All language subtitles for От обич е33

Marcelo, o que aconteceu?

A Eduarda... perdeu o bebê.

Ela... Ela tá precisando muito de você.

Ela falou em você o tempo todo.

Mas por quê? O que aconteceu?

Tava tudo tão bem, ela tava tão bem, ela
tava tão feliz.

Não sei o que aconteceu. Na sexta
-feira, quando a gente foi pra Angra,

muito rápido. Ela começou a ficar pior,
pior, pior.

Hoje a gente voltou de Angra, a gente
foi direto pro hospital.

Ela já tava sentindo dores, perdendo
muito sangue.

Aí no ultrassom, ela já tinha perdido
tudo.

Isso não podia acontecer, meu Deus do
céu, meu Deus do céu, onde é que ela

Ela dormiu no hospital, o médico achou
melhor. Melhor do que ela ficar em casa

recebendo as pessoas, ela não ia
conseguir descansar.

Eu comprei tanta coisa bonitinha lá em
Buenos Aires pensando nos filhos de

vocês.

Eu trouxe uma malinha de roupa e senha
de coisa, sapatinhos, coisinhas de bebê,

brinquedinhos, eu não pensava noutra
coisa.

Eu ficava pensando assim, meu Deus, a
carinha da minha filha quando ela vê

isso, achamos tudo maravilhoso.

E agora eu chego e encontro essa
notícia, não dá pra acreditar.

Eu nunca vi ninguém nesse mundo que
quisesse tanto um filho como ela. E

oh meu Deus, eu já tenho que ficar
desesperada.

Meu amor, ela ainda é jovem. Ela vai
engravidar outra vez.

Você não pode perder a esperança, entrar
em pânico assim, que pode passar pra

ela. Isso você tem que pensar nisso
também. Eu acho que a Tilo tem razão.

Acho que agora o melhor é ficar perto
dela. Ela tá precisando muito de você.

quer você perto dela.

Eu não queria que isso tivesse
acontecido. Eu não queria.

No começo eu tinha medo por causa dos
atrasos que ela tinha constantemente,

agora eu estava tranquila, eu achava que
não ia acontecer mais nada, nenhum

problema.

Oh, meu Deus do céu, que coisa muito
triste.

Por você e pela Eduarda.

Pela Helena, eu sinto muito mesmo.

Eu sinto.

Toma um pouquinho de café. Toma. Só um
pouquinho.

Eu acabei de fazer.

Ele me contou quando chegou, mas eu não
tive coragem de contar pra você.

Eu pedi pra ele ficar, pra ele mesmo
falar.

Tão esperado, tão desejado, tão sonhado.

Ela sofreu tantas pressões pra
engravidar.

Cobrança de todo lado. Eu mesma fiquei
preocupada, achando que tava demorando

demais.

Até promessa eu fiz.

Como é que isso foi acontecer?

Por quê?

Por quê?

Renan, tinha que ser. Deus sabe o que
faz.

Acho que o próximo duelo com o Wilson eu
vou deixar pra Helena, que tá chegando

linda e fresca da lua de mel.

Se eu não começar a trabalhar amanhã,
pelo menos 10 horas por dia, eu não vou

conseguir produzir o suficiente pra pelo
menos cobrir uma parte do que aquele

animal destruiu não, viu?

Ai, tem paciência, viu, Márcia? Eu não
quero criticar. Porque eu já passei cada

barra com homem. Se eu te contar, você
chora.

Mas será que você não percebeu esses
anos todos? O animal, o monstro que tá

dormindo com você?

Ele sempre foi meio estourado, assim.

Favio curto, sabe?

Mas ele também tinha um lado carinhoso.

Amoroso mesmo.

Então o lado ruim comeu o lado bom, né?

Porque foi perversidade.

Destruir um trabalho que você fez com o
sacrifício durante meses.

Só agora, olhando pra trás, é que eu
percebo que ele tinha inveja.

Ciúme do que eu fazia.

Achava que eu dava mais valor ao barro
do que a ele.

Homem com ciúme de trabalho é te matar.

Já fiz um desse também.

E de um que anda a tensão.

Devoção integral 24 horas por dia.

Ele brigava porque eu não ajudava no
restaurante.

Queria me ver de avental lá atrás do
balcão.

Tive que contratar um empregado.

Pra fazer o serviço que você fazia. Ele
me disse uma vez.

Por quatro salários mínimos.

Era o preço que eu valia pra ele.

Quatro salários mínimos.

E você ficou ali.

Aguentando.

Aguentando. E deu no que deu, né amiga?

Quantas vezes a gente fica com um homem
muito mais do que imaginava.

Eu tenho uma prima que ela ficou casada
dez anos e já voltou da lua de mel

reclamando do marido.

Ela me disse, descobri que ele não tem
higiene, que ele não tem limpeza, que

não é limpo.

Logo ela que era toda fresca, daquelas
que escovam os dentes antes e depois das

refeições. Ficou casada com ele dez
anos.

Dez anos pra tomar coragem de separar? O
que separar? Até ele morrer.

Olha,

eu vou tomar um banho, depois eu vou
passar no supermercado, depois eu vou lá

Helena, da minha de boas -vindas.

Não leva problema meu pra ela, não, tá?

Logo agora, que ela tá voltando de lua
de mel aí, toda feliz.

Eu acho que eu vou pegar uma limpa
externa. Vou levar uma roupa de roupa,

uma escova de dente, e conforme for, eu
durmo lá com ela. Olha pra vocês lá. O

que não é legal é a Eduarda acordar sem
a presença de vocês. Ela vai se sentir

muito sozinha. Sim, vai indo então. Ela
tá bem, tá?

Tá.

Oi, tudo bem?

Tudo bom?

Se chegaram?

Tudo bem?

Tem uma novidade por aqui pra vocês que
deve estar cheio de histórias pra

contar. Ah, fomos ver um balé, fomos
numa exposição de cultura, não sei se

gosta da obra da Frida Kahlo.

Eu ouvi falar assim, né? De passagem.

Muito vinho, muito frango, uma das
lembrarias mais bonitas do mundo. A

trouxe uma lembrancinha pra você.

Bobagem, mas nem precisava se preocupar
comigo.

Imagina, em plena lua de meia, ainda tem
que lembrar dos amigos?

Ô, querida! Você é um cara de mel, de
melado que é mais doce, né?

Meu amor, depois eu vou te falar, tá?
Porque eu cheguei e encontrei um furacão

pela frente. Você comprou pra ela?

Não.

Eduardo perdeu o bebê.

Meu Deus do céu, Helena.

Eu vou ficar lá essa noite. Amanhã a
gente fala, tá? Se você precisar de

coisa, eu tô aqui, viu? Olha, você me
liga, tá?

Tá bem, tá bem. Até já.

Tereza, vem guardar essas compras pra
mim. Olha, você guarda primeiro as

da geladeira como eu te ensinei, tá?

Se a Nestor ligou, diz que vai chegar
mais tarde, viu? Serviço extra.

Deus sabe, eu desconfio, né?

Serviço extra.

A Cate tá aí? Tá no quarto.

Ai, Dona Celeste, ela tá com uma cara...
O Eduardo perdeu o bebê.

Jura, mãe?

Não sei se eu acabei de ficar sabendo, a
Helena me contou. Gente, eu tô passada,

gente. É como se ela fosse minha filha.

Eu vim até aqui para fazer o teste.

Você falou que eu fazia quando
atrasasse, lembra?

Estou grávida, mãe.

Dessa vez, estou mesmo.

Vem, quer ver como eu estava preparada
para essa notícia? Senta aqui, espera um

pouquinho, tá?

O que é, mãe?

Espera, você já vai... Espera...

Ai,

mãe...

Manta, camisinha de pagão, chaféuzinho
babador e

sapatinhos vermelhos, para ele ter
bastante saúde.

É uma tradição, é uma superstição. Minha
mãe levava essas coisas muito a sério e

eu também. Quando eu fiquei grávida, foi
a vizinha quem deu os meus sapatinhos

vermelhos. Ai, que lindo, mãe, que
lindo.

Estava tudo aqui, já esperando pelo seu
bebê.

Mãe, mais um calor.

Eu acho que quando eu tiver aquele
barrigão, eu não vou nem sair de casa.

Menina, filha, depois acostuma.

Deixa eu ver. O quê? A barriga? A minha,
não tem nem um mês ainda, não dá pra

ver. Mas você sente alguma coisa
diferente?

Eu sinto tudo diferente. Eu me sinto a
grávida do ano, do século. Eu ando na

assim, ó, empinando a barriga pra ver se
ela aparece.

Queria tanto você perto de mim, mãe.

Meu amor, se eu soubesse, se eu pudesse
adivinhar,

eu nem viajava.

Mas eu deixei você tão bem, tão feliz.

Em momento algum, me arrasou pela cabeça
que isso pudesse acontecer.

Uma sensação de perda, mãe.

Desgusta.

Um nó na garganta que não sai.

Eu nunca pensei que isso fosse tão
doloroso.

E uma impotência.

Ai, meu Deus. Dói, dói, machuca.

Eu sentia, mãe.

Eu sentia que estava perdendo o meu
filho.

ir embora. Ficava se esvaindo.

Tava virando sangue dentro de mim.

Indo embora mesmo.

E eu sem poder fazer nada.

Sentindo meu filho morrer e sem poder
fazer nada.

Olha aqui. Tem que reagir.

E lá pra frente, não foi dessa vez, vai
ser da próxima.

Conheço tantas mulheres que perderam um
filho assim sem querer. A Virginia

mesmo. E nem podia se deixar de ter
outro.

Eu sei.

Dois, três.

Sem nenhum problema.

Eu sei, mas acho que dói mais por ser o
primeiro.

Porque se eu já tivesse tido um, pelo
menos, não ia saber que eu podia ter.

Isso é acontecido por um acaso, uma
fatalidade. Eu fiz o primeiro.

O primeiro da apresentação que eu não
posso ter.

Que eu não vou poder ter nunca mais.

Não é assim.

Não é assim. Não é verdade.

Você vai poder ter quantos filhos você
quiser.

Olha, essa gravidez acabou por causa da
sua ansiedade.

Agora tem que relaxar.

Isso é que acontece outra vez quando
tiver que ser.

Só pra se comprar.

Você sentiu falta com o Marcelo, com a
família dele, com você mesma.

Isso pode prejudicar, isso vai retardar.

Eu sonhei com ele ontem à noite.

Quando eu acordei, eu podia descrever
cada detalhe do rosto dele.

Eu sabia a cor do olho, a cor do cabelo,
o jeito de sorrir, tudo.

lindinho, mãe.

Ele tava vivo na minha frente.

Não. Faça.

Faça.

E agora, mãe?

O que vai ser do meu casamento?

Pode pensar assim, meu amor.

Marcelo ama você.

E adora você.

Vocês vão se virar juntos.

Cada lado.

Você vai ver.

Meu medo era não conseguir chegar a
tempo.

Por que vocês não foram ao hospital lá
perto mesmo?

E ela quis levantar rápido para ficar
perto da mãe.

Assim sufocou a tia.

Não, apesar dos pesados, agora ela tá
segura, não corre mais nenhum risco.

Eu fico pensando assim, se ela não tem
algum problema mais sério, e se ela não

conseguir engravidar outra vez?

Não tem nenhuma razão pra você pensar
isso.

Na verdade, nunca teve uma saúde de
ferro, né? Minha mãe já dizia isso desde

a gente começou a namorar.

A sua mãe é exagerada, Marcelo. Você não
deve se deixar influenciar por ela.

E que a Eduardo não fique nem sabendo
dessa sua desconfiança, porque aí sim ia

ser um desastre total, porque ia ficar
numa ansiedade sem tamanho.

Não, e não é só isso. Se ela põe uma
bobagem dessa na cabeça, você já

sentimento de culpa, de fracasso que ela
vai carregar? Você querendo um filho,

ela não conseguindo dar esse filho que
você quer?

Você tem razão, eu sei.

Eu já passei por isso.

Você não deve estar lembrado que você
era muito garoto, mas a sua mãe lembra

muito bem que eu tive um problema
parecido com esse com a minha primeira

Alice, que não conseguia engravidar.

Ela se sentia culpada por causa da minha
situação que chegava como se tivesse

chegado a uma punição, castigo.

Eu carreguei isso há muito tempo e é uma
coisa que eu não desejo para você.

Mas você sofre por não ter tido filho?

Eu sofri.

Eu sofri mais do que eu sofro agora
porque eu acabei me conformando com o

ia fazer.

Pensei em adotar uma criança, mas a
Alice não quis porque via nisso

um diploma do seu fracasso.

E por que você não adotou depois da
morte dela?

Porque aí eu não tinha mais uma mulher
para me acompanhar nessa experiência.

A Isabel fugia de filho que nem o Diabo
da Cruz.

Agora eu voltei a pensar.

Adotar um menino.

Pode ser até bem grandinho.

Pra me pegar ainda com disposição pra
levar ele pro Maracanã pra assistir o

do Flamengo.

Pro show pra convencer ele a aceitar
isso, né?

Tem que ir pra casa, amor.

Vou tirar essa roupa aqui, tomar um
banho, descansar um pouco.

Tá bom, amor. Vai sim. Minha mãe fica
aqui comigo.

Marcelo, me perdoa.

Me perdoa, amor. Diz que você me perdoa.
Perdoar do que, meu amor?

De eu não ter te dado esse filho.

Não me dê isso, mas vai me dar outro.

Não pensa assim que vai te fazer mal.

Está tudo bem.

Foi tudo o que eu mais queria na minha
vida. Você sabe, não sabe?

Eu sei.

Agora vai dar tudo certo.

Está bom?

Estava tão feliz. Eu estava me sentindo
ótima. Nem parecia que eu estava

grávida.

Primeira noite nós em casa e vamos
dormir separados.

Pior. Primeira noite a minha mulher vai
dormir fora de casa.

Vai sair cedo amanhã?

Vou esperar você pra gente tomar café
juntos.

Tá bom.

Até amanhã.

Dorme bem.

Você também.

Na medida do possível, né?

Sofá de hospital.

A enfermeira já estava no quarto.

Não se importa mesmo eu dormir aqui essa
noite?

Não, não.

Eu me importaria se ela não me pedisse
para ficar.

Vai descansar, você.

A tira acabou de ir para casa.

É. Até amanhã.

Bom, não tenho mais nada para dizer para
você, Marcelo.

Você sabe que eu estou sem vida.

Eu tô pensando, você acha que... Será
que não seria bom tirar uns dias com ela

fora do Rio?

Uma viagem, mesmo por uma semana que
fosse. Você gosta tanto de Nova York.

Ela ficou tão encantada quando esteve lá
com você e o Vladimir.

Quem sabe?

Eu já tinha pensado em fazer essa
viagem, mesmo antes do que aconteceu.

Tô muito cansado, tô precisando
descansar e já vi que a Angra não dá,

Mas vai depender do meu pai, da Isabel
e... Do próprio atilho também.

Olha, eu tenho certeza que se depender
do atilho, realmente acho que não vai

problema nenhum.

Tá bom.

Tchau. Tchau.

Cuida dela.

Estava na cara que isso ia acontecer.

Eu não sei não, viu?

Acho muito difícil a Eduarda conseguir
manter um filho na barriga durante nove

meses. Isso se ela conseguir engravidar
outra vez. O que eu tenho lá as minhas

dúvidas. O médico falou que isso não tem
nada a ver.

E o que ele sabe? Cada um diz uma coisa.
Não consegue ter duas opiniões iguais,

nem semelhantes.

A gente tem que verificar o histórico da
Eduarda. Porque essa menina é doentinha

sim. Porque até alérgica a flores ela é.

Olha, eu nunca vi o...

O Marcelo toma batido.

Claro. Está decepcionado, desolado, é a
palavra certa.

Decepcionado? Que coisa mais idiota
ficar decepcionado com a natureza.

inútil. Não, porque a natureza não está
nem aí para ele.

Minha filha, você diz isso porque você
não tem dentro da sua cabecinha o mínimo

de um ideal familiar.

Marido, filho. Quem falou isso para
você, Branca?

Eu penso em filho, sim, claro.

Você sempre diz que não quer saber de
casamento nem de marido. Não, não quero

saber de marido.

Mas eu quero saber de homem.

Um homem que seja pai dos meus filhos.

Não precisa ser marido.

Está ouvindo que tipo de pensamento é a
sua filhinha, Arnaldo? Isso aí ela fala

da boca para fora. Pior é que se
apaixonar vai casar até nível Grinalda.

pai, por amor, até uma loucura dessas eu
não sou capaz de fazer.

É verdade o que ela falou aqui do lado?
É verdade.

Aconteceu, ela perdeu.

Não consigo.

Bom, do jeito que ela saiu de lá, Léo,
dava pra prever que isso ia acontecer.

Coitada.

Vem morrendo de dor a viagem inteira.

Pra tirar ela do carro e levar pro
hospital, tu vai ter que ir de cadeira

rodas. Tão é a dor que ela sentiu.
Também, eu vou te contar uma coisa.

Eles arriscaram muito, né? Se eu ter ido
pra um hospital lá em Angra. Mas ela

que não quis.

É, falava o tempo todo em voltar pro
Rio.

Eu nunca vi uma pessoa tão carente.

Pediu a mãe o dia todo.

É, mas é de mãe mesmo que a gente
precisa numa hora dessas.

Isso é claro, depende muito da mãe, né?

Se isso é alguma indireta pra mim,
perdeu o seu alvo, minha filha.

Sempre estive do seu lado.

Sempre que você precisou.

Inclusive durante aquelas malditas
doenças infantis.

Porque, olha, caso você não saiba, fique
sabendo que quando eu era adulta eu

peguei sarampo e quase morri.

Por sua causa, viu?

Desde pequena você já contagiava.

Como é que tu as coisas lá?

A Helena tá lá, vai dormir com ela essa
noite.

Porque pra mim, francamente, não dá.

Se a doce tal me enjoa... Tá certo, meu
filho, tá certo.

Isso daí é mais coisa de mãe mesmo que
de marido, viu?

Eu também não gosto de hospital, não é
só do cheiro, não.

Corredor de hospital à noite vazio.

Já viram como é que é?

Só aquelas luzinhas em cima de cada
porta.

Filme de terror.

Não vai comer nada, Marcelo?

Não, obrigada.

Você está só com o café da manhã.

Tudo bem, mas eu estou com vontade.

Mãe, eu posso fazer um sanduíche para
ele? Deixa, Leonardo. Ele deve estar

querendo curtir sozinho a dor dele, né?

Deixa que eu atendo.

Alô?

Laura?

Oi, Regina, como é que vai?

Pois é.

Não, a gente chegou agora de Angra e
Léo.

Era tempo de carro.

Quer falar com ela?

Tá. Um beijo.

Oi,

Virginia.

Ah, minha filha, eu tô arrasada, né?

Ai, que barra.

Eu estou profundamente chocada.

Sabe o que eu fiz até uma promessa para
o Eduardo não perder o bebê?

Eu juro.

Eu prometi deixar de fumar.

Você sabe o que isso significa para mim,
né?

Eu fumo desde os 12 anos e já fiz de
tudo para parar.

Nessas horas da gente que é amiga, não
tem muito o que dizer.

É só ficar à disposição.

Conta comigo, viu?

Amarelo.

Não caia no elo, não.

Isso só vai te fazer sofrer.

Ó, tem que partir pra outra e pronto.

Onde é que eu atendo?

Vim dar as boas -vindas pro casal. Com
atraso.

Eu sei, mas esse fim de semana foi o
mais enrolado da minha vida.

É, o nosso também não tá fácil, não.
Quer dizer, tava bom até chegarmos aqui,

mas agora... O que que houve?

Cadê a Helena?

Pois é, tá no hospital.

Com a Eduarda.

Ela perdeu o bebê.

Não.

Quando? Hoje, eu acho que é um pouco
antes de nós chegarmos. Eu vim de lá

Ai, a tia, elas devem estar arrasadas.

Me oferece alguma coisa para beber?

Claro, eu te acompanho no whisky.

Eu pego o gelo.

Coitadinha, cadê o balde de gelo? Deixa
que eu pego.

Não, só o balde.

Eu trouxe uma de floreto para a Helena,
com esse calor que está capaz de murchar

antes dela chegar. Você bota no...

Num vaso com uma água friazinha, tá bom?

Você tem uma latinha de atum aí com umas
torradinhas?

Tenho, tenho. Então você faz um favor
com esse atum.

Ui, me ajuda.

E bota, mata com garfinho, pica uma
cebolinha bem picadinha com uma

pouquinho, sem exagero, e leva pra sala
com umas torradinhas de canapé, ok?

Que barra, hein?

Fim de semana, sem vergonha isso.

Sabe o Wilson?

Sabe o que o Wilson fez?

Quem é o Wilson?

O Wilson, o marido da Márcia, aquela
artista plástica amiga nossa, lá da

Ah, sim. Teve uma crise, destruiu o
ateliê inteiro.

A gente com a exposição marcada, tudo
organizado. Agora estão faltando peças.

Acho que não temos muito o que brindar,
né?

O que importa é que vocês estão de volta
e que a gente tem que tocar a vida pra

frente.

Isso é bobagem. Isso é bobagem. Vocês
são jovens.

É só vocês esperarem um tempo
regulamentar.

Termina.

Começa a prorrogação e pimba.

Vem aí outro.

Esse é jeito de falar, pai, horrível. O
que? Estou sendo objetivo.

Não é assim não, viu? Não é assim não.

Tenha que procurar um bom médico, aqui
ou no exterior, e ver as condições de

saúde da Eduarda.

Saber se está tudo bem com ela, ou se o
que aconteceu com ela foi um acaso, como

acontece com outras mulheres.

A menina, a mulher do Cotinho, você
lembra, Arnaldo, que ela perdeu com

meses? Ou então, se a menina tem algum
problema e se isso contribuiu.

Se ela precisar fazer um tratamento,
tomar vitamina, sei lá. Porque, olha,

engravidar de novo e perder é sacrifício
demais pra todos nós.

Eu falava sobre isso antes de você
chegar, viu, Marcelo?

Bom, gente, eu vou dormir.

Boa noite.

Boa noite, Marcelo. Se o doutor César
ligar, me chama, eu falo com ele. Claro,

meu filho, vai descansar, vai.

Tchau. Tchau.

A história de médico é outra coisa que
me preocupa, Arnaldo.

Doutor César, você viu a cara dele?

Receio informado.

Esses amigos da Helena, essa ligação com
esse passado sentimental dela.

Outro dia eu falei sobre isso. Você se
lembra quando a Eduarda falou que ia no

tal do doutor Moretti, que por sinal nem
apareceu? Esse menino é assistente

dele. É.

Colega de escola da Eduarda.

Me apresentou outro dia quando a gente
estava almoçando no japonês.

E pelo olhar dele pra ela, ele é louco
pela Eduarda.

Nossa, a história tá começando a ficar
picante.

Você quer tomar alguma coisa?

Ah, se tiver um champanhezinho gelado.

A pressão tá um pouco alterada. Pouca
coisa.

Mas é compreensível.

Temperatura normal.

Rigorosamente ela não tem nada.

Tá traumatizada, claro, mas fisicamente
tá tudo em ordem.

Amanhã levanta e vai pra casa, hein?
Porque o hospital mais que um dia

Reparação em casa é outra coisa, né? E
nenhum remédio, nenhuma recomendação?

Nada.

Quer dizer, tem que repousar, procurar
relaxar.

Não fazer nenhum esforço exagerado.

Mas pode e deve passear, se distrair.
Enfim, ainda normal.

Falei com o doutor Moretti. Ele estava
em Petrópolis. Chegou agora há pouco.

Ele quer ver a Eduarda durante a semana.
Dá uma checada em tudo.

Eu ligo pra ele.

Se quer perguntar alguma coisa, Eduarda.

Retira alguma dúvida.

Eu vou poder engravidar outra vez, sem
problema?

Todos os seus exames foram normais.

A maioria dos abortos naturais que
acontecem no primeiro trimestre de

se deve à má formação do ovo e não à
incapacidade da mulher de gerar.

O que o organismo fez, Eduarda, foi
expulsar o ovo mal formado.

Em quanto tempo eu vou poder engravidar?

Olha, se o aborto for completo, por isso
não foi necessário fazer a coletagem.

Se não fosse assim, teria que esperar
uns seis meses, mais ou menos.

Mas no seu caso, não, hein?

Daqui a uns dois, no máximo três meses,
já vamos ter uma bairrinha de pontando

aqui outra vez, né?

Obrigada.

Que coisa tu exordens.

Qualquer hora.

Eu paro até amanhã bem cedo pra dar uma
única.

Você ouviu o que ele falou?

Daqui a dois, três meses, você vai poder
engravidar novamente. Por isso, relaxa.

Quando você era pequena,

tinha pesadelo, corria pra minha cama e
ficava assim comigo, grudadinha comigo,

juntinho. Não deixava eu sair.

De perto, mas nem pra pegar um copo d
'água pra você beber.

Foi, filho?

Pela cara já vi que você não comeu nada.

Mas eu preparei um sanduíche pra você.

Sobre o trevo, assim por hora, ó meu
amor, só tens agora

os carinhos do motor.

E no escritório em que eu trabalho e
fico rico,

quanto mais eu multiplico, diminui o...

que comer alguma coisa.

Até agora, só com o café da manhã, onde
é que já te viu?

Tudo bem.

Tem uma corrida com a Anitta hoje,
depois que você saiu.

Pra que, mãe? Ela é assim mesmo.

Ah, mas tem que mudar, tem que melhorar.

Se ninguém falar nada, ela continua a
mesma.

Tiumenta, invejosa.

Não fala a boca pra fora.

Olha, o maior defeito de uma pessoa é a
falta de solidariedade.

No médico, então, é mais do que defeito.
É crime.

Seu pai também foi deitar aborrecido com
o comportamento dela.

Tá bom. E você também vai deitar, né?
Sem se aborrecer, tá?

Fazer uma coisa, deixa eu ficar um pouco
sozinho.

Tá, filho, tá. Eu já já vou pra casa,
tá?

Tá, velho.

Boa noite, durma bem, viu?

Dorme bem.

Não esqueça de apagar a luz. Tá bom.

E então, como é que ficou?

O clima aqui tá péssimo. A Eduarda
perdeu mesmo o bebê, não tem jeito.

Puxa, que chato.

A Eduarda perdeu o bebê.

Que pena.

Eu perdi um também, com quase três
meses.

Foi antes da Sandrinha nascer.

Sinto muito.

Bom, agora é tocar pra frente, né?

Me diz uma coisa.

A feijoada, como é que tava?

Ah, tava maravilhosa.

Minha mamãe, então, guardou um trato pro
filhinho?

O que você acha?

Aliás, sobrou muito. Se você quiser vir
experimentar, você pega o carro e vem.

Olha, você não me conhece.

Eu sou louca, eu vou mesmo, hein?

Não, então, eu tô convidando, pode vir.

Ah, mas você fica me devendo.

Vai voltar pra Angra?

Não, acho que só no final da semana.

Mas a gente se vê antes.

É, a gente pode tentar combinar alguma
coisa, né?

Pois é, corrigadinha. escorregadia você,
né?

Você não gosta muito nem do sim nem do
não. Prefere sempre um talvez.

Não, não é isso, Milena. É que eu tenho
que ver o meu horário mesmo.

A escala.

Também. Também. Eu sou empregada.

Tudo bem. Eu ligo pra você já que você
não me liga de jeito nenhum mesmo, né?

Não, eu ligo pra você. Eu ligo.

Eu vou estar esperando.

Um beijo. Um outro.

Tchau, tchau.

É jogo duro mesmo, hein? Na lata.

Sem fazer rodeio.

Pelo menos é uma moça objetiva, direta.

Divertida ela.

Você quer tomar um café?

Não, não quero não, mãe. Obrigado.

Já ficou bem desfechido.

A Sandrinha agora só dorme na minha
cama.

O Orestes acostumou, agora vai ser duro
tirar esse abuso da menina.

Você sabe que eu também acabei dormindo.

Era só pra dar uma cochilada, mas também
com aquela feijoada.

Você toma um café, Orestes?

Café? Toma sim.

Você chegou faz muito tempo, Nando?
Cheguei, já jantei tudo.

Feijãozinho gostoso aquele, hein? É, bem
gostoso.

Bom, boa noite. Eu vou dormir.

Tchau, mãe.

Já vai dormir, filho?

Já tá muito cedo.

É, eu vou dar uma lida em umas revistas,
vou estudar um pouco inglês.

Nessa época do ano o movimento de
turista aumenta muito. Se eu não

danço. Eu pego cada gringo.

E você parou de fazer aquele curso,
lembra?

Tanto que eu insisti.

Pois é, mãe. Eu até mesmo me arrependo,
mas eu estou retomando.

Você é jovem, Nanda. Você pode recomeçar
o que quiser, a hora que quiser.

Lá vem você com o setor de jovem.

Ele é jovem, eu sei.

Mas se ele tivesse feito o curso com o
Loutanto em Sicília, ele teria um jovem

falando inglês.

No lugar de ter um jovem que não fala.

Não, peraí. Mas também não é assim, não,
mãe.

Não é assim, não. Eu me viro.

Eu não falo bem, me atrapalho um pouco,
capengo, mas eu me viro.

O que é gringo também? Falar rápido,
aberto? Você acha que a gente tem

de saber de uma deles?

E tem mesmo.

Você abre o jornal e você vê. Só tem
emprego pra quem fala inglês e pra quem

sabe lidar com computador.

Quem não sabe essas duas coisas não tem
vez.

Sabe o que era fundamental no meu tempo?

Datilografia.

A Milena fala inglês, espanhol, francês,
até italiano ela fala.

Ah, Nando, mas ela é rica, nunca
precisou trabalhar.

Tinha mais do que aprender alguma coisa
mesmo, em vez de ficar batendo o pé no

shopping. Você não.

Pegava o dia inteiro no salão, com 14
anos de idade.

Você tinha que estudar à noite.

Agora, o curso de inglês você podia ter
feito.

Você nem custava nada, tinham dado uma
bolsa pra você.

Bom, tá bom.

Passou, passou, burrice minha.

Fazer o quê?

Até amanhã.

Até amanhã, né? Você vai levantar cedo?

Vou, né, Horácio? Amanhã é segunda
-feira, começa tudo de novo.

Tchau, tchau.

A Eduarda perdeu o bebê.

Quem disse?

O Nando trouxe ela no marido de Angra,
que ela estava passando mal. Agora a

Milena ligou e falou que perdeu.

Que pena, né, Lídia?

A Helena disse que ela estava tão feliz.

É, pena mesmo.

Mas perdeu.

Eu também perdi, não lembra?

Lembro, lembro.

Mas era diferente.

Diferente por quê?

Você já tinha um Nando.

Mas era o primeiro filho nosso.

Foi antes da Sandrinha nascer.

Mas você era mais experiente, não era
tão jovem quanto ela.

Você...

Eu sofri igualzinho, ela deve estar por
frente.

E agora você me faz o favor, Alessia.
Você não me apareça lá com cara de

enterro que correm com você outra vez.

Mas eu tenho que me manifestar.

É minha filha. Iria ser meu neto.

A Helena não apareceu aqui pra falar da
gravidez?

Que apareça agora pra falar que a menina
perdeu. E pra todos aqui, você não paga

de nada, porque eu não quero que o nome
passe por leva e trai.

Olha aqui, eu não posso fingir que não
sei uma coisa que eu sei. Ela é minha

filha, gosta ou não gosta de mim.

Como é que eu posso mentir numa hora
dessas, numa situação dessas?

Quer que eu ponha a cabeça no
travesseiro, vá dormir e diga pra mim

tudo bem, que não aconteceu nada?

Eu posso fazer isso? Me diz, posso?

Tudo bem, faço o que você quiser.

Mas se te puserem pra correr, não
reclame nem venha chorar pro meu lado

não quero.

Olha aqui, você não está sendo
solidária.

Para que horas é? Estuda! A família tem
seus problemas. E os daqui de casa não

chegam lá. E se chegassem, não viria
ninguém aqui para nos ajudar.

Mas ela é minha filha.

Agora, eu juro que eu não estou contente
com o que aconteceu com ela. Eu juro

que eu não estou.

Mas eu não posso esquecer o que ela fez
com você.

Bom dia, filha.

Eu sei que você não dormiu quase nada.

Eu também não. Tão difícil, né?

Mas entrava lá. Você tem que descansar,
tá?

Bom dia.

O doutor César ligou?

Bom dia.

Já tá vindo pra cá pra ver você.

Ah, é?

Eu não vou querer comer nada.

Ah, vai ter que comer alguma coisa aqui,
Eduardo.

Você não pegou o olho a noite inteira.

Você não se alimenta, aí como é que
fica, né?

É, e pelo que você me disse, você tá com
o café da manhã de ontem. Desse jeito,

vai acabar ficando doente. É, deixa aqui
que eu vejo se ela come.

Muito obrigada, tá?

Então, pelo menos um pouquinho. Vai
comer, vai brincar alguma coisa. Um

bicudinho, tá?

Eu vou tomar um banhozinho rápido.

Depois, eu acho que você devia fazer o
mesmo, pra ficar mais pra cima, mais

animada. Eu não demoro, vai comendo.
Olha, tem o suco, tem o queijinho que

gosta. Olha a geleia aqui.

Tá? É um minutinho. Vou tomar um banho e
já volto.

Bem rapidinho, tá?