All language subtitles for The Sword And The Dragon (1956) Aleksandr Ptushko

MOSFILM

ILIÁ MÚRAMETS

Inspirado em contos épicos russos.
Argumento - M. KOTCHNEV

Realização - Aleksandre PTUCHKO

Fotografia:
F. PRAVORAV, I. KUN

Cenários - I. KUMANKOV
Música -Igor MAROZAV

Legendagem em português -
Alexandre BAZINE

No papéis:

IIiá Múramets - Boris ANDREIEV

O príncipe Vladimir - A. ABRIKOSSAV
A princesa Apráksia - N. MEDVEDEVA

Vassilissa - N. MICHKOVA
Sakolnitchek - A. CHVORINE

Michatichka - S. MARTINSON
Dobrínia Nikititch - G. DIOMINE

Aliocha Papovitch - S. STALIAROV
Engenhocas - M. PUGAVKINE

Kassian - V. SALAVIOV
Alionuchka - I. AREPINA

Sbrodavitch - V. TIAGUCHEV
Plentchiche - N. GLADKOV

O czar Kaline - C. BURKHANAV
Sartak - S. DJAMANAV

Nevrui - M. RISKULOV
Azviak - C. TIUMENBAIEV

A dança túgara -
AN SON HI

Uma produção dos estúdios
Mosfilm, 1956

Muitos anos de vida e bem-estar,
herói, bagatir Sviatagor!

Quando desce o nosso bagatir das
montanhas altas à terra-mãe?

Não está tranquilo nas fronteiras
da Rússia.

A terra-mãe não me suporta mais.

A Rússia espera um novo herói.
Um bagatir jovem.

Vós, que sóis peregrinos,
correis o mundo todo.

Se calhar encontrardes esse bagatir,

passai-lhe a minha invencível
espada de aço.

Adeus, Sviatagor.

Eternamente viverás na nossa canção.

Viburno mais framboeseiro,

Casa da ave azul.

O trabalho não anda,

Nas mãos de quem não tem amor...

De quem não tem o amado...

Deus deu-lhe um físico portentoso,

mas condenou-o a uma vida sentada.

Túgaros! Túgaros!

Malditos sejam, infiéis!

Uma boa brincadeira para o nosso cão!

Mirzá Sartak, vimos uma caravana do
príncipe do outro lado do rio.

Não vos deixarei levar a minha
filha querida!

Ah, mãos que nada seguram...

Pernas, que nunca andaram...

Vassilissa, minha querida!

Não me mates! Por ti, farei tudo!

Jura servir o czar Kaline
até ao último suspiro.

Juro servir o czar Kaline
até ao último suspiro.

Jura com sangue!

Juro com sangue exterminar
todos os heróis-bagatir de Kiev!

Depois de dares cabo deles, informa.

Mandarás este lenço ao meu czar.

Espero notícias tuas no dia do deus
Perun, perto dos rápidos Kassojskie.

Se me enganares,
arranca-te as veias vivo.

- Tenho sede.
- Aguenta.

Bom dia, jovem falcão!
Qual é o teu nome e apelido?

Sou IIiá, filho de Ivan.

IIiá, traz-nos de beber.

Dava-vos de beber,
mas não posso levantar-me.

Entra¡ e bebei.

Vós, peregrinos, que sois gente boa
e de ciência,

podeis explicar-me o que se
passa na nossa terra?

Os túgaros malditos afogaram
a nossa terra em mágoa.

Se tivesse força, não deixava que
ninguém maltratasse a minha Rússia.

Bebe, IIiá, este sumo
da erva de erguer!

A erva de erguer é a rainha
de todas as ervas.

Não te sentes mais forte, agora?

Parece que sim.

Mas as pernas e os braços
não querem obedecer-me.

Espera, IIiá, quem sabe,
talvez ganhem força.

Nos céus

Só há um sol.

Na Terra

Só há uma Rússia.

O hediondo czar Kaline

Prediz um dia final,

A morte de Kiev,

A morte da Rússia.

O inimigo caiu sobre nós

Como uma nuvem negra.

Cativa e leva com ele

As nossas mulheres e filhos.

Vós, de espírito russo

E força heróica,

Inflamai-vos de fogo,

Defendeis a Rússia com o vosso peito.

Toma, IIiá, o legado de Sviatagor.

Obrigado, gente de bem.

Corta com a espada o que estiver de
pé, mas não toques no deitado.

Não envergonharei uma espada
de bagatir.

Boa lavoira e bom trabalho,
Mikula Selianinavitch.

Igualmente, Ivan Timafeievitch.

As minhas mãos anseiam
por trabalho pesado.

Vou ajudar os meus pais.

Arrancarei os troncos e os cepos.

Limparei a terra de pedras e calhaus.

Foste dura qual pedra, minha terra,

fofa qual penugem te farei.

Levantou o voo o nosso falcão,
batendo asas fortes.

- Pôs-se de pé o nosso filho.
- Vais ajudar-nos a arar a terra.

Perdoa-me, mãe.

Não nasci para amanhar a terra
e arranjar sustento.

O czar Kaline aponta uma
flecha mortal ao coração de Kiev.

Não compete ao bagatir
esconder-se em Karatcharava.

Dai-me a vossa bênção,
que vou à cidade de Kiev.

Custa-me dar-te a bênção.

Não a peço para uma festança,
mas para servir à Rússia.

Dou-te a minha bênção
para obras boas.

Mas não tens a nossa bênção
para obras más.

Nunca esquecerei
as vossas palavras.

Vais precisar de um bom ginete
para tamanhos prodígios.

Leva o meu Buruchka, IIiá.

Não estranhes a sua pequena estatura.

Lava-o três vezes em orvalho,

e terás um cavalo portentoso.

Sê, meu Buruchka, mais veloz
que o veado graciosa.

Nada melhor que o lúcio.

Corre como o lobo pardo.

Voa pelos céus como um falcão.

Sê surdo para as chamadas de outros.

E aproxima-te como um furacão
ao meu assobio.

Serás meu amigo em todas as empresas,
em todas as batalhas.

Quem à direita for,
rico será.

Quem à esquerda for,
em breve se casará.

Quem em frente for,
morto será.

Casar é cedo,

a riqueza não me dará alegria.

Seguirei o caminho que
a morte me destina.

Escolheste o caminho da morte.
Morto serás.

Porque te tremem as patas,
corcel de bagatir?

Nunca terás ouvido um assobio?

Pensar que um mocho destes
provocou rios de lágrimas!

Levo-te ao grão-príncipe.
Ele que te julgue.

Boiardos, príncipes e regentes,

guerreiros fiéis, reuni-vos,

que juntos vamos pensar
e juntos julgar.

É contigo, grão-príncipe,
que vamos pensar

e julgar, como é próprio de príncipe.

Manda castigar o Engenhocas,
nosso Solzinho.

Arrancou o rabo à minha égua.

Bandido...

- Cortou também as tuas árvores.
- Roubaste-me as árvores?

Roubei, mas foi por bem.

Quero fazer uma flecha de fogo
para os tempos agrestes.

E não tenho madeira.

Por isso fui trabalhar
como carpinteiro para este boiardo.

Pelo meu trabalho, deu-me a égua
para ir ao bosque uma só vez.

Mas deu-ma sem arreios,
o unhas-de-fome.

Tive que atar a telega ao rabo
da égua.

Esta prendeu-se a um tronco.
E a égua ficou sem rabo.

Manda acorrentá-Io, preclaro.

Mando e ordeno! Tu, boiardo,
darás a tua égua ao Engenhocas,

que trabalhará com ela no meu bosque,
até lhe crescer outro rabo.

Não me destruas, preclaro!

E tu, Engenhocas, faz flechas
e mostra-mas.

Assim farei, nosso Solzinho!

O bagatir Dobrínia
regressa de Constantinopla.

Estão todos convidados
para o banquete solene.

Quem não couber dentro,
será homenageado fora.

O embaixador Dobrínia
regressa de Constantinopla.

O grão-príncipe convida todos
para o banquete solene!

Alionuchka, vais ao banquete?

Vou, Aliochenka!

És ainda nova
para participares em banquetes.

Oh, vou cair!
Arranhar a minha pele branquinha!

Não te aflijas, beldade,
safe-te da aflição.

Glória e saúde, ao nosso preclaro
príncipe Vladimir!

Glória e saúde à nossa
preclara Apráksia!

Glória e saúde ao nosso valente
Dobrínia!

Glória e saúde aos nossos defensores!

O que tu idealizaste,
eu cumpri na viagem.

O rei Zbrut fez voto
de viver em paz e amizade com Kiev.

Vou-te recompensar, Dobrínia.

O primeiro lugar, é ao lado de mim.
O segundo, em frente de mim.

E o terceiro é onde quiseres.

Senta-te com a gente, Dobrínia!

Agradeço a honra, príncipe.
Mas o meu lugar é entre os bagatir.

Assim seja! Oferece¡ ao nosso varão
o doce vinho de Chios.

Não prezamos ouro nem prata.

Prezamos o brio heróico!

O ouro e a prata acabam,

as empresas heróicas nunca se esquecem.

Gente de bem, quem é
o príncipe Vladimir?

Estás perdido, pobre mujique!
O teu lugar é na mesa de baixo.

A mesa pode ser baixa,
mas o convidado alto.

Não estou aqui para me regalar,
estou aqui para prestar um serviço.

Põe-te a léguas da mesa dos bagatir!

Heróis? São os que batalham
as donzelas atrás das eiras?

O boiardo Michatitchka
com valiosos presentes!

Nosso Solzinho valiosíssimo!

Colhi os preitos e tributos.

Derrote¡ os teus inimigos.

Cheguei a ser ferido pelos infiéis
junto da aldeia de Karatcharava.

Mas destrocei Sartak.

Se preciso, dou a vida
pelo nosso pai-príncipe.

Nós, os boiardos, somos assim!

Fiz em pedaços o Bandido Rouxinol!

O teu boiardo mente.
Nunca viu o Rouxinol!

De onde vens, corajoso?
Quais os teus nome e apelido?

Sou da aldeia de Karatcharava,
da cidade de Muram.

Chamo-me IIiá, IIiá Ivanavitch.

- Viste o Rouxinol?
- Vi! Até to mostro.

Aqui está o Rouxinol,
filho do infiel Adikhmanti!

- Diz ao bandido para assobiar.
- Para o admirarmos.

Cuidado, é perigoso.

Assobia, Rouxinol,
mas só a meios pulmões.

- Alionuchka, espera!
- Olha o corajoso!

Amo-te mais do que a mim próprio.

Os meus irmãos, porém,
não me deixam amar.

Se não fores minha,
não viverei!

Talvez seja o Rouxinol.
Mas não o verdadeiro.

O verdadeiro foi por mim
afogado no rio Smarodinka.

Porque te calas?

IIiá Ivanavitch, cala, por favor,
o bandido Rouxinol.

Não é do nosso agrado
esta brincadeira.

Já bondam as lágrimas de mães e pais,

já basta de órfãos pequenos.

Mas o mujique de Karatcharava
é um valentão!

É parati, IIiá, como recompensa
pelo Rouxinol.

E da¡ ao Rouxinol
o que merece.

Gosto de homens como tu,
IIiá Ivanavitch!

Não te aborreças com Aliochka.
Não é muito forte, mas é audacioso.

- Confraternizamos?
- Confraternizamos.

Amarra o teu ginete ao lado do meu.

Façamos esta jura:
o irmão mais velho ouvirá o mais novo.

E o mais novo, o mais velho.

E um por todos! E todos por um!

Defendamos de peito aberto
a terra russa.

Tem força inesgotável
e inteligência que lhe chegue.

Longos anos de vida
ao nosso valentão!

- Põe a panóplia nobre!
- Agradeço-te, príncipe.

Desgraça! O czar Kaline manda-nos
embaixadores que ninguém esperava.

Dai-lhes as boas vindas
com pão e sal!

E eu dava-lhes era com um eixo
da telega. Tanto mal fizeram!

Coragem não te falta! Queres
ensinar o príncipe a governar?

Tal czar, tais embaixadores.
Vamos vê-los, vamos ouvi-los.

O czar Kaline manda cobrar a Kiev
doze anos adiantados

de tributos e preitos.

Ou damos cabos de tudo!
E limpamos os baús dos boiardos.

Grande embaixador, come e bebe.
Nós pagamos tudo.

Com pão e sal não se compra
o embaixador!

- O labrego que nos mandaram!
- E um palerma que não sabe nada.

Se tu, príncipe, não os mandarás
calar, mando-os eu.

Kiev saúda o juízo e não o traje.

Eu faço-vos respeitar o czar Kaline.

Não estarás a gabar-te demasiado,
cachorro?

Tu, mujique, serás primeiro
a ficar sem cabeça.

Aqui tens os nossos respeitos
com juros!

Besta infame!

Correi, malditos,
cada um para o seu lado,

e espalha¡ a nova

de que a terra russa não está órfã!

Lava as mãos, herói,
no límpido orvalho!

Este bagatir é ainda mais forte
que Dobrínia.

- E mais corajoso que Aliocha!
- E tem a força de Sviatagor!

Pelo teu brio, fazemos-te uma panóplia
mais bela que a do príncipe.

Esta é uma lança forjada em Kiev.

Agradeço as boas palavras.

O Príncipe!

Pelos méritos que Kiev te reconhece,

vamos homenagear Múramets!

Ou eu dou cabo desta besta,
ou ela dá cabo de mim.

O czar Kaline não me perdoará!

Foi assim que perdi
a minha Vassilissa...

Arranjamos-te uma noiva nobre.

Não me interessa a linhagem,
nem a riqueza, mas tão-só o amor.

Só que o meu amor foi cortado
por um vil túgaro.

De resto, vim prestar um serviço.
Dá-me uma missão heróica!

Protegerás os acessos
de Staradubavets.

Enquanto houver caravanas,
partilhemos a riqueza russa!

Isto é parati, prata da mais pura.

Isto é parati, ouro do mais puro.

Quanto a mim, fico com
a donzela que está cativada.

Pela donzela, dou-te
toda a minha prata.

Por ela, leva todo o meu ouro.

Não a darei nem ati, nem a ti.

Levá-Ia-ei ao czar Kaline.

E por ela receberei
meio-reino dos túgaros.

Mentira, almas inimigas!

Nunca será assim, como tramais,
infiéis!

Vou libertá-la e entregá-la
aos pais dela.

Estarei a sonhar? Com visões?

És mesmo tu, minha alma?

Querido IIiá!

Ninguém te me roubará: nem o falcão,
nem o corvo, nem o túgaro!

Tens que ir buscar salmão branco
para o grão-príncipe.

Salmão branco!

Estou cansado de fazer recados
ao príncipe!

A minha casa nada fica a dever
à do príncipe!

Claro, porque os teus homens
caçaram as minhas zibelinas

do outro lado do rio Saragá.

E tu? Quem te deu o direito
de pescar no rio Putchai?

O rio é dos boiardos Plenkovitch.

- Mentira! O rio é meu!
- Não, é meu!

Fizeste o casaco das minhas
zibelinas, bode velho!

Ajuda-me, amigo!
Vou fazer guerra aos meus inimigos!

Não sois boiardos, mas velhos
caquéticos! Que vergonha!

O Príncipe!

Outra vez em guerras intestinas,
ricaços de linhagem!

Basta eu desleixar-me um pouco
para estilhaçardes a Rússia.

Matvei, tenho um serviço para ti.
Conduzirás a minha caravana

com peles e cobre
para além dos mares dos Varegues.

Voai, passarinhos, voai,
Canta¡ sem parar.

De Sol a Sol
Me ajuda¡

Pombos, meus pombinhos!

Dos campos uma espiga cheia
Me trazei

Para dela adornos
Eu fazer.

Pombos, meus pombinhos!

Despacha-te, esquilo,
Ouriço, hábil sê.

Faço tudo isto
Por quem amo e adoro.

Não é em vão o meu trabalho,
Em que tanta seda gastei.

A toalha mágica
Tudo recompensará.

Tu sabes fiar e tecer,
querida Vassilissa.

Por onde tens andado,
que andaste a fazer, meu falcão?

Combati¡ nas estepes o Mau zarolho.

Mas a tua flecha bem temperada
chamou-me para casa.

Esta flecha para mim vale mais
de quinhentos rublos ou até mil.

E o lenço... Bordado a ouro.

Não é lenço, é uma toalha mágica.

Para quem fizeste esta maravilha?

Para quem amo e adoro!

Descansa, minha rola diligente!

Olha em tua volta,
como é bela a nossa terra!

Porque estás tão triste, meu amor?

Não é para sempre que nos despedimos.

Escorraçarei o inimigo das sete
fronteiras, acabarei com a traição

em Kiev, e na Primavera estarei
em Karatcharava para te ver.

Nesta hora de despedida,
abre-me o teu coração,

revela-me os teus desejos.

Dá-me um filho-herói,
que não tenha adversário igual.

Os rápidos falcões são testemunhas
do nosso amor.

Se me deres um filho, põe-lhe
Sakolnitchek, que quer dizer Falcão.

Sempre que vir um falcão no céu,
pensarei no meu filho.

Deus me deixe criar o filho
e pô-Io a cavalo.

Quando o nosso filho nascer,
dá-lhe isto.

Este anel foi-me dado pelo príncipe.

A bétula branquinha

Com as folhas a água quer tocar.

Despedi-me do meu amado,

E o meu coração está-se a despedaçar...

Derramo as lágrimas quentes

No rio frio.

Um pressentimento amargo

É como uma nuvem negra...

Avante!

Não te aflijas, donzela, atrás de
Assinavets fica Krestianavets.

E de Krestianavets a
Karatcharava é um pulo.

Matvei, uma desgraça! Os túgaros!

Aqui¡

Kaline vai ficar contente.

Dai-lhe vinho, dai-lhe bolo.

Matvei? És tu?

Não me mandes executar,
deixa-me contar-te novas.

Fala!

A tua caravana foi assaltada
no rio Buzine pelos infiéis.

Só eu me salvei, e por um triz.

E Múramets, porque não te defendeu?

Eu não disse que está a divertir-se
com uma mulher no quentinho.

Quer Iá saber de batalhas.

Não deixeis IIiá aproximar-se de nós
durante três anos, pelo seu desleixo.

Sem IIiá, Kiev ficará órfã.

Se não o prezasse,
metia-o nas masmorras.

Olá, guardas, que façais um serviço
digno de elogios.

A nossa missão é pouco agradável.

Mandaram-nos barrar-te o caminho
para Kiev.

Traz-me aqui uma preocupação
muito grande.

É urgente extirpar a traição
do palácio.

Não o deixeis entrar no palácio!
Ordem do príncipe.

A conjura é tua,
apaziguador do Rouxinol.

Vassilissa contou-me
a tua infame traição!

Não fazes falta nenhuma a Kiev.
Vai-te embora daqui!

Cuidado, conspiradores, ainda hei-de
meter-vos onde vivem as baratas.

- Enforcamo-Io?
- Executamo-Io?

O príncipe que trate dele.

Se não faço falta ao príncipe,
não me fazem falta as prendas dele.

Se arrasto o casaco por uma manga,

arrastarei os boiardos
pelo couro cabeludo.

Não são poucos os que comem
e bebem no palácio,

mas com o túgaro à porta,
quem defenderá Kiev?

Os boiardos são corajosos,
quando o inimigo anda por longe.

Sanearei o palácio da traição.

O príncipe irrita-se depressa,
mas não guarda rancor.

O príncipe convida-te
para o banquete.

Não prezamos o banquete,
mas a honra de defender a pátria.

Não vás, IIiá!

Lembra-te da nossa jura: o irmão
mais novo ouvirá o mais velho.

É esperto o príncipe, soube
escolher bem o mensageiro.

Se não fosses tu, Dobrínia,
nunca ia ao banquete.

Porque armaste o arco
no meu pátio?

Queria disparar uma flecha
contra o teu palácio.

Mas não disparei!

Pisou com os pés o teu casaco,
dizendo:

Pisarei de igual modo o príncipe Vladimir.

Disse, sim! Todos o ouvimos!

Disse. Mas não com essas
palavras. Os teus boiardos mentem.

- Quer trair Kiev!
- Conspira com a gente má!

Sai, má!

Estão a conspirar contra ti.

A traição não anda nas ruas, príncipe,

escondeu-se no teu palácio.

Não acredito mais na tua palavra.

Que fazemos ao traidor?

Fechai-o nas masmorras. A pão e água.

A ver se ganha juízo.

Obrigado, príncipe, pelo convite.

Também te agradeço, Dobrínia.

Julguei-te justo, príncipe!
Larga IIiá!

- Gabou-se que reinaria em Kiev.
- Está decidido. Levai-o.

Nas masmorras, a pão e água.

Só não reduzo isso a escombros
por ter pena dos adornos.

Ainda hás-de pedir-me perdão.

Então, levai-me, bajuladores.

Não ofendestes Múramets,

arrancaste a espada às mãos da Rússia!

Juramos neste instante nunca mais
servir o príncipe Vladimir.

Abandonamos Kiev!

O que estás a fazer
é injusto, príncipe.

Liberta IIiá e dá-lhe
uma aldeia de recompensa.

Pelas inúmeras boas ações que fez
à Rússia.

Dá-lhe de comer e de beber quanto
queira. Ainda vai arrepender-se.

O aldeão pensa-se mais alto
que o príncipe de Kiev.

Já disse: alimenta-o para estar
sempre farto!

Alimenta-o, para estar sempre farto!

Não lhe de¡ de comer, nem de beber.
Nem nunca o farei.

Há muito que esticou o pernil à fome.

Paizinho Dniepre, leva a minha nova
no dia do deus Perun

aos grandes rápidos Kassojskie,
onde acampam os túgaros.

Que brincadeiras são essas?

Raios te partam!

Monte¡ a armadilha à marta,
e apanhei umas calças de boiardo.

Esta chave foi forjada por mim.

E se é um túgaro que nos quer mal?

Ora bem, vou ajudá-Io!

Agora, sim, vai para onde quiseres!
Nem que seja para além dos 7 mares!

Czar Kaline, que grande alegria!

Vladimir meteu IIiá Múramets
nas suas fundas masmorras.

E os seus guerreiros foram para casa.

Vou atacar a Rússia!
Varrerei Kiev da face da terra!

Selar os cavalos!

Chegou aos rápidos Kassojskie.

O boiardo honrou a sua palavra.
Mandou-me a nova no dia de Perun.

Narra Iá as novidades!

Ah, meu deus Bakhmut!

Interpreta, Nevrui!

Kiev inclina-se perante Kaline.

É um sinal de pujança
do inquebrantável Kaline.

São dois tubos, o da terra e
o do céu, que glorificam Kaline!

São dois caminhos que levarão o
temerário Kaline a Kiev!

O mirzá Azviak proferiu a verdade!

É o portão que Kiev abre
ao czar Kaline.

Ouvis? Kiev abriu-me o portão!

Não irei contra a Rússia.
Desselar os cavalos.

Tens apenas dois aninhos,
mas és mais forte que um carvalhinho.

Cresce, meu filho, sê forte e rijo
como o teu pai.

Sakolnitchek, alegria dos meus olhos,

quando fores grande,
guarda a prenda do teu pai.

Vai brincar.

Ama-me, minha formosura.

Casar-me-ei contigo.

Não me pegues nas mãos!

Não me dês beijos, Kaline!
Quem és tu ao lado do meu amado?

Os czares só podem falar comigo
prostrados.

Melhor me atirasses às feras!
Odeio-te!

Faço-te em pedaços!

Olha, o filhote do lobo russo!

Hei-de criar-te para duelos
com Kiev.

Tens apenas dez aninhos, Sakolnitchek.

Mas és forte como se tivesses vinte.

Mede forças com o nosso primeiro
contendor Telebug.

Mostra-nos, filho adotivo,
como manejas a lança.

Olhos meus, porque vedes?
Ouvidos meus, porque ouvis?

Mando Telebug guardar
os cativos nas caves.

Bom, Sakolnitchek, tens aqui
o chapéu do nosso primeiro lutador.

Chegou a hora!

Reúne os quarenta príncipes.
Vou atacar Kiev!

Dai-me aquela lança pontiaguda,

que com ela vou perfurar
o peito de Sakolnitchek!

Para que ninguém na Rússia
fale mal do meu filho.

Vou contra Kiev!

Tens de nos pagar 700 telegas de ouro!

Ou levamos-te como fiança!

O czar Kaline dá-te três horinhas
para juntares o tributo.

Ou com os teus ossos fabricaremos
gaitas!

E a tua Apráksia vai deliciar Kaline.

O que pedis,

Kiev vos pagará
daqui a três dias exatos!

Esperamos os preitos no rio Putchai!

Quem vais mandar para a contenda?
Escolhe!

Disse bem, Múramets.
Comilões não faltam em Kiev.

Defensores, nem vê-los.

Se estivesse aqui IIiá,
não teríamos medo do cão Kaline.

Portanto, vou pedir desculpa
a Múramets.

Estará vivo? Não quis comer
nem beber.

E porque não me disseste nada?
Abre as masmorras!

Espera, Solzinho, vou procurar
a chave.

Será esta?
Fi-Ia há muito tempo.

Conduz-nos!

Serpente repelente!
Mataste-o à fome!

- Está vivo o nosso herói!
- Está vivo o IIiá!

Claro que lhe de¡ de comer e beber.

Mentira, príncipe.
Ele é que traiu Kiev.

Era isso que te ia dizer, quando
me fechaste nas celas frias.

Não lhe dês ouvidos. Como havia de
sobreviver sem pão nem água?

Foi Vassilissa que me salvou
da morte à fome.

Ela fez milagres que a mente
não pode entender.

Desculpa-me, que tenho culpa.

- Vai, IIiá, combater Kaline.
- Não me apetece.

IIiá Ivanavitch,
é uma grande desgraça!

- Ajuda-nos, IIiá!
- Não guardes rancor.

Não é pelo príncipe Vladimir,
nem a princesa Apráksia,

mas pela nossa mãe Rússia

e os ofendidos que vou combater!

Dou-te, IIiá Ivanavitch,
a panóplia de ouro,

e ao meu boiardo, uma caldeira
de alcatrão.

IIiá Ivanavitch, o que julga
que devemos hoje fazer?

Já que hoje não temos saída,
príncipe...

Manda juntar todos
os guerreiros russos.

Em três dias, levantarei toda a
Rússia para o combate.

Custaste-me muito,
a sétima fronteira.

Mas, não obstante a ofensa,
não deixaremos passar os infiéis.

- Agora, há que ajudar Kiev!
- Não vou a Kiev.

Não há que guardar rancor toda
a vida. O príncipe está em apuros.

Queres entregar-nos ao príncipe,
como entregaste IIiá...

Não digas isso! Sem IIiá,
não quero ver o dia!

Por quê tanta briga?
Ou a terra tornou-se pequena?

Correia ajudar Múramets.
Porque IIiá está vivo.

- Tanta alegria que nos deste!
- Tanta felicidade!

Onde estiver IIiá, estaremos nós!
Vamos!

Passaram-se os três dias.

Os infiéis estão à porta de Kiev;
as nossas hostes, nem vê-Ias.

Vou visitar o cão Kaline, a ver se
negocio mais três dias.

Deitai ouro e prata em sacos novos,
carregai-os em coches dourados.

Escuta, príncipe, o mujique
de cabelo branco.

Carrega sacos rotos em telegas velhas.

Só levarei três tigelas
de ouro e prata.

Deixa uma pérola
de dez em dez passos.

Uma moeda de prata, de cem em cem.

E um rublo de ouro, de mil em mil.

Não há cidade mais rica que Kiev.

Cada um trará um baú de prata
e um de ouro.

Assim será.

Czar Kaline, viemos da parte
do príncipe Vladimir,

com tributos e pleitos.

- O medo fez-vos resignar.
- Recebe as nossas dádivas ricas.

A primeira fila, é ouro puro;
a segunda, prata da mais pura.

A terceira, pérolas grandes. Recebe.

Deita o ouro em sacos.

Não te zangues, Kaline,
deixa-me falar.

O príncipe Vladimir estava muito
aflito.

Colocou as dádivas ricas
em sacos rotos.

Se calhar, perdeu-se tudo
pelo caminho.

Vais reavê-Ias tu,
ou mando os meus homens?

Os teus escondem as minhas moedas
nas bochechas.

Procura¡ em todos os caminhos!
Junta¡ todas as moedinhas!

Até às portas de Kiev.

Se não trouxerem nada, empalo-te,
embaixador.

Manda mais pessoal, ou não apanham
tudo até à noite.

Conseguistes?

Procuramos todo o dia,
não encontramos um rublo!

Empalai o embaixador!

Não te zangues! Tens tempo
de honrar o embaixador.

Primeiro, recebe as dádivas de Kiev.

Quem me rouba, à minha mão morre.

Verdugos, aqui!

Junta¡ as dádivas de Kiev
para eu as ver!

É melhor dar o que é nosso,
do que ficar sem a cabeça.

Dá, não poupes! Kiev restituirá
tudo em decuplicado.

Junta¡ o ouro ao meus pés.

Estás a ver, Kaline, quanto ouro!

O ouro não basta!

Tens de me trazer, para me divertir,
o próprio IIiá Múramets.

Só assim deixarei Kiev em paz.

Escuto e obedeço, czar Kaline.

No primeiro dia,
encontra¡ IIiá nas masmorras.

No segundo, trazei-o vivo a Kaline.

E dize¡ ao príncipe
que não mandrie muito.

Corremos os caminhos todos.
Não vimos Múramets.

Enganaste-me, embaixador.
Empalai-o!

Juro pela minha cabeça
que hás-de ver Múramets.

Tendo Múramets,
deixo Kiev em paz.

Aqui me tens, IIiá Múramets.
Deixa Kiev em paz.

Na Rússia, um acordo
é mais caro que o ouro.

Ultrajaste-me, por isso merecias
ser queimado.

Mas perdoe-te pela tua coragem.

E por esta graça, que te Concedo,
hás-de servir-me.

Podes esperar toda a vida,
milhafre negro.

Um bagatir russo nunca trai
a terra-mãe!

Sai, cachorro, de junto de Kiev!

Algemai-o!

Queimai-o vivo por desobediência!

Colocai-o aos meus pés!
Arranco-lhe os braços!

Ainda te tiro a vida com estas mãos!

Apanhai-o! Trazei-o vivo!

Kaline, os quarenta príncipes
negam-se a atacar Kiev.

Combaterás Kiev em duelo.

Obrigado, IIiá Ivanavitch.
Ajudaste-nos muito.

Foste um bom embaixador.
Olha aqui!

Bons guerreiros!

Não está só a mãe Rússia.

O cachorro Kaline será
aniquilado junto de Kiev.

Glória a IIiá Múramets!

Campo vasto,
arranja-me um adversário!

Sinto-te tão levezinho nas minhas
mãos, sabre afiadíssimo.

Facilmente levarei a melhor
sobre Iliá Múramets.

Matá-Io-ei como a um moscardo.

Vem, gabarola, para uma luta honesta!

És velho demais para combater comigo.
Não és par para mim.

Ainda não mataste o falcão,
e já o queres depenar!

Palavras dessas,
nem a um ancião perdoo!

Não é costume entre os nossos
bater em quem está no chão!

Levanta-te, desgraçado!

Eh, minha alma, não te esperava
ver assim.

Porque não me matas?
Eu não te perdoava.

Calma, varão. Não sejas cavalo bravo.

Como te chamas?
Quem são os teus pais?

Não tenho mãe.
Mas sou filho de Kaline!

O teu pai verdadeiro sou eu!

Não é verdade.
Queres mentir-me.

Não, meu filho! É a verdade.

A confirmá-Io, esse anel.

Vi, como em sonho, a minha mãe!

Pai, perdoa-me,
que a minha culpa é grande!

Quero servir Kiev de corpo e alma!

Não, filho!
Procura primeiro a tua mãe!

Tem um sinal na face direita,
e o mindinho a menos do pé esquerdo.

Dá-me um soco, pai.
Vamos enganar o astuto Kaline!

Vai, cão Kaline! Está batido
o teu contedor!

Passar todos a fio de espada!
Sem poupar miúdos nem graúdos!

Dobrínia, irás à minha mão direita.

Tu, Aliocha, à minha mão esquerda.

Eu, ao meio.

Quanto ao príncipe e aos seus
guerreiros, que esperem de lado.

Como reserva de Kiev!

Nem que perca o braço a bater,
nunca os infiéis entrarão em Kiev!

Mirzá Sartak, vai,
não te quero ver aqui.

Espera, Telebug, mandaram-me
substituir-te.

Kaline zangou-se comigo.
Perdi as suas boas graças.

Toma!

Jamais terás o chapéu
do melhor contendor.

- Dá cá as chaves!
- Toma!

Não tenhais medo de mim,
gente de bem.

Dispersai pelas vossas aldeias.
Mas quem tem força, bate em Kaline.

Mãe!

Mãe!

Não és tu a minha mãe?

Quem me dirá alguma coisa
da minha mãe?

Tem um sinal na face direita.

E o mindinho a menos
do pé esquerdo.

És a minha mãe!

Perdoa-me. Não tenho culpa.
Não corras comigo.

Trouxe-te um abraço e um beijo
do meu pai.

Filho querido!

Içar velas! Pisar os infiéis!

Fazei uma colina!

Chacais medrosos!

Quero ver quantas forças
tem ainda Kiev!

Colina! Colina!

Mirzás! Todos para aqui!
Mostre-vos onde se oculta Vladimir.

Tal voz, tal eco.

O nosso dragão Garinitch! Reduz Kiev
a fumo, a cinzas, a pó!

Ruma a Kiev, o maldito!

Galopa, Sakolnitchek,
ajuda o teu pai!

- E tu, mãe?
- Arranjo-me sozinha!

Por muito que o lobo roube,
acaba na ponta do chuço!

Acertei!

Esfolaremos Vladimir vivo!
Esmagaremos Múramets qual panqueca.

A nossa honra não nos deixa recuar!
Malha nos infiéis!

Está quente. Dá para fazer bolos!

Se não é com força, é com a cabeça
que venceremos.

Olha, Dragão, tens as patas a arder.

Pai, mataremos juntos
o Dragão maldito!

Bem hajas, filho!

Fazemos varais deste maldito!

Água!

Minha espada, não vergues,
não embotes. Mata o Dragão!

Valentes guerreiros,
avante! Com força!

Bakhmut todo-poderoso!
Acode Kaline!

Bate¡ neles todos!

Nunca mais irei contra Kiev.

Deixa¡ os túgaros para mim,
pelo menos para sementes!

Calma, bagatir!
O povo julgará Kaline.

Leva-o vivo para Kiev!

Para que não fuja, metê-Io num saco!

Começa aqui o canto da glória!

Iliá!

Vassilissa!
Minha alma clara!

Convido toda a gente para um banquete
em tua honra, IIiá.

Vem viver no meu palácio.
Faço-te um príncipe ou um boiardo.

Não quero viver no teu palácio.

Não quero ouvir os teus
boiardos pançudos.

Se me queres alegrar, aceita na
nossa tropa um jovem varão.

É o meu filho, Sakolnitchek!

Toma! A nova fronteira será
protegida melhor do que a velha!

Não deixes ficar mal, meu filho,
a espada de bagatir!

Não deixarei ficar mala espada
de bagatir!

- Glória a IIiá Múramets!
- Glória!

Não conseguiram os malditos
destruir a bela Kiev!

O povo defendeu a sua terra-mãe,
a sua Rússia!

O filme foi restaurado pelo consórcio
«Mosfilm», em 2001

sob a direção de Anatóli Petrítski

com base no material cedido
pela "Gosfilmofond" da Rússia

Fim