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ESTE FILME � UMA FIC��O,
BASEADA EM FATOS REAIS

Senhor Jesus Cristo,

neste sacramento admir�vel,

V�s nos deixastes
a mem�ria de Sua paix�o.

Nos d� sustento e amor
segundo nosso merecimento,

os mist�rios de Seu corpo e sangue,

para que possamos colher eternamente

os frutos de Sua reden��o.

O Senhor seja louvado
para todo o sempre.

Am�m.

SubRip por: REALITYKINGS

GRA�AS A DEUS

UM FILME DE FRAN�OIS OZON

JUNHO DE 2014

Temos que sair.

Vou terminar a p�gina.

Marie!

Meu nome � Alexandre Gu�rin.

Quarenta anos,
casado e pai de cinco filhos.

Estudam no Aux Lazaristes em Lyon,

onde minha esposa � professora.

- Vamos, Gaspard.
- Victor, Gauthier!

Mesmo com todas as d�vidas
e conflitos com a Igreja,

sempre me mantive
pr�ximo ao amor de Cristo

e educo meus filhos na f� desse amor.

Cruzei com o pai de um menino
na escola dos meus filhos.

N�s fomos escoteiros na par�quia St. Luc
em Sainte-Foy-l�s-Lyon.

Temos lembran�as da nossa inf�ncia.
Escola, acampamentos...

E ele me fez uma pergunta
que ainda me perturba.

"Voc� tamb�m foi acariciado
pelo Padre Preynat?"

Certamente foi essa conversa
que me fez escrever.

Ent�o, vou direto ao ponto.

Durante uns dois anos,

no grupo de escoteiros,
entre os 9 e 12 anos,

fui molestado v�rias vezes
pelo Padre Bernard Preynat,

respons�vel pelas crian�as.

Depois de um acampamento em Portugal,
ele me for�ou a masturb�-lo.

Eu sa� dos Escoteiros
quando retornei � Fran�a.

Senhor, eu n�o sou digno de receb�-lo
em minha morada,

mas dizei uma s� palavra e serei salvo.

Corpo de Cristo.

Am�m.

- Corpo de Cristo.
- Am�m.

Infelizmente, a hist�ria
n�o termina aqui.

Descobri, por acaso, no m�s passado,

que o Padre Preynat
havia retornado � regi�o

h� alguns anos,

e que estava fazendo
estudo da B�blia com crian�as.

Mesmo perdoando o que perdoei,

a sombra do que ele fez
me acompanhar� por toda a vida.

V�rias perguntas me assombram.

"Voc� sabia?"

"Ele foi punido?"

"Ele foi condenado?"

"Por que ele ainda cuida de crian�as?"

Devemos enfrentar nossos medos.

Por nossos filhos.

Respeitosamente, Alexandre Gu�rin.

Senhor,

Pierre Durieux me transmitiu
sua mensagem.

Um testemunho terr�vel.

Entendo por que demorou tanto
para que pudesse nos escrever.

Obrigado pela confian�a
e por nos contatar.

Penso em seus filhos e toda sua fam�lia.

Que nenhum deles sofram
as consequ�ncias desses atos.

O Padre Durieux te colocou
em contato com a R�gine Maire,

que aceita receber e escutar
os que sofrem pelas m�os de padres.

Que o Senhor guie nossos passos,

e que Ele cure todas
as afli��es da Igreja.

Philippe Barbarin.

Aos s�bados, ele me levava
ao laborat�rio de fotos da par�quia.

� direita, onde vemos
a pra�a Saint Luc, no alto da escada.

Era escuro e tranquilo.

Ele fechava a porta

e me segurava nos bra�os.

Ele passava as m�os
dentro do meu shorts azul marinho.

Eu n�o me mexia.

Ele me segurava forte.

Muito forte.

Ele beijava meu pesco�o,

se esfregava nas minhas pernas

e dizia: "Eu te amo."

Depois, ele me dizia
que era nosso segredo.

Sempre com uma voz confortante.

Depois, eu sa�a e encontrava os outros.

Era estranho, mas eu me sentia orgulhoso

por ser o escolhido do Padre Bernard.

Meus pais e todos os amigos deles
diziam que ele era excepcional.

Exemplar entre os cl�rigos.

Quanto tempo isso durou?

At� Portugal, em 1986.

Era um acampamento de ver�o.

Organizado pelos Escoteiros
e pelo Padre Bernard, todo ano.

Durante os sete dias,
eu tentei evit�-lo.

Tentava encontrar desculpas
para n�o ficar a s�s com ele.

Tinha medo de que me pedisse
para acompanh�-lo.

V�rias vezes, ele pediu,
mas arranjei desculpas.

Mas teve o torneio de futebol.

O acampamento estava vazio.

As barracas onde dorm�amos tamb�m.

N�o me lembro por que,
mas no intervalo fui buscar meu rem�dio.

Eu adquiri uma doen�a cr�nica
desde a primeira vez que fui molestado.

E ent�o, o Padre Bernard
me seguiu para at� a barraca.

Ele me deitou.

E se deitou ao meu lado.

Senti o peso dele.

A barriga dele em mim.

E come�ou de novo.

Ele me beijou com a l�ngua.

Abriu meu z�per,

desceu a m�o...

Se esfregou em mim.

Ele respirava forte...

E levou minha m�o ao p�nis dele.

Ningu�m estava l�,

ent�o ele ficou mais insistente,

mais excitado.

Escutei algu�m l� fora e aproveitei.

Foi como uma revela��o.

Eu sa� e voltei para o futebol.

Me desculpe.

Eu agrade�o pela confian�a, Alexandre.

Esse tipo de coisa aconteceu

e, infelizmente, continua acontecendo.

Naquela �poca,

o costume era realocar o padre.

A senhora conhece o Padre Preynat?

De nome, sim.

N�o pessoalmente.

Continue.

- Ent�o?
- Contei tudo.

- E o que ela disse?
- Nada de especial.

Ela me escutou, n�s rezamos.

Precisa falar com as crian�as,
explicar para eles.

- Voc� acha?
- Sim.

Eles me fizeram perguntas.

Eles veem que est� preocupado.

Principalmente os maiores.

Sempre tive a impress�o
de que minha fam�lia me abandonou.

Que me mandavam para os Escoteiros
para se livrarem de mim.

N�o � verdade.

Eles n�o te abandonaram.

N�o, mas sinto
por n�o terem me protegido.

Ent�o � por isso
que n�o quer que acampemos?

Sim.

Voc� j� disse ao vov� e a vov�?

Quando tinha 17 anos,
eu contei tudo, eles escutaram,

mas senti que n�o os interessou.

- N�o queriam se sentir culpados.
- �, talvez.

Agora que conversei com a psic�loga,

o Barbarin prop�s que eu encontre
o padre que me molestou.

- Mas n�o sei o que fazer.
- Talvez ele pe�a perd�o.

Sim, talvez.

E voc� vai perdoar?

N�o sei se � poss�vel.

E por que est� fazendo tudo isso, pai?

Para que essas coisas n�o se repitam.

E por voc�s.

Se acontecer alguma coisa,
saibam que n�o devem ter medo de falar.

Bom dia, padre.

Me encontrei com o Alexandre no ver�o.

Encontrei um homem sem rancor e em paz.

O Cardeal disse que o senhor concordaria
em encontr�-lo.

Eu agrade�o, pois ser�
um encontro de paz e cura.

Gostaria de entrar diretamente
em contato com ele?

Vem com frequ�ncia a Lyon?

Se n�o, o Alexandre
sempre vai para Paris � trabalho.

Obrigado desde j�,
e que Deus aben�oe seu minist�rio.

Cordialmente, R�gine Maire.

Lave-me de minhas faltas, Senhor,

e purifique-me dos meus pecados.

Bom dia, R�gine.

Muito obrigado pela media��o
que tem desempenhado.

Eu ficaria feliz em encontrar
o Alexandre, se assim ele desejar.

Talvez possa perguntar
quando ele estar� dispon�vel,

e ent�o planejarei minha ida a Lyon.

Precisamos decidir um lugar de encontro.

Se ele preferir, posso contat�-lo,
se for mais simples.

Veja com ele.

Obrigado pelas ora��es,

Bernard.

Alexandre,

recebi uma resposta positiva
do Padre Bernard Preynat.

Ele est� disposto a vir para Lyon,
e pediu para propor o melhor momento.

O local poderia ser a Casa Diocesana,

onde nos encontramos.

Atenciosamente, R�gine Maire.

� uma boa not�cia,
mesmo que um pouco estressante.

Estou trabalhando em Paris.
Pensarei em uma data e lhe direi.

A Casa Diocesana � perfeita.

Gostaria que estivesse presente,
para escutar.

Quer cancelar?

N�o sei.

A R�gine me contou
que organizou um encontro

entre um padre e uma v�tima
que n�o terminou bem.

- Por qu�?
- Ela n�o me disse.

Est� com medo.

- � normal.
- N�o.

N�o � s� medo.

- � raiva.
- De qu�?

Ele pode negar.

Dizer que minto, que n�o aconteceu.

E tudo ser� em v�o.

� um risco.

Se n�o for, vai se arrepender.

Eu quero que ele confesse.

Quero que a Diocese, o Barbarin

e que todos ou�am.

Ent�o voc� deve ir.

IGREJA CAT�LICA DE LYON

- Bom dia, padre.
- Bom dia, R�gine.

Obrigada por ter vindo.

- Bom dia, Alexandre.
- Bom dia, padre.

Ent�o, como voc� est�?

Como vai a sa�de?

Estou bem.

A R�gine me disse que trabalha em Paris.

Sim, em um banco.

Voc� � casado?

Sim.

- Tem filhos?
- Sim, cinco.

Que maravilha.

Estou feliz em saber que tem uma fam�lia.

Uma grande fam�lia.

O senhor lembra do que fez comigo
quando crian�a?

No laborat�rio de fotografia,
aos s�bados, de 1983 a 1986?

Lembro.

Lembra de Portugal tamb�m?

Sim, Alexandre.

Na barraca?

Me beijou com a l�ngua,

me apertou contra o senhor,

tirou minha roupa,

apalpou meu p�nis,

e me fez tocar o seu.

� um peso na minha vida.

A vida toda tive que viver com isso.

Sempre tive uma atra��o por crian�as.

E isso sempre foi
um sofrimento para mim.

Sofrimento para voc�?

E quanto a mim?

Eu sei do mal que fiz �s crian�as.

Mas � uma doen�a.

Eu tentei v�rios tratamentos.

Houve outras crian�as como eu?

Sim.

V�rias.

Principalmente escoteiros.

Os tempos eram outros.

O senhor reconheceria publicamente
que me molestou?

� importante para mim.

Eu compreendo, Alexandre.
Mas publicamente...

Para ser sincero, eu gostaria
de evitar o tumulto

ou agress�es f�sicas que possam ocorrer.

O que quer dizer?

Alguns anos atr�s,
eu sofri agress�o e fui molestado

no jardim da minha casa de campo

por pais violentos e hist�ricos.

O senhor molestou os filhos deles.

N�o � motivo para serem violentos!

O senhor entende o que acabou de dizer?

Precisa entender que � um ped�filo.

E que a raiva desses pais n�o � nada
comparado ao sofrimento dos filhos.

Padre Preynat,

tem algo a acrescentar?

N�o.

Tem algo a dizer diretamente ao Alexandre?

N�o.

Alexandre?

N�o, isso foi o suficiente.

Muito bem.

Eu lhes convido a ficarem de p�.

Pai nosso, que estais nos C�us,

santificado seja o Vosso nome,

venha a n�s o Vosso Reino,

seja feita a Vossa vontade,
assim na Terra como no C�u.

O p�o nosso de cada dia nos dai hoje,

perdoai as nossas ofensas

assim como n�s perdoamos
a quem nos tem ofendido.

E n�o nos deixeis cair em tenta��o,
mas livrai-nos do mal.

Am�m.

Ave Maria,

cheia de gra�a, o Senhor � convosco,

bendita sois v�s entre as mulheres

e bendito � o fruto
do vosso ventre, Jesus.

Santa Maria, M�e de Deus,

rogai por n�s pecadores,

agora e na hora de nossa morte.

Assim seja.

Am�m.

Tchau, R�gine.

Obrigada, padre.

Tudo bem, amig�o?

Tudo bem, crian�as?

Oi, papai.

- Papai?
- Oi.

ESCOLA AUX LAZARISTES

Ele � esperto.

Ele sabe que faz mais de 30 anos,
j� est� prescrito.

Ele n�o sofrer� nada.

Confessou na frente
da mediadora da Igreja,

que contar� para o Barbarin
e, assim, v�o expuls�-lo de vez.

Voc� � otimista. Mas n�o acredito nisso.

O Barbarin � um homem corajoso.

Ele � poderoso e sempre
denunciou a pedofilia na Igreja.

Tenho certeza que sabiam na Diocese
e todos ficaram quietos.

Ningu�m fez nada durante anos.

Sabe o que dever�amos fazer?

Voc� deveria testemunhar tamb�m.

Diga o que ele fez,
assim n�o serei a �nica v�tima.

- Eu n�o sei.
- Voc� precisa falar.

Eu te passo o e-mail, e voc� escreve.

A Isabelle tem medo dessa hist�ria.
Tem medo que espalhem rumores.

- Seria complicado para o meu casamento.
- Mas fica dentro da Igreja.

Exatamente, prefiro que n�o.
Conhece a fam�lia da Isabelle.

Senhora, agrade�o pelos seus esfor�os.

Acredito que, apesar de sua compaix�o,
n�o deve ser f�cil para a senhora

pensar em todas as crian�as
e um passado tenebroso da hist�ria.

Quando um ped�filo admite os crimes,

isso nos faz pensar em perd�o,

mas tamb�m em uma inoc�ncia ferida.

� complicado.

Com todas as minhas ora��es, Alexandre.

- O que foi?
- Ela n�o me responde.

� final de semana, normal.
Ela responder� na segunda.

Depois do que aconteceu, pensei
que ele j� estaria exonerado.

Ele confessou. Ela fez o trabalho dela.

Agora cabe ao Barbarin decidir.

Eu espero que ela diga tudo a ele.

Ela gravou?

Escreveu?

N�o.

Tudo bem, n�o estou preocupado.

Alexandre, obrigada pela mensagem.

Tamb�m gostaria de lhe falar.

O encontro j� � um come�o.

Eu esperei um passo a mais.

Um verdadeiro pedido de perd�o.

Mas ser� que os padres s�o capazes?

Me sinto pequena diante disso tudo.

Espero que esse encontro
tenha trazido um pouco de paz e cura.

Deixar� sempre uma cicatriz, certamente,

mas, com a gra�a de Deus,
a ferida ser� curada.

Ela sempre existir�.

Nada sobre o Barbarin, estranho.

Acho que por ela est� resolvido.
Ele pedindo perd�o ou n�o.

- Preciso continuar escrevendo.
- Sim, isso � muito superficial.

Isso de "a ferida ser� curada"
� hist�ria de psic�loga, n�o?

Mais uma vez, estou muito sereno.
Sem hostilidade ou raiva.

� nosso dever diante da Igreja
mostrar os fatos como s�o,

sem sentir medo ou vergonha.

O Padre Preynat � ped�filo.

N�o importa se aconteceu ontem ou hoje.

Eu oro para que o Cardeal Barbarin
tenha coragem de acabar com isso

e combater a maldi��o
de nossa Igreja para com as crian�as.

Espero que o Cardeal Barbarin
me permita uma reuni�o.

Conto com a senhora para contat�-lo.

Onde est� minha camisa?

Estou encaminhando esse e-mail
para os meus filhos,

Victor e Gauthier,
que ser�o crismados no s�bado.

Eles me apoiam na minha
busca pela verdade.

Agora voc�.

Senhor,

conforme solicitou, a R�gine Maire
me repassou o e-mail que escreveu.

Aquele encontro foi arranjado
para que ele lhe pedisse perd�o.

Para mim, � incompreens�vel
que ele n�o o tenha feito.

Estou pronto para falar com o senhor.

Estou pronto para falar com o senhor.

S�bado, ap�s a crisma,
creio n�o ser o momento ideal,

pois desejar� com certeza
estar em fam�lia.

Pelo menos poderemos nos cumprimentar
e, se n�o for poss�vel conversarmos,

encontraremos um outro momento.

Oremos juntos por todos os jovens
que ser�o crismados no s�bado.

Philippe Barbarin.

No batismo,

V�s os purificastes do pecado.

Deu-lhes nova vida pela �gua
e pelo Esp�rito Santo.

Como havia prometido,
derrame sobre eles o Teu Esp�rito Santo.

D�-lhes a plenitude

do Esp�rito que repousava
em seu Filho Jesus:

Esp�rito de sabedoria e intelig�ncia,

esp�rito de conselho e de for�a,

esp�rito de conhecimento e amor filial.

Preencha-os com um esp�rito de adora��o

por Jesus Cristo,
nosso Salvador, que vive e reina

para todo o sempre.

Am�m.

Gauthier.

Seja marcado pelo Esp�rito Santo.

O dom de Deus.

Gra�as a Deus.

Victor.

Seja marcado pelo Esp�rito Santo.

O dom de Deus.

Os meninos estavam lindos.

O Barbarin fez um �timo serm�o.

Ele aceitou me encontrar
para falar do Preynat.

Verdade?

Sabe que � importante para mim.

Faz mais de 30 anos, Alexandre.

Sim, mas preciso falar.

Por que o perturbar com essa hist�ria?

Ele n�o estava em Lyon,
n�o foi culpa dele.

M�e, � sobre o Padre Preynat.
Ele ainda tem contato com crian�as.

Ele � um velho inofensivo.
Com certeza um doente.

N�o � motivo para a Igreja
n�o fazer nada e n�o conden�-lo.

E o que quer que fa�am?
N�o adiantar� nada.

O Barbarin pode exoner�-lo.

Seria uma mensagem forte, simb�lica.

Mostrar� que a Igreja apoia as v�timas
e condena a pedofilia.

Voc� conversou com o pai?

- Vagamente.
- O que ele diz?

Que voc� sempre gostou
de remoer o passado.

Quando o padre foi transferido em 1991,
eu contei tudo e n�o fizeram nada.

Voc� j� tinha 17 anos.

- Tudo bem?
- N�o, quero ir embora.

- J�?
- N�o aguento mais.

Conversou com ela?

Ela n�o entende
por que estou "perturbando" o Barbarin.

Devia ter esperado a reuni�o.

Vamos.

M�e, estamos indo.

Aos cuidados de Pierre Durieux.

Estou feliz que meus filhos tenham sido
crismados pelo Cardeal Barbarin.

A cerim�nia foi maravilhosa.

Ele deveria me encontrar
para marcarmos uma reuni�o.

Eu o respondi prontamente.

Temo que n�o tenha recebido
minha resposta.

Isso acontece com frequ�ncia.

Eu n�o quero pression�-lo,

mas como respondeu t�o rapidamente
depois do e-mail da R�gine Maire,

resolvi verificar.

Por aqui, por favor.

Gosta de suco de uva?

Gosto.

Ent�o, como est�o as coisas
desde a crisma?

Muito bem.
Mas para nosso pai est� dif�cil.

Seu pai foi muito corajoso
em dar o testemunho,

para que a verdade seja dita,

que a justi�a prevale�a.

- Sim, � dif�cil para ele.
- Gostar�amos de ajudar.

� bonito ver jovens como voc�s
que se preocupam com seus pais.

Eu n�o sabia sobre
as atitudes criminosas do Padre Preynat.

O Cardeal Decourtray
era superior dele na �poca e j� faleceu.

N�o podemos ressuscitar o passado.

Mas agora estou aqui
e podem contar comigo.

Devem rezar pelo pai de voc�s

e por todo o pecado da Igreja.

Tais atos s�o sempre revoltantes,

sejam cometidos na fam�lia,

na escola, ou nos esportes...

Mas s�o ainda piores
quando os culpados s�o os padres,

na nossa miss�o de representar Cristo

e pregar o Evangelho.

Com certeza, para o pecador
ter� sempre a miseric�rdia.

Mas "padre" e "ped�filo"
s�o duas palavras incompat�veis.

E quando encontrar� nosso pai?

Muito em breve.

Ando muito ocupado.

R�gine, por favor.

Deixei uma dedicat�ria
em um exemplar para o seu pai.

Pai Nosso que est�s nos C�us,

santificado seja o Vosso nome,
venha a n�s o Vosso Reino,

seja feita a Vossa vontade,
assim na Terra como no C�u.

O p�o nosso de cada dia nos dai hoje,

perdoai as nossas ofensas

assim como n�s perdoamos
a quem nos tem ofendido.

DEUS EST� ULTRAPASSADO?

- Vou jogar isso fora.
- Ele est� do nosso lado.

- As crian�as avisaram que iriam?
- N�o.

- Eu teria dito para n�o irem.
- Por qu�?

- Ele poderia t�-los manipulado.
- Mas n�o manipulou.

Pelo contr�rio.

Tenho a impress�o
de que quer nos anestesiar.

Primeiro com a R�gine Maire,
depois o Preynat,

agora com os meninos.

A �nica coisa que os irrita
� o Padre Preynat n�o ter pedido perd�o.

� normal.

Eles creem na reden��o.

No poder do perd�o.

Quer saber?

Se o Preynat tivesse se ajoelhado
diante de mim e pedido perd�o,

eu n�o sei o que teria feito.

Se aceitasse o perd�o,
se tornaria prisioneiro dele.

Uma v�tima, para sempre.

Bom dia, R�gine.

Finalmente falei com o Cardeal Barbarin.

Temos uma reuni�o em 15 dias.
Obrigado pela ajuda.

Reli a edi��o de julho de "La Vie",

a revista que ajudou em minha busca.

Lhe envio o link. � muito interessante.

Nosso Papa diz coisas �timas.
Ele claramente diz:

"Estou pessoalmente empenhado
a n�o tolerar qualquer dano a um menor

por qualquer indiv�duo, cl�rigo ou n�o,
assim nenhum lobo entrar� no aprisco."

Alexandre,

obrigada pelas palavras do Papa,
nas quais o pedido de perd�o � central.

O Cardeal me disse que conversaram
e decidiram uma data.

Al�m disso, gostaria de lhe dizer:

Rumores est�o se espalhando
sobre o Padre Preynat.

Em Neulise, pelo menos.

Isso � lament�vel,

e eu sei que n�o � o que voc� procura.

Gostaria que soubesse,

j� que tem reuni�o
agendada com o Cardeal.

Bom fim de semana.

Que a paz do Senhor o acompanhe.

Abra�os, R�gine Maire.

� um retrato pungente.

Voc� conhece?

Sim, j� vi em um livro de hist�ria,
acredito.

O Cardeal Decourtray
fez com que chegasse ao escrit�rio.

Os sucessores mantiveram, incluindo eu.

- Por favor.
- Obrigado.

Na sua opini�o,

quantas v�timas ele fez?

- Dois, tr�s...
- N�o, muito mais.

Dezenas. Talvez centenas.

� simples. Ele cuidava de pelo menos
200 escoteiros por ano.

Pode imaginar.

Estou horrorizado pelo que diz.

Lamento que o Padre Preynat
n�o p�de lhe pedir perd�o.

Eu disse a ele que pedisse.

Ele diz que esqueceu. Ele diz...

"Eu devia ter pedido perd�o."

O que eu espero n�o � arrependimento.

Quero uma san��o da Igreja contra ele.

O Padre Preynat � um perigo
para as crian�as.

Ele admitiu para mim e a R�gine Maire
que � um ped�filo...

Por favor, evite essa express�o.

- Qual express�o?
- Essa palavra.

Mas � o que ele �. Ele admitiu isso.

Sim, mas no sentido
etimol�gico do termo,

"pedofilia" que dizer amar as crian�as.

E segundo nosso Senhor,
devemos amar as crian�as.

N�o muito, evidentemente.

O que devo dizer, ent�o?

"Pedossexual"?

Sim, me parece mais justo.

De acordo com seu pedido,
enviei � Diocese uma solicita��o

requerendo que nenhum padre
fique sozinho com uma crian�a

durante uma confiss�o.

E que um adulto esteja presente
durante a catequese.

Assim, estar� colocando
todos os padres em opr�brio.

N�o acho que sejam todos pedossexuais.
Espero que n�o.

� uma medida de preven��o.
Para seguran�a.

Preferiria que a Igreja
condenasse a pedofilia

e exonerasse padres violadores.

Tudo no seu tempo, Alexandre.

O Papa Francisco pede que os cardeais
lutem bravamente contra esse mal.

Acredite em mim, n�o faltar� coragem.

At� breve, Alexandre.

Obrigado, monsenhor.

- Tchau.
- Tchau.

"Naquele momento,
levaram crian�as a Jesus,

para que impusesse as m�os.
Os disc�pulos as repreenderam."

"Por�m, Jesus disse:

'Deixai as crian�as,
e n�o as impe�ais de virem a mim;

Porque a pessoas assim � que pertence
o Reino dos C�us.'"

"Em verdade vos digo:

Quem n�o receber o Reino de Deus
como uma crian�a, n�o entrar� nele!"

"E abra�ava as crian�as e, impondo
as m�os sobre elas, as aben�oava."

Vimos que no dia do nosso batismo,
nos tornamos filhos de Deus.

Jesus nos ama como amou
as crian�as que se aproximaram d'Ele

- quando estava na Terra.
- Monsenhor Cardeal...

N�o o contatei durante o Natal,
pois � um per�odo de ora��o e sil�ncio.

Confesso que ver o Padre Preynat
ainda lecionando catecismo

e celebrando a missa de Natal
me revoltou um pouco.

Felizmente, a palavra de nosso Papa
ressoou dentro de mim.

Estou acompanhando a hist�ria
do padre ped�filo de Granada.

O senhor falou da coragem dos cardeis.
Nosso Papa tamb�m � muito valente.

Deixarei em suas m�os.

Rezo pela nossa Igreja
t�o bela e t�o humana.

Alexandre.

Obrigado, Alexandre.

Feliz Ano Novo a toda sua fam�lia,
principalmente aos dois crismados.

N�o sei o que aconteceu em Granada,
mas vou pesquisar sobre o ocorrido.

Que o Senhor aben�oe
todos os seus filhos nesse novo ano.

At� domingo.
Por favor, venham � missa diocesana.

Pela primeira vez,

um dos l�deres da Igreja Cat�lica
ser� julgado por pedofilia.

Ainda n�o tomou banho?

O que est� fazendo?

J� vou.

J� vou.

Se apresse.

Monsenhor Cardeal, R�gine...

P�SCOA DE 2015
- Envio esse artigo sobre

o Arcebispo Wesolowski,

acusado de pedofilia e refugiado
no Vaticano desde 2013.

Ele foi preso pela pol�cia da Santa S�.

Esta iniciativa � devida
ao desejo expresso pelo Papa,

que pede para enfrentar a situa��o
de forma rigorosa.

Quanto a mim, espero mais hist�rias
sobre as a��es do Padre Preynat.

Certamente, vou me orientar
baseado em Roma.

Quais as novidades?

Que Deus nos ajude
e continue protegendo nossas crian�as.

Obrigado, Alexandre.
Acabei de ler o artigo que nos enviou.

No consist�rio, tivemos uma declara��o
clara do Cardeal O'Malley, de Boston.

Ele � o indicado pelo Papa
para investigar a pedofilia na Igreja.

As recomenda��es s�o claras,

ent�o seguirei as medidas sugeridas.

Lhe manterei informado.

Boa quaresma a todos,
e diga "ol�" aos crismados.

S�o dois rapazes muito simp�ticos.

Querido Alexandre.
Sim, eu li os artigos na internet.

Mostram a determina��o da Igreja.

O Cardeal lhe respondeu?

De minha parte, n�o sei dizer
o que deve fazer diante do Papa.

Sinto que o essencial � ficar em paz
e seguir em frente.

Estarei aqui para ouvi-lo
e oferecer minha amizade e ora��o.

Cordialmente, R�gine Maire.

A Marie acha que sou muito gentil,
educado e que podem me enrolar.

Nunca far�o algo contra o Preynat.

Eles protegem a institui��o,
� assim que agem.

Vou juntar todos os e-mails,
outras testemunhas,

artigos sobre o Preynat,
e envi�-los ao Papa.

Pode procurar a justi�a.

� um problema da Igreja,
eles devem cuidar disso.

A prescri��o � um empecilho?

Por que pergunta isso?

Porque eu pensei bem

e estou pronto para testemunhar.

E a Isabelle?

O que tem ela? � minha hist�ria.

Monsenhor Cardeal,

anexo ao e-mail para o processo

est� a carta
do meu amigo Olivier Itaque,

que sofreu o mesmo abuso
pedossexual do Padre Preynat.

Senhor Itaque diz que: "Preynat visitava
muitas cabanas durante o acampamento."

Ele me molestou sexualmente uma vez.

Me beijava na boca
e me perguntava se o amava.

Receio confirmar que talvez
sejam centenas de v�timas.

O Sr. Itaque conhece alguns pessoalmente.

Obrigado, Alexandre.
Agrade�a ao Sr. Itaque por mim.

Diga a ele que nos encontraremos,
se assim ele desejar.

Como havia dito, chamei o Padre Preynat.

Ele veio me ver, e eu anunciei

que ele seria removido da par�quia
e n�o seria transferido novamente.

Bom domingo a voc� e a toda sua fam�lia.

- Ele te viu.
- Eu sei.

N�o, n�o com ele.

Sentem-se.

Corpo de Cristo.

Corpo de Cristo.

Vamos.

N�o entendo.

O Barbarin est� brincando comigo.

Aos cuidados do Padre Maxime Frillon.

Sabendo que o Padre Preynat
est� sob sua supervis�o,

gostaria de lhe encontrar para saber
por que continua celebrando missas,

rodeado de coroinhas.

- Nosso Senhor.
- Am�m.

Informo que enviei uma carta
sobre esse assunto ao Sant�ssimo Papa.

Alexandre Gu�rin.

P.S.:

Me encontrei com Suzanne Cremer,
antiga secret�ria da Diocese.

N�o sei se a conhece, mas ela
tem muita informa��o sobre o Preynat.

No in�cio dos anos 80,
meu irm�o disse que o Cardeal da �poca

removeu o Preynat da par�quia
por acusa��es de pedofilia.

Ele foi enviado
ao "Petites Soeurs des Pauvres",

e o proibiram de ter contato
com qualquer crian�a.

Me lembro de pensar
que ele sempre teve crian�as ao redor.

Nessa �poca, uma amiga trocou cartas
com ele, nas quais admitia ser doente,

pois ele mesmo
foi abusado aos sete anos.

Nada justifica,

mas ele nunca negou,
sempre minimizou o fato.

Sab�amos disso h� anos,
mas nunca denunciaram.

Ele influencia muito as pessoas.

E por que o Barbarin n�o faz nada agora?

Ele poderia agir,
mesmo sem interven��o do Papa.

Sabe,

o Barbarin e o Preynat se conhecem
h� muito tempo.

Desde que o Barbarin chegou em Lyon
e viu o bom trabalho do Preynat,

todo o dinheiro
e fi�is que ele trouxe...

Conhece outras v�timas
que possam testemunhar?

Meus sobrinhos felizmente
n�o foram abusados.

Mas tenho certeza que haver�.

No interior,
onde ele celebrava as missas.

Entre as crian�as do coral, coroinhas...

N�o acho que ele tenha parado
de um dia para o outro.

Alexandre, me sinto mal.

No fundo, eu sabia.

Todos n�s sab�amos.

N�o dissemos nada.

Voc� chegou.

Venha, vamos passear.

- Vem com a gente?
- N�o, tenho que terminar minha carta.

- Para quem agora?
- Para o Papa.

Certo, estamos indo.

- Vamos aonde?
- Ao parque.

Victor, Gauthier, Benoit, vamos!

Minha bolsa.

Vossa Santidade,

h� pouco tempo, comecei
uma busca pela verdade.

Falei com o Cardeal Barbarin
e a R�gine Maire.

Tive um encontro com o Padre Preynat,

que admitiu ser ped�filo
e que abusou de crian�as

at� pelo menos 1993.

Nosso sil�ncio
n�o silencia os crimes dele,

que geraram uma dor profunda e sem fim.

A Igreja deve encarar
o sil�ncio e a complac�ncia.

Devemos iluminar
essa terr�vel escurid�o.

O Cardeal Barbarin n�o ir�
transferi-lo para outra igreja,

e ele continuar� sendo padre.

"Isso deve ser feito sem alarde!"

Essa subestima��o dos crimes dele
� insuport�vel.

H� pouca compaix�o
e indigna��o diante disso.

Sinto que a minha busca
pela verdade gera desconforto.

Me inspirei em seu compromisso Santo
para agir.

Mas sinto vergonha
de pertencer � nossa Igreja,

que deixou e deixa pessoas
como o Padre Preynat

exercer o minist�rio e ainda ser padre.

O que esperam para agir
contra esse criminoso?

- Alexandre!
- Que manchou a carne dessas crian�as?

Para n�o ter medo de escrever
e ter a certeza de ser lido,

foi preciso 30 anos.

Gra�as a voc�, agora, em nossas reuni�es,

falamos sobre
homossexualidade e pedofilia.

Uma coisa n�o tem nada a ver com a outra.

N�o podem comparar orienta��o sexual
com pervers�o criminosa, Padre Frillon.

Voc� est� certo.

Mas nunca abordamos esses assuntos,

ent�o considero uma evolu��o positiva.

At� um progresso para nossa Igreja.

Vim para saber o que vai fazer
sobre o Padre Preynat.

Para a exonera��o. As coisas avan�aram?

Serei claro com voc�,
e talvez at� um pouco r�spido.

Acredito que o Padre Preynat

� e sempre ser� padre.

Ent�o n�o nos consideram como v�timas?

Claro que sim.

Estamos com voc�s, as v�timas.
E todos sabemos dos crimes.

Encontramos
em nossos arquivos diocesanos

documentos nos quais
o Cardeal Decourtray diz estar chocado

com os fatos sobre o Padre Preynat.

N�o haver� exonera��o?

N�o chegaremos a isso.

Sabe o que vai acontecer
se o Preynat n�o for exonerado?

Em seis meses, tudo ser� esquecido.
Ele continuar� sendo padre.

Poder� ir para o L�bano, por exemplo,
e continuar� impune.

Depois de escoteiros e camponeses,
ser�o meninos libaneses.

Por favor, Sr. Gu�rin.

- Tenho uma outra op��o.
- Qual?

Levar isso � justi�a.

Sabe que hoje � in�til.

O crime est� prescrito.

E, pelo que sei, ningu�m mais denunciou.

Existe algu�m?

De acordo com o Preynat, n�o.

De acordo com o Preynat?

Como pode acreditar?

Por que reviver essas hist�rias?

Rezarei por voc�.

Querido Alexandre,

depois de nosso encontro, conversei
com meu irm�o sobre o Preynat.

Um dos meus sobrinhos, Didier,

disse ter sido molestado por Preynat.

Ele sempre negou isso.

Estou horrorizada.

A morda�a do sil�ncio � muito pesada.

Ele citou o irm�o mais velho,
Mathieu, j� falecido.

Ele foi molestado mais violentamente
pelo Padre Preynat.

Meu irm�o acha que o suic�dio
de Mathieu est� ligado aos abusos.

Essas hist�rias me perturbam.

Me sinto muito culpada
por n�o ter dito nada.

N�o vejo o Didier h� cinco anos.

Ele se afastou da fam�lia.

Tem muitos conflitos
com o pai e a autoridade dele.

Uma vida marginal,
depois de anos nas drogas e no tr�fico.

Aconselho que fale com ele.

Se ele disser a verdade,
ainda h� tempo para denunciar.

Ele tem 33 anos.

Fez catequese com ele?

Isso.

- E era coroinha?
- �s vezes, sim.

N�o todos os domingos.

Onde aconteceu?

Depende.

Na sacristia.

�s vezes, no vicariato.

E o que ele fazia?

N�o, n�o quero falar disso.

Eu entendo.

Ele me abra�ava forte.

Me beijava.

Dizia que me amava.

Me apalpava.

Se aceitar em testemunhar,
ele pode ser julgado pela justi�a.

Faria isso
por todas as v�timas prescritas.

Acho que somos muitos.

Sua tia me falou do seu irm�o. Mathieu.

Ele se suicidou por causa do Preynat?

O Mathieu se suicidou porque era bicha.

Mesmo que fosse homossexual,

o Preynat cometeu um crime.

Ele era crian�a.

Temos que quebrar o sil�ncio, Didier.

Fa�a isso pelo Mathieu!

� f�cil falar.

Voc� tem uma fam�lia, dinheiro,
trabalho, tem tudo.

O que eu tenho?

Eu n�o tenho nada!

N�o tenho futuro.

Sim, eu cheguei longe.
Mas foi um caminho longo.

Se eu fizer isso, vou ser rotulado.

Serei "v�tima de pedofilia"
por toda a vida.

N�o. Se falar, outros falar�o.

N�o estar� sozinho.

Estaremos com voc�.

N�o sei.

Preciso pensar.

- Olhe, amig�o. Est�vamos l�.
- � mesmo.

E depois, depois...

Depois, eu disse: "Vamos l�,
eu vou te levar de volta."

E eu corri, peguei a mochila dela,

procurei o telefone
e liguei para a m�e dela...

Voc� tem uma nova mensagem.

Bom dia, Alexandre. � o Didier...

- Crian�as, vamos voltar.
- Por qu�?

- Tenho que fazer umas coisas.
- Mas � legal aqui!

- Tome.
- Obrigado.

Bom dia, Didier.

- O que faz aqui?
- Queria conversar.

- N�o recebeu minha mensagem?
- Sim, mas...

- Ent�o, n�o temos mais o que falar.
- Eu gostaria...

Eu disse que n�o vou testemunhar.
N�o quero ouvir nada disso, est� claro?

- Escute, Didier...
- V� embora!

Portanto, apresento uma queixa
contra o Sr. Bernard Preynat.

SENHOR PROCURADOR DA REP�BLICA DE LYON

- Bom dia, Sr. Debord?
- Sim, bom dia.

Delegado Courteau, DPCA.

Isso aconteceu h� 25 anos.
Achamos que estivesse arquivado.

Sim, eu sei.

Mas nenhuma den�ncia
havia sido feita at� agora.

Quem fez uma den�ncia?

Uma v�tima de antes de 1991.
N�o posso revelar a identidade.

� poss�vel que o caso dele
j� esteja prescrito.

- Um escoteiro?
- De St. Luc, como seu filho.

Sabia que essa hist�ria voltaria um dia.

Encontramos nos arquivos
da Diocese sua carta de 1991

endere�ada ao Cardeal Decourtray,
sobre Preynat e seu filho Fran�ois.

N�o havia s� uma.

O que quer dizer?

Troquei v�rias cartas
com Decourtray e at� mesmo o Preynat.

- Com o Padre Preynat?
- Sim, guardei tudo.

- Posso ver?
- Claro, vou buscar.

Essa � de Decourtray me pedindo
para n�o enviar mais cartas registradas.

Essas s�o do Padre Plaquet,

Padre Faivre,

e aqui a carta do Preynat.

"...uma ferida profunda

em meu cora��o sacerdotal."

Ele confessa, � incr�vel.

Mas ele sempre confessou.
O Preynat nunca negou.

- A �nica qualidade dele.
- Preciso de todos os documentos.

Eu n�o tenho c�pias.

Eu preciso dos originais.
Envio as c�pias por e-mail.

- Tudo bem.
- Seu filho est� em Lyon?

Ele trabalha em Lyon,
mas mora em Beaujolais.

- Pode me dar o endere�o?
- N�o acho que seja necess�rio.

Preciso v�-lo imediatamente.
O n�mero dele, por favor.

Quer que eu ligue para o Fran�ois?

N�o, eu farei isso.

Vou me trocar.

- M�e...
- Tudo bem, querido?

Estou bem.

Eu estava por aqui
e resolvi fazer uma visita.

- Quer caf�?
- Claro.

Voc� tem alguma coisa para me dizer.

- � sobre o Louis?
- N�o, nada a ver com ele.

- O que aconteceu?
- Eu sei que voc� n�o vai gostar.

O que foi?

Um delegado da pol�cia
veio nos ver essa manh�.

Para perguntar sobre o Padre Preynat.

Uma investiga��o por abuso sexual.

S�rio?

Ele nos encontrou atrav�s de uma carta
que enviei a Decourtray em 1991.

Sim, e da�?

Uma acusa��o foi feita contra o Preynat.

E o delegado gostaria de falar com voc�.

N�o. N�o quero saber disso, � passado.

Quem � o idiota que acordou agora?
N�o podia falar antes?

N�o sei, ele n�o disse.

Deve querer dinheiro.

O delegado vai te ligar.

Eu n�o tenho o que falar.
Para mim, � passado.

Ele levou todos os documentos.

Que documentos?

Voc� sabe, Fran�ois.

As cartas do Cardeal, do Preynat...

Guardei tudo para o dia
que quisesse ler.

Me desculpe, querido,
te trazer essas lembran�as ruins.

N�o se preocupe, m�e.

Vou cuidar disso.

Podemos nos encontrar na delegacia?

J� disse que n�o tenho o que declarar.
N�o me interessa.

Mas quero buscar os documentos
que levou da minha m�e.

Acho que deveria testemunhar.

Acho que seu caso n�o est� prescrito.

Sr. Debord?

Estou aqui.

- Querida, sou eu.
- Oi?

Quer que eu leve p�o?

- N�o, eu comprei hoje.
- Tudo bem.

As meninas est�o na cama?

Sim, acabei de coloc�-las para dormir.

Certo.

- At� logo, eu te amo.
- At�.

Chamada encerrada.

Fran�ois, pode vir aqui, por favor?

Fran�ois,

o que o Padre Preynat fez � errado.

E � proibido pela lei.

Um padre n�o beija uma crian�a na boca

e n�o toca em suas partes.

Ele pode ir preso por isso.

Eu n�o quero que ele v� preso.

Sim, Fran�ois.
Mas n�o podemos fazer nada.

Ele n�o tinha o direito
de fazer o que fez.

Decidimos que voc�s n�o v�o
ao acampamento na Irlanda.

- Mas eu quero ir.
- Louis!

O Preynat n�o liga para mim.
Ele gosta dos menores.

Papai?

Tudo bem, querida?

Durma.

Meus pais enfrentaram a Diocese.

E os Escoteiros acabaram por isso.

Que loucura...

Quando acabaram
com os Escoteiros, fiquei mal.

Foi culpa minha.

Por isso disse aos meus pais
que n�o queria que ele fosse preso.

Voc�, com 11 anos,
teve que decidir se ele ia preso ou n�o?

Voc� os conhece.
Eles fizeram o que puderam.

Pelo menos fizeram alguma coisa.

Imagine se acontecesse
com uma de nossas filhas hoje?

N�o acredito.

- O que foi?
- Ele ainda est� com crian�as.

Eles s�o doentes.

Achei que tinha morrido.

- N�o est� bem?
- N�o.

O Decourtray nos disse
que ele n�o estava com crian�as.

Bando de canalhas!

Falou com o delegado?

Sim, marquei um hor�rio.

Que bom.

Eu e seu pai fizemos o que pudemos
para proteger as crian�as.

Sabe, as cartas
do Decourtray e do Preynat...

Devemos us�-las.

Fran�ois, tenha cuidado.
Eles s�o poderosos.

Beijos, m�e.

Tenho provas, uma carta manuscrita
com a confiss�o do Padre Preynat.

Eu o conhe�o, e Barbarin tamb�m.
Por enquanto, nada � confi�vel.

Existe uma acusa��o por abuso sexual.

Sr. Debord, tenho seu n�mero.
Vou verificar e te retorno.

Parab�ns!
A imprensa local � muito corajosa.

Tchau, senhor.

Canalha.

Isso � s�rio.

- Como o Barbarin reagiu?
- N�o sei, n�o me respondeu.

- Pode ser an�nimo?
- Por que n�o assume?

Quero proteger minha fam�lia,
meus pais...

- Voc� entende.
- N�o, deve seguir sem medo.

Quero o anonimato. � meu direito, n�o �?

Tudo bem. Posso pegar as cartas?

Posso ler seu artigo?

N�o, desculpe. N�o trabalho dessa forma.

Certo.

Isso n�o me impede
de escrever um artigo.

Vou deixar a conta para voc�.
Tenho uma reuni�o na delegacia.

Ele era carism�tico.

Falava bem, era querido por todos.

Na par�quia, era quase um guru.

Como aconteceu com voc�?

Pelo que lembro, foram v�rias vezes.

De cinco a dez, acredito.

Em locais isolados.

No acampamento, como em St. Luc,
ou nas sa�das de fim de semana.

Ele me abra�ava como meu pai,
achava isso normal.

O que seus pais disseram?

No come�o, nada.

Eu s� contei sobre a �ltima vez.

Sim?

Foi nos Escoteiros.

Ele me pediu para ficar
depois que todos sa�ssem.

N�s ficamos sozinhos, ele apagou a luz.

Tirou meu bon� e meus �culos,

e me puxou contra ele.

Para me abra�ar.

Isso demorou

uns 15 minutos.

Eu ainda lembro

dos gemidos dele, da respira��o quente,

a cor da camisa dele.

Ele me apertou e...

De repente, ele levantou minha coxa

para colocar a m�o no meu shorts
e apalpar minhas n�degas.

A m�o dele estava dentro da sua cueca?

N�o sei, n�o me lembro
dele tocando meu p�nis.

Mas ele beijou minha bochecha

e na boca,
antes de beijar a outra bochecha.

E disse que era nosso segredo,
para n�o contar a ningu�m.

E o beijo foi de rasp�o ou proposital?

Foi...

Foi proposital, sem l�ngua.

E depois?

Depois...

Depois, cheguei em casa,
contei ao meu irm�o.

"O Preynat gosta muito de mim,
at� me beijou na boca."

Eu estava orgulhoso.

Meu irm�o contou aos meus pais,

e eles lutaram para que ele
n�o ficasse mais com crian�as.

Para mim, isso acabou ali.

Sua m�e acha que exagerou no testemunho

quando disse que ele te despiu.

Ele fez isso?

N�o, nunca aconteceu. Acho que...

Minha m�e deve ter confundido
com outras hist�rias.

Ela n�o reagiu bem na �poca.

- Sabe que seu caso n�o est� prescrito.
- Sei.

Gostaria de prestar queixas
contra o Bernard Preynat?

Sim, presto queixa.

Mas n�o s� contra o Preynat.

Desde quando a Diocese sabe?
O Barbarin sabia?

Se � o caso, por que n�o fez nada?

Se quer a cabe�a do Barbarin,
pode demorar muito mais.

Nesse caso, presto queixa
contra a Diocese de Lyon.

Estavam cientes e n�o fizeram
o que foi acordado com meus pais.

Certo.

- Algo mais a declarar?
- N�o.

Sim.

Tenho a inten��o de levar o caso � m�dia.

Como assim?

Tudo isso � horr�vel. Deve ser exposto.

Os jornalistas n�o podem revelar
informa��es antes da investiga��o.

Seja sensato.

Vamos evitar sensacionalismo.

Droga...

Voc� quer julgar um homem,
eu quero julgar a institui��o.

Um sistema que permite que um ped�filo
cometa crimes durante anos

e fique impune.

Lutamos a mesma luta, Sr. Debord.

- � o que espero.
- Claro que sim.

- Al�?
- Bom dia.

Aqui � o Cardeal Barbarin.
Fran�ois Debord?

Sim, obrigado por retornar.

Sa� agora da delegacia.

Muito bem.

Eu o contatei, pois desde que descobri
as cartas de meus pais, estou em choque.

Eu compreendo.

Acredito que seja melhor
nos encontrarmos para conversar.

Com certeza.

Podemos nos encontrar em novembro?

Ser� um pouco tarde.

Estou muito ocupado.
Vou para o L�bano em breve.

Eu tenho uma proposta.

Estou escutando.

Dever�amos fazer um comunicado
juntos � imprensa.

Um Cardeal e um ateu. Seria impactante.

N�o entendo.

Um comunicado para dizer
que condenamos a pedofilia.

Silenciaria a inatividade da Igreja.
N�o � quest�o de f�, mas de moralidade.

Ou�a, n�o acho que seja
uma boa ideia no momento.

Mas saiba que encaro
o assunto de forma muito s�ria.

Certo, mas com ou sem o senhor,
isso deve ser exposto. Tchau.

- N�o vou cancelar a viagem.
- N�o.

Mas deve fazer alguma coisa e r�pido.

Fran�ois, soube do Benoit?

- Ele tamb�m foi � delegacia.
- � mesmo?

Mas, segundo a m�e dele,
n�o quer prestar queixas.

N�o me surpreende.

Posso te fazer uma pergunta

sobre o que aconteceu
na �poca com o Fran�ois?

Querida, por favor.

Fran�ois, n�o temos nada a esconder.

N�o vou falar.

- N�o, pode...
- Estamos ouvindo.

Gostaria de entender
por que n�o foram � pol�cia.

� dif�cil de explicar.

Sim, n�s pensamos nisso.

Talvez dev�amos ter ido.

T�nhamos que proteger o Fran�ois.

Evitar a press�o da justi�a
e da imprensa.

� dif�cil para uma crian�a testemunhar.

Ele n�o parecia muito traumatizado,
ent�o deixamos quieto.

Confiamos na Igreja.

Para mim, n�o era o suficiente.

Liguei para o Decourtray.

Ele disse:
"O removi dos Escoteiros,

o que mais quer que eu fa�a?"

Eu disse que deveriam procurar
tratamento para ele.

Ele disse que estava cuidando disso.
At� parece!

Podemos mudar de assunto?

Claro, querido.

Bom dia.

Estamos cientes da gravidade
de v�rias den�ncias feitas

contra um padre da nossa Diocese,

que enfrenta diversas acusa��es

de abuso sexual de crian�as
antes de 1991.

Como em outras circunst�ncias,

expresso minha condena��o
aos atos que atingiram esses jovens.

Hoje, esse padre n�o tem
responsabilidades pastorais

e todo o contato com crian�as
foi proibido.

Como diz o Papa Francisco:

"As fam�lias devem saber que a Igreja

n�o mede esfor�os
para proteger as crian�as,

e elas t�m o direito de procur�-la,
em plena confian�a,

pois � um porto seguro."

Monsenhor,

vi seu comunicado
e gostaria de expressar

meu respeito pela sua abordagem.

Me parece ent�o in�til mantermos

nossa reuni�o
do dia 11 de novembro, �s 9h.

Proponho de cancelarmos.

Senhor, obrigado pela mensagem.

Deixarei que decida sobre nossa reuni�o,

mas gostaria de escutar sua hist�ria.

Bom feriado de Todos os Santos
a voc� e a todos.

Senhor, para ser sincero,
n�o preciso ser ouvido,

muito menos por compaix�o.

Meus pais sempre estiveram presentes.

Gra�as a eles, eu segui em frente.

N�o tenho nada contra o Padre Preynat,
apenas o considero um doente.

Nem nada contra a Igreja.

Estou feliz em ver que a Igreja
tenha se posicionado.

Por�m, me sinto ultrajado pelo modo
com o qual o Cardeal Decourtray agiu.

A neglig�ncia dele foi criminosa.

Lutarei pelo que acredito,
seguindo meu cora��o e consci�ncia.

Farei o que puder para preservar a f�
que respeito, mesmo sendo ateu.

Cordialmente, Fran�ois Debord.

- Veja s� isso.
- O qu�?

"'Pelo menos 20 crian�as
foram molestadas',

diz um lion�s que tinha 11 anos na �poca."

- Sou eu!
- Sim.

"O sil�ncio durou 20 anos,
mas o passado o encontrou.

O Padre Preynat, hoje com 70 anos,
n�o se manifestou sobre as acusa��es.

Ele mora na Casa de Montgay..."

"Transferido discretamente pela Diocese.

Resta saber se as acusa��es
prosseguir�o contra o padre,

que pode se beneficiar da prescri��o."

Bom dia, delegado.

Bom dia. Viu o artigo na "Tribune"?

Sim, � incr�vel.

Voc� que falou?

N�o, n�o me esforcei para ir � imprensa.

Mas acho que foi �timo.

N�o tenho certeza.

- E como andam as investiga��es?
- Acho que encontrei novas v�timas.

Sabia que ficaria bravo. Eu disse.

Pe�o que fique quieto.
N�o interfira nas investiga��es.

Desculpe, mas n�o concordo.

Seu trabalho � cumprir a lei.

Meu dever de cidad�o � de informar,

garantir que isso n�o se repita.

- Fran�ois pensou que tinha superado.
- Estava de uniforme.

Com o shorts, que era muito curto.

Ele tirou meu bon� e meus �culos.

Coloquei as m�os para tr�s.

Ele me abra�ou e tudo aconteceu.

Fran�ois sofreu abusos sexuais.

Seus pais falaram para a Diocese,

que reconheceu alega��es similares.

O padre foi removido da par�quia

e confessou seus atos em uma carta.

Mas, h� tr�s semanas,

Fran�ois soube que o padre
havia sido transferido temporariamente,

para que voltasse a trabalhar
com crian�as em uma par�quia da regi�o.

A Diocese de Lyon
publicou um comunicado,

mas as a��es do padre
n�o foram justificadas.

A pol�cia tenta descobrir se ocorreram
outras agress�es recentemente.

Muito bem.

Finalmente falou para todos.

N�o tem motivo para esconder.

- Acho que receberemos muitas liga��es.
- De apoio.

Eu ficaria surpresa.

Nossos amigos s�o todos muito cat�licos.
N�o acho que v�o gostar.

Mas fez o que devia.

Fiz parte dos Escoteiros em 1980.
Muito antes de voc�.

Quer dizer que isso acontece
h� pelo menos 35 anos.

Quanto anos tinha?

Quando come�ou, eu tinha nove anos.

Perto dos dez anos,
eu disse para a minha m�e

que n�o queria
mais ir por causa do Preynat.

Ela entendeu e falou com o Padre Plaquet.

Ele assegurou que o Preynat
seria afastado definitivamente.

L�gico que era mentira.

Dei algumas
entrevistas para a m�dia local.

Mas nada est� acontecendo.

Quero fazer uma confer�ncia
a n�vel nacional.

Mas primeiro precisamos de mais v�timas.

- Mais pessoas, mais aten��o.
- Conhece algu�m?

Tem meus amigos dos Escoteiros.
N�o tenho provas, mas foram abusados.

Deve ter as listas
dos Escoteiros na St. Luc.

Com certeza.

Devemos procurar?

Certo, estamos juntos.

Obrigado.

Qual ano na St. Luc?

�timo.

Certo.

Obrigado, senhor.

Tchau.

"O Preynat era incr�vel."

Tem outro?

- Tente esse.
- Obrigado.

Aqui � Fran�ois Debord.
Eu era dos Escoteiros da St. Luc.

H� uma investiga��o envolvendo
o Padre Preynat, sobre pedofilia.

Al�?

Est� me ouvindo?

Ele desligou?

Sim, entendo.

Pode me retornar nesse n�mero.

Quando quiser, sem problemas.

Obrigado, tchau.

Ent�o?

Ele estava chorando.

Vamos organizar
um encontro com as v�timas.

Por enquanto,
pode nos escrever sua hist�ria?

Sim, seria �timo.

Obrigado, at� mais.

Ent�o?

- Temos quatro.
- J� � um come�o.

- Precisa de ajuda?
- Pode fazer essa lista?

Al�?

� o Tristan, voc� me ligou.

- Sim?
- Estou atrapalhando?

N�o, nem um pouco. Estou ouvindo.

Coloque no viva-voz.

Desculpe, foi dif�cil falar ontem.
Mas, desde que ligou,

minha cabe�a explodiu.
Vomitei essa noite.

� como se ele estivesse aqui.
Como se tivesse voltado.

Eu entendo.

O Preynat � um velho canalha.

Acabou comigo.

N�o est� sozinho.

Eu nunca falei.
Minha esposa, m�e, meu filho...

Ningu�m sabe o que ele fez.

Quer testemunhar?

Uma investiga��o est� em andamento.

Eu n�o sei.

Os n�meros est�o aumentando.

Ontem, me disseram:
"Quando fa�o amor, somos em tr�s:

Minha esposa, eu e o Preynat."

� dif�cil ficar feliz com isso.

Tem informa��es sobre
a origem da queixa?

N�o. O Courteau n�o te falou?

N�o, ele n�o confia em mim.
Mas est� feliz por ter mais v�timas.

Com licen�a, pessoal. Vamos come�ar.

- Pode come�ar, Fran�ois.
- Obrigado.

Ent�o, o Gilles teve a ideia de criar
um site para a associa��o.

Nele, poderemos colocar artigos,

fatos, cartas e testemunhos.

A ideia � que seja acess�vel para todos.

Uma fonte de informa��o
e um apoio para as v�timas.

Falando sobre as v�timas,

precisamos encontrar todos,
prescritos ou n�o.

� por isso que contamos com voc�s
para a confer�ncia de janeiro.

Por que em janeiro? N�o temos pressa.

As investiga��es terminam em janeiro.
O processo ser� examinado em fevereiro.

Precisamos preparar tudo,
pressionar o julgamento

e ter certeza de que chamar� aten��o.

Somos obrigados a testemunhar?

Fa�a como quiser, pode ser an�nimo.

A ideia � fazer como os sobreviventes
de Auschwitz, deixar rastros.

Auschwitz...
Acho que n�o � um bom exemplo.

Mas � para evitar os detalhes,
entendem o que digo?

"Ele me chupou, eu o toquei..."
Ningu�m quer ouvir isso.

Tenho uma pergunta.

Sabem o que acontecer� ao Padre Preynat?

Segundo o Courteau,
ele pode ir para a cadeia.

Por enquanto, ele responde � delito,
a menos que tenha cometido estupro.

Qualquer forma de penetra��o.
Desculpem ser direto.

Sodomia, fela��o. Esses s�o delitos.

E por serem menores de 15 anos,
agrava o caso dele.

Mas os advogados v�o apelar
para a prescri��o, n�o � caso ganho.

Devem falar com o Courteau,
mesmo se for constrangedor.

Dominique, voc� pode explicar?

Sou a esposa do Gilles
e psic�loga de v�timas de crimes.

Alguns de voc�s

constru�ram algumas defesas
e reprimiram sentimentos traum�ticos.

Podem hesitar em testemunhar.

Vou dizer somente uma coisa.

Colocar essas mem�rias em palavras

e ser ouvido por uma autoridade judicial
ser� bastante ben�fico.

Vai confirmar que a dor de voc�s
� algo real, grave e inaceit�vel.

A paz de esp�rito n�o tem pre�o.

Resumindo, falar faz bem.

- Algu�m mais quer quiche?
- N�o, obrigado.

M�e, n�o terminamos ainda.

Desculpe, querido.

Obrigado.

O Gilles e eu estamos formulando
uma carta aberta

sobre o sil�ncio do Preynat.

Ser� publicado no "Le Progr�s"
e ter� uma p�gina inteira

em "La Tribune."

Dir� o que exatamente?

Ser� adere�ada � Igreja

e a todos que n�o quiseram ver
ou nada disseram.

Cat�licos benfeitores que colaboraram
com esse c�digo de sil�ncio.

Nunca ser�o julgados, mas s�o culpados

em rela��o a seus filhos.
Eles s�o muitos.

Pensamos em um t�tulo forte:
"Vergonhoso!"

N�o sei se devemos levar � imprensa.

Devemos evitar generalizar acusa��es.

N�o h� nada de errado
em participar dos Escoteiros.

Culpados s�o
os que n�o ouviram as crian�as.

N�o � a maioria.

Sim, concordo com o Fabrice e o Fred.

N�o devemos ser guiados pela vingan�a,
mas sim pela justi�a.

Certo...

Obrigado, rapazes.
� por isso que estamos aqui.

O que quis dizer

� que aqueles que permaneceram
em sil�ncio deveriam ser julgados.

Sei que, pessoalmente,
eu n�o conseguiria viver assim.

- Al�?
- Fran�ois?

- O encontramos.
- Quem?

Quem fez a primeira queixa.

Por um amigo em comum, v�tima tamb�m.

Isso!

A associa��o vai se chamar
"La Parole Liber�e".

Nosso advogado est� nos registrando.

Sou presidente, o Gilles � secret�rio.
Voc� poderia ser o tesoureiro.

Eu n�o sei.

Tenho a impress�o de ter feito
meu m�ximo na Igreja.

- N�o acho que precisam de mim.
- Claro que sim.

Se n�o tivesse prestado queixa,
o Courteau nunca teria me encontrado.

Voc� come�ou tudo.

Precisamos de voc�, sua voz.
Sem voc� n�o temos credibilidade.

E depois desse trabalho incr�vel,
n�o pode parar agora.

Na verdade, me preocupo
com o meu trabalho.

Sou consultor
de um canal de TV em Paris.

N�o precisa se expor.
Estamos aqui para isso.

Exato.

Minha esposa trabalha no Aux Lazaristes.
As pessoas est�o comentando.

Meus filhos estudam l�.

Eu sou cirurgi�o.

Metade dos meus clientes
s�o conservadores.

Apoiam o Barbarin,
s�o contra o casamento gay...

N�o vou perder meus pacientes por isso.

Sou cat�lico como voc�.

N�o fa�o isso contra a Igreja,
mas pela Igreja.

Obrigado.

- Onde est� o terceiro?
- Est� chegando.

- Espero que sim.
- Vou ligar para ele.

Entre.

Desculpe, muito tr�nsito.

- Obrigado.
- Que bom que veio.

- Bom dia, doutora.
- Bom dia.

Sentem-se.

Est� uma bola de neve nas redes sociais.

Reunimos muitos testemunhos,
umas 60 pessoas.

As fam�lias e as igrejas est�o falando.

Est�o atacando uma institui��o
com s�culos de hist�ria.

- Ser� dif�cil.
- Sabemos disso.

Estamos aqui para mudar as coisas,

ouvir as pessoas,
e ver a Igreja evoluir.

Sinceramente, acho dif�cil
condenarem do Sr. Preynat.

Mas podemos conseguir altera��es na lei,
principalmente sobre as prescri��es.

Sim, as pessoas precisam entender
que 20 anos n�o � muito tempo.

As v�timas precisam de tempo
para acordar e conseguir falar.

Eu vi os estatutos da associa��o.

- Precisamos melhorar.
- Como?

Precisamos ver isso com calma.

Desculpe, n�o temos tempo.

Precisamos terminar antes do Natal.

Ele tem raz�o.
Precisamos de patroc�nio e fundos.

Precisamos agir r�pido.

Estamos preparando um kit
para os jornalistas,

que divulgaremos na confer�ncia.
Ent�o, n�o. Desculpe.

Certo.

Tudo bem.

Me mostre tudo para eu reler.

N�o devemos fazer acusa��es caluniosas.

Sem problemas.

O Natal est� chegando.

Leva cinco dias para ir para a internet.
Precisamos de impress�es e fotografias.

- Almo�a com a gente?
- N�o posso, tenho uma reuni�o.

- Tchau.
- Tchau.

- At� breve.
- At� mais.

- Ele � estranho, n�o �?
- N�o mais que voc�.

Acha que eu o assustei?

Sua posi��o contra os padres
n�o o agrada.

Eu me acalmei.

Sim, mas precisa reescrever seu texto.

Sim, padre. Farei as tarefas.

Se n�o, vai para o laborat�rio de fotos!

"Fiquei muito surpreso
com o impacto desse caso.

Por isso, criamos a associa��o:
'La Parole Liber�e',

que apoia as v�timas
de abuso sexual do Padre Preynat.

Faremos uma confer�ncia
no dia 12 de janeiro de 2016,

quando finalmente divulgaremos tudo.

No nosso site, � poss�vel doar 10 euros.

Precisamos de sua colabora��o.

Junte-se a n�s.
Compartilhe esse e-mail."

Ent�o?

Est� bom, claro.

- Publicou quando?
- Ontem, no Facebook.

- Teve respostas?
- Poucas. Pessoal do trabalho.

- Seus pais?
- Sim, logo depois.

Louis?

Ainda n�o.

Madeleine, Aur�lien, venham terminar.

Deixe-as, � Natal!

S� amanh� � Natal.
Presentes, s� amanh� de manh�.

- Obrigado, queridos.
- Que horas � a missa?

Adivinhe.

N�o sei, estou perguntando.
Para as crian�as � �s 22h, 23h?

- Pelo que vi � � meia-noite.
- Certo.

Mam�e, n�s vamos � missa?

- Se voc� quiser.
- Papai?

Eu n�o vou, querida.

Fran�ois, se esforce um pouco, � Natal.

Por favor.

Querem mais peru?

N�o, obrigado.

- Vou buscar os queijos.
- Vou te ajudar.

Obrigado, m�e. Obrigado, amor.

- Estava delicioso.
- Estava.

Obrigada.

Quer que me esforce para ir � igreja?

Sim, pelas suas crian�as.

Gostaria de aproveitar esse Natal
com a nossa fam�lia,

repleta de amor e alegria...

Quero fazer um brinde ao meu irm�o.

Fran�ois, por favor...

Vamos l�.

- Louis?
- Sim.

Obrigado.

Obrigado pela sua generosidade
e bondade sem fim.

Do que est� falando? Est� b�bado?

Sabe que por meses tenho me arriscado

por uma causa na qual acredito,
pela qual eu morreria.

Eu n�o pe�o muito,
s� 10 euros simb�licos.

Acho que fui muito ing�nuo ou burro
de achar que minha fam�lia,

meu irm�o, principalmente, me apoiaria.

Mas voc� n�o se importa.
E ainda quer que eu v� para a igreja!

Recebi seu e-mail faz dois dias.
Estamos de f�rias.

Exatamente, estamos juntos h� dias!
N�o disse nem uma palavra!

N�o adianta gritar.
Quer 10 euros? Eu te dou.

Ele � t�o generoso! Estou impressionado!

- Vai me dar agora?
- Vou.

Fique com isso.
Pode engolir seu dinheiro.

Fran�ois, j� chega!

Por favor, Fran�ois.

Sabe, Louis, seu sil�ncio

� uma trai��o.

Do que est� falando? Est� louco...

Se acalme, Louis.

Nunca p�de reconhecer a dor dos outros.

N�o, j� chega.

N�o pode monopolizar o sofrimento.
N�o � o �nico que sofre!

N�o aguentamos sua associa��o!

Finalmente, a verdade!

A verdade � que n�o aguentamos
sua hist�ria com o padre!

Essa � a verdade!

O pai e a m�e s� falam disso,
noite e dia!

N�o v� que n�o aguentamos mais? N�o!

Sempre foi assim!

Tudo em torno de voc�,
dos seus problemas!

Sempre teve toda a aten��o!

Voc� acabou com toda a nossa inf�ncia.

Isso continua, m�e.

Certo. Quer saber? Voc� conseguiu.

At� a m�e est� sob
suas influ�ncias agora.

Do que est� falando?

Quando diz que n�o quer cerim�nia,
que quer ser cremada.

Acha que n�o sei de onde vem?

Eu nem sabia disso.

- Louis.
- Pai, s�rio...

Tudo bem, tudo bem.

Est� tudo bem, pai.

Est� tudo bem. Vou para o quarto.

Vou dormir.

Sabe que ele n�o quis dizer aquilo.

Claro que quis.

Ele tem ci�mes.

Eu que deveria ter.

Ele sempre foi melhor
nos estudos, neg�cios...

Ele tem duas casas!

Sim, mas, para ele,
voc� sempre foi o preferido.

- Obrigado, m�e.
- Mande mensagem quando chegarem.

- Tchau!
- Tchau!

Dirija com cuidado.

Tchau, tchau!

Senhor Jesus,

nos ensine a sermos generosos,

a servi-Lo como merece,

a dar sem esperar recompensa,

a lutar sem se importar com as feridas,

a trabalhar sem descansar,

a servir sem esperar ser servido.

Que tudo o que nos for dado,
possamos dar em dobro.

Am�m.

- Estou um pouco assustado.
- Por qu�?

Sabe o Tristan, que me liga � noite?

Ele me mandou o testemunho dele ontem.

Horr�vel.

Tudo voltou de repente para ele.

Ele foi estuprado por tr�s anos.

- Estuprado?
- Por fela��o, sim.

- Ele est� prescrito?
- Sim, tem mais de 50 anos.

O Preynat foi um porco com ele.

Ele tinha problemas auditivos
e foi diagnosticado com autismo.

O Preynat se aproveitou,
sabia que ele n�o falaria.

Ele almo�ava aos domingos
com a fam�lia e pegava cheques.

Cretino.

O Tristan autorizou
que coloquemos no site?

Preciso perguntar, mas acho que sim.

Fran�ois, li seu texto
para a confer�ncia.

Acho que est� muito bom,
mas um pouco longo.

Acho que precisa ser
mais neutro, com mais fatos.

Tire a poesia e a raiva,
n�o leva a nada.

Testemunho, fatos,
provas ir�o nos ajudar.

Os jornalistas ficar�o indignados,
mas n�s passamos a informa��o.

Ele est� certo. A advogada tamb�m.

E qual � o plano?

Voc� l� o texto.

Eu respondo as perguntas.

O Fabrice apresenta o site.

E o Alexandre...

N�o sei se poderei ir.

- Est� brincando?
- Desculpe.

Tenho que ir para Paris. N�o pude adiar.

Nossa abordagem � secular, apol�tica,
republicana, cidad�,

e nossa miss�o � trabalhar pelo bem.

Contamos com 40 membros,
incluindo dez v�timas.

Entre n�s, empres�rios,
especialistas em TI,

profissionais de finan�as, m�dicos...

Somos de uma rede forte,

JANEIRO DE 2016
- com motiva��o e determina��o total.

N�o vou focar nos fatos conhecidos:

Agress�es sexuais com menos de 15 anos.

Uma investiga��o est� em curso, e o caso
ser� analisado nos pr�ximos meses.

Atrav�s de nossos esfor�os
para nos reunir,

percebemos que este caso de abuso
� de uma escala terr�vel.

As crian�as foram feridas,

fam�lias foram separadas,

cren�as religiosas foram fragilizadas.

� luz da irresponsabilidade conden�vel

e diante da mais alta
hierarquia da Diocese de Lyon,

gostar�amos de fazer
tr�s perguntas:

Monsenhor Barbarin,

por que o tribunal eclesi�stico

n�o come�ou o julgamento
do Padre Preynat,

visto o n�mero de reclama��es
recebidas pela Diocese?

Monsenhor Barbarin,

desde quando o senhor sabe

que o Padre Bernard Preynat
� um ped�filo?

Monsenhor Barbarin,

o Vaticano est� ciente

de que o Padre Bernard Preynat
� um ped�filo?

Em nome das v�timas,

dos pais,

dos filhos,

dos fi�is,

dos padres inocentes
prejudicados por este caso,

dos cidad�os franceses,

dos leigos, do clero,

mas tamb�m em nome
da sociedade em geral,

convocamos o senhor a responder
publicamente estas tr�s perguntas.

O mundo inteiro est� assistindo

e espera respostas.

Obrigado!

Voc�s se consideram denunciantes?

- Alexandre.
- Ol�.

- Que bom que est� aqui.
- Consegui vir.

- Apresento Alexandre, o precursor.
- Bom dia.

Podemos fazer algumas perguntas?

V� em frente.

Eu seguro.

- Obrigada.
- �timo.

Voc� foi o primeiro a entrar em contato
com o Barbarin?

- Ficamos apreensivos.
- Sim, � normal.

Ol�.

- Minha esposa.
- � um prazer.

Obrigado, muito obrigado.

Obrigada, at� logo.

- At� logo, tchau.
- Tchau.

- A conhece?
- Conhe�o.

� uma jornalista
que conheci com o Fran�ois.

- Acha que falei muito r�pido?
- N�o, foi perfeito.

V� ver seu pai,
acho que ele quer falar com voc�.

Tudo bem, pai?

- Voc� foi �timo, Fran�ois.
- Obrigado.

Falou com muita calma.

Sabe?

Falei com seu irm�o.

E?

Me mandou entregar isso.

Obrigado.

Obrigado, pai.

M�o, sou eu.

- Tudo bem?
- Tudo bem?

- Passei na padaria.
- Obrigada.

- Fiz caf�, se quiser.
- Quero.

Tem carta para mim?

Tem, vou buscar.

Trouxe dois artigos que cortei para voc�.

- Sobre o qu�?
- D� uma olhada.

- N�o quer croissant?
- N�o, obrigada.

ESTAMOS AQUI PARA FALAR A VERDADE

V�TIMAS DE PADRE ACUSADO DE PEDOFILIA
QUEBRAM O SIL�NCIO

Calma, fique calmo.

Calma.

Est� tudo bem.

Vai ficar tudo bem.

Preciso escrever para eles.

Espere um pouco.

Hoje passei na minha m�e,
e ela me mostrou os dois artigos.

Como voc�s, fui v�tima entre 1988 e 1991

desse padre, Bernard Preynat.

Tenho fotos da viagem para a Irlanda,

na qual minha m�e me acompanhou,

a quem eu contei os fatos
somente aos 17 anos.

Minha m�e alugou um apartamento
na Boulevard des Provinces,

em frente � igreja que posso
descrever detalhadamente.

Isso foi na Irlanda.

Estou t�o agitado que nem olhei o site.

Cliquei diretamente em "Contato".

Aos 30 anos,
fui diagnosticado como uma zebra.

Entendi por que larguei os estudos

e por que sou inst�vel
no trabalho e nos relacionamentos.

Estou sempre em alerta.

"Zebra"? O que quer dizer?

� uma express�o para superdotados.
Tenho um Q.I. maior que 140.

A zebra � um animal
muito inteligente para se adaptar.

Mas intelig�ncia nunca fez algu�m feliz.

Quando aconteceu com o Preynat?

De 1988 a 1991.

Faz 25 anos.

Sempre esperei por esse momento.

Que algu�m falasse,
que pudesse dizer tudo.

- Voc� tem ajuda?
- Como assim?

Vai ao psic�logo? Isso pode ajudar.

J� fiz muitas coisas.

Terapia, hipnose, dan�a sufi...

A �nica coisa que me ajuda � o esporte.

- Entendo.
- Limpa minha mente.

Vou at� o fim com voc�s.

Vou ajudar a associa��o
para que o Preynat seja preso.

Ele precisa pagar pelo que fez.

Eu trabalhei para a "Euronews TV",
um canal de informa��o.

Guardei alguns contatos.
Posso ligar e pedir uma mat�ria.

Por que n�o? Boa ideia.

O mais importante � testemunhar
para o delegado Courteau.

Ele � o investigador.

Depois, escreva seu testemunho
para colocarmos no site.

- Sem problemas.
- �timo.

� bom saber que n�o estamos sozinhos.

� importante.

Podia ter esperado.

Eu estava com fome. Amanh� acordo cedo.

Tudo bem?

Ent�o, como foi?

Bem, ele � legal. Batalhador.

� rico?

Como muitos escoteiros.

Menos voc�.

Vai fazer o que amanh�?

Vou ao hospital ver minha m�e.

Ela est� melhor?

Acho que n�o.

Voc� vai comigo?

N�o, preciso ir na delegacia.

Boa sorte.

N�o se cansa de ser m�?

Estou brincando.

Muito engra�ado.

Minha m�e e eu chegamos
em Lyon em fevereiro de 88.

Viemos de Estrasburgo,
quando eu tinha oito anos.

Uma senhora aconselhou minha m�e
a me inscrever na catequese da St. Luc.

Foi onde conheci o Padre Preynat.

Ele era simp�tico.

Eu era educado. Acreditava em Deus.

Em 1989, n�o lembro a data,

mas me lembro de entrar na igreja,
no andar de baixo, � direita.

Ele me pediu para ir com ele,
ajudar a buscar alguns equipamentos.

Durou de cinco a dez minutos.
Depois, ele saiu.

A partir da segunda vez, ele...

Sim?

Ele tirou minha camiseta,

apalpava meu p�nis por cima do tecido...

Depois, colocou a m�o na minha cueca.

Ele apalpava meu p�nis
em movimentos circulares

e me beijava nos l�bios.

- Contou a algu�m na �poca?
- N�o, ningu�m.

Sexo era um tabu.

E est�vamos na igreja.

Eu estava perdido por causa
do div�rcio dos meus pais.

Uma vez, eu disse a minha m�e
que ele me beijou,

mas n�o aconteceu nada.

E para os seus amigos?

Ningu�m falava sobre isso.

Mas eu o vi levando
outros meninos para o escrit�rio.

Quando isso terminou?

Quando ele foi transferido para Loire,
para cuidar de idosos.

No in�cio de 1991.

Quer acrescentar algo?

Quero.

Gostaria de dizer
que depois desses abusos, eu...

Eu tinha um jeito de me masturbar
durante a adolesc�ncia.

Em movimentos circulares,
como ele fazia.

E isso causou uma deforma��o
no meu p�nis durante a ere��o.

Tem alguma incapacidade por conta disso?

N�o, hoje n�o.

Tenho uma vida sexual normal,

um relacionamento.

Mas � algo que me deixa muito inseguro
no que diz respeito �s mulheres.

Entendo.

Vai prestar queixas?

Com certeza.

- Tchau.
- Tchau.

M�e?

- Tudo bem?
- Quer ler?

O qu�?

- Peguei uma c�pia do meu depoimento.
- � mesmo?

Ent�o?

Eu n�o sabia dos detalhes.

- Vou enviar para a associa��o.
- Sim, � bom.

O que a Jennifer diz?

- Est� feliz por mim.
- Que bom.

Voc�s v�m jantar?

N�o, obrigado. Preciso ir para casa.

Estou orgulhosa de voc�.

Obrigado.

Al�?

- Emmanuel Thomassin?
- Sim, sou eu.

Aqui � o Delegado Courteau,
respons�vel pela investiga��o.

Estou ligando para falar sobre
seu depoimento de hoje.

Est� dispon�vel amanh� �s 9h
para conversar com o Padre Preynat?

Amanh�?

Sim, precisamos agir r�pido.
O Preynat ser� indiciado.

N�o ser� o �nico a conversar com ele.

H� outros casos ainda n�o prescritos.

- Posso ir com a minha m�e?
- N�o.

Pode ir com um advogado, se quiser.

- Entendi.
- Combinado?

Certo.

Obrigado, at� amanh�.

At� amanh�.

Ent�o?

Preciso ligar para a minha advogada.

N�o vai ligar para aquela vadia.

Pare.

Ela � in�til,
n�o fez nada contra sua ex!

Cale a boca e saia daqui! Saia daqui.

Vou ser sincera.

Aconteceu h� mais de 25 anos.
Ele provavelmente vai negar.

- Se preparem para isso.
- Se ele negar, eu o mato.

N�o diga esse tipo de coisa.
Voc� n�o � assim.

Est� bem?

Temos que ir.

- Emmanuel, pegou seus rem�dios?
- N�o.

Coragem.

At� logo.

- Entrem, sentem-se.
- Obrigado.

� o Emmanuelzinho! Como est�?

N�o estamos nos Escoteiros.
O Sr. Thomassin � adulto.

Dirija-se a ele como tal, por favor.

Sente-se, Sr. Preynat. Por favor.

Bom dia, doutora.

Vou deixar que leia
o depoimento do Sr. Thomassin.

Sr. Preynat, reconhece
os fatos descritos

pelo Sr. Emmanuel Thomassin,
aqui presente?

Sim.

Reconhe�o os fatos.

O senhor o chamou para seu escrit�rio
v�rias vezes para abus�-lo sexualmente?

Sim.

Tudo o que ele disse � verdade.

Percebe que tinha
influ�ncia sobre as crian�as?

Na �poca, n�o, mas hoje...

Eu entendo

que posso ter lhes causado

algum mal.

Acredita que esse homem
aqui presente sofreu?

Sim.

Acho que ele sofreu.

Mas, sabem...

Eu falei com meus superiores
v�rias vezes.

Ningu�m fez nada.

Como assim, "superiores"?

- Eles sabiam?
- Sim.

Eles sempre souberam,
come�ando pelo Monsenhor Decourtray.

- At� o Cardeal Barbarin?
- Sim!

E n�o fizeram nada?

O que disse exatamente
aos seus superiores?

Que eu tinha problema com as crian�as.

S� isso? Nada mais preciso?

N�o.

Sr. Courteau,

eu gostaria de acrescentar algo.

Estamos escutando.

- Emmanuel, eu gostaria...
- Dirija-se a ele como "Sr. Tomassin"!

Sr. Preynat, por favor.

Gostaria de dizer hoje
para o Emmanuel...

Perd�o por tudo que eu te fiz, filho.

Sem familiaridade, por favor.

Pelo que eu te fiz.

Sr. Thomassin?

Voc� traiu minha confian�a.

Traiu a confian�a de milhares
de pessoas que frequentavam a igreja.

Eu era uma crian�a.

Seu joguinho me destruiu.

Destruiu o valor
do que � ser um pai para mim.

N�o, senhor. Jamais vou te perdoar.

Doutora, tem algo a acrescentar?

- N�o.
- Podem lev�-lo.

Tchau, Sr. Preynat.

Pronto.

Acabou.

Cretino desgra�ado.

- Como foi?
- N�o sei.

Bom dia. Nadia, minha advogada.

Ele admitiu tudo
e disse que os superiores sabiam.

- � um velho doente...
- Ele deve ser condenado.

Sim, mas o sil�ncio da Igreja tamb�m.

Temos que ir, Fran�ois.

Me ligue.

Boa sorte.

Vamos atacar o predador!

- O que � isso?
- Parab�ns.

- Por qu�?
- Voc� ganhou.

Ganhei o qu�?

"O Padre Bernard Preynat, de 71 anos,

foi indiciado por agress�o sexual
e estupro de menores de 15 anos

por uma pessoa com autoridade."

Nossa...

Acho que vou ligar para o meu pai.

Para falar o qu�?

Perguntar se ele sabe da associa��o.

Ele ter� orgulho de ver
o que estamos fazendo

e de saber que fa�o parte.

- Ele sabe sobre o Preynat?
- N�o.

Ent�o qual o motivo?

Isso afetou minha sexualidade.

Eu estava confuso.

N�o sobre minha orienta��o sexual,

mas eu n�o me sentia
confort�vel na rela��o.

E, por ter sido
uma crian�a precoce, uma zebra,

eu aprendia muito r�pido.

Mas eu nunca soube aproveitar isso.

Nunca fui bem nos estudos.

O que espera hoje em dia?

Espero que o Preynat seja condenado.

Que outros possam testemunhar.

Que as leis mudem,

na Igreja ou em geral.

Para que n�o hajam crimes prescritos.

Tenho dois filhos,
espero que consigam mudar as coisas.

Vamos lutar para isso.

Obrigada mais uma vez.

At� mais.

- Sabe quando ir� ao ar?
- N�o, ainda n�o sabemos.

- Entrarei em contato quando souber.
- Agrade�o.

Obrigada, tchau.

- Tchau.
- Tchau, boa sorte.

Gostou disso?

- O qu�?
- Falar com essa jornalista.

Pare com isso.

Fez a v�tima muito bem na frente dela.

Deu seu n�mero para ela vir chupar voc�!

- Pelo menos ela faria isso.
- Canalha!

O que foi? Qual seu problema?

Quer aparecer na TV?
S� teve isso no tribunal.

Est� com inveja. Pat�tica.

Voc� � pat�tico.

Mas que droga!

Por que voc� faz isso?

Eu n�o entendo.

Deveria me apoiar. J� viveu isso.

Pronto.

Est� bom. Pode se vestir.

Realmente, voc� tem uma curva no p�nis.

Pode ser doen�a de Peyronie.

Minha advogada quer que estabele�amos
uma liga��o com os abusos que sofri.

Seria uma prova importante.

Sim, eu entendo.

� poss�vel que essa curva
tenha aparecido na sua puberdade,

depois de um forte impacto
ou movimentos incomuns.

- Ele fazia movimentos circulares.
- Pode ser.

Mas isso j� faz mais de 20 anos.

Naquele momento, eu poderia
ter feito um diagn�stico exato.

Alguns homens possuem
o p�nis curvado, � gen�tico.

Pode ser o seu caso.

A �nica coisa que posso...

- Bom dia.
- Bom dia, Emmanuel.

- Voc� est� bem?
- Tudo bem, e voc�?

Tudo certo.

Um atestado seria bom para o caso,

mas n�o nos impede
de colocar no relat�rio m�dico.

Quer ver as fotos?

Fotos?

Do meu p�nis, para ver o que ele fez.

N�o acho que seja necess�rio.

Podemos come�ar?

Todos sabem que o Preynat foi indiciado?

Saibam que isso provocou
um grande choque na Diocese.

O Barbarin continua se contradizendo.

Primeiro dizia que ficou sabendo
pelo Alexandre, em 2014.

Agora, ele diz que sabia desde 2007.

N�o � coincid�ncia.

Os advogados dele disseram
que logo seria prescrito, ent�o...

Ele poderia ser exonerado,

pois � imoral saber e n�o dizer nada.

A ideia � continuar com nossa advogada,
procurando um jeito de atac�-los,

e os condenando
por n�o denunciar as agress�es.

- E o processo can�nico?
- Escrevemos para o Barbarin e o Papa.

Sem retorno.

Com a m�dia expondo,
logo ter�o que se manifestar.

Com licen�a.

Falando sobre a m�dia,

gostaria de voltar � ideia
da �ltima vez.

Encontrei um piloto.

Ele vai nos ajudar por 3 mil euros.

Um piloto?

Explique para quem n�o estava aqui.

Na verdade, al�m do processo
contra o Barbarin,

falamos que precisamos
de muita exposi��o.

Pensei em fazer uma escrita no c�u.

O qu�?

Um avi�o que desenhar� com fuma�a
no c�u, acima da igreja,

um p�nis grande, com nossa logo embaixo.

- � engra�ado.
- N�o �amos espalhar panfletos?

N�o, um p�nis gigante!

Uma forma de dizer aos cat�licos:
"O que te choca mais?

Um p�nis ou padres ped�filos?"

- � meio pesado, n�o?
- Sim, com certeza.

Podemos fazer no Vaticano.

� 8 mil euros,
mas ele nos faz por 4 mil,

porque � engra�ado
e somos uma associa��o.

L�, apareceremos no mundo todo.

N�o pode desenhar
um p�nis no c�u, � rid�culo.

Precisamos de algo com impacto,
alguma coisa que enfatize a LPL.

Algo tipo: "Pedofilia:
Um basta ao sil�ncio da Igreja."

� muito comprido.

� o que proponho.
Se n�o, fa�a a reuni�o sozinho.

N�o � o que eu quis dizer.

Desculpem, falo de praticidade.
Sim, est� certo.

Devemos divulgar o site,
mas � muito longo, n�o d�.

Eu gostei da ideia.

- Claro, � o seu marido.
- � verdade!

� uma imagem chocante,
pelo menos teremos aten��o.

Se vemos uma logo no c�u,
sabemos que � publicidade.

- Um p�nis chama a aten��o.
- Com certeza.

Mesmo que choque e seja vulgar,
� menos chocante do que o caso.

Voc�s dois s�o incr�veis.

� uma a��o popular!

Fran�ois, a ideia n�o � ruim.
Mas, se vamos fazer um p�nis no c�u,

precisamos das palavras certas
para representar nossa causa.

N�o � sobre p�nis ou sexo.

� sobre a sexualidade dos padres,
um assunto tabu.

E a pedofilia, principalmente.

Precisamos de uma mensagem espiritual,
uma voz espiritual, a� eu concordo.

Eu concordo com isso.
Falo em ter milh�es de espectadores.

Chamar aten��o.
Pessoas v�o se chatear, e da�?

Todos v�o rir,
e isso vai pressionar a Diocese,

pol�ticos e procuradores.

Cuidado, a imagem da Bas�lica
tem direitos autorais.

Precisamos da autoriza��o
de tudo o que for para a m�dia,

e eles n�o v�o gostar.

N�o fazemos isso para que gostem.

Me lembra de quando colocaram
uma camisinha gigante em Paris.

Chamou aten��o, sim.
Mas � muito pol�mico.

Sim, � o mundo que vivemos hoje.
N�o temos escolha.

Na P�scoa seria uma boa data?

Com certeza.
Precisamos ver se o c�u estar� limpo.

Eu sou contra, acho exagerado.
Vai chocar os cidad�os.

� s� para chocar.

O foco � manifestar,
n�o passar por loucos.

Com licen�a, � nossa advogada.
Vou atend�-la.

Podemos aproveitar para jantar.

Ol�.

- Voc� � o Alexandre?
- Sim, tudo bem?

- Sou Emmanuel.
- � um prazer.

Eu li seu depoimento l� no site.

Um absurdo fazerem voc� rezar
com o Preynat.

Minha esposa, Marie.

Emmanuel.

- Boa noite.
- � um prazer.

- Li seu depoimento, muito comovente.
- Obrigado.

Tchau.

O p�nis na Bas�lica n�o ser� poss�vel.

Por qu�?

De acordo com a Nadia,
� difama��o direta.

- Viu? Eu devia ser advogado.
- � verdade.

- Quer beber algo?
- Vinho branco, por favor.

Antes de irmos, algu�m pode
cuidar do telefone da associa��o?

Eu n�o consigo mais.

Temos liga��es todos os dias,
das v�timas e da m�dia.

Estou exausto. Algu�m?

Eu.

Sou a m�e do Emmanuel.

Posso atender as liga��es,
sou aposentada.

Tenho tempo.

- Seria �timo.
- Muito bem.

- Tem certeza?
- Claro que sim.

- Boa noite.
- Alexandre. Minha esposa, Marie.

- Quer alguma coisa para beber?
- Sim, obrigada.

Boa noite.

J� sonhei muitas vezes
que o torturava em um por�o,

arrancava os olhos, os dedos um por um,

para faz�-lo sofrer!

- Como em "C�es de Aluguel"?
- N�o sei, n�o assisti.

Ele corta a orelha do outro fora.
� nojento.

Depois, ele fala com a orelha.
Achei demais.

Hora de dormir.

Voc�s acordam cedo amanh�.

Boa noite.

Boa noite, pai. Boa noite, m�e.

Boa noite, meninos.
Sem pesadelos com orelhas cortadas.

Boa noite.

Seus meninos s�o incr�veis.

A Marie os educou bem.

Nos entendemos bem.
Conversamos sobre tudo.

O contr�rio de mim com meus pais.

Acontece o mesmo com os meus.

Se visse a rea��o da minha m�e
sobre a "La Parole Liber�e"...

Voc� n�o foi agrad�vel tamb�m.

Vou ler uma mensagem que mandei.

"M�e, n�s n�o somos contra a Igreja.

O Barbarin deve admitir
que protegeu um ped�filo.

Ter que chupar ou masturbar
um padre aos nove anos...

O que h� de mais terr�vel?

Voc�s n�o nos protegeram na �poca.
Cabe a n�s proteger quem �ramos.

Somos v�timas.
N�o temos mais vergonha e nem medo."

- Foi direto.
- Sim.

- O que ela respondeu?
- Coisas banais.

"N�s te amamos, fique bem.

Cuidado com a m�dia."

- Eu vou.
- Vai?

- Vamos tomar um caf�?
- Vamos.

Voc�s formam uma fam�lia linda.

Admiro voc�s.

Obrigada.

Eu n�o tenho nada.

Sem fam�lia, sem trabalho...

Um relacionamento t�xico
com a minha namorada.

Tamb�m tivemos nossos momentos dif�ceis.

Sim, mas est�o juntos. Voc� o apoia.

Sim, � verdade.

N�o sei como voc�s conseguem.

� dif�cil conviver com zebras como n�s.

Desculpe, eu disse algo que n�o devia?

N�o � nada. Desculpe.

Tudo bem?

Vou dizer uma coisa
que os outros membros n�o sabem.

Sim?

Tenho apoiado o Alexandre com os traumas
e nessa luta contra a Igreja

porque � uma luta minha tamb�m.

Sim, eu entendo.

Quero dizer, tamb�m fui abusada.

Ele era meu vizinho.

Um amigo da fam�lia. Todos o adoravam.

Hoje ele est� morto,
ent�o est� prescrito.

Se contasse,
minha fam�lia enlouqueceria.

Precisa ser corajoso para falar
e enfrentar os julgamentos.

Eu nunca consegui.

� por isso que admiro voc�s.

Obrigado.

- Quem �?
- Sou eu.

- Quem?
- Emmanuel.

- � o Emmanuel.
- Abra para ele.

Podia ter ligado.

Eu estava pelo bairro
e quis fazer uma visita.

- Quer pur�?
- Sim, obrigado.

Pai, recebeu tudo que enviei?

Recebi.

- Voc� viu?
- Ou�a...

Todos n�s temos problemas.

A sua associa��o est� fazendo
bastante barulho.

Pensei que seria importante voc� saber.

Para entender nossa rela��o,
porque foi dif�cil quando era crian�a.

� culpa da sua m�e.

Ela que te mandou para l�.

Ela n�o sabia.

- Sabe o que eu penso dela.
- Sei.

Ela teve o que merecia.
Fez de tudo para te jogar contra mim.

Voc� n�o � a v�tima.

Eu sou.

V�tima?

Pare com isso.

Voc� � um homem agora.

- Fa�a alguma coisa da sua vida.
- Essa � a minha vida.

"La Parole Liber�e" � minha vida.
Voc� n�o entende!

Voc� nunca entendeu!
Desculpe pelo inc�modo!

N�o v�!

- Que ideia idiota.
- Estamos felizes de te ver.

Desculpe, Nicole.

Fique, por favor.

Fale para esse velho ir se ferrar.

Podia ter se esfor�ado.

- Algo mais?
- N�o, obrigado.

Vai ficar 6 euros.

Aqui.

Conheceu o Padre Preynat?

Sim, conheci.

Sou uma das v�timas.

Fiz catequese na St. Luc.

- Eu era escoteiro.
- Certo...

Quer falar sobre isso?

N�o, n�o.

Estou bem, obrigado.

At� mais.

- Senhora, posso ajudar?
- Tchau.

Quero uma rosca de chocolate.

Sim...

Claro que entendo.

�timo.

Certo.

Eu sei que � dif�cil,

mas vai te fazer bem
colocar tudo no papel.

Pode me ligar quando quiser.
Tchau, seja forte.

Desculpe, mas o telefone
n�o parou a manh� toda.

Pelo menos tr�s novas v�timas.

- Comprou carolinas. Obrigada!
- Voc� merece.

- Eu vi o Etienne, o filho do padeiro.
- � mesmo?

- Acho que ele foi abusado tamb�m.
- Ele te disse?

N�o diretamente, mas entendi.

N�o me surpreende.

Ele ainda mora com os pais.

Al�m da padaria, ele n�o tem vida.

Acha que vai testemunhar?

Acho que n�o.

N�o seria bom
para o neg�cio dos pais dele.

As cinco padarias de Lyon
s�o bem cat�licas.

E como voc� est�?

E a Jennifer?

Vamos dar um tempo.

Que triste...

� desgastante.

Ela n�o suporta me ver melhor.

Fui ver meu pai.

- Por qu�?
- Falar com ele.

Ent�o?

Ele n�o entende.
Diz que todos n�s temos problemas.

N�o vai conseguir mud�-lo.

- A Nicole estava l�?
- Sim.

M�e, voc� lembra?

Um dia, saindo da catequese,
eu disse que o padre me beijou.

Sim, eu...

Me lembro vagamente.

Por que n�o disse nada?

N�o podia imaginar tal coisa.

Na sa�da da igreja,
ele beijava todas as crian�as.

Eu n�o imaginava que...

Tenho raiva de mim at� hoje.

"La Parole Liber�e",
em que posso ajudar?

Bom dia, senhor.

Claro.

Estou ouvindo.

Prometo fazer o melhor.

Por minha honra.

Para Te louvar.

Meu Senhor.

Quero sempre Te amar.

Cada dia, mais e mais.

Proteja minha promessa.

Senhor Jesus.

Fiel � minha terra eu serei...

Venha rezar, Emmanuel.

Monsenhor Barbarin, por que acreditou
no Padre Preynat em 2007 e 2008?

Porque creio na palavra das pessoas.

LOURDES, MAR�O DE 2016
- Foi o que causou tudo isso.

Tem toda a raz�o.

Ent�o...

Minha primeira preocupa��o
s�o as crian�as.

Eu perguntei:
"Alguma crian�a foi ferida,

agredida ou perturbada desde 1990?"

Ele me disse:

"N�o, eu prometo.

Foi horr�vel o que fiz."

Admito que acreditei.

Se provarem que errei,
que houveram casos depois...

Isso ser� realmente horr�vel.

Reconhe�o que as v�timas
vivenciaram traumas extremos.

Mas volto a dizer que, pessoalmente,

eu nunca encobertei
nenhum ato criminoso.

Gra�as a Deus, todos os fatos antigos
est�o prescritos.

Alguns podem n�o estar,
ent�o cabe � justi�a decidir.

Desculpe, percebe a gravidade
do que acabou de dizer?

"Gra�as a Deus, todos est�o prescritos."

Sim...

� que do ponto de vista legal,
a maioria dos fatos est�o prescritos.

Mas "gra�as a Deus"
significa "felizmente".

Sim, eu entendo.
Me expressei mal, eu admito.

Al�m disso,

quando recebi esta v�tima,
pedi para que me enviasse a carta.

E a verdade � que fiquei horrorizado.

A primeira coisa que fiz,
mesmo o caso estando prescrito,

foi enviar a carta para Roma.

E Roma disse:

"N�o, isto n�o � poss�vel.

Desligue-o do minist�rio."

Obrigado por me corrigir.

E quando ser� o processo can�nico?

Perguntei ao Papa Francisco se poderia,
para este caso, remover a prescri��o.

Ele aceitou.

O processo ser� em algumas semanas.

Ser� conduzido por padres que estudar�o
as evid�ncias e escutar�o as v�timas.

Far�o um julgamento can�nico.

O Padre Preynat poder� ser excomungado?

� poss�vel.

NATAL DE 2016

Quero fazer um brinde.

A todos voc�s.

Ao nosso trabalho na associa��o,

que nos levar� ao julgamento
e � condena��o do Preynat.

E espero que da Igreja
e do Barbarin tamb�m.

Quero agradecer a voc�s

por tudo que t�m feito.

Pelo apoio de voc�s.

Isso mudou minha vida.

Trouxe sentido

e valor � minha vida.

Sei que hoje, gra�as a voc�s,

tudo o que vivemos e passamos

- n�o foi � toa.
- Vai nos fazer chorar!

Aos "Lioneses do Ano"!

Eu queria ver a cara do Barbarin
quando vir as not�cias!

- Sa�de a todos!
- Sa�de!

Vou buscar a sobremesa.

Vou te ajudar.

J� que estamos discursando,
gostaria de dizer que eu e a Dominique

terminamos nosso trabalho.

Como assim?

J� fizemos muita coisa.

Cobrimos toda a m�dia,
exceto algumas pessoas.

Atingimos nosso objetivo.

- O Preynat ser� julgado.
- N�o podem fazer isso.

- O Preynat n�o � todo o problema.
- Sim.

A Igreja nega os pr�prios erros,
se recusa a evoluir.

O que o Gilles n�o disse � que...

Precisamos de tempo para n�s dois,

como casal e como fam�lia.

A associa��o requer muita aten��o,
profissional e emocionalmente.

A vida de todos mudaram,
como disse o Emmanuel.

Entendo que precisem de um tempo.

Tudo est� indo bem.

Agora � a justi�a e os advogados
que v�o fazer o trabalho.

Quebrou um pouco o clima.

N�o...

Devemos saber a hora de sair,
para n�o virar chacota.

Como?

Devemos voltar a pensar nas v�timas.

N�s somos v�timas.

Falo dos outros, das novas v�timas.

Voc�s sabem a data do julgamento?

N�o.

Fico preocupada pelo Preynat ser velho.

Se ele morrer ou se suicidar,
o que acontece?

N�o acontece nada.

N�o h� julgamento.

Tudo ter� sido em v�o.

Ele nunca vai se suicidar.
N�o faz o tipo dele.

Ele � muito orgulhoso.

Ele poderia tentar um acidente.

Come�aram as teorias de conspira��o.

Muitas pessoas querem que ele despare�a.

Vai muito al�m da Igreja.

Todos os bancos e pol�ticos
de Lyon apoiam o Barbarin.

Certo, eu tenho uma boa not�cia.

Bom...

Fiz um pedido de apostasia.

O que � isso?

� quando renuncia ao batismo
para n�o fazer parte da Igreja.

Muito bem.

Acho uma pena. � triste.

Tenho valores humanos
e n�o cat�licos, cheios de hipocrisia.

Nossa filha foi batizada,
mas n�o far� os sacramentos.

O importante � o batismo e a f�,
n�o a institui��o.

Eu entendo, Fran�ois.

� um gesto forte e pol�tico.

Para lutar contra a institui��o,
deve estar dentro da Igreja e n�o fora.

A for�a vem do interior.

Como pode dizer isso?

Tudo o que tem feito
prova o contr�rio, n�o?

Acho que seria �timo
se todos pedissem...

- Apostasia.
- Isso alertaria a imprensa.

Imagine as manchetes.

"Membros da 'La Parole Liber�e'
abandonam a Igreja."

Seria demais.

N�o?

� s� uma ideia.

Sobremesa?

- N�o, obrigado. Vou fumar.
- Eu tamb�m.

Obrigada.

- Boa noite.
- Obrigado, Marie.

Quer carona, Emmanuel?

N�o, obrigado.

- Obrigado.
- Boa noite.

Obrigado por tudo, at� mais.

Tchau, pessoal. Boas festas.

Boas festas!

- Tudo bem?
- Sim, sim.

- Chegando a essa hora?
- A mam�e deixou.

E amanh� � domingo.

- Estava com a Elodie?
- Estava.

- Se divertiram?
- Sim, fomos a uma festa.

Foi legal. E o jantar de voc�s?

Foi bom. Meio tenso.

Comemoramos nosso pr�mio,
"Os Lioneses do Ano".

Parab�ns.

- Sabe quem ganhou ano passado?
- N�o.

- Adivinhe.
- N�o fa�o ideia.

O Barbarin.

N�o acredito!

- Boa noite.
- Boa noite.

Pai?

Sim?

Ainda acredita em Deus?

PE. PREYNAT SEGUE SUPOSTAMENTE INOCENTE.
A DATA DO JULGAMENTO AINDA EST� EM ABERTO.

EM 4 DE JULHO DE 2019,
ELE FOI DESTITU�DO DO ESTADO CLERICAL.

EM 7 DE MAR�O DE 2019,
O CARDEAL BARBARIN

FOI CONDENADO A SEIS MESES
DE PRIS�O EM CONDICIONAL

POR N�O DENUNCIAR ABUSOS SEXUAIS
EM MENORES DE 15 ANOS.

ELE RECORREU E ALEGA INOC�NCIA.

EM AGOSTO DE 2018,
A LEI DE PESCRI��O FOI ALTERADA

DE 20 PARA 30 ANOS
A PARTIR DA MAIORIDADE DA V�TIMA.

Tradu��o: Vanessa Gellert