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00:00:16,640 --> 00:00:29,960
Di
2
00:00:40,600 --> 00:00:43,240
Cavalcanti. Título do filme:
3
00:00:43,240 --> 00:00:47,840
Ninguém assistirá o formidável enterro da tua última quimera.
4
00:00:47,840 --> 00:00:52,320
Somente a ingratidão, aquela pantera, foi a tua companheira inseparável!
5
00:01:07,560 --> 00:01:13,031
"Filmagem causa espanto e irrita filha e amigos."
6
00:01:13,031 --> 00:01:13,107
Jornal do Brasil, quinta-feira 28 do 10 de 76, primeiro caderno, página 15.
7
00:01:13,108 --> 00:01:17,840
"Filmagem causa espanto e irrita filha e amigos." 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,11,12, corta!
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00:01:17,840 --> 00:01:21,760
Agora dá um close na cara dele. Barba por fazer, calça de brim
9
00:01:21,760 --> 00:01:30,400
azul-marinho, casaco azul claro... Corta! Vai recomeçar outra vez.
10
00:01:30,400 --> 00:01:38,120
"Filmagem causa espanto e irrita filha e amigos." 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10,11,12, corta!
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00:01:38,120 --> 00:01:41,800
Agora dá um close na cara dele. Barba por fazer, calça de
12
00:01:41,799 --> 00:01:46,120
brim azul-marinho, casaco azul claro, camisa sport quadriculada, sapatos marrons.
13
00:01:46,120 --> 00:01:49,719
O cineasta Glauber Rocha está parado ao lado do caixão de Di Cavalcanti no velório
14
00:01:49,719 --> 00:01:54,959
do Museu de Arte Moderna. Carioca Di Cavalcanti,
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00:01:54,959 --> 00:01:57,239
é com a maior emoção que este também carioca
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00:01:57,239 --> 00:02:01,640
te traz esta saudação. É de todo o coração,
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00:02:01,640 --> 00:02:04,200
poeta Di Cavalcanti, que este também poetante
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00:02:04,200 --> 00:02:11,840
te faz esta sagração. amigo Di Cavalcanti,
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00:02:11,840 --> 00:02:14,599
amigo de muito instante, de muita situação,
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00:02:14,599 --> 00:02:18,239
dos teus trezes lustros idos, cinco foram bem vividos
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00:02:18,240 --> 00:02:24,000
na companhia constante deste também teu irmão:
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00:02:24,000 --> 00:02:28,080
Quantos amigos partiram! Quantos ainda partirão!
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00:02:28,080 --> 00:02:31,000
Mestre pintor Emiliano Augusto Cavalcantí
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00:02:31,000 --> 00:02:39,000
De Albuquerque: ou melhor, Di! ...dá distância para filmar dos pés até a cabeça.
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00:02:39,000 --> 00:02:42,039
"Ninguém viu Glauber entrar para iniciar a filmagem do velório e--"
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00:02:42,039 --> 00:02:46,639
Um ano sempre segue a outro ano. Mas que tem, se mais humano
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00:02:46,639 --> 00:02:50,679
fica o homem igual a ti? Viveste, Di cavalcanti,
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00:02:50,680 --> 00:02:54,319
foste amigo e foste amante, não há outro igual a ti!
29
00:02:54,319 --> 00:02:57,000
Agora dá uma panorâmica geral, enquadra o caixão no centro,
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00:02:57,000 --> 00:03:00,639
depois começa a filmar da esquerda para a direita, aqui, devagarinho, vamos lá, 1, 2, 3...!
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00:03:00,639 --> 00:03:04,359
Quando a contagem chegar a 10, mandou parar! Di está morto.
32
00:03:04,360 --> 00:03:09,160
Só terminaria 1 hora e 23 minutos depois junto ao portão do Cemitério São João Baptista.
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00:03:09,159 --> 00:03:12,359
Quando, por solicitação da filha adotiva do pintor, Elizabeth,
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00:03:12,360 --> 00:03:17,080
uma amiga da familia pediu a Glauber para parar com esse espetáculo mórbido,
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00:03:17,080 --> 00:03:17,640
ele explicou:
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00:03:17,639 --> 00:03:20,479
"Não se preocupe, esta é a minha homenagem a um amigo que morreu.
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00:03:20,479 --> 00:03:22,719
Estou aqui filmando a minha homenagem ao amigo Di Cavalcanti!
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00:03:22,719 --> 00:03:29,840
Agora dá licença que eu preciso ir trabalhar!" Junto bebemos champagne,
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00:03:29,840 --> 00:03:33,879
mezcal, uísque, parati, juntos rimos e choramos,
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00:03:33,879 --> 00:03:36,960
no México e em Paris. Quantas mulheres amamos,
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00:03:36,960 --> 00:03:40,040
quantas Marias perdi? A muitas eu disse yes,
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00:03:40,039 --> 00:03:44,519
a muitas disseste oui. Nos separamos de tantas,
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00:03:44,520 --> 00:03:47,320
mas nunca nos separamos. Amigo Di Cavalcanti,
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00:03:47,319 --> 00:03:49,199
a hora é grave, é inconstante.
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00:03:49,199 --> 00:03:52,519
Tudo aquilo que prezamos, o povo, a arte, a cultura
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00:03:52,520 --> 00:03:55,800
vem sendo desfigurado pelos homens do passado,
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00:03:55,800 --> 00:03:59,719
que por terror ao futuro optaram pela tortura.
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00:03:59,719 --> 00:04:02,639
Poeta Di Cavalcanti, nossas coisas bem-amadas
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00:04:02,639 --> 00:04:06,039
neste mesmo exato instante estão sendo desfiguradas.
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00:04:06,039 --> 00:04:10,159
Hay que luchar, Cavalcanti, como queria Neruda!
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00:04:10,159 --> 00:04:13,159
Por isso, pinta, pintor! Pinta, pinta, pinta, pinta,
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00:04:13,159 --> 00:04:16,680
Pinta o ódio e pinta o amor, com o sangue da tua tinta,
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00:04:16,680 --> 00:04:19,759
pinta as mulheres de cor na sua desgraça distinta,
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00:04:19,759 --> 00:04:23,000
pinta o fruto e pinta a flor, pinta tudo que não minta,
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00:04:23,000 --> 00:04:26,279
pinta o riso e pinta a dor, pinta sem abstracionismo,
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00:04:26,279 --> 00:04:29,719
pinta a Vida, pintador, No teu mágico realismo!
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00:04:34,560 --> 00:04:37,480
Carioca Di Cavalcanti, na rua do Riachuelo
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00:04:37,480 --> 00:04:41,439
nasceste, a 6 de setembro do ano noventa e sete.
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00:04:41,439 --> 00:04:44,680
Infante, foste criado no bairro de São Cristóvão
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00:04:44,680 --> 00:04:49,720
na chácara do avô materno Emiliano Rosa de Senna
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00:04:49,720 --> 00:04:56,040
(nome de avô de pintor!), orgulhoso proprietário
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00:04:56,040 --> 00:04:59,840
do antigo morro do Pinto (quem sabe não vem de herança
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00:04:59,839 --> 00:05:04,079
O teu amor às mulatas?). Logo os bairros se renovam:
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00:05:04,079 --> 00:05:08,639
Botafogo, Glória (hotel) Copacabana e Catete
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00:05:08,639 --> 00:05:12,639
(o Catete de onde nunca deverias ter saído,
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00:05:12,639 --> 00:05:17,399
e ao qual agora voltaste humilde e reconhecido).
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00:05:17,399 --> 00:05:20,839
Moraste no hotel Central e no hotel de Estrangeiros:
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00:05:20,839 --> 00:05:24,439
ambos desaparecidos. E onde à tarde, entre os amigos
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00:05:24,439 --> 00:05:29,719
tomavas, e com que gosto, O melhor uísque do mundo!
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00:05:29,720 --> 00:05:34,560
Paquetá, um céu profundo que não sabe onde acabar
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00:05:34,560 --> 00:05:38,000
viu-te muito passear, ó genial vagabundo!
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00:05:38,000 --> 00:05:43,959
Quantas e tantas vezes foste à Europa, dize-me, grão-vagabundo? Vagabundo!
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00:05:43,959 --> 00:05:46,639
No ano de trinta e oito, em Paris te descobri.
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00:05:46,639 --> 00:05:48,759
Rimos e bebemos muito, Nos bares de por ali.
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00:05:48,759 --> 00:05:51,879
Lembras-te, Di? Consuelo de Saint-Exupéry
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00:05:51,879 --> 00:05:54,639
saía sempre conosco, e mais o sargento Thyrso,
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00:05:54,639 --> 00:05:58,279
que uma noite lá, por pouco não sai no braço comigo.
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00:05:58,279 --> 00:06:01,799
Como foste meu irmão! Como eu fiquei teu amigo!
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00:06:01,800 --> 00:06:05,240
E no México, te lembras? Com Neruda e com Siqueiros,
80
00:06:05,240 --> 00:06:08,600
e a linda Maria Asúnsolo, que tenía blanco el pelo!
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00:06:08,600 --> 00:06:11,438
Bebemos tanta tequilla que até dava gosto ver-nos
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00:06:11,437 --> 00:06:16,240
a comer com gulodice um prato de tacos pleno, comiendo!
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00:06:16,240 --> 00:06:19,439
Mais de setecentas luas ungiram tua cabeça,
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00:06:19,439 --> 00:06:22,480
que hoje é branca como a Lua, mas continua travessa...
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00:06:22,480 --> 00:06:25,560
Que bom existas, pintor enamorado das ruas,
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00:06:25,560 --> 00:06:29,600
que bom vivas, que bom sejas, que bom lutes e construas:
87
00:06:29,600 --> 00:06:32,960
Poeta o mais carioca, pintor o mais brasileiro,
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00:06:32,959 --> 00:06:36,039
entidade a mais dileta do meu Rio de Janeiro!
89
00:06:36,040 --> 00:06:59,520
--Perdão, meu poeta, perdão: Nosso Rio de Janeiro!
90
00:06:59,519 --> 00:07:09,588
O Di Cavalcanti, eu conheci ele na Bahia em 1958. O Di Cavalcanti apareceu lá
91
00:07:09,588 --> 00:07:16,560
com Roberto Rossellini, cineasta italiano muito famoso
92
00:07:16,560 --> 00:07:17,639
na época, não porque
93
00:07:17,639 --> 00:07:22,639
tinha filmado Roma, cidade aberta ou Paisà, ou outros grandes filmes do neorrealismo italiano,
94
00:07:22,639 --> 00:07:30,159
mas porque tinha sido casado com Ingrid Bergman, e o seu divórcio com a mulher e a fofoca
95
00:07:30,160 --> 00:07:33,120
gerou uma opinião do Papa. O Alberto Cavalcanti, não,
96
00:07:33,120 --> 00:07:35,920
digo, o Roberto Rossellini ficou famosíssimo,
97
00:07:35,920 --> 00:07:39,199
inclusive aqui no terceiro mundo, e convidado por Assis Chateaubriand,
98
00:07:39,199 --> 00:07:43,159
que era um dos caciques das artes brasileiras do Museu de Arte de São Paulo,
99
00:07:43,160 --> 00:07:48,080
da TV Tupi, "rede associada para o Brasil," convidou o Roberto Rosselilini para vir ao Brasil.
100
00:07:48,079 --> 00:07:51,319
Di Cavalcanti, como Jorge Amado, Oscar Niemeyer, Villa-Lobos,
101
00:07:51,319 --> 00:07:55,959
faz parte deste olimpiado modernista que ficou internacionalmente famoso,
102
00:07:55,959 --> 00:07:59,560
com amizades em várias partes do mundo. Daí que, sendo repórter
103
00:07:59,560 --> 00:08:03,160
do Diário de Notícias na Bahia, fui destacado para entrevistar Roberto Rossellini,
104
00:08:03,160 --> 00:08:06,760
e lá conheci o Di Cavalcanti, que me apresentou o próprio Roberto,
105
00:08:06,759 --> 00:08:12,079
com a câmera de 16mm saindo pelas ruas da Bahia e filmando rapidamente lá uns
106
00:08:12,079 --> 00:08:16,079
sarcófagos e outros batuques das ruínas portuguesas barrocas da Bahia,
107
00:08:16,079 --> 00:08:18,879
com uma rapidez impressionante. Nunca vi ninguém filmar tão rápido,
108
00:08:18,879 --> 00:08:23,000
aliás, ali eu saquei o que é que era realmente ali o negócio de ideia na cabeça e câmera na mão.
109
00:08:23,000 --> 00:08:26,360
Quer dizer, o Rossellini realmente fazia com a câmera de 16
110
00:08:26,360 --> 00:08:30,560
o que o Di Cavalcanti faria com um pincel. Filmando um cristo morto
111
00:08:30,560 --> 00:08:36,360
lá sepultado numa laje marmórea dentro do Santo Antônio, Convento do Carmo,
112
00:08:36,360 --> 00:08:40,639
ali não sei direito aonde, pela Bahia, zona norte, ali, zona cristão,
113
00:08:40,639 --> 00:08:43,759
o que se passa é que o chofeur deixou o carro aberto,
114
00:08:43,759 --> 00:08:48,679
mão da embreagem mal-feita, escorregão, e o carro desce de costas pela ladeira.
115
00:08:48,679 --> 00:08:51,199
Lembra-me agora um filme, um plano que não está no filme,
116
00:08:51,200 --> 00:08:56,440
do Di Cavalcanti, barriga grande, perna aberta, dando uma risada meia desesperada,
117
00:08:56,440 --> 00:08:58,680
o carro estava descendo, no que eu freei rapidamente.
118
00:08:58,679 --> 00:09:01,479
Isto é verdade, nos conhecemos assim, e depois
119
00:09:01,480 --> 00:09:08,759
eu fui encontrar o Di Cavalcanti em 1964... 1964, em Paris.
120
00:09:08,759 --> 00:09:15,159
Eu encontrei lá o poeta Vinícius de Moraes, que era embaixador da UNESCO ou coisa que o valha,
121
00:09:15,159 --> 00:09:19,000
se o embaixador do... E estava o Di Cavalcanti,
122
00:09:19,000 --> 00:09:25,480
que tinha sido nomeado adido cultural do Brasil, muito interessado em fazer contactos
123
00:09:25,480 --> 00:09:27,840
com Jean-Paul Sartre, aliás, que era
124
00:09:27,840 --> 00:09:31,240
amigo dele, como todos os surrealistas franceses, aquela turma do Breton, do Cocteau,
125
00:09:31,240 --> 00:09:36,000
porque o Di transou em todas, e apesar de uma parte da crítica brasileira
126
00:09:36,000 --> 00:09:39,720
ter negado os seus grandes, as suas grandes qualidades,
127
00:09:39,720 --> 00:09:44,000
o Di Cavalcanti na verdade foi um pintor internacional, assim,
128
00:09:44,000 --> 00:09:48,639
tão importante pro Brasil quanto Picasso para a Espanha.
129
00:09:48,639 --> 00:09:52,879
Depois eu vi pouco, poucas vezes o Di Cavalcanti. Uma vez ele me telefonou
130
00:09:52,879 --> 00:09:57,480
do Rio pedindo o seguinte: "Quero que você venha aqui me filmar."
131
00:09:57,480 --> 00:10:02,120
Eu não fui porque não tinha tempo, tava viajando, em suma, não deu pé.
132
00:10:02,120 --> 00:10:07,560
Depois vi o Di Cavalcanti uma vez em Paris, não me lembro bem, aí por 70 ou 71,
133
00:10:07,559 --> 00:10:11,839
em um jantar, uma churrascaria, não, em Paris não tem...
134
00:10:12,759 --> 00:10:18,439
Uma peixaria, uma coisa assim que o valha, estava a Regina Rosemburgo, estavam outros amigos,
135
00:10:18,440 --> 00:10:24,760
e depois não vi mais o Di. Não vi mais o Di, e aquele dia então, acordando de manhã, recebo o
136
00:10:24,759 --> 00:10:32,240
impacto da noticia que o Di morreu e resolvi fazer um filme como uma saudação, para as pessoas que
137
00:10:32,240 --> 00:10:37,639
nem conheceram o Di Cavalcanti, que ficaram... Em suma, a balada de Di Cavalcanti, "A balada
138
00:10:37,639 --> 00:10:40,600
de Di Cavacanti"! Vinícius de Moraes escreveu
139
00:10:40,600 --> 00:10:59,240
este poema inédito, em São Paulo-- Havia um certo respeito
140
00:11:01,120 --> 00:11:09,120
no velório do Heitor. Todo mundo concordava
141
00:11:09,120 --> 00:11:16,200
que, apesar de catimbeiro, era bom trabalhador.
142
00:11:16,200 --> 00:11:26,560
Houve choro e ladainha na sala e no corredor
143
00:11:26,559 --> 00:11:32,599
e, por ser considerado, seu desaparecimento
144
00:11:32,600 --> 00:11:41,519
muita tristeza causou. Di por Di, as vozes do túmulo!
145
00:11:41,519 --> 00:11:46,879
"Sou um gênio, um velho, uma glória nacional, não enche o meu saco!"
146
00:11:50,000 --> 00:11:53,799
Um grande sofrimento durante muito tempo
147
00:11:53,799 --> 00:12:02,479
roubou a minha paz. O carnaval que ela fez acabou...
148
00:12:02,480 --> 00:12:07,279
"Di Cavalcanti, lírico, romântico, sensual, carioca principalmente."
149
00:12:07,279 --> 00:12:12,199
Frederico de Moraes, "O Globo", quarta-feira.. Di nunca foi um realista
150
00:12:12,200 --> 00:12:18,520
Emiliano Di Cavalcanti, que faleceu ontem aos 79 anos depois de longa enfermidade
151
00:12:18,519 --> 00:12:20,840
A talvez Braque
152
00:12:20,840 --> 00:12:27,446
Não bastasse ter sido segundo seu próprio dep-- recentemente aliás, se disse um realis--
153
00:12:27,446 --> 00:12:30,682
A talvez Picasso, a talvez Delac-- Di não se deixou--
154
00:12:30,682 --> 00:12:34,392
A arte braso-lusi... A talvez Gauguin...
155
00:12:34,392 --> 00:12:40,480
Por exemplo, também não é... --realizadores da Semana de Arte
156
00:12:40,480 --> 00:12:43,039
Moderna no Theatro Municipal em São Paulo,
157
00:12:43,039 --> 00:12:48,319
o que desarrumou definitivamente o edifício da arte acadêmica no Brasil.
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Sua própria pintura,
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sobretudo aquela realizada até o final da década de 40,
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pode ser considerada uma das contribuições mais importantes do Brasil
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à cultura visual de nosso século, especialmente no âmbito
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do continente latino-americano. Se, a partir da criação
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da Bienal de São Paulo em 1951, sua arte começa a declinar,
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em termos simetricamente opostos a Volpi,
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cujo prestígio é ascendente desde o momento em que dividiu ex-aecquo---
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"Grandes indagações metafísicas!" ...o maior prêmio da Bienal em 1953,
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30 anos de pintura, e da melhor pintura, são mais que suficientes para
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definir o peso de sua con-- "A talvez Diego de Rivera...!"
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--tribuição à arte brasileira e continental. Influências:
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Com referência a tudo o que foi escrito sobre a pintura de Di,
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teremos, no capítulo das influências recebidas, uma árvore genealógica de raízes
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profundas e distantes, e bastante intrincada nos
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seus galhos e ramificações. "Alma brasileira...!"
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Existenciais, o que fez espíritos com as próprias---
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As mais distantes remontam à Renascença. O próprio artista confessava seu entusiasmo
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pelo sensual Tiziano e por Michelangelo, cuja obra conheceu quando viajou à Itália.
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Ou mesmo um pouco antes, com Giotto e Cimabue. Do barroco falou-se de muitos autores.
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Lourival Gomes Machado diz que a pintura de Di Cavalcanti
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é uma expressão que apanhou em sua tessitura vital
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a realidade brasileira, e com tal identidade de essência,
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que faz lembrar milagrosa correspondência entre o barroco seco de Minas Gerais
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e a feição dessa província misteriosa. Talvez se pudesse ir mais longe:
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Há algo de semelhante entre a mulatização de Nossa Senhora,
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nos céus da Capela Franciscana de Ouro Preto, levada a cabo por Ataíde,
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e a madonização da mulata na pintura de Di Cavalcanti.
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Um Brasil lusitano, africano, indígena, moçarábico!
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Essa é a história de Umbabarauma, um ponta-de-lança africano.
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Um ponta-de-lança decidido! Umbabarauma!
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Só Deus sabe o dia de minha morte e se vou entrar um dia para a Academia
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Brasileira de Letras. Nunca pensei que ser candidato à ABL me trouxesse tanta angústia.
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A mulata! Sempre tive pelas mulatas imensa paixão.
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Outra vez! A mulata, modernismo, 1922, Di Cavalcanti, a montagem
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nuclear, a quantidade está na qualidade! Sempre tive pelas mulatas imensa paixão.
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A plasticidade da mulata, mais a sensualidade inerente à raça negra, e aquele olhar triste,
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me encantam. Seu país!
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