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POLÍCIA IRÁ PRENDER PAIS!

No Colorado,
há um mistério de homicídio clássico.

Um bilhete de resgate,
um cadáver, reviravoltas estranhas,

mas este mistério de homicídio
é mais arrepiante devido à vítima,

uma menina linda.

JonBenét Ramsey como Ziegfeld Follies!

As pessoas não conseguiam deixar
de falar neste caso.

A forma como se vestia, o carisma dela.

Nunca ninguém tinha visto algo assim.

O destino desta menina,
agora conhecida em todo o país,

atraiu centenas de jornalistas a Boulder,

mas dado o silêncio
da Polícia e da família,

continuamos sem saber quem matou JonBenét.

Foi na manhã após o Natal,
às 5h52, que a mãe ligou para o 112,

dizendo que levaram a menina da cama dela

e que deixaram
um bilhete de resgate na casa.

O puzzle tem tantas peças

que podemos analisar

e interpretar de uma forma ou de outra.

NOME DA VÍTIMA

ARMA DE ELETROCHOQUE

Houve um intruso?

Ou a família estava envolvida?

Não matei a minha filha JonBenét.

PEQUENA ABUSADA MESES ANTES DE MORRER?

Que progenitor estrangularia
a sua própria filha?

MÃE E PAI CULPADOS!

Tomem bem conta dos vossos filhos.

GABINETE DO MÉDICO-LEGISTA DE BOULDER

Não há provas, não há motivo.
Não há provas de mau carácter.

Há provas de um intruso.

Digo isto vezes sem conta.

Ninguém quer ouvir.

Há quem ache que nunca se resolverá.

Alguém matou esta criança de seis anos.

Sabemos isso
e queremos que seja apanhado.

Se há alguma hipótese
de o caso ser resolvido,

é mais provável que o seja agora.

Não sei se estão ou não envolvidos nisto,

mas sei que aquela menina
devia ser muito importante para eles.

E…

… ela era importante neste mundo.

Só espero conseguir ser útil…

… e apanhar o homicida ou homicidas.

CHAMADA PARA O 112
5H52

PEQUENA BELDADE ABUSADA SEXUALMENTE?

TACO DE BASEBOL
ENCONTRADO NA CASA DOS RAMSEY

PROVA

CASO ARQUIVADO
QUEM MATOU JONBENÉT RAMSEY

Pode contar-nos como foi esse dia?
Cronologicamente.

PAI DE JONBENÉT

Isso é difícil, mas…

… planeávamos sair de manhã cedo.

Foi no dia a seguir ao Natal.

Tínhamos tido um grande Natal em casa
e nesse dia íamos…

… sair cedo, no dia 26,
para irmos de avião até ao Michigan

e termos outro Natal com os meus filhos
mais velhos que estavam a trabalhar.

Eles iam lá ter connosco.

E acho que estava a barbear-me
na casa de banho

e ouvi a Patsy a gritar.

Ela descera até à cozinha
e encontrara um pedido de resgate.

E…

Foi inacreditável.

ENTREVISTA AOS RAMSEY, 1998

Bem…

Levantei-me e… vesti-me.

MÃE DE JONBENÉT

E…

… era muito cedo.

Ainda não era de dia.

26 DE DEZEMBRO DE 1996
5H45

E tínhamos uma escada em caracol
para o rés do chão

e eu desci

para fazer café, algo assim.

À medida que estava a chegar
ao fundo das escadas,

havia uns pedaços de papel pousados
num dos degraus das escadas.

Quando me virei,

olhei para ver o que era

e…

… comecei a ler as primeiras linhas.

Não me lembro exatamente
do que diziam as primeiras linhas,

mas algures dizia: "Temos a sua filha."

E a ficha caiu-me, sabe? "A sua filha."

Desatei a correr escadas acima

e abri a porta dela de rompante.

E ela não estava na cama.

Sr. Ramsey, ouça com atenção.

Somos um grupo de representantes
de uma pequena fação estrangeira.

Respeitamos o seu negócio,
mas não o país que serve.

Temos a sua filha na nossa posse.

Ela está sã e salva.

E se quiser que ela chegue a 1997,

tem de seguir à letra
as nossas instruções.

Vai levantar cento e dezoito mil dólares
da sua conta.

Ligo-lhe amanhã, entre as 8 e as 10 horas,
para dar instruções sobre a entrega.

Qualquer incumprimento destas instruções
resultará na execução imediata

da sua filha.

Falar com alguém sobre a sua situação,
seja com a Polícia, o FBI, etc.,

resultará na decapitação da sua filha.

Se o virmos a falar com um cão vadio,
ela morrerá.

Se alertar as autoridades bancárias,
ela morrerá.

Se o dinheiro for marcado ou adulterado,
ela morrerá.

Não se arme em esperto, John.

Não é o único ricalhaço.
Não julgue que nos custará matá-la.

Agora é consigo, John.

Vitória! S.B.T.C.

Mandei logo a Patsy ligar à Polícia.

CHAMADA PARA O 112
5H52

Estou no n.º 755 da rua 15.

- O que se passa?
- Temos um rapto.

- Venham depressa.
- Explique o que se passa, sim?

Há… Deixaram um bilhete
e a nossa filha desapareceu.

- Há um bilhete e a sua filha desapareceu?
- Sim.

- Isso foi há quanto tempo?
- Não sei. Encontrei o bilhete agora.

- Por favor.
- Está bem. Como se chama?

Patsy Ramsey. Eu sou a mãe.

Meu Deus!

Eu já disse que, se tiverem filhos
e forem a um centro comercial

e a vossa filha desaparecer,
nem que seja por um momento,

sentimos um grande murro no estômago.

A minha filha? Entramos em pânico,
mas tudo passa quando a encontramos.

Só dura um segundo,
mas essa sensação horrível no estômago…

Eu diria que é um trauma

e senti isso nessa manhã.
Tenho de recuperar a minha filha.

INTERROGATÓRIO DA POLÍCIA A BURKE, 1998

Pensa bem.

Apenas do que te lembras bem.

INTERROGATÓRIO A BURKE RAMSEY, 1998

O meu filho mais novo,
o Burke, estava a dormir.

Ele tinha nove anos.

Era pequeno.

Quem foi a primeira pessoa
que te lembras de ver nessa manhã?

- A minha mãe.
- Está bem.

Ela ia ligar a luz do meu quarto.

Ouviste-a dizer algo?

Disse: "Meu Deus…"

Liguei aos nossos amigos
com quem jantáramos na noite anterior

e…

Eu estava… "A JonBenét desapareceu.
Podem vir ajudar?"

Depois liguei a outro casal
que é muito nosso amigo

e…

… e eles vieram logo.

26 DE DEZEMBRO DE 1996
6H05

CENTRO DE JUSTIÇA

Recebi uma mensagem para ligar
ao supervisor do turno da noite.

Disse-me que responderam à participação
do rapto de uma menina de seis anos.

Percebi logo que era um caso muito raro.

Nunca tínhamos tido um caso
de rapto com pedido de resgate.

Por isso, pedi a dois inspetores
para irem até lá.

O carro-patrulha chegou
e um agente entrou e…

Disse-lhe: "Encontrámos este bilhete.
A nossa filha desapareceu."

"Não terá fugido?"
Eu disse: "Não, tinha seis anos.

Está frio, está escuro, a nevar.

Não, ela não fugiu."

Os inspetores também falaram
com Burke Ramsey

e tomaram providências para que Burke
fosse para casa de um amigo.

Queríamos tirar o Burke daquele caos

e dissemos: "Levaram a JonBenét,
mas vamos recuperá-la."

Como estava o teu pai?

Ele parecia que…

… que não se ia…

… passar. Sabe, estava a tentar…

Estava totalmente concentrado
em recuperar a minha filha.

Podia recuperá-la
se mantivesse a cabeça fria

e me concentrasse.

26 DE DEZEMBRO DE 1996
7H30

Nessa altura,
os dois inspetores revistaram a casa.

A casa dos Ramsey é um bocado enganadora.

Por fora, não parece muito grande,
mas, quando entramos, é bastante grande.

É enorme.

RÉS DO CHÃO

Tem mais de 600 metros quadrados.

Tem três pisos,

com outro piso que os Ramsey converteram
em quarto principal.

QUARTO DE JOHN E PATSY

O quarto de JonBenét
ficava quase do outro lado da casa,

num piso inferior.

1.º PISO

Teria sido difícil ouvir
algum barulho vindo daí.

QUARTO DE JONBENÉT

Por baixo, fica o piso principal.

Patsy encontrou o tal pedido de resgate
numas escadas circulares,

junto à cozinha.

RÉS DO CHÃO

DESPENSA

E, por baixo, havia a cave onde,
basicamente, guardavam coisas.

E há uma área
designada "sala dos comboios",

onde Burke tinha brinquedos.

Os agentes revistaram a casa.

Não viram indícios óbvios de crime,
não encontraram a JonBenét.

Eu só fui à casa posteriormente.

Subi as escadas
e fui ao quarto de JonBenét.

A cama estava desfeita.
Era óbvio que tinham dormido lá.

Fechei a porta, selei-a,

disse ao Sr. Ramsey
que ninguém entrava ali.

E pensei que o suspeito
podia ligar a qualquer momento.

SR. RAMSEY, OUÇA COM ATENÇÃO!

A polícia preparou-me: "Quando ligarem,
peça para falar com a JonBenét."

Providenciei tudo
para ter o dinheiro disponível.

26 DE DEZEMBRO DE 1996
8 HORAS

Lembro-me de me sentir impotente.

Porque toda a minha vida tentei manter
os meus filhos em segurança.

E, de repente,
não sabia onde estava a minha filha.

E eu estava…

… completamente em pânico.

9H15

Um agente recolheu o pedido de resgate

e eu perguntei ao Sr. Ramsey
se ele tinha uma amostra da sua letra

e uma amostra da letra da Sra. Ramsey.

O Sr. Ramsey deu-me dois blocos de notas

e disse: "Esta letra é da minha esposa.
Este bloco é meu."

CENTRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

9H45

E depois fui ao departamento da Polícia.

Temos um perito em falsificações
que também examina caligrafia.

Dei-lhe os blocos e disse:

"Vê isto, compara com o pedido de resgate
e diz-me o que achas."

O Bob Whitson deu-me dois blocos de notas

e disse que John Ramsey lhos tinha dado,

que um dos blocos tinha a letra de Patsy

e o outro bloco tinha a letra de John.

Estava a ver o bloco
que tinha a letra de Patsy

e encontrei uma folha de papel inteira,
ainda agarrada ao bloco,

com o que parecia ser
o pedido de resgate inicial.

SR. & SRA. I

Dizia "Sr." e depois talvez tivesse
o primeiro traço vertical de um R.

SR. & SRA. I

Podia ser o primeiro rascunho

do que me apareceu ser,
possivelmente, o pedido de resgate.

Fiquei chocado quando descobri isso.

Parecia que o pedido de resgate

fora escrito nesse bloco,

em casa dos Ramsey.

O inspetor Kithcart entrou
e mostrou-me essa informação.

Fez-se silêncio absoluto.

Um dos agentes do FBI presentes,

lembro-me de ele dizer:
"Temos de suspeitar sempre da família."

INTERROGATÓRIO AO AGENTE DO FBI, 2006

Na verdade, estava de folga nesse dia.

Ligaram-me, era um dos indivíduos
do nosso gabinete local.

Não era um agente,
era um auxiliar de investigação,

para me avisar
de que tinha havido um rapto em Boulder.

Primeiro, temos de ler
as exigências dos alegados raptores.

Fiquei logo impressionado
por o bilhete ser tão longo.

É muito invulgar ver tal magnum opus.

USEM O BOM SENSO SULISTA.

Normalmente, os pedidos de resgate
são breves e diretos.

Outra coisa estranha
é o valor de cento e dezoito mil dólares.

É um número estranho de se pedir.

Esse valor é baixo,

mas também é muito invulgar,

porque não corresponde ao que se esperaria
como pedido de resgate.

Esperamos que peçam duzentos mil,
trezentos mil, um milhão, meio milhão,

mas não cento e dezoito mil dólares.

SE QUISER QUE ELA CHEGUE A 1997…

Tudo isto junto

dizia-me de certa forma
que o pedido era falso, no fundo.

Não era um pedido de resgate verdadeiro.

10H15

Esperar várias horas para receber
uma chamada do raptor foi uma tortura.

Passou das 10 horas e ninguém ligou.

11 HORAS

A dada altura, perguntei:
"Fecharam o aeroporto ou algo assim?"

E eles olharam para mim
e disseram: "Bem, não."

E eu disse:
"Mas o que é que estão a fazer?" Sabe?

"Qual é o plano?"

12 HORAS

Ficamos muito frustrados porque não…

Queres que o mundo inteiro pare
para encontrarmos aquela criança.

13 HORAS

O Sr. Ramsey estava nervoso,
queria saber o que se passava.

A inspetora presente disse:

"Porque não voltam a revistar a casa
para ver se encontram algo invulgar?"

VÍDEO DO LOCAL DO CRIME

Eu e o meu amigo descemos as escadas
e fomos à cave.

Chamamos-lhe "sala do comboio".

Os miúdos tinham lá um comboio montado,
um comboio elétrico.

E vi logo que uma das janelas
estava aberta. E partida.

E havia uma mala debaixo da janela.

E aquela mala não devia estar lá.

Puseram-na lá a servir de degrau,

porque a janela era bastante alta.

Para passar por ela,
a pessoa precisava de escadas.

Disse ao meu amigo:
"A mala não devia estar ali.

Não pertence ali.
Não fomos nós que a pusemos lá.

E, além disso,

passei por aquela janela no verão passado.

Parti-a para entrar em casa.
Perdi a chave. Não estava cá ninguém."

Pensei que tínhamos mandado pôr
outro vidro. Parece que não.

Mas eu disse que a janela estava aberta.
E aquilo parecia suspeito.

Depois, fomos a outra divisão da cave.

Chamávamos-lhe "adega",
mas não tinha vinho. Era uma arrecadação.

E vi logo o corpo dela
mesmo à minha frente.

Tinha fita adesiva na boca
e as mãos atadas atrás das costas.

Tirei-lhe logo a fita.

NOME COMPLETO DA VÍTIMA: JONBENÉT RAMSEY

Tentei desatar-lhe as mãos,
mas o nó estava muito apertado.

Não consegui desfazê-lo.

Então, gritei, peguei nela
e levei-a para cima,

para que a socorressem.

Os inspetores viram-lhe a pulsação.

E disseram-me: "Está morta."

Fiquei a olhar para ela.
Sabe, não conseguia compreender.

E ouvi o John gritar.

E eu disse: "O que foi? O que se passa?"

E…

E a Barbara, a minha amiga,

agarrou-me e disse: "Não, fica aqui."

E eu só dizia: "O que se passa?"

E…

E acho…

Entrámos na sala de estar e…

… ela estava lá e…

O John disse que ela estava morta.

Os inspetores que estavam com os Ramsey
ligaram para a central

e disseram que tinham encontrado
o corpo de JonBenét.

CENTRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Houve um grupo de investigadores

que se reuniu no departamento da Polícia
nessa manhã.

Quando souberam
que encontraram o corpo de JonBenét,

uma pessoa que esteve nessa reunião
disse-me

que um investigador murmurou,

que sussurrou entre dentes
a outro investigador:

"Eu sabia! Mataram a filha."

Rapidamente fomos levados
para fora de casa.

Fomos para casa de uns amigos
que estavam lá nessa manhã,

levaram-nos para casa deles.

E, a partir desse momento, foi só…

… choque.

Pensei que a JonBenét estaria lá.
Pensei que a tinham encontrado.

Fiquei muito entusiasmado.

Não sei se estava a sonhar.

Foi triste…

E, nessa altura, a JonBenét estava no Céu.

O que fizeste?

Pensei no Céu.

INTERROGATÓRIO A BURKE, 1998

26 DE DEZEMBRO DE 1996
21 HORAS

Passando pelo Pai Natal no seu trenó
e duas filas de bengalas de rebuçado,

os médicos-legistas tiraram o corpo
de JonBenét Ramsey, de seis anos,

da sua casa luxuosa.

A mãe, Patsy Ramsey, ligou para o 112

e informou que a filha fora raptada.

Mas quando a polícia chegou aqui,
entrou na casa

e, pouco depois,
encontrou o corpo da menina.

Fui chamada para o caso Ramsey
quando estava de férias.

A minha diretora apanhou-me em casa.

E disse:
"Tens de cobrir já esta história."

A Polícia não comenta a causa da morte,

só adianta
que não foi alvejada nem esfaqueada.

Todo o jornalista sabe como é
a sensação de adrenalina

que sente quando se é destacado

para cobrir uma notícia
que, desde o início, parece grande.

Cheguei a casa dos Ramsey
na noite da participação do crime.

Não houve comunicação naquela noite

entre a Polícia e os média lá fora

antes de tirarem o corpo da casa.

Isso ocorreu meros minutos,
na verdade, antes do meu prazo final.

Um dos investigadores saiu
e disse-nos o nome e a idade da vítima.

Pumba, já estava.

MENINA ENCONTRADA MORTA

A Polícia
não identificou publicamente suspeitos.

A comunicação oficial
é de que não há suspeitos

nem descartaram ninguém.

Os vizinhos descrevem a menina
como linda e educada.

O corpo estava na cave,
longe da vista, mas não escondido.

Começámos então a investigar
quem eram os Ramsey.

O Sr. Ramsey
é presidente da Access Graphics,

uma empresa local
de mil milhões de dólares.

Tentei contactar alguém da família Ramsey
e não consegui.

E os poucos amigos deles que encontrei
não falavam.

O casal tem outro filho,
um rapaz de cerca de dez anos.

Na altura, estávamos ansiosos por qualquer
informação que conseguíssemos.

NATAL DOS RAMSEY, 1994

Olá, sou a Patsy Ramsey.

O papá não está,
mas esta é a JonBenét, de quatro anos.

O Burke tem sete.

Queremos dar-vos as boas-vindas
à nossa casa e desejar-vos um feliz Natal.

É muito importante lembrarmo-nos
de que, antes do dia de Natal de 1996,

éramos uma família normal.

25 DE DEZEMBRO DE 1993

Não éramos perfeitos.

Éramos uma família normal
a viver uma vida normal.

Quando a JonBenét nasceu, éramos cinco.

Eu tinha duas irmãs mais velhas,
a minha irmã Beth e a minha irmã Melinda,

do primeiro casamento do meu pai,
com a minha mãe.

E depois nasceram o Burke e a JonBenét.
O Burke é dez anos mais novo do que eu.

E acho que a JonBenét
é 13 anos mais nova.

Eles eram filhos do segundo casamento
do meu pai, com a Patsy.

12 DE FEVEREIRO DE 1994

Aí vêm o Burke e a JonBenét.

A voar pela colina abaixo.

Sim.

Muito bem! Bela tentativa!

Vamos repetir.

Está bem, vamos repetir.

O pai.

Olá, malta.

Foi divertido ou não foi?

JonBenét.

O Burke? Aqui está ele.

E a Melinda!

Conheci a Patsy através de uns amigos.

Estava divorciado

e os meus vizinhos de baixo
eram amigos dela, da Virgínia Ocidental.

Ela tinha 23 anos e eu tinha 35 e…

Ela era simpática e…

Mas pensei que não podia sair com ela,
era muito nova.

Mas depois conheci-a melhor
e achei-a muito inteligente.

Não era como as outras raparigas
de 23 anos.

E convidei-a para sair. Quando saímos,
achei que era a pessoa certa.

E o resto é história.

Comecei… Sou uma espécie
de empresário independente

e criei uma empresa
de representação de fabricantes

de equipamento eletrónico.

Por sorte, trabalhávamos na indústria
informática, que estava a crescer muito.

ATINGIMOS MIL MILHÕES DE DÓLARES
EM VENDAS!

Fundimos com duas outras empresas.
Uma era em Boulder.

Decidimos ir viver em Boulder,
ficar dois anos no Colorado

e depois voltar para Atlanta.

Era esse o plano.

Tínhamos um belo pé-de-meia,

mas não tínhamos
centenas de milhões de dólares.

Nunca pensei ter tanto dinheiro.

E, claro, depois tudo isso mudou.

Beth, filha de John Ramsey
do primeiro casamento dele,

morreu num acidente de viação.

QUINTA-FEIRA, 9 DE JANEIRO DE 1992
DOIS MORTOS NA QUARTA-FEIRA

Quando perdemos a Beth, fiquei devastado.

Ela cuidou melhor de mim
do que eu terei cuidado dela.

E estava sempre preocupada
com o que eu ia fazer no Natal

ou no dia de Ação de Graças
se não estivéssemos juntos.

A JonBenét tinha um ano e meio
quando perdemos a filha do John, a Beth.

E mesmo naquela idade…

Sei que já falámos muito sobre isto,
mas sentimos que ela era uma dádiva.

Que ela nos foi dada
para nos ajudar a superar esse período.

E pensamos: "Só tinha um ano e meio,

ela não conseguia perceber
o que se tinha passado."

Mas ela sentia,

ela sentia a nossa dor

e a nossa tristeza.

E ela tinha uma forma de vir ter connosco
e de se enroscar em nós.

Era uma criança muito sensível.

A Patsy já sabia há meses
que algo estava errado.

Tinha o estômago muito dilatado.

A mãe olhou para ela e disse:
"Vamos ao hospital.

Passa-se algo."

Em 30 minutos,

tinham feito um raio X e encontraram
um tumor enorme na zona do abdómen.

Era cancro nos ovários.

Era uma lutadora.
Ela queria viver pelos filhos.

Os meninos iam ao meu quarto no hospital.

Ela entrava…

Tinha o saco pendurado aqui, com sangue,

e ela ia lá apertá-lo.

"O que é isto?" Sabe? "Para onde vai?"

E ela seguia o tubo e dizia:
"Vai para aqui."

Dizia: "Está tudo bem, mamã.

Não vai doer por muito tempo." Sabe?

Ela puxava por mim.

Foi brutal
e o tratamento foi muito intenso.

Uma quimioterapia arrasadora.

Ela fez isso durante um ano e disseram:
"Já não tem cancro. Está em remissão."

E, para a Patsy, foi como voltar a nascer.

Esta era a minha razão de viver.

Olá!

31 DE JULHO DE 1995

Olá!

Tinha dois filhos, um marido maravilhoso.

E ninguém ia criar essas duas crianças

como eu queria.

Vou estar presente.

Olá!

- Eis a JonBenét.
- Olá.

Quem estiver interessado neste caso,

tem de ler a causa da morte
no relatório da autópsia.

É vital.

Segundo a autópsia,
quem matou JonBenét

pegou num fio branco de olefina,
amarrou-lhe os pulsos…

… pegou no mesmo fio

e fez o que é vulgarmente conhecido
como garrote ou ligadura.

Esse garrote não foi usado
para estrangular imediatamente a vítima,

serve mais como mecanismo de controlo.

Pode usar-se para pressionar o pescoço
e soltar,

pressionar o pescoço e soltar.

Havia um pincel de pintura artística

no material de pintura da Sra. Ramsey

que era guardado na cave.

Esse pincel estava partido em três partes.

O cabo foi retirado
e atado na ponta desse garrote.

Havia alguma complexidade
na forma como o garrote foi feito.

O nó foi dado por alguém
que sabia como se faz um garrote.

Achamos que JonBenét estava viva
nesse momento

porque havia cabelo dela emaranhado no nó.

É consistente com alguém
a ter prendido com as mãos ou com os pés

e atado o nó.

Deixaram o garrote entranhado
no pescoço dela.

Nunca vi o garrote.
Estava tão entranhado na carne que não vi.

Ela também tinha uma marca vermelha
muito distinta abaixo da garganta

que correspondia
às impressões digitais dela,

como se tentasse aliviar a pressão do fio
que tinha à volta do pescoço.

MUITO VERMELHA… E PROFUNDA

Tinha o garrote entranhado no pescoço.

Todos, incluindo a polícia,
acharam que essa fora a causa da morte.

Quando a puseram na mesa de autópsia

e lhe abriram o cérebro,

viram que levara uma pancada na cabeça.

Foi atingida na cabeça

com um golpe
que provocou uma fratura de 20 cm.

Parte do crânio cedeu.

A Polícia de Boulder
encontrou dois objetos

que poderiam estar relacionados
com a lesão na cabeça de JonBenét.

Havia o taco de basebol dos Ramsey

que foi encontrado
à porta da residência do casal.

Havia também a lanterna Maglite dos Ramsey

que ficou na cozinha.

Mas não havia provas físicas na lanterna

nem no taco.

SEM ETANOL NO SANGUE

Segundo o médico-legista
que realizou a autópsia,

ela morreu devido a uma de duas coisas.

O garrote e o estrangulamento
ou a pancada na cabeça.

Disse que não mencionou uma delas
porque não determinou qual foi a primeira.

Que, pela sua análise,
tinham sido quase simultâneas.

Também encontraram fibras microscópicas
do cabo do pincel

na área vaginal,

que indicam
que foi abusada sexualmente com esse cabo.

Tanta fúria,

tanta raiva.

Foi torturada e assassinada.

No Colorado,
um mistério de homicídio clássico.

Um bilhete de resgate,
um cadáver e reviravoltas estranhas.

Teve a atenção dos média nacionais
quase de imediato.

Um dos fatores
que mais contribuiu para isso

foi o número de fotos e vídeos
de JonBenét.

Ela é cativante desde o início.

Se virem as fotos dela,
tinha aura de estrela.

A televisão, os tabloides
todos precisavam de imagens

para contar a história.

E começaram logo a falar do caso Ramsey

porque JonBenét Ramsey participava
em concursos de beleza infantis.

JonBenét Ramsey como Ziegfeld Follies!

A ABC, a NBC, a CBS e a CNN,
durante todo o mês de janeiro,

abriram com o caso Ramsey.

E incluíram as fotografias e o vídeo
do concurso de beleza.

Havia uma conotação muito profissional,
quase adulta

e, francamente,
algo sexual nessas imagens.

Nos vídeos que vi de JonBenét,

ela não parece uma criança.

Parece uma mulher pequenina

e há uma espécie
de consciência sexual nela.

As imagens que vimos
desta criança de seis anos

são de uma prostituta em miniatura
com roupa provocante.

COM UM AR DEMASIADO SENSUAL
PARA A SUA IDADE

Os Ramsey foram duramente julgados
como pais delinquentes,

como pais que forçaram a filha
a fazer estes concursos de beleza.

Traça um retrato muito surpreendente
do estilo de vida desta menina,

das suas atividades
que eram sancionadas pelos pais.

ENTREVISTA AOS RAMSEY, 1998

Vamos falar um pouco sobre os concursos.

Quando as pessoas
viram os vídeos dos concursos,

viram ali uma criança sexualizada.

Como reagem a isso?

Foi uma mente doentia
que fez essa leitura.

A realidade não era essa.

Está bem, então…

Qual é o teu animal preferido
no jardim zoológico?

Os macacos, porque se riem e assim,
e andam pendurados.

Riem-se e andam pendurados.
Resumiste muito bem.

Força, Jess!

Força, JonBenét!

Eram meninas
que estavam num palco pequeno

a atuar à frente dos pais e avós,

provavelmente nunca mais
do que 20 ou 30 mães e pais

de outras meninas que estavam no concurso.

Não era uma competição desenfreada,

era só deixá-las atuar
até satisfazerem esse seu gosto.

Quero ouvir os coiotes a uivar
Enquanto o Sol se põe no…

Se a pessoa não estiver lá,
se nunca tiver ido e visto…

É como pegar numa gravação caseira
dos nossos filhos na piscina

e isso acabar na televisão nacional
como material pornográfico.

Parabéns…

Parabéns, JonBenét.

A Patsy participou
num concurso de beleza na faculdade

e concorreu a Miss Virgínia Ocidental.

E ela dizia muitas vezes:
"Mamã, quando posso fazer isso?"

SONHO DO COLORADO

Para mim, a Patsy estava mais ansiosa
por fazer essas coisas com a JonBenét

porque, sinceramente,
tinha cancro em remissão

e não sabia se estaria cá
quando a JonBenét tivesse 18 anos.

Ela nunca o disse. Nunca lho disse.

Ele tem razão.

Depois de ter tido cancro, sabe,

pensei que talvez…

Posso não viver
para a ver fazer muitas coisas.

29 DE DEZEMBRO DE 1996
TRÊS DIAS APÓS O HOMICÍDIO

Desde o homicídio, não houve detenções,

mas a tragédia é tema de conversa.

As pessoas falam de quem suspeitam,
da investigação da Polícia.

A polícia começou a perceber que devia
ter fazer muitas coisas de outra forma.

A Polícia foi criticada

e outros departamentos policiais afirmaram
que teriam investigado de outra forma.

Tem alguma preocupação em relação
à forma como a investigação foi feita?

Não revistar a casa,

sugerir ao pai que revistasse a casa
e depois ele encontrar o corpo.

Não tenho qualquer motivo
para questionar a investigação da polícia.

PRESIDENTE DA CÂMARA

A Polícia de Boulder não tinha historial
de lidar com muitos homicídios,

apenas porque não havia
muitos homicídios para investigar.

Creio que a morte de JonBenét foi
o primeiro homicídio em Boulder nesse ano

e só faltavam cinco dias
para o ano acabar.

É justo questionar
a experiência e a capacidade

da Polícia de Boulder
para investigar um homicídio?

Não me parece.

Só porque há um homicídio num ano,

na verdade, é um sinal de força notável
numa comunidade.

Essa falta de experiência,

em termos de procedimentos,
criou muitos problemas no local do crime.

FÓRUM MUNICIPAL COM O CHEFE DA POLÍCIA

Tom, divulgaram muita informação

sobre a investigação policial
na manhã de 26 de dezembro.

A polícia revistou a casa
depois da chamada para o 112,

mas antes de o corpo ser encontrado?

Fizeram uma busca preliminar na casa.

Atenção que a casa é muito grande.

Procuraram ou não na divisão
onde John Ramsey disse que estava o corpo?

Parece que não desceram.

Essa divisão estava numa parte da cave

onde, aparentemente, não foram.

Um polícia não abriu a porta da divisão
onde JonBenét estava.

Foi um grande erro. E acho
que ele carrega esse fardo até hoje.

Outra pergunta sobre procedimentos.

Porque só isolaram a casa dos Ramsey
como local de crime

várias horas após participarem o rapto?

Chamaram amigos lá para casa.

A casa estava cheia de gente,
alguns lavavam a louça,

havia bagels por todo o lado,
sumo de laranja e café.

A polícia não viu ali o local de um crime.

MOVIMENTAÇÃO NA CASA DOS RAMSEY
TERÁ COMPROMETIDO PISTAS

Devia ter retirado toda a gente do local.

Foi um erro.

Mas, na altura, parecia um rapto legítimo.

Por isso, pensei que aquelas pessoas
estavam a dar apoio aos Ramsey

e deixei-as ficar.

E porque é que os agentes
não descobriram o corpo de JonBenét,

em vez de ser o pai,

se estavam na casa
horas antes de ela ser encontrada?

A busca é sempre feita
por agentes da autoridade.

Certo? O papel das autoridades
é recolher os factos.

John Ramsey
encontrou o corpo da filha na cave

e levou-o para cima,

destruindo efetivamente o local do crime.

Quando o Sr. Ramsey descobriu o corpo,

tirou-lhe a fita adesiva da boca
e atirou-a para um cobertor que estava lá.

Podia haver alguma prova na fita adesiva,
se não a tivesse tirado.

Passou a haver alguma preocupação
de que algumas provas,

provas cruciais que poderiam ligar,

estabelecer solidamente em tribunal
quem era o homicida,

se tenham perdido

naqueles primeiros minutos
da investigação ou não?

Podemos especular sobre isso,

mas tudo indica que não perdemos nada.

SUSPEITA RECAI SOBRE OS PAIS
DE UMA MENINA ASSASSINADA

Sei que a Polícia
encarou os Ramsey como suspeitos

desde o primeiro dia.

E isso deveu-se
a várias coisas diferentes.

E demoraríamos a conhecer
muitas dessas coisas.

Sei quem matou JonBenét.

Não tenho dúvidas
quanto a quem matou JonBenét.

INSPETORA DO CASO

Quando a inspetora Linda Arndt
deu a primeira entrevista na televisão,

disse que achava que tinha estado
cara a cara com o homicida.

A cara dele estava mesmo ao lado da minha.

E tivemos uma conversa não verbal
que nunca esquecerei.

SUSPEITA RECAI SOBRE OS RAMSEY

Não agimos bem aos olhos dessa inspetora
que estava lá naquele dia.

CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA DE EX-INSPETORA

Como lhe pareceu ele?

Cordial.

Perturbado?

Cordial.

O argumento clássico foi:

"John, descontraidamente,
pôs-se a ver o correio. Não é normal."

Lembro-me de ver John na cozinha,

a ver o correio

e… memorizei isso.

Estava à procura
de outra comunicação do raptor.

Tinham posto correio
pela ranhura na porta da frente

e havia imensas cartas.

Eu procurava outra carta do raptor.

Ela achou que eu estava descontraído
a ver o correio e, por isso, era culpado.

ARNDT NÃO TEM DÚVIDAS
ACERCA DA AUTORIA DO CRIME

Linda Arndt era a única agente que estava
na casa quando encontraram o corpo.

Ela disse-me

que só sugeriu a John Ramsey
que revistassem a casa para os entreter.

A inspetora disse: "Porque é que o senhor
e o seu amigo não dão uma volta à casa

à procura de algo estranho?"

Linda Arndt disse-me
que John Ramsey foi direto à cave,

à divisão onde estava o corpo,
e que o encontrou imediatamente.

E acho que deu a sensação de que isso foi…

Se te mandam revistar a casa,

é estranho
começar a procurar nessa divisão.

E, por coincidência, o corpo está lá.

O sítio lógico para começar é a cave.

É onde está o acesso mais fácil à casa.

Ela disse que John Ramsey olhou para ela
e que viu nos olhos dele…

Disse que o olhar dele a assustou
e a fez temer pela sua segurança.

Lembro-me de usar um coldre de ombro.

Aconcheguei a arma ao meu peito

e contei conscientemente:
"Tenho 18 balas."

Não sabia se estaríamos todos vivos
quando chegassem reforços.

"Vi nos olhos de John.
Sabia que ele era o homicida."

É de loucos.

E…

Mas foi assim que começou.

Eu sabia o que acontecera.

Não sei se foi nesse dia
ou no seguinte, mas…

E eu não andava a atender chamadas,
nós estávamos de rastos,

mas ligaram aos nossos amigos
e eles disseram-nos:

"Este tipo trabalha contigo.
Disse que precisa de falar contigo."

Então, atendi o telefone
e era um dos nossos empregados.

Ele disse:

"Foi-me dito por alguém dentro do sistema
para lhe dar esta mensagem.

Eles acham que matou a sua filha.

Arranje o melhor advogado de defesa
que conseguir."

Fiquei chocado.

31 DE DEZEMBRO DE 1996
CINCO DIAS APÓS O HOMICÍDIO

O pai, John Ramsey,
contratou um conhecido advogado criminal

e um jornal de Denver relata
que ele não falará com a polícia.

RAMSEY CONTRATA EQUIPA JURÍDICA

Contrataram logo advogados.

E isso pareceu-me estranho.

ADVOGADOS NÃO FALAM

Era uma família
cuja filha foi morta em casa

e mandaram os advogados
falar com a Polícia.

A perceção foi de que talvez tivessem
uma razão para o fazer.

RAMSEY EM SILÊNCIO

O americano comum,
quando imagina o homicídio de um filho,

dirá: "Porque não falam com a polícia?
Deviam querer isto resolvido."

POLÍCIA NÃO PODE OBRIGAR RAMSEY A FALAR

Só vimos que os Ramsey
não falavam com ninguém.

Porque não estão à porta
do departamento da Polícia

a disponibilizar tudo o que puderem,
toda e qualquer informação?

Porque fogem?

Esses pais ainda não foram
formalmente interrogados pela Polícia

sobre o homicídio da filha.

O que pensa a população de Boulder?

Acho que há uma preocupação crescente
de que seja esse o caso.

Não me parece que a polícia
os tenha tratado de forma diferente.

Estão a tentar interrogá-los,
mas eles têm uma equipa que os protege.

CRIME MEDIÁTICO

Reunimo-nos com os novos advogados
que disseram:

"Cuidado ao falarem com a Polícia."

Dissemos: "Não temos nada a esconder.
Eles têm de ver e entender isso."

Mas os advogados disseram

que não entendíamos
como aquilo funcionava.

"Há muitos inocentes na prisão

porque os advogados de defesa
os deixaram falar com a Polícia."

AGENTES OBTÊM AMOSTRAS DE CABELO

Demos à Polícia tudo o que pediram.

Amostras de sangue,
de ADN, de tudo que pediram.

Registos de cartões de crédito,
demos tudo o que pediram.

JONBENÉT LEVADA PARA A SUA ÚLTIMA MORADA

As portas da Igreja Presbiteriana
Peachtree de Atlanta

abriram-se centenas de vezes esta manhã.

Família e amigos
de JonBenét Ramsey, de seis anos,

prestaram a última homenagem
à menina nascida em Marietta.

JonBenét ia ser enterrada em Atlanta,
ao lado da minha filha mais velha.

31 DE DEZEMBRO DE 1996

Posso dizer-vos
que Deus tem o coração partido

com a morte trágica de JonBenét Ramsey.

Finda a cerimónia,
os Ramsey dirigiram-se ao caixão

e ajoelharam-se.

Quando fomos atacados, por assim dizer,
pela imprensa e pela Polícia,

não nos incomodou.

Perdêramos a nossa filha.

Eu não me importava de morrer,
sinceramente, para sofrer menos.

Eu só fiz trabalho no terreno
quando estavam em Atlanta para o funeral.

Começávamos a receber declarações
de uma empresa de relações públicas

e não dos Ramsey
nem dos próprios advogados.

RP NÃO SABE SE OS RAMSEY FALARÃO
UM PORTA-VOZ PAGO…

E aquilo era suspeito.

Pensámos: "O que se passa?"

Estávamos em Atlanta
para o funeral da JonBenét.

E os nossos amigos em Boulder
insistiram veemente

para que nos apresentássemos aos média.

"Tens de o fazer.

Começas a ser acusado de homicídio
e tens de te defender."

E eu concordei.

Porque decidiram falar agora?

Bem, temos estado bastante isolados,

totalmente isolados
nos últimos cinco dias e…

Mas sentimos pelos nossos amigos que…

… esta tragédia nos tocou não só a nós,
aos nossos amigos,

mas também muitas pessoas.

Porque estão a dar entrevistas à CNN

e não fazem um interrogatório formal
na Polícia de Boulder,

se querem encontrar o criminoso?

Se alguém souber alguma coisa,

por favor, ajude-nos.

Pela segurança de todas as crianças,

temos de descobrir quem fez isto.

Lembro-me de ver

e pensar que Patsy estava muito medicada
nessa entrevista.

Enrolava as palavras.
Estava muito emocionada.

Acreditam que foi um desconhecido.

- Anda um homicida à solta.
- Sem dúvida.

Não sei quem é.

Não sei se é homem ou mulher,

mas se eu morasse em Boulder,

diria aos meus amigos para tomarem…

Calma.

Tomem bem conta dos vossos filhos.

Anda alguém por aí.

Patsy Ramsey disse nessa entrevista na CNN

que andava um homicida à solta.

Esse comentário foi recebido

com estranheza

pela comunidade local.

Eu vivo nesta cidade e posso dizer
que a comunidade não sente,

aqueles com quem falo,
com quem me dou nas horas vagas,

que haja motivos para termos medo
de uma ou várias pessoas desconhecidas.

HOMICIDA À SOLTA

A presidente da Câmara de Boulder,
tendo ouvido a Sra. Ramsey na véspera,

minimiza o alarmismo.

Não havia sinais visíveis de arrombamento.

Pelo sítio onde o corpo foi encontrado,
dizem que o autor conhecia a casa.

Portanto,
não anda um homicida louco à solta,

a vaguear pelas ruas de Boulder.

A presidente afirmou
que não andava ninguém

à procura de crianças para estrangular
nas ruas de Boulder.

"NÃO HÁ MOTIVO PARA TER MEDO",
DIZ PRESIDENTE DE BOULDER

Como é que ela sabe?

Aliás, ninguém sabe quem é o homicida.

Seria de deduzir
que ela tinha informações da Polícia

que a deixaram à vontade para afirmar
que não havia um homicida à solta

e que a Polícia sabia quem era.

E isso insinuava, claramente,

que foi alguém ligado à família.

Vizinhos nesta área exclusiva
do Parque Chautauqua

parecem estar a par da entrevista
na TV nacional, na noite de quarta,

com os pais da menina.

Há reações muito diferentes
ao alerta da mãe, Patsy Ramsey,

de que anda um homicida à solta.

Pareceu-me falsa.
Ela já esteve muitas vezes em palco.

5 DE JANEIRO DE 1997
DEZ DIAS APÓS O HOMICÍDIO

Amigos e familiares
de uma menina assassinada

choraram a sua morte num serviço fúnebre
hoje em Boulder, Colorado.

PAIS ENLUTADOS VÃO À IGREJA

Devem ter sido aconselhados a sair,
a mostrarem-se.

E houve uma aparição orquestrada

no domingo após voltarem do enterro.

Foi a primeira vez desde que voltaram
à cidade onde a sua filha foi morta

que John e Patsy Ramsey foram vistos.

Não me pareceu sincero
e foi quase como uma atuação.

Patsy tinha óculos de sol pretos enormes.
Nunca esquecerei.

Toda vestida de preto,
tão sedutora como sempre.

Agradeceu às pessoas,
apertou mãos, deu abraços.

Paroquianos protegeram os pais
dos jornalistas,

mas um mediador contratado pelo casal
deixou uma câmara fazer grandes planos.

Não me lembro
porque estávamos em choque,

mas lembro-me
de o nosso ministro se levantar e dizer:

"Temos de apoiar o John e a Patsy.

Vamos pôr-nos ao longo do passeio
enquanto eles saem."

E foi o que fizeram.

Acho que os média acharam
que nós encenámos aquilo,

o que era absolutamente falso.

15 DE JANEIRO DE 1997
VINTE DIAS APÓS O HOMICÍDIO

Em Boulder, Colorado, segundo fontes,
testes de ADN prestes a serem concluídos

podem indicar o homicida
da rainha de beleza JonBenét Ramsey.

Não sei o que dirá.

Esperemos que faça o caso avançar.

Pat Korten,
porta-voz da família, concorda.

"Estamos ansiosos
por receber esse resultado", diz,

"porque acreditamos
que permitirá à Polícia

tirar a família
da lista de potenciais suspeitos."

A 15 de janeiro de 1997,

o Gabinete de Investigação do Colorado
fez um relatório de ADN.

O relatório mencionava
algumas amostras de ADN

que tinham retirado das unhas de JonBenét.

UNHAS DE AMBAS AS MÃOS

Também há algum ADN
que retiraram das cuecas.

Compararam esses itens

aos perfis de ADN

de John, Patsy e Burke

e de imensas outras pessoas.

SERIAM EXCLUÍDOS…

Nenhum desse ADN correspondia
a alguém da família.

EXCLUÍDOS

O laboratório deles disse-lhes em janeiro:

"Testámos o ADN.
Há ADN masculino não identificado,

que exclui os pais e o filho, o Burke."

Souberam em janeiro.

Esconderam esse segredo dos média
e do procurador durante meses.

SEROLOGIA
ADN

A Polícia de Boulder, Colorado,

confirmou que recebeu
os resultados dos testes de ADN

referentes ao homicídio
de JonBenét Ramsey.

Mas não disse o que o teste revelou,
se é que revelou algo.

A análise de ADN de 15 de janeiro,
pelo Gabinete de Investigação do Colorado,

nunca foi divulgada.

Nem o procurador de Boulder sabia.

Guardaram esse segredo porque chocava
com a conclusão de que nós a matámos.

JOHN ANDREW RAMSEY, BURKE RAMSEY
SERIAM EXCLUÍDOS

Tinham ótimas provas de ADN
que apontavam para outra pessoa.

Havia ADN nas cuecas dela…

… e sob as unhas

que não corresponde a nenhum familiar.

E não há absolutamente
nenhuma explicação inocente

para haver ADN de um desconhecido
nas cuecas de uma criança de seis anos.

Não há explicação inocente.

Então, de quem é esse ADN?

AMOSTRA DE SALIVA

Legendas: Georgina Torres