso. Mas � que fico
chateado de ver um mo�o desse,

com a vida pela frente, mas com medo da
pr�pria sombra, olhando pra ponta do p�.

Mas levanta a cabe�a, mo�o!
Os tempos j� s�o outros.

Voc� cresceu na ditadura, est� certo.
Mas p�ra e pensa, p�.

Chega, Ot�vio!

Vamos comer em paz.

Eu estou falando justamente pra gente
poder fazer tudo em paz.

Os tempos s�o outros.
Mais �nimo, pombas!

Os trabalhadores est�o a�,
se organizando.

O qu�? Est� dif�cil, mas est�o.
Est�o sim.

N�o � hora de pensar em perder
ou n�o perder emprego.

� hora de batalhar. Vai l�, Ti�o.
Aparece nas reuni�es,

na assembl�ia do sindicato.
Coloca as tuas opini�es!

Vive mais com os teus companheiros.
Olha, voc� acaba perdendo essa...

essa agonia que a gente v� a�
nos teus olhos.

Que agonia o qu�, pai. Ah, me deixa.
Nem sei porque eu falei.

Falou porque tem medo que eu v� em
cana, que eu perca o emprego...

e atrapalhe a tua vida, teu
casamento. Por isso falou.

- N�o � nada disso, p�!
- Ih, meu Deus.

L� vem voc� de novo, Ot�vio. N�o vai
come�ar tudo outra vez, Ot�vio.

Eu sei o que eu passei. N�o estou a�
pra come�ar de novo!

Mas que de novo, Romana?

Olha, eu sei, p�. 15 anos de ditadura
� fogo. Marca a gente.

Mas as coisas mudam.

E voc� pensa sempre como
se nada mudasse.

Pra voc� parece que n�o existe �gua
corrente, � sempre po�a d'�gua.

- Precisa enxergar a �gua correndo!
- �gua correndo? Po�a d'�gua?

Fala que nem louco, pai. Porra!

Desde que eu me conhe�o por gente que
ou�o esse papinho, mas � a mesma merda!

E eu � que n�o sei enxergar direito?
O senhor v� o que o senhor quer ver!

No dia que o senhor enxergar mesmo
a verdade das coisas...

o senhor vai querer dar um tiro na
cabe�a, porque o senhor � honesto...

e vai perceber o mal que o senhor
fez pra n�s todos aqui nesta casa...

com essa alegria a� de "precisa
organizar", "a classe oper�ria",

e n�o sei o que l� de hist�ria...
Sempre na merda!

Na cadeia, meio morto de porrada,
dando um duro naquela bosta de f�brica,

sem futuro, isso se n�o morrer
em cima daquele torno!

Voc� est� mal, hein, Ti�o.

Mal uma porra.

Mal uma porra, est� sabendo?

Eu estou melhor que o senhor. Eu vejo
a bosta em que a gente est�.

Mas o senhor diz que ela � bosta
corrente, que passa! Olha!

Precisa refor�ar essa porta,
sen�o ela n�o ag�enta.

- U�?! Voc� est� doente?
- Doente? Por qu�?

N�o foi trabalhar!

Me deram o dia pra cuidar
das minhas coisas.

Ti�o?

V� se fala com o teu pai.

- Voc� ofendeu muito ele ontem.
- N�o. O pai tamb�m irrita, n�, m�e?

V� tudo bonito. N�o se cuida,
vai entrar pelo maior cano.

- E n�s junto.
- Voc� n�o est� sendo justo com ele.

- Vai ver n�o estou.
- Pois �.

Liga n�o.
Depois eu pe�o desculpa pra ele.

�, assim � que �, meu filho. Coisa
mais feia rixa de filho com o pai.

N�o quero isso n�o, t�?

Cuidado, viu, Ti�o? N�o complica a�
o que j� est� mais do que complicado.

- Deixa de cisma, velha.
- Cisma?!

Eu � que sei.

Cora��o de m�e n�o se engana.

- Eu quero ganhar mais...
- Eu tamb�m...

- O que em tr�s dias vai conseguir?
- Olha l� o Br�ulio.

Di�logo com patr�o, � isso a�,
� m�quina parada, produ��o parada.

A� que eles entendem a
linguagem da gente.

- Fica nessa de arrego...
- Que merda, hein, Sartini?

- Pois �.
- Dessa vez foi com voc�.

Eu e mais dois. Que me mandem
embora, at� entendo.

Mas aqueles dois coitados...
n�o t�m nada a ver.

Est� na cara, eles querem mostrar que
n�o est�o despedindo s� gente nossa.

N�o me deixaram entrar. Nem pra pegar
as minhas coisas me deixaram entrar.

- Filhos da puta!
- N�o esquenta, Sartini.

Voc� arranja emprego f�cil.

T�, fica nessa de mais-mais. T�?

Daqui a pouco voc�s dois tamb�m est�o
na rua, viu? Todo mundo na rua.

A� � que eu quero ver.

Boa noite.

- Boa noite, Seu Jurandir.
- H� quanto tempo n�o vejo isso!

Namoradinha de port�o,
� moda antiga.

� bonito, meus filhos. Bom, fiquem
a� namorando que vou descansar...

pra amanh� acordar novo. Hum?

Sabe, filha. Amanh� vou me
sentir um cabra �til.

- Cedinho come�arei na obra.
- Legal, Seu Jurandir.

- Felicidades pro senhor.
- Obrigado. Bom, at� amanh�.

- At� amanh�.
- Demora n�o, filha.

Voc� tem dormido muito pouco.

Me d� um cheiro.

Bom dia, pai.

Bom dia.

N�o vi o senhor ontem.

Estava vendo um neg�cio a�
de casa, dinheiro.

Me deram folga l� na f�brica.
Vou repor as horas depois.

Estou sabendo.

Sabe, pai?

N�o liga pro que eu disse n�o.

O senhor est� certo, eu estou
meio perdid�o mesmo.

Muita responsabilidade, assim
de repente, pra mim...

a gente acaba dizendo o que n�o pensa,
falando demais, o que n�o quer.

Que nem de porre, n�?

N�o se preocupa n�o.

Esquece.

Eu j� esqueci.

Eu respeito e admiro
muito o senhor.

�pa...

faz tempo que n�o eu ouvia
uma declara��o dessas.

Est� ouvindo agora.

Voc� � um bom mo�o.

Cabe�a quente, mas...
um bom mo�o.

Maria est� gr�vida, n�o est�?

Est� sim.

Eu tinha certeza, viu?

- Desce comigo?
- Des�o.

Legal ser av�, viu?

O dia foi bom, mas fiquei muito tempo
parado. A gente perde o costume.

Estou mo�do.

Seu Jurandir, d� para
recuperar a viga?

Mas n�o tem d�vida.

N�o abalou nada. A rachadura
foi coisinha pouca. Recupera sim.

Amanh� o senhor me d�
um jeito nela, t�?

Num instantinho. Escute, sem querer
abusar logo no primeiro dia,

n�o d� pra me ver uns
duzent�o de adiantamento?

� s� pra pagar umas d�vidas,
tornar abrir umas portas.

- O que eu devo, eu pago.
-200 eu consigo.

- Pega comigo na sa�da, t�?
- Obrigado.

E esse seu pai que
n�o vem, hein?

Olha, eu vou deitar um pouco, viu?

Assim que ele chegar, voc� me
chama pra servir a janta.

Chamo coisa nenhuma. Vai dormir,
eu apronto pra ele.

Nada disso. Me chama, sim senhora.

Est� bom, m�e.

Vai deitar, vai.

Mas, por que Durval?

�... � legal. Por que
Roberto, Antonio...

Espera a�. S� pra gente se entender
direito. Voc� est�...

gostando desse filho mas, ao mesmo
tempo, n�o est�. N�o � isso?

Dengosa, meu amor...

vamos acertar de vez esse assunto?

Olha, eu estou muito feliz
com o Durval.

Eu adoro a m�e do Durval.

S� que o Durval, para mim, era
daqui uns dois, tr�s anos,

mas ele veio antes. Quer dizer, o
Durval est� meio fora de hora.

Mas tudo bem.

Tudo bem.
J� que ele est� aqui...

tudo bem. E viva o Durval!

Olha, Ti�o, est� em tempo. Se � para
te deixar do jeito que voc� est�,

o melhor que temos a fazer � mandar
esse Durval de volta e esperar outro.

Se voc� vier com essa conversa de
aborto de novo, brigo com voc�.

E brigo s�rio. Quem est�
a� � filho meu.

E sou muito homem pra ag�entar
essa parada.

N�o me vem com essa de tirar.
Est� falado?

Est� falado. Marido dur�o
voc� vai ser, hein?

- Parado a�! � assalto!
- O que foi, compadre?

Estou falando que � assalto. M�o na
nuca, anda, sen�o te queimo.

Est� rindo gra�as de qu�, ot�rio?

Deita a� no ch�o, anda,
de barriga pra baixo.

Ah, besteira, compadre.
Est� errando o pulo.

Eu n�o tenho nadinha. Foi-se tudo
em cacha�a, posso Ihe garantir.

Deixa de bancar o vivo.
No ch�o!

Olha aqui, companheiro,
de mim tu s� tira a roupa...

que est� mais podre que o dono.
O resto � tempo perdido.

Est� querendo tirar sarro da minha
cara, �? Isso aqui n�o � brinquedo!

- Eu te queimo.
- Olha, estou Ihe avisando.

Tu est� errando o bote.
Procure coisa melhor.

- Quer morrer, filho da puta?
- N�o �, mas n�o d�...

Ah, vamos... esquece.
Vamos mais � dormir, rapaz.

...liberar o corpo s�
depois da cinco da tarde.

Ti�o, agora tudo ficou diferente.

�, eu sei.

- Depois a gente fala, t�?
- Eu quero falar agora.

N�s n�o podemos largar
minha m�e e o Bi�.

Se a gente casar, vai ser pra
vir morar aqui.

At� minha m�e morrer tamb�m.

Eu sei que ela n�o
vai ag�entar muito.

Depois � cuidar do Bi�.

Fiquei com ele no colo desde quando
o pai pegou ele pra criar.

Eu sei, eu sei.

� meu anjo, n�o te preocupa n�o.

A gente casa e vem morar aqui, t�?

Eu n�o consegui casa pra n�s mesmo.
A gente fica aqui e cuida deles.

- Vamos voltar?
- Claro.

Oi, mo�a...

Vai com o Ti�o at� l� em casa.
Voc� precisa descansar um pouco.

N�o. Eu quero ver o pai.
Nunca vi direito o pai.

Coisa mais besta, meu Deus,
morrer desse jeito t�o est�pido.

O Ti�o me preocupa.

O Ti�o se vira.

Todos n�s j� passamos
por coisa parecida, n�?

Sabe, Ot�vio?

Eu n�o queria te contar...

- mas n�o acho certo voc� n�o saber.
- O qu�?

A Maria...

ela me contou...

Eu n�o devia te falar.

- Mas ela me contou...
- Que est� gr�vida do Ti�o.

U�... Como � que voc� sabe?

Voc� vai indo, eu j� venho vindo.
Eu sei de tudo, velha.

- E nem pra me contar?!
- Voc� acabou sabendo, n�?

Por mim, mas eu ia te dizer.

E voc� sabendo de tudo,
e a� quietinho, quietinho...?

- Voc� n�o presta, Ot�vio.
- Mas calma, vov�.

Cuidado com o cora��o.

Vamos ser av�s, Ot�vio.

Est� ficando velho, Ot�vio.

Eu?

- Voc� pode estar...
- Eu?

Porque eu estou muito
� em forma.

L� vem complica��o...

Levanta n�o.

Mas calma, p�, calma.
Estou aqui.

- Est� cinza, velho. O que houve?
- A turminha do berro ganhou.

Aprovaram greve geral
pra segunda-feira.

Mas n�o pode, Br�ulio,
vai ser uma derrota.

Tentamos, mas n�o adiantou. O presidente
do sindicato tirou a dele numa boa.

Jogou a responsabilidade da greve pra
oposi��o. Lavou as m�os!

A assembl�ia aprovou.
Segunda-feira, greve geral.

Mas que besteira, que besteira.

Agora v�o nos pegar de cal�a curta,
n�o tem nada preparado l�, nada.

Ele fazem a burrada, e a gente
que se "funfi", n�?!

Merda!

Ah, companheiro, v� pra casa.
Vai descansar.

- Amanh� conversamos direito. Vai.
- �...

� Ot�vio, como est�o indo
as coisas a�?

O Ti�o foi passar a noite l� na casa
da Maria, com a m�e dela.

- A velha est� um caco.
- �... � fogo, n�?

P�e fogo nisso.

- Boa noite, Ot�vio.
- Tchau.

Puta que o pariu!

� Sartini, onde � que tu te meteu
ontem o dia inteiro, rapaz?

Vem n�o. Foi decis�o da assembl�ia.
Vem com essa n�o.

- � vontade da classe.
- Olha, vontade da classe uma porra!

Agora a In�s � morta. Adianta ficar a�
de papo? Adianta � parar todo mundo!

Acha que com essa greve arrancada no
golpe vamos conseguir alguma coisa?!

Companheiro, vai baixar repress�o. N�o
estamos preparados. Vai ser uma derrota.

- E quem vai lucrar � o patr�o.
- Repress�o?

E vamos ficar a vida inteira se borrando
de medo por causa da repress�o?

Vamos � se preparar pro pau. Organizar
piquete na porta das f�bricas.

Que piquete?! Est� pensando que um
piquetezinho desse teu...

vai paralisar uma categoria inteira?!
Est� pensando o qu�, Sartini,

que estamos em S�o Bernardo?! N�o
temos organiza��o pra isso ainda n�o!

Voc�s precipitaram tudo e
voc�s confundem tudo.

Pensam que meia d�zia de companheiros
de uma fabriquinha como a Santa Marta...

vai conseguir resolver os problemas
dos oper�rios de 17 mil empresas?!

Deixa de ser besta, Sartini. Tu est�
irritado porque tu foi despedido.

- S� por isso.
- Espera, Ot�vio. N�o � nada disso.

Estou revoltado � com as demiss�es. Uso
cal�a e n�o vou ag�entar essa sacanagem.

N�o sou de pano quente. Agora, essa
sua atitude, Ot�vio, de, de repente,

ficar do lado da turma do deixa-disso
� que me espanta, viu?

S� espero que esses buchichos de que
foi o teu filho Ti�o que me dedou...

- n�o esteja influindo na sua atitude.
- Olha, tu deixa de ser calhorda!

Companheiros! Companheiros!

Todo mundo est� sabendo que a pr�pria
dire��o da empresa � que espalha...

esses boatos pra dividir e
desmoralizar a gente.

- E n�o � por causa de um calhorda...
- Espera a�! Espera a�!

Quest�o pessoal n�o vale! Vamos tomar
a� um negocinho pra esfriar a cabe�a.

E vamos discutir com calma.
Isso n�o � quest�o pessoal.

� pol�tica.

� pol�tica!

Eu vou deitar, viu, gente?

- Fecha tudo direitinho, Maria.
- Est� bom, m�e.

Precisa dormir aqui hoje n�o, Ti�o.
Obrigada, mas n�o precisa.

Voc� aqui dorme mal.
E amanh� � dia de trabalho.

- V� descansar em sua casa.
- Por mim n�o tem problema n�o.

Melhor, Ti�o. Hoje voc�
acordou todo torto.

- T�, est� bom.
- V� deitar voc� tamb�m, Bi�.

- Est� tarde.
- �...

Obedece a m�e, vai, menino.

O qu� que vai fazer amanh�?

Dar uma m�ozinha l� pro pessoal.
A gente sempre pode ajudar.

Amanh� voc� n�o vai sair de casa,
Maria. Est� me ouvindo?

N�o estou pedindo n�o, estou mandando.
N�o se mete em greve n�o.

Sei que trabalhar voc� n�o vai. N�o
quero mulher minha metida em rolo, t�?

- Eles v�o baixar o pau.
- O que � isso, Ti�o?

Que neg�cio � esse de mandar?!

Vou ajudar o pessoal sim,
vou mesmo.

Faz o que eu estou dizendo, Maria.
Sen�o me aborre�o com voc�.

N�o. Quem se aborrece sou eu.

Sem esse neg�cio de mandar, viu?
Fa�o o que eu achar certo.

- N�o estou fazendo nada errado.
- Porra, eu j� falei.

- No mais, o problema � teu, est� legal?
- Meu sim.

- O que �, arrumando p� pra brigar?
- Que brigar? Que brigar?

P�, merda! O qu� que �?
Est� todo mundo ficando louco, �?

Todo mundo perdeu a cabe�a?!

N�o me cria mais problema, est�
legal, Maria? Pelo amor de Deus!

Vai pra casa, vai, Ti�o.
Conversa com o teu pai.

E v� se n�o me faz besteira amanh�.

U�, o qu� que h�?
Acordou cedo.

- A senhora tamb�m madrugou, n�?
- �... servi�o, meu filho.

N�o vai esperar seu pai?

- N�o.
- Por qu�?

Ele fica muito nervoso
quando tem greve.

N�o quero discuss�o.

Voc� vai fazer piquete?

- O qu�?
- Piquete, de greve. Voc� vai fazer?

- Tem bastante gente j�, acho.
- Chegou a pol�cia, voc� se manda.

- N�o v� bancar o valente l�, hein?
- Parou. Eu sei o que fa�o, m�e.

- N�o se preocupa.
- Est� com o endere�o a�?

- Que endere�o?
- Daqui!

Se te acontece alguma coisa,
a gente sabe logo!

- Que bobagem.
- Est� com o endere�o?

T�, est� aqui, na carteira.

Vai com Deus, meu filho.

Volto logo, m�e.

Pelot�o, sentido!

Romana!

- � Romana!
- O que �?!

Cad� cueca limpa?

Debaixo da pilha de roupa,
a� no canto!

- Tu vive enfurnando as coisas, hein?
- Sorte tua de eu ter lavado.

- � moleque, vai, levanta.
- N�o, m�e...

- Est� na hora, vai, levanta.
- N�o... Ah, m�e, estou acordando.

- Estou acordando. Calma, vai, p�!
- Puxa vida, dormi demais, viu?

- � cedo ainda.
- Cedo nada.

J� devia estar l� na f�brica.
Est� pronto o caf�?

- Est� quentinho.
- N�o deixa o Chiquinho...

chegar atrasado no escrit�rio.
J� foi descontado tr�s vezes, hein?

J� chamei.

Mas � muito cedo ainda. Acho que vou
deixar ele dormir um pouco mais.

E o Ti�o?

J� foi.

N�o me esperou n�o, �?

Ti�o ainda vai me dar dor de
de cabe�a, viu? N�o quero p�o n�o.

- Hum, est� ruim o caf�, hein, Romana?
- Deixa de luxo.

Sorte � que est� quente.
A gente n�o sente bem o gosto.

Pol�cia chegou, voc� sai de
perto, viu, Ot�vio?

- N�o v� bancar o valente l� n�o.
- N�o precisa se preocupar n�o.

Est� com o endere�o a�?

- Que endere�o?
- Que endere�o, Ot�vio? O daqui.

Se te acontece alguma coisa,
a gente sabe logo.

O que � isso, Romana?!

- Est� a� com o endere�o ou n�o est�?
- Estou, estou sim, estou.

Mas deixa de pensar em
bobagem, Romana.

Tchau.

Vai com Deus.

N�o deixa ele chegar atrasado, hein?

Tchau.

Chiquinho...

- Chiquinho, levanta, est� na hora.
- Ah, m�e...

- Vai, menino!
- J� fui, m�e, j� fui.

- Menino! Sai da�!
- Porcaria, viu?

Qualquer dia desse eu fa�o
uma greve tamb�m!

Eu n�o gosto desse dois de espada.

- O que foi, m�e?
- Ainda n�o foi se arrumar, menino?

Se chegar atrasado nesse escrit�rio,
te arrebento o couro.

- Voc� est� botando carta, �?
- Voc� n�o est� vendo?

- Ent�o est� cismada com alguma coisa.
- Vai te lavar, vai!

- � por causa da greve, n�o �?
- N�o te mete onde n�o � chamado!

- O que diz a�, hein?
- Que se tu n�o for se arrumar logo,

eu te arrebento essa cabe�a!

Seja o que Deus quiser.

- Circulando a�.
- Circulando, pessoal. Circulando.

- A�, vamos embora, a�.
- Circulando, minha gente, vamos ver.

Circulando. Voc�s a� tamb�m,
por favor. Circulando.

- Companheiros...
- N�o entrem na f�brica.

Todo mundo pro est�dio. Patr�o s�
entende quando a gente p�ra.

Vamos pro est�dio, pra
assembl�ia, companheiro.

Todo mundo se unindo, todo mundo
unido. Ningu�m vai trabalhar.

- Vamos pro est�dio.
- � greve, companheiro.

� greve, companheiro. � greve.
� greve, companheiro.

Vamos l� pra assembl�ia.

Trabalhador unido
jamais ser� vencido.

Trabalhador unido
jamais ser� vencido.

Trabalhador unido
jamais ser� vencido.

Trabalhador unido
jamais ser� vencido.

J� pararam mais da
metade das f�bricas!

E n�o vamos ser n�s que vamos
bancar os fura-greve n�o!

� greve geral, rapaz.
Espera a�, � greve geral.

Geral, p�. Espera a�, rapaz!
Vai-te � merda, porra!

Sartini, calma, Sartini. Porra!
Est� parecendo pol�cia, rapaz!

- Na marra n�o d�, tem que ser no papo!
- Olha a�, Ot�vio. S�o uns bostas!

Carneirada! � greve geral, porra!
Todo mundo pro est�dio! Vamos l�!

A pol�cia! A pol�cia!

Todo mundo pro est�dio!
Ningu�m entra!

Vamos l�, Ot�vio, vem c�.
Todo mundo pro est�dio!

Todo mundo pro est�dio!
Ningu�m entra na f�brica n�o, hein?

� Ti�o, onde � que voc� vai? Ti�o,
Ti�o. Espera l�. Tu � filho de Ot�vio.

- Tu n�o vai dar essa mancada n�o, n�?
- Greve � defesa de um direito.

N�o estou a fim de defender
esse direito e pronto!

- Calma, Ti�o.
- Quem quiser trabalhar que trabalhe!

Seu guarda! D� uma m�o aqui!
Estou querendo trabalhar!

Olha l�, Ot�vio!

- Vai ver foi aquele puto que me dedou!
- Fecha essa boca de merda!

Ti�o!

- Ti�o!
- Quem quiser entrar que entre!

� democracia ou n�o �?!

V�o entrando, v�o entrando.
Fica com medo deles n�o.

N�o quer fazer greve, n�o faz.
V�o entrando. V�o entrando.

Essa greve gorou
antes de come�ar!

Olha, companheiros. A greve
� a nossa arma de luta.

� de nossas m�os que sai a riqueza
desses poucos que est�o a�.

E n�s, que produzimos essa riqueza,
n�s vivemos na mis�ria, porra!

Companheiros, a greve � o direito
sagrado do trabalhador!

N�o, n�o entra n�o.
N�o vai entrar n�o, companheiro.

Larga dele. Larga dele.

Larga!

Se manda, Br�ulio. Se manda, Br�ulio.
Se manda, Br�ulio. Vai embora!

Pra que viol�ncia, porra?!

Olha, gente, � assim que tratam
o prolet�rio brasileiro!

Vamos l�!

Vai preso a�!

Calma, Silene, calma. Eles n�o podem
obrigar a gente a entrar.

Est�o querendo intimidar a gente.
N�s vamos tomar essa luta de frente.

Defender os nossos direitos.

Ai, Maria. Eu estou apavorada.
Olha a�, eu me mijei toda!

- Vai no bar se enxugar.
- Eu estou morrendo de medo.

E quem � que n�o est�?

- Se enxugou?
- Que vexame, menina.

Vexame nada, a barra est� mais
do que pesada. Vamos embora.

Gente, o que est�o fazendo a�?
V�o pro est�dio, vai ter assembl�ia!

Ou entra pra trabalhar
ou v�o embora!

Vai trabalhar, sua putinha!
O qu�?! Que filha da puta!

- Maria?
- Eu estou sangrando, Silene.

A crian�a... eu estou sangrando.

Ti�o? Ti�o? Telefone, Ti�o.

� urgente...

- Corre, traidor, filho da puta!
- Dedo-duro! Pega!

Pega!

Pega o filho da puta!

Pega!

Pega! Pega!

Segura ele!

Larga!

Deixa! Deixa!
Ele n�o � nosso inimigo!

Ele n�o � o nosso inimigo! Nosso
inimigo � quem explora a gente!

O nosso inimigo � a repress�o
que arrebenta com a gente.

Deixa! Deixa o rapaz!
Levanta, Ti�o, vai.

- Deixa!
- Filho da puta!

Deixa! Vai, Ti�o, vai!
Vai, Ti�o, vai!

E agora?
O que voc�s v�o fazer?

V�o bater em todo mundo
que furar a greve?!

Vai, vai cuidar da sua vida!
A gente tem muita coisa pra fazer!

Reuni�o no sindicato!
A reuni�o l� no est�dio!

Isto � uma arrua�a, porra!

N�o foram voc�s mesmos que
precipitaram essa porra dessa greve?!

E v�o descontar nesse bunda-mole que
n�o enxerga ningu�m a n�o ser ele mesmo?

P�, l� vem a pol�cia.
Calma a�, Br�ulio. Vamos.

Vamos embora.

Estou indo.

J� estou indo!

- U�! O qu� que houve?
- Tudo bem, Dona Romana.

- Podia ter sido pior.
- Mais foi o susto.

- O que houve?
- Pesou a barra l� na f�brica.

Agrediram ela. Mas o m�dico do Pronto
Socorro disse que est� tudo bem.

- Vem, vem pra cama.
- Desculpa eu ter vindo para c�.

Eu n�o queria assustar minha m�e.
Ela ia ficar feito barata tonta.

Claro que ia. Voc� fez bem.
Vem pra cama. Te ap�ia em mim.

Quero saber de uma mo�a que veio pra
c�, estava ferida, l� da f�brica.

- Parece que... perda de sangue.
- �, eu estou sabendo.

- A crian�a... parece que perdeu.
- Maria?

- Maria.
- Mas ela j� foi. Faz 15 minutos.

- Como... Ent�o n�o foi grave?
- Isso n�o sei. N�o posso informar.

- E para onde � que ela foi?
- Como � que eu vou saber?

- Mas... tinha algu�m com ela?
- Tinha. Um homem e duas mo�as.

- Trouxeram ela para c�.
- Obrigado...

Ei! Ei, mo�o! Quem est� precisando
de cuidados � voc�, n�? Oi!

Prenderam o Ot�vio?

E s� agora que voc�
vem me falar?!

Pois �.
Mandaram avisar a senhora.

- Mas onde � que ele est�?
- N�o precisa ficar aflita, dona.

Tem advogado cuidando. O pessoal
organizou direitinho.

- Ele sai logo, logo.
- Logo, logo uma pin�ia!

Meu marido preso e eu vou ficar aqui,
de conversa? Onde � que ele est�?!

Eu n�o sei. Acho que est� no DOPS.

No DOPS? Ai, minha M�e Sant�ssima...

Meu Deus, minha M�e...
Meu Cristo...

No DOPS...

- Eu vou l�.
- N�o vai adiantar.

- A turma vai tratar de soltar ele.
- Turma? Que turma?

Sou a mulher dele ou n�o sou
a mulher dele?

Eu vou l�. Meu marido preso
e quem � que cuida disso aqui?

J� passou tr�s anos naquela cadeia.
Dessa vez n�o.

- Fa�o um esc�ndalo mas tiro ele de l�.
- Dona Romana!

- Dona Romana!
- Que �?

Os meninos do 28 pularam o muro pra
pegar a bola, pisaram na roupa...

- estendida e sujaram tudo.
- Se eu pego esse desgra�ado, juro,

eu tor�o o pesco�o dele. Minha filha,
me ajuda. Voc� cuida dessa roupa?

D� uma enxaguada nela. P�e o feij�o e
o arroz no fogo. Eu vou at� a pol�cia.

- Pol�cia?!
- �... prenderam o Ot�vio.

Voc� me ajeita tudo? Vou l� na
C�ndida e digo que voc� est� aqui.

Depois te dou um dinheirinho pra
voc� sair com o Chiquinho.

Vamos embora, minha filha.

Ainda temos que encontrar o Br�ulio.
Voc� fica aqui tomando conta da Maria.

DOPS... vai ver que j� moeram
ele de pancada.

Vivem prendendo
o Seu Ot�vio.

Eu estou bem, Silene.

- Se quiser pode ir. Eu estou bem.
- Eu vou ficar com voc�.

Ai... mas eu estou com uma
dor de cabe�a...!

Deita aqui.

Deita.

Maria!

Maria!

- Nossa, o que aconteceu com voc�?!
- Cad� a Maria?

Est� descansando no quarto da sua m�e.
Ela tamb�m se machucou, viu?

- Voc� est� a�, �?
- O que aconteceu, Maria?

Ele est� perguntando
o que aconteceu!

Deixa eu ir embora.
Eu n�o tenho est�mago n�o.

Olha aqui, � menina...
Vai-te � merda, vai!

N�o te mete n�o
que tu n�o sabe de nada.

Olha, cara, estou na tua casa
porque tua m�e aceitou.

Agora, n�o fala assim com a
Silene n�o. Est� me ouvindo?

N�o, espera a�, espera a�.
Espera a�. Vamos ter calma?

Vamos ter calma todo mundo, t�?
Desculpa, Silene.

Estou l� dentro, Maria.

- P�, o que aconteceu, meu anjo?
- Tira a m�o de mim! Anjo o caralho!

Arrebentada, fodida, levando murro
na barriga. Isso � o que eu sou!

- N�o tenho nada de anjo n�o.
- P�, o que te aconteceu, Maria?

O que aconteceu pra todo mundo.
Voc� � um grande filho da puta, Ti�o.

Estava um massacre na porta daquela
f�brica. N�s somos merda pra eles.

E tu l� dentro, de bom mo�o,
vendo teu pai levando cacetada...

sem sangue pra reclamar,
pra reagir, porra!

Eu n�o queria que tu fosse her�i.
Eu queria tu fosse gente!

Qual � o teu ideal na vida, hein? � uma
mulherzinha fazendo comidinha gostosa?!

� um filhinho estudando num
coleginho legal, tudo limpo?

Eu tamb�m quero limpo e gostoso.
Eu tamb�m quero uma vida decente,

mas n�o a esse pre�o.

Eles est�o fodendo a gente e
tu ajudando a foder.

Que vergonha, Ti�o.
Que vergonha.

Vai-te embora. Teu filho quase n�o
existe mais por causa...

de porrada da pol�cia,
viu, garoto besta.

O m�dico disse que n�o foi nada de
mais. S� sangrou, n�o mexeu com o feto.

Se esse filho nascer, ele vai ser
s� neto do Ot�vio.

Eu vou ter vergonha de dizer
que ele � filho do Ti�o.

Est� nervosa, menina.
Tudo isso � nervo.

Est� meio maluca a�,
como todo mundo.

N�o � nada disso. Voc�s n�o v�em
direito. Voc�s se entregam, porra!

Fazem besteira. Quem leva vantagem �
quem percebe a merda que � isso a�...

- e sabe se virar.
- Vai embora, Ti�o.

Olha, sem mais nada, t�? Sem noivado,
sem casamento, sem porcaria nenhuma.

Que voc� fizesse besteira, tudo bem.
Eu estava at� sabendo.

Mas teu est�mago... ag�entar tudo
aquilo de cabe�a baixa...

Ti�o, voc� ficou sendo merda,
percebeu?

Bate! Bate em mim tamb�m! Bate no teu
pai, na tua m�e, nos teus companheiros!

Em n�s voc� quer bater.
Deles voc� aceita gorjeta!

Bate mais! Bate mais! Fizeram escola
esses filhos da puta!

Tira mais sangue!

Eu?

Eu � que tiro sangue, �?

Ot�vio, olha a testa a�,
arrebentada.

Soltaram o Seu Ot�vio!
Soltaram o Seu Ot�vio!

Soltaram o Seu Ot�vio!
Soltaram o Seu Ot�vio!

Como n�o te bateram?
Te bateram muito!

Estou dizendo que n�o.
Eu n�o senti nada n�o.

Vem sentar.
Olha a�, todo rasgado.

Tamb�m a Dona Romana fez uma
revolu��o na Pol�cia, hein?

E n�o era pra fazer? Prender o
homem da gente � toa?

Br�ulio, o que voc� est� fazendo a�?
Viu como o Sartini saiu de l�?

Ele est� muito mais louco do que de
costume. Ent�o v�, pelo amor de Deus,

se gruda com ele e n�o deixa o
Sartini fazer besteira. Vai l�, vai.

Falou! At� logo! At� logo,
Dona Romana. Voc� vai ou fica?

- Vou ficar mais um pouco.
- N�o se preocupem n�o.

Qualquer coisa venho aqui
e dou not�cia.

- Corre!
- Vem c�. Senta aqui, Ot�vio.

Mas que sentar... Preciso � mais
tomar um banho, n�?

Como � que �, mo�a?

Primeira greve que voc�
participa, n�?

�, e tem muita coisa que a gente
precisa aprender, Seu Ot�vio.

A gente fica assistindo novela e vai
ver, tem mais emo��o na rua!

�, vai ver, tem mais.

- Tem caf� a�, � Romana?
- Vou l� ver.

Quieta, quieta, quieta. Fica fazendo
sala a� pro pessoal. Quieta, t�?

Quieta.

Adianta se esconder no quintal?

Eu estava esperando.

Eu quero mesmo falar com o senhor.

Escuta, mo�o.

Acho que temos pouco
a conversar.

De minha parte, eu... quero dizer
que estou muito surpreso,

que me enganei.

E quero que voc� tome o seu rumo.
O rumo que voc� escolheu.

Porque esta n�o �, nunca foi e nunca
vai ser a casa de um fura-greve.

Eu s� queria dizer que
n�o foi por covardia.

Vai ver que n�o, n�o �?

Voc� at� que teve peito...
Voc� furou a greve fazendo com�cio.

N�o fez segredo, n�?
N�o fez como o Jesu�no que...

tentou acender uma vela
a Deus e outra ao diabo.

Voc� � ainda mais filho da m�e.

Voc� n�o � um traidor por covardia,
voc� � um traidor por convic��o.

Olha aqui... Olha aqui,
n�o sou nenhum filho da m�e.

Eu gosto do meu pessoal.
Mas prefiro ter o desprezo deles...

a estar me arriscando a ver minha
mulher sofrer como minha m�e sofre,

como todo mundo sofre aqui, porra!

Est� certo.

No fundo, a culpa n�o � s� tua n�o.

- Eu tive culpa.
- Culpa nenhuma, pai.

- Eu tive culpa.
- Culpa de qu�, porra!

E deixa eu acreditar nisso?
Sen�o eu vou sofrer muito mais.

Eu vou achar que o meu filho
caiu na merda sozinho.

Eu vou achar que meu filho
� um safado de nascen�a.

Olha, rapaz...

N�s n�o temos mais nada a dizer.

Essa casa n�o � tua mais.

Voc� escolheu.

E est� no seu direito.

- Boa sorte.
- N�o foi por covardia.

N�o me arrependo de nada.

Tua m�e talvez queira falar contigo.

�!

At� um dia.

Voc�s est�o todos com
a cabe�a virada, meu filho.

N�o foi por covardia.
N�o me arrependo de nada.

Eu sei, voc� n�o � covarde n�o.

Voc� � teimoso, n�o �?

Voc� vai pra onde?

Pra casa de um amigo a�.
Mora l� em Diadema.

Voc� vai ficar l�?

Ele tamb�m furou a greve?

Sei l�.

Sei que � meu amigo.
Mora s� ele e a m�e.

Vou ver se pego o meu Fundo de Garantia.
N�o sei se pode pegar. Vou ver.

Arranjo outro emprego.

Eu tenho minha profiss�o.

Me arrumo na vida
e venho buscar a Maria.

Voc� acha que valeu a pena, Ti�o?

O que est� feito, est� feito.

T�...

Tem uma roupa tua sendo lavada.
Outro dia a� voc� manda apanhar.

Mando sim.

Voc� � demais, m�e.

Sabe, meu filho? Voc� vai ver que �
melhor passar fome entre os amigos...

do que passar fome
entre os estranhos.

Pode ser.

Precisa tentar.

Sabe, m�e?
Ainda ganho essa parada.

D� c� um abra�o, meu filho.

Deus te acompanhe...

Est� com o nosso endere�o
a� no bolso?

Se te acontece alguma coisa,
a gente sabe logo.

Se n�o fosse a senhora, eu ia
dizer que estava agourando.

Cuida da Maria.

N�s todos vamos cuidar, viu?

E do teu filho tamb�m.

Est� vendo? Est� vendo?
Eu n�o te falei?

- Pois �, aumentaram o policiamento.
- E vai ficar nisso? Filhos da puta!

- Quer enfrentar bomba com peda�o de pau?
- Br�ulio, a turma da noite n�o entra!

Cabe�a fria, Sartini.

Trabalhador unido
jamais ser� vencido!

Trabalhador unido
jamais ser� vencido!

Trabalhador unido
jamais ser� vencido!

A greve continua!
A greve continua!

A greve continua!
A greve continua!

- Espera a�! Espera a�!
- Vamos l�, gente!

N�o vamos deixar ningu�m
entrar nessa f�brica hoje.

- Sartini!
- � greve geral, porra!

N�o tem essa de ter medo
de repress�o n�o!

- Vamos l�...
- Devagar, Sartini!

- Que devagar! N�o tem nada de devagar!
- Nada de viol�ncia. Vamos dispersar.

- Um cord�o l� na porta.
- Nada de viol�ncia!

- Ningu�m entra!
- Devagar!

- N�o vamos deixar ningu�m entrar!
- Calma, minha gente!

N�o precisa viol�ncia. Vamos
dispersar! Vamos embora, gente!

- Vamos dispersar nada.
- Vamos dispersar!

Vamos embora!
Vamos embora, gente!

Embora! Sartini, embora!

Vamos dispersar.
Calma, gente.

- Nada de confronto, companheiro.
- O crioulo. O crioulo.

Vamos embora pra casa!
N�o vamos aceitar provoca��o!

Sartini...

Br�ulio. Br�ulio!

Nunca que um companheiro
maravilhoso como esse...

ia pensar que tinha tanta gente
importante no enterro dele, n�?

� s� o Br�ulio mesmo.

Viu, Chiquinho?

Um dia...

o teu filho vai estudar o
Br�ulio na Hist�ria do Brasil.

A greve continua! A greve continua!
A greve continua!

A greve continua!
A greve continua! A greve continua!

A greve continua!
A greve continua!

A greve continua...