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AT� O FIM DO MUNDO foi filmado entre
abril de 1990 e o come�o de 1991.

Nossa relativamente pequena equipe de
filmagem viajou por quatro continentes

e nove pa�ses, sempre contando com
um grande refor�o de t�cnicos locais.

A primeira vers�o do filme, foi lan�ada
nos cinemas no outono de 1991

e tinha menos de tr�s horas, o que, segundo
Wim Wenders, fez com que a dimens�o �pica

do projeto se transformasse em resumo
do Reader's Digest.

� por isso que em 1994 ele montou
o Director's Cut que voc� est� para ver,

uma vers�o, "Road Movie" por excel�ncia,
de quase de cinco horas.

O or�amento dessa produ��o, bem acima
de $20 milh�es, era fora do comum

para um filme de autor e foi a maior quantia
com o qual Wenders j� trabalhou.

Enquanto a trilha sonora
teve um sucesso consider�vel,

as receitas do filme ficaram aqu�m
dos resultados esperados.

BIS ANS ENDE DER WELT
At� o Fim do Mundo

Em 1999 o sat�lite
nuclear ind�gena ficou louco.

N�o se sabia onde
poderia cair.

Dava voltas pela camada
de oz�nio como um tem�vel abutre.

Todo mundo estava alarmado,
exceto Claire.

Ela j� vivia seu pr�prio pesadelo.

O mesmo sonho toda noite:
vagava por uma terra desconhecida.

A princ�pio gostava, mas logo seu
vagar se transformava em uma queda...

... um cair para o p�nico,
at� que... despertava.

- Pietro!
- Ainda est� aqui?

Lembra-se do cara
no quarto verde?

- Aquele cara horrendo!
- Ele n�o acorda.

Drogas demais.
Elas s�o muito perigosas.

- Poderia...
- Chamar o doutor Fabrini? Claro.

Pietro,
deveria estar de cama.

N�o durmo mais, doutor.
Dormir est� fora de moda.

N�s, que conhec�amos bem Claire,

gost�vamos dela
pelo otimismo, energia e coragem.

Isso era o que record�vamos dela,
gost�vamos de esquecer sua capacidade

para a autodestrui��o. Era parte
dela e a aceit�vamos.

Quando Claire me deixou,
isolei-me completamente.

Sem ver ningu�m,
eu evitava sair de casa.

Na solid�o algo me aconteceu.

Voltei a rezar como fazia
h� muito tempo. Resisti no come�o,

mas depois aceitei o bem
que me fazia.

Desta paz tirei notas
para minha primeira novela.

Claire era a protagonista. Come�ava
assim: fazia dois meses que Claire

vagava de festa em festa, de droga
em droga, de cama em cama

procurando desculpas para esquecer-se
dela mesma, at� que se deu conta

de que, se deveria continuar vivendo,
n�o poderia continuar assim.

Ol�, Claire. Seu computador de bordo est�
ligado. Acesso do autom�vel em curso.

Pressione 1 para ativar
o servi�o de mapa eletr�nico.

Somente para te lembrar: voc�
excedeu o limite de velocidade, Claire.

"O fogo do amor,
o fogo do amor,

arde de longe,
mas nada pode iluminar

a escurid�o da noite
como uma estrela que cai.

Beijos do ver�o, l�grimas de inverno
como estrelas que se extinguem

deixam-me acontecer as noites
em que estou sozinha

com os sonhos de ontem... "

Tr�fego congestionado nos
pr�ximos 30 quil�metros.

Trajeto alternativo
n�o dispon�vel.

Sinto muito, Claire.

A amea�a do sat�lite provocava
congestionamentos. As pessoas abandonavam

as zonas de poss�vel impacto,
como o sul da Fran�a.

S� Claire, impaciente
como sempre, saiu do engarrafamento,

confiando em si mesma nas
m�os do desconhecido.

Fazendo isso, ela mudou o curso
de sua vida e das nossas.

Est� deixando a zona
do mapa. Est� sozinha, Claire.

Claire se sentiu estranhamente leve.

Sabia que devia morrer aqui,
no alto plat� do Lozre.

Estava viva por milagre.

Os anjos erraram nas contas
e lhe tinham deixado...

...um dom precioso. Tinha-lhe sido
dada uma nova vida que podia usar,

para ser uma pessoa melhor.
Podia ajudar a algu�m.

Tudo que precisava era de uma
oportunidade, uma miss�o.

- Merda!
- Sim...

- N�o nos viu, Raymond.
- Desculpe, n�o nos apresentamos.

- Claire Tourneur.
- Eu sou Raymond, ele � Chico.

Chico, poderia se desculpar a...
Sra. Tourneur.

-Est� bem?
- N�o, n�o estou bem.

Desculpe, fui um idiota.

Sinto muito.

Seu carro ainda funciona?

As pessoas adoram rotular.
Voc� diz ''Rock'n Roll''

e lhe perguntam, ''De que tipo?''.

Mas s� � rock'n roll.
Sou baterista.

-J� o ouviu tocar?
- H� 15 anos ele estoura a minha cabe�a.

Raymond � igual. Quando diz
que � budista, todos ficam loucos.

- N�o ag�entam!
- N�o � igual.

N�o h� nada mau
em ser budista.

- Em seu trabalho sim.
- Em que trabalha?

Seu trabalho...
Foder, foder, foder.

- Queria uma cerveja.
- Para variar!

Podemos parar ali.

Deixa-a a�!

N�o toque nela!

- Quem �?
- Sou eu.

Preciso falar com voc�.

Sua bolsa est� pesada.

- � o bastante para ser rico.
- Pode me pagar um caf� em Roma.

Viu bem? S�o 50.000!

O que eu disse?
� o pre�o de um cappuccino.

Mas com isto se pode comprar
meia vaca na Eti�pia.

- Esteve l�?
- Sim.

- Onde mais esteve?
- Um pouco em todas partes.

Eu nunca estive em parte alguma.
N�o me interessa.

- Na verdade j� estive na Am�rica.
- Ent�o, quanto tem a� dentro?

Conte voc�, vou deixar aqui.
Dorme em cima.

Perfeito!

A cabe�a de Claire estava rodando.

Era uma armadilha, ou era
a possibilidade que procurava?

Passou uma noite acordada
tentando afugentar o pesadelo.

N�o confio
em quem faz as coisas de gra�a.

- E voc� � budista?
- Realista!

Ent�o?

Por 30% estou de acordo.

- Contamos o dinheiro, podemos te seguir.
- Calma Raymond.

Se quer mudar de id�ia...
Fa�a o que quiser, n�o me importo.

Se o endere�o for falso,
saberemos como encontr�-la.

N�o tente nos enganar.
Tudo est� aqui.

N�o sabemos quem
retirar� o dinheiro.

Se n�o for eu e se quiser
ficar em contato,

beber algo
ou escutar um pouco de m�sica...

Sim! Nunca se sabe.

Esta � minha m�sica.
� s� uma demo.

Obrigado, Chico.

- N�o perca tempo.
- N�o se preocupe.

Aqui est� o sinal!

Claire pensou em seu futuro

enquanto deixava o plat�
em dire��o � St. Etienne.

Sua parte valia o mesmo
que um apartamento no Sena.

Uma vida tranq�ila,
com vista para a Torre Eiffel.

Mas, realmente queria isso?

Fa�a uma pausa, Claire.

Onde est� agora?

Deveria estar entre o St. Etienne...

- e Lyon.
- Ainda falta bastante.

- Ent�o, outros 15 minutos?
- No m�nimo. Precisa secar.

- Teve sorte e tem bons pneus.
- Ande depressa!

Sabe mais ou
menos quando ir�, G�nther ?

- N�o.
- Tome cuidado, est� escurecendo.

- OK, tomarei cuidado.
- OK.

- Como est� Anton?
- Anton est� bem.

Est� bem?
Meus olhos! Espera um momento.

Sam?

- Posso lhe ajudar?
- Est� a�?

Sim, espera um momento.

Sim, s�o meus olhos.

- N�o vejo nada.
- Bom, j� est�o melhor.

- voc� tem olhos tristes.
- N�o sou um homem triste.

Gunther...

... preciso ir agora, OK?

Mande lembran�as ao Anton e a Irina.
Perfeito, adeus.

Fala Eugene,

mas n�o estou...

Nem eu.

Mas se quiserem deixar uma mensagem
em nossa nova secret�ria eletr�nica,

- podem deixar...
- Depois da mensagem.

Idiota!

N�o queria falar com voc� mesmo?

Obrigado pela ajuda.

Ol�, Makiko. Como est�?
Gene est� contigo?

N�o, n�o o vi desde que
partiu.

Sabe se venderam o apartamento
em frente ao seu?

Ainda est� livre. Claire,
voc� est� bem?

Por favor, volte.
Sinto muit�ssimo.

OH, Makiko.

- Desculpe, onde foi?
- Quem?

- O cara do telefone.
- O qu�?

O cara que estava aqui
agora mesmo. Voc� o viu?

- Claire, est� a�?
- N�o. Eu tamb�m estava ao telefone.

N�o importa, senhora.

- Makiko, devo ir. Chamo-te
amanh�. - Espera um momento...

Preciso tirar a espuma.

- Resistir� at� Paris?
- Sim, nenhum problema.

Mas chamar� a aten��o
com essa espuma a�.

- Ol�. Sou eu outra vez.
- Ol�.

Voc� poderia...
me dar uma carona?

N�o acredito
que seja uma boa id�ia.

Tem um cara te procurando.

- Sim, sei.
- Tem uma arma. - Sei.

Poderia ir?
Ele est� vindo. Por favor!

O que ele quer?

- Quer me matar.
- Para que?

Peguei um dinheiro emprestado.
E n�o posso pagar.

- Com ele?
- Com ele n�o, com... uns caras maus.

� incr�vel.
Sempre atraio criminosos!

Ei, n�o sou um criminoso e tamb�m
n�o ficarei atra�do por voc�.

Como n�o: um sujeito bom,
com mulher e filho.

Exato.

Deve ser o come�o de uma nova moda.

Faz semanas
que n�o encontro gente normal.

- Onde esteve?
- Todos os lugares... E de volta.

- Cansada?
- Eu? Nunca!

Posso dirigir.
S�rio, � um prazer.

Me mostre sua mulher e seu filho.

Vamos, voc� deve ter uma foto.

De acordo, voc� pode dirigir.

Tem seus olhos.

Desculpe. Est� bem?

- Foi contra o p�ra-brisa.
- Deve ter sido um golpe.

- Merda!
- O que est� acontecendo?

- Precisa me ajudar!
- Sim, mas como eu explico isso?

- O que?
- O carro, os danos!

- N�o falo disso!
- Do que, ent�o? A bolsa?

- O que eu fa�o? - N�o sei, fale
com ele, o mantenha afastado.

Vou tentar.

Como v�o, amigos?
Falam ingl�s?

Sim, um pouco...
sofreu um acidente?

A senhora e eu nos casamos...
ontem a tarde...

Mesmo? Que tenha uma
boa viagem, Sr. McPhee.

- Falei que est�vamos em lua de mel.
- Eles acreditaram?

Ent�o, com quem me casei?

- Contrabandista ou ladra de bancos?
- Voc� escolhe.

- Posso p�r um pouco de m�sica?
- Por favor.

� bela.

Quem s�o?

- Meninos pigmeus.
- Pigmeus?

Sim, � verdade.
Jovens pigmeus de Camar�es.

Escuto h� semanas.

Nunca ouvi nada parecido.

- Minha m�e quem gravou.
- Em Camar�es? - Sim.

- O que voc� faz?
- Tudo e nada.

Se disser que canto me perguntar�
o que canto e direi: nada.

Quebrei todas as barreiras.
Terminei com meu noivo.

Ele deu em cima de minha melhor amiga.
Eu fui para a It�lia.

E agora voltando a Paris,

retorna ao princ�pio?

- Algo assim.
- Boa sorte.

Vou precisar.
E voc�? O que voc� faz?

Eu viajo...

e olho.

O acesso a Paris est� reservado
ao transporte de mercadorias,

o tr�fico de ve�culos privados foi
desviado aos t�neis subterr�neos.

A cobran�a ser� feita no
seu cart�o de cr�dito.

Boa noite.

- Quanto dormi?
- Digamos 500 quil�metros.

N�o dormia direito
h� varias semanas.

Sonhei que estava gr�vida,
eu estava cambaleando,

me senti muito leve.
O que quer dizer?

N�o sei,
possivelmente quer ficar gr�vida.

Eu des�o aqui.

- Se for a Paris...
- N�o, n�o.

Meu nome � Claire.

Claire Tourneur.

Sou Trevor McPhee.
Salvou minha vida.

Boa sorte em sua vida,
Trevor.

- Espero que aprenda a dormir.
- Veremos.

Ah, � voc�, Claire !

Agora voc� fuma?

O lar... o lugar para onde voltamos
quando n�o temos outro lugar para ir.

Ent�o Claire voltou para apartamento
que compartilh�vamos.

Que tivesse retornado por uma hora
ou por um dia, isso n�o importava.

Dava gra�as a Deus por ter
voltado s� e salva.

- Ah, � voc�.
- Eu bati o Rover.

Voc� est� bem? Te fizeram mal?

N�o, estou bem.

- Sinto muito.
- N�o, Claire, eu sinto.

- N�o a vejo desde...
- OH, sei Gene. Sei.

Quer dizer, n�o vi ningu�m
desde que voc� se foi.

S� voc� me importava.

Parece... diferente.

Tentei pint�-lo
para te esquecer. N�o funcionou.

N�o deixava de pensar em voc�.

Nunca amei ningu�m
como te amo.

- Acredita quando te digo
que te amo ? - Sim.

Onde voc� foi?

Fui a Veneza.

Fui com Luca.

Fui a um mont�o de festas.

Chorei muito.

Tinha me esquecido
como voc� � cheiroso.

Parece t�o diferente.

Agora sou rica.

Cristo!

- Voc� leu sobre o banco roubado
na Niza? - N�o.

Os caras que bateram no
seu carro.

Levei-os
� cidade mais pr�xima.

Me disseram que tinham
roubado o banco.

E me pediram que trouxesse
o dinheiro a Paris.

Vamos chamar a pol�cia!

N�o, n�o quero.

Gene,

30% disso � meu.

Vamos Claire.
Roubaram um banco

e se eles quiserem roubar
de volta a sua parte?

N�o � o que pensa.
Eles s�o legais...

de verdade, um deles � um
baterista muito bom.

Estavam desesperados.
Ent�o pensei: por que n�o?

Poderia comprar o apartamento
em frente ao da Makiko.

Do que te serve comprar uma casa?

Quero meu pr�prio lugar, s� isso.

Est� tudo em moedas diferentes.

Queria que me ajudasse a contar
quanto tem, para saber quanto � meu.

E eu posso te dar um pouco.

OH, n�o!

O que acontece?

O caroneiro, me roubou.

Seu caroneiro?!

Bom, deixou um recibo!

Mas era t�o legal...

Voc� conhece muitos caras legais!

- Confiava nele.
- Sim! E ele te roubou!

N�o fique chateada,
te roubaram dinheiro roubado!

Ol� Claire, ol� Gene.

Claire, um agente imobili�rio
te mostrar� o apartamento

amanh� a tarde.
Me encontre l� �s 2 horas.

Est� chovendo, espero que
n�o esteja fora de casa.

...7 a 0.552... �...

um momento, deixa que...

ponha isto no total...

Eu amo te amar.

- Vai bem como t�tulo de
uma can��o. - Muito meloso.

Depende.

O que � isso?

Pigmeus.

Pigmeus?

Que estupidez!

N�o podem vend�-la e
sobem o pre�o?

� mais que razo�vel, tendo
em conta a atual situa��o.

Posso te mostrar outros apartamentos.

Este � o �nico que eu quero.

- Eu gosto da vista.
- Eu tamb�m.

N�o deveria ter acontecido. Voc�
cantava enquanto �amos ao cinema.

N�o estou zangada contigo, Makiko.
Vamos, voc� � minha amiga.

Fiz algo horr�vel.
Devo consertar.

N�o seja tola.
Estamos em 1999.

Posso comprar
o apartamento.

Ela nunca encontrar� algu�m
que o compre por essa cifra.

Farei com que baixe o pre�o.

''N�o se zangue se lhe roubam
dinheiro roubado''.

- O qu�?
- Nada.

Convencerei o pintor a
se apressar.

Posso falar com o diretor do
meu banco, somos bons amigos.

Ele est� ficando louco
porque ningu�m abre uma conta.

Os impostos s�o altos.

Te far� um juros especiais, de 19%...
Claire, onde vai?

Falei algo que te incomodou?

Vigia a casa
at� que chegue a Berlim.

Mangerstrasse 26.

Mangerstrasse 26, OK?

E siga ele.
N�o, n�o se preocupe.

Rediscando.
Aguarde.

- Ol�.
- Ol�.

Ol�! Meu nome � Winter,
encontro gente desaparecida.

- Procura algu�m?
- N�o... talvez... n�o sei.

- Custa muito menos do que imagina.
- Vou pensar.

Vou a Berlim.

- Esta noite?
- H� um amigo em perigo.

Voc� n�o tem amigos em Berlim!

Os amigos viajam.

- Vou com voc�.
- N�o, Gene, n�o pode.

Eu fiquei preocupado. Sabia
que Claire era auto-destrutiva.

Iria onde houvesse perigo.

Aproveitaria qualquer ocasi�o
para se machucar.

No que estava se metendo?

Claire n�o duvidava que
encontraria um tal Trevor em Berlim.

Uma pessoa sensata diria que
ela procurava uma proje��o

de sua fantasia, mas Claire
n�o escutava as palavras sensatas.

Era impulsiva, teimosa e apaixonada
pela id�ia de estar apaixonada.

N�o se preocupava em encontrar
Trevor McPhee,

mas o que faria
quando finalmente o encontrasse?

Berlim era uma grande cidade.
Dez milh�es de habitantes.

N�o se podia sequer conseguir
um t�xi, assim Claire pedalou.

Todos os grandes pensadores
foram perseguidos.

Em 100 anos estar�
em um selo.

Este � um dia hist�rico

e sua fam�lia est� orgulhosa
de estar ao seu lado,

hoje que pode ver
nossas caras. Sei, falo muito.

- Anton, � para a Edith, n�o para o Henry.
- J� vou.

Ol�, querida Edith.

- Bom dia.
- Bom dia.

Obrigada pela m�sica,
mas voc� ficou com o da bolsa.

Pensei que teria direito
� minha parte.

Falamos disso depois.
Voc� est� sendo seguida.

- S�rio? - N�o eu.
Aquele negro... na rua.

Me mostre.

Quem �? O que faz aqui?

- Em que hotel est�?
- No Adlon.

Pode me esperar? Te pego l�.
Jantamos juntos. Combinado.

Tio Anton, tenho que...

- Ent�o, voc� � amiga do Sam?
- N�o, do Trevor.

Olhe para eles! Estamos � beira da
destrui��o e s� se preocupam em rir,

beber e gozar.

N�o se d�o conta de que o sat�lite pode
decretar o fim do mundo que conhecemos?

Por que n�o rir se
fosse o fim do mundo?

- Poderia me apaixonar por voc� agora.
- N�o fa�a isso!

- Ent�o te amarei em sonhos.
- Eu tamb�m me lembrarei de voc�.

Algum dia n�o
estarei mais vivo.

Quando chegar esse dia,
lembre de mim como sou agora.

Obviamente, Trevor McPhee
n�o apareceu.

Claire podia voltar para Paris,
mas tinha uma miss�o:

encontrar e proteger Trevor.
E tinha uma pista.

Achei ele.

- � dos grande: 85.000 d�lares.
- Est� sendo procurado?

Um sindicato das minas
de opalas na Austr�lia

oferece uma grande recompensa
pela sua captura.

- O que ele fez?
- Parece que roubou opalas.

- Tamb�m me roubou.
- Quanto?

Prefiro n�o dizer.
S� quero encontr�-lo.

Geralmente cobro 4.500
para recuperar a soma.

mas visto que retirarei uma grande
cifra daqueles senhores...

e visto que parece que
voc� ir� me ajudar,

devolverei tr�s mil
do seu dinheiro.

Possivelmente lhe interessa o homem, n�o o
dinheiro. N�o importa. Decida mais tarde.

O que realmente me preocupa
� que o est�o seguindo.

Ent�o devemos
encontr�-lo r�pida e velozmente.

''R�pido'' e ''veloz'',
meus nomes.

O falso Trevor voa
para Lisboa, Portugal.

Quer recuperar seu dinheiro?
Vamos, docinho, pegue seu chap�u.

Vamos no v�o seguinte ao dele.

Vem ou fica?

Amor ou dinheiro?
Em qualquer caso voc� ganha.

Voc� � um poeta, Sr. Winter,
e sabe.

Me d� uma aspirina, por favor?
Tenho uma dor de cabe�a terr�vel.

Pensava que um detetive
seria um cara dur�o,

um Sam Spade ou um Philip Marlowe.

Em troca Philip Winter
era um cora��o de manteiga,

especializado em encontrar
meninos desaparecidos.

Ent�o, o que h� entre voc�s?

S�o amantes?

Lamento te desapontar.
Conhe�o-o tanto quanto voc�.

Desapontar?

Ao contr�rio!

E agora?

J� disse que n�o. N�o � n�o!

N�o, n�o, n�o...

escute: achei ele.

A companhia de seu cart�o de cr�dito
esteve fora de servi�o durante 8 horas,

mas agora achei ele:
est� no hotel Alhambra.

Ent�o, o que faremos?

Com do�ura se consegue tudo.

Winter era um novato...

Pensava ter o gato no saco,
pensava que a ca�a tinha terminado.

sentia-se satisfeito e pr�spero

e fez com que a cliente
se encontrasse com sua presa a s�s.

Eu n�o roubo bancos,
voc� sim.

Primeiro me rouba,
depois me deixa plantada.

E voc� passava por aqui
casualmente e me encontra?

- Tr�s pa�ses em tr�s dias, baby.
- N�o me chame de baby!

Casualmente seu carro
estava na oficina, na Fran�a,

e casualmente
foi � casa do meu tio em Berlim.

Estava tentando salvar sua vida.

Casualmente tomava
o caf� da manh� em Lisboa.

Mas, que coincid�ncia!
Para que ag�ncia trabalha?

Eu n�o quero te ca�ar, mas
h� um detetive a� fora que sim.

De todas as maneiras... te apanhar
n�o � t�o complicado.

Cada vez que usa o cart�o
de cr�dito se ouvem as campainhas.

O que � t�o engra�ado?

Eu gosto mesmo de voc�.

Por isso n�o entra na minha
cabe�a que seja uma agente.

Se eu fosse um agente n�o teria que
contratar um ca�ador de recompensas.

- Ca�adores de recompensas?
- Sim,

aqueles de quem roubou
as opalas oferecem uma recompensa.

Esse ca�ador nos deixaria
dar um passeio?

Com dinheiro, Sr. McPhee,
tudo � poss�vel.

Escute... o que acha disso?

� suficiente?

N�o! Espere, espere um momento!

Merda!

- Por que te perseguem?
- Porque querem saber onde vou.

Fugindo
da pol�cia?

No pa�s dele as pessoas
se casam assim.

- O que disse?
- Que em seu pa�s se casam assim.

De que pa�s �?

- Ele? Australiano.
- Sim.

- OH, australiano?
- Sim.

E est�o... em lua de mel?

Bravo!

- Quando digo que "n�o" � n�o.
- V� embora! Trabalha para mim.

� um peixe pequeno.
A Austr�lia me dar� 85.000 d�lares.

- J� me deve 3.000.
- Foda-se!

- Sabia que acabaria metido em problemas.
- Ponha em cima da cadeira!

- Odeio pistolas.
- Baixa a arma.

V�em aqui.

Pouco a pouco. Aos p�s da cama.

Me libere.

Me d� a m�o. Ponha aqui.
Claire, me ajude.

A chave.

- Ei.
- S� um segundo.

Onde est� a minha opala?

N�o, Claire, n�o.

Sinto muito. Est� deixando as coisas
muito perigosas para mim.

Trevor, espera!

Deixe eu te pagar, tenho dinheiro.

Fique com a opala.

Pode encontr�-la no lixo,
a� em baixo, esse � seu lugar.

Trevor!

Bastardo!

Acaba de me fazer perder
85.000 d�lares.

Isto cobrir� os gastos.

Vire-se.

Claire sentia algo

que n�o podia justificar
nem explicar a ningu�m.

Era um amor, uma dor nua
que sentiu a �ltima vez aos 16 anos.

Agora queria chegar
at� o final de sua miss�o

em qualquer lugar que a levasse.
Qual era a alternativa?

Voltar para seu eu interior?
Odiava essa id�ia.

N�o se preocupe, subo-a eu mesmo.
Em que andar estou?

Sexto andar, senhor.
Pode pegar o elevador.

- Ainda est� aqui?
- N�o pode partir sem mim.

''N�o pode partir sem mim''!
Voc� me contratou e me despediu.

Me maltrata e me confunde. Voc�
me custou o aluguel de um ano!

Como posso te levar comigo?

N�o tenho dinheiro... Ele pensou
que eu trabalhava para voc�.

Por isso se levou
o meu dinheiro, � sua culpa!

N�o posso te pagar o v�o
a Paris, mas te ofere�o Moscou.

Voc� se senta no bar do "Ucr�nia".
Eu pego ele e depois te levo para jantar!

- Trato feito?
- Trato feito.

- Ol�, Gene.
- Ol�, Claire.

Sabe, preciso de dinheiro.
5.000 d�lares.

- Pode mandar ao Hotel Ucr�nia,
em Moscou? - Espera, Claire.

N�o tenho tempo. O cart�o
est� acabando.

Adivinha quem est� aqui.

- Ei, Chico. Como est� Raymond?
- Ol�, Claire.

- Claire, onde est�?
- No v�o para Moscou...

Olive... e depois?

Esqueci-o. R...

Dra. Nora Oliveira.

- N�o vou dormir no seu quarto.
- Quer que eu pague dois quartos?

- Quero que pague a minha.
- Percebe que...

- N�o se deve discutir com estranhos.
- Gene!

N�o h� quartos dispon�veis.

N�o h� nada.
A conven��o ocupou tudo.

- Gene, este �...
- Winter.

N�o h� nenhum quarto em toda Moscou.

Meu nome � Winter.
O que voc� faz?

Como?

� um detetive.

Encontre um sof�.
N�o posso oferecer mais nada.

L�! 1500 rublos a noite.

1500 rublos a noite?

- Pegar ou largar.
- Pegamos.

� meu programa de pesca.

� um c�digo ligado a seu cart�o
de cr�dito e a seu passaporte.

- Basta que passe a fronteira e...
- Impressionante, Sr. Winter.

Mas j� n�o atravessou
diversas fronteiras esta tarde?

Ah! O bloqueio do leste.
H� problemas.

� uma disfun��o,
os chips feitos no Vietnam...

O que far� agora?

Amanh� vou
visitar um cliente daqui.

Quem � esse fugidio
Trevor McPhee?

Um australiano alto e bonito
com acento americano.

O que ele faz?

Pergunte � cliente.

� exatamente o que farei.

- Obrigado por sua ajuda.
- Ao seu dispor.

Sei que n�o est� dormindo.

Ainda te amo, mas � um amor
diferente, � como uma escada...

- Eu sou como uma escada?
- Como uma escada com um degrau quebrado.

E quando te vejo...

...sei que perdi a vida
quando o degrau se quebrou.

Sinto muito.

Te perd�o, mas n�o posso
confiar em ti outra vez.

Te entendo, sei o que parece,
e te tenho afeto, mas...

Por isso me respeita,
seu caronista...

o cara que te roubou o dinheiro.

Tem uma rela��o com ele?

Voc� o ama?

Vai passar.

- Ent�o este � o lugar.
- Exato.

Seu programa de bloqueio do
leste est� desatualizado.

Tratou de reduzir custos,
mas n�o serviu de nada.

Vou te fazer a atualiza��o
a bom um pre�o.

Trevor McPhee,
� esse o nome?

Este � Trevor McPhee. Seguem um homem
para o qual n�o h� recompensa.

Aquele cara viaja com o documento
de identidade de Trevor McPhee.

- Quem � ele?
- Posso?

O urso ca�a-recompensas
acha pessoas.

Banco de dados avan�ado.
Procurando.

Procurando.
Procurando...

Me d� um minuto...
Identificado...

Achei!

Este � o seu homem.

- Recompensa de 500.000 d�lares.
- Chips feitos no Vietnam!

Uma pena que n�o
possa compr�-los.

Como sei que esse pre�o
corresponde a esta cara?

Deve confiar em mim.
� t�o dif�cil?

O que quer fazer?

S� quero meu dinheiro de volta.

Quanto custa um destes aparelhos?

- Gene!
- N�o, n�o.

Case-se com ela! D� uns tapas nela,
mas n�o v� atr�s desse cara.

Ela n�o vai transar com voc�,
mas com ele.

Voc� n�o compreende a
natureza da nossa rela��o.

Sem contar que n�o � do ramo.

Compre o aparelho
e vire um detetive.

Quando sair
de Moscou estar� arruinado.

Empenhar�o seu carro,
cortar�o sua luz.

Nada de computador. Nem sequer
recolher�o seu lixo.

Mr. Winter, admita,
voc� quer, mas n�o pode pagar.

Para fazer funcionar
precisa de um detetive.

Eu vou voltar para Berlim.

Pergunte-se o que vai
fazer com o tigre quando o pegar.

Um momento, Sr. Winter.

Quero a opala, obrigado.

Por meus gastos.
Cinco mil.

�s vezes Claire tamb�m pensava
ter inventado Trevor Mcphee

e ter projetado nele
a pessoa que queria ser.

Pensando nisso, entrou em p�nico,
e n�o ficou quieta.

Ficou em Moscou um dia a mais,
dois dias a mais, tr�s...

passando de hotel em hotel,
de porteiro em porteiro.

- Ganhou.
- Sim, j� era hora, maldito seja.

J� paguei a mesa de jogo.

N�o nos vimos antes?

Possivelmente.

- O que vai fazer com todo esse dinheiro?
- Enquanto penso, vamos beber algo.

Quando Winter partiu, virei
o anjo protetor de Claire.

Pobre e iludido,
s� queria que voltasse comigo.

Ent�o fui am�vel,
esperei que a paix�o passasse,

fingi ajudar a encontrar o �nico
homem que n�o queria que encontrasse.

Infelizmente meu Urso Ca�a-recompensas
o achou rapidamente.

Mas pelo menos demonstrei
que era um cara dur�o.

Chamava-se Sam Farber,
e n�o Trevor McPhee.

Era procurado pelo governo americano
por espionagem industrial.

J� te vi antes.
No sul da Fran�a.

� a namorada do Sam Farber?

Quer dizer Trevor?

McPhee! � ele tamb�m!

Diga a ele que quebrou o acordo

com o Laborat�rio Sunset
de "Palo Alto".

A m�quina fotogr�fica foi
desenvolvida l�

com os recursos do governo.
- � um cientista?

Me roubou, me traiu, pegou o meu
dinheiro e n�o sou sua namorada.

Mas me dir� onde est�!
Est� claro?

Se soubesse, n�o estaria aqui
contigo, estaria com ele.

Fazendo amor com ele.

Por que eu disse isso?

Te dei Pentotal,
o soro da verdade.

Estamos quites, eu te dei
cinco son�feros.

Vagabunda!

- � um criminoso de verdade?
- Gar�om...

Caf�...
- Eu tamb�m sou uma criminosa.

Estou envolvida no roubo ao
banco do aeroporto de Niza.

Pegaram o Raymond,
mas o Chico est� bem.

Mas me preocupa que a pol�cia
chegue � casa do Gene.

Ele � inocente,
e eu na verdade sou loira.

Deixe de besteiras!

N�o durma!
Quero saber o que o Trevor fez.

J�... j� disse isso.

Nunca funciona para mim...

Eu acho que ele � um espi�o.
Achei que j� n�o havia espi�es.

Droga, estamos em Moscou em 1999.

N�o sou turista,
sou uma ladra.

Roubei essas coisas para proteger
o homem que me roubou o dinheiro.

Peguei o dinheiro de uns caras
que o tinham pego de umas pessoas

que roubaram um banco.

Est�o me seguindo?

Sabe, n�o podemos voltar juntos.
Nosso filho n�o pode nascer agora.

� algo triste,
mais triste do que n�s.

� como um rio que n�o fluir� nunca,
um dia que n�o acontecer� nunca...

Por que continua sendo
um cara t�o legal?

T�o doce e bom.
Faz isso para me castigar?

Procurando...

Procurando...

me d� um minuto...

Achei!

Est� no Trans-siberiano. Sam Farber
reservou passagem para Pequim.

� tudo t�o complicado.

Eu falo, adeus.

Cara a cara seria muito doloroso.
Para mim tamb�m.

Ainda te amo, escada quebrada.

AINDA TE AMO, ESCADA QUEBRADA.

Desculpem.

Desculpem.

Desculpem.

Trevor!

Trevor!

N�o havia trens
para os pr�ximos tr�s dias.

Claire n�o podia esperar.

Em 10 minutos viajava de moto
ao sudeste, para Pequim.

Mas se tivesse ido a noroeste,
teria encontrado Trevor.

� incr�vel, Sam que tenha me
encontrado aqui, na Sib�ria.

Preferiria que n�o me visse
neste lugar horr�vel.

Mas, fazer o qu�?
Assim � o mundo.

Queria estar em casa,
em Lisboa, com os meninos.

Assim, Claire gravou
parte da viagem � China para mim.

Quatro dias depois, gastou
uma fortuna para enviar a fita

a Paris com o v�deo-fax.

- Como se chama?
- Como se chama? - N�o, voc�!

- Voc�...
- Voc�!

Charly Yu.

Claire. Claire Tourneur.

- Claire Tourneur? OK.
- Sim!

Bem.

Gene, estou aprendendo chin�s.
J� sei dizer ''Nem-h�'',

Que quer dizer: como est�?

Bem, Gene,
esse foi meu filme caseiro.

Estou em Pequim,
no hotel Tiannamen, Quarto 1407.

Ligue assim que chegar,
espero sua chamada.

Ol�, Claire, sou eu. Acabo
de chegar e ver sua mensagem.

- N�o precisa de algo da geladeira?
- N�o preciso de nada, Gene.

- Gene, estou perdida.
- Est� em um beco sem sa�da, n�o �?

- Perdi seus rastros. - N�o
estou surpreso, est� o procurando em Pequim.

- Onde eu deveria procurar-lo?
- Deus, voc� n�o desiste?

Volte aqui e esque�a tudo isso.

Me olhe, Gene, sou Claire,
o que esperava?

De acordo.

- Lembra do Teatro dos Meninos?
- Est� em T�quio ?

Sim.
Te encontro l� ter�a � tarde. OK?

World News, �ltimas not�cias.
O protesto contra o plano americano

de abater o sat�lite nuclear come�ou
ontem a tarde depois do assassinato

do embaixador americano
das Na��es Unidas em Berlim.

Os �ltimos e terr�veis momentos
do embaixador

foram gravados em v�deo
pelo assassino em pessoa.

Se os EUA abaterem o sat�lite,
come�ar� uma rea��o em cadeia...

o mundo todo pode explodir.

Que nossas mortes sejam um s�mbolo.
Advert�ncia: deixem o sat�lite onde est�!

N�o me importa ser um cad�ver,

mas sacrificarei nossas vidas
porque a sorte do planeta

depende dos americanos
e do que fa�am. Adeus!

Do World News, Nomi Morris,
Berlim.

Achei que n�o viria mais.
Onde est� ele?

O que acha de:
''Ol�, como est�, que roupa bonita''

Eu odeio a sua roupa,
mas fico feliz em te ver.

Lembra da nossa primeira vez
em T�quio?

Era o ver�o do 94.

- Nosso primeiro ver�o.
- N�o fazia mais que chover.

Fomos ao �ltimo concerto
dos Rolling Stones.

Sim, mas n�o foi o �ltimo, foi?

Desculpe. Um homem chamado McPhee
ou Farber... est� neste hotel.

- O Sr. Farber?
- Sim, Farber.

Sim, o Sr. Farber
est� na n�mero 7151.

Acho que quer dizer no s�timo andar.
N�o estou certo. Pode escrever?

Senhora, � para homens!

Senhora!

- Por ali.
- Obrigado!

- Senhorita! Espere!
- Uma estrangeira?

H� uma mulher estrangeira,
uma estrangeira.

Senhora, tem certeza de que n�o
se enganou? Aqui � s� para homens!

Este n�o � um lugar para mulheres!
S� para homens, proibido para mulheres.

Ei, mo�a. Oh... mo�a...

Preciso de ajuda!

- Winter! N�o!
- Fuja, corra!!

Corra!

OH! Ainda brincando de detetive
ou de menino de recados?

Onde est� Claire?

Um cara a seguia
como sempre.

- Ca�ando a sua presa?
- Melhor ca��-la voc� do que os outros.

Sua querida Krasikova nos vendeu
o mais alto posto:

CIA, KGB,
Yakuza, e quem sabe o que mais.

Aqui termina o programa de computador
e come�a o mundo dos detetives.

- N�o temos muito tempo.
- Temos? Ent�o quer me contratar?

Contratar voc�?

Claro que n�o! Sayonara.

Sabe quem sou eu?

- O anjo de Lisboa?
- Sou esse anjo.

Me tiraria daqui?
Eu imploro.

Sinto muito, Gene.

Est� bem?

- Preciso das minhas malas.
- Para que?

Claire, eu n�o gosto disso.

Eu n�o gosto disso mesmo.

Estaria muito melhor comigo.

Voc� n�o o conhece.

Voc� o conhece?

Precisa de mim agora.

Vai precisar disso tamb�m.

Obrigado.

OH, isso ajuda.
Muito melhor.

Continuaram trocando de lugar
a noite toda,

at� que se asseguraram
de que n�o eram seguidos.

Finalmente pegaram
um trem que sa�a de T�quio,

mas n�o sabiam para onde.

Claire tinha pego os bilhetes
na esta��o do Shinjuku

indicando um s�mbolo
que n�o sabia ler.

- Para onde vamos?
- N�o sei.

Claire sabia que finalmente
tinha encontrado sua miss�o.

O homem que amava era
quase cego e precisava dela.

Numa manh� de novembro de 1999,
eu tinha perdido o rastro do Claire.

Tinha vagado durante horas por T�quio,
at� a alvorada,

me dizendo que se Claire tivesse sa�do
de minha vida, possivelmente para sempre,

eu n�o teria direito
de continuar a persegui-la.

Ent�o percebi que
tamb�m estava sendo seguido.

Vamos, n�o desista.
Vamos encontr�-la.

- N�s?
- Voc� e eu.

Ok, eu.

Um pouco de ch�?

N�o posso te pagar,
nem querendo. Sinto muito.

Se voc� dirigir,
n�o precisa me pagar.

Onde ir�amos dirigindo um carro?

De onde vieram as opalas.

Onde �?

Coober Pedy, sul da Austr�lia.
95% das opalas vem de l�.

Posso carregar suas bolsas?

Feliz estadia.

- Parecem cansados.
- Devem ter viajado muito.

Sim.

Claire e Trevor tinham chegado
� cidade montanhosa de Hakon

e tinham encontrado uma estalagem
tradicional, Ryokan.

Dormiram toda a noite
e o dia seguinte.

N�o podiam saber que, casualmente,
tinham chegado ao lugar certo.

O propriet�rio do Ryokan
era o senhor Mori,

um homem apaixonado pelo
seu jardim de ervas.

Ervas.

As envolva em um pano e as banhe,
depois ponha sobre seus olhos.

Domo arigato gozaimashta.

Eu vou explicar.

Uma a cada noite.

Entendo. Muito obrigado.

As ervas n�o foram o �nico presente
que o Sr. Mori lhes deu.

Ensinou a Claire seu mundo
dos montes, �rvores e flores.

Uma vez lhe disse:
�aprendi uma coisa:

O olho n�o v� como o cora��o.�

Pela primeira vez em sua vida
Claire se sentia completa.

Por fim era �til.

J� sei muito sobre ti.

Sei sobre a c�mera...

..sei que a roubou.

Meu verdadeiro nome � Samuel Farber.

Sou filho do Dr. Henry Farber.

Foi ele quem inventou
a m�quina fotogr�fica.

Os EUA a queriam...

mas ele n�o confiava no uso
que eles queriam fazer dela.

S�o eles que querem roub�-la.

Essa c�mera...

permite fazer fotos...

que os cegos podem ver.

Mi... minha m�e � cega.

O que fa�o � recolher imagens

para que ela as veja.

S� quero que minha m�e as veja...

e assim demonstrar ao meu pai
que o amo.

Podia ter me dito isso antes.

Eu amo voc�.

- J� estive alguma vez em S�o Francisco?
- � para onde vamos?

Sim, tenho que gravar
a minha irm� Elsa.

J� estive l�. Te levarei
ao meu bar favorito: Tosca.

Preparam brandy
com chocolate quente.

- Parece perigoso.
- N�o tanto quanto no que est� se metendo!

No que estamos nos metendo.

Os sinais s�o verdes?

Deveriam ser,
mas continuam vermelhos.

Mova os olhos seguindo
o computador.

Os indicadores ficar�o verdes.
Comece de novo.

E sua m�e poder� ver
o que eu vejo, Trevor?

- Sam.
- Sam.

A c�mera grava o que voc� v�.

E tamb�m grava o que
seu c�rebro responde

frente ao que seus olhos v�em.

Grava o evento bioqu�mico
do ato de ver.

Quanto mais se concentrar,

melhor o coordenador l� e transmite
sua experi�ncia de ver.

Machuca muito.
Meus olhos est�o pegando fogo.

Por isso voc� quase ficou cego.

Voc�s gostam do vermelho?
N�o acredito! Os dois est�o de acordo.

- Os limpadores de p�ra-brisas funcionam?
- Sim, e todo o resto.

Voc� funciona, amigo?

Vamos, me d� seu cart�o de cr�dito
e neg�cio feito.

N�o, n�o, n�o.
Nada de cart�o, em dinheiro.

- N�o seja um sacana, ok?
- N�o chame ele de sacana!

Digo o que quiser,
mademoiselle.

N�o, n�o!
Queremos o carro e em dinheiro.

Ningu�m aceita dinheiro. Quem quer
dinheiro? Bernie n�o quer dinheiro.

- Eu quero pagar em dinheiro.
- Se pagar em dinheiro me causa problemas.

OH, n�o. Arriscam minha vida.
Colocariam uma faca aqui,

e me deixariam atirado
em uma po�a de sangue.

Est� exagerando!

Acha que estou exagerando!

Bem, e agora? Vamos, babaca.

Me deixe rico.

Quer brincar, n�o �?

Ah, olhe isto!

Agora vou levar tudo.
O que h� a� dentro? O que h�?

Saiam de minha propriedade.

Vamos, antes eu que chame meus amigos.
Voc�s se merecem!

Saiam daqui, vamos!
S� aceito cart�o de cr�dito, babaca!

- Por que n�o vem a minha casa?
- Elsa, n�o podemos ir a�.

Se ainda nos vigiarem,
n�o podemos nos arriscar.

Estou farta de todos estes segredos
e ci�ncia e essa de �n�s contra o mundo�.

N�o sou assediada a tr�s anos.

N�o quero que isso
comece novamente.

Tem que fazer isso, por mam�e!
Pela �ltima vez.

Ser� a �ltima pessoa que gravo.
Se n�o o fizer, mam�e nunca te ver�.

Encontrarei um lugar seguro.
Voltarei a te ligar. O n�mero � seguro?

Sam, � a linha de uma contadora.

Voltarei a te ligar.

Vou tentar ligar para
o Chico de novo.

''O Pent�gono declarou
que uma explos�o at�mica espacial

n�o causar� danos. Ser� verdade?

De fato, muitos peritos prev�em que
come�ar� uma rea��o em cadeia

entre os sat�lites de defesa
j� estacionados no c�u.

Atentos ao flash no c�u! �Jim Haywood,
ao vivo dos Estados Unidos�.

Claire, se soubesse, te ligaria!

De onde fala?
De S�o Francisco?

Como sabe?

Uma vidente esta manh�
me disse tudo.

Ent�o tamb�m sabe que vai me
emprestar um pouco de dinheiro.

Acredite, me disse coisas
ainda mais incr�veis!

Chico, estou quebrada.
Estou na merda.

Se entendi bem, n�o � o meu corpo
o que quer, s� o meu dinheiro!

Quem sou eu, seu padrinho?

Vamos, me d� o endere�o.

Motel Mission Bell.

Eles est�o vindo aqui.

- � terr�vel. Me sinto mal.
- Por que?

Ele quer ser respons�vel por mim.

A vidente lhe disse que eu o farei
chegar ao "Top of the Pops"

"Top of the Pops!"

"Top of the Pops!"

N�o parece muito divertido.

N�o temos dinheiro
nem para um hamb�rguer.

O qu�?

N�o grave minha cara,
ok?

Esta � voc�.

Voc�, levante! De p�!

O que tem? O que tem, Miss Am�rica?
Me diga?

- Nada. N�o sou daqui.
- Sei, vem de um pa�s de merda.

De l� que voc� vem.
Tem uma coisa que eu quero.

LOJA DE PENHORES

Claire?

Vamos. R�pido!

Sam se lembrou do Tosca,

o bar onde Claire dizia que serviam
brandy e chocolate quente.

Assim bebeu aquela mistura
durante tr�s dias e tr�s noites,

esperando por Claire.

Ainda tinha a bolsa na qual
levava o dinheiro roubado

do sul da Fran�a at� Paris.
O localizador estava dentro da bolsa.

Chico o encontrou sem problema.

- Onde esteve?
- N�o pergunte.

Nunca pergunte.

Chico! Nosso salvador.

Sempre sonhei
em vir � Am�rica,

a majestosa, fant�stica, bam, bing,
Am�rica de pl�stico!

Como nos encontrou?

Comprei um carro
e dormi nos bares.

N�o, n�o. N�o funciona.

N�o posso nem focar.

Sinto muito, Elsa.

Consegui, Elsa.

Que al�vio.

Estou muito zangada com voc�s.
Pensamos que estavam mortos.

J� estava me acostumando � id�ia.

Estranho que isto esteja
acontecendo de verdade.

Sempre sonhava que Henry
poderia te devolver a vis�o,

como sempre dizia,

e que via minha cara
e tinha achado estranha

e dizia:
�n�o, esta n�o � minha filha�

e eu dizia:
�mas sou eu, sim sou eu".

Estou t�o contente
que possa me ver.

Eu gostaria de
estar melhor para voc�.

H� cinco anos ainda era bonita.

Incr�vel:

olhem minha cara!

Minha m�e ver� minha cara!

Heidi,

vem aqui.

- Mam�e, esta � Heidi.
- Tenho 5 anos.

Voc� partiu antes que nascesse.
Tem sua boca, mam�e.

N�o posso acreditar!

H� dois dias estava em Marsella,
me aborrecendo

e agora vou a Austr�lia!

- Como se chama?
- Luther.

- Sabe dirigir, Luther?
- Claro que sim.

Toma as chaves,
� um carro autom�tico normal.

- Estou vendo.
- Hoje � o seu dia!

� para mim?

- Funciona!
- Bem, obrigado.

Austr�lia, l� vamos n�s! Os cegos
ver�o! Os entrevados caminhar�o!

Carregue isso, cara bonito!

Obrigado.

Sabe conduzir essa coisa?

Um cara acaba de me dar um carro.

Aproveite, Luther.

Farei o melhor poss�vel,
espero que tenha gasolina.

O dinheiro de Chico os tirou dos
Estados Unidos sem serem notados.

E embarcaram num barco
coreano para Sydney.

A viagem durou tr�s semanas.

Foi uma viagem tranq�ila,
uma esp�cie de lua de mel.

Claire n�o tinha nem id�ia
para onde iam.

Sam n�o contaria a ela.

Para Chico a viagem era um pouco
chata, assim chamou seu amigo.

- Ah, Chico.
- Ol�, Raymond!

- Ol�! Est� bem?
- Queria te ver.

O que aconteceu? Me diga.

Estou em um navio coreano
que vai de S�o Francisco a Sydney.

N�o podia tornar isso
um pouco mais f�cil?

- A viagem � longa, estou entediado.
- Bem, ent�o, o que faz?

Jogo cartas com a tripula��o.

- Ganhou?
- S�o bons, nem sempre ganho.

- Descontarei da sua parte.
- Nenhum problema.

Nenhum problema?
Eu estou no hospital.

OH, Raymond.

Por que me ligou?
O que queria me dizer?

Se for para me dizer tolices,
desligo!

Raymond, t�o nervoso!

N�o � a inje��o,
n�o s�o as velas.

- Acho que � a bomba de gasolina.
- Sim.

- Tem um... um 7/16 ?
- � este.

Ol�, Claire. Adivinha? Convenci a
ag�ncia a lhe vender o apartamento

pelo pre�o original.

Me avise se o quiser.
Tem prazo at� sexta-feira.

Makiko, parece que passou
um s�culo.

Tantas coisas mudaram...
Agora estou na Austr�lia.

N�o quer mais comprar
a casa, Claire?

N�o, nem sei se voltarei.

Mas onde quer que eu v�
levo voc� no meu cora��o.

Procurando, procurando.
Me d�em um minuto.

Encontrei...

Claire Tourneur faz uma chamada
com o cart�o de cr�dito,

de uma cabine no Coober Pedy,
no sul da Austr�lia.

Quer o meu tamb�m?

Ela est� aqui em Coober Pedy!
Acaba de fazer uma liga��o!

Winter, � um g�nio!

"Tenho um nariz, e sei onde ir."

Que mais te diz seu nariz?
Como encontraremos Claire?

Esta cidade � um buraco. Basta
dar uma volta e os encontramos.

J� era.

Toda suja.

''Com a ONU completamente confusa
os Estados Unidos amea�aram

atirar no sat�lite
para afast�-lo do c�u.

A opini�o internacional
est� aterrorizada

pelas imprevis�veis conseq��ncias
de tal ato�.

David, � in�til.
Os aneis est�o quebrados.

Vou procurar o Adam.
Talvez tenha outro bomba.

Trevor?

Como se chama?

Seu verdadeiro nome � Farber.

Sam Farber, provavelmente.

Queria p�r fim ao mito
Trevor McPhee.

Como conseq��ncia disso, come�aram
a soar sinos em todos os lugares.

Da long�nqua Moscou...
at� o pr�ximo motel da �rea.

- Sam Farber.
- Quem �?

At� logo.

Esse cara, Burt, era
competente demais para ser pago

pelos mineiros de opalas
para seguir Trevor McPhee.

Estava fora de si quando tentou cobrar
a recompensa... Em busca de Sam Farber.

J� nos vimos antes, n�o?

Perturba��o da ordem p�blica.

Isso � t�o estranho em Coober Pedy?
N�o � raz�o para prend�-los.

Este � um escritor famoso,
Eugene Fitzpatrick, � franc�s!

� obvio que vi a c�mera. At� a usei.
Gravamos algo em S�o Francisco.

- Ah, e agora onde est�?
- Ah, agora onde est�? Onde est� agora?

Boa pergunta.

Seu �nico meio era um soro
da verdade. Amava a verdade.

Buscava-a continuamente.

- Onde est� a c�mera?
- N�o, n�o! Fale em ingl�s!

Est� ali, na bolsa,
na sua frente.

Cale-se.

Onde est� Sam Farber?

Um de n�s est� onde deveria estar.

Voc� est� enganado.

Se n�o estivesse mais errado, teria
orelhas crescendo nas axilas.

N�o sou um espi�o nem um
ladr�o de j�ias.

- Ent�o, o que �?
- N�o sabe?

Me seguiu ao redor do mundo
e n�o sabe quem eu sou?

Se a machucar
eu te mato.

Chico, n�o sei o que faria
sem voc�, sabe!

� um anjo da guarda estranho.
A princ�pio pensei que fosse um porco.

Primeiro rouba
e depois se embebeda.

- N�o paro de falar.
- Parece forte, o soro.

- N�o posso parar de falar!
- Se sobrar, me d� um pouco?

� infernal.

Sam queria que eu cuidasse
da bolsa. OK?

Quer uma carona?

Estamos bem. Ela tomou son�feros.

Claire.

Est� bem? Ele te machucou?

Chico chegou a tempo.

A bolsa, tem a bolsa?

David a levou.

Est� bem, n�o � nada,
tomou son�feros.

O que aconteceu com a perna?

Claire, pode me ouvir?

� voc�!

Escada quebrada...

Hey, Sam.

Me diga onde vai. Eu quero ir.

N�o. N�o. N�o posso.

Sinto muito, mas n�o posso.

Ama ele?

Sim.

Espero que ele tamb�m te ame.

Pode me ajudar?

Claro, sou mec�nico.

Onde est� sua bolsa?

Minha bolsa?
Viaja separadamente.

Adeus!

Obrigado, amigo.

- Obrigado por que?
- Obrigado, amigo.

Obrigado, amigo...

Tenho eles no meu localizador.
Vamos!

Muito bem, Chico! Vamos. Vamos.

Espera, n�o me despedi!

Dentro de duas horas se encontrar�
com minha m�e e meu pai.

Pode falar em franc�s
com minha m�e.

Eles fizeram!

Abateram o sat�lite!

- Meu computador est� quebrado.
- O meu tamb�m.

Todos os circuitos eletromagn�ticos
est�o danificados pelo efeito nuclear.

A mem�ria do computador tamb�m.
� o efeito NEMP.

� o fim do mundo.

Bastardos!

2 anos de vida, anulados!

Quem se importa com seu livro? O que
acontecer� com o Goethe? Pense nisso.

Goethe. Desaparecido!

Goethe!
Que merda voc� sabe sobre Goethe?

O que sabe de mim?
Acha que sou uma pomba em um buraco?

� o fim do mundo...

N�o?

Ponha o cinto.
Temos que descender.

� o �ltimo.

O lugar que atravessaram
tinha sido abandonado fazia anos.

durante a terr�vel seca
dos anos noventa.

N�o havia ningu�m para confirmar
ou negar seus medos,

mas todos os fen�menos, os rel�gios
parados, o motor do avi�o avariado

e seus circuitos el�tricos,

explicavam-se � luz de um
s� feito: uma explos�o nuclear!

Iam para uma s�
dire��o, para casa.

Animava-lhes a certeza
de que ainda estariam l�...

de que a m�e e o pai do Sam
ainda estivessem vivos.

A apari��o de um carro
a diesel, desmantelado

n�o desmentiu a realidade
da explos�o nuclear

mas pelo menos n�o eram os �nicos
sobreviventes sobre a terra.

Ao contr�rio,
aquele motor os salvou.

� David!

- Sim, com o Buzzer!
- Ol�, Claire! Sam!

Des�am da� e subam a bordo!

Boa sorte, Gabriel.

- Foi o sat�lite nuclear.
- N�s sabemos.

- Hey, Claire!
- Chico! Gene!

Como vai, irm�o?

- Como est�, Sam?
- A c�mera est� intacta?

Sim.

Deus, como estou
feliz em te ver.

Gra�as a Deus est� viva.

Hey, Sr. Winter...
Um mont�o de pessoas perdidas!

Vamos depressa, pode ficar
radioativo a qualquer momento.

Fez alguma leitura?

N�o. S� sabemos que os aparelhos
el�tricos n�o funcionam.

S�o tempos malditos e
perigosos, amigo.

O est� cantando?

Est� cantando � terra.

A terra � como a B�blia
para eles.

Aquela �rvore � Jonas.

Aquela rocha, a baleia.
Tudo � parte de uma hist�ria.

� o guardi�o deste lado
de terra,

desta parte de hist�ria.

Se n�o a mantiver viva

narrando-a,

morrer�

e n�s com ela.

Foi ent�o, enquanto corr�amos
diante dos ventos fatais

que tentavam trazer
o fim do mundo

que me dava conta de que a perda
da novela me tinha feito livre,

livre para escrever outra.

N�o apoiada no passado, como antes,
mas olhando para o futuro.

Recomecei...
reescrevi um novo come�o:

�1999 foi o ano em que
o sat�lite nuclear ind�gena ficou louco.

N�o se sabia
onde poderia cair.

Dava voltas na camada de oz�nio
como um abutre tem�vel...�

Vem vindo um carro! Maisie...

- O que tem na perna?
- Nada, mam�e.

Quero que conhe�a Claire.

Claire Tourneur.

Minha m�e, Edith Mbtjana,

e ela � sua irm�,
Maisie Mbtjana.

- Bom dia.
- Ol�.

Estou feliz em conhec�-la.

Aconteceram coisas terr�veis.

Mas �s vezes acontecem coisas belas
nos momentos obscuros.

O que fazem aqui?
N�o deveriam estar aqui.

Foi o que lhe disse h� tr�s dias
Mas ela teve uma intui��o.

J� sabe, minhas intui��es.

Vamos embora daqui!

Quanto mais ficarmos,
mais estaremos em perigo.

O centro � mais seguro. Vamos!

Maggie, Linda,
que bom estarem em casa!

Sam, Claire est� vindo?

Estar� bem aqui, amigo.
Boa gente, n�o?

- Tinha raz�o, Claire.
- Ol�, tesouro. Leituras?

N�o, ainda n�o.
A que dist�ncia estava quando...?

- 250 milhas.
- Ent�o est� limpo.

Mam�e...

� melhor n�o ver os casos
de gente afetada pela radia��o.

Tenho lido em livros. Estes malditos
livros me trazem pesadelos horr�veis.

- Est� limpa, tia.
- Obrigado.

Claire, nossa doutora, Lydia.

- Lydia, esta � Claire.
- Ol�, Claire.

Est�o todos limpos!

Sr. Fitzpatrick.

Me d� uma m�o, por favor?

Bom e velho diesel.

Essa bolsa � um erro!

Ele � ainda um pouco errado.

- O que acha da bolsa?
- Muito bonita.

- De onde s�o?
- Irlanda.

Berlim.

Uma grande caminhada at� aqui!
Estar�o bem com o Dr. Farber.

� um cara um pouco estranho, como
a maior parte da gente daqui.

- Dou uma m�o com as bolsas.
- Est� bem.

Depressa, Sam.
Fico com a Claire.

Foi o sat�lite nuclear.
Danificou o avi�o.

- Se machucou, Sam?
- Um pouco. Posso andar.

� esquerda, na parte de tr�s.
H� uma porta met�lica verde?

� a entrada para o
laborat�rio do Henry.

Farber!

Sabia que havia uma
garota bonita no meio!

Essa � Claire Tourneur.

� um grande prazer te conhecer,
Claire.

Te perd�o
por nos ter feito esperar.

Aqui est� o que
estava esperando.

OH, finalmente.

� incr�vel!
Os computadores do Centro Cultural

foram destru�dos pela estupidez
ind�gena. 35 idiomas desaparecidos.

Mas nossas fitas cassetes digitais
est�o intactas, gra�as a Deus.

Bom te ver, pai.

OH, Sam, sinto muito.
Me tornei meu pr�prio pai.

Acontece quando se envelhece.

Passou por tudo,
por nossa culpa.

Eu sei que voc� acha que n�s tomamos
isso como certo, mas n�o tomamos.

V� descansar.
A segunda sess�o pode esperar.

N�o, vamos agora!

Sammy, voc� est� ferido...

- Sam, n�o tenha pressa.
- N�o, vamos come�ar.

Tudo bem, se � assim que quer.
Me d�em um minuto. Ned...

- Farber, n�o fa�a isso com ele!
- Sei, sei.

Este, irm�o Anton.

Homem obsessivo.

- O que aconteceu?
- Sempre foi assim, sempre esque�o.

- Sempre me comporto mal.
- Ele n�o sabe o que passou ele?

- Provavelmente n�o.
- Algu�m deveria contar.

Toda a fam�lia
sofreu muito.

Mas eu sou o �nico que tem voc�!

Bem, o que vamos
fazer com esta tropa?

N�o podem ficar aqui!

- Devem encontrar um lugar para ficar.
- Que �timo!

Quando papai teve que se esconder,
construiu o laborat�rio dentro desta caverna.

S� os ind�genas Mbantua
conheciam.

Sem eles,
nada disso seria poss�vel.

Papai chegou aqui h� 40 anos,
era oftalmologista.

Desculpe, poderia me emprestar
a m�quina de escrever?

Claro. Os meninos
s� brincam com ela. Por favor.

A volta do escritor!

Genial!

Isto te incomodar�.

- Karl.
- Sam.

Karl � um mago dos computadores.

Seguiu meu pai quando ele deixou
o Instituto Sunset na Calif�rnia.

Transferiu e eliminou seus arquivos
do computador do laborat�rio.

Era o fim de semana do
Dia de A��o de Gra�as, em 1995.

Precisaram de 3 dias e 3 noites.

� um g�nio. Chegaram aqui s� com
2000 gigas de mem�ria e os �culos.

Demorou 4 anos para construir.
Come�aram do zero.

Ent�o, podemos esperar um dia mais.

- Sam, estamos muito cansados.
- N�o. Lydia trabalha aqui.

� da parte m�dica.

Peter � o irm�o de pele de meu pai,
� meu pai abor�gine.

� bom que esteja conosco, Claire.

Ned, Claire.
Claire, Ned.

V�deo!
Para a eletr�nica, pergunte ao Ned.

Ronda, bioqu�mica. Monitora as ondas
cerebrais durante o experimento.

Preparados?

Sim, estamos.

- O que quer dizer?
- N�o viu este programa?

- N�o.
- Bem, agora trabalhamos nisso.

- Henry? Se acalme.
- OK.

- E fique tranq�ilo.
- OK, OK.

Me beije.

N�o o afaste dessa vez. Eu preferiria n�o
ver ningu�m da fam�lia.

De verdade.

Preferiria n�o ver ningu�m,

antes de perd�-lo
outra vez.

Eu ouvi.

O dele, � o rosto que mais quero ver.

Esse � o presente que
voc� n�o pendou em me dar.

Vamos, querida,
n�o sejamos t�o sentimentais.

Tudo bem.

Se estiver tranq�ilo,
eu tamb�m estarei.

Eu estou tranq�ilo.

Que tal uma x�cara de caf�, Henry?

OH, n�o.
Cafe�na � o que voc� n�o precisa agora.

Tomo ch� de lim�o.

- Modifiquei o PRZ.
- Tem um modelo de 2 megas.

Est� pronta, mam�e?

Sim, Sammy.

- Ent�o vamos l�.
- Sim.

- Tome cuidado.
- Voc� tamb�m. Amo voc�.

Deram algo de beber ao Sam?

O que est� acontecendo aqui?
N�o pode fazer isso hoje.

- Edith est� muito cansada.
- Cansada? Edith Eisner! N�o.

Falamos de Edith Eisner.
Cito sua biografia:

Edith � incans�vel.

Sentou-se na esta��o esperando Sam
durante 3 dias... 3 dias e 3 noites.

Sentada, durante uma cat�strofe nuclear.
Esse � o tipo de mulher indestrut�vel!

- Sam, quer beber algo?
- Estou bem, mam�e.

Edith, por que tanta pressa?

Estou bem, Maisie. Cuide do Sam!

Pode morrer, irm�zinha!

Prefiro morrer disto
que de qualquer outra coisa.

S�o coisas de homens!

S�o coisas do Henry e do Sam,
portanto s�o minhas coisas.

Por favor, Maisie, v�. V�!

Isso � um erro. Este homem
vai roubar o seu sonho em um dia.

N�o � da sua conta, mulher. Fique fora
disso. Henry sabe o que faz. Deixe-o fazer!

Onde estava, Lydia?
Ele n�o precisa de muletas agora.

Prepare-o. D� a ele 10 "milivatios".
Melhor 20.

- A tia Maisie est� bem?
- Sim.

N�o deveriam fazer isso agora.

N�o acredito.
Faz 14 anos que n�o os vejo.

Minha cunhada, Irina
� uma mulher extraordin�ria.

Anton, meu irm�o. Tem 82 anos.
Tamb�m � seu irm�o, Peter.

- Incr�vel.
- Precisa de um corte de cabelo.

Deus, 14 anos!

O que est� fazendo?

Relaxando-o. � uma inje��o a laser.

Ele n�o pode se concentrar ao m�ximo a menos que
o corpo seja esvaziado de toda energia nervosa.

- � disso que preciso.
- Quem n�o precisa nos dias de hoje?

Tic, tac, a� v�m as radia��es!

Quando voltarmos � superf�cie
nos matar�.

O que est� acontecendo?

J� estamos quase, tesouro.

Imagem recuperada, doutor Farber.

- Passamos para o virtual?
Sim, vamos! Ronda?

Tudo preparado.

OK. Vamos!

Importa-se?

Venha aqui, senhorita.

O computador est� descarregando os
dados das grava��es de Sam em Berlim

em meu sistema.

Depois Sam dever� voltar e aguardar
para que meu computador compare

a atividade cerebral da segunda
sess�o com a atividade da primeira.

Quer dizer: extrair s� o essencial
da imagem

e isso � o que se transmite
ao segundo c�rebro. Est� claro?

� uma grande disciplina
para os olhos.

Eu tamb�m gravei.

� muito cansativo!

Escaneando em 5 segundos:

5, 4, 3, 2, 1. Zero!

- Ned, aponte para voc�.
- N�o.

Ned, lembra o que aconteceu
da �ltima vez?

� isso que ela v�
neste momento?

OH, n�o. H� muita informa��o
para que o computador processe.

O que ele est� vendo est� cerca de um minuto
na frente do que o que estamos vendo na tela.

� o tempo necess�rio para que o
computador restabele�a a informa��o.

Mas isso n�o � muito bom...

Deus, n�o transmitiremos isso!

- Abra tudo, Ned!
- J� abri.

Volta para o verde.
Ele est� cansado.

N�o, volta para o vermelho.
N�o � suficiente.

Come�ou?

N�o. Fase de reconhecimento.
Espera, Edith.

- Tranq�ilo!
- Estou sempre calmo!

Hoje � um grande dia

e sua fam�lia est� orgulhosa

de estar aqui contigo no dia
em que poder� ver nossas caras.

Falo muito, eu sei.

- Anton, � para Edith, n�o para Henry.
- J� sei.

Ol�, querida Edith.

Se pud�ssemos estar contigo
e compartilhar esse momento...

N�o era t�o simples como p�r
uma fita e faz�-la funcionar.

Quem tinha gravado, depois
podia voltar a ver as imagens.

Pela primeira vez, o computador
gravava o ato de ver,

agora lia o ato de recordar.

Em teoria, as duas fontes de informa��o,
junto com as grava��es em v�deo

permitiam ao computador traduzir
estas imagens em ondas cerebrais

e as reproduzir no c�rtex
cerebral da pessoa cega.

Dr. Farber, muita pobreza de imagens.
Nem mesmo 20%.

N�o podemos transmitir
a simula��o. Elas v�o perturbar-la demais.

Ronda?

A atividade cerebral est� desfocada.
As ondas s�o muito baixas.

Ele n�o est� preparado.

J� verifiquei todo o sistema.
N�o tem nada errado com ele.

Sua concentra��o est� em vermelho.
N�o � suficiente. Vermelho!

N�o fale comigo!

� um manipulador, Henry!

Usa a sua mulher,

usa a seu filho,

usa a minha gente.

Esvazie a mente!
Pare de pensar!

Henry! Est� piorando as coisas!

N�o posso trabalhar com nada.
N�o h� forma, nem defini��o, nem cor.

Esvazie a mente, Santo Cristo!
Fixe em um ponto!

N�o existe nada
mais que um ponto fixo!

Merda!

� uma loucura tentar
quando se est� cansado, Sam!

O que disse?

� uma loucura tentar
quando se est� cansado.

De qualquer maneira,
na ci�ncia sempre h� um amanh�.

N�o tente mandar em mim,
velho pat�tico!

Velho pat�tico?
Voc� nunca p�de resistir � press�o!

Chega de se
comportarem como crian�as!

Por que n�o me lembrava
de como voc� �?

Quando desapareceu na Am�rica
e achei que estava na pris�o ou morto,

perdi um ano inteiro de
minha vida para te encontrar!

- Alguma vez disse "obrigado"?
- Correto! Nunca!

Perdi minha mulher
e meu �nico filho por voc�.

O que eu poderia fazer, Sam? O qu�?

Podia ter acreditado em mim! Admitir que
estava errado, ao menos uma vez na vida!

J� basta. Parem os dois!

Sinto muito, Edi.

Toda vez que trabalho com ele eu acabo
errando. N�o importa o que eu fa�a. Toda vez!

Sinto muito.

N�o funcionou, n�o �?

Isso � tamb�m � algo bom.

O que aconteceu?

Toda esta viagem, para nada!

Boa tarde.

Um cara encantador,
seu novo namorado.

N�o sabe tudo o que passou!

Esse � o seu filho?

Cada vez que vejo um menino,
me sinto mal.

No aeroporto, quando vejo um menino
meus olhos se enchem de l�grimas.

� como uma doen�a.

� rid�culo.

Queria tanto abra��-lo,

que me doem os bra�os,
aqui e aqui.

Ele morreu?

N�o.

N�o, est�...

N�o tem por que ser assim.
Sempre foi assim, mas...

...mas havia algo mais.

Sempre estava orgulhoso de si mesmo,
mas sabia fazer coisas pelos outros.

Esse pessoal o adora!

Ajudou-os a combater o tracoma,

trabalhou como louco para
conseguir isso. E isso foi...

autru�stas.

Mas � ego�sta, � uma obsess�o.

Eu sou como ele.
Sou obsessivo.

Abandonei a minha fam�lia,

minha mulher e meu filho.

Eu rompi com eles em uma cabine
telef�nica em Coober Pedy.

Nada mais fazia sentido.

Quando encontrei meus pais,
gra�as ao David, quase por acaso,

estava t�o zangado com o Henry
que quase bati nele.

Pouco depois queria partir.

Por isso me ofereci para
gravar as fitas.

N�o porque fui uma boa pessoa.

N�o sou um cara
legal ha muito tempo.

N�o entendo por
que se preocupa tanto.

Em breve, estaremos todos mortos.

N�o em meu livro, n�o estamos.

N�o estou morto aqui, nem voc�,
estou te salvando, Winter!

Escrever n�o ajuda!

Suas hist�rias n�o me ajudam.

Winter, o futuro � sempre
fruto da fantasia.

Preocupa-me mais...

a realidade...

que a fic��o.

Preocupa-me o presente,
Fitzpatrick.

O presente sabe se
preocupar consigo mesmo.

� nosso dever preencher
o futuro com a imagina��o.

Merda! Parece que saiu
do inferno!

Este deve ser o para�so.

Est� limpo. Nada de radia��o.

Venha, vamos acomod�-lo.

O Natal passou em branco.

As noites do dezembro de 1999
estavam cheias de ang�stia.

As r�dios n�o transmitiam nada.

N�o sab�amos se as grandes cidades
do planeta ainda existiam,

Se existiam nossos amigos,
pais e filhos

ou se tinham acabado incinerados
ou doentes.

Todos compartilh�vamos dos mesmos
medos, mas ningu�m ousava falar disso.

Continuei a escrever minha novela.
Escrevia como um louco.

Escrevia sobre nossos medos,
nossas esperan�as.

Escrevia sobre Claire.
Escrevia sobre Chico, Winter e Burt.

Escrevia sobre a fam�lia Farber
e sobre seu feroz ego�smo.

Escrevia sobre os
abor�gine e tamb�m sobre mim.

Escrevia para que nada do que
pass�vamos ca�sse no esquecimento.

Escrevia dia e noite.

Claire n�o compreendia porqu� a
falha do experimento

era t�o grave, comparada
ao destino do mundo.

Mas assim era a fam�lia Farber,

seus experimentos eram mais
importantes que o fim dos tempos.

Bom dia, Ned.
Vamos ver essas fitas.

Sam n�o pensava em outra coisa.

Culpava-se,
inclusive em seus sonhos.

Acorda, Sam, vamos, dorminhoco!

Me deixe dormir, pelo amor de Deus.

Como vou fazer? Merda!
Estou t�o cansado.

Preciso dormir ou n�o
poderei transferir as imagens.

E se n�o conseguir,
nada ter� sentido!

Bom dia.

- Ah, eu sou Karl. Trabalho aqui.
- Eu sou Eugene.

Bem, fique a vontade.

Obrigado.

� legal.

- O que voc� faz?
- Eu sou um g�nio.

Bom dia, amigo.

Penso no Raymond.
Quando souber do dinheiro se zangar�.

Voc� n�o reservou parte do
dinheiro para ele?

N�o. Mas vou devolver,
j� me conhece.

Obrigado, amigo.

- Obrigado, o que?
- "Obrigado, amigo."

Se entendi direito,

voc� gravou a fita da irm�

o que significa que poderia
transmitir � m�e dele, n�o �?

Sou a �nica que pode.

Qual o problema?
Se pode faz�-la ver, fa�a.

Poder� ajudar o Sam?
Deveria ficar feliz!

- Ned, pronto para recuperar a imagem?
- O scanner est� no modo de espera.

Bom.

Quer passar por isso mesmo, Claire?

N�o, Henry, estou bem.

Ned?

Captura de imagens a 65%...
75%... e continuando.

- Espl�ndido. Ronda?
- Tudo perfeito.

- Chegou a 93%.
- Impressionante, nasceu para isso.

Armazenamento de imagens completo,
iniciando a simula��o.

Sonhava que Henry te devolveria
a vista, como sempre dizia.

N�o confio em simulador.
N�o, n�o e n�o.

N�o fa�a nada.

Segunda vis�o, preparada
para a transmiss�o. Henry?

OK, Lydia. Alguma obje��o?

O cora��o de Edith est� muito bem.
Respira��o normal. Todo OK.

As ondas est�o boas.
Ela est� em forma.

Bem. Preparados!
Inicie a transmiss�o!

10,

9,

8,

7,

6,

5,

4,

3,

2,

1, agora!

Cores...

azul,

amarelo,

vermelho.

Uma pessoa sentada

perto de uma janela,

uma fita azul na cabe�a

vestido amarelo,

sentada com as m�os cruzadas.

Pode ser... nossa filha?

Henry!

H� sombras nas paredes?

Uma jarra sobre a mesa,

cortinas vermelhas...

Que linda!

Henry,

olhe sua cara!

Est� chegando, Dr. Farber.

V� em frente, Elsa.

Que al�vio.

Estou muito zangada com voc�.

Pensamos que estavam mortos.

J� estava me acostumando
com a id�ia.

� estranho que
esteja acontecendo de verdade.

Te amo, m�e. � a mulher mais s�bia,
doce e forte que existe.

e estou feliz por saber que
finalmente pode me ver.

- Heidi, venha aqui.
- Sim.

- Mam�e, esta � Heidi.
- Tenho 5 anos.

Fui antes que nascesse.

Tem sua boca, mam�e.

Quer contar uma hist�ria � vov�?

Fale para ela do seu gato.

Venha, fale do gato!

Tem um novelo para brincar,
tem o corpo negro, a cauda branca,

bigodes cinzas e...

...pegou um...

rato!

Um s�!
Em casa n�o tem muitos.

Elsa, devo parar.
Doem-me muito os olhos.

Obrigada!

Parab�ns, Edi.

Obrigado.

Ei, n�o est� escrevendo sobre n�s.

N�o.

Assim,

e quando respirar,
quando chegar a esse ponto,

force aqui dentro.

Se for�ar o est�mago,
aumenta a respira��o.

assim mantenha todo o tempo.
Sem parar.

Hoje � um grande dia na hist�ria

e sua fam�lia est� orgulhosa

de estar aqui contigo no dia
em que poder� ver nossas fei��es.

Falo muito, eu sei.

- Anton, � para a Edith, n�o para o Henry.
- Eu sei.

Ol�, querida Edith.

Se pud�ssemos ao menos estar contigo
e compartilhar este momento.

De certa maneira, estamos.

Cada segundo que via,
olhava toda aquela gente.

Perguntava-me: ainda est�o vivos?

Senhora Farber,

acabo de ser testemunha de
um milagre e voc� tamb�m.

Claro que todos est�o vivos.

S� os milagres t�m sentido.

Ainda est� l�?

Sim.

Um velho e grande?

Sim, velho, grande...

com cauda.

Ah, Iritza.

Logo encontrar� a presa.

N�o parece ter pressa.

Poderia grav�-lo. Assim o veria.

Eu conhe�o ele.

- E a cara do papai?
- Henry,

Conhe�o-o melhor ainda.

- Nunca viu o seu rosto!
- Eu a conhe�o.

Onde est�o todos?

Os anci�es foram se sentar
com os jovens, falam das leis.

Querem assegurar-se de que seja passado.
Temem as radia��es.

Chamam elas de "o veneno do c�u".

N�o as compreendem, mas sabem
que destruir�o nossa terra.

Querem assegurar-se para que
todas as tradi��es perdurem.

A gente escreve can��es,
conta hist�rias,

grava detalhes em lugares sagrados.

Tiram tudo do lugar, como uma tra�a
que morre e logo vem outra.

Venham comigo,
disse a aranha � mosca...

- Oh, n�o, obrigado, Sr. Longlegs
- ...tenho outras coisas a fazer.

Obrigado, Sammy.

Aqui vamos n�s.

E agora ver� a Nora.

� incr�vel,
Sam me encontrou aqui na Sib�ria,

com tantos lugares no mundo.

Preferia que n�o me visse
nesse lugar horr�vel,

Mas, fazer o qu�?

Assim � o mundo.

Muito bem, Samuel. Bravo!

Voc� gostou? Eu fico realmente feliz.

Concentre-se naquela situa��o
foi dif�cil.

Faz frio na Sib�ria?

N�o, se esque�a do frio. O frio
era o menor dos problemas. Os olhos!

Os olhos?

Depois de ter gravado Fukosawa em
T�quio, n�o pude mais ver. Estava cego.

- Era o foco?
- N�o. Era o programa. � muito pesado...

Quando entrou em meu escrit�rio
em Berlim

Quem diria
que acabar�amos aqui!

Agora voc� tamb�m � um desaparecido.

Aqui estou.

Para o bem ou para o mal,

a qualquer cultura razo�vel
parecer-lhe-ia

um ser espl�ndido, n�o?

Tem que haver um planeta
com a est�tica justa,

onde as caras lisas
sejam horrendas e estas...

dobras e rugas e marcas...

s�o, s�o conhecimento,
s�o belas e inclusive sensuais?

Sabe, Edith,
me sinto um pouco t�mido.

Chega, Sam.
Quero voltar a gravar.

Droga.

Do que voc� ri?

- Sempre te achei sexy, papai.
- Cala a boca!

Edith Eisner tinha 8 anos
quando perdeu a vista.

Ver o mundo de novo
foi algo estimulante.

Mas tamb�m triste e confuso.

O mundo que descobri era escuro
e mais feio do que imaginava.

Seria mal educado dizer.

Sua pena era s� para aqueles

com olhos para v�-lo.

- N�o est� com fome, querida?
- N�o.

Um momento, amigos!

Ao final da primeira semana
registramos radia��es fracas.

A contamina��o
era insignificante,

mas era um desafio
para os otimistas.

Henry e eu estamos pr�ximos

dos Mbantua porque a muito
tempo atr�s, quase 40 anos,

eu vim escrever um livro
sobre as mulheres Mbantua.

Ent�o ambos trabalharam aqui?

Eu vim aqui para o meu trabalho.

Ele me seguiu porque me amava.

Eu tamb�m o amava.
Muit�ssimo.

Nos conhecemos em Lisboa.

Tinha 12 anos, ele 14.

- Fug�amos dos nazistas.
- Sozinhos?

Eu estava com meus pais.

Ele tinha perdido os seus.

Nossas vidas est�o cheias de
hist�rias tristes e hist�rias boas.

Fomos jovens amantes.

Voc� seguiu Sam em nossa aventura:

Berlim, Paris, Lisboa.

At� a Am�rica.

Nossos filhos s�o americanos.

Voc� deve ter sentido saudades
quando tiveram que se esconder.

Muit�ssimo.

- E Sam perdeu seu filho.
- Sim.

Seu neto...

- Diz que foi nossa culpa?
- Claro que n�o.

Pensa que �, mas nunca
ficar� com raiva de mim.

S� do Henry.

Sempre foi assim...

� sempre assim.

Os meninos... os homens...

Foi nessa tarde que me dei conta
do objetivo da viagem:

n�o provar a Claire o
quanto a amava

nem devolver a vista
a uma mulher cega.

O prop�sito de nossa viagem foi
que esta m�sica florescesse aqui

no fio do que provavelmente
seria o fim do mundo.

Assim toquei

e vendo os Mbantua fugirem das radia��es,
nas cavernas do laborat�rio do Dr. Farber,

notei que a m�sica
era uma ora��o

para um planeta Terra machucado.

- Obrigado, Claire.
- Deve estar muito cansada.

Querida, � magn�fico. V�
como ficam n�tidas as imagens?

Este computador
� pequeno, mas eficaz.

Edi, ser� que tem
for�as para...

- N�o, Farber, n�o tem.
- Cale-se, Maisie. Sim, tenho.

- Ol�, garotas.
- Ol�...

Madelaine, como est�?

Obrigado, Karl.

Pensou nas conseq��ncias
de tudo isso?

Farber pensa s� nos resultados.
Tudo e todos est�o em segundo plano.

Ele quer o Pr�mio Nobel.

Por devolver a vista aos cegos?

Est� brincando! O potencial dessa
m�quina � impressionante.

Pega a informa��o visual
diretamente do c�rebro.

Podem extrair sonhos
e v�-los na televis�o!

- Imposs�vel.
- Disseram isso a Galileu.

"Por isso se nega a devolver
o manuscrito de "Noa Noa",

escrito por Gauguin
sobre sua estadia no Tahit�.

Assim ficar� na Fran�a.
Do�-lo-� ao Museu de Arte Moderna."

Ah, sim.

"Uma aventura curiosa..."

Por ser escritor
n�o � r�pido com a m�quina!

Como se soletra "mol�stia"?

Preferiria voc� deprimido, Winter.

- Peter?
- Sim, Edith.

Onde chegou com o dicion�rio?

Estou em "inngirre".

Rosto!

Est�o escutando o Dr. Stanley J.
e o notici�rio da estrada.

S�o Bernardino, entre 10 e 405.
Um olhar ao tempo de hoje,

sexta-feira, 31 de dezembro de 1999,
o �ltimo dia do s�culo.

Funciona! Funciona!

Tem sinal! A explos�o aconteceu
s� no espa�o!

Temos uma r�dio de cristal.
Estava na esta��o de r�dio.

Escuta, escuta...
aqui est�o os fones.

Posso sintoniz�-lo em 274...

O mundo ainda est� vivo!

Era a festa
de Ano Novo de 2000.

Haveria festas em todo mundo,

mas nenhuma celebra��o poderia ser mais
feliz do que essa, na Austr�lia Central,

na terra do povo Mbantua.

Enquanto cant�vamos e dan��vamos
n�o sab�amos que um de n�s

n�o entraria no
novo mil�nio.

Que loucura! Mal descobrimos
que o mundo est� bem

e voc� canta para morrer!

O mundo n�o est� bem.

Voc� sabe que
o mundo n�o est� bem!

N�o pode decidir morrer.

N�o decido nada,

s� deixo que aconte�a.

Sinto muito, meu amor.
Te levamos ao limite.

N�o, Henry.

N�o h� nada por que se desculpar.
A vida termina.

Mas finalmente vi,
depois de todos estes anos.

Esta � a nossa
hist�ria, meu amor.

Que busca. Que dan�a...

Tesouro,
n�o fa�a isso comigo, eu lhe pe�o...

Escute...

Escute-os cantando.

"Penso nesses dias,
n�o esquecerei nenhum, acredite.

Aben��o a luz.
Aben��o a luz.

A luz que resplandece sobre ti,
acredite, embora voc� parta,

estaria comigo a cada dia,
acredite em mim.

Dias que
recordarei por toda a vida,

dias nos quais n�o se distingue
entre o certo e o errado,

Tomou minha vida, mas sabia
que logo me deixaria.

Mas tudo bem.

N�o temo o mundo, acredite.

Queria que hoje fosse amanh�.

A noite � escura, traz dor.

Deixa-a esperar.

Obrigado pelos dias,

os dias infinitos,
os dias sagrados que me deu.

Penso nesses dias,

n�o esquecerei nenhum, acredite.

Dias que
lembrarei por toda a vida!

Dias nos quais n�o se distingue
entre o certo e o errado.

Tomou minha vida, mas sabia
que logo me deixaria.

Mas est� bem assim.
N�o temo o mundo, me acredite.

Aqueles dias. . .
obrigado pelos dias,

os dias infinitos,
os dias sagrados que me deu.

Penso nesses dias,

n�o esquecerei nenhum, acredite.

Aben��o a luz.
Aben��o a luz,

que resplandece sobre ti, acredite.

Embora voc� tenha ido,
est� comigo a cada dia, acredite.

Aqueles dias..."

Umbjana, meu filho.

Meninos, saiam.
S�o coisas de mulheres.

Quando Edith Mbatjana foi enterrada,
na terra da Plan�cie do Canguru,

seu marido seguiu o rito abor�gine
at� a sepultura,

mas depois da cerim�nia
n�o seguiu o rito do luto.

N�o ocorreu a ningu�m que ele poderia estar
tentando infringir ainda mais s�rios tabus.

Venha, Henry. Vemos sair daqui..

Voc� sabe que � errado
voc� ficar aqui.

Errado para voc�,
certo para mim.

Sou branco.

- Adeus, Sam.
- Se cuide, Chico.

Adeus, Fritzpatrick.

Os detetives escrevem, Sr. Winter?

- Depende dos gastos.
- Mantenha contato.

Era fevereiro do ano 2000.
Chegou o momento de nos separar.

Winter, Chico, Buzzer, Burt
e Lydia voltaram para casa

pensando que tudo havia acabado.

Claire e Sam acreditavam ter
superado suas vidas passadas.

Estavam ansiosos para uma vida juntos
que apenas parecia estar come�ando.

Eu fiquei na regi�o. De qualquer maneira,
n�o me agradava voltar para Paris.

Encontrara a solid�o que
impulsiona o trabalho com disciplina.

Mudei-me para a antiga
esta��o de r�dio para escrever...

o que eu pensava que seria
o �ltimo cap�tulo do meu romance.

Mas ningu�m sabia que o Dr. Farber
perseguia uma nova linha de pesquisa

que nos faria realizar
outra viagem,

num caminho perigoso,
at� o jardim dos sonhos.

- Isso � uma quest�o de Pr�mio Nobel!
- Por devolver a vis�o �s pessoas, sim.

- Sim.
- Se for isso que voc� quer, tudo bem.

Eu fico.

- Bom.
- At� te ajudarei a escrever os artigos.

- Perfeito!
- Mas se mudar os objetivos, vamos embora

e este senhor vem conosco.

- N�o � ele quem deveria decidir isso?
- N�o, � uma decis�o da nossa gente

voc� quer gravar
as imagens de seus sonhos...

� meu irm�o, Henry.
Isso nunca mudar�. Nunca.

Ajudou ao nosso povo
e te agrade�o por isso.

Mas n�o entendia que queria...
Se Ronda n�o...

Peter, ningu�m nunca fez isso
na hist�ria do planeta!

- Foi um bom trabalho.
- Sim.

Pensa no que poder� pendurar
nas paredes

em vez das pinturas de meu povo:

pode expor o interior
de nossas cabe�as, nossos sonhos

e todos os conhecimentos
secretos de nosso povo. Sabe, Henry.

Acha que gostamos que entre em
nossos sonhos com a sua bela c�mera?

- Voc� tamb�m vai, Ned?
- Sim, vou com minha gente.

Deus! Esperem!

Est� tudo bem.
Ele est� em sono pronfundo.

N�o!

O que ele est� fazendo?

Est� tentando gravar
seus pr�prios sonhos.

A tecnologia � a mesma.
Pega os sinais cerebrais

e os converte em imagens na tela.

- N�o parece muito promissor.
- Veremos.

No in�cio s� o Dr. Farber
via aonde iria o experimento.

Ele e Karl trabalhavam
todo o dia.

Mas o fruto de seus esfor�os
parecia s�

um ritmo ca�tico de
ru�do digital, cores e sombras.

Mas ao final, formas
come�aram a emergir.

Dr. Jung, Dr. Freud...

Se pudessem nos ver!

Quando Sam percebeu que o computador
adentrava lentamente esse neste

novo universo, se deu conta de que para o
processo ser bem sucedido,

seu pai n�o poderia ser o �nico sujeito
desses experimentos.

Sam sabia o que seu pai
esperava dele.

N�o fa�a mal a ele.

� meu filho!

Conhecemos voc�.
Sabemos como o seu c�rebro v�.

E estamos preparados.

Aprendemos.

O que ontem era eletricidade,
hoje tem cor e movimento.

Olhe, um sonho!

Eu n�o deveria ver isso.

Ronda?

OH, Claire, olhe!

Fizemos progressos.

A cacofonia de ondas cerebrais transformada
em uma sinfonia de cores e formas.

Imagens bioqu�micas.

Se eu fosse Sam, isto
me faria sentir muito bem.

- A m�sica das esferas!
- Que lindo...

O papel de parede � bonito.

Est� olhando a alma humana,
cantando para si mesma!

Seu pr�prio Deus!

N�o sei nada de Deus.

O Deus que h� em n�s.

Olhe, n�o significa nada.

- Significa tudo.
- Nada! Nada, querida!

- Nos devorar� vivos.
- Nunca.

- Temos que parar.
- Parar? Como?

Sempre quisemos isso.
Vivemos por isso.

Como podemos
nos afastar disso?

N�o temos o direito.

Merda, outra vez isso...

- Seu cara! O rosto de Sam!
- Eu consigo ver isso.

- Ele tem medo.
- Talvez.

- N�o v�?
- Sabe o acho que est� acontecendo aqui?

Eu acho que o computador
est� fazendo isso.

O computador est� interpretando.

Ele est� tentando transmitir uma imagem
equivalente �s emo��es de quem sonha.

Quando voc� v� seu
pr�prio rosto nos seus sonhos?

- Me vejo com freq��ncia nos meus sonhos.
- Voc� v�?

- Voc� n�o?
- Nunca.

Bem, n�o est�? N�o tem curiosidade de saber
como s�o os seus sonhos?

- Claro.
- N�o est� muito claro pra mim.

- S� isso? O computador vai aprender.
- Bem, se essa for sua preocupa��o, relaxe.

- N�s os teremos mais claro que um cristal.
- Relaxe.

Qualquer dia.

Eu n�o gosto realmente do meus sonhos.
A maioria s�o pesadelo.

Voc� tem que pensar neles como
se estivesse indo a outro planeta.

� como se voc� fosse a
primeira mulher a andar...

- Em V�nus.
- Em V�nus, sim.

N�o est� querendo nos dizer que vai recusar
a chance de ver seu pr�prios sonhos.

- Vamos...
- E ent�o desistimos.

- E ent�o desistimos.
- E ent�o desistimos.

- O que � isso?
- E ent�o desistimos.

- De acordo. Desistiremos. Trato feito!
- Mesmo?

- Mesmo?
- Prometo.

- Esta tarde?
- S� uma vez.

- OH!
- Assim que se faz. Promete?

N�o, ela n�o confia em n�s.

Claire n�o podia negar
a Henry Farber

a oportunidade de gravar seus sonhos.

Visto o �xito com Edith,
era a candidata ideal.

Transmitira mais informa��es
visuais detalhadas na primeira vis�o

e ampla gama de cores na segunda. Era
tecnicamente compat�vel com o computador.

- Que valor tem a banda?
- OK. N�o h� perigo de sobrecarga.

Quem poderia saber que, adormecido em seu
interior, estava sua propens�o para o v�cio?

Olhem!

Sou eu. Estou diante da casa
onde morava aos 4 anos.

Devo ter sonhado toda a vida
e nunca lembrei.

Quero ver outra vez!

Me deixe trabalhar, Claire.
Teremos uma imagem melhor ap�s...

Acredito que teremos que isolar...

Sam, Viu?
Era eu quando pequena.

Sim. Me d� um minuto.

Eu sugiro que trabalhemos nisso, e se
conseguirmos, tenho certeza de que ser� f�cil.

Vou colocar pra rodar.

Quando viu o mundo perdido
de sua inf�ncia,

Claire n�o teve escolha,
desejou ver ainda mais.

E se limitarmos o movimento
� quantidade de vis�o?

Se adaptarmos os dados do sonho
aos valores da convers�o...

Durante as semanas seguintes,
o laborat�rio fervia de atividades.

Os computadores continuamente
processavam grande quantidade de dados.

Enquanto uma pessoa dormia, os outros
trabalhavam em excesso sobre as telas,

esperando, olhando, desejando
ver um sonho.

Logo eles foram fisgado. Todos eles.

Viviam para ver os seus sonhos,

e quando dormiam,
sonhavam com seus sonhos.

Tinham chegado juntos
� ilha dos sonhos,

mas em pouco tempo,
oceanos os separavam.

Eu olhava impotente como Claire e Sam
estavam se afogando em suas fantasias noturnas.

Ignoravam-se, descuidavam-se.

Os sonhos, que deveriam ter sido
esquecidos no primeiro bocejo,

viraram sua �nica dieta,
cada vez mais concentrada.

fabricaram para si mesmo monstros
que n�o podiam tolerar,

mas tampouco viver sem eles.

Cada vez que chego a esta
parte do sonho tudo fica confuso.

Quero sonh�-lo outra vez
para defini-lo melhor.

E mais, posso desvi�-lo
para outra dire��o.

Vagavam por mundos perdidos,

emo��es e imagens emergiam
de um passado esquecido.

Os sonhos se converteram em
buracos negros de isolamento.

Por fim, perderam todo o
contato com a realidade.

Quando jovem era t�o feliz!
Mas logo, caio.

Por que caio sempre?

N�o me deixem sempre sozinha!

Por que sempre me deixam sozinha?

A queda.

O tempo.

A solid�o.

O medo.

Ol�, Claire.

Como est�?

- Posso ver?
- N�o.

- Por favor.
- N�o.

H� um linha que nunca
deveria ter sido cruzada.

N�s a cruzamos
faz tempo.

Quando fui salvar Claire,
a �nica coisa que a preocupava

era ter bateria nova
para seu monitor de v�deo.

Boa sorte!

Bateria fraca!

Se tivesse dado a bateria para o
monitor dela, teria sido seu amigo.

Mas n�o dei.
Ent�o virei seu inimigo.

N�o deixava que a tocassem.
N�o queria que a alimentassem.

Queria ajudar Claire,
mas n�o sabia como.

Acreditava que tinha que expulsar
todas as imagens absorvidas.

Estava cansado no po�o
do narcisismo.

Tinha que chegar
� luz por si mesma.

Fa�a funcionar.
N�o pode faz�-lo funcionar?

N�o, Claire, est� morto.

Eu estou morta!

Meu cora��o morreu.

Sempre gostei do come�o
do evangelho de S�o Jo�o:

"No princ�pio, era a palavra."

Agora temia que o Apocalipse fosse:
"No final, eram s� imagens."

N�o sabia qual seria a cura
para a doen�a das imagens.

Eu s� sabia como escrever.

Winter uma vez me disse:

"As palavras n�o nos ajudar�o agora,
Sr. Fitzpatrick",

mas palavras eram tudo o que eu tinha.

Algu�m tinha ganho a recompensa
de 500.000 d�lares da CIA.

Em 20 anos o governo dos EUA
me revelaria quem,

mas n�o agora, n�o neste livro.

S� soube que dois homens foram
capturar o Dr. Farber de helic�ptero

para lev�-lo aos EUA.

Compreendi porque Henry tinha tirado
imagens das ondas cerebrais:

sua mulher existia
s� em seus sonhos.

Ele a tinha procurado ali
e a tinha encontrado,

ou melhor, n�o a ela,
mas sim sua mem�ria dela

e sua vis�o de si mesmo.

� hora de fazer as malas.
Onde est� seu filho, Dr. Farber?

Eu fui...

arrancado de mim mesmo.

Meu cora��o,

meu cora��o se extinguiu.

Extinto!

Os p�ssaros!

"No princ�pio era a palavra".

"As palavras n�o nos ajudar�o agora,
Sr. Fitzpatrick".

Eu acreditava nas palavras.

E no poder m�gico e curativo
de narrar hist�rias.

Fiz a �nica coisa que sabia fazer:

continuei escrevendo
a hist�ria de Claire,

com a esperan�a de que
algum dia ela a lesse.

Escrevi que ela estava bem.
Escrevi que ela estava feliz.

Pedi que a verdade das palavras

tranq�ilizassem o grito
dos p�ssaros brancos do c�u.

Os agentes do governo
procuraram Sam por horas

e deram voltas no labirinto
onde se escondeu.

O teriam encontrado
se ele quisesse ser encontrado,

mas era imposs�vel resgatar um homem
perdido no labirinto de sua pr�pria alma.

� hora de tirar essa merda do
seu sistema, de uma vez por todas.

Vamos!

Te levarei para os mais velhos.

Dormir� com eles.
V�o tirar seus sonhos.

Vamos.

Eu te levo.

� meu irm�o.

Vamos!

N�o me diga!

Sei, sei.

Pedra.

Mosca, me deixe em paz.

N�o me atrapalhe.

10.000 voando sobre mim.

O que acha?

Mas e agora,

o que acontece?

Voc� tem que inventar!

Voc� intitulou
"A dan�a ao redor do Planeta".

Sim,

quero que voc� dance.

S� depois me dei conta
de que Sam Farber

ficou no interior do laborat�rio
no mesmo momento

em que Claire e eu est�vamos sobre
a ponte quebrada, do outro lado.

Foi possivelmente a �ltima vez
que estiveram perto.

Naquela manh� de abril
j� n�o tinha um rival.

E ainda assim, Claire e eu
t�nhamos superado tudo isso.

N�o h� como voltar atr�s.

N�o ser�amos um casal novamente,

n�o um com o outro, nem com nenhum outro
durante um bom tempo.

Mas sempre ser�amos amigos.

Queria ver como
Claire envelhecia,

mais que tudo, queria v�-la mudar e
ser a pessoa melhor que jurara ser.

Escrevi um final para a novela,
onde Sam e Claire se reencontravam

no mesmo bar de
S�o Francisco, o Tosca.

Escrevi, mas rasguei as p�ginas
e contei a verdade.

Sam realmente voltou
para S�o Francisco,

mas s� para descobrir que tinha perdido
para sempre a mulher e o filho.

Nunca mais viu seu pai,
s� sua tumba.

O Dr. Farber levou com ele
o segredo da m�quina dos sonhos.

Quanto a Claire,

da ultima vez que tive not�cias dela,
estava trabalhando para o Green Space.

Sua incr�vel vis�o
a tinha levado

ao observat�rio espacial.

Ela e a tripula��o orbitavam

ao redor da Terra observando
a contamina��o dos oceanos.

Ela ficou l� por 6 meses. Completou
seu trig�simo anivers�rio no espa�o.

Ol�, Claire. feliz anivers�rio!

Estou em Nova Iorque.
O livro saiu hoje. O que acha?

Ah, n�o tenho muito tempo.
Posto telef�nico, teleconfer�ncia...

Est�o preparados, meninos?

1, 2, 3, 4...

Feliz anivers�rio!

Feliz anivers�rio, Claire!
Feliz anivers�rio para voc�!

Pela mem�ria de meu pai e de meu irm�o,
pela minha m�e, Barbara, Hella e Michael.