All language subtitles for Glauber Rocha, 1977 - Di Cavalcanti

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Vai recomeçar outra vez.  10 00:01:30,400 --> 00:01:38,120 "Filmagem causa espanto e irrita filha e amigos." 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,11,12, corta!  11 00:01:38,120 --> 00:01:41,800 Agora dá um close na cara dele. Barba por fazer, calça de   12 00:01:41,799 --> 00:01:46,120 brim azul-marinho, casaco azul claro, camisa sport quadriculada, sapatos marrons.  13 00:01:46,120 --> 00:01:49,719 O cineasta Glauber Rocha está parado ao  lado do caixão de Di Cavalcanti no velório   14 00:01:49,719 --> 00:01:54,959 do Museu de Arte Moderna. Carioca Di Cavalcanti,  15 00:01:54,959 --> 00:01:57,239 é com a maior emoção que este também carioca  16 00:01:57,239 --> 00:02:01,640 te traz esta saudação. É de todo o coração,  17 00:02:01,640 --> 00:02:04,200 poeta Di Cavalcanti, que este também poetante  18 00:02:04,200 --> 00:02:11,840 te faz esta sagração. amigo Di Cavalcanti,  19 00:02:11,840 --> 00:02:14,599 amigo de muito instante, de muita situação,  20 00:02:14,599 --> 00:02:18,239 dos teus trezes lustros idos, cinco foram bem vividos  21 00:02:18,240 --> 00:02:24,000 na companhia constante deste também teu irmão:  22 00:02:24,000 --> 00:02:28,080 Quantos amigos partiram! Quantos ainda partirão!  23 00:02:28,080 --> 00:02:31,000 Mestre pintor Emiliano Augusto Cavalcantí  24 00:02:31,000 --> 00:02:39,000 De Albuquerque: ou melhor, Di! ...dá distância para filmar dos pés até a cabeça.  25 00:02:39,000 --> 00:02:42,039 "Ninguém viu Glauber entrar para  iniciar a filmagem do velório e--"  26 00:02:42,039 --> 00:02:46,639 Um ano sempre segue a outro ano. Mas que tem, se mais humano  27 00:02:46,639 --> 00:02:50,679 fica o homem igual a ti? Viveste, Di cavalcanti,  28 00:02:50,680 --> 00:02:54,319 foste amigo e foste amante, não há outro igual a ti!  29 00:02:54,319 --> 00:02:57,000 Agora dá uma panorâmica geral, enquadra o caixão no centro,  30 00:02:57,000 --> 00:03:00,639 depois começa a filmar da esquerda para a direita, aqui, devagarinho, vamos lá, 1, 2, 3...!  31 00:03:00,639 --> 00:03:04,359 Quando a contagem chegar a 10, mandou parar! Di está morto.  32 00:03:04,360 --> 00:03:09,160 Só terminaria 1 hora e 23 minutos depois junto  ao portão do Cemitério São João Baptista.  33 00:03:09,159 --> 00:03:12,359 Quando, por solicitação da filha  adotiva do pintor, Elizabeth,  34 00:03:12,360 --> 00:03:17,080 uma amiga da familia pediu a Glauber  para parar com esse espetáculo mórbido,  35 00:03:17,080 --> 00:03:17,640 ele explicou:  36 00:03:17,639 --> 00:03:20,479 "Não se preocupe, esta é a minha  homenagem a um amigo que morreu.  37 00:03:20,479 --> 00:03:22,719 Estou aqui filmando a minha  homenagem ao amigo Di Cavalcanti!  38 00:03:22,719 --> 00:03:29,840 Agora dá licença que eu preciso ir trabalhar!" Junto bebemos champagne,  39 00:03:29,840 --> 00:03:33,879 mezcal, uísque, parati, juntos rimos e choramos,  40 00:03:33,879 --> 00:03:36,960 no México e em Paris. Quantas mulheres amamos,  41 00:03:36,960 --> 00:03:40,040 quantas Marias perdi? A muitas eu disse yes,  42 00:03:40,039 --> 00:03:44,519 a muitas disseste oui. Nos separamos de tantas,  43 00:03:44,520 --> 00:03:47,320 mas nunca nos separamos. Amigo Di Cavalcanti,  44 00:03:47,319 --> 00:03:49,199 a hora é grave, é inconstante.  45 00:03:49,199 --> 00:03:52,519 Tudo aquilo que prezamos, o povo, a arte, a cultura  46 00:03:52,520 --> 00:03:55,800 vem sendo desfigurado pelos homens do passado,  47 00:03:55,800 --> 00:03:59,719 que por terror ao futuro optaram pela tortura.  48 00:03:59,719 --> 00:04:02,639 Poeta Di Cavalcanti, nossas coisas bem-amadas  49 00:04:02,639 --> 00:04:06,039 neste mesmo exato instante estão sendo desfiguradas.  50 00:04:06,039 --> 00:04:10,159 Hay que luchar, Cavalcanti, como queria Neruda!  51 00:04:10,159 --> 00:04:13,159 Por isso, pinta, pintor! Pinta, pinta, pinta, pinta,  52 00:04:13,159 --> 00:04:16,680 Pinta o ódio e pinta o amor, com o sangue da tua tinta,  53 00:04:16,680 --> 00:04:19,759 pinta as mulheres de cor na sua desgraça distinta,  54 00:04:19,759 --> 00:04:23,000 pinta o fruto e pinta a flor, pinta tudo que não minta,  55 00:04:23,000 --> 00:04:26,279 pinta o riso e pinta a dor, pinta sem abstracionismo,  56 00:04:26,279 --> 00:04:29,719 pinta a Vida, pintador, No teu mágico realismo!  57 00:04:34,560 --> 00:04:37,480 Carioca Di Cavalcanti, na rua do Riachuelo  58 00:04:37,480 --> 00:04:41,439 nasceste, a 6 de setembro do ano noventa e sete.  59 00:04:41,439 --> 00:04:44,680 Infante, foste criado no bairro de São Cristóvão  60 00:04:44,680 --> 00:04:49,720 na chácara do avô materno Emiliano Rosa de Senna  61 00:04:49,720 --> 00:04:56,040 (nome de avô de pintor!), orgulhoso proprietário  62 00:04:56,040 --> 00:04:59,840 do antigo morro do Pinto (quem sabe não vem de herança  63 00:04:59,839 --> 00:05:04,079 O teu amor às mulatas?). Logo os bairros se renovam:  64 00:05:04,079 --> 00:05:08,639 Botafogo, Glória (hotel) Copacabana e Catete  65 00:05:08,639 --> 00:05:12,639 (o Catete de onde nunca deverias ter saído,  66 00:05:12,639 --> 00:05:17,399 e ao qual agora voltaste humilde e reconhecido).  67 00:05:17,399 --> 00:05:20,839 Moraste no hotel Central e no hotel de Estrangeiros:  68 00:05:20,839 --> 00:05:24,439 ambos desaparecidos. E onde à tarde, entre os amigos  69 00:05:24,439 --> 00:05:29,719 tomavas, e com que gosto, O melhor uísque do mundo!  70 00:05:29,720 --> 00:05:34,560 Paquetá, um céu profundo que não sabe onde acabar  71 00:05:34,560 --> 00:05:38,000 viu-te muito passear, ó genial vagabundo!  72 00:05:38,000 --> 00:05:43,959 Quantas e tantas vezes foste à Europa, dize-me, grão-vagabundo? Vagabundo!  73 00:05:43,959 --> 00:05:46,639 No ano de trinta e oito, em Paris te descobri.  74 00:05:46,639 --> 00:05:48,759 Rimos e bebemos muito, Nos bares de por ali.  75 00:05:48,759 --> 00:05:51,879 Lembras-te, Di? Consuelo de Saint-Exupéry  76 00:05:51,879 --> 00:05:54,639 saía sempre conosco, e mais o sargento Thyrso,  77 00:05:54,639 --> 00:05:58,279 que uma noite lá, por pouco não sai no braço comigo.  78 00:05:58,279 --> 00:06:01,799 Como foste meu irmão! Como eu fiquei teu amigo!  79 00:06:01,800 --> 00:06:05,240 E no México, te lembras? Com Neruda e com Siqueiros,  80 00:06:05,240 --> 00:06:08,600 e a linda Maria Asúnsolo, que tenía blanco el pelo!  81 00:06:08,600 --> 00:06:11,438 Bebemos tanta tequilla que até dava gosto ver-nos  82 00:06:11,437 --> 00:06:16,240 a comer com gulodice um prato de tacos pleno, comiendo!  83 00:06:16,240 --> 00:06:19,439 Mais de setecentas luas ungiram tua cabeça,  84 00:06:19,439 --> 00:06:22,480 que hoje é branca como a Lua, mas continua travessa...  85 00:06:22,480 --> 00:06:25,560 Que bom existas, pintor enamorado das ruas,  86 00:06:25,560 --> 00:06:29,600 que bom vivas, que bom sejas, que bom lutes e construas:  87 00:06:29,600 --> 00:06:32,960 Poeta o mais carioca, pintor o mais brasileiro,  88 00:06:32,959 --> 00:06:36,039 entidade a mais dileta do meu Rio de Janeiro!  89 00:06:36,040 --> 00:06:59,520 --Perdão, meu poeta, perdão: Nosso Rio de Janeiro!  90 00:06:59,519 --> 00:07:09,588 O Di Cavalcanti, eu conheci ele na Bahia em 1958. O Di Cavalcanti apareceu lá   91 00:07:09,588 --> 00:07:16,560 com Roberto Rossellini, cineasta italiano muito famoso   92 00:07:16,560 --> 00:07:17,639 na época, não porque   93 00:07:17,639 --> 00:07:22,639 tinha filmado Roma, cidade aberta ou Paisà, ou outros grandes filmes do neorrealismo italiano,  94 00:07:22,639 --> 00:07:30,159 mas porque tinha sido casado com Ingrid Bergman, e o seu divórcio com a mulher e a fofoca   95 00:07:30,160 --> 00:07:33,120 gerou uma opinião do Papa. O Alberto Cavalcanti, não,   96 00:07:33,120 --> 00:07:35,920 digo, o Roberto Rossellini ficou famosíssimo,   97 00:07:35,920 --> 00:07:39,199 inclusive aqui no terceiro mundo, e convidado por Assis Chateaubriand,  98 00:07:39,199 --> 00:07:43,159 que era um dos caciques das artes brasileiras do Museu de Arte de São Paulo,  99 00:07:43,160 --> 00:07:48,080 da TV Tupi, "rede associada para o Brasil," convidou o Roberto Rosselilini para vir ao Brasil.  100 00:07:48,079 --> 00:07:51,319 Di Cavalcanti, como Jorge Amado,  Oscar Niemeyer, Villa-Lobos,  101 00:07:51,319 --> 00:07:55,959 faz parte deste olimpiado modernista que ficou internacionalmente famoso,  102 00:07:55,959 --> 00:07:59,560 com amizades em várias partes do mundo. Daí que, sendo repórter   103 00:07:59,560 --> 00:08:03,160 do Diário de Notícias na Bahia, fui destacado para entrevistar Roberto Rossellini,  104 00:08:03,160 --> 00:08:06,760 e lá conheci o Di Cavalcanti, que me apresentou o próprio Roberto,  105 00:08:06,759 --> 00:08:12,079 com a câmera de 16mm saindo pelas ruas da Bahia e filmando rapidamente lá uns   106 00:08:12,079 --> 00:08:16,079 sarcófagos e outros batuques das ruínas portuguesas barrocas da Bahia,  107 00:08:16,079 --> 00:08:18,879 com uma rapidez impressionante. Nunca vi ninguém filmar tão rápido,   108 00:08:18,879 --> 00:08:23,000 aliás, ali eu saquei o que é que era realmente  ali o negócio de ideia na cabeça e câmera na mão.  109 00:08:23,000 --> 00:08:26,360 Quer dizer, o Rossellini  realmente fazia com a câmera de 16  110 00:08:26,360 --> 00:08:30,560 o que o Di Cavalcanti faria com um pincel. Filmando um cristo morto   111 00:08:30,560 --> 00:08:36,360 lá sepultado numa laje marmórea dentro do Santo Antônio, Convento do Carmo,  112 00:08:36,360 --> 00:08:40,639 ali não sei direito aonde, pela  Bahia, zona norte, ali, zona cristão,  113 00:08:40,639 --> 00:08:43,759 o que se passa é que o  chofeur deixou o carro aberto,  114 00:08:43,759 --> 00:08:48,679 mão da embreagem mal-feita, escorregão, e o carro desce de costas pela ladeira.  115 00:08:48,679 --> 00:08:51,199 Lembra-me agora um filme, um  plano que não está no filme,  116 00:08:51,200 --> 00:08:56,440 do Di Cavalcanti, barriga grande, perna aberta, dando uma risada meia desesperada,  117 00:08:56,440 --> 00:08:58,680 o carro estava descendo, no  que eu freei rapidamente.  118 00:08:58,679 --> 00:09:01,479 Isto é verdade, nos conhecemos assim, e depois   119 00:09:01,480 --> 00:09:08,759 eu fui encontrar o Di Cavalcanti em 1964... 1964, em Paris.  120 00:09:08,759 --> 00:09:15,159 Eu encontrei lá o poeta Vinícius de Moraes, que era embaixador da UNESCO ou coisa que o valha,  121 00:09:15,159 --> 00:09:19,000 se o embaixador do... E estava o Di Cavalcanti,  122 00:09:19,000 --> 00:09:25,480 que tinha sido nomeado adido cultural do Brasil, muito interessado em fazer contactos   123 00:09:25,480 --> 00:09:27,840 com Jean-Paul Sartre, aliás, que era   124 00:09:27,840 --> 00:09:31,240 amigo dele, como todos os surrealistas  franceses, aquela turma do Breton, do Cocteau,  125 00:09:31,240 --> 00:09:36,000 porque o Di transou em todas, e apesar de uma parte da crítica brasileira  126 00:09:36,000 --> 00:09:39,720 ter negado os seus grandes,  as suas grandes qualidades,  127 00:09:39,720 --> 00:09:44,000 o Di Cavalcanti na verdade foi  um pintor internacional, assim,  128 00:09:44,000 --> 00:09:48,639 tão importante pro Brasil  quanto Picasso para a Espanha.  129 00:09:48,639 --> 00:09:52,879 Depois eu vi pouco, poucas vezes o Di Cavalcanti. Uma vez ele me telefonou   130 00:09:52,879 --> 00:09:57,480 do Rio pedindo o seguinte: "Quero que você venha aqui me filmar."  131 00:09:57,480 --> 00:10:02,120 Eu não fui porque não tinha tempo, tava viajando, em suma, não deu pé.  132 00:10:02,120 --> 00:10:07,560 Depois vi o Di Cavalcanti uma vez em Paris, não me lembro bem, aí por 70 ou 71,  133 00:10:07,559 --> 00:10:11,839 em um jantar, uma churrascaria,  não, em Paris não tem...  134 00:10:12,759 --> 00:10:18,439 Uma peixaria, uma coisa assim que o valha, estava a Regina Rosemburgo, estavam outros amigos,  135 00:10:18,440 --> 00:10:24,760 e depois não vi mais o Di. Não vi mais o Di, e  aquele dia então, acordando de manhã, recebo o   136 00:10:24,759 --> 00:10:32,240 impacto da noticia que o Di morreu e resolvi fazer  um filme como uma saudação, para as pessoas que   137 00:10:32,240 --> 00:10:37,639 nem conheceram o Di Cavalcanti, que ficaram... Em suma, a balada de Di Cavalcanti, "A balada   138 00:10:37,639 --> 00:10:40,600 de Di Cavacanti"! Vinícius de Moraes escreveu   139 00:10:40,600 --> 00:10:59,240 este poema inédito, em São Paulo-- Havia um certo respeito  140 00:11:01,120 --> 00:11:09,120 no velório do Heitor. Todo mundo concordava  141 00:11:09,120 --> 00:11:16,200 que, apesar de catimbeiro, era bom trabalhador.  142 00:11:16,200 --> 00:11:26,560 Houve choro e ladainha na sala e no corredor  143 00:11:26,559 --> 00:11:32,599 e, por ser considerado, seu desaparecimento  144 00:11:32,600 --> 00:11:41,519 muita tristeza causou. Di por Di, as vozes do túmulo!  145 00:11:41,519 --> 00:11:46,879 "Sou um gênio, um velho, uma glória nacional, não enche o meu saco!"  146 00:11:50,000 --> 00:11:53,799 Um grande sofrimento durante muito tempo  147 00:11:53,799 --> 00:12:02,479 roubou a minha paz. O carnaval que ela fez acabou...  148 00:12:02,480 --> 00:12:07,279 "Di Cavalcanti, lírico, romântico, sensual, carioca principalmente."  149 00:12:07,279 --> 00:12:12,199 Frederico de Moraes, "O Globo", quarta-feira.. Di nunca foi um realista  150 00:12:12,200 --> 00:12:18,520 Emiliano Di Cavalcanti, que faleceu ontem  aos 79 anos depois de longa enfermidade  151 00:12:18,519 --> 00:12:20,840 A talvez Braque  152 00:12:20,840 --> 00:12:27,446 Não bastasse ter sido segundo seu próprio dep-- recentemente aliás, se disse um realis--  153 00:12:27,446 --> 00:12:30,682 A talvez Picasso, a talvez Delac-- Di não se deixou--  154 00:12:30,682 --> 00:12:34,392 A arte braso-lusi... A talvez Gauguin...  155 00:12:34,392 --> 00:12:40,480 Por exemplo, também não é... --realizadores da Semana de Arte   156 00:12:40,480 --> 00:12:43,039 Moderna no Theatro Municipal em São Paulo,  157 00:12:43,039 --> 00:12:48,319 o que desarrumou definitivamente o edifício da arte acadêmica no Brasil.  158 00:12:48,320 --> 00:12:51,087 Sua própria pintura,  159 00:12:51,086 --> 00:12:53,039 sobretudo aquela realizada até o final da década de 40,  160 00:12:53,039 --> 00:12:59,223 pode ser considerada uma das contribuições mais importantes do Brasil  161 00:12:59,224 --> 00:13:00,360 à cultura visual de nosso século, especialmente no âmbito  162 00:13:00,360 --> 00:13:03,960 do continente latino-americano. Se, a partir da criação  163 00:13:03,960 --> 00:13:09,080 da Bienal de São Paulo em 1951, sua arte começa a declinar,  164 00:13:09,080 --> 00:13:12,200 em termos simetricamente opostos a Volpi,  165 00:13:12,200 --> 00:13:16,600 cujo prestígio é ascendente desde o momento em que dividiu ex-aecquo---  166 00:13:16,600 --> 00:13:21,840 "Grandes indagações metafísicas!" ...o maior prêmio da Bienal em 1953,  167 00:13:21,840 --> 00:13:26,680 30 anos de pintura, e da melhor pintura, são mais que suficientes para   168 00:13:26,679 --> 00:13:31,142 definir o peso de sua con-- "A talvez Diego de Rivera...!"  169 00:13:31,143 --> 00:13:38,879 --tribuição à arte brasileira e continental. Influências:  170 00:13:38,879 --> 00:13:42,840 Com referência a tudo o que foi  escrito sobre a pintura de Di,  171 00:13:42,840 --> 00:13:48,840 teremos, no capítulo das influências recebidas, uma árvore genealógica de raízes   172 00:13:48,840 --> 00:13:52,399 profundas e distantes, e bastante intrincada nos   173 00:13:52,399 --> 00:13:55,980 seus galhos e ramificações. "Alma brasileira...!"  174 00:13:55,980 --> 00:13:59,039 Existenciais, o que fez  espíritos com as próprias---  175 00:13:59,039 --> 00:14:05,719 As mais distantes remontam à Renascença. O próprio artista confessava seu entusiasmo  176 00:14:05,720 --> 00:14:12,639 pelo sensual Tiziano e por Michelangelo, cuja obra conheceu quando viajou à Itália.  177 00:14:12,639 --> 00:14:17,919 Ou mesmo um pouco antes, com Giotto e Cimabue. Do barroco falou-se de muitos autores.  178 00:14:17,919 --> 00:14:21,000 Lourival Gomes Machado diz que a pintura de Di Cavalcanti  179 00:14:21,000 --> 00:14:24,519 é uma expressão que apanhou em sua tessitura vital  180 00:14:24,519 --> 00:14:29,039 a realidade brasileira, e com tal identidade de essência,  181 00:14:29,039 --> 00:14:31,799 que faz lembrar milagrosa correspondência entre o barroco seco de Minas Gerais  182 00:14:31,799 --> 00:14:36,716 e a feição dessa província misteriosa. Talvez se pudesse ir mais longe:  183 00:14:36,716 --> 00:14:39,320 Há algo de semelhante entre a  mulatização de Nossa Senhora,  184 00:14:39,320 --> 00:14:43,920 nos céus da Capela Franciscana de Ouro Preto, levada a cabo por Ataíde,  185 00:14:43,919 --> 00:14:47,120 e a madonização da mulata  na pintura de Di Cavalcanti.  186 00:14:47,120 --> 00:15:00,080 Um Brasil lusitano, africano,  indígena, moçarábico!  187 00:15:09,480 --> 00:15:14,519 Essa é a história de Umbabarauma,  um ponta-de-lança africano.  188 00:15:14,519 --> 00:15:28,960 Um ponta-de-lança decidido! Umbabarauma!  189 00:15:42,679 --> 00:15:46,159 Só Deus sabe o dia de minha morte e  se vou entrar um dia para a Academia   190 00:15:46,159 --> 00:15:49,000 Brasileira de Letras. Nunca pensei que ser  candidato à ABL me trouxesse tanta angústia.  191 00:15:49,000 --> 00:15:56,720 A mulata! Sempre tive pelas mulatas imensa paixão.  192 00:15:56,720 --> 00:16:01,440 Outra vez! A mulata, modernismo,  1922, Di Cavalcanti, a montagem   193 00:16:01,440 --> 00:16:07,680 nuclear, a quantidade está na qualidade! Sempre tive pelas mulatas imensa paixão.   194 00:16:07,679 --> 00:16:13,599 A plasticidade da mulata, mais a sensualidade  inerente à raça negra, e aquele olhar triste,   195 00:16:13,600 --> 00:16:17,879 me encantam. Seu país! 19928

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