All language subtitles for Glauber Rocha, 1977 - Di Cavalcanti
Afrikaans
Akan
Albanian
Amharic
Arabic
Armenian
Azerbaijani
Basque
Belarusian
Bemba
Bengali
Bihari
Bosnian
Breton
Bulgarian
Cambodian
Catalan
Cebuano
Cherokee
Chichewa
Chinese (Simplified)
Chinese (Traditional)
Corsican
Croatian
Czech
Danish
Dutch
English
Esperanto
Estonian
Ewe
Faroese
Filipino
Finnish
French
Frisian
Ga
Galician
Georgian
German
Greek
Guarani
Gujarati
Haitian Creole
Hausa
Hawaiian
Hebrew
Hindi
Hmong
Hungarian
Icelandic
Igbo
Indonesian
Interlingua
Irish
Italian
Japanese
Javanese
Kannada
Kazakh
Kinyarwanda
Kirundi
Kongo
Korean
Krio (Sierra Leone)
Kurdish
Kurdish (Soranî)
Kyrgyz
Laothian
Latin
Latvian
Lingala
Lithuanian
Lozi
Luganda
Luo
Luxembourgish
Macedonian
Malagasy
Malay
Malayalam
Maltese
Maori
Marathi
Mauritian Creole
Moldavian
Mongolian
Myanmar (Burmese)
Montenegrin
Nepali
Nigerian Pidgin
Northern Sotho
Norwegian
Norwegian (Nynorsk)
Occitan
Oriya
Oromo
Pashto
Persian
Polish
Portuguese (Brazil)
Portuguese (Portugal)
Punjabi
Quechua
Romanian
Romansh
Runyakitara
Russian
Samoan
Scots Gaelic
Serbian
Serbo-Croatian
Sesotho
Setswana
Seychellois Creole
Shona
Sindhi
Sinhalese
Slovak
Slovenian
Somali
Spanish
Spanish (Latin American)
Sundanese
Swahili
Swedish
Tajik
Tamil
Tatar
Telugu
Thai
Tigrinya
Tonga
Tshiluba
Tumbuka
Turkish
Turkmen
Twi
Uighur
Ukrainian
Urdu
Uzbek
Vietnamese
Welsh
Wolof
Xhosa
Yiddish
Yoruba
Zulu
Would you like to inspect the original subtitles? These are the user uploaded subtitles that are being translated:
1
00:00:16,640 --> 00:00:29,960
Di
2
00:00:40,600 --> 00:00:43,240
Cavalcanti. Título do filme:
3
00:00:43,240 --> 00:00:47,840
Ninguém assistirá o formidável enterro da tua última quimera.
4
00:00:47,840 --> 00:00:52,320
Somente a ingratidão, aquela pantera, foi a tua companheira inseparável!
5
00:01:07,560 --> 00:01:13,031
"Filmagem causa espanto e irrita filha e amigos."
6
00:01:13,031 --> 00:01:13,107
Jornal do Brasil, quinta-feira 28 do 10 de 76, primeiro caderno, página 15.
7
00:01:13,108 --> 00:01:17,840
"Filmagem causa espanto e irrita filha e amigos." 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,11,12, corta!
8
00:01:17,840 --> 00:01:21,760
Agora dá um close na cara dele. Barba por fazer, calça de brim
9
00:01:21,760 --> 00:01:30,400
azul-marinho, casaco azul claro... Corta! Vai recomeçar outra vez.
10
00:01:30,400 --> 00:01:38,120
"Filmagem causa espanto e irrita filha e amigos." 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,11,12, corta!
11
00:01:38,120 --> 00:01:41,800
Agora dá um close na cara dele. Barba por fazer, calça de
12
00:01:41,799 --> 00:01:46,120
brim azul-marinho, casaco azul claro, camisa sport quadriculada, sapatos marrons.
13
00:01:46,120 --> 00:01:49,719
O cineasta Glauber Rocha está parado ao lado do caixão de Di Cavalcanti no velório
14
00:01:49,719 --> 00:01:54,959
do Museu de Arte Moderna. Carioca Di Cavalcanti,
15
00:01:54,959 --> 00:01:57,239
é com a maior emoção que este também carioca
16
00:01:57,239 --> 00:02:01,640
te traz esta saudação. É de todo o coração,
17
00:02:01,640 --> 00:02:04,200
poeta Di Cavalcanti, que este também poetante
18
00:02:04,200 --> 00:02:11,840
te faz esta sagração. amigo Di Cavalcanti,
19
00:02:11,840 --> 00:02:14,599
amigo de muito instante, de muita situação,
20
00:02:14,599 --> 00:02:18,239
dos teus trezes lustros idos, cinco foram bem vividos
21
00:02:18,240 --> 00:02:24,000
na companhia constante deste também teu irmão:
22
00:02:24,000 --> 00:02:28,080
Quantos amigos partiram! Quantos ainda partirão!
23
00:02:28,080 --> 00:02:31,000
Mestre pintor Emiliano Augusto Cavalcantí
24
00:02:31,000 --> 00:02:39,000
De Albuquerque: ou melhor, Di! ...dá distância para filmar dos pés até a cabeça.
25
00:02:39,000 --> 00:02:42,039
"Ninguém viu Glauber entrar para iniciar a filmagem do velório e--"
26
00:02:42,039 --> 00:02:46,639
Um ano sempre segue a outro ano. Mas que tem, se mais humano
27
00:02:46,639 --> 00:02:50,679
fica o homem igual a ti? Viveste, Di cavalcanti,
28
00:02:50,680 --> 00:02:54,319
foste amigo e foste amante, não há outro igual a ti!
29
00:02:54,319 --> 00:02:57,000
Agora dá uma panorâmica geral, enquadra o caixão no centro,
30
00:02:57,000 --> 00:03:00,639
depois começa a filmar da esquerda para a direita, aqui, devagarinho, vamos lá, 1, 2, 3...!
31
00:03:00,639 --> 00:03:04,359
Quando a contagem chegar a 10, mandou parar! Di está morto.
32
00:03:04,360 --> 00:03:09,160
Só terminaria 1 hora e 23 minutos depois junto ao portão do Cemitério São João Baptista.
33
00:03:09,159 --> 00:03:12,359
Quando, por solicitação da filha adotiva do pintor, Elizabeth,
34
00:03:12,360 --> 00:03:17,080
uma amiga da familia pediu a Glauber para parar com esse espetáculo mórbido,
35
00:03:17,080 --> 00:03:17,640
ele explicou:
36
00:03:17,639 --> 00:03:20,479
"Não se preocupe, esta é a minha homenagem a um amigo que morreu.
37
00:03:20,479 --> 00:03:22,719
Estou aqui filmando a minha homenagem ao amigo Di Cavalcanti!
38
00:03:22,719 --> 00:03:29,840
Agora dá licença que eu preciso ir trabalhar!" Junto bebemos champagne,
39
00:03:29,840 --> 00:03:33,879
mezcal, uísque, parati, juntos rimos e choramos,
40
00:03:33,879 --> 00:03:36,960
no México e em Paris. Quantas mulheres amamos,
41
00:03:36,960 --> 00:03:40,040
quantas Marias perdi? A muitas eu disse yes,
42
00:03:40,039 --> 00:03:44,519
a muitas disseste oui. Nos separamos de tantas,
43
00:03:44,520 --> 00:03:47,320
mas nunca nos separamos. Amigo Di Cavalcanti,
44
00:03:47,319 --> 00:03:49,199
a hora é grave, é inconstante.
45
00:03:49,199 --> 00:03:52,519
Tudo aquilo que prezamos, o povo, a arte, a cultura
46
00:03:52,520 --> 00:03:55,800
vem sendo desfigurado pelos homens do passado,
47
00:03:55,800 --> 00:03:59,719
que por terror ao futuro optaram pela tortura.
48
00:03:59,719 --> 00:04:02,639
Poeta Di Cavalcanti, nossas coisas bem-amadas
49
00:04:02,639 --> 00:04:06,039
neste mesmo exato instante estão sendo desfiguradas.
50
00:04:06,039 --> 00:04:10,159
Hay que luchar, Cavalcanti, como queria Neruda!
51
00:04:10,159 --> 00:04:13,159
Por isso, pinta, pintor! Pinta, pinta, pinta, pinta,
52
00:04:13,159 --> 00:04:16,680
Pinta o ódio e pinta o amor, com o sangue da tua tinta,
53
00:04:16,680 --> 00:04:19,759
pinta as mulheres de cor na sua desgraça distinta,
54
00:04:19,759 --> 00:04:23,000
pinta o fruto e pinta a flor, pinta tudo que não minta,
55
00:04:23,000 --> 00:04:26,279
pinta o riso e pinta a dor, pinta sem abstracionismo,
56
00:04:26,279 --> 00:04:29,719
pinta a Vida, pintador, No teu mágico realismo!
57
00:04:34,560 --> 00:04:37,480
Carioca Di Cavalcanti, na rua do Riachuelo
58
00:04:37,480 --> 00:04:41,439
nasceste, a 6 de setembro do ano noventa e sete.
59
00:04:41,439 --> 00:04:44,680
Infante, foste criado no bairro de São Cristóvão
60
00:04:44,680 --> 00:04:49,720
na chácara do avô materno Emiliano Rosa de Senna
61
00:04:49,720 --> 00:04:56,040
(nome de avô de pintor!), orgulhoso proprietário
62
00:04:56,040 --> 00:04:59,840
do antigo morro do Pinto (quem sabe não vem de herança
63
00:04:59,839 --> 00:05:04,079
O teu amor às mulatas?). Logo os bairros se renovam:
64
00:05:04,079 --> 00:05:08,639
Botafogo, Glória (hotel) Copacabana e Catete
65
00:05:08,639 --> 00:05:12,639
(o Catete de onde nunca deverias ter saído,
66
00:05:12,639 --> 00:05:17,399
e ao qual agora voltaste humilde e reconhecido).
67
00:05:17,399 --> 00:05:20,839
Moraste no hotel Central e no hotel de Estrangeiros:
68
00:05:20,839 --> 00:05:24,439
ambos desaparecidos. E onde à tarde, entre os amigos
69
00:05:24,439 --> 00:05:29,719
tomavas, e com que gosto, O melhor uísque do mundo!
70
00:05:29,720 --> 00:05:34,560
Paquetá, um céu profundo que não sabe onde acabar
71
00:05:34,560 --> 00:05:38,000
viu-te muito passear, ó genial vagabundo!
72
00:05:38,000 --> 00:05:43,959
Quantas e tantas vezes foste à Europa, dize-me, grão-vagabundo? Vagabundo!
73
00:05:43,959 --> 00:05:46,639
No ano de trinta e oito, em Paris te descobri.
74
00:05:46,639 --> 00:05:48,759
Rimos e bebemos muito, Nos bares de por ali.
75
00:05:48,759 --> 00:05:51,879
Lembras-te, Di? Consuelo de Saint-Exupéry
76
00:05:51,879 --> 00:05:54,639
saía sempre conosco, e mais o sargento Thyrso,
77
00:05:54,639 --> 00:05:58,279
que uma noite lá, por pouco não sai no braço comigo.
78
00:05:58,279 --> 00:06:01,799
Como foste meu irmão! Como eu fiquei teu amigo!
79
00:06:01,800 --> 00:06:05,240
E no México, te lembras? Com Neruda e com Siqueiros,
80
00:06:05,240 --> 00:06:08,600
e a linda Maria Asúnsolo, que tenía blanco el pelo!
81
00:06:08,600 --> 00:06:11,438
Bebemos tanta tequilla que até dava gosto ver-nos
82
00:06:11,437 --> 00:06:16,240
a comer com gulodice um prato de tacos pleno, comiendo!
83
00:06:16,240 --> 00:06:19,439
Mais de setecentas luas ungiram tua cabeça,
84
00:06:19,439 --> 00:06:22,480
que hoje é branca como a Lua, mas continua travessa...
85
00:06:22,480 --> 00:06:25,560
Que bom existas, pintor enamorado das ruas,
86
00:06:25,560 --> 00:06:29,600
que bom vivas, que bom sejas, que bom lutes e construas:
87
00:06:29,600 --> 00:06:32,960
Poeta o mais carioca, pintor o mais brasileiro,
88
00:06:32,959 --> 00:06:36,039
entidade a mais dileta do meu Rio de Janeiro!
89
00:06:36,040 --> 00:06:59,520
--Perdão, meu poeta, perdão: Nosso Rio de Janeiro!
90
00:06:59,519 --> 00:07:09,588
O Di Cavalcanti, eu conheci ele na Bahia em 1958. O Di Cavalcanti apareceu lá
91
00:07:09,588 --> 00:07:16,560
com Roberto Rossellini, cineasta italiano muito famoso
92
00:07:16,560 --> 00:07:17,639
na época, não porque
93
00:07:17,639 --> 00:07:22,639
tinha filmado Roma, cidade aberta ou Paisà, ou outros grandes filmes do neorrealismo italiano,
94
00:07:22,639 --> 00:07:30,159
mas porque tinha sido casado com Ingrid Bergman, e o seu divórcio com a mulher e a fofoca
95
00:07:30,160 --> 00:07:33,120
gerou uma opinião do Papa. O Alberto Cavalcanti, não,
96
00:07:33,120 --> 00:07:35,920
digo, o Roberto Rossellini ficou famosíssimo,
97
00:07:35,920 --> 00:07:39,199
inclusive aqui no terceiro mundo, e convidado por Assis Chateaubriand,
98
00:07:39,199 --> 00:07:43,159
que era um dos caciques das artes brasileiras do Museu de Arte de São Paulo,
99
00:07:43,160 --> 00:07:48,080
da TV Tupi, "rede associada para o Brasil," convidou o Roberto Rosselilini para vir ao Brasil.
100
00:07:48,079 --> 00:07:51,319
Di Cavalcanti, como Jorge Amado, Oscar Niemeyer, Villa-Lobos,
101
00:07:51,319 --> 00:07:55,959
faz parte deste olimpiado modernista que ficou internacionalmente famoso,
102
00:07:55,959 --> 00:07:59,560
com amizades em várias partes do mundo. Daí que, sendo repórter
103
00:07:59,560 --> 00:08:03,160
do Diário de Notícias na Bahia, fui destacado para entrevistar Roberto Rossellini,
104
00:08:03,160 --> 00:08:06,760
e lá conheci o Di Cavalcanti, que me apresentou o próprio Roberto,
105
00:08:06,759 --> 00:08:12,079
com a câmera de 16mm saindo pelas ruas da Bahia e filmando rapidamente lá uns
106
00:08:12,079 --> 00:08:16,079
sarcófagos e outros batuques das ruínas portuguesas barrocas da Bahia,
107
00:08:16,079 --> 00:08:18,879
com uma rapidez impressionante. Nunca vi ninguém filmar tão rápido,
108
00:08:18,879 --> 00:08:23,000
aliás, ali eu saquei o que é que era realmente ali o negócio de ideia na cabeça e câmera na mão.
109
00:08:23,000 --> 00:08:26,360
Quer dizer, o Rossellini realmente fazia com a câmera de 16
110
00:08:26,360 --> 00:08:30,560
o que o Di Cavalcanti faria com um pincel. Filmando um cristo morto
111
00:08:30,560 --> 00:08:36,360
lá sepultado numa laje marmórea dentro do Santo Antônio, Convento do Carmo,
112
00:08:36,360 --> 00:08:40,639
ali não sei direito aonde, pela Bahia, zona norte, ali, zona cristão,
113
00:08:40,639 --> 00:08:43,759
o que se passa é que o chofeur deixou o carro aberto,
114
00:08:43,759 --> 00:08:48,679
mão da embreagem mal-feita, escorregão, e o carro desce de costas pela ladeira.
115
00:08:48,679 --> 00:08:51,199
Lembra-me agora um filme, um plano que não está no filme,
116
00:08:51,200 --> 00:08:56,440
do Di Cavalcanti, barriga grande, perna aberta, dando uma risada meia desesperada,
117
00:08:56,440 --> 00:08:58,680
o carro estava descendo, no que eu freei rapidamente.
118
00:08:58,679 --> 00:09:01,479
Isto é verdade, nos conhecemos assim, e depois
119
00:09:01,480 --> 00:09:08,759
eu fui encontrar o Di Cavalcanti em 1964... 1964, em Paris.
120
00:09:08,759 --> 00:09:15,159
Eu encontrei lá o poeta Vinícius de Moraes, que era embaixador da UNESCO ou coisa que o valha,
121
00:09:15,159 --> 00:09:19,000
se o embaixador do... E estava o Di Cavalcanti,
122
00:09:19,000 --> 00:09:25,480
que tinha sido nomeado adido cultural do Brasil, muito interessado em fazer contactos
123
00:09:25,480 --> 00:09:27,840
com Jean-Paul Sartre, aliás, que era
124
00:09:27,840 --> 00:09:31,240
amigo dele, como todos os surrealistas franceses, aquela turma do Breton, do Cocteau,
125
00:09:31,240 --> 00:09:36,000
porque o Di transou em todas, e apesar de uma parte da crítica brasileira
126
00:09:36,000 --> 00:09:39,720
ter negado os seus grandes, as suas grandes qualidades,
127
00:09:39,720 --> 00:09:44,000
o Di Cavalcanti na verdade foi um pintor internacional, assim,
128
00:09:44,000 --> 00:09:48,639
tão importante pro Brasil quanto Picasso para a Espanha.
129
00:09:48,639 --> 00:09:52,879
Depois eu vi pouco, poucas vezes o Di Cavalcanti. Uma vez ele me telefonou
130
00:09:52,879 --> 00:09:57,480
do Rio pedindo o seguinte: "Quero que você venha aqui me filmar."
131
00:09:57,480 --> 00:10:02,120
Eu não fui porque não tinha tempo, tava viajando, em suma, não deu pé.
132
00:10:02,120 --> 00:10:07,560
Depois vi o Di Cavalcanti uma vez em Paris, não me lembro bem, aí por 70 ou 71,
133
00:10:07,559 --> 00:10:11,839
em um jantar, uma churrascaria, não, em Paris não tem...
134
00:10:12,759 --> 00:10:18,439
Uma peixaria, uma coisa assim que o valha, estava a Regina Rosemburgo, estavam outros amigos,
135
00:10:18,440 --> 00:10:24,760
e depois não vi mais o Di. Não vi mais o Di, e aquele dia então, acordando de manhã, recebo o
136
00:10:24,759 --> 00:10:32,240
impacto da noticia que o Di morreu e resolvi fazer um filme como uma saudação, para as pessoas que
137
00:10:32,240 --> 00:10:37,639
nem conheceram o Di Cavalcanti, que ficaram... Em suma, a balada de Di Cavalcanti, "A balada
138
00:10:37,639 --> 00:10:40,600
de Di Cavacanti"! Vinícius de Moraes escreveu
139
00:10:40,600 --> 00:10:59,240
este poema inédito, em São Paulo-- Havia um certo respeito
140
00:11:01,120 --> 00:11:09,120
no velório do Heitor. Todo mundo concordava
141
00:11:09,120 --> 00:11:16,200
que, apesar de catimbeiro, era bom trabalhador.
142
00:11:16,200 --> 00:11:26,560
Houve choro e ladainha na sala e no corredor
143
00:11:26,559 --> 00:11:32,599
e, por ser considerado, seu desaparecimento
144
00:11:32,600 --> 00:11:41,519
muita tristeza causou. Di por Di, as vozes do túmulo!
145
00:11:41,519 --> 00:11:46,879
"Sou um gênio, um velho, uma glória nacional, não enche o meu saco!"
146
00:11:50,000 --> 00:11:53,799
Um grande sofrimento durante muito tempo
147
00:11:53,799 --> 00:12:02,479
roubou a minha paz. O carnaval que ela fez acabou...
148
00:12:02,480 --> 00:12:07,279
"Di Cavalcanti, lírico, romântico, sensual, carioca principalmente."
149
00:12:07,279 --> 00:12:12,199
Frederico de Moraes, "O Globo", quarta-feira.. Di nunca foi um realista
150
00:12:12,200 --> 00:12:18,520
Emiliano Di Cavalcanti, que faleceu ontem aos 79 anos depois de longa enfermidade
151
00:12:18,519 --> 00:12:20,840
A talvez Braque
152
00:12:20,840 --> 00:12:27,446
Não bastasse ter sido segundo seu próprio dep-- recentemente aliás, se disse um realis--
153
00:12:27,446 --> 00:12:30,682
A talvez Picasso, a talvez Delac-- Di não se deixou--
154
00:12:30,682 --> 00:12:34,392
A arte braso-lusi... A talvez Gauguin...
155
00:12:34,392 --> 00:12:40,480
Por exemplo, também não é... --realizadores da Semana de Arte
156
00:12:40,480 --> 00:12:43,039
Moderna no Theatro Municipal em São Paulo,
157
00:12:43,039 --> 00:12:48,319
o que desarrumou definitivamente o edifício da arte acadêmica no Brasil.
158
00:12:48,320 --> 00:12:51,087
Sua própria pintura,
159
00:12:51,086 --> 00:12:53,039
sobretudo aquela realizada até o final da década de 40,
160
00:12:53,039 --> 00:12:59,223
pode ser considerada uma das contribuições mais importantes do Brasil
161
00:12:59,224 --> 00:13:00,360
à cultura visual de nosso século, especialmente no âmbito
162
00:13:00,360 --> 00:13:03,960
do continente latino-americano. Se, a partir da criação
163
00:13:03,960 --> 00:13:09,080
da Bienal de São Paulo em 1951, sua arte começa a declinar,
164
00:13:09,080 --> 00:13:12,200
em termos simetricamente opostos a Volpi,
165
00:13:12,200 --> 00:13:16,600
cujo prestígio é ascendente desde o momento em que dividiu ex-aecquo---
166
00:13:16,600 --> 00:13:21,840
"Grandes indagações metafísicas!" ...o maior prêmio da Bienal em 1953,
167
00:13:21,840 --> 00:13:26,680
30 anos de pintura, e da melhor pintura, são mais que suficientes para
168
00:13:26,679 --> 00:13:31,142
definir o peso de sua con-- "A talvez Diego de Rivera...!"
169
00:13:31,143 --> 00:13:38,879
--tribuição à arte brasileira e continental. Influências:
170
00:13:38,879 --> 00:13:42,840
Com referência a tudo o que foi escrito sobre a pintura de Di,
171
00:13:42,840 --> 00:13:48,840
teremos, no capítulo das influências recebidas, uma árvore genealógica de raízes
172
00:13:48,840 --> 00:13:52,399
profundas e distantes, e bastante intrincada nos
173
00:13:52,399 --> 00:13:55,980
seus galhos e ramificações. "Alma brasileira...!"
174
00:13:55,980 --> 00:13:59,039
Existenciais, o que fez espíritos com as próprias---
175
00:13:59,039 --> 00:14:05,719
As mais distantes remontam à Renascença. O próprio artista confessava seu entusiasmo
176
00:14:05,720 --> 00:14:12,639
pelo sensual Tiziano e por Michelangelo, cuja obra conheceu quando viajou à Itália.
177
00:14:12,639 --> 00:14:17,919
Ou mesmo um pouco antes, com Giotto e Cimabue. Do barroco falou-se de muitos autores.
178
00:14:17,919 --> 00:14:21,000
Lourival Gomes Machado diz que a pintura de Di Cavalcanti
179
00:14:21,000 --> 00:14:24,519
é uma expressão que apanhou em sua tessitura vital
180
00:14:24,519 --> 00:14:29,039
a realidade brasileira, e com tal identidade de essência,
181
00:14:29,039 --> 00:14:31,799
que faz lembrar milagrosa correspondência entre o barroco seco de Minas Gerais
182
00:14:31,799 --> 00:14:36,716
e a feição dessa província misteriosa. Talvez se pudesse ir mais longe:
183
00:14:36,716 --> 00:14:39,320
Há algo de semelhante entre a mulatização de Nossa Senhora,
184
00:14:39,320 --> 00:14:43,920
nos céus da Capela Franciscana de Ouro Preto, levada a cabo por Ataíde,
185
00:14:43,919 --> 00:14:47,120
e a madonização da mulata na pintura de Di Cavalcanti.
186
00:14:47,120 --> 00:15:00,080
Um Brasil lusitano, africano, indígena, moçarábico!
187
00:15:09,480 --> 00:15:14,519
Essa é a história de Umbabarauma, um ponta-de-lança africano.
188
00:15:14,519 --> 00:15:28,960
Um ponta-de-lança decidido! Umbabarauma!
189
00:15:42,679 --> 00:15:46,159
Só Deus sabe o dia de minha morte e se vou entrar um dia para a Academia
190
00:15:46,159 --> 00:15:49,000
Brasileira de Letras. Nunca pensei que ser candidato à ABL me trouxesse tanta angústia.
191
00:15:49,000 --> 00:15:56,720
A mulata! Sempre tive pelas mulatas imensa paixão.
192
00:15:56,720 --> 00:16:01,440
Outra vez! A mulata, modernismo, 1922, Di Cavalcanti, a montagem
193
00:16:01,440 --> 00:16:07,680
nuclear, a quantidade está na qualidade! Sempre tive pelas mulatas imensa paixão.
194
00:16:07,679 --> 00:16:13,599
A plasticidade da mulata, mais a sensualidade inerente à raça negra, e aquele olhar triste,
195
00:16:13,600 --> 00:16:17,879
me encantam. Seu país!
19928
Can't find what you're looking for?
Get subtitles in any language from opensubtitles.com, and translate them here.