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É o julgamento que talvez nunca vejamos.

John e Patsy Ramsey são acusados
do homicídio de JonBenét Ramsey,

num drama de tribunal mais cativante
do que qualquer ficção.

RELATÓRIO ESPECIAL

Bem-vindos ao programa.

A investigação da terrível morte de…

Lembro-me de um dia entrar,
de cair no sofá

e ligar a televisão.

E estava a dar
o programa do Geraldo Rivera.

É perfeitamente possível
que este crime misterioso nunca se resolva

e que ninguém seja julgado

pelo crime terrível cometido
contra aquela linda criança.

Exceto hoje.

Exceto a simulação de julgamento
que vamos fazer para si,

aqui no nosso estúdio.

E eu estava ali sentada no sofá a dizer:
"Eles estão a falar de nós."

No fim, perguntaremos ao nosso júri
de seis voluntários, homens e mulheres,

se acham que é mais ou menos provável

que um ou ambos os pais
tenham cometido este ato terrível.

Meritíssimo, senhoras e senhores do júri.

Quem vestiu esta criança
numa pose sexualmente provocadora,

com saltos altos, batom
e a fazer danças sugestivas?

É este historial
que trazem para este caso.

Têm de fazer justiça.

Não conhecia aquelas pessoas,
elas não nos conheciam.

Raoul Felder, advogado da queixosa,

chama uma especialista renomada
em abuso infantil para depor.

Eles não tinham como saber nada.

O que estudou em preparação
para o seu depoimento de hoje?

Vinte e três horas
de gravações de JonBenét

quando fez os concursos de beleza.

E há alguma coisa que se tenha destacado
nas cassetes que estudou?

A 23 de dezembro,

JonBenét está vestida de elfo

a atuar para idosos.

Dançar à volta da árvore de Natal
Festas muito felizes

Todos dançam bem contentes
De uma nova forma à moda antiga

Ela pega num saxofone

e, durante um minuto e meio,
masturba-se com ele.

- O que significa isso?
- Foi sexualmente estimulada.

Aos seis anos,
não se põe um saxofone entre as pernas

e se começa a esfregá-lo.

Está na cassete antes de…
Não sei porque ninguém notou.

Não conseguia acreditar
no que estava a ouvir.

É doentio.

Que alguém fizesse a mais pequena alusão

a algo tão horrível

enoja-me.

Nós, o júri, consideramos Patsy Ramsey
responsável pela morte de JonBenét Ramsey.

RESPONSÁVEL

E eu… fiquei fora de mim.

Eu… passei dois dias na cama
porque fiquei mortificada.

Compreendemos que tudo é possível.

Tanto quanto sabemos, no entanto,
não há provas concretas neste caso

que apontem noutra direção

a não ser diretamente
para John e/ou Patsy Ramsey.

CHAMADA PARA O 112
5H52

PEQUENA BELDADE FOI SEXUALMENTE ABUSADA?

TACO DE BASEBOL
ENCONTRADO NA CASA DOS RAMSEY

PROVA

CASO ARQUIVADO
QUEM MATOU JONBENÉT RAMSEY

O Burke?

Olá, tia Pam.

Está ali.

Olá. Estás doida?

Em cheio!

Olá!

Burke, foste velejar e nadar neste verão?

Sim.

Olá.

- JonBenét.
- Olá.

Passaram exatamente 14 dias

desde que a pequena JonBenét Ramsey
foi encontrado morta na cave de sua casa.

A Polícia diz que não excluiu ninguém
como suspeito, incluindo familiares.

POLÍCIA CORTA NA INVESTIGAÇÃO
DO CASO RAMSEY

Na primeira semana após o homicídio,

decidimos que só teríamos
um pequeno grupo de pessoas

que seria o que chamo
"equipa de investigação em curso".

Eu não estava envolvido
na investigação Ramsey em curso.

O inspetor Tom Trujillo
é o investigador principal deste caso.

Sou o inspetor Steve Thomas.
Não responderemos a perguntas.

Steve Thomas era um polícia dedicado.
Ele estava muito envolvido no caso.

Mas era da unidade de narcotráfico.

Não tinha qualquer experiência
em casos de homicídio.

Ele era muito arrebatado.
Tinha as suas opiniões.

E era muito inflexível
quanto às suas opiniões.

Os inspetores diziam-me:

"Foram os Ramsey. Sabemos que foram eles."

Não tinha motivo para discordar deles.
Achei que sabiam o que faziam.

Mas, anos mais tarde,
depois de me reformar da Polícia,

descobri outras informações

e comecei a questionar
se os Ramsey eram culpados ou não.

DEPOIMENTO CÍVEL

Houve um processo cível
alguns anos após o homicídio.

Diga o seu nome completo.

O meu nome completo
é William Stephen Walton Thomas.

O advogado dos Ramsey
perguntou ao inspetor Steve Thomas

se havia um plano da Polícia de Boulder

para dar informações aos média

para dizer que os Ramsey
estavam envolvidos no homicídio da filha.

Houve alguma estratégia
da Polícia de Boulder

para tentar pressionar os Ramsey

através do público?

Creio que se falou com o FBI, sim,

sobre como exercer alguma…

… pressão pública
sobre as pessoas que não colaboravam.

Também acharam que poderiam usar os média

para fazer pressão
de modo a criar a possibilidade

de um dos pais confessar
o seu envolvimento no crime?

- Chegaram a falar disso?
- Essa pode ter sido uma motivação.

Acha, de acordo com o que se lembra,
que falaram nisso?

Não discordo.

SUSPEITA RECAI SOBRE PAIS

A estratégia deles para resolver o caso
era basicamente apertar connosco.

Como nos filmes antigos,
onde sentam o suspeito numa mesa

e o interrogam por 18 horas e, por fim,
ele assina a confissão só para sair dali.

Mas fizeram-no através dos média.

Contaram várias histórias acerca do caso
que eram mentiras.

NEVE NA CASA DOS RAMSEY

Uma narrativa…

NÃO TINHA PEGADAS

… que foi lançada pela Polícia de Boulder

foi que o homicida
era alguém que vivia na casa,

porque não havia pegadas na neve.

Como não havia pegadas, não havia intruso.

Bem, não havia pegadas na neve
porque não havia neve.

Há alguma neve na parte da frente da casa.

Mas, se virmos as traseiras da casa,
não há neve.

A Polícia forneceu muita informação
que queria divulgar ao público

a um tal Charlie Brennan.

Eu recebi informações,
de uma fonte em que eu confiava,

de que a polícia reparou que,

quando lá chegou,
ninguém viu pegadas na neve.

E eles consideraram
esse facto significativo.

Se é o Charlie Brennan
que está a dizer que é significativo? Não.

Eu estou só a relatar
que a Polícia se agarrou a esse dado,

fez uma observação
e achou que era importante.

FUGAS DE INFORMAÇÃO MANTÊM VIVA A HISTÓRIA

Pegaram nessas informações soltas,
distorceram-nas

e depois deram-nas
a alguns jornalistas que disseram:

"Sim, vou divulgar,
apesar de só ter uma fonte."

POLÍCIA FOCA-SE NOS RAMSEY

Tenho um relatório policial que diz
que não encontraram pegadas na neve.

Como é que eu confirmaria isso?

Só se fosse investigadora,
o que não é possível.

Como jornalista, não poderia…

Não temos de acreditar em tudo
o que dizem, mas é a nossa base.

Os Ramsey não falavam.
Os advogados deles não falavam.

Era nossa responsabilidade,
caso a Polícia nos dissesse algo,

tentar confirmá-lo e reconfirmá-lo

e usar sempre a velha regra
das duas fontes, certo?

Costumo ter duas fontes,
mas, normalmente, são investigativas.

RAMSEY PILOTA AVIÃO ATÉ ATLANTA
PARA O FUNERAL DA FILHA

Uma história poderosa que contaram

foi que John Ramsey
pilotara o seu jato até Atlanta

com o caixão de JonBenét a bordo.

Lembro-me de dizer ao meu marido:

"Que tipo de pessoa é ele?

Como é que pôde fazer isto
se estava tão perturbado

com a morte terrível da filha
e o facto de ela ter sido assassinada?

Como pôde levar o avião até Atlanta?
Não faz sentido."

E o meu marido concordou comigo.

Não era verdade.

John não pilotou um jato.
John Ramsey não tinha um jato.

DE CHARLIE BRENNAN

Quando relatei

que John Ramsey
pilotara o seu próprio avião até Atlanta,

para o funeral, isso não é factual.

Veio de uma fonte
em que eu confiava totalmente

e me tinha dado
outras informações fiáveis.

Essa estava errada.

A minha fonte estava errada nesse caso
e isso foi um erro.

POLÍCIA NÃO DIVULGA ADN

Uma das coisas
que é muito importante perceber,

durante toda a desonestidade
que estava a ser divulgada,

é que, a 15 de janeiro,

chegaram os resultados de ADN
do Gabinete de Investigação do Colorado.

RAMSEY PROCURAM RESULTADOS DE ADN

Em casos de homicídio, é normal
divulgarem os resultados de ADN.

No entanto,
quando a única prova que os iliba

ou, pelo menos, que iliba o ADN deles,
sai, isso não é divulgado.

Ela não quer responder a perguntas.

O advogado de Patsy Ramsey impediu-a
de falar com os investigadores,

mas não de dar amostras de caligrafia.

Desde muito cedo,
houve muita fuga de informação da Polícia

de que Patsy Ramsey
escrevera o pedido de resgate.

Segundo um relatório,

investigadores encontraram semelhanças
entre a letra de Patsy Ramsey

e a letra do pedido de resgate.

Pelo menos quatro peritos,
dois deles dos Serviços Secretos,

analisaram a letra e disseram:
"Patsy Ramsey não escreveu o pedido."

Não há provas de que Patsy Ramsey
tenha escrito o pedido de resgate.

Foi essa a conclusão do Sr. Dusick?

Entre outras.

Ele era analista de documentos
dos Serviços Secretos dos EUA?

Correto.

Não gostaram da resposta, por isso,
divulgaram que ela escrevera o pedido.

Digam-me, se fossem investigadoras
a tentar reunir provas,

o que diriam do que sabemos
do pedido de resgate?

Algo que foi destacado é que o valor
de cento e dezoito mil dólares,

que parecia peculiar
porque não era um número redondo,

afinal, agora é alegadamente a quantia
que o Sr. Ramsey, o pai,

recebeu como bónus nesse ano.

PEDIDO CORRESPONDE A BÓNUS

O valor pedido
era cento e dezoito mil dólares,

o que é muito bizarro.

Afinal, o valor do resgate pedido

era semelhante ao bónus de John Ramsey,

cerca de 118 700 dólares.

Isso foi imediatamente divulgado
aos jornais,

dando a impressão:

"Reparem, escreveram o pedido de resgate
e usaram esta quantia."

É um bocado parvo, se pensarmos bem.

Se esse intruso entrou
e esperou dentro da casa

e foi ao escritório do Sr. Ramsey,

ele podia ter lido os documentos.

Disseram-me que, aparentemente,
aparecia nos documentos que lá estavam.

Duas pessoas por ilibar são os pais
de JonBenét, que não se mostram.

A Polícia continua a dar sinais

de que os pais
são os principais suspeitos,

sobretudo John Ramsey.

No início, poucas pessoas defendiam
que os Ramsey não eram culpados.

A maioria achava
que John Ramsey matara a filha.

Talvez a tivesse molestado e matado.

POTENCIAL ABUSO PASSADO É ANALISADO
NO ÂMBITO DA INVESTIGAÇÃO DO HOMICÍDIO

As fontes policiais com que falei

acreditavam que JonBenét
sofrera algum tipo de abuso sexual.

Abuso sexual crónico,
não apenas ocorrido naquela noite.

Segundo fontes que falaram comigo,

havia fotos de JonBenét
na secretária do pai e coisas assim.

E, na altura, acho que foram consideradas
imagens sexualizadas.

Isso causou muita estranheza.

Acharam que era estranho
um pai ter aquelas fotografias,

da filha de seis anos, no gabinete dele.

A lógica parecia ser:

ela entrava em concursos.

Os pais dela puseram-na nos concursos.

Ela é sexualizada.

John Ramsey é o pai dela.

Portanto, John Ramsey
abusava sexualmente dela.

É impossível fazer essa associação,

mas muita gente fê-la.

A Polícia perguntou-lhe
sobre o abuso sexual de JonBenét?

Sim, claro que sim.

- O que lhes disse?
- Disse categoricamente que não.

Não havia qualquer prova,
nem física nem em termos de historial.

Quando entrevistei o pediatra de JonBenét,

ele disse-me que ela
nunca fora abusada sexualmente.

Teria sido expulso da Ordem
se mentisse acerca disso.

MÉDICO DE JONBENET DESCARTA ABUSO

Nunca houve qualquer indício
de abuso sexual.

Não vi nenhum indício
de abuso emocional ou físico.

Era uma criança muito amada.

PEQUENA BELDADE ABUSADA
MESES ANTES DO HOMICÍDIO?

Os tabloides foram cruciais na divulgação
da narrativa do abuso sexual.

Estava por todo o lado.

E foi ótimo para os tabloides.
Venderam muito.

Tudo aquilo era falso e infundado,
mas isso não importava.

Era uma boa história.

PEQUENA BELDADE ABUSADA
MESES ANTES DO HOMICÍDIO?

Uma das razões pelas quais
me envolvi no caso

não foi pelo crime em si.

Foi pela forma
como os média lidaram com o crime.

Tenho feito muita investigação

sobre o declínio
dos valores jornalísticos.

A cobertura jornalística deste caso
pareceu-me um exemplo perfeito.

Um documentário britânico
sobre o caso Ramsey.

Connosco em Denver, Michael Tracey,
criador de Who Killed JonBenét

e professor de documentarismo
na Universidade do Colorado.

Liguei a Brian Morgan,
advogado de John Ramsey,

e disse: "Quero fazer um documentário
sobre a experiência dos seus clientes."

ENTREVISTA AOS RAMSEY, 1998

Passámos cinco dias a entrevistá-los.

Estão prontos?

Foi uma experiência fascinante.

No cerne de toda a cobertura mediática,

esmagadoramente,
está um argumento muito básico

de que JonBenét foi abusada sexualmente.

Primeiro, qual é a vossa reação
a essa alegação tremenda?

Bem, é nojento
sequer ter de responder a isso.

É absolutamente falso.

- É falso.
- As pessoas inventam estas coisas.

Não têm de prestar contas a ninguém.

Quer dizer, é simplesmente falso.

É mentira. Não sei dizer de outra forma.

E depois torna-se uma bola de neve.

"Eu ouvi, ele ouviu, ela ouviu…"
E acrescentam um ponto, é…

EX-MISS AMÉRICA COMENTA

A última entrevista
acerca do caso de JonBenét Ramsey

é de uma ex-Miss América,

que escondeu durante décadas
a sua história de abuso infantil.

Uma coisa que a Polícia fez nesse esforço

de nos condenar
no tribunal da opinião pública,

foi ir buscar uma tal Marilyn Van Derbur.

Marilyn Van Derbur Atler,
que foi vítima de incesto pelo pai,

diz que a Polícia de Boulder
quis falar com ela.

Perguntaram-me tudo
o que você me perguntaria.

Não sabia quem era ela.

Não a reconheceria
se ela entrasse pela porta.

O seu lar era como o de JonBenét,

pelo menos na imagem pública,
com um pai extremoso?

- Céus, sim.
- Um pai conhecido?

E a insinuação na entrevista era:

"Sim, já vi isto.
Fui vítima de abuso sexual em criança.

Parece-me que houve abuso sexual
por parte dos pais."

E, claro, isso era completamente falso.

POLÍCIA INVESTIGA ABUSO
DE IRMÃ DE RAINHA DE BELEZA

Até alegaram
que talvez a minha filha Beth…

IRMÃ DE JONBENET TAMBÉM FOI ABUSADA

… que acabara a faculdade,
estava a trabalhar e morreu num acidente…

IRMÃ TAMBÉM FOI MOLESTADA!

… poderia ter sido abusada.

Investigadores do homicídio
de JonBenét Ramsey

estão agora a investigar
a morte da sua meia-irmã de 22 anos.

A meia-irmã de JonBenét,
Elizabeth, de 22 anos,

morreu num acidente de viação
há cinco anos.

Pensei: "Meu Deus.
Quão baixo conseguem descer?"

PAPÁ ABUSOU DA IRMÃ

No primeiro documentário,

esforçámo-nos imenso por esclarecer
se havia alguma prova de abuso sexual.

Falámos com amigos,
com familiares, a Melinda…

Nada.

Sou a filha do John Ramsey.

VOZ DE MELINDA RAMSEY

Cresci com ele. Ele criou-me.

E vi-o a criar a JonBenét.

E não entendo
porque não acreditam quando digo

que ele é o pai mais carinhoso do mundo.

Ele nunca abusou de nós, de forma alguma.

E gostava de poder dizer algo
que convencesse as pessoas.

Vocês queriam ver
se havia alguma patologia nesta família

por parte de John Ramsey
ou de Patsy, certo?

- Sim.
- E não encontraram nenhuma?

Respondendo à sua pergunta,

acho que não havia nada de extraordinário
nem fora do comum nesse aspeto.

Consumo de drogas ilegais
seria uma patologia.

Abuso infantil seria uma patologia,
bem como violência doméstica, certo?

Sim.

Não encontrou nada disso
nesta família, pois não?

Consumo de drogas,
abuso infantil ou abuso conjugal,

que eu saiba, não.

SEGREDO BIZARRO

Estávamos a ser acusados
no tribunal da opinião pública.

E já tínhamos sido
praticamente condenados.

POLÍCIA DIZ QUE FOI O PAPÁ!

A empresa de sondagens Gallup
fez uma sondagem nessa altura.

Setenta por cento dos inquiridos achavam
que a família matara a filha.

Os pais mataram a filha.

As pessoas odiavam os Ramsey.

MÃE MALVADA

Foi por causa da informação incorreta
que divulgaram sobre eles.

Os média não nos largavam.

Ficávamos em casa de amigos
e, dois dias depois,

a casa estava rodeada de câmaras.

As pessoas batiam à porta e nas janelas.

O que nos deu algum alento
foi perceber que tínhamos outros filhos

que precisavam que fôssemos fortes.

31 DE JULHO DE 1995

Sobretudo o Burke.

Tinha perdido a irmã.

Eram amigos e…

Era horrível um miúdo de nove anos
ser exposto àquilo.

Tentámos proteger o Burke o mais possível

ao longo dos meses e semanas…

POLÍCIA TEME QUE MÃE MATE BURKE

… mantendo-o longe
de qualquer tipo de televisão ou jornal.

POLÍCIA ACREDITA
QUE IRMÃO TEM A SOLUÇÃO DO CRIME

Fomos comprar material escolar

e tínhamos papel e lápis, o material todo,

no nosso carrinho de compras
e dirigimo-nos para a caixa

e… pumba!

JONBENET FOI MORTA PELO IRMÃO BURKE
HISTÓRIA DEVASTADORA

Ali mesmo, ao nível do olhar dele.
Era impossível ele não ver aquilo.

O IRMÃO MATOU-A

Por isso, pus o meu braço à volta dele
e disse: "Querido,

são tudo mentiras.

São histórias muito feias."

E eu disse:
"Tens de fingir que não as vês."

Não é justo para ele.

Vemos fotos do Burke com nove anos.

Quer dizer, é absolutamente absurdo pensar

que ele podia ter matado a irmã

e ter cometido tamanha violência.

É de loucos.

PROCURADOR DISTRITAL

13 DE FEVEREIRO DE 1997
SETE SEMANAS APÓS O HOMICÍDIO

Quero dizer algo à pessoa ou pessoas
que cometeram este crime.

A lista de suspeitos está a diminuir.

PROCURADOR DO DISTRITO DE BOULDER

Em breve, o único nome na lista…

… será o seu.

Quando a Polícia
falava formal ou oficialmente,

dava a entender que estava prestes
a resolver o caso.

Faremos com que haja justiça neste caso.

"VAI PAGAR"

E que o culpado pague pelo que fez

e não temos dúvidas
de que isso vai acontecer.

Mas o problema das fontes policiais,
segundo o que me disseram,

é que, se achavam
que os Ramsey eram os culpados,

certo, qual deles fez o quê?

Eles achavam que tinha sido só uma pessoa.

Não achavam
que ambos os pais estavam envolvidos.

Em que altura disse:

"Acho que Patsy Ramsey matou a filha"?

Não houve um momento decisivo
em que a ficha tenha caído

e eu tenha anotado a data e a hora.

No início de 1997,
tornou-se cada vez mais evidente para mim

que a maioria das provas
apontava nesse sentido.

Uma teoria inicial da Polícia de Boulder

era que Patsy Ramsey, num ataque de fúria,

matara a filha porque ela urinara na cama.

Na minha hipótese,
a aproximação do seu 40.º aniversário,

a época festiva agitada,
um dia de Natal cansativo

e uma discussão com JonBenét
deixaram Patsy esgotada.

Patsy não seria a primeira mãe
a perder o controlo nessa situação.

Segundo um médico,

é comum que problemas na aprendizagem
do uso da sanita provoquem raiva parental.

Na minha hipótese,

houve algum encontro explosivo
na casa de banho da criança,

antes da 1 hora.

Acho que JonBenét foi atirada
contra uma superfície dura,

como a borda de uma banheira,
infligindo uma lesão fatal na cabeça.

O inspetor Steve Thomas disse
que a Sra. Ramsey ficou perturbada

porque JonBenét urinou na cama
e, num ataque de fúria,

perdeu o controlo

e supostamente agrediu JonBenét
e depois simulou um rapto.

Quando imaginei a simulação, o dilema dela
era que a Polícia deduziria o óbvio.

Patsy precisava de uma distração
e simulou um rapto, como achou que seria.

RESPEITAMOS O SEU NEGÓCIO

Na minha hipótese, deu o passo seguinte

e procurou os objetos mais à mão,
em desespero.

Ali ao lado, tinha o saco de pintura.

Pegou num pincel e partiu-o
para fazer o garrote com um fio.

No meu cenário,
estrangulou JonBenét por trás,

segurando o cabo do pincel partido

e puxando o garrote.

Nas horas seguintes,
Patsy aperfeiçoou a simulação,

pondo o pedido
onde o encontraria na manhã seguinte.

As provas não correspondem nada a isso.

Primeiro,

sabemos que JonBenét estava viva

enquanto estava a ser torturada,
momentos antes de morrer.

Sabemos isso porque tinha
uma hemorragia nos olhos e no coração.

Isso era consistente
com ter sido estrangulada.

Se acreditar que Patsy Ramsey a matou,

ela teria de fazer todas essas coisas
enquanto JonBenét estava viva.

Isso não foi simulado.

Ela estava viva enquanto cometiam o crime.

Todos os peritos concordaram que…

… JonBenét Ramsey estava viva
no momento da lesão vaginal?

Repito, não sei a que peritos se refere.

Refiro-me ao traumatismo vaginal agudo
que sofreu quando foi assassinada.

Todos concordaram
que ela estava viva na altura

em que ocorreu
esse traumatismo vaginal, verdade?

Sim, acho que sim.

Patsy Ramsey, teoricamente,

tinha JonBenét Ramsey a puxar o garrote
à volta do pescoço, a arranhá-lo,

e ainda acredita que Patsy
pôs lá o garrote para simular o crime?

É isso que está a declarar?

Se é isso que me está a dizer,
não contesto que isso tenha acontecido.

Acha que foi isso que aconteceu?

Não, eu avancei com uma hipótese
que acredito ser consistente

com as provas que conhecia
quanto ao que possivelmente aconteceu.

Tenho cinco filhos.

Todos urinaram na cama, de certeza,

em pequenos.

É normal.

As crianças são mesmo assim.

A Patsy acabara de recuperar
de um cancro nos ovários de estádio IV.

Estava grata por estar viva.

Acha que o facto de a filha urinar na cama

a incomodaria?

Não. Ela estava feliz por estar viva
e por ter mais tempo com os filhos.

É um disparate.
Só um doido acreditaria nisso.

Mas a premissa deles era essa:
ela urinou na cama, a Patsy passou-se,

matou-a e depois simulámos um rapto.

CENTRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

13 DE MARÇO DE 1997

Há meses que a nação está atenta
a todos os detalhes

da morte de JonBenét Ramsey.

E há mais informações,
mas não sobre o caso.

Parece haver uma grande cisão
entre a Polícia de Boulder e o procurador.

Um aspeto importante a ter em conta
é que houve uma falta de respeito

da Polícia de Boulder
para com a Procuradoria.

ENTREVISTA A ALEX HUNTER, 2004

Alguns inspetores de Boulder

achavam que sabiam quem era o culpado.

E alguns dos meus estavam convencidos
de que fora um intruso.

Havia ali uma cisão.

POLÍCIA E PROCURADOR DIVERGEM

As relações entre o procurador e a Polícia
azedaram na primavera de 1997.

E Alex Hunter, o procurador distrital,

quis contar com alguém experiente.

E contratou o inspetor Lou Smit.

LEITOR DE CASSETES

DIÁRIO DE LOU SMIT, 1997

Fala Lou Smit.

Hoje é dia nove de março de 1997.

E vou a caminho de Boulder,
no Colorado, para falar com Alex Hunter,

que é o procurador distrital.

É minha forte convicção
de que o homicida de JonBenét Ramsey

deve ser apanhado e…

… obrigado a pagar
pelo que ele ou ela fez a esta menina.

No início, envolvi-me
no caso JonBenét Ramsey

porque Lou Smit, meu grande amigo
e mentor, estava envolvido.

O Lou, para mim,

sempre foi uma lenda da Polícia.

Era uma pessoa excecional.
É um inspetor excecional.

O capitão Smit trabalhou
em vários casos mediáticos

e investigou mais de 150 homicídios.

Tem uma reputação impecável
e é muito respeitado por agentes,

procuradores e juízes de todo o Colorado.

REPUTAÇÃO TENAZ

Resolvera outro caso em Colorado Springs,

em que levaram uma menina de sua casa,
graças a uma impressão digital.

MAIS UMA CONQUISTA
PARA O INCRÍVEL INSPETOR

Muitas vezes, as coisas são o que parecem.

Não estou a dizer que é um rapto

ou uma tentativa de rapto que correu mal.

Talvez até haja
alguma relação com a família.

Mas só estou a dizer que…

… o meu instinto diz-me
que a culpa não é inteiramente da família.

Mas sei que aquela menina
devia ser muito importante para eles.

E…

… ela era importante neste mundo.

Só espero conseguir ser útil…

… e apanhar o homicida ou homicidas.

Na altura, eu trabalhava
no gabinete do xerife local

e o Lou Smit era meu comandante.

Ele disse:
"Tens de me vir ajudar a organizar

e a descobrir o que se passa neste caso."

O Lou é um daqueles tipos…

Foi um Sherlock Holmes do seu tempo.

E quando ele olhou para isto,

obviamente, uma das primeiras coisas
que se faz é analisar o corpo.

NOTAS DE LOU SMIT

O que eu gostaria de vos mostrar
é uma pista que considero muito importante

deixada pelo homicida.

A arma de eletrochoque.

Há marcas em JonBenét.

Estas marcas são nas costas.

Estas são na cara.

E têm o mesmo intervalo.

As marcas na cara e as marcas nas costas
têm o mesmo intervalo.

E, se olharem bem,
têm uma forma ligeiramente retangular.

Algo fez aquelas marcas.

O Lou fez vários testes

e determinou que eram marcas
de uma arma de eletrochoque.

Fez um teste com um porco.

A pele de porco
é a mais parecida com a pele humana.

Descobriram que as lesões
da arma de eletrochoque

eram muito semelhantes às lesões
que JonBenét tinha na cara e nas costas.

A tal arma de eletrochoque,

acho que a usaram para a incapacitar
quando ela estava na cama.

Seria a forma mais fácil,
pois é muito silenciosa.

Depois podia levá-la para baixo
e fazer o que quisesse com ela.

ARMA DE ELETROCHOQUE USADA EM JONBENET

As minhas fontes policiais

nunca me deram a entender
que davam muita importância

ao uso da arma de eletrochoque.

VÍDEO DO LOCAL DO CRIME

A Polícia de Boulder achou
que essas marcas na cara e nas costas

tinham sido feitas
por uma linha de comboio.

No mínimo, eles desvalorizaram
o uso da arma de eletrochoque.

Segundo a Polícia de Boulder, o que causou
as marcas nas costas de JonBenét Ramsey?

As ditas marcas de eletrochoque
podem dever-se a um objeto com um padrão,

se bem me lembro,

ou acho que outra explicação era…

… que ela teria estado deitada
sobre algum objeto.

O Lou nunca acreditou
que os pais usassem a arma.

Porquê?

Porque é que uma mãe ou um pai
usariam uma arma dessas na filha?

Para a levar para a cave?

Vou mostrar-vos o quarto de JonBenét.

Quando a polícia chegou nessa manhã,
a primeira foto que tirou foi desta cama.

Sim? E isso foi de manhã cedo.
A cama de JonBenét estava assim.

Se olharem com atenção, podem ver…

… onde puxaram alguém da cama.

Vejam, o lençol parece puxado
e depois para ali.

Como se lhe dessem choques
enquanto ela dormia

e a puxassem da cama.

Há outra coisa.

Steve Thomas diz que Patsy Ramsey entrou
e a menina urinara na cama.

Ora, se repararem bem, há muitas coisas.
Primeiro, a cama está seca.

Estavam molhados?

Quando?

Nessa manhã.

- Eu não…
- Perguntou?

Perguntou a algum agente: "Olhe,

os lençóis da cama de JonBenét
estavam molhados?" Perguntou a alguém?

Não.

E dizem que talvez Patsy Ramsey
tenha mudado os lençóis.

Mas estes lençóis
tinham todo o tipo de fibras e cabelos.

Se estivessem lavados, não teriam nada.

Ou seja, os lençóis
estavam ali há algum tempo.

Há um quarto de hóspedes pequeno
ao lado do quarto de JonBenét.

Esta corda foi encontrada
no quarto de hóspedes.

Não é dos Ramsey.

Ninguém na família Ramsey
a consegue identificar.

É possível que o intruso
tenha levado a corda com ele,

para a usar para amarrar,
e a tenha deixado lá.

Quando chamaram Lou Smit,
as pessoas estavam recetivas.

Mas a Polícia começou a perceber
que ele começava a acreditar

na inocência dos Ramsey.

Isso não era o que eles pensavam.

Eles acharam que ele estava
a ir pelo caminho errado.

Chamavam-lhe velho delirante,

achavam que era um trapalhão

que queria ganhar notoriedade
apresentando uma teoria diferente.

Lou era tudo menos um velho delirante.

É o tipo de inspetor
que todos quereriam na sua comunidade.

Ontem deitei-me muito tarde
e fartei-me de dar voltas na cama.

Acho que a investigação
está a ir pelo caminho errado.

Aquela janela aberta na cave
tem-me incomodado muito. Está aberta.

Encontraram aí o corpo.

Acho que o homicida
pode ter entrado e saído por aí.

Esta janela tem sido muito debatida.

- Pode falar sobre isso?
- Não, lamento.

Eu acho que o homicida entrou por aqui,
a certa altura.

E há aqui um grelhador a gás
e depois há uma porta sul para a casa.

Atrás do grelhador há uma grade.

Levanta-se a grade e vê-se logo a janela.

Há ali três janelas.

A do meio estava aberta.

Estas fotografias
contam uma história fabulosa.

Olhem bem para esta foto.

Vão ver folhagem, aquela folhagem verde,

sob a extremidade da grade.

Ela não cresce assim. Só fica assim
se levantarem a grade e a pousarem.

Lou Smit foi visto várias vezes
a entrar e a sair por essa janela

porque a Polícia de Boulder
achava que não era possível.

Acho que, na altura,
Lou tinha cerca de 66 anos

e queria provar que era possível.

E fê-lo facilmente.

E, se bem se lembram,
havia uma mala mesmo por baixo da janela.

E, em cima da mala,

estava um pedaço muito pequenino
de vidro, como uma ervilha,

e a ligeira impressão
de uma possível pegada na mala.

Muitas pessoas dizem:

"Quem entraria numa casa
com os pais lá dentro

e se esconderia e esperaria pelos pais?"

Quem faria isso?

Só uma pessoa especial o faria.

Acredito piamente que saímos para…

Fomos jantar a casa de uns amigos
na noite de Natal.

Não me lembro da hora a que saímos.
Talvez 18 horas. Teremos voltado às 21h30.

Acho que o homicida entrou na casa
enquanto estivemos fora.

E esperou até adormecermos.

Acho que isso… é certo.

INTRUSO ESFAQUEOU MULHER
ENQUANTO ELA DORMIA

É importante saber
que tivemos casos em Boulder

em que suspeitos
entraram na residência a meio da noite

e tentaram uma agressão sexual
ou concretizaram agressões sexuais,

antes e depois do caso Ramsey.

Em setembro de 1997, cerca de nove meses
após a morte de JonBenét,

houve um incidente
noutro bairro bom de Boulder,

não muito longe da casa dos Ramsey.

Uma menina foi agredida em sua casa

quando a mãe dela
estava a dormir no quarto principal

e o pai viajara a negócios.

PAI DA VÍTIMA

Acho que ele entrou na casa
enquanto elas estavam fora

e se escondeu na casa.

A meio da noite, a mãe ouviu um barulho.

E ela pegou em gás-pimenta, acho eu,
e foi ao fundo do corredor.

E estava um intruso no quarto da filha
a preparar-se para a molestar.

E a mulher conseguiu afugentar o intruso
para fora de casa usando o gás-pimenta.

Essa pessoa nunca foi identificada.

Soube-se depois

que essa menina frequentara
o mesmo estúdio de dança que JonBenét.

Os dois casos estão ligados? Não sei.

A Polícia, na sua sabedoria, disse:

"Bem, não é a mesma coisa
porque não assassinaram essa criança.

JonBenét foi assassinada."

Se eu fosse um inspetor novato,

diria que são métodos muito semelhantes

de homicídio.

Têm razão? Estão enganados?

A conclusão deles
foi ensombrada pela acusação

de que se focaram unicamente
numa teoria diferente do caso?

Não sei.

26 DE DEZEMBRO DE 1997

Queres um bocado?

Em Boulder, Colorado,

a morte sensacionalista e por resolver
de uma jovem rainha de beleza

é mais uma vez notícia, pois voltou-se
à estaca zero um ano depois.

DESDE O INÍCIO,
A INVESTIGAÇÃO POLICIAL TEM SIDO DÚBIA

Nunca fui tão popular.

Mas o novo responsável
pelo caso JonBenét Ramsey

também não disse se a Polícia
está mais perto de resolver o crime.

Ainda não avançámos com uma acusação
nem preparámos um mandado de detenção.

Beckner confirmou que John e Patsy Ramsey
permaneciam sob suspeita.

Entretanto,
já se passara muito tempo, certo?

E acho que havia uma sensação geral
de que já devia ter sido resolvido.

CASO RAMSEY CONTINUA POR RESOLVER

No ano passado, Hunter gastou cento
e vinte e oito mil dólares na investigação

e, este ano, cinquenta e um mil dólares.

A última despesa de sessenta mil dólares

é para pagar a um perito em grandes júris
que aconselhará os investigadores

sobre se um júri secreto
deve analisar o caso JonBenét Ramsey.

Quando me envolvi no caso,

aquilo estagnara
porque se criara uma enorme cisão

entre o gabinete do procurador distrital,
os procuradores assistentes e a Polícia.

O historial de Kane é impressionante.

Trabalha para o estado da Pensilvânia
e já foi procurador em Denver.

A sua especialidade? Grandes júris.

Por isso, participará nesta investigação
para ajudar o procurador Alex Hunter

a decidir se um júri secreto
deve investigar o crime.

No meu primeiro dia,
a Polícia fez uma grande apresentação.

Quanto tempo acha que vai demorar?

Temos o dia todo agendado e não sabemos.

POLÍCIAS ACHAM QUE SABEM
QUEM É O HOMICIDA DE RAMSEY

Ao longo de dois dias,

Steve Thomas e outros inspetores
apresentaram tudo o que tinham.

O inspetor Steve Thomas listou os motivos
pelos quais os Ramsey são suspeitos,

incluindo o comportamento
de John e Patsy Ramsey,

que não se coadunava com um rapto
e sim com uma reação a uma morte.

PERITOS REVÊM CASO RAMSEY

Achavam que tinham apresentado
o suficiente

para talvez levar
à apresentação de uma acusação

ou, no mínimo, convocar um grande júri.

Nesta altura, iremos esmiuçar isso

e decidir se há fundamentos fortes
para acusar alguém

ou se temos de ir mais longe.

DIA DECISIVO NO CASO JONBENET

Quando acabou, reunimo-nos todos
e Alex Hunter disse: "O que acha?"

Eu disse: "Bem, acho que agora
não há bases para uma acusação."

E acho que algumas pessoas presentes
ficaram chocadas.

E foi aí que, de repente, recebi uma carta

em nome de Steve Thomas.

6 DE AGOSTO DE 1998

Há outra reviravolta
na investigação profundamente conturbada

do homicídio de JonBenét Ramsey.

A ABC News soube
que um dos inspetores principais do caso

se demitiu em protesto,

redigindo uma carta bombástica
que ataca o procurador distrital.

A demissão de Steve Thomas deu que falar.

Após 20 meses, há mais pessoas
a revelarem preocupação e frustração

quanto ao que aconteceu nesta casa
a 26 de dezembro de 1996.

O governador Roy Romer
convocou os intervenientes principais

ao gabinete do governador, em Denver,
e disse: "O que se passa aqui?"

CASO RAMSEY VAI A GRANDE JÚRI

Foi a pressão do gabinete do governador
que acabou por persuadir Alex Hunter

a avançar para grande júri.

CONTADOR

Parece que essa carta, de alguma forma,

influenciou o sentido
que esta investigação vai seguir.

Não tenho nenhuma dúvida de que,
devido a isto, indiciarão os Ramsey.

Sobretudo com o ambiente
e o "poço envenenado"

de informações falsas contra os Ramsey.

Há provas de um intruso.
Digo isto vezes sem conta.

Ninguém quer ouvir.

E, como consequência,

há boas probabilidades de que esta família
posso voltar a sofrer outra tragédia.

DIÁRIO DE LOU SMIT, 1998

CENTRO DE JUSTIÇA DE BOULDER

15 DE DEZEMBRO DE 1998

Entre o bulício à porta
do Centro de Justiça,

havia quem disputasse um lugar no meio
do trânsito confuso e segurança apertada.

Com o circo dos média a segui-los,

os 12 residentes de Boulder
que compõem o grande júri deste caso

chegaram cedo
para cumprirem o seu dever cívico.

Quando o grande júri estava em curso,

esperávamos e estávamos preparados
para ser indiciados.

É fácil indiciar qualquer coisa
num grande júri. Não há contraditório.

Num julgamento criminal normal,
há 12 jurados

e há duas mesas, uma para a defesa
e outra para a acusação.

Mas, num grande júri, é diferente.
Não há defesa.

O objetivo é obter
uma acusação de homicídio.

Os contra-argumentos e a defesa
não contam para nada.

Michael Kane, Bruce Levin
e Mitch Morrissey também chegaram cedo.

São os procuradores
que apresentarão o caso.

Nunca esquecerei.
Cheguei no meu carro no primeiro dia.

Não posso comentar.

E fiquei rodeado de câmaras.

A equipa é liderada por Mike Kane,
especialista em grandes júris.

Perguntámo-nos todos os dias:
"Como é que uma pessoa pode fazer isto?"

Bem, já vimos casos
em que as pessoas que são…

… que parecem
uma família tipicamente americana,

afinal, fazem algo horrendo

porque algo desencadeou algo
numa data específica.

Pareceu-me que Mike Kane
nos queria tramar,

como qualquer outro departamento
da Polícia.

Estava do lado deles.

Mitch Morrissey vem
da Procuradoria do Condado de Denver,

onde é considerado um perito
no uso de provas de ADN.

Já vi casos em que, independentemente
da imagem pública que tinha,

por muito rica que fosse,

sabe, por muito que a família
parecesse ser uma unidade coesa,

culpavam os pais.

OS RAMSEY PODEM NÃO DEPOR

Pode haver razões estratégicas

para o facto de o casal
não ter sido chamado a depor.

Nós disponibilizámo-nos para depor.

Eles não… nos deixaram.

Os procuradores podem temer
que os Ramsey cativem o júri

se depuserem pessoalmente.

Hoje é um dia e tanto.

Estamos a 22 de setembro de 1998.

Este vai ser o meu último dia oficial
nesta investigação.

Por causa do grande júri,
o Lou demitiu-se.

Infelizmente.

MEMBRO PRINCIPAL DA EQUIPA DEMITE-SE

Ele não queria participar na tentativa
de condenar um casal inocente.

Isso mostra o quanto acreditava
na inocência dos pais.

Este grande júri é uma farsa.

A Polícia vai apresentar
uma versão fabricada do caso,

uma versão branqueada e mastigada,
a este grande júri.

Mike Kane vai fazer isso.

Agora, a minha intenção
é tentar de todas as formas possíveis,

depor perante o grande júri,

porque acho que é importante
que ouçam esta informação.

Lou Smit esforçou-se por depor

e mostrar o outro lado.

Recebi uma carta de Michael Kane

a dizer que o meu pedido para depor
perante o grande júri fora negado.

A carta de Michael Kane
também afirmava que eu nem podia repetir

que eu tinha recebido aquela carta.

Ou seja, estão a tentar silenciar-me.

Isso é uma grande mentira.

Não fiz absolutamente nada para impedir
que Lou Smit depusesse perante o júri.

E tentar retratá-lo…
E sei que foi retratado em livros

e as pessoas fazem declarações
de que eu tentei…

"Céus, não posso permitir
que o grande júri ouça…"

Isso é uma grande mentira.

Um advogado ameaçou processá-los
se não o deixassem depor

e eles permitiram.

Nunca fui tratado de forma tão injusta
e incorreta nos meus 40 anos de Polícia.

Tudo o que eu disse foi atacado

e nunca me senti tão humilhado.

Aliás, quando estava no grande júri,
lembro-me de dizer a Alex Hunter,

que estava lá:

"Alex, é impossível que os arguidos

não sejam indiciados por isto."

JURADOS VISITAM A ANTIGA CASA DOS RAMSEY

Como inspetores
a refazer os passos de um homicida,

os jurados que têm estudado
a morte de JonBenét Ramsey,

hoje, levaram a sua investigação
do tribunal para o local do crime.

Quando começámos o grande júri,

pensámos que seria útil
se os jurados vissem a casa.

Era uma casa antiga
que tinha sido ampliada

e que era um bocado labiríntica.

Quem não a conhecesse, teria dificuldade
em orientar-se lá dentro.

Para chegar ao primeiro piso,
onde ficava o quarto dela,

não se chegava lá intuitivamente.

E depois encontrar
o caminho daí até à cave

era ainda menos intuitivo,
especialmente à noite, sem luzes acesas.

Não estou a dizer
que isso cimentou a ideia

de que só podia ter sido alguém da casa
e não alguém de fora,

mas foi um fator, sem dúvida.

Com dúvidas sobre ADN desconhecido
encontrado nas cuecas de JonBenét,

não se sabe de quanto tempo
os procuradores precisarão

para concluir o grande júri.

As pessoas que me chamaram

achavam que, apesar de haver ADN,
isso não era significativo neste caso.

E, na verdade, tornou-se
o dado mais significativo do caso.

MANCHAS DE SANGUE NAS CUECAS

Tínhamos um perfil de ADN
retirado das cuecas da menina.

Estava na virilha,

misturado com sangue,

que foi consequência de a terem penetrado
com um pincel partido.

E essa penetração fez com que sangrasse
e o sangue se misturasse com esse ADN.

Sabíamos que era de um homem,
mas sabíamos que não era esperma.

Podia ser saliva.

Podia ser outro tipo de fluido corporal.

Podia ser uma quantidade significativa
de células cutâneas.

O ADN não corresponde a nenhum parente.

E, basicamente,

comparou-se com todos os criminosos
que estão na base de dados nacional.

Nenhum deles corresponde.

Portanto, gerou-se um dilema.

Sem uma correspondência, não podemos dizer
que o ADN era do homicida

e que ele andava por aí à solta,

porque não pertencia a ninguém da casa.

Não podemos afirmar isso.

O problema é que nunca encontrámos o homem

que deixou esse ADN.

EXCLUÍDOS

Tentaram ir à China,

à fábrica de roupa interior
onde fizeram as cuecas da JonBenét,

para ver se encontravam
um homem branco a trabalhar na fábrica,

obter o ADN dele, fazê-lo corresponder
ao ADN não identificado

e assim explicar a presença desse ADN
e a quem pertencia.

Chegámos ao ponto
de descobrir toda a cadeia de produção.

Tentaram desesperadamente encontrar
uma explicação inocente para aquele ADN.

Era essa a mentalidade.

CENTRO DE JUSTIÇA

Após mais de um ano a analisar provas

e a ouvir depoimentos,

o grande júri tomou a sua decisão.

Avisaram-nos do anúncio.

Portanto, o parque de estacionamento
em frente ao Centro de Justiça

estava cheio de carrinhas de satélite,

câmaras de televisão,

jornalistas em cima de caixas.

Parecia que ia haver um Super Bowl.

RAMSEY COLABORARÃO SE FOREM INDICIADOS

Estávamos prontos para sermos presos.

Assinámos documentos
para o Burke ficar à guarda do meu irmão.

Estávamos prontos
para sermos presos e julgados.

13 DE OUTUBRO DE 1999
DOIS ANOS E NOVE MESES APÓS O CRIME

O procurador distrital Alex Hunter
está a falar sobre a decisão do júri.

À frente, por favor.

Com licença.

Fale alto!

Grite, por favor!

Diz-lhes que vai haver algo.

Está bem.

Legendas: Georgina Torres